Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE PRÁTICAS EDUCACIONAIS E CURRÍCULO ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE HISTÓRIA FABIANO MARQUES DA COSTA JÔNATAS FERREIRA DE LIMA UMA INSERÇÃO TARDIA: EDUCAÇÃO BÁSICA E PROBLEMATIZAÇÃO DA HISTÓRIA NATAL/RN 2012 FABIANO MARQUES DA COSTA JÔNATAS FERREIRA DE LIMA UMA INSERÇÃO TARDIA: EDUCAÇÃO BÁSICA E PROBLEMATIZAÇÃO DA HISTÓRIA Relatório final relativo às atividades de Estágio Supervisionado de Formação de Professores de História, elaborado pelos acadêmicos Fabiano Marques da Costa e Jônatas Ferreira da Lima, sob a orientação da Profa. Dra. Crislane Azevedo no semestre 2012.1, como parte integrante do processo para a obtenção do grau de Licenciado em História. NATAL/RN 2012 Por trás dos grandes vestígios sensíveis da paisagem, os artefatos ou as máquinas, por trás dos escritos aparentemente mais insípidos e as instituições aparentemente mais desligadas daqueles que a criaram, são os homens que a história quer capturar. Quem não conseguir isso será apenas, no máximo, um serviçal da erudição. Já o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana sabe que ali esta sua caça. Marc Bloch. AGRADECIMENTOS B”H. À professora orientadora Crislane Azevedo, que nos instigou aos planejamentos, postura docente, pelas várias sugestões e acompanhamento nas quatro fases desse processo de Estágio; Aos historiadores, Marc Bloch Z”L, Lucien Febvre (in memoriam), Fernand Braudel (in memoriam), Josep Fontana, ao sociólogo Norbert Elias Z”L e ao educador Paulo Freire (in memoriam), dentre muitos outros, que contribuíram na produção deste, por seus estudos, publicações e dedicação à profissão; Aos professores ao qual tive contato, por toda a informação, orientação, indicações, dadas ao longo destes anos de curso; Aos meus colegas de curso, de todas as turmas que me deparei, pelas experiências compartilhadas, atividades realizadas, estudos em grupo, em destaque o Fabiano que, apesar das divergências culturais, nos aturamos nessas vivências universitárias, na produção deste Relatório e nos tornamos colegas; À todos os professores que reencontrei ao longo deste curso, nas experiências do estágio no FLOCA e às duas profªs de história, ambas Marluce, que conheci na minha infância. RESUMO No decorrer do século XX diversos movimentos historiográficos propuseram reformulações no metiér do historiador. Entre esses, os que mais influenciaram na renovação da escrita da história foi o movimento dos Annales na França, idealizado por Lucien Febvre e Marc Bloch, e o que se convencionou chamar de Escola Social Inglesa, que tem na figura dos historiadores Eric Hobsbawm e Edward P. Thompson seus principais representantes. Na historiografia brasileira esses movimentos tiveram ecos. Reapropriando-se das metodologias e teorias desenvolvidas e utilizadas por esses movimentos, os historiadores brasileiros passaram a estudar e interpretar as realidades pretéritas brasileiras, promovendo também uma renovação de temas-fontes-métodos. Contudo, o objetivo do presente estudo não é discutir uma “história da historiografia” que levou a esse estreitamento das reapropriações brasileiras às proposições desses movimentos, mas elas terminam servindo como “pano de fundo” para essa nossa proposta: refletir em que medida uma prática docente que prioriza a problematização da História na educação básica contribui para a formação cidadã dos estudantes, proposta pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e os destinados ao ensino médio (PCN+). Tal proposta surgiu a partir das experiências nos estágios supervisionados de formação de professores, em que pudemos observar que, mesmo com essas novas discussões no campo da historiografia, o mais comum na prática dos professores de História na educação básica das escolas campo de estágio observadas, foi a perpetuação do estudo dos conhecimentos históricos a partir dos paradigmas da Escola Metódica e de correntes ortodoxas do marxismo. Neste sentido, os estudantes terminam construindo um conceito de História em que ideias não mais trabalhadas pela historiografia permeiam todas as aulas. Cenário este já apresentado por Josep Fontana, em Introdução ao estudo da Historia Geral, para delinear essas realidades: em que os professores das escolas de ensino básico buscam uma simplificação teórica e dos conteúdos ao ponto de subestimar a capacidade dos estudantes em aprender e se integrarem às discussões propostas atualmente, simplificando ao ponto de se perder importantíssimos elementos das temáticas estudadas; limitando-os a aprender, de forma simplista e caquética, flashes da história econômica e/ou política. Fontana defende, pelo contrário, que os profissionais de história que atuam na educação básica devem apresentar os problemas norteadores da historiografia atual aos seus estudantes, partindo de questionamentos complexos e conduzindo-os a uma tentativa de criticar, analisar e perceber como esses conhecimentos podem ser utilizados em suas vivências sociais. Nessa perspectiva, mesmo que tardia, a inserção da História problema se faz necessária para que os estudantes possam ser melhor preparados para as realidades vivenciadas dentro e fora dos muros da escola, ou seja, por defendermos que essa História viabiliza uma formação cidadã aos estudante, é que ela deve se fazer presente na realidade da educação básica – não de maneira provisória ou em curtos planos de ensino propostos por professores-estagiários, mas como práticas habituais dos professores efetivos que assumam as turmas desse nível de ensino, inclusive, se for o caso, regimentado nos projetos políticos pedagógicos das escolas. Como já mencionado, o presente estudo é o resultado das reflexões feitas durante os quatro estágios de formação de professores de História, cursados entre os anos de 2010 e 2012. Durante este período tivemos a oportunidade de estagiar em duas escolas da rede pública de ensino do Estado do Rio Grande do Norte: E. E. Des. Floriano Cavalcanti e E. E. Prof. Anísio Teixeira. Sendo os três primeiros estágios vivenciados apenas nessa primeira escola, em que realizamos a observação da prática docente em uma turma da 1ª série do ensino médio, a intervenção na escola e o estágio supervisionado no ensino fundamental em uma turma de 9º ano. No estágio supervisionado de formação de professores para o ensino médio é que inserimos a segunda escola como campo de reflexão para a problemática estudada. Palavras-chaves: Problematização da História; Prática Docente; Educação Básica. . SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 10 CAPÍTULO 1 – OBSERVAÇÃO DA ESCOLA: UM OUTRO MOMENTO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL ..................................................... 