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INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDA A insuficiência cardíaca aguda (ICA) é uma síndrome complexa, caracterizada pelo agravamento dos sinais e sintomas de insuficiência cardíaca, que, a despeito de todo o processo evolutivo, permanece com altas morbidade e mortalidade. Ativação neuro-hormonal, congestão venosa, disfunção endotelial, lesão miocárdica e disfunção renal são centrais na fisiopatologia da ICA. É essencial a avaliação sistemática, com análise dos fatores desencadeantes e comorbidades, perfil hemodinâmico e lesões de órgãos-alvo em curso. Os biomarcadores e a ultrassonografia à beira do leito são grandes ferramentas para avaliação clínica, em especial nos casos cronicamente descompensados. FISIOPATOLOGIA: A ICA é uma síndrome heterogênea. Pacientes com ICA de novo podem ter sobrecarga hídrica com menos frequência que os pacientes com IC crônica, os quais em geral possuem excesso de líquido circulante. Ativação neuro-hormonal e inflamação: Durante o curso inicial da IC, a ativação do sistema nervoso adrenérgico e do sistema renina-angiotensina-aldosterona (RAAS) induz mudanças adaptativas que permitem a manutenção da perfusão por meio de mecanismos que incluem aumento da contratilidade cardíaca, retenção de sódio e fluidos e vasoconstrição. No entanto, com o tempo esses mecanismos tornam-se desadaptativos e resultam em disfunção cardíaca e de órgãos-alvo, aumentando a proliferação de fibroblastos, estresse oxidativo e deposição de matriz extracelular. Congestão venosa e disfunção endotelial: A congestão venosa tem um papel central na fisiopatologia da descompensação, associando-se à própria ativação neuro-hormonal, disfunção endotelial e disfunção renal. Em boa parte dos pacientes, associa-se a disfunção ventricular direita, com consequente sobrecarga no sistema cava (alterações hepáticas e intestinais, ascite) e congestão venosa renal, além do próprio edema periférico. O agravamento da congestão e a disfunção renal modificam a resposta a diuréticos de alça, com necessidade de doses mais altas para um efeito mais adequado na diurese. Essa síndrome cardiorrenal está associada a desequilíbrio nos níveis de NO (endotelite aguda) e a aumento no estresse oxidativo, (prostaglandinas e citocinas) e por conseguinte a progressão da IC. Comorbidades e disfunções secundárias de órgãos-alvo: Sabe-se que comorbidades como doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), anemia, diabete melito, apneia do sono, depressão, obesidade e fragilidade contribuem para as descompensações de IC, por meio de inflamação e de ativação do sistema renina- angiostesina-aldosterona (SRAA) e do sistema nervoso simpático. A congestão é o perfil clínico predominante na maioria dos pacientes com ICA, com menor proporção apresentando-se com hipoperfusão periférica ou choque cardiogênico. Ainda que a fisiopatologia não esteja completamente entendida, ambos podem levar a lesão de órgão-alvo (pulmões, rins, fígado, intestino, cérebro) e estão associados a pior prognóstico. Pulmões: Aumentos na pressão hidrostática do átrio esquerdo (AE) e regurgitação mitral repercutem com aumento da pressão capilar pulmonar, aumentando a transudação de fluido para o interstício, consequentemente rigidez pulmonar e dispneia. O sistema linfático drena regularmente fluido intersticial, mas quando a pressão intersticial excede a pressão pleural o fluido se move para os espaços pleural e intra-alveolar. O metabolismo do óxido nítrico parece ter papel importante no modelo de apresentação clínica da congestão pulmonar. Descompensações recorrentes ou graves podem resultar em remodelamento pulmonar e consequentemente elevação fixa das pressões pulmonares (hipertensão pulmonar). Rins: A síndrome cardiorrenal tipo 1 refere-se à interação fisiopatológica entre o coração, afetando o rim, especialmente na ICA. Os mecanismos aventados incluem redução no fluxo sanguíneo renal (por congestão ou baixo débito), pressão intra-abdominal elevada, hipóxia renal, aumento da pressão intersticial e fibrose intersticial, além dos mediadores inflamatórios. A progressão clínica da disfunção renal em pacientes com ICA é complexa. Pacientes com insuficiência renal prévia subjacente têm pior dano agudo