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Pedagogia da Educação infantil Prof.ª Larissa Marine Souza 2 AS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES TEÓRICAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA O CONSTRUTIVISMO DE PIAGET INTRODUÇÃO […] é na medida em que nós nos adaptamos aos outros que tomamos consciência de nós mesmos. É na medida em que descobrimos que os outros não nos compreendem espontaneamente, e que nós, da mesma forma, não os compreendemos, que nos esforçamos para modelar nossa linguagem de acordo com os mil acidentes que criam essa inadaptação, e que nos tornamos aptos para a análise simultânea dos outros e de nós mesmos. (PIAGET, 1967, p. 201). Quem nunca ouviu falar de Jean Piaget, não existe, não é mesmo? E de sua teoria, a Epistemologia Genética, o que você sabe? Já ouviu falar em construtivismo? Vamos relembrar um pouco. No Caderno de Estudos da disciplina Psicologia Geral e do Desenvolvimento, você estudou os princípios do desenvolvimento cognitivo de Piaget e os estágios do desenvolvimento. Já no caderno da disciplina de Psicologia da Educação e Aprendizagem, você estudou sobre a concepção construtivista, sobre os conceitos de assimilação e acomodação, sobre o processo de equilibração e sobre o erro no processo de aprendizagem. Você está lembrado(a)? Neste tópico iremos conhecer um pouco mais sobre a vida de Piaget e sobre a teoria construtivista. Embarque nesta viagem e venha desvendar conosco os principais conceitos desta teoria. JEAN WILLIAM FRITZ PIAGET (1896-1980) Primeiramente, vamos conhecer um pouco mais sobre a vida de Jean Piaget, com base nos textos de Munari (2010), Ferreiro (2001) e Ferrari (2012). 3 FIGURA 31 – PIAGET FONTE: Disponível em: <http://pedagogia.tripod.com/infantil/ piaget.htm>. Acesso em: 12 maio 2012. Piaget nasceu em 9 de agosto de 1896, em Neuchâtel na Suíça. Iniciou seus estudos na área de biologia, depois psicologia, epistemologia e educação. Foi professor da Universidade de Genebra por 25 anos, escreveu mais de cinquenta livros, tornando-se conhecido no mundo todo pelos seus estudos. Seu primeiro livro, “A linguagem e o pensamento na criança”, foi publicado em 1924. Morreu em 1980 em Genebra, na Suíça. Casou-se com Valentine Châtenay, com quem teve três filhos: Jacqueline, Lucienne e Laurent. A infância de seus três filhos foi a grande fonte de observação de suas pesquisas, o que chamou de “ajustamento progressivo do saber". FIGURA 32 – PIAGET E SUA FAMÍLIA FONTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/ formacao-continuada/esquemas-acao-piaget-sujeito-epistemico- jean- 617999.shtml?page=2>. Acesso em: 14 maio 2012. http://pedagogia.tripod.com/infantil/ http://revistaescola.abril.com.br/formacao/ 4 Piaget sempre foi um grande observador. Já aos onze anos realizou o seu primeiro trabalho científico, resultado da observação de um pássaro em uma praça da cidade onde morava. A partir da sua formação em biologia, iniciou suas pesquisas sobre o desenvolvimento do conhecimento nos seres humanos, a Epistemologia Genética, procurando responder de que forma a inteligência era desenvolvida. Com apenas quinze anos já havia publicado seus trabalhos em importantes revistas da época. Piaget sentia-se seduzido ao realizar pesquisas científicas. Perceba, na força de suas palavras, a paixão que tinha pelas pesquisas: Esses estudos, por prematuros que fossem, foram de grande utilidade para minha formação científica; além disso, funcionaram, poderia dizer, como instrumentos de proteção contra o demônio da filosofia. Graças a eles, tive o raro privilégio de vislumbrar a ciência e o que ela representa antes de sofrer as crises filosóficas da adolescência. Ter tido a experiência precoce destes dois tipos de problemática constituiu, estou convencido, o motivo secreto da minha atividade posterior em psicologia. (PIAGET, 1976, p. 3). Para Piaget, o método científico era a única forma de acesso ao conhecimento e, por isso, procurou inseri-lo na escola. Muito animado com este novo projeto, foi para Paris trabalhar nos laboratórios de Binet, onde descobriu a riqueza do pensamento infantil. Foi nesta época que ele elaborou o seu método crítico de interrogação da criança, buscando compreender de forma sistemática os processos lógico-matemáticos do raciocínio da criança. FIGURA 33 – PIAGET ESTUDANDO FONTE: Disponível em: <http://sergioflima.pro.br/blogs/index.php/ sergio-blog/nao-faca-isto-em-casa>. Acesso em: 18 mar. 2012. Em Paris, Piaget centrou suas pesquisas em crianças hospitalizadas, porém, quando se mudou para Genebra, iniciou seus estudos na escola Casa das Crianças do Instituto Jean-Jacques Rousseau, dedicando-se ao desenvolvimento e aperfeiçoamento dos sistemas e práticas educativas, e depois nas escolas primárias de Genebra, investigando as crianças em sua vida no dia a dia. Não estando muito http://sergioflima.pro.br/blogs/index.php/ 5 interessado com a educação, mudou-se para Neuchâtel onde foi substituir seu antigo professor. Em 1929, em Genebra, assumiu o cargo de diretor do Bureau Internacional de Educação (BIE), o que fez com que percebesse os elementos político-sociais que permeiam as ações educacionais, permanecendo na função até 1968. Durante todos esses anos, Piaget redigiu o “Discurso do Diretor”, coleção esta com aproximadamente 40 textos, nos quais se encontravam os elementos básicos das suas propostas educacionais, atribuindo grande importância à educação. Para Piaget (1934 apud MUNARI, 2010 p. 17), “[...] somente a educação pode salvar nossas sociedades de uma possível dissolução, violenta ou gradual”. No período da Segunda Guerra Mundial, Piaget declarou: “Após os cataclismos que marcaram estes últimos meses, a educação constituirá, uma vez mais, o fator decisivo não só da reconstrução, mas, inclusive e sobretudo, da construção propriamente dita” (PIAGET, 1940 apud MUNARI, 2010, p. 17), demonstrando que acreditava na força da educação para ultrapassar as diferenças ideológicas e políticas da época. Piaget não foi um pedagogo, mas foi um nome muito influente na educação e dedicou a sua vida à pesquisa do processo de aquisição do conhecimento pela criança. Para ele o desenvolvimento do pensamento infantil se dá em quatro estágios (que veremos mais adiante), desde o nascimento até o início da adolescência. Suas descobertas tiveram grande impacto no campo educacional, principalmente quando se referia à transmissão de conhecimentos que, segundo Piaget, dependiam de dois fatores: A TEORIA CONSTRUTIVISTA DE PIAGET A teoria de Piaget é bastante complexa e resulta de muitos anos de pesquisa e dedicação ao estudo do desenvolvimento da inteligência da criança. Neste caderno não detalharemos sua obra, mas traremos aspectos importantes de sua teoria, que consideramos necessários para seu conhecimento: - Fases do desenvolvimento - Organização e adaptação - Assimilação e acomodação - Esquemas (estruturas mentais) - Equilibração 6 Caso você tenha interesse em aprofundar-se nos estudos sobre Piaget, existem diversos livros que apresentam a sua teoria. Exemplos: CUNHA, Maria Auxiliadora Versiani. Didática fundamentada na teoria de Piaget. Rio de Janeiro: Forense, 1973. FARIA, Analia Rodrigues. Desenvolvimento da criança e do adolescente segundo Piaget. São Paulo: Ática, 1989. FURTH, Hans G. Piaget na sala de aula. Rio de Janeiro: Forense, 1986. GORMAN, Richard M. Descobrindo Piaget: um guia para educadores. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1976. NICOLAS, André. Introdução ao pensamento de Jean Piaget. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. Sugerimos também alguns livros escritos por Piaget, vale a pena conhecê-los: PIAGET, Jean. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: J. Olympio, 1973.. A linguagem e o pensamento da criança. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961. . A construção do real na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1975. . O nascimento da inteligência na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1975. . Psicologia e pedagogia. Rio de Janeiro: Forense, 1970. Em seus estudos sobre a Epistemologia Genética, Piaget verificou que o desenvolvimento da criança tem início ainda no período intrauterino e se estende até a adolescência, evoluindo de forma cada vez mais complexa, em etapas sucessivas, ao que chamou de fases ou períodos do desenvolvimento. FIGURA 34 – PERÍODOS DO DESENVOLVIMENTO FONTE: As autoras 7 Dependendo da qualidade das interações de cada sujeito com o meio, as estruturas mentais – condições prévias para o aprendizado [...] – vão se tornando mais complexas até o fim da vida. Em cada fase do desenvolvimento, elas determinam os limites do que os indivíduos podem compreender. (FERNANDES, 2012, p. 1). Vamos conhecer de forma resumida cada um destes períodos? QUADRO 6 – FASES DO DESENVOLVIMENTO PROPOSTAS POR PIAGET PERÍODO IDADE DESCRIÇÃO Período Sensório- Motor 0 a 2 anos Neste período a criança começa a administrar seus reflexos básicos, gerando ações de prazer e desenvolvendo a percepção de si mesma e dos objetos que estão à sua volta. Mama, suga, puxa, prende, pega um objeto e o leva à boca, afasta um objeto para pegar outro etc. É o período que antecede a linguagem. Seu vocabulário vai da repetição de algumas sílabas até a utilização da palavra-frase, representando seu desejo ou sentimento em relação ao objeto. FIGURA 35 – CRIANÇA LEVANDO OBJETO À BOCA FONTE: Disponível em: <http://revistacrescer. globo.com/Revista/ Crescer/0,,EMI298885-16891,00. html>. Acesso em: 