15 1.1 ESTRUTURA FÍSICA: CARACTERÍSTICAS E USOS......................................... 17 1.2 RECURSOS HUMANOS ........................................................................................ 22 1.3 ESTRUTURA DE FUNCIONAMENTO ................................................................ 24 1.4 DINÂMICA SOCIO-CULTURAL DA ESCOLA ................................................... 25 1.5 CARACTERIZAÇÃO DA TURMA ....................................................................... 26 1.5.1 Quanto à atuação de alunos (as) ......................................................................... 27 1.5.2 Aspectos que constituem dificuldades no fazer pedagógico ............................. 30 1.6 OBSERVAÇÕESDAS AULAS .............................................................................. 31 1.6.1 Observação nº 1. Data: 02/09/2010 ..................................................................... 31 1.6.2 Observação nº 2. Data: 02/09/2010 ..................................................................... 33 1.6.3 Observação nº 3. Data: 09/09/2010 ..................................................................... 34 1.6.4 Observação nº 4. Data: 14/09/2010 ..................................................................... 35 1.6.5 Observação nº 5. Data: 14/10/2010 ..................................................................... 36 1.6.6 Observação nº 6. Data: 21/10/2010 ..................................................................... 37 1.7 CONSIDERAÇÕES: ANÁLISES, DEMANDAS E PERSPECTIVAS .................. 38 CAPÍTULO 2 – UMA INSERÇÃO TARDIA: A HISTÓRIA PROBLEMA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR ................................................................ 39 2.1 JUSTIFICATIVA ...................................................................................................... 41 2.2 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA ......................................................................... 42 2.3 OBJETIVOS ............................................................................................................. 42 2.4 METODOLOGIA ..................................................................................................... 43 2.5 REVISÃO TEÓRICO-BIBLIOGRÁFICA .............................................................. 45 2.6 CRONOGRAMA ..................................................................................................... 49 CAPÍTULO 3 – A PRIMEIRA INTERVENÇÃO NO COTIDIANO ES COLAR......50 3.1 REFLEXÕES SOBRE A DOCÊNCIA EM HISTÓRIA ..............................................52 3.1.1 História e atuais Propostas Curriculares ...............................................................52 3.1.2 Aprendizagem em História ......................................................................................54 3.1.3 Aula expositiva..........................................................................................................55 3.1.4 Estudo de texto..........................................................................................................55 3.1.5 Estudo dirigido..........................................................................................................56 3.1.6 Debate e discussão ....................................................................................................57 3.1.7 Seminários .................................................................................................................58 3.1.8 Conteúdos escolares em História ............................................................................58 3.1.9 A renovação dos conteúdos e métodos no Ensino de História..............................60 3.1.10 Livros e materiais didáticos em História..............................................................60 3.1.11 Fontes e diferentes linguagens no ensino..............................................................61 3.1.12 Transversalidade e ensino de História..................................................................62 3.1.13 Ensino de História, educação e currículo promotor das relações étnico-raciais.....................................................................................63 3.2 O CAMPO DA PRÁTICA E O PLANEJAMENTO PARA A INTERVENÇÃO .......65 3.2.1 A escola campo de estágio: estrutura física e recursos humanos.........................65 3.2.2 O 9º ano “B”: algumas considerações.....................................................................67 3.2.3 A monitoria: conhecendo algumas limitações e necessidades do 9º ano “B” ......68 3.2.4 A História problema na educação básica: uma possibilidade de intervenção ....70 3.3 HISTÓRIA PROBLEMA E EDUCAÇÃO BÁSICA: NARRATIVAS E REFLEXÕES ................................................................................................................74 3.3.1 Uma História problema é possível: narrativas da intervenção ............................75 3.4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES E OUTRAS REFLEXÕES PERTINETES.............82 CAPÍTULO 4 – NARRATIVAS DE UMA DOCÊNCIA: ENTRE O EN SINO E A PROBLEMATIZAÇÃO DA HISTÓRIA................................... 86 4.1 RELATO DAS AULAS .............................................................................................. 