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ANÁLISE DOS RESULTADOS AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA INSTITUCIONAL AULA 4 Profª Genoveva Ribas Claro 2 CONVERSA INICIAL Bem-vindos! Aplicamos anteriormente os instrumentos para avaliar os sintomas e agora chega o momento de analisar os resultados coletados. É importante que o psicopedagogo saiba analisar adequadamente os resultados obtidos, pois eles vão possibilitar realizar o diagnóstico. Com base na proposta de Pichon-Riviére (1998), vamos utilizar a técnica do cone invertido, que por meio de vetores possibilita relacionar os conteúdos explícitos e implícitos do grupo, os quais são representados graficamente. A análise das características predominantes em um grupo, avaliadas à luz dos vetores proporciona a consciência, da existência de aspectos relevantes na dinâmica do grupo que podem estar obstaculizando a aprendizagem, enquanto psicopedagogo institucional. O resultado vem da análise da interação entre os pares e o vínculo com a tarefa, possibilitando entender a dinâmica da instituição. Vamos ver como funciona? TEMA 1 – A TÉCNICA DO CONE INVERTIDO NA ANÁLISE DE RESULTADO O cone invertido é uma representação gráfica em que na parte superior são representados os elementos manifestos pelo grupo e na parte inferior, as fantasias latentes. Ele é composto por seis vetores que indicam: Pertença: se dá quando o participante se sente pertencente à dinâmica grupal, colaborativo e integrado ao grupo. Cooperação: é percebida a partir da ação conjunta em benefício do grupo. Pertinência: é avaliada pelo desgaste de energia aplicado à dinâmica e à percepção dos integrantes quanto aos objetivos para a realização da tarefa. Comunicação: troca de informações entre os participantes do grupo. Aprendizagem: é o processo de apreensão do conhecimento por meio das habilidades, comunicações e interações. Pode ser percebida no projeto, é o sinal que o grupo dá para mostrar que existe um caminho para continuar, aperfeiçoar uma tarefa já existente ou iniciar uma nova. Tele: pode ser entendida com o clima estabelecido pelo grupo. O clima está relacionado com a empatia entre os envolvidos, que pode ser positiva ou 3 negativa, levando ao sentimento de rejeição ou de proximidade. A falta da tele indica a falta de vínculo do grupo com a tarefa e com o coordenador da atividade. O Cone Invertido de Pichon-Riviére (1998) é representado graficamente por um cone (Figura 1) em que a parte superior representa os elementos manifestos pelo grupo e a parte inferior são as fantasias latentes, compreendendo a unidade de operação existente no campo de ação que, se combinados com a história pessoal (verticalidade) e o está acontecendo com o grupo (horizontalidade), emerge o implícito. Figura 1 – O cone invertido Fonte: Adaptado Lucchese; Barros, 2002. O objetivo da integração desses elementos é o de tornar conhecido aquilo que está encoberto ou subentendido na inter-relação grupal, possibilitando ao grupo uma exposição de seus medos diante da mudança, que pode ser positiva ou negativa. Aquele que manifesta a nova situação é representado como o porta- voz do grupo. No grupo, cada elemento tem um papel estabelecido, entretanto, sua plasticidade amplia sua capacidade para adotar outros papéis funcionais. Quando o grupo não pode assumir no conjunto, ele coloca em alguém, o que seria o chamado conteúdo Depositado, e aquele que permite e aceita, por suas características é chamado de Depositário, as pessoas que desvencilham destes conteúdos, colocando-os fora são os Depositantes, formando a Teoria dos Três D’s (Depositado, Depositário e Depositante). 