16 maio 2012. Período Pré- operatório 2 a 7 anos Este é o período do surgimento da linguagem, do desenho, da imitação, da dramatização etc. A partir dos 2 anos a criança cria imagens mentais do objeto ou da ação, o que chamamos de faz de conta, jogo simbólico ou período da fantasia. Assim, consegue transformar uma simples caixa de fósforos num carrinho, um pedaço de madeira num cavalinho etc. Neste período costuma dar vida aos objetos, colocando a boneca para dormir, ou dizendo que ela está com fome. Pode também dizer que a bicicleta precisa descansar um pouco, ou que o carro da mamãe foi dormir na garagem. Neste período a linguagem é um monólogo coletivo. Todos falam ao mesmo tempo, sem responder ao que o outro está falando. A partir dos 4 anos, já existe um desejo de compreender o que acontece ao seu redor. É a “idade dos porquês”, pois questiona tudo o tempo todo. Já consegue dramatizar a fantasia, mesmo que não acredite nela, distinguindo a fantasia do real. Organiza coleções e conjuntos sem incluir conjuntos menores em maiores. Seu pensamento continua centrado no seu próprio ponto de vista e, em relação à linguagem, já consegue adequar as suas respostas às dos colegas. FIGURA 36 – CRIANÇAS FANTASIADAS FONTE: Disponível em: <http:/ www.juraemprosaeverso.com.br/ FotografiasEDesenhos/Carnaval. htm>. Acesso em: 16 maio 2012. http://revistacrescer/ http://www.juraemprosaeverso.com.br/ 8 Período Operatório Concreto 7 a 11 anos É o período em que a criança desenvolve a noção de tempo e espaço, casualidade, ordem, velocidade etc. Já conserva a noção de número, peso, volume e substância, conseguindo ordenar por tamanho e em conjuntos, compreendendo o mundo de forma lógica ou operatória. Socialmente organiza-se em grupos onde pode ser o líder ou aceitar ser liderado. Consegue compreender e estabelecer regras, estabelecendo compromissos. Já consegue conversar socialmente, porém sem discutir pontos de vista para chegar a um consenso. FIGURA 37 – CRIANÇA MEDINDO FONTE: Disponível em: <http:// www.fvc.org.br/galeria-fotos-25- anos.shtml?ft=8p>. Acesso em: 16 maio 2012. Período Operatório Abstrato 11 anos em diante Este período é o início da fase adulta, em termos cognitivos, onde o adolescente tem domínio do pensamento lógico/dedutivo, relacionando conceitos abstratos e criando hipóteses. A partir deste período, consegue discutir conceitos antes de chegar à conclusão sobre algum assunto. Continua organizando-se em grupo, porém consegue estabelecer relações de cooperação e reciprocidade. FIGURA 38 – JOVENS DISCUTINDO CONCEITOS FONTE: Disponível em: <http:// www.maraba.pa.gov.br/prefeitura- e- ministerio-publico-discutem- politicas-de-protecao-a-crianca-e- ao- adolescente>. Acesso em: 17 maio 2012. FONTE: Adaptado de: Fernandes (2012), Ferrari (2012), Peterson e Felton-Collins (2002) e Munari (2010) De acordo com Piaget (apud PETERSON; FELTON-COLLINS, 2002), existem quatro fatores que auxiliam a criança a passar de um período para o outro: http://www.fvc.org.br/galeria-fotos-25- http://www.maraba.pa.gov.br/prefeitura- 9 FIGURA 39 – FATORES PARA PASSAR DE UM PERÍODO DO DESENVOLVIMENTO AO OUTRO FONTE: As autoras A inteligência, segundo Piaget (1996), é um mecanismo de adaptação do organismo a uma nova situação proposta pelo meio que o cerca, sempre em busca de um equilíbrio. Assim, o desenvolvimento da inteligência ocorre por meio de estímulos e exercícios constantes, podendo ser potencializada através de intervenções cada vez mais complexas. FIGURA 40 – PIAGET OBSERVANDO AS FASES DO DESENVOLVIMENTO FONTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/ formacao-continuada/esquemas-acao-piaget-sujeito-epistemico- jean- 617999.shtml>. Acesso em: 15 jun. 2012. http://revistaescola.abril.com.br/formacao/ 10 Para Piaget (1982, p. 18), a atividade intelectual não pode ser separada do funcionamento "total" do organismo. “Do ponto de vista biológico, a organização é inseparável da adaptação: são os dois processos complementares de um mecanismo único, sendo o primeiro o aspecto interno do ciclo do qual a adaptação constitui o aspecto exterior”. Ou seja, a organização, segundo Piaget (1982), é a habilidade do indivíduo de integrar as sensações e os estímulos recebidos, transformando-os e organizando-os em novas estruturas físicas e psicológicas (também chamadas esquemas), aos quais se adapta. Esta adaptação acontece por meio da assimilação e da acomodação. Vamos falar então da assimilação e da acomodação? A assimilação, de acordo com a teoria de Piaget, é a comparação/classificação dos objetos do mundo exterior (estímulos) com os esquemas mentais/cognitivos já existentes. Por exemplo: a criança possui um esquema mental do que é um peixe: vive na água e nada naturalmente, possui escamas, barbatanas, guelras etc. Ao conhecer um tubarão, vai tentar comparar com o esquema mental de peixe que já possui: nada, vive na água, possui guelras, barbatanas. No entanto, vai verificar que o tubarão é um peixe que não tem escamas e, após aprender essa variante, vai adaptar o seu conceito geral de peixe, acrescentando a ele os peixes que não têm escama. A isto chamamos de acomodação. Para Piaget (1996, p. 18), “[...] chamaremos acomodação (por analogia com os "acomodatos" biológicos) toda modificação dos esquemas de assimilação sob a influência de situações exteriores (meio) ao quais se aplicam”. QUADRO 7 – ASSIMILAÇÃO E ACOMODAÇÃO PEIXES FIGURA 41 – PEIXE FONTE: Disponível em: <http:// www.antares.com.br/~cbpds/ salgada.html>. Acesso em: 13 jun. 2012. FIGURA 42 – TUBARÃO FONTE: Disponível em: <http:// noticias.terra.com.br/ciencia/ noticias/0,,OI3791768-EI238,00-Cientista s+descobrem+esconderijo+do+tubarao frade+no+inverno.html>. Acesso em: 13 jun. 2012. CARACTERÍSTICAS COMUNS - nadam; - vivem na água; - possuem guelras; - têm barbatanas etc. VARIANTES - possui escamas;- esqueleto vertebrado (ossos) etc. - pele lisa; - esqueleto cartilaginoso etc. FONTE: As autoras http://www.antares.com.br/~cbpds/ 11 Na teoria construtivista, portanto, a acomodação acontece quando a criança não possui uma estrutura mental ou cognitiva da nova informação ou estímulo, quando não consegue assimilar o que lhe foi apresentado (PIAGET, 1996). A partir desta dificuldade, a criança modifica um esquema já existente, como aconteceu no exemplo anterior, no qual a criança modificou o seu esquema mental em relação ao peixe após ser confrontada com uma variação do que já conhecia, ou cria um novo esquema, pelo fato de a informação não corresponder a nada que já conheça. Após ter acomodado a nova informação, assim que estiver frente a um estímulo parecido, fará a assimilação com a nova estrutura mental já criada. Podemos perceber, desta forma, que os esquemas, ou estruturas mentais, são construídos pouco a pouco, dando lugar às novas acomodações. Para isto, passam por um período de equilibração. A teoria da equilibração, de acordo com Piaget (1982), é um ponto de equilíbrio no processo de assimilação e acomodação, no qual a criança consegue interagir com o meio de forma eficiente. Este equilíbrio é necessário porque, se a criança apenas assimilasse os estímulos do meio, possuiria poucos esquemas mentais e não seria capaz de reconhecer as diferentes informações. Por outro lado, se a criança apenas acomodasse os estímulos recebidos, teria uma grande quantidade de esquemas em sua mente, para cada informação um esquema, o que impediria a criança de visualizar o todo. (PIAGET, 1996). Bom, agora que já estudamos um pouco da sua teoria, vamos nos ater ao que Piaget pensa sobre a escola e o professor. O PAPEL DA ESCOLA E DO PROFESSOR PARA PIAGET A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo o que a elas se propõe. Jean Piaget Por defender a pesquisa em sala de aula, Piaget é extremamente contra os métodos pedagógicos coercivos. Para ele, “[...] no terreno da educação, o exemplo deve desempenhar um papel mais importante do que a coerção” (PIAGET, 1948 apud MUNARI, 2010, p. 17). A escola deveria convidar o aluno a experimentar, reconstruindo o que precisa aprender. Para ele, não se aprende apenas vendo o professor experimentar, ou realizando exercícios já organizados. “Só se aprende a experimentar, tateando, por si mesmo, trabalhando ativamente, ou seja, em liberdade e dispondo de todo o tempo necessário”. (PIAGET, 1949 apud MUNARI, 2010, p. 18). As ações educativas deveriam ser ações de estímulo à pesquisa, à experimentação. A escola ideal, segundo Piaget (1949 apud MUNARI, 2010), não 12 teria livros nem manuais obrigatórios para os alunos, mas obras de referência utilizadas de forma livre. Os manuais seriam apenas de uso do professor. Piaget defende que a escola utilize métodos ativos, fruto do trabalho espontâneo, orientado por perguntas anteriormente planejadas, frutos do trabalho de redescoberta e reconstrução das verdades, sem recebê-las prontas. Como vimos no começo deste tópico, Piaget iniciou seus estudos sobre o desenvolvimento da inteligência bem cedo, procurando novos métodos e enfoques, confrontando seus estudos com trabalhos científicos da época e dando um grande impulso aos debates sobre a educação, o que acontece até os dias de hoje. Piaget foi um grande defensor de uma educação ativa, em que a criança é agente do seu conhecimento e o constrói progressivamente, por meio da experimentação. Esta educação ativa já havia sido defendida por outros estudiosos, como Montessori, Freinet, Decroly e Claparède, nos quais Piaget se apoiava. FIGURA 43 – PIAGET OBSERVANDO AS CRIANÇAS REALIZANDO ATIVIDADES FONTE: Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/ livrariadafolha/799404-livros-de-piaget-influenciam-educacao-30-anos-apos- sua- morte.shtml>. Acesso em: 13 jun. 2012. Em relação a algumas disciplinas específicas da época, como o ensino das ciências naturais, Piaget se posiciona: Aqueles que, por profissão, estudam a psicologia das operações intelectuais da criança e do adolescente sempre se surpreendem com os recursos de que dispõe todo aluno normal, desde que se lhe proporcionemos meios de trabalhar ativamente, sem constrangê- lo com repetições passivas [...]