87 4.1.1 Relato de aula nº 01: Apresentação do plano da unidade (2º bimestre).............88 4.1.2 Relato de Aula nº 02: Crise da década de 1920 e o “Crash” de 1929 .................90 4.1.3 Relato de Aula nº 03: Aplicação do Questionário-pesquisa aos estudantes .......92 4.1.4 Relato de Aula nº 04: A formação dos Totalitarismos (década de 1930)............93 4.1.5 Relato de Aula nº 05: Grupos totalitários: Nazismo e Fascismo (década de 1930) ......................................................................94 4.1.6 Relato de Aula nº 06: Não houve aula ....................................................................96 4.1.7 Relato de Aula nº 07: Segunda Guerra Mundial (1939-1945)..............................96 4.1.8 Relato de Aula nº 08: Revisão dos conteúdos trabalhados em sala de aula ........97 4.1.9 Relato de Aula nº 09: Aplicação da Prova Individual Final (valor máx. 5pt).........................................................................................................99 4.1.10 Relato de Aula nº 10: Entrega das atividades avaliativas..................................100 4.1.11 Relato de Aula nº 11: Aplicação do instrumento de pesquisa II .......................101 4.2 ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA: MOMENTO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL ...................................................... 102 4.2.1 Aspectos Relativos ao Manual do Professor...........................................................104 4.2.2 Aspectos Históricos...................................................................................................109 4.2.3 Aspectos Pedagógicos ...............................................................................................112 4.2.4 Aspectos Voltados Para a Promoção da Cidadania ..............................................114 4.2.5 Aspectos Relativos ao Projeto Gráfico e Editorial da Obra .................................115 CAPÍTULO 5 – EDUCAÇÃO BÁSICA E PROLEMATIZAÇÃO DA HI STÓRIA: EM BUSCA DA AUTONOMIA CIDADÃ .........................................118 5.1 CARACTERIZANDO O ESPAÇO E OS SUJEITOS .................................................122 5.2 EDUCAÇÃO BÁSICA E PROLEMATIZAÇÃO DA HISTÓRIA: REFLEXÕES DE UMA INSERÇÃO TARDIA ..........................................................123 5.3 EDUCAÇÃO BÁSICA E PROLEMATIZAÇÃO DA HISTÓRIA: UMA DEFESA NECESSÁRIA .................................................................................. 137 CAPÍTULO 6 – A DOCÊNCIA NO ENSINO MÉDIO: NOVAS EXPE RIÊNCIAS, VELHAS IMPRESSÕES .................................................................... 140 6.1 A ESCOLA E SEUS PROGRAMAS: REALIDADES OBSERVADAS.................... 141 6.2 O TEMPO EXPERIENCIADO EM SALA DE AULA: RELATO E ANÁLISE ...... 144 6.2.1 Aula 01 – 22/03/2012................................................................................................ 145 6.2.2 Aula 02 – 26/03/2012................................................................................................ 145 6.2.3 Aula 03 – 29/03/2012................................................................................................ 146 6.2.4 Aula 04 – 02/04/2012................................................................................................148 6.2.5 Aula 05 – 05/04/2012................................................................................................ 150 6.2.6 Aula 06 – 09/04/2012................................................................................................ 150 6.2.7 Aula 07 – 12/04/2012................................................................................................ 152 6.2.8 Aula 08 – 16/04/2012................................................................................................ 154 6.2.9 Aula 09 – 19/04/2012................................................................................................ 156 6.2.10 Aula 10 – 23/04/2012.............................................................................................. 159 6.2.11 Aula 11 – 26/04/2012.............................................................................................. 162 6.2.12 Aula 12 – 30/04/2012.............................................................................................. 164 6.2.13 Aula 13 – 03/05/2012.............................................................................................. 166 6.2.14 Aula 14 – 07/05/2012.............................................................................................. 168 6.2.15 Aula 15 – 10/05/2012.............................................................................................. 170 CAPÍTULO 7 – A DOCÊNCIA NO ENSINO MÉDIO................................................ 173 7.1 AS PRIMEIRAS IMPRESSÕES ................................................................................. 7.2 O RELATO DE ANÁLISE DAS AULAS................................................................... 7.2.1 Aula 01 – 22/03/2012................................................................................................ 7.2.2 Aula 02 – 22/03/2012................................................................................................ 7.2.3 Aula 03 – 22/03/2012................................................................................................ 7.2.4 Aula 04 – 22/03/2012................................................................................................ 7.2.5 Aula 05 – 22/03/2012................................................................................................ 7.2.6 Aula 06 – 22/03/2012................................................................................................ 7.2.7 Aula 07 – 22/03/2012................................................................................................ 7.2.8 Aula 08 – 22/03/2012................................................................................................ 7.2.9 Aula 09 – 22/03/2012................................................................................................ 7.2.10 Aula 10 – 22/03/2012.............................................................................................. 