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Tumor benigno formado por fibras musculares lisas, entrelaçadas por tecido conectivo. Na maior parte dos casos é mais do que um tumor – múltiplos Classificados pela localização no útero: corporal (98% dos casos) ou cervical. Os corporais são divididos em subseroso (fora do útero), intramural (dentro da camada muscular), submucoso (dentro do útero). Situações raras: mioma submucoso pediculado, que se exterioriza pelo colo do útero, sendo denominado mioma parido e miomas que perdem contato com o útero e recebem fluxo sanguíneo de outros órgãos, chamados miomas parasitas. DEGENERAÇÃO O mioma pode sofrer degeneração ao longo do tempo. Classificação da degeneração: podem ser hialinas, gordurosas, hemorrágicas, císticas, necrobiose asséptica e calcificações. A necrobiose asséptica ou degeneração rubra ou vermelha - infarto hemorrágico do leiomioma - mais comum no ciclo gravídico puerperal, uso de pílula anticoncepcional ou de análogos do GnRH. Outras variantes - leiomioma mitoticamente ativo, leiomioma celular ou hipercelular, o leiomioma bizarro, o tumor de musculatura lisa de potencial malignoindeterminado (ST UMP), a leiomiomatose peritoneal e a intravascular. EPIDEMIOLOGIA Idade como principal fator de risco – maior incidência entre 35 e 50 anos Acomete mais a mulheres negras (2 a 9x) Antecedentes familiares aumentam o risco Obesidade aumenta a incidência de mioma em 20% a cada 10 kg Fatores de proteção - paridade, uso de anticoncepcional oral combinado e o tabagismo ETIOPATOGENIA E FISIOPATOLOGIA Ocorrem mutações somáticas no miométrio, que causam perda do controle celular. Trata-se de tumores hormônio dependentes, nos quais estradiol e progesterona promovem seu crescimento durante a menacme (idade reprodutiva). Sabe-se que a predisposição genética e a presença dos esteroides sexuais estão intimamente envolvidas na formação e no crescimento dos miomas. O estradiol estimula a produção de componentes da matriz extracelular (colágeno, proteoglicanos e fibronectina) e a progesterona aumenta a atividade mitótica inibindo a apoptose. QUADRO CLÍNICO Metade das pacientes são assintomáticas, mas quando sintomáticos, os miomas podem trazer importante impacto na qualidade de vida. QUEIXAS MAIS FREQUENTES - sangramento uterino anormal, dismenorreia secundária, sintomas compressivos gerados pelo aumento do útero, dor pélvica acíclica, dispareunia, sintomas urinários, sintomas gastrointestinais, infertilidade e abortamento. Submucosos - sangramento uterino irregular – há erosões na superfície do nódulo devido atrito com a parede endometrial e isquemia Subserosos - em geral não geram sintomas, mas quando volumosos - dor pélvica, lombossacralgia, aumento da frequência urinária, noctúria, retenção ou incontinência urinária e até compressão ureteral, com comprometimento da função renal. Intramurais – podem causar aumento da intensidade e/ou duração do fluxo menstrual-aumento da cavidade uterina, pela menor contratilidade das fibras miometriais, estase venosa endometrial e pelo aumento das prostaciclinas no endométrio (vasodilatação). OCASIONAL: Dor pélvica aguda – simula um abdome agudo. Ocorre degeneração ou torção de nódulos pediculados. Anemia, fadiga, astenia, taquicardia, dispneia, dor e edema de membros inferiores Causa de infertilidade em 5% (submucosos) - distorção da cavidade uterina e condição inflamatória hostil do endométrio – conduta mandatória de mioma submucoso: miomectomia Intercorrências obstétricas - aumento da incidência de abortamento, trabalho de parto prematuro, restrição do crescimento intrauterino e apresentação fetal anômala. DIAGNÓSTICO Anamnese Exame físico: Palpação abdominal Toque bimanual Tumor no hipogástrio, bocelado, de consistência fibroelástica e com alguma mobilidade laterolateral. No toque vaginal, pode-se palpar o útero com volume aumentado. Exames de imagem: USG – principal método de imagem; valor diagnóstico, prognóstico e conduta. o Transvaginal ou transabdominal RM – usado para delimitar melhor a lesão TC Ultrassonografia Permite avaliar a morfologia e as dimensões do útero e do endométrio, além de caracterizar nódulos padrão de vascularização tecidual (Doppler). Endovaginal - intramurais e submucosos Subserosos, quando volumosos, podem ser mais bem observados com associação da via transabdominal. Nódulos hipoecogênicos podendo apresentar calcificações ou tênues reforços acústicos Contornos, bem ou mal definidos Vascularização predominantemente periférica, diferenciando-se dos adenomiomas HISTEROSCOPIA Introdução de uma ótica fina pelo canal cervical, para avaliação da cavidade uterina, possibilitando a visão direta dos miomas submucosos, assim como de outras lesões ali localizadas. Deve ser realizada, de preferência, na primeira fase do ciclo menstrual Sensibilidade de 88% a 100% e especificidade próxima a 100%. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA Método que possui melhor resolução Permite distinguir o mioma de outras afecções ginecológicas - adenomiose e endometriose, além de topografar, dimensionar e mesmo sugerir informações histológicas com acurácia de até 69% Sensibilidade de 85% a 99% e Especificidade de 91% a 94% DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Adenomiose – miométrio crescendo de forma desordenada Adenomioma – quando a adenomiose forma um nódulo na musculatura do útero Pólipo endometrial Tumor anexial Endometriose – tecido endometrial fora da cavidade uterina Câncer de endométrio Sarcoma do útero Gravidez TRATAMENTO CLÍNICO A indicação do tratamento é individualizada e leva em consideração inúmeros fatores: Sintomas Idade da paciente Número, tamanho e localização dos miomas Expectativa em relação ao futuro reprodutivo e desejo de preservar o útero Tratamentos prévios Coexistência de outras doenças Volume e crescimento dos miomas Pacientes assintomáticas ou oligossintomáticas devem ser apenas acompanhadas clínica e ultrassonograficamente, para monitorar o surgimento de queixas, aumento do volume e crescimento dos miomas. O tratamento clínico pode ser indicado para controle do sangramento e da dor pélvica. O tratamento medicamentoso pode ser dividido em não hormonal e hormonal. NÃO HORMONAL Anti-inflamatórios não hormonais (AINHs) - inibe a síntese de prostaciclinas, diminuindo em cerca de 30% o sangramento uterino. Antifibrinolíticos (ácido tranexâmico) - inibe a fibrinólise na superfície endometrial HORMONAL Anticoncepcionais combinados Progestagênios isolados O dispositivo intrauterino liberador de levonorgestrel - Mirena®/Kyleena® - ação do levonorgestrel no endométrio Análogos do GnRH - reduz esteroides sexuais circulantes amenorreia e podem reduzir, temporariamente, o volume dos nódulos e do útero em até 50%. Acetato de ulipristal (Ulip®) - modulador seletivo dos receptores de progesterona - age nos receptores miometriais e endometriais, inibe a ovulação, sem efeito significativo nos níveis de estradiol. TRATAMENTO CIRÚRGICO Dividido em: Conservador – miomectomia Definitivo – histerectomia Histerectomia Apresenta eficácia estabelecida e resultados favoráveis Não afeta função sexual Total ou subtotal – Não há diferença quanto à capacidade de suporte do assoalho pélvico, função sexual, urinária e intestinal. Pode ser realizada por via vaginal ou abdominal, por técnica laparotômica, laparoscópica, laparoscópicarobôassistida ou ainda, com associação de vias e técnicas. A laparotomia é indicada em casos de útero muito volumosos.Miomectomia Exérese cirúrgica dos miomas com manutenção do útero, preservando a função menstrual e possibilitando, muitas vezes, gravidez futura. A miomectomia múltipla é um procedimento complexo e de maior tempo cirúrgico do que a histerectomia, com maior potencial de sangramento, mais formação de aderências e maior risco de complicações, enquanto a retirada de nódulo único costuma ser mais simples e tem menor chance de recidiva Diferentes vias e técnicas podem ser utilizadas. Devemos ressaltar que a miomectomia, assim como outros tratamentos conservadores, nem sempre corresponde ao tratamento definitivo, já que a taxa de recorrência se mantém ao redor de 25% em 10 anos, com indicação de histerectomia em 8% das pacientes Os índices de gestação pós-miomectomia em pacientes previamente inférteis situam-se ao redor de 50%, com cerca de 70% para aquelas pacientes sem outros fatores de infertilidade e 33% a 45% para casais com outros fatores associados, femininos ou masculinos, sendo 39% dessas gestações