. Desse ponto de vista, o ensino das ciências é a educação ativa da objetividade e dos hábitos de verificação. (PIAGET, 1952 apud MUNARI, 2010, p. 19). Já em relação ao ensino da matemática para os pequenos, dizia ser importante proporcionar a eles esquemas de ação nos quais pudessem se basear futuramente, já que a criança nesta fase estava mais desenvolvida no aspecto sensório-motor do que no da lógica verbal. http://www1.folha.uol.com.br/folha/ 13 A compreensão matemática não é questão de aptidão da criança. É um erro supor que um fracasso em matemática obedeça a uma falta de aptidão. A operação matemática deriva da ação: resulta que a apresentação intuitiva não basta, a criança deve realizar por si mesma a operação manual antes de preparar a operação mental. [...] Em todos os domínios da matemática, o qualitativo deve preceder ao numérico. (PIAGET, 1950 apud MUNARI, 2010, p. 19). Além destas duas áreas, ciências naturais e matemática, Piaget defendia uma educação ativa, por meio da experimentação, também para outras áreas, como a aprendizagem de uma língua, que são menos técnicas. “É necessário estabelecer entre as crianças, sobretudo entre os adolescentes, relações sociais, apelar para a sua atividade e para a sua responsabilidade”. (PIAGET, 1948 apud MUNARI, 2010, p. 20). De acordo com Munari (2010), para Piaget é muito importante que a pedagogia parta do conhecimento do aluno, do que a criança já conhece. “A pedagogia é uma arte, enquanto que a psicologia é uma ciência; mas se a arte de educar supõe atitudes inatas insubstituíveis, ela requer ser desenvolvida por meio dos conhecimentos necessários sobre o ser humano que se educa”. (PIAGET, 1948 apud MUNARI, 2010, p. 20). FIGURA 44 – PIAGET CONVERSANDO COM AS CRIANÇAS FONTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/ formacao-continuada/conhecimento-previo-esquemas-acao- piaget- 621931.shtml>. Acesso em: 14 jun. 2012. Levar em consideração o que a criança já sabe é de suma importância para o professor. Este conhecimento prévio é o passo inicial para a construção de um novo conhecimento, em que a criança elabora novas estruturas mentais ou reconfigura as já existentes. A pedagogia reflexiva, proposta por Piaget, faz com que a criança reflita sobre o novo conteúdo e não apenas o aceite sem questionar. Este novo conteúdo torna-se significativo e amplia o conhecimento prévio da criança, tornando-o mais complexo. http://revistaescola.abril.com.br/formacao/ 14 Mas de que forma o professor pode verificar os conhecimentos prévios dos seus alunos? Como você, caro(a) acadêmico(a), faria esta sondagem? Que estratégias utilizaria? Bem, num primeiro momento imaginamos que você deva ter pensado: “conversaria com as crianças”. Mas será que esta é a melhor forma de verificar o conhecimento prévio do seu aluno na proposta de Piaget? Lembre-se de que Piaget não está necessariamente preocupado com a aprendizagem dos conteúdos e, sim, com o processo de desenvolvimento da inteligência da criança. Por isto, devemos avaliar em que fase do desenvolvimento a criança se encontra e se o conteúdo a ser ensinado irá trazer algo que a criança ainda não conhece. A melhor forma de realizar estelevantamento é propor desafios, situações-problema, que obriguem a criança a utilizar o conhecimento que possui para resolvê-los. Para Piaget, a inteligência só é possível de ser desenvolvida porque existem os conhecimentos prévios que podem ser ampliados. É assim que todos nós nos desenvolvemos. Cada novo conhecimento é agregado e passa a tornar-se conhecimento prévio quando tivermos um novo desafio pela frente. Nossas estruturas mentais se modificam, se reestruturam para que possamos compreender a nova realidade. Piaget não deu receitas prontas, não criou nenhum manual de didática para os professores, mas demonstrou que cada fase do desenvolvimento da criança, com características específicas, apresenta novas possibilidades de conhecimento, de aperfeiçoamento, fazendo com que o professor perceba quais estímulos poderá utilizar a fim de favorecer da melhor forma este desenvolvimento. De acordo com Lima (1980, p. 131), Aceitar o ponto de vista de Piaget, portanto, provocará turbulenta revolução no processo escolar [...] Quem quiser segui-lo tem de modificar, fundamentalmente, comportamentos consagrados, milenarmente (aliás, é assim que age a ciência, e a pedagogia começa a tornar-se uma arte apoiada, estritamente, nas ciências biológicas, psicológicas e sociológicas). Onde houver um professor ‘ensinando’... aí não está havendo uma escola piagetiana. Você está disposto(a) a ser um(a) professor(a) diferente? 15 O SOCIOINTERACIONISMO DE VYGOTSKY INTRODUÇÃO Desdeos primeiros diasdodesenvolvimentodacriança, suasatividades adquirem um significado próprio num sistema de comportamento social e, sendo dirigidas a objetivos definidos, são refratadas através do prisma do ambiente da criança. O caminho do objeto até a criança e dessa até o objeto passa através de outra pessoa. Essa estrutura humana complexa é o produto de um processo de desenvolvimento profundamente enraizado nas ligações entre história individual e história social. (VYGOTSKY, 1991, p. 33). ComcertezavocêjáouviufalarmuitodeVygotskyedosociointeracionismo, não é mesmo? Logo nas primeiras disciplinas do seu curso – Psicologia Geral e do Desenvolvimento e Psicologia da Educação e Aprendizagem –, você já estudou sobre ele e sua teoria. Está lembrado (a)? De qualquer forma, neste tópico iremos conhecer um pouco mais sobre a sua história de vida e os conceitos básicos de sua teoria para a educação, como: zona de desenvolvimento proximal, mediação, relação entre desenvolvimento e aprendizagem, entre outros. Também veremos como Vygotsky percebe o papel da escola e do professor em sua teoria. E então, preparado(a) para aprofundar seus conhecimentos sobre Vygotsky? LEV SEMYNOVITCH VYGOTSKY (1896-1934) Para explanar sobre a vida de Vygotsky, vamos utilizar como base os escritos de Veer; Valsiner (2001) e Rego (2004). Lev Semynovich Vygotsky nasceu em novembro de 1896, na cidade de Orsha, na Rússia (na época, União Soviética). Era o segundo filho (de um total de oito) de uma família judaica que possuía boas condições financeiras e proporcionou a todos os filhos uma excelente educação. 16 FIGURA 45 – VYGOTSKY FONTE: Disponível em: <http://sitepsicologia.webnode.com/lev- vygotsky/>. Acesso em: 12 fev. 2012. Em sua juventude seus passatempos favoritos eram as coleções de correspondências em esperanto, de selos e de xadrez. “Vygotsky participava ativamente, junto com um círculo de amigos, de discussões de assuntos altamente abstratos, como a filosofia da história de Hegel e o papel do indivíduo na história”. (VEER; VALSINER, 2001, p. 18). Também foi um admirador da poesia e dos teatros locais da época. Sua educação inicial foi com professores particulares. Mais tarde, frequentou turmas mais adiantadas (do antigo Ginásio) numa escola judaica particular de Gomel, onde se graduou com medalha de ouro em 1913. Entre 1914 e 1917 estudou Direito e Literatura na Universidade de Moscou. Nesta época, os interesses de Vygotsky ampliaram-se para os problemas da psicologia e da pedagogia. Entre 1917 e 1924, lecionou em vários institutos, como a Escola Noturna para Trabalhadores Adultos, os Cursos Preparatórios para Pedagogos, a Escola Trabalhista Soviética e o Colégio Pedagógico. Este último viria a desempenhar um papel importante no desenvolvimento de Vygotsky como cientista, pois foi aí que ele montou um pequeno laboratório psicológico no qual os alunos podiam fazer investigações práticas simples. Nesse laboratório, realizou suas primeiras experiências sobre reações dominantes e respiração, que proporcionaram o material para sua primeira palestra sobre investigação reflexológica e psicológica [...]