7.2.11 Aula 11 – 22/03/2012.............................................................................................. 7.2.12 Aula 12 – 22/03/2012.............................................................................................. 7.2.13 Aula 13 – 22/03/2012.............................................................................................. 7.2.14 Aula 14 – 22/03/2012.............................................................................................. 7.2.15 Aula 15 – 22/03/2012.............................................................................................. 7.2.13 Aula 16 – 22/03/2012.............................................................................................. 7.2.14 Aula 17 – 22/03/2012.............................................................................................. 7.2.15 Aula 18 – 22/03/2012.............................................................................................. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 174 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 177 ANEXOS ........................................................................................................................... 179 10 INTRODUÇÃO No decorrer do século XX diversos movimentos historiográficos propuseram reformulações no metiér do historiador. Entre esses, os que mais influenciaram na renovação da escrita da história foi o movimento dos Annales na França, idealizado por Lucien Febvre e Marc Bloch, e o que se convencionou chamar de Escola Social Inglesa, que tem na figura dos historiadores Eric Hobsbawm e Edward P. Thompson seus principais representantes. Na historiografia brasileira esses movimentos tiveram ecos. Reapropriando-se das metodologias e teorias desenvolvidas e utilizadas por esses movimentos, os historiadores brasileiros passaram a estudar e interpretar as realidades pretéritas brasileiras, promovendo também uma renovação de temas-fontes-métodos. Contudo, o objetivo do presente estudo/relatório não é discutir uma “história da historiografia” que levou a esse estreitamento das reapropriações brasileiras às proposições desses movimentos, mas elas terminam servindo como “pano de fundo” para essa nossa proposta: refletir em que medida uma prática docente que prioriza a problematização da História na educação básica contribui para a formação cidadã dos estudantes, proposta pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e os destinados ao ensino médio (PCN+). Tal proposta surgiu a partir das experiências nos estágios supervisionados de formação de professores, em que pudemos observar que, mesmo com essas novas discussões no campo da historiografia, o mais comum na prática dos professores de História na educação básica das escolas campo de estágio observadas, foi a perpetuação do estudo dos conhecimentos históricos a partir dos paradigmas da Escola Metódica e de correntes ortodoxas do marxismo. Neste sentido, os estudantes terminam construindo um conceito de História em que ideias não mais trabalhadas pela historiografia permeiam todas as aulas. Cenário este já apresentado por Josep Fontana, em Introdução ao estudo da Historia Geral, para delinear essas realidades: em que os professores das escolas de ensino básico buscam uma simplificação teórica e dos conteúdos ao ponto de subestimar a capacidade dos estudantes em aprender e se integrarem às discussões propostas atualmente, simplificando ao ponto de se perder importantíssimos elementos das temáticas estudadas; limitando-os a aprender, de forma simplista e caquética, flashes da história econômica e/ou política. Fontana defende, pelo contrário, que os profissionais de história que atuam na educação básica devem apresentar os problemas norteadores da historiografia atual aos seus estudantes, partindo de questionamentos complexos e conduzindo-os a uma tentativa de criticar, analisar e perceber como esses conhecimentos podem ser utilizados em suas vivências sociais. 11 Nessa perspectiva, mesmo que tardia, a inserção da História problema se faz necessária para que os estudantes possam ser melhor preparados para as realidades vivenciadas dentro e fora dos muros da escola, ou seja, por defendermos que essa História viabiliza uma formação cidadã aos estudante, é que ela deve se fazer presente na realidade da educação básica – não de maneira provisória ou em curtos planos de ensino propostos por professores-estagiários, mas como práticas habituais dos professores efetivos que assumam as turmas desse nível de ensino, inclusive, se for o caso, regimentado nos projetos políticos pedagógicos das escolas. Como já mencionado, o presente relatório é o resultado das reflexões feitas durante os quatro estágios de formação de professores de História, cursados entre os anos de 2010 e 2012.Durante este período tivemos a oportunidade de estagiar em duas escolas da rede pública de ensino do Estado do Rio Grande do Norte: E. E. Des. Floriano Cavalcanti e E. E. Prof. Anísio Teixeira. Sendo os três primeiros estágios vivenciados apenas nessa primeira escola, em que realizamos a observação da prática docente em uma turma da 1ª série do ensino médio, a intervenção na escola e o estágio supervisionado no ensino fundamental em uma turma de 9º ano. No estágio supervisionado de formação de professores para o ensino médio é que inserimos a segunda escola como campo de reflexão para a problemática estudada. Entre os meses de setembro e outubro de 2010 foram realizadas as observações necessárias para o desenvolvimento do relato de tipo etnográfico solicitado pela disciplina de Estágio Supervisionado de Formação de Professores I (História) na Escola Estadual Desembargador Floriano Cavalcanti. A partir dessas observações buscamos identificar principalmente a metodologia empregada pelo profissional de História que lá estava. O que identificamos com essas é que a História ainda é reconhecida segundo os paradigmas da Escola Metódica e de correntes marxistas ortodoxas, pois, tanto os estudantes como o profissional de História observado, estudavam os conhecimentos históricos a partir das ideias: a) de uma verdade “absoluta”, que estava, geralmente, presente no livro didático; b) de que a História estuda os grandes nomes, heróis e acontecimentos do passado, para que se possa entender o presente e prever o futuro; c) que a sociedade está estratificada em classes sociais bem definidas, e que a história é “contada” a partir do continuo enfrentamento entre “os dominantes e dominados”; d) de uma utilização anacrônica dos conceitos históricos; entre outras visões distorcidas do que é o conhecimento histórico. Assim, este conhecimento 12 termina não sendo utilizado como força motriz para tornar os estudantes capazes de “ler” a realidade que os cercam. Após esse diagnóstico preocupante de como o conhecimento histórico estava sendo “discutido” na escola campo de estágio observada, optou-se por desenvolver um projeto de pesquisa (apresentado no Capítulo II) que não se limitasse apenas a inserção de novos recursos didáticos às salas de aula da educação básica, mas que visasse discutir a introdução das “novas” discussões historiográficas feitas pela academia nesse nível de ensino. Nesta perspectiva, por reconhecermos a sala de aula como um espaço privilegiado para a sistematização dos conhecimentos históricos, reflexão da eficácia desses no processo de formação cidadã dos estudantes e da própria prática profissional dos professores, é que estabelecemos como principal objetivo dessa pesquisa a investigação sobre em que medida uma prática docente que prioriza a problematização da História na educação básica contribui para a formação cidadã dos estudantes. No processo de construção do projeto de pesquisa mantivemos sempre como norte a afirmativa do Paulo Freire de que “se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda”; isso porque, após observarmos a realidade experienciada pelos estudantes na disciplina de História, é que a validade dessa frase se faz mais sintomática, pois, os mesmos, ao se encontrarem em uma situação que não os desafiam, termina por torná-los acomodados e conformados com o nível de ensino que lhes é oferecido, não vendo a educação como fator modificador das suas realidades. Para justificar tal proposta de pesquisa recorremos aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e os destinados ao ensino médio (PCN+), pois, no inicio do texto dos PCN- História (5ª a 8ª série) já nos é apresentado “a necessidade de se construir uma escola voltada para a formação de cidadãos” (BRASIL, 1998, p. 5) e entre seus objetivos encontramos a compreensão da cidadania como participação social e política, e o posicionamento de maneira crítica, responsável e construtiva como sendo fundamentais para a efetivação dessa escola voltada para a cidadania. Já nos PCN+, destinados para o ensino médio, encontramos a seguinte citação: Mais do que reproduzir dados, denominar classificações ou identificar símbolos, estar formado para a vida, num mundo como o atual, de tão rápidas transformações e de tão difíceis contradições, significa saber se informar, se comunicar, argumentar, compreender e agir, enfrentar problemas de qualquer natureza, participar socialmente, de forma prática e solidária, ser capaz de elaborar críticas ou propostas e, especialmente, adquirir uma atitude de permanente aprendizado (BRASIL, 2002, p. 9). 13 Assim, em consonância com o que os PCN e os PCN+ defendem, em relação à formação do cidadão crítico, o nosso projeto de pesquisa se justificou socialmente por buscar analisar que contribuições a inserção dessa História problema na educação básica dariam para que tais objetivos fossem atingidos. Percebermos ainda, que os conhecimentos desenvolvidos na academia terminam não sendo apropriados pela educação básica, e com isso, as discussões da abertura da História para as novas problemáticas, novos temas, novos objetos e novas fontes não refletem no conhecimento escolar de História. Logo, justificamos nossa pesquisa, também, a partir dessa perspectiva “científico-histórica”, por discutirmos como a inserção da História Problema nesse espaço, já referenciado, contribuirá para que se intensifiquem tais diálogos entre a academia e as escolas de educação básica; tornando-se relevante tanto para uma atuação mais coerente com o que se discute nas universidades como por contribuir, também, para a consolidação da “escola voltada para a formação de cidadãos”, como já foi aqui defendida. Essas e outras discussões serão tratadas mais detalhadamente neste relatório final nos capítulos I e II, Observação da escola: um outro momento da formação profissional e Uma inserção tardia: a história problema na educação escolar, respectivamente. Já o Capítulo III, A primeira intervenção no cotidiano escolar, consiste na reflexão das experiências adquiridas com o Estágio Supervisionado de Formação de Professores II (História), que teve, entre outros objetivos, enfocar a importância da participação ativa na vida da escola e da comunidade desenvolvendo e promovendo o acompanhamento das reuniões pedagógicas e dos conselhos escolares; elaboração e desenvolvimento de projetos de integração escola/comunidade, tais como: organização de grupos de estudos com pais, alunos e professores; oferta de mini-cursos; organização de eventos culturais e outros. Assim como no primeiro estágio, a escola campo de estágio escolhida para realizarmos as observações/monitorias e as atividades (intervenção) solicitadas neste componente curricular, foi a Escola Estadual Desembargador Floriano Cavalcanti, mais especificamente uma turma de 9º ano do ensino fundamental. Após a conclusão da intervenção na escola campo de estágio, algumas reflexões precisaram ser feitas, para que pudéssemos iniciar a nossa análise sobre o que percebemos com a inserção da História Problema na educação básica. Primeiro: as estratégias empregadas foram bem sucedidas? E também: os objetivos foram adequados ao público? Tais reflexões são feitas no decorrer desse capítulo III. 14 Complementando os dois momentos anteriores, o componente curricular Estágio Supervisionado de Formação de Professores para o Ensino Fundamental (História) consistiu na orientação ministrada pela docente Crislane Azevedo que se volta para a produção de mais dois capítulos a serem acrescentados no Relatório de Estágio. Tais capítulos, IV (Narrativas de uma docência: entre o ensino e a problematização da história) e V (Educação básica e prolematização da história: em busca da autonomia cidadã), tratam, respectivamente, da Experiência docente no ensino fundamental e do Ensaiosobre a aplicação do Projeto na escola campo de estágio. Já a disciplina Estágio Supervisionado de Formação de Professores para o Ensino Médio (História), consistiu na docência temporária no ensino médio público. Diferente dos Estágios anteriores, nos quais ambos os estagiários atuaram em conjunto na E. E. Des. Floriano Cavalcanti – desde a caracterização desta até a aplicação do projeto na docência no ensino fundamental –, este foi vivenciado também na E. E. Prof. Anísio Teixeira. Com o desenvolvimento das atividades do presente estágio nessas duas instituições de ensino, pode- se ampliar o campo de aplicação do projeto inicial; por conseguinte, a sua avaliação em realidades diferentes para a qual foi planejado, ou a partir do qual foi elaborado. Assim como na primeira experiência em sala de aula da educação básica na E. E. Des. Floriano Cavalcanti, ainda no Estágio Supervisionado de Formação de Professores I (História), deparamo-nos com um cenário semelhante nessa segunda instituição de ensino, E. E. Prof. Anísio Teixeira. Tais questões são detalhadas nos capítulos VI e VII do presente relatório, sendo o primeiro, A docência no ensino médio: novas experiências, velhas impressões, fruto das vivências do professor-estagiário Jonatas Ferreira de Lima na E. E. Prof. Anísio Teixeira e o segundo, ..........................................., das do professor-estagiário Fabiano Marques da Costa na E. E. Des. Floriano Cavalcanti. 15 CAPÍTULO 1 – OBSERVAÇÃO DA ESCOLA: UM OUTRO MOMENTO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL Se a educação sozinha não pode transformar a sociedade, tampouco sem ela a sociedade muda. Paulo Freire. A escola campo de estágio escolhida por nós para realizarmos as observações solicitadas no componente curricular Estágio Supervisionado de Formação de Professores I (História) foi a Escola Estadual Desembargador Floriano Cavalcanti, localizada na Rua dos Manacás, s/n, Conjunto Mirassol, Capim Macio, Natal, sob CEP 59078050, no estado do Rio Grande do Norte, CGC/MF nº 0884180410001-94. A Escola Estadual Desembargador Floriano Cavalcanti foi fundada em 8 de fevereiro de 1979, pela portaria de autorização de nº 7.548 de mesma data. Nessa época atendia a uma capacidade de 1600 estudantes, distribuídos em 19 salas de aula, era oferecido aulas para estudantes do 1º grau, 2º grau, e formação profissionalizante básica, com disciplinas diversificadas do núcleo comum do 2º grau. Eram acomodados cerca de 30 estudantes por sala. Além dessas salas, a estrutura física da Escola era constituída por uma biblioteca, uma sala para técnicas industriais, uma sala para técnicas comerciais, uma sala para técnicas agrícolas e dois laboratórios de ciências. A primeira diretora foi a Senhora Maria da Salete Belo de Vasconcelos. Desde a sua fundação a presente escola teve os seguintes diretores: Maria da Salete Belo de Vasconcelos (1979-1989), José Nicodemus Filgueira (1990-1994), Terezinha Araújo de Farias (1995-2000), José Roberto de Morais (2000-2004), Leila Bezerra da Silva (2004- 2005), José Roberto de Morais (2005-2006), Ohara Tereza da Silva Pacheco (2007-2010). Atualmente a escola está passando pelo processo eleitoral, e como a atual diretora não pode mais sair candidata, pois já foi eleita por dois mandatos seguidos, a atual vice-diretora, Ana Mércia Belo de Carvalho, sairá candidata, além de uma oposição que está se constituindo, formada por duas professoras do turno matutino e dois do vespertino. Em 1998 a Escola ganhou o Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar, concedido pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação/CONSED, pela União Nacional de Dirigentes Municipais/UNDIME e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura/UNESCO, recebendo o título de Escola Referência Nacional de Gestão. 16 Contemporaneamente, a Escola, conhecida como FLOCA, após passar por diversas reformas e reestruturações físicas, passou a ter em sua estrutura, 26 salas de aulas, chegando a atender uma média de 3400 estudantes, nos três turnos, sendo oferecidas aulas do 6º ano do ensino fundamental à 3ª série do ensino médio da educação básica regular, também estudantes matriculados no EJA, além dos atendidos pelo Pró-Jovem Urbano. A feitura do Projeto Político Pedagógico Institucional da Escola está em andamento. Duas pessoas estão coordenando essa elaboração: a integrante da coordenação pedagógica, Idalina, e a Profª. Valéria, de educação física. Recentemente essas apresentaram as discussões iniciais sobre o PPPI, em uma reunião administrativa; estavam presentes a diretora, Ohara Tereza, a vice-diretora, Ana Mércia, alguns professores, entre os quais identificamos: as professoras Inês, Catarina, Maria Fidelis, entre outras, e os professores Letácio, João Damasceno, Enéas e outros, além de integrantes da coordenação pedagógica, e quatro estagiários do curso de História da UFRN, entre os quais os dois que apresentam esse relatório etnográfico, e também João Batista de Araújo e Jussier Ribeiro Vieira da Silva. Por ser uma Escola com uma boa “reputação” e localização geográfica, com diversas opções de transporte coletivo, o FLOCA atrai muitos “candidatos à vaga”, alguns pais precisaram dormir na Escola para poder garantir as matrículas dos seus filhos. Neste sentido, 80% dos seus estudantes, aproximadamente, provem de bairros periféricos; principalmente das zonas norte e oeste de Natal, além das cidades próximas à capital, como Parnamirim, Macaíba e São Gonçalo do Amarante. Em Natal, o conjunto Mirassol é considerado uma localidade privilegiada, pois concentra, entre seus moradores, pessoas da classe média, ou classe “B”, como indica documento fornecido pela secretaria (em anexo). Na sua maioria, a população dessa área é composta por funcionários públicos e trabalhadores autônomos. Esse trabalho foi feito a partir da solicitação da professora do componente curricular já referenciado. Inicialmente identificamos essa proposta de atividade como algo construtivo para a nossa formação profissional, pois nos permitiria ter um maior contato, e “acúmulo” de experiências da realidade escolar, em que brevemente atuaremos; porém, no decorrer da feitura dessa percebemos que alguns dos pontos de observação são desnecessários ou menos importantes para esse processo de aprendizagem. Entre esses, identificamos: “Estrutura Física” e “Recursos Humanos”. Sobre a Estrutura física, justificamos esse posicionamento por acreditarmos que o professor não precisa saber, detalhadamente, sobre todos os espaços físicos da escola; os que serão importantes para a sua atuação enquanto professor, serão identificados ao longo de suas 17 experiências escolares, sendo dispensável realizar um levantamento dessa estrutura. Além do tempo despendido para tal feitura, o profissional de História em formação perde a oportunidade de observar outros pontos da dinâmica escolar, que consideramos mais construtivos para a sua futura atuação, como por exemplo, a própria observação da dinâmica sócio-cultura da escola, já solicitada pela professora do Estágio Supervisionado I (História), mas que não pode ser dado maior relevância devido o curto tempo para a feitura desse relato, além de termos outros itens, que consideramos menor importantes, para se preocupar em observar. Tais argumentos podem ser utilizados também para o item Recursos Humanos. Outra sugestão que deixamos, é a observação, na Secretaria de Educação do Estado e na Escola Campo de Estágio, de como se deve proceder para solicitar a implantação de projetos educacionais financiados/fomentados por essa secretaria de estado; além da identificação dos cursos de formação continuada oferecidos pela mesma secretaria. Aproveitamos esse momento para deixar registrado que as experiências proporcionadas pela feitura dos itens: “Observação das Aulas”, “Caracterização da Turma”, “DinâmicaSócio-Cultural da Escola” e “Estrutura de Funcionamento”, respectivamente nessa ordem, foram bastante significativas na nossa formação profissional. 1.1 ESTRUTURA FÍSICA: CARACTERÍSTICAS E USOS A Escola Estadual Desembargador Floriano Cavalcanti é uma das maiores escolas públicas do Estado, tanto em extensão territorial, ocupando todo um quarteirão do Conjunto Mirassol, como em área construída, e também número de estudantes matriculados, chegando a cerca de 2400 estudantes. Agora, apresentaremos o espaço físico que compõe estrutura dessa instituição de ensino básico. O que descreveremos aqui são os espaços que encontramos atualmente na Escola, mas lembramos que essa está passando por uma reforma, que visa reestruturar seus dependências físicas, para potencializá-las; quando identificado, tentaremos apresentar também quais os projetos e planos para utilização dos espaços descritos. Para facilitar a identificação e descrição da estrutura físicos do FLOCA, optamos por apresentá-las em dez espaços distintos: estacionamento; bloco administrativo; pátio, quadra poliesportiva; bloco pedagógico e blocos A, B, C, D, E de aulas. O que estamos chamando de estacionamento é um espaço que fica entre o portão de entrada da Escola e o portão que dá acesso ao bloco administrativo, e às outras dependências 18 dessa instituição. O chamamos assim, pois os professores e funcionários da Escola o utilizam como tal. Esse espaço é amplo, mas, atualmente, está passando por uma reestruturação, para torná-lo realmente um estacionamento. Já o Bloco Administrativo corresponde ao primeiro corredor, acessado pelo primeiro portão após o “estacionamento” da Escola. Ao passarmos pelo referido portão, contando sempre com a presença de um segurança (guarda patrimonial do Estado ou de empresa terceirizada), entrando no primeiro corredor a direita encontramos a Direção, o banheiro dos professores e funcionários, o almoxarifado, o arquivo dos estudantes, a Secretaria, a Biblioteca e o arquivo da escola. O espaço destinado à sala da direção tem um tamanho aparentemente suficiente para atender às demandas da comunidade escolar. Nela encontramos: a) duas mesas grandes, utilizadas pela diretora e vice-diretora para suas atividades cotidianas; b) duas cadeiras junto às mesas já citadas; c) uma mesa redonda, utilizada, nas vezes que fomos à direção, para acomodar materiais de expediente; d) três cadeiras para atendimento, e uma que fica junto à mesa redonda; e) uma mesa de computador, um micro-computador; f) uma estante metálica, na qual fica um televisor, utilizado para acompanhar, através de câmeras, os acontecimentos da Escola; g) três armários, para guarda de material de expediente; h) prateleiras, nas quais ficam os troféus conquistados pelos estudantes da Escola, em competições esportivas. Segundo informações coletadas na Escola, o horário de funcionamento da direção é das 7h às 22h, havendo um revezamento entre a diretora e a vice-diretora para cumprir esse horário. Porém, em alguns momentos que fomos à essa sala a encontramos fechada.1 As funções desempenhadas pela diretoria é gerir a escola, funcionando como poder executor dessa instituição. Percebemos que há uma preocupação, por parte dessas gestoras, que haja uma participação da comunidade escolar no direcionamento das verbas, e na própria gestão escolar. Ligada a direção há uma antesala, na qual funciona a coordenação da escola. Nesta há três mesas, um microcomputador e alguns armários de aço esmaltado contendo documentos administrativos. Da sala de espera da direção temos acesso ao banheiro2 e ao almoxarifado, neste estão acomodados os livros didáticos que serão distribuídos aos estudantes, ou os que já 1 Ao questionarmos sobre essa questão dos horários as diretoras justificaram esse “não cumprimento” por estarem envolvidas em outras atividades administrativas que não podem ser na direção da escola, como participar de reuniões na DIRED e no próprio FLOCA, inspecionar a obra de reestruturação da escola e da construção do ginásio, além da própria rotina escolar. Apesar de concordarmos que o trabalho de gestão da escola se dê para além do espaço da diretoria, acreditamos que seria mais interessante elaborar uma tabela de horários para atendimento da comunidade escolar. 19 foram recolhidos desses; como são muitos livros para um espaço reduzido, aqueles terminam sendo colocados no chão, ou empilhados desordenadamente, dificultando o acesso aos mesmos. Saindo do corredor que direciona para as salas acima, e direcionando-nos para a próxima entrada, isto é, a segunda porta após a entrada pelo portão de acesso ao bloco administrativo, acessamos a Secretaria. Sendo dividida, por um grande balcão em forma de “L”, por onde os funcionários atendem às demandas da comunidade escolar. Nesse espaço encontramos: a) seis mesas e cadeiras utilizadas pelos funcionários; b) três cadeiras para espera de atendimento; c) três mesas na qual fica um micro computador em cada, acompanhada de cadeira para acomodar o usuário designado; d) dois armários grandes e um pequeno, nos quais são acomodados documentos emitidos ou recebidos pela Secretaria; e) um ventilador de teto. O horário de funcionamento dessa Secretaria é, assim como a direção, das 7h às 22h, tendo como principal finalidade a emissão de documentos, tais como: matriculas, transferências, declarações, históricos escolares, entre outros documentos que dizem respeito a administração da escola. Ligada à Secretaria está o arquivo dos estudantes, esse espaço é dividido com uma espécie de copa, utilizada pelos funcionários que trabalham na secretaria da Escola para lancharem, ou tomar o “cafezinho”. Lá encontramos fichas de estudantes que ainda estão matriculados na Escola, mas em séries diferentes. A principal finalidade desse espaço é proporcionar um rápido acesso às informações dos estudantes matriculados – os funcionários dessa secretaria tratam esse espaço como sendo o “arquivo morto dos alunos”. Saindo da Secretaria, a sala seguinte é a Biblioteca, nela encontramos um acervo de 13993 livros catalogados e organizados, estando acomodados em cerca de 12 estantes de aço esmaltado; além do acervo bibliográfico, esta biblioteca conta com um acervo de jornais antigos. Todo este acervo está disponível para o acesso e consulta da comunidade escolar; além dessas funções a biblioteca é utilizada para a realização de estudos em grupo, aulas das disciplinas e reuniões no geral. Esse espaço deveria funcionar das 7h às 22h, mas devido a falta de uma bibliotecária ou funcionário disponível, a mesma é mantida fechada sendo aberta apenas para a realização de reuniões extraordinárias – segundo informações da própria direção da escola, que reclamou da limitação dos recursos humanos da escola. Além das ditas 12 estantes, encontramos nesse espaço: a) uma mesa grande e retangular com uma cadeira; b) uma mesa retangular pequena e uma cadeira; c) onze mesas redondas pequenas, cada acompanhada com quatro cadeiras; dois ventiladores de teto e um computador. ² Das vezes que o observamos estava limpo, e é bem conservado, ao contrário dos destinados aos estudantes; acreditamos que isso se deve ao fato dele ser utilizado apenas pelos professores e funcionários. 20 O Arquivo da Escola é a quarta sala após a entrada no bloco administrativo. Embora não tenhamos tido acesso a esse espaço, foi-nos informado que era um local onde se mantinha acomodado e armazenado o Arquivo Permanente da escola, composto por fixas funcionas de funcionários e professores, ou seja, folhas de ponto, atas de reuniões, cadernetas de turma, atestados médicos dos professores e funcionários, entre outros. Nãosabemos informar que equipamentos estão nesta sala ou como esse acervo possa estar acomodado. Após o “bloco administrativo” segue uma escada que dá acesso ao Pátio. Este é coberto e amplo com alguns bancos em suas extremidades, possui bebedouros em má conservação e um telefone público. Através desse Pátio temos acesso ao Grêmio estudantil, que nos dias em que estivemos na escola para realizar as observações de caracterização, o referido espaço encontrava-se fechado, a Sala de cópias que encontra-se desativada, dois vestiários, masculino e femininos, de acesso aos alunos, encontram-se em estado deploráveis de conservação, sujos, altos graus de amônia gasosa e instalações de encanamento comprometidas.3 Através do Pátio temos acesso também à Cozinha da escola, este espaço esta dividido em três cômodos: a) no primeiro, é distribuída a merenda escolar através de uma grande “janela”, encontramos ainda dois grandes balcões de alvenaria e algumas cadeiras; b) ao passarmos por esse, chegamos à cozinha propriamente dita, onde encontramos duas pias grandes de Inox, uma mesa, um fogão industrial, duas geladeiras e dois freezers; c) a direita da cozinha há uma dispensa na qual são armazenados os mantimentos. Atualmente, a quadra poliesportiva foi demolida para dar lugar a um ginásio, duas quadras para prática de voleibol de praia e futebol de areia. Antes de chegarmos a esse espaço encontramos uma cigarreira e uma lanchonete, nas quais os estudantes lancham, e se sociabilizam. Encontra-se ao lado esquerdo do Pátio o bloco pedagógico, neste espaço encontramos a sala dos professores; a coordenação pedagógica e a coordenação de esportes. A Sala dos professores está dividida em dois cômodos: a) no primeiro encontramos armários metálicos utilizado pelos professores para guardarem seus pertences e uma mesa redonda acompanhada geralmente de cinco cadeiras; b) este segundo espaço é composto de duas grandes mesas, cercadas por cadeiras, um “gelágua”, uma mesa com microcomputador e acesso à Internet, uma pia com espelho e toalha, uma mesa para servir os professores com merendas, nas extremidades encontramos cadeiras e dois sofás. 3 A diretora justificou esta situação de quase inutilização destes vestiários pela limitação de recursos humanos, não havendo ASGs e técnicos suficientes para a manutenção e da higiene dos mesmos. 21 Na segunda sala à direita encontra-se a Coordenação pedagógica. Esta sala também é dividida em