4 Para compreender melhor os diversos papéis que ocorrem dentro do grupo, é importante identificar a comunicação entre os integrantes, que terá um tema exclusivo para a análise da comunicação. TEMA 2 – A ANÁLISE DA COMUNICAÇÃO NO GRUPO No grupo, há uma rede de interações entre os indivíduos. A partir destas interações, o sujeito pode referenciar-se no outro, encontrar-se com o outro, diferenciar-se do outro, opor-se a ele e, assim, transformar e ser transformado por este (Bastos, 2010). A interação do grupo é percebida pelas formas de comunicação, não apenas verbal, mas principalmente gestual e pelas atitudes emocionais diante das situações ocorridas. O grupo é uma forma especifica de reunião de pessoas em que ocorrem interações vinculares para se atingir um objetivo. Desta forma, a comunicação é imprescindível para o sucesso. Quando há ruídos ou falhas de comunicação, pode haver prejuízos na realização das tarefas. Segundo Oliveira (2009), a comunicação pode ser: • Comunicação fálica: aquela que impõe o ponto de vista em que não cabem discussões. Exemplo: o gestor ou coordenador que repete: “já disse que é assim e ponto final. Será possível que preciso explicar mais? ” • Comunicação genital: possibilita troca de opiniões e modificação do estado inicial do que foi comunicado. Exemplo: o líder que comenta: “está é minha crença; no entanto, gostaria de conhecer a de vocês”. • Comunicação oral: pode levar o grupo a uma relação de dependência, pela qual fica clara a comunicação de “um que sabe” para “outros que não sabem” e usufruem deste saber. Exemplo: alunos que pedem ao professor: “por favor repita isto que disse, bem lentamente, para que possamos copiar”. • Comunicação anal: seria aquela que denigre o outro, que humilha e desqualifica. 5 Exemplo: o gestor que chama a atenção: “mais uma vez, o senhor, espalhando sua alegria no momento inadequado e atrapalhando seus colegas”. A comunicação é algo importante a ser analisado, pois, depende dela a eficácia de qualquer instituição ou grupo e por meio dela é possível identificar os papeis existentes dentro do grupo. De acordo com Oliveira (2009), alguns destes papeis são: • Bode expiatório: representa uma pessoa que recebe os aspectos negativos de todo o grupo, e acaba aceitando essa carga e assumindo esse papel, sua função é deixar o grupo mais leve e produtivo. • Porta-voz: representa aquela pessoa que comunica o que o grupo está sentindo, suas necessidades, pensamentos e ansiedades que, muitas vezes, estão inconscientes dentro do grupo. Este papel consegue perceber pela fala e pelas ações, os sentimentos e as ideias que circulam no grupo. • Sintetizador: representa o papel da pessoa que consegue ouvir, perceber e captar o que o grupo está debatendo, conseguindo sintetizar o que o grupo está discutindo. • Instigador: representa aquela pessoa que tende a fazer intrigas sobre as pessoas e suas ações, o que acaba perturbando o clima do grupo. • Sabotador: representa aquelas pessoas que são resistentes às mudanças, tende a enxergar as tarefas como obstáculos, levando o grupo a desanimar e paralisar. Para Pichon-Rivière (1998), o sabotador representa a resistência à mudança, característica que faz parte de qualquer processo de aprendizagem, seja ele individual ou grupal. • Apaziguador: representa o papel que busca harmonia entre o grupo, evitando conflitos. Como afirma Zimerman (2000), é desempenhado por pessoas que apresentam dificuldades de lidar com situações tensas ou de agressividade. • Líder: representa o papel da pessoa que consegue convencer e motivar o grupo. O líder tem uma boa influência, no entanto, esta influência pode ser tanto de forma positiva, como negativa. Para ter um bom relacionamento com as pessoas dentro do grupo, é desejável desenvolver algumas competências, além de boa comunicação, 6 respeito mútuo, autoconhecimento, controle emocional, vínculo, motivação e empatia para que todos realizem com sucesso seus objetivos. TEMA 3 – SEGUNDO SISTEMA DE HIPÓTESES E O LEVANTAMENTO ESTATÍSTICO Ao realizar os resultados da EOCMEA, das observações, entrevistas e outras técnicas utilizadas, formula-se o SegundoSistema de Hipóteses, isto é: as hipóteses serão confirmadas, refutadas, podem ser retiradas e incluídas novas hipóteses. Esse segundo sistema é estabelecido da mesma forma que na elaboração do primeiro sistema de hipóteses, analisado de acordo com as dimensões cognitivas e afetivas de ordem do conhecimento, da interação funcional e estrutural. É o resultado da investigação de fatores causais, que convivem com o sintoma na mesma porção temporal. Esta análise permite aproximação da realidade, conhecendo suas peculiaridades e possibilidades, indicando uma intervenção futura. Depois do segundo sistema de hipótese, pode-se formular outros instrumentos para complementar a avaliação, como o levantamento estatístico e a análise documental da instituição, que são instrumentos importantes no diagnóstico e se referem à coleta de informações nos documentos como: o diário de classe, o projeto político pedagógico, prontuários, portaria, regimentos internos, relatórios, e outros documentos. Ainda se tem a história da instituição, que é como a anamnese na avaliação clínica, que será melhor discutida no tema seguinte. O segundo sistema de hipóteses, sendo mais consistente, não é o ponto final da pesquisa da queixa. TEMA 4 – A PESQUISA DA HISTÓRIA E A HIPÓTESE DIAGNÓSTICA Mesmo com as informações sobre a instituição já obtidas desde a entrevista sobre a queixa, é importante realizar uma pesquisa da história. De acordo com Barbosa (2001, p.168), o conhecimento da história da instituição se refere a “centrar seu levantamento no conhecimento da história da problemática, objeto da queixa que originou o diagnóstico e no conhecimento histórico dos fatores causais que foram base das hipóteses anteriores”. 7 A análise poderá ser realizada por meio de entrevista aberta ou fechada com os responsáveis pela instituição. A depuração de hipóteses anteriores contribuirá para o ajustamento da hipótese diagnóstica demonstrada na entrevista devolutiva. Mediante documento deverá ser informado à instituição os obstáculos referentes à estrutura, funcionamento, interação e conhecimento, identificando as causas do sintoma investigado. Esta entrevista devolutiva deve ter caráter interventivo por meio da reflexão dos responsáveis sobre o informe apresentado (Barbosa, 2001). TEMA 5 - ELABORAR UM INFORME PSICOPEDAGÓGICO É importante que o psicopedagogo tenha cuidado ao analisar os resultados obtidos e consiga fazer uma análise funcional com o material levantado. O Informe Psicopedagógico ou laudo é um documento organizado que comunica o resultado da avaliação. Este documento requer uma linguagem clara e objetiva, apresentando aspectos positivos e negativos observados na instituição, traçando o perfil e identificando as relações que configuram a dinâmica institucional referente à aprendizagem. O informe psicodiagnóstico é o fechamento da matriz diagnóstica de uma construção, de uma prática psicopedagógica. Suas informações são importantes para elaborar um plano interventivo. Com a análise dos instrumentos aplicados por meio de uma queixa, é possível fazer uma síntese dos resultados e propor recomendações e prognósticos. Pelos dados do informe psicopedagógico é possível elaborar um projeto de intervenção, que poderá ser aplicado pelo próprio psicopedagogo, ou outro psicopedagogo ou profissional. Este projeto deve ser entregue para o responsável ou para a equipe que encaminhou a queixa, e deve ser realizado por meio de entrevista devolutiva, em que o psicopedagogo detalhe os procedimentos que serão realizados. 8 NA PRÁTICA Com base em pesquisas sobre o Cone Invertido, procure avaliar um grupo com o qual tenha contato, utilizando os seis vetores de análise do funcionamento. FINALIZANDO Nesta aula: • Conhecemos a técnica do cone invertido na análise dos resultados e seus vetores. • Analisamos a comunicação dentro do grupo na avaliação institucional. • Conhecemos os tipos de comunicação. • Com a análise dos resultados do cone invertido, foi possível elaborar o segundo sistema de hipóteses e realizar o levantamento estatístico. • Compreendemos a pesquisa da história da instituição e como elaborar a hipótese diagnóstica. • Com os resultados na avaliação elaboramos o Informe psicopedagógico. 9 REFERÊNCIAS BARBOSA, L. M. A psicopedagogia no âmbito da instituição escolar. Curitiba: Expoente, 2001. BASTOS, A. B.B.I. A técnica de grupos-operativos à luz de Pichon-Rivière e Henri Wallon. Psicólogo inFormação ano 14, n, 14 jan. /dez. 2010. LUCCHESE, R.; BARROS, S. Grupo operativo como estratégia pedagógica em um curso graduação em enfermagem: um continente para as vivências dos alunos quartanistas. Rev. esc. enferm. USP [online]. 2002, vol.36, n.1, pp. 66-74. MILITÃO, A. S.O.S: dinâmica de grupo. Rio de Janeiro: Qualitymark, Ed, 1999. PICHON-RIVIÈRE, E. Teoria do vínculo. São Paulo: Martins Fontes, 1988. _____. O processo grupal. São Paulo: Martins Fontes, 1998. RIVIÈRE, P. Teoria do vínculo. São Paulo: Martins Fontes, 1980. ZIMERMAN, E. Fundamentos básicos das grupo-terapias. Porto Alegre: Artes Médicas Sul: 2000.