por conta da reduzida reserva renal. No entanto, pacientes que apresentam piora transitória da função renal associada a melhora clínica da IC podem ter o chamado “pseudoagravamento da função renal”, o qual resulta em geral da alteração da hemodinâmica intraglomerular e da hemoconcentração, e na se associa a risco aumentado de eventos adversos. Fígado: A disfunção hepática está presente em 20-30% dos pacientes com ICA, estando intimamente associada a disfunção renal (síndrome cardiorrenal-hepática), sugerindo prognóstico sinergicamente pior. A colestase é um achado mais comum, porém o mais grave é a necrose centro-lobular e elevação de transaminases decorrente de hipoperfusão (hepatite hipóxica), a qual costuma ocorrer em 5-10% dos pacientes em choque cardiogênico e associa-se a maior mortalidade. Intestino: A morfologia intestinal, a permeabilidade e a absorção são alteradas na ICA. Por um lado, o aumento da permeabilidade intestinal e da flora bacteriana contribui para inflamação crônica e desabsorção. Por outro, a congestão venosa sistêmica/vasoconstrição e a redução do débito cardíaco contribuem para a redução do fluxo na microcirculação esplâncnica e o aumento do fenômeno de isquemia intestinal. QUADRO CLÍNICO História clínica: A maioria dos pacientes hospitalizados com ICA apresenta história prévia de IC; no entanto os pacientes que desenvolvem episódios “de novo” requerem avaliação etiológica, além dos exames habituais. Dados históricos agravantes adicionais incluem hospitalizações recorrentes por IC e incapacidade progressiva de tolerar a terapia medicamentosa orientada por diretrizes. Exame físico: Os objetivos principais do exame físico são confirmar o diagnóstico, identificar possíveis fatores de exacerbação e determinar padrão hemodinâmico para manejo. A pressão venosa jugular elevada e a presença de um galope S3 estão associadas ao aumento da morbidade e da mortalidade na IC. CLASSIFICAÇÃO: A IC aguda é classificada de acordo com quatro aspectos: síndrome clínica de apresentação (insuficiência ventricular esquerda, IC congestiva, choque cardiogênico e edema agudo de pulmão); tempo de evolução da doença (IC aguda nova ou crônica agudizada); tipo de disfunção ventricular (ICFEp – (FEVE > 50%); ICFEi (FEVE 40-50%) e ICFEr (FEVE < 40%); e modelo clínico-hemodinâmico. Estratégia essencial para o manejo é a categorização, por meio de dados de perfusão e de volemia, dos pacientes em perfis clínico- hemodinâmicos. Os pacientes podem ser agrupados em uma das quatro categorias, integrando dados do exame das veias do pescoço, pulmões, abdome e extremidades. Aproximadamente 2/3 dos pacientes ICA pertencem ao perfil clínico B (quente e úmido), e mais de 1/4 têm características do perfil C (úmido e frio), enquanto apenas uma minoria exibe características do perfil L (seco e frio). EXAMES COMPLEMENTARES: O teste deve incluir um hemograma completo, painel metabólico básico com teste de função renal, hepática, troponina e nível de peptídeo natriurético cerebral (BNP). Anormalidades na função renal e hepática são encontradas em aproximadamente 75% dos pacientes com AHF e estão associadas a mais doença grave. O teste de troponina pode ajudar no prognóstico e na detecção de isquemia subjacente como um potencial evento desencadeante descompensação. A elevação da troponina é frequente, sendo encontrada em alguns estudos em até 98% dos pacientes. Outros estudos indicaram em torno de 30-50%, mas usualmente associada a maiores taxas de reinternação e mortalidade em 90 dias. Peptídeos natriuréticos (BNP e NT-proBNP) são especialmente úteis nos casos de dúvida diagnóstica. Outras condições associadas a elevações nos níveis de peptídeos natriuréticos incluem emboliapulmonar, hipertensão pulmonar, doença cardíaca valvular e síndrome do desconforto respiratório agudo. Eletrocardiograma: Um eletrocardiograma (ECG) deve ser obtido rapidamente para avaliar a etiologia ou fatores precipitantes (síndrome coronariana aguda – SCA –, fibrilação atrial com resposta ventricular elevada, arritmia ventricular). No entanto, é improvável que um ECG diagnostique ou exclua IC isoladamente, porém QT longo e ritmos juncionais estão associados a piores desfechos. Radiografia de tórax: Radiografia de tórax é acessível. Seus achados podem sugerir