com o uso de reprodução assistida. A taxa de abortamento é de 20%, semelhante à da população geral. MIOMECTOMIA LAPAROSCÓPICA Menor morbidade, perda sanguínea e tempo de internação. Maior taxa de gravidez O índice de complicações foi semelhante e o tempo cirúrgico foi pouco maior comparado à laparotomia. O advento da cirurgia robótica pode estender as indicações laparoscópicas, principalmente pela facilitação da sutura endoscópica, com movimentos intuitivos e articulados das pinças robóticas. Preconiza-se restrição ao uso excessivo da eletrocoagulação, para não prejudicar a cicatrização miometrial, preferindo-se sempre a hemostasia com pontos de sutura - fios de sutura farpados Atenção ao uso de morcelador - disseminação inadvertida de células malignas, miomas parasitas e lesões viscerais e vasculares MIOMECTOMIA LAPAROTÔMICA Indicação: Nódulos muito grandes e/ou numerosos Limitação por experiência da equipe cirúrgica ou falta de equipamento adequado Em casos complexos, para reduzir o sangramento intra e pós-operatório, independentemente da via de escolha, podemos lançar mão de: Infusão de vasopressina intramiometrial Misoprostol via vaginal Garroteamento cervical Oclusão das artérias uterinas e/ou ligamento útero- ovariano (temporária ou permanente) Aplicação de hemostáticos MIOMECTOMIA HISTEROSCÓPICA Principal via de acesso para tratamento dos nódulos submucosos Técnica - fatiamento do mioma e sua enucleação com ressectoscópio monopolar ou bipolar Miomectomias incompletas podem ocorrer em casos de sobrecarga hídrica, sangramento excessivo ou quando o nódulo tem grandes dimensões e chega próximo à serosa, com chance de perfuração uterina, podendo-se realizar o procedimento em dois tempos, com uma nova histeroscopia em dois a três meses Complicações: Monopolar – uso de meio hipotônico, como manitol, sorbitol ou glicina Hiponatremia Hipo-osmolaridade Insuficiência cardíaca congestiva Edema agudo de pulmão Edema cerebral Arritmia cardíaca Complicações: Bipolar – Soro Fisiológico 0,9% - diminui o risco de sobrecarga hídrica, bem como de complicações osmóticas e desequilíbrios hidroeletrolíticos, mas não os elimina. Perfuração uterina e a passagem de corrente elétrica - complicação grave, que pode ter repercussões sistêmicas importantes Pode haver lesões de alças intestinais ou bexiga Deve-se realizar uma laparoscopia, para avaliar a gravidade da lesão e repará-la adequadamente Sangramento excessivo durante o procedimento Se insuficiência da coagulação histeroscópica do leito cirúrgico, pode-se lançar mão de um cateter de Foley na cavidade uterina, inflando-o por 6 a 12 horas ou , alternativamente, uma gaze impregnada com vasoconstritor também pode ser utilizada Como evitar: Controle do balanço hídrico durante e após o procedimento Suspender o procedimento se o déficit estiver em 1.500 mL para meio hipotônico ou 2.500 mL para soro fisiológico Usar baixos níveis de pressão (até 100 mmHg) para distensão da cavidade Se detectada intoxicação, interrompe-se o ato cirúrgico e inicia-se restrição hídrica, administração de diurético de alça (furosemida), oxigenação e reversão do distúrbio hidroeletrolítico. EMBOLIZAÇÃO DAS ARTÉRIAS UTERINAS (EAU) Tratamento conservador de miomas sintomáticos Consiste na oclusão da irrigação sanguínea para os miomas, levando a necrose e redução volumétrica dos tumores. Resultados positivos com alívio dos sintomas a curto prazo em até 90% dos casos Apresenta até 25% de reintervenções por recorrência em até 10 anos Indicações Falha de tratamento prévio Recidiva Pacientes sem condições para tratamento cirúrgicos Contraindicações neoplasia maligna ginecológica, imunossupressão, arteriopatia grave, alergia ao contraste iodado, doenças autoimunes ativas, nódulos pediculados (tipos 0 e 7), doença renal crônica, coagulopatias ou uso de anticoagulantes e gravidez. Complicações hematomas, lesão e trombose arterial, reação anafilática ao contraste dor abdominal, endometrite, piometra, necrose séptica, febre, mialgia, amenorreia e falência ovariana prematura). LIGADURA DAS ARTÉRIAS UTERINAS MIÓLISE POR ULTRASSOM FOCALIZADO DE ALTA INTENSIDADE (HIFU) GUIADO POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA
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