. Enquanto trabalhava no Colégio Pedagógico de Gomel, também começou a preparar um de seus primeiros livros importantes: Psicologia Pedagógica. (VEER; VALSINER, 2001, p. 22). http://sitepsicologia.webnode.com/lev- 17 FIGURA 46 – VYGOTSKY LECIONANDO AOS TRABALHADORES FONTE: Disponível em: <http://www.vigotski.net/espelho.html>. Acesso em: 15 fev. 2012. Vygotsky fundou, juntamente com seu amigo Dobkin e seu primo David, a editora Eras e Dias (que publicou apenas dois livros), e a revista literária Urze (também de vida curta). Nesta mesma época chefiou a seção de teatro do Departamento de Educação Popular, em Gomel. Em 1920, Vygotsky e sua família foram acometidas pela tuberculose, e um de seus irmãos faleceu devido à doença. Vygotsky conseguiu recuperar-se, porém, pelo restante de sua vida, sofreu com as consequências da doença, resultando na sua morte em 1934. Em 1924, casou-se com Roza Smekhova (com a qual teve duas filhas) e mudou-se para Moscou, onde foi trabalhar no Instituto de Psicologia Experimental de Karnilov. Nos últimos anos de sua vida morou com sua mulher e seus filhos num quarto de um apartamento lotado. “Para ganhar seu sustento, Vygotsky assumiu uma quantidade enorme de trabalhos editoriais para editoras e uma pesada carga de aulas que envolviam viagens constantes entre Moscou, Leningrado e Kharkov” (VEER; VALSINER, 2001, p. 25). FIGURA 47 – VYGOTSKY E SUA FILHA EM 1932 FONTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/gestao- escolar/vygotsky-conceito-pensamento-verbal-639053.shtml>. Acesso em: 25 fev. 2012. http://www.vigotski.net/espelho.html http://www.vigotski.net/espelho.html http://revistaescola.abril.com.br/gestao- 18 Na manhã de 11 de junho de 1934, após ter sofrido por diversos dias com hemorragias decorrentes da tuberculose, Vygotsky faleceu aos 38 anos. Apesar de Vygotsky e Piaget terem nascido no mesmo ano e viverem na mesma época, e suas teorias terem vários pontos parecidos, eles não se conheceram. Piaget só conheceu as obras de Vygotsky por volta de 1960, quando estas chegaram ao Ocidente, e lamentou não terem se conhecido. No Brasil a teoria de Vygotsky é estudada há aproximadamente quatro décadas, já que suas obras chegaram aqui apenas em meados da década de 80. Apesar de não ter elaborado uma teoria pedagógica, suas ideias trouxeram diversas contribuições para a educação, principalmente no que diz respeito ao processo de aprendizagem. A TEORIA SOCIOINTERACIONISTA DE VYGOTSKY A teoria de Vygotsky é bastante complexa e ainda pouco conhecida, já que poucas de suas obras foram traduzidas para o português. Também pode ser considerada incompleta, já que, por causa da sua doença, não conseguiu concluir algumas pesquisas, apenas lançou ideias e conceitos que não chegaram a ser desenvolvidos por ele. No entanto, sua obra é tão intensa e, como já dissemos, complexa, que optamos por tratar aqui apenas dos conceitos básicos e mais utilizados na educação: FIGURA 48 – CONCEITOS BÁSICOS DO SOCIOINTERACIONISMO FONTE: As autoras 19 Para Vygotsky a aquisição dos conhecimentos só acontece pormeio da interação social/cultural da criança com o meio e de forma mediada. “No trabalho de Vygotsky, verifica-se uma visão de desenvolvimento baseada na concepção de um organismo ativo, cujo pensamento é construído gradativamente num ambiente que é histórico e social”. (RODRIGUERO, 2000, p. 101). É por meio das interações com o meio social que a criança se desenvolve. Com o auxílio dos adultos, as crianças passam a assimilar habilidades básicas, como sentar, falar, andar, comer com talheres, tomar água no copo etc. Por meio das interações constantes com o adulto ou crianças mais experientes, vai desenvolvendo processos psicológicos mais complexos. (REGO, 2004). Desde o nascimento, o bebê está em constante interação com os adultos, que não só asseguram sua sobrevivência, mas também medeiam sua relação com o mundo. Os adultos procuram incorporar as crianças à sua cultura, atribuindo significado às condutas e aos objetos culturais que se formaram ao longo da história. O comportamento da criança recebe influências dos costumes e objetos de sua cultura [...]. (REGO, 2004, p. 59). E então, conseguiu identificar como a falta de um ambiente social e humanizado influencia o comportamento do ser humano? “O desenvolvimento está intimamente relacionado ao contexto sociocultural em que a pessoa se insere e se processa de forma dinâmica (e dialética) através de rupturas e equilíbrios provocadores de contínuas reorganizações por parte do indivíduo”. (REGO, 2004, p. 58). Desta forma, a cultura é que fornece à criança os elementos simbólicos de representação da realidade, permitindo que ela construa a sua interpretação do mundo real que a rodeia. Esta interpretação é mediada, só se constrói na presença do outro. Este outro pode ser tanto o homem, quanto os objetos que a rodeiam, como ferramentas, signos (em especial a linguagem), técnicas culturais etc. Vygotsky ressalta a importância de dois elementos básicos no processo de mediação: QUADRO 8 – INSTRUMENTO E SIGNO INSTRUMENTO SIGNO Tem a função de regular as ações sobre os objetos. Regula as ações sobre o psiquismo das pessoas. O instrumento, ou ferramenta, é o meio pelo qual o homem aperfeiçoou a sua relação com o trabalho, na transformação da natureza. Ex.: Lembrar, comparar, relatar etc. Com o auxílio dos signos, o homem passa a controlar sua atividade psicológica, ampliando sua atenção, sua memória e a possibilidade de acúmulo de informações. 20 Desta forma, o instrumento provoca mudanças externas, ampliando a possibilidade de intervenção do homem na natureza. Ex.: trator, faca, computador etc. Os homens não apenas produzem os seus próprios instrumentos para tarefas específicas, como são capazes de armazená- los para uso posterior, preservando-os, aperfeiçoando-os e transmitindo suas funções aos membros do seu grupo. FIGURA 49 – INSTRUMENTO: FACA FONTE: Disponível em: <http:// www.diariosergipano.com.br/ler. php?op=noticia&id=1998> Acesso em: 3 mar. 2012. Um importante sistema simbólico que o homem utiliza para organizar os signos, e que foi fonte de diversos estudos de Vygotsky, foi a linguagem. Por meio da linguagem o homem designa os objetos do mundo exterior (faca - serve para se alimentar); estipula ações (serve para cortar); insere qualidades (lisa, cortante) e faz relações com os objetos (está próxima, abaixo etc.). FIGURA 50 – CORTANDO COM A FACA FONTE: Disponível em: <http://www. ameliasdesalto.com/2012/03/para-o- pao- nao-esfarelar.html>. Acesso em: 3 mar. 2012. FONTE: Adaptado de: Rego (2004) É assim que, por meio dos signos e instrumentos, o ser humano vai interagindo com os outros. Por meio da troca com os outros e consigo mesmo, vai internalizando o conhecimento e formando a sua consciência. Por isto, pode- se dizer que a criança não é apenas ativa, mas interativa, pois constrói o seu conhecimento por meio das relações inter e intrapessoais. Todas as funções psicointelectuais superiores aparecem duas vezes no decurso do desenvolvimento da criança: a primeira vez, nas atividades coletivas, nas atividades sociais, ou seja, como funções interpsíquicas; a segunda, nas atividades individuais, como propriedades internas do pensamento da criança, ou seja, como funções intrapsíquicas. (VYGOTSKY, 1988, p. 114, grifos no original). Desta forma, o processo de internalização, por parte da criança, nas interações que estabelece com o meio, envolve processos específicos como: Nesse sentido, de acordo com Sarmento; Rapoport e Fossati (2008, p. 34), “[...] assim como o desenvolvimento das funções psicológicas superiores acontecem no bojo da cultura, das práticas sociais, também o psiquismo humano se constrói a partir das relações sociais que o ser humano vai estabelecendo no decorrer de sua vida”. SIGNIFICAÇÃO APROPRIAÇÃO DIFERENTES MODOS DE PARTICIPAÇÃO http://www.diariosergipano.com.br/ler http://www/ 21 De acordo com Vygotsky, existem ao menos dois níveis de desenvolvimento: QUADRO 9 – NÍVEIS DE DESENVOLVIMENTO REAL POTENCIAL O desenvolvimento real é tudo aquilo que a criança consegue realizar sozinha, sem a ajuda de ninguém, pois já possui um conhecimento consolidado a respeito do assunto. Ex.: Saber andar de bicicleta, recortar, resolver um problema etc. FIGURA 51 – CRIANÇA ANDANDO DE BICICLETA FONTE: Disponível em: <http:// kitsegifts.blogspot.com. br/2012_05_01_archive.html>. Acesso em: 14 mar. 2012. O desenvolvimento potencial é quando a criança consegue realizar tarefas mais complexas, por instrução ou auxílio de um adulto, ou pela interação com as outras crianças. Ex.: Uma criança de cinco anos pode não conseguir montar sozinha um quebra-cabeças que tenha muitas peças, mas com a assistência de seu irmão mais velho ou mesmo de uma criança de sua idade, mas que já tenha experiência neste jogo, pode realizar a tarefa. (REGO, 2004, p. 73). FIGURA 52 – CRIANÇAS MONTANDO QUEBRA-CABEÇAS FONTE: Disponível em: <http://www. pedagogiaaopedaletra.com/posts/ melhorando-a-concentracao/>. Acesso em: 14 mar. 2012. FONTE: Adaptado de: Rego (2004), Salvador (2006), Davis e Oliveira (1994), Sarmento, Rapoport e Fossati (2008) De acordo com Vygotsky (1991), a distância entre o que a criança já sabe fazer de forma autônoma (zona de desenvolvimento real) e o que consegue realizar com a ajuda dos outros (zona de desenvolvimento potencial), é o que chamou de Zona do Desenvolvimento Proximal (ZDP). [...] a zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentes em estado embrionário. Essas funções poderiam ser chamadas de “brotos” ou “flores” dodesenvolvimento, ao invés de“frutos” dodesenvolvimento. (VYGOTSKY, 1991, p. 97). No entanto, devemos levar em consideração que, de acordo com Vygotsky, a Zona de Desenvolvimento Proximal não é algo intrínseco da criança, ela ocorre durante o processo de interação social. http://www/ 22 Retomando um pouco a teoria de Piaget, que vimos no tópico anterior, percebemos que na teoria construtivista, o processo de aprendizagem depende do estágio do desenvolvimento em que a criança se encontra. Assim, o papel do professor seria o de identificar em qual estágio do desenvolvimento a criança se encontra e, a partir dali, programar a aprendizagem da criança de acordo com o que ela é capaz de fazer naquele momento. Já no sociointeracionismo de Vygotsky, é o aprendizado que possibilita, orienta e estimula os processos de desenvolvimento. Ou seja, a aprendizagem vem antes do desenvolvimento. Para Vygotsky (1991): 1 O desenvolvimento das bases psicológicas para o aprendizado de matérias básicas não vem antes do aprendizado,mas se desenvolve numa interação contínua com as suas contribuições. 2 O aprendizado precede o desenvolvimento em muitas áreas. 