o diagnóstico de IC, incluindo cardiomegalia, congestão vascular central e edema intersticial, com sensibilidades que variam de 59-74,5% e especificidades de 86,3-96%. Porém em torno de 20% dos exames podem estar inalterados ou inconclusivos, não excluindo IC. Ecocardiografia: A ecocardiografia deve ser realizada durante a avaliação inicial de pacientes com IC, assim que possível. Sua repetição nas recorrentes hospitalizações deve ser realizada quando nova suspeita ou mudança no padrão de apresentação que altere o manejo. Ultrassonografia à beira do leito: A ultrassonografia à beira do leito pode ser valiosa para diagnosticar ICA, com alta especificidade e razões de probabilidade positivas. Ultrassonografia pulmonar identifica com sucesso as linhas B, artefatos verticais que resultam da reverberação da onda sonora através do interstício pulmonar congesto. O número de zonas pulmonares examinadas varia na literatura, entre 8 zonas pulmonares torácicas e mais recentemente 4 ou 6 zonas. As linhas B demonstram alta sensibilidade e especificidade para edema intersticial. A avaliação da fração de ejeção (FE) na ultrassonografia pode ser avaliada visualmente ou por medidas quantitativas. A estimativa visual qualitativa é feita avaliando o movimento para dentro do septo interventricular e parede inferior do ventrículo esquerdo (VE) durante a sístole. A ultrassonografia pode ainda estimar o volume intravascular por meio da medida do diâmetro da veia cava inferior e da variação percentual durante o ciclo respiratório. No entanto, o desempenho diagnóstico é controverso, com muitos fatores de confusão e ampla gama de sensibilidades e especificidades. MANEJO DO PACIENTE COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDA DESCOMPENSADA: O manejo da IC aguda pode ser dividido em seis partes: 1. Identificar situações que trazem risco imediato de vida. 2. Suporte respiratório. 3. Correção dos fatores precipitantes/desencadeantes. 4. Manejo de comorbidades descompensadas. 5. Manejo hemodinâmico. 6. Transição de cuidados (otimização das medicações e planejamento pós-alta). Presença de situação clínica de risco imediato de vida: Algumas situações trazem risco imediato à vida do paciente e devem ser prontamente reconhecidas para que seu tratamento específico seja instituído o quanto antes (Quadros 2 e 3). Correção dos fatores precipitantes/desencadeantes e manejo de comorbidades descompensadas Diversas causas podem levar à descompensação da IC. Identificar o fator precipitante é fundamental para que o tratamento específico seja oferecido e para que estratégias possam ser implementadas na prevenção de novos eventos. A má aderência ao tratamento ainda é a principal causa de descompensação de IC no Brasil. Manejo hemodinâmico Medidas não farmacológicas: dieta hipossódica e restrição hídrica As evidências para restrição hidrossalina em pacientes com IC descompensada são inconclusivas. A Diretriz Brasileira de IC recomenda que a ingesta de sódio não ultrapasse 7 g/dia e não faz nenhuma recomendação específica sobre o volume de ingesta hídrica ideal. Manejo de volemia A congestão está presente na maioria (~85%) dos pacientes com IC descompensada e é responsável por grande parte dos sintomas e das re-hospitalizações. A identificação de congestão nem sempre é fácil. Na anamnese sintomas de dispneia aos esforços ou ao repouso, ortopneia e dispneia paroxística noturna podem estar presentes. Desses, ortopneia é o que apresenta maior sensibilidade (90%). O exame físico tem sensibilidade muito limitada. Turgência jugular apresenta boa correlação aumento das pressões de enchimento de átrio direito e parece ser o sinal mais sensível do exame físico. Quando combinados, estertores pulmonares, turgência jugular e edema apresentam sensibilidade de 58% no diagnóstico de congestão. Radiografia de tórax não demonstra sinais de congestão em 53% dos pacientes com congestão pulmonar. Ecocardiograma portátil pode auxiliar ao determinar à beira-leito o diâmetro e a variabilidade respiratória da veia cava inferior (correlação com a pressão do átrio direito), a relação E/E’ do Doppler tissular mitral (correlação com pressão do átrio esquerdo/pressão capilar pulmonar), bem como a presença de linhas B pulmonares. Os diuréticos promovem excreção de sódio e água e são a principal ferramenta no manejo da hipervolemia. Em pacientes com edema de alças intestinais, a mucosa pode lentificar a absorção do medicamento, reduzindo o pico de ação e contribuindo para o desenvolvimento de resistência a diuréticos. Tiazídicos e poupadores de potássio têm menor poder diurético quando utilizados de maneira isolada, mas são de grande utilidade quando usados em conjunto com diuréticos de alça (bloqueio sequencial do néfron). A dose ideal de diurético vai depender da dose em uso prévio, da função renal e da magnitude da congestão. A dose endovenosa inicial deve ser no mínimo equivalente à dose oral em uso. O estudo DOSE foi o maior estudo randomizado na avaliação de estratégias diuréticas em pacientes com IC. O uso de doses maiores de diuréticos (2,5 vezes a dose oral em uso prévio) foi associado a maior alívio de dispneia, perda de peso e perda de volume, apesar de piora transitória da função renal. Outro estudo reforça a ideia de que a piora transitória de função renal não está associada a piores desfechos e talvez seja uma consequência da resolução da congestão. Esse raciocínio não é válido para piora de função renal em vigência de congestão persistente ou deterioração clínica. Durante a terapia diurética, sinais vitais, ingesta hídrica, débito urinário, peso, função renal, eletrólitos e sintomas e sinais de congestão devem ser diariamente monitorizados. Efeitos colaterais comuns incluem alterações de eletrólitos, desidratação, piora de função renal, alcalose metabólica, ototoxicidade, hiperuricemia, hiperglicemia, hiperlipidemia, hipercolesterolemia e ginecomastia. Resistência a diuréticos pode acontecer em decorrência de uma série de fatores, como uso de doses inadequadas, retardo da absorção por edema de alças intestinais, doença renal, hipoproteinemia, ativação neuro-hormonal e remodelamento do néfron. Estratégias que podem ser utilizadas nessa situação compreendem: Mudança do esquema de administração de doses intermitentes para infusão contínua – pode ser especialmente útil em pacientes com resistência a diuréticos, síndrome cardiorrenal e disfunção ventricular direita grave. Bloqueio sequencial do néfron – consiste em bloquear a reabsorção de sódio não apenas na alça de Henle, mas no túbulo contorcido distal por meio da associação de diuréticos de alça com diuréticos tiazídicos. Essa associação promove o aumento do volume urinário e da excreção de sódio na maioria dos pacientes (70-90%), e há risco aumentado de hipocalemia. Doses mais altas (natriuréticas) de diuréticos poupadores de potássio (espironolactona) também podem ser utilizadas. Solução hipertônica – uso de soluções hipertônicas em diferentes concentrações seguida de bolus de furosemida em pacientes com congestão refratária e hiponatremia. O racional é a tentativa de mobilizar o volume extravascular para o intravascular (solução hipertônica) e posterior excreção (furosemida). Ultrafiltração – em pacientes com piora de função renal e necessidade de terapia dialítica ou com refratariedade às medidas farmacológicas anteriormentedescritas. Vasodilatadores e inotrópicos podem contribuir para aumento do débito cardíaco e melhora da perfusão renal, levando a aumento de diurese e contribuindo para o tratamento da congestão. A Figura 2 propõe um racional de escalonamento para tratamento de congestão com base no que foi discutido anteriormente. Vasodilatadores O racional do uso de vasodilatadores na IC consiste na redução da pós-carga, sabidamente elevada pela hiperativação do sistema adrenérgico e renina-angiotensina-aldosterona. Os vasodilatadores estão indicados nos pacientes com perfil hemodinâmico quente-congesto, na ausência de hipotensão arterial ou choque cardiogênico, hipovolemia ou comorbidades como sepse. Podem ser utilizados na sua forma parenteral ou oral. Os vasodilatadores parenterais apresentam meia-vida curta, o que pode ser interessante no manejo de pacientes com pressão arterial limítrofe. As doses dos vasodilatadores endovenosos podem ser tituladas a cada 5-10 minutos até o efeito hemodinâmico. Os vasodilatadores orais podem ser utilizados desde o início e podem auxiliar no desmame de vasodilatadores parenterais e inotrópicos. Inotrópicos e vasopressores A utilização do suporte terapêutico com agentes inotrópicos aplica-se para os pacientes com baixo débito cárdico com sinais de hipoperfusão (disfunção orgânica ou choque cardiogênico). Apesar do efeito benéfico de melhorar a hemodinâmica em curto prazo, devem ser iniciados em conjunto com um plano terapêutico que permita a compensação clínica e o desmame dos inotrópicos assim que possível. Existem três inotrópicos que podem ser utilizados: Dobutamina – é a droga mais utilizada. Não tem efeito hipotensor significativo, tornando-se o inotrópico de escolha para choque cardiogênico com ou sem vasopressores associados. Pode ter sua ação reduzida em usuários crônicos de betabloqueadores, pois competem pelo mesmo sítio de ação (receptores beta-adrenérgicos). Aumenta o consumo de cálcio intracelular, o que gera potencial arritmogênico. Não precisa de ajuste de dose em disfunção renal. Milrinona – efeito inodilatador (inotrópico e vasodilatador) por meio da inibição da fosfodiesterase III, promovendo queda da resistência vascular pulmonar e sistêmica pela produção de óxido nítrico. Pode ser especialmente útil em pacientes com hipertensão pulmonar e/ou disfunção de ventrículo ou com uso prévio de betabloqueadores. Também apresenta potencial hipotensor e arritmogênico. Levosimendana – age sensibilizando a troponina C ao cálcio e com isso apresenta efeito inotrópico positivo e vasodilatador. Não leva a sobrecarga adicional de cálcio nem ao aumento do consumo de oxigênio. É administrada em infusão única, contínua por 24 horas, e sua ação hemodinâmica pode durar até 2 semanas. Útil em pacientes com uso prévio de betabloqueadores. Pode causar hipotensão e arritmias. Após atingir a estabilidade hemodinâmica e resgatar as disfunções orgânicas, as drogas endovenosas devem ser retiradas de forma gradual, em um processo de “desmame”, e substituídas por vasodilatadores orais. É importante garantir a euvolemia antes e durante o desmame, pois congestão é causa importante de falência de desmame de inotrópicos. A noradrenalina e a vasopressina são os agentes vasopressores mais utilizados. Pela ação vasoconstritora, promovem aumento na pressão arterial, que pode ser necessário para manter a perfusão de orgânica. Estão indicadas em pacientes com importante hipotensão arterial ou choque cardiogênico, ou na presença de inflamação sistêmica associada. As principais drogas utilizadas com as respectivas posologias e os possíveis efeitos colaterais são descritos na Tab. 2 e no Q.5. Heparinas Os pacientes sem indicação de anticoagulação devem receber profilaxia de trombose venosa profunda. Em pacientes com disfunção renal (clearance de creatinina < 30 mL/minuto), evitar o uso de heparina de baixo peso molecular e utilizar preferencialmente heparina não fracionada. Recomendações para medicações orais em uso prévio durante IC descompensada e anticoagulantes No momento da descompensação, é importante atentar para possíveis ajustes necessários do tratamento. As Figuras 3 e 4 resumem sugestões de manejo de acordo com o perfil hemodinâmico. Transição de cuidados: otimização das medicações e planejamento pós-alta Após a alta, o paciente entra no chamado “período vulnerável”, um período de 60-90 dias em que há risco elevado de re- hospitalização e óbito. Estima-se que 50% são readmitidos em 90 dias, reiniciando novo ciclo, com mortalidade esperada de 30% em 1 ano. A maioria dessas readmissões acontece nos primeiros 15 dias após a alta. Dessa forma, planejar a alta de maneira adequada é parte de uma hospitalização bem-sucedida e fundamental para manter o paciente estável ambulatorialmente. FIGURA 3 Fluxograma diagnóstico. BNP: peptídeo natriurético cerebral; ECO: ecocardiograma; IC: insuficiência cardíaca; ICFEp: insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada; ICFEr: insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida; NT-pró-BNP: fragmento N-terminal do peptídeo natriurético cerebral tipo B; USG: ultrassonografia. FIGURA 4 Manejo da IC descompensada. BB: betabloqueadores; BRA: bloqueadores dos receptores da angiotensina; IC: insuficiência cardíaca; IECA: inibidores da enzima conversora da angiotensina; PAS: pressão arterial sistólica. FIGURA 5 Modelo de sistematização de cuidados. AINE: anti-inflamatórios não esteroides.
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