3 O aprendizado de uma matéria influencia o desenvolvimento das funções superiores para além dos limites da matéria específica. É na Zona de Desenvolvimento Proximal, de acordo com Vygotsky, que a aprendizagem vai ocorrer. Neste sentido, o papel do professor é o de favorecer esta aprendizagem, mediando a criança em sua relação com o meio. Temos assim, um processo interativo entre aprendizagem e desenvolvimento, que ocorre em um contexto cultural, desenvolvendo-se com o auxílio dos mecanismos de aprendizagem propostos pelo mediador (professor ou outra criança). Por isto é importante que o professor inove a sua prática, procurando compreendera realidade socioculturaldassuascrianças, afim de que a educação se torne realmente significativa e construtiva, levando a criança ao desenvolvimento consciente da sua autonomia social. Em relação à tomada de consciência, Vygotsky afirma que a relação da criança, com a natureza e com outras crianças no nível da consciência, acontece de forma natural e espontânea. Somente aos poucos é que ela vai tomando consciência da consciência que já possui e, aos poucos, vai compreendendo seus atos sobre o meio que a cerca. A partir deste momento, os atos da criança deixam de ser espontâneos e passam a ser sociais e históricos. Para Vygotsky (1991) a autoconsciência é o estado supremo do homem. Para Vygotsky, não apenas o ensino sistematizado (disciplinas escolares) é responsável pela ampliação do conhecimento na Zona de Desenvolvimento Proximal, mas também o brinquedo. Para Vygotsky (1991), porém, o papel do brinquedo não é o de proporcionar prazer para a criança, já que outras atividades como chupar o bico são muito mais prazerosas, e o fato de nem sempre ganhar traz frustração e descontentamento para a criança. Assim, a função primordial do brinquedo é satisfazer algumas necessidades das crianças. 23 No início da idade pré-escolar, quando surgem os desejos que não podem ser imediatamente satisfeitos ou esquecidos e permanece ainda a característica do estágio precedente de uma tendência para a satisfação imediata dos desejos, o comportamento da criança muda. Para resolver essa tensão, a criança em idade pré-escolar envolve-se num mundo ilusório e imaginário onde os desejos não realizáveis podem ser realizados, e esse mundo é o que chamamos de brinquedo. (VYGOTSKY, 1991, p. 106). FIGURA 53 – CRIANÇA BRINCANDO FONTE: Disponível em: <http://paternidadejustica.wordpress. com/2011/09/07/a-importancia-do-brincar/>. Acesso em: 18 mar. 2012. Desta forma, é por meio do brinquedo que a criança aprende a agir de forma cognitiva, satisfazendo suas necessidades não apenas pelo que lhe é externo, mas por meio das motivações internas. Assim, para Vygotskyedvvxaq (1991), a criança começa a agir independente daquilo que vê. Desta forma, não é o brinquedo em si que a satisfaz e, sim, a situação imaginária através da qual a criança atribui significados. “O papel e a situação imaginária são fundamentais na atividade lúdica, pois através deles ocorre uma reestruturação radical das ações da criança e dos significados com os quais ela atua” (SARMENTO; RAPOPORT; FOSSATI, 2008, p. 40). Vygotsky acrescenta a esta relação a presença de regras. “[...] não existe brinquedo sem regras. A situação imaginária de qualquer forma de brinquedo já contém regras de comportamento, embora possa não ser um jogo com regras formais estabelecidas [...]”. (VYGOTSKY, 1991, p. 108). Assim, ao esforçar-se em desempenhar corretamente o que observa, a criança atua em um nível superior ao que se encontra no momento. “No brinquedo a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário: no brinquedo é como se ela fosse maior do que é na realidade”. (VYGOTSKY, 1991, p. 117). http://paternidadejustica.wordpress/ 24 FIGURA 54 – CRIANÇA IMITANDO OS ADULTOS FONTE: Disponível em: <http://zaroio.net/br/imagem/27283/ crianca_imitando_pessoas_andando/>. Acesso em: 24 mar. 2012. Desta forma, segundo Rego (2004), mesmo que exista uma distância entre o comportamento real da criança e o seu comportamento por meio do brinquedo, sua atuação no mundo imaginário, por meio de regras estabelecidas, criam uma Zona de Desenvolvimento Proximal, impulsionando conceitos e processos de desenvolvimento. O PAPEL DA ESCOLA E DO PROFESSOR PARA VYGOTSKY Para Vygotsky, a educação não deve ficar esperando o desenvolvimento intelectual da criança e sim estimulá-la, para que, quanto mais aprenda, mais se desenvolva mentalmente. Lembre-se de que, para Vygotsky, a aprendizagem vem antes do desenvolvimento, sendo assim, quanto mais a criança aprender, mais irá se desenvolver. FIGURA 55 – CRIANÇA APRENDENDO http://zaroio.net/br/imagem/27283/ 25 Vygotsky “[...] chama a atenção para o fato de que a escola, por oferecer conteúdos e desenvolver modalidades de pensamento bastante específicas, tem um papel diferente e insubstituível, na apropriação pelo sujeito da experiência culturalmente acumulada”. (REGO, 2004, p. 104). Por isto, para ele, a escola não pode se limitar ao que a criança já sabe, às etapas intelectuais que já alcançou e, sim, conduzi-la para novos estágios de desenvolvimento, que a criança ainda não incorporou. No próprio brinquedo, como vimos anteriormente, a criança procura atuar em relação àquilo que ainda não é, mas que virá a ser. Então a educação não pode apenas se propor a lhe oferecer o que ela já conhece. Deve, sim, propor desafios e estimulá-la a ir mais longe. A escola desempenhará bem seu papel, na medida em que, partindo daquilo que a criança já sabe (o conhecimento que ela traz de seu cotidiano, suas ideias a respeito dos objetos, fatos e fenômenos, sua “teorias” acerca do que observa no mundo), ela for capaz de ampliar e desafiar a construção de novos conhecimentos, na linguagem vygotskiana, incidir na zona de desenvolvimento potencial dos educandos. Desta forma poderá estimular processos internos que acabarão por se efetivar, passando a constituir a base que possibilitará novas aprendizagens. (REGO, 2004, p. 108). O papel do professor, portanto, é o de interferir na zona de desenvolvimento proximal de seus alunos, a fim de provocar avanços que não ocorreriam de forma espontânea. A Zona de Desenvolvimento Proximal é onde a escola e o professor devem atuar. É entre a Zona de Desenvolvimento Real e a Zona de Desenvolvimento Potencial que o professor deve agir, como mediador, intervindo na aprendizagem do aluno, para que ele se desenvolva. Segundo Rego (2004, p. 110), O paradigma esboçado sugere, assim, um redimensionamento do valor das interações sociais (entre os alunos e o professor e entre as crianças) no contexto escolar. Essas passam a ser entendidas como condição necessária para a produção de conhecimentos por parte dos alunos, particularmente aquelas que permitam o diálogo, a cooperação e troca de informações mútuas, o confronto de pontos de vista divergentes e que implicam a divisão de tarefas onde cada um tem uma responsabilidade que, somadas, resultarão no alcance de um objetivo comum. Cabe, portanto, ao professor não somente permitir que elas ocorram, como também promovê-las no cotidiano das salas de aula. Para Vygotsky (1991), a escola éo local onde, intencionalmente, a intervenção pedagógica faz acontecer o processo ensino-aprendizagem. O objetivo da escola, portanto, é fazer com que os conceitos espontâneos da criança, de senso comum, se transformem em conhecimentos científicos, através da mediação e da interação. Nesta teoria, a criança não é apenas sujeito da aprendizagem e, sim, aquela que aprende os valores, a linguagem e o próprio conhecimento,com o outro. 26 FIGURA 56 – CRIANÇA INTERAGINDO COM O OUTRO FONTE: Disponível em: <http://cidadedaesperanca.wordpress. com/2010/02/>. Acesso em: 5 abr. 2012. É por isto que a escola necessita ser um local privilegiado de interações, de diálogo, de transformação. A escola precisa proporcionar e estimular o desenvolvimento de todo o potencial da criança. Os postulados de Vygotsky parecem apontar para a necessidade de criação de uma escola bem diferente da que conhecemos. Uma escola em que as pessoas possam dialogar, duvidar, discutir, questionar e compartilhar saberes. Onde há espaço para transformações, para as diferenças, para o erro, para as contradições, para a colaboração mútua e para a criatividade. Uma escola em que professores e alunos tenham autonomia, possam pensar, refletir sobre o seu próprio processo de construção de conhecimentos e ter acesso a novas informações. Uma escola em que o conhecimento já sistematizado não é tratado de forma dogmática e esvaziado de significado. (REGO, 2004, p. 118). E então, vai ficar esperando para que esta nova escola surja? Que tal modificar a sua prática a fim de tornar a aprendizagem mais significativa? Se você ainda não é professor, reflita sobre o que você considera ser a melhor forma de ser um professor. Será que ela é mesmo a melhor e única forma de lecionar? Pense nas teorias apresentadas até agora. Reflita no tipo de professor que você quer ser, no tipo de aluno que quer formar... Não esqueça: depende de você fazer a diferença para aquela criança que está em sala de aula. Comece agora, é só dar o primeiro passo! http://cidadedaesperanca.wordpress/ 27 DIVERSOS CONTEXTOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORGANIZAÇÃO DO TEMPO E DOS ESPAÇOS ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO E DOS AMBIENTES FACILITADORES NA EDUCAÇÃO INFANTIL INTRODUÇÃO O espaço físico não apenas contribui para a realização da educação, mas é em si uma forma silenciosa de educar. Como afirma Antônio Vinão Frago, referindo-se ao espaço escolar, este não é apenas um “cenário” onde se desenvolve a educação, mas sim “uma forma silenciosa de ensino”. (BRASIL, 2006a, p. 8). Pela afirmação anterior, pode-se perceber a importância que tem a organização dos espaços destinados à Educação Infantil, no processo ensino- aprendizagem. É sobre isto que iremos falar neste tópico: a organização do espaço físico e o papel do professor nesta organização. Traremos informações sobre a estrutura física e a organização dos espaços conforme indicação dos Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil, elaborados pelo MEC (2006a), assim como dicas e sugestões de organização dos espaços pelo professor, além de dicas de objetos e materiais a serem disponibilizados às crianças em cada um dos espaços trabalhados. Que bom que estamos juntos nesta caminhada. Com certeza você já ouviu falar em muitas das dicas que traremos neste tópico. Também deve conhecer muitas outras que não aparecem no texto, mas que são muito importantes para a organização dos espaços na Educação Infantil. Que tal socializar esse conhecimento com os seus colegas de turma? Abraços e boa troca de experiências! ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS PARA CRIANÇAS DE 0 A 1 ANO DE IDADE Os espaços para crianças de 0 a 1 ano de idade devem privilegiar o cuidar e o educar e serem organizados de forma a desenvolver as crianças de forma plena. As crianças de 0 a 1 ano, com seus ritmos próprios, necessitam de espaços para engatinhar, rolar, ensaiar os primeiros passos, explorar materiais diversos, observar, brincar, tocar o outro, alimentar-se, tomar banho, repousar, dormir, satisfazendo, assim, suas necessidades essenciais. Recomenda-se que o espaço a elas destinado esteja situado em local silencioso, preservado de áreas de grande movimentação e proporcione conforto térmico e acústico. (BRASIL, 2006a, p. 11). 28 Desta forma, de acordo com os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil (2006a), o espaço para esta faixa-etária deve estar organizado de forma a conter: FIGURA 57 – ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS PARA CRIANÇAS DE 0 A 1 ANO FONTE: As autoras Este documento (BRASIL, 2006a) sugere ainda que a construção destes espaços observe os seguintes aspectos: FIGURA 58 – ASPECTOS CONSTRUTIVOS DOS ESPAÇOS PARA CRIANÇAS DE 0 A 1 ANO FONTE: As autoras Agora que você já sabe o que observar na construção dos espaços, vamos abordar a organização de cada ambiente. Acompanhe! 29 SALA DE REPOUSO Como o próprio nome diz, é um espaço destinado ao repouso/descanso das crianças desta faixa-etária (0 a 1 ano de idade). Por isto, deve conter colchões, colchonetes, entre outros, onde as crianças possam dormir tranquilamente, com conforto e segurança. FIGURA 59 – SALA DE REPOUSO FONTE: Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/creche-pre-escola/ roteiro- didatico-identidade-autonomia-creche-634707.shtml?page=8.2>. Acesso em: 13 jul. 2012. Agora, vamos pensar um pouco como o professor pode organizar este espaço: - deixar um espaço adequado entre os colchões, se possível, de forma a facilitar a circulação entre eles; - colocar música ambiente (clássica, de relaxamento), que acalme e favoreça o descanso das crianças; - pendurar móbiles (elaborados com diversos materiais), para que a criança possa se distrair enquanto descansa. SALA DE ATIVIDADES É o espaço reservado para a realização das atividades previstas pelo professor no planejamento. Necessita ser um espaço amplo, que permita à criança a exploração do ambiente e dos objetos que ali se encontram. Conforme os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2006a), sugere-se que este espaço contenha: http://revistaescola.abril.com.br/creche-pre-escola/ 30 • espelhos amplos, onde as crianças possam se ver, se perceber. “Quando o bebê se vê diante de um espelho favorece o conhecimento de si e do mundo, porque a criança vê sua imagem refletida no espelho e, pela sua ação, identifica- se como distinta de outras crianças e dos objetos”. (KISHIMOTO, 2010, p. 3); • bancadas, prateleiras e/ou armários para guardar brinquedos, com altura em torno de 0,65 cm, para que as crianças tenham acesso livre a eles. Para que o ambiente fique bem organizado, os brinquedos devem ser disponibilizados em estantes baixas, em locais separados, “[...] com mobiliário adequado, em caixas etiquetadas para a criança saber onde guardar. Esse hábito se adquire durante a brincadeira, em local tranquilo, com opções interessantes e o apoio constante e afetivo da professora”. (KISHIMOTO, 2010, p. 8); • portas que deem acesso ao solário, ao pátio ou parque, para que elas possam tomar sol. De acordo com Kishimoto (2010, p. 9), os “[...] bebês devem ter acesso a um solário próximo a sua sala, com brinquedos, para brincadeiras interativas com as professoras. Crianças que começam a andar devem ser separadas daquelas que correm”, para que a professora possa dar atenção adequada a cada uma; • janelas de acordo com a altura das crianças, para que elas possam visualizar o ambiente externo. “A criança explora o mundo, vendo casas, prédios, morros, florestas, árvores com flores e frutos, pássaros, animais, nuvens, céu, plantações, rios, riachos e o mar, jardins, ruas, bueiros, lixos, fumaça das fábricas, mangues, supermercado e carros [...]”. (KISHIMOTO, 2010, p. 12). FONTE: Disponível em: <http://www. lookfordiagnosis.com/mesh_info. php?term=Ber%C3%A7%C3%A1rios&lang=3>. Acesso em: 17 jun. 2012. FIGURA 61 – SALA DE ATIVIDADES 2 FONTE: Disponível em: <http:// marleideias.blogspot.com.br/2010/12/ bercarios.html>. Acesso em: 17 jun. 2012. FIGURA 60 – SALA DE ATIVIDADES 1 http://www/31 De acordo com Kishimoto (2010), existem alguns aspectos a ser considerados na seleção dos brinquedos para os bebês: - TAMANHO – O brinquedo deve ser duas vezes mais largo do que a mão fechada da criança (punho). - DURABILIDADE – Não disponibilizar vidros, copos plásticos ou brinquedos muito duros que podem se quebrar facilmente durante o uso. - CORDAS E CORDÕES – Devem ser evitados, pois podem enroscar no pescoço da criança. - BORDAS CORTANTES OU PONTAS – Deve-se eliminar este tipo de brinquedo. - NÃO TÓXICOS – Evitar os brinquedos produzidos com tintas ou materiais tóxicos, já que os bebês os colocam na boca. - NÃO INFLAMÁVEL – Cuidar para que não seja um brinquedo que pegue fogo. - LAVÁVEL, QUE PODE SER LIMPO – Evitar principalmente bonecas e brinquedos com tecidos. - DIVERTIDO – O brinquedo deve ser interessante e atraente. É importante observar estes aspectos, pois a criança coloca o brinquedo na boca com grande frequência, procurando vivenciar diferentes sensações, como duro, mole, macio, áspero, ampliando assim as experiências sensoriais que já possui e iniciando sua caminhada na compreensão de conceitos, já que o professor, ao estar atento à brincadeira da criança, vai nomeando as texturas dos objetos. Texturas, cores, odores, sabores, sons são experiências que a criança adquire no contato com móbiles coloridos, sonoros e brinquedos com diferentes texturas, formas, saquinhos com ervas aromáticas. Os objetos de uso cotidiano são importantes itens para ampliar as experiências sensoriais. Objetos feitos com materiais naturais ou de metal, como bucha, escova de dente nova, pente de madeira ou de osso, maçã ou limão, argola de madeira ou de metal, chaveiro com chaves, bolas de tecido, madeira ou borracha, sino e outros, dentro de um cesto de vime, sem alças, grande e com base plana, serve para a exploração livre do bebê que fica sentado. (KISHIMOTO, 2010, p. 3). Por volta dos seis meses, os bebês fazem uso da mão para pegar, encaixar, segurar, sentir, enfim, manipular os objetos e brinquedos disponíveis. “A criança, nessa fase, pensa com as mãos”. (KISHIMOTO, 2010, p. 4). Por isto é importante dispor diversos materiais diferentes para que a criança possa explorá-los, senti- los, conhecê-los, conforme nos orienta Kishimoto (2010, p. 4): 32 Pinos de encaixe coloridos, no formato de carrinho ou trem, chamam sua atenção e os bebês querem saber o que se pode fazer com tais objetos. Usar o corpo como instrumento de conhecimento é característico de bebês e crianças pequenas. Eles gostam de entrar em caixas, em buracos, túneis, passagens estreitas, apreciam empurrar, puxar, subir, encaixar, empilhar. Há brinquedos e materiais que auxiliam o conhecimento do mundo físico, entre os quais, as bolas que são ótimas para apertar, conhecer sua textura, cor, deixar cair para ver como rolam. Há bolas com diferentes funções: produz som no toque, possui face espelhada, que auxilia o conhecimento de si, e buracos, que deixam o bebê enfiar o braço e a mão para explorá-los. [...] Outros brinquedos de construção podem servir para os pequenos empilharem e para os maiores construírem novos espaços para as brincadeiras imaginárias. (KISHIMOTO, 2010, p. 4). O mais importante é que o professor esteja atento às curiosidades dos bebês, e disponibilize novos desafios, estimulando cada vez mais o processo de conhecimento das crianças. Materiais simples como colchões, tecidos, lençóis servem para fazer um túnel, uma cabana (para elas se esconderem), balançar as crianças, transportá-las de um lado para outro (puxando-as com os colchões ou lençóis), para rolar, dar cambalhotas, engatinhar, entre outros. Não perca a oportunidade de utilizar os materiais encontrados no dia a dia, para estimular cada vez mais os bebês e se divertir. Módulos de espuma resistente, revestidos de tecidos emborrachados, de fácil limpeza, servem para criação de estruturas para exploração motora com rampas para subir e descer, pontes, para passar por baixo. Acoplados e outros módulos com buracos e túneis constituem experiências desafiadoras em que o movimento é a linguagem privilegiada. (KISHIMOTO, 2010, p. 4). Outros brinquedos interessantes, que não necessariamente precisam ser comprados e sim criados pelo(a) professor(a), são os balanços, que podem ser pendurados dentro da sala. Eles podem ser feitos com pneus, tecidos, cordas, materiais recicláveis, de forma a torná-los mais confortáveis e menos duros (que os tradicionais de madeira), e assim não machucar as crianças que os utilizam nem as que passam perto. Outro material que pode ser construído e que lembra um pouco o balanço é feito com tecidos e elásticos (grandes e resistentes), no qual a criança senta, encostando os pés no chão, e se balança empurrando os pés para cima e para baixo (dando pulos). Da mesma forma, os cavalinhos podem ser criados com madeira roliça, pintados com a turma e ficar disponíveis em sala. Triciclos sem pedal ou carrinhos/caixas de empurrar e puxar fazem a criança que começa a andar usar amplos movimentos. Cavalinhos e balanços possibilitam balançar e cavalgar, cubos servem para empilhar. Bancadas de brinquedos para martelar possibilitam a compreensão de que o pino penetra na bancada. É a descoberta da relação entre o martelar e o deslocar. (KISHIMOTO, 2010, p. 4). 33 Como você percebeu diversos brinquedos/objetos podem ser criados ou reutilizados, de forma a promover e estimular o desenvolvimento dos bebês. A seguir, segue uma lista de sugestões de materiais a serem disponibilizados aos bebês em sala: QUADRO 10 – SUGESTÕES DE BRINQUEDOS E MATERIAIS Idade Sugestões Bebês (0 a 1 ano e meio) - Chocalhos, móbiles sonoros, sinos, brinquedos para morder, bolas de diversos tamanhos, cores e texturas, blocos macios, livros e imagens coloridas, brinquedos de empilhar, encaixar, espelhos. - Objetos com texturas (mole, rugoso, liso, duro) e coloridos, que fazem som (brinquedos musicais ou que emitem som), de movimento (carros e objetos para empurrar), para encher e esvaziar. - Brinquedos de parque. - Brinquedos para bater. - Cesto com objetos de materiais naturais, metal e de uso cotidiano. - Colcha, rede e colchonete. - Estruturas com blocos de espuma para subir, descer, entrar em túneis. FONTE: Kishimoto (2010) FRALDÁRIO O fraldário é o local onde são guardadas as fraldas e materiais de higiene e é utilizado para a troca de fraldas e higienização das crianças. FIGURA 62 – FRALDÁRIO U.E.I. BAIRRO JOÁO PAULO II JOSÉ LINO KUHNEN, INDAIAL SC FONTE: As autoras 34 Além de possuir piso e paredes de fácil limpeza e janelas com boa ventilação, os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2006a) orientam que este espaço contenha: • bancada para troca de fraldas, com colchonete; • tanque com torneira para higienização das mãos; • banheira em material térmico, com ducha de água quente e fria; • armários e prateleiras para guardar as fraldas e materiais de higienização; • cabides para pendurar toalhas e sacolas; • lixeira com tampa. É importante que este espaço possua móbiles ou outros materiais com os quais a criança possa se distrair durante a troca. Também é importante que o professor converse com a criança e aproveite o momento para fazer massagens relaxantes... “brinque de esconder e achar com uma fralda, dizendo “cucu”, “escondeu”, “achou”. Quando toma a iniciativa e esconde outros brinquedos o bebê já domina a brincadeira e expressa de forma prazerosa, repetindo sua nova experiência, variando as situações”. (KISHIMOTO, 2010, p. 3). LACTÁRIO O lactário é o local destinado para o preparo e higienização das mamadeiras. Para isto, deve-se observar que o espaço esteja próximoà sala de atividades, a fim de facilitar o transporte dos utensílios, e distante da lavanderia e dos banheiros (BRASIL, 2006a). SOLÁRIO O solário é um espaço livre e descoberto, onde as crianças possam tomar banho de sol. De acordo com os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2006a), este espaço deve estar interligado à sala de atividades, e ser de uso exclusivo das crianças de 0 a 1 ano. Seu acesso deverá ser fácil, sem desníveis, permitindo o trânsito de carrinhos de bebê, e possuir dimensão compatível com o número de crianças da turma (aproximadamente 1,50m² por criança). Neste espaço podem ser realizadas diversas brincadeiras e atividades com os bebês. Puxá-los com carrinhos de madeira (em que uma criança ou duas vão sentadas), e passear pelo espaço externo da instituição é uma atividade interessante. Da mesma forma, aproveite este espaço para deixar a criança brincar com a água, a terra, a areia, ou fazer “experiências com tintas, alimentos, plantas e 35 outros materiais, para explorar e ver o que acontece, movidas pela curiosidade”. (KISHIMOTO, 2010, p. 4). Cabe ao(à) professor(a), conforme o seu planejamento, criar opções diferenciadas para o desenvolvimento integral dos bebês, exercitando a sua capacidade criativa. Agora que já vimos cada um dos espaços para crianças de 0 a 1 ano de idade, vamos explorar de que forma ocorre a organização dos espaços para as crianças com mais de um ano? ORGANIZAÇÃO DOS ESPAÇOS PARA CRIANÇAS DE 1 A 6 ANOS O espaço físico para a criança de 1 a 6 anos deve ser visto como um suporte que possibilita e contribui para a vivência e a expressão das culturas infantis – jogos, brincadeiras, músicas, histórias que expressam a especificidade do olhar infantil. (BRASIL, 2006a, p. 16). Desta forma, a organização dos espaços para crianças de 1 a 6 anos abrange a organização da instituição de Educação Infantil em si, pois as crianças utilizarão praticamente todos os espaços presentes. Para tanto, Neste caderno focaremos a discussão e apresentação dos espaços mais utilizados pelas crianças de 1 a 6 anos, como: FIGURA 63 – ESPAÇOS PARA CRIANÇAS DE 1 A 6 ANOS FONTE: As autoras No entanto, queremos afirmar que a organização dos demais espaços (lavanderia, cozinha, depósito, recepção, secretaria, direção, almoxarifado, sala de professores) também é importante para o desenvolvimento das atividades e da rotina da instituição. Em relação aos aspectos construtivos, os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2006a) orientam que sejam observados os seguintes aspectos: 36 FIGURA 64 – ASPECTOS CONSTRUTIVOS FONTE: As autoras Tendo observado os elementos para a construção dos espaços, vamos analisar de forma detalhada os ambientes mais utilizados pelas crianças de 1 a 6 anos? SALA DE ATIVIDADES A sala de atividades é destinada às crianças de determinada faixa etária (sala de referência), conforme a organização da instituição. Para isto, é necessário que o professor, de acordo com o planejamento, organize a sala de forma a facilitar e estimular o processo ensino-aprendizagem. As salas de atividades são espaços lúdicos, podendo ser organizadas em cantinhos (da leitura, da brincadeira, dos jogos, do desenho, da massinha, entre outros), e necessitam ser acessíveis, dinâmicos, vivos, brincáveis, fáceis de serem explorados e modificados. Sugere-se que estes ambientes variados, de acordo com Horn (2005, p. 29), sejam: 37 FIGURA 65 – CANTINHOS - U.E.I. BAIRRO JOÁO PAULO II - JOSÉ LINO KUHNEN, INDAIAL - SC FONTE: As autoras A forma como são organizadas as salas nas instituições de Educação Infantil depende do planejamento do professor, dos objetivos que pretende alcançar, do que quer desenvolver/estimular nas crianças, tornando-se parte integrante da prática pedagógica. A organização das salas de forma linear, com mesas e cadeiras, sem a organização de cantos diversificados, onde a criança não tem a possibilidade de escolher com qual atividade quer brincar e depende exclusivamente do que o professor selecionou para a turma toda desenvolver ao mesmo tempo reflete uma visão tradicional/cartesiana da educação, e há muito tempo deixou de ser indicada para o trabalho com as crianças. A organização dos espaços da Educação Infantil em cantinhos/ambientes facilitadores da aprendizagem [...] podem favorecer diferentes tipos de interações em que o professor tem papel importante como organizador dos espaços onde ocorre o processo educacional. Tal trabalho baseia-se na escuta, diálogo e observação das necessidades e interesses expressos pelas crianças, transformando-as em objetivos pedagógicos. (BRASIL, 2006a, p. 10). Desta forma, é muito importante o professor pensar qual a concepção que tem das crianças, que crianças quer formar (dependentes, adestradas ou autônomas, ativas, independentes). A organização dos espaços é um elemento curricular importante na Educação Infantil, pois dá suporte e cria oportunidades de diferentes formas de aprendizagem, [...] por meio das interações possíveis entre crianças e objetos e delas entre si. Assim considerado, o espaço na educação infantil não é somente um local de trabalho, um elemento a mais no processo educativo, é, antes de tudo, um recurso, um instrumento, um parceiro do professor na prática educativa. (HORN, 2005, p. 29). Por ser um parceiro da prática educativa, a organização dos ambientes/ espaços não deve ser engessada, permanecendo a mesma organização durante o semestre/ano todo. Os ambientes (cantinhos) precisam ser organizados conforme o planejamento do professor ou o interesse das crianças, e ser modificados a cada certo período de tempo: mensalmente, a cada dois ou três meses, conforme o (des)interesse das crianças pelos espaços, as necessidades do planejamento do professor, entre outros. 38 O importante é criar outras possibilidades de interação para as crianças, em que elas mesmas possam contribuir na organização e definição dos ambientes a serem criados. Com base nestas definições, vamos trazer algumas opções de ambientes facilitadores/cantinhos que você pode utilizar na organização das salas de Educação Infantil: Cantinho da leitura Ambiente aconchegante, com baú ou estante cheia de livros de diferentes tamanhos, cores e texturas, de histórias variadas, apenas com imagens, com sons, de pano, de plástico, entre outros, que podem ser livremente manipulados pelas crianças para contar, recontar, criar e ouvir novas histórias. Também pode haver almofadas (que cada criança traz para a instituição no início do ano), para as crianças sentarem nos momentos de leitura, ou até mesmo para ouvir uma história contada pela professora. As histórias do mundo encantado dos contos de fadas, dos reis, bruxas e super-heróis têm uma estrutura contendo palavras como: “Era uma vez” “Depois” “E viveram felizes para sempre”. O começo, meio e fim proporcionado por este gênero de literatura auxilia a criança a ampliar narrativas. Ao agregar a natureza lúdica, no recontar histórias, a expressão livre de experiências, vivências e formas de ver o mundo penetram nas narrativas infantis. Nas histórias recriadas, pelas crianças, a branca de neve virou morena das neves, trazendo as questões da diversidade, o lobo, da história da Chapeuzinho Vermelho, desdobrou-se no lobo do “bem” e do “mal”. (KISHIMOTO, 2010, p. 6). FIGURA 68 – CANTO DA LEITURA - U.E.I. BAIRRO JOÁO PAULO II - JOSÉ LINO KUHNEN, INDAIAL - SC FONTE: As autoras 39 Ouvir e recontar histórias faz com que as crianças sintam o prazer de contar histórias sobre elas mesmas, seus familiares, bichos de estimação, estimulando a sua capacidade narrativa. Você podeestimular as crianças a levarem os livros para casa, para os pais efetuarem a leitura, e depois relatarem como foi a experiência. Várias são as formas de incentivar a criança a criar o hábito da leitura. Experimente! Cantinho dos brinquedos Neste ambiente podem ser disponibilizados diversos tipos de brinquedos, estimulando “diferentes usos e atividades. Os confeccionados com materiais naturais da região costumam ser mais atrativos”. (BRASIL, 2006b, p. 28). Entre os brinquedos que podem ser disponibilizados, citamos: bolas (de diversos tamanhos e cores), boliches (de tecido e de plástico), bambolês, pião, triciclos, “[...] bonecas e acessórios, como berço, carrinho, caminhões de diferentes tipos (cegonha, caçamba, bombeiro), posto de gasolina, fantoches, bichinhos e kit médico, ampliando o repertório das brincadeiras”. (KISHIMOTO, 2010, p. 5). U.E.I. BAIRRO JOÁO PAULO II - JOSÉ LINO KUHNEN, INDAIAL - SC FIGURA 69 – CANTINHO DOS BRINQUEDOS 1 FONTE: As autoras FIGURA 70 – CANTINHO DOS BRINQUEDOS 2 FONTE: As autoras Cantinho dos jogos Neste ambiente podem ser disponibilizados diversos tipos de jogos, como: quebra-cabeça, memória, dominó, bingo, jogos das profissões, encaixes, jogos de percurso, loto, entre outros. Os jogos [...] auxiliam o letramento matemático, a relacionar os instrumentos de trabalho às profissões e animais domésticos e selvagens. Blocos lógicos servem para classificação de cores, formas e espessuras, mas a criança pode dar outros usos, como empilhar, juntar os blocos para criar formas de animais e objetos, ou um bloco virar sabonete, pente ou comida na brincadeira imaginária. (KISHIMOTO, 2010, p. 7-8). Cantinho das artes 40 Este ambiente pode conter: massinhas, folhas de diversas texturas, cores e tamanhos, cartolinas, canetinhas, lápis de cor, giz de cera, tesouras sem pontas, lápis, borracha, som, música, tintas, banda rítmica, latas lacradas com diversos tipos de grãos (para formar sons diferentes), tecidos, entre outros. Brincar de bandinha rítmica apropriada a crianças pequenas possibilita experimentar diferentes instrumentos. O brincar de fazer som inclui o movimento do corpo. Um papel amassado ou o bater palmas expressam a sonoridade que se cria com as mãos. Soprar uma pena ou bater na água mostra o poder de fazer coisas: a pena que voa e a água espirra. [...] Brincar com tinta, fazer tinta com plantas, com terra e utilizá-las para expressar o prazer de misturar, de ver as cores e, depois, representar coisas de que gosta é outra modalidade de linguagem plástica que requer materiais apropriados. Crianças gostam de fazer marcas, para expressar sua individualidade e as tintas são ferramentas para essa finalidade. As massinhas, argila, gesso ou materiais para desenhar, pintar, fazer colagens e construções com diferentes objetos são linguagens plásticas que dão prazer às crianças. (KISHIMOTO, 2010, p. 5). QUADRO 11 – SUGESTÕES DE BRINQUEDOS E MATERIAIS PARA CRIANÇAS DE 1 ANO A 6 ANOS Idade Sugestões Crianças pequenas (1 ano a 3 anos e 11 meses) - túneis, caixas e espaços para entrar e esconder-se; - brinquedos para empurrar, puxar, bater; - bolas de diversos tamanhos e cores, cordas, bambolês, papagaio (pandorga, pipa), perna de pau, amarelinha; - quebra-cabeças simples, jogos de memória e de percurso; - livros de história, fantoches (de diversas formas, tamanhos e cores) e teatro; - blocos, encaixes; - massinha e tinturas de dedo; - bonecas/os, brinquedos, mobiliários e acessórios para brincadeiras de faz de conta; - sucata doméstica e industrial e materiais da natureza. Sacolas e latas com objetos diversos de uso cotidiano para exploração; - TV, computador, aparelho de som, CD; - triciclos e carrinhos para empurrar e dirigir; - tanques/canchas de areia, brinquedos de areia e água; - estruturas para trepar, subir, descer, balançar, esconder; - materiais de artes e construções; - tecidos diversos; - bandinha rítmica. 41 Crianças maiores (4 a 6 anos) - boliches, jogos de memória, quebra-cabeça, dominó, blocos lógicos, loto, jogos de profissões e outros temas; - materiais de arte, pintura, desenho; - CD com músicas, danças, TV, máquina fotográfica, gravador, aparelho de som, computador, impressora; - jogos de construção, brinquedos para faz de conta e acessórios para brincar; - teatro e fantoches (de famílias de diversas etnias, de animais, de personagens do folclore, entre outros); - materiais e brinquedos estruturados e não estruturados; - bandinha rítmica; - brinquedos de parque, tanques de areia e materiais diversos para brincadeiras na água e areia; - sucata doméstica e industrial e materiais da natureza; - papéis, papelão, cartonados, revistas, jornais, gibis, cartazes e folhas de propaganda; - bola, corda, bambolê, pião, papagaio, cinco marias, bilboquê, perna de pau, amarelinha, varetas gigantes, triciclos, carrinhos; - livros infantis, letras móveis, material dourado, globo, mapas, lupas, balança, peneiras, copinhos e colheres de medida. FONTE: Adaptado de: Kishimoto (2010) SALA MULTIÚSO/BRINQUEDOTECA A sala multiúso é um espaço destinado para a realização de atividades diferenciadas, propostas pelo professor no planejamento, como: a) assistir a vídeos, filmes, DVDs - este tipo de atividade não deve ocorrer diariamente, pois, em casa, a maioria das crianças já passa muito tempo em frente à televisão. Por isto também é importante que a televisão não fique na sala de atividades e sim num espaço específico para este momento; b) ouvir uma história ou manusear os livros - apesar de a própria sala de atividades ter um ambiente para a leitura, o fato de as crianças se deslocarem para um novo espaço, mais silencioso, para ouvir uma história, assistir a um teatro de fantoches, entre outros, faz com que elas se tornem mais receptivas e atentas; c) escutar uma música, dançar, fantasiar-se etc. - como vimos anteriormente, estas atividades também podem ser realizadas na sala de atividades conforme o planejamento do professor. Caso não seja possível ter em cada sala um espaço com roupas e sapatos de adultos para as crianças brincarem (canto da fantasia), este espaço também pode ser utilizado para isto, já que todas as turmas podem ter acesso a ele. REFEITÓRIO O refeitório éo espaço utilizado para as crianças se alimentarem, estimulando que elas se sirvam e se alimentem sozinhas assim que possível, de forma a desenvolver a sua autonomia. Também é um espaço de socialização entre crianças de diversas faixas etárias. Conforme os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2006a), este espaço deve se localizar próximo da cozinha e contar com um mobiliário móvel, de forma a possibilitar diversas formas de organização do ambiente e prevendo a utilização por 1/3 das crianças do turno maior, intercalando as turmas no horário da alimentação. 42 FIGURA 74 – REFEITÓRIO - U.E.I. BAIRRO JOÁO PAULO II - JOSÉ LINO KUHNEN, INDAIAL - SC FONTE: As autoras BANHEIROS O ideal é que estejam próximos das salas das crianças, porém bem longe da cozinha e do refeitório, sem ter ligação direta com eles. De acordo com os Parâmetros Básicos de Infraestrutura para Instituições de Educação Infantil (BRASIL, 2006a), os pisos e paredes precisam ser de fácil limpeza, as janelas com boa iluminação, as portas não devem conter chaves nem trincos e os lavatórios precisam ser adequados de acordo com a altura das crianças (algo em torno de 0,60 cm), os sanitários também necessitam ser pequenos. FIGURA 75 – LAVATÓRIO - U.E.I. BAIRRO JOÁO PAULO II - JOSÉ LINO KUHNEN, INDAIAL - SC FONTE: As autoras É importante que os banheiros sejam adequados ao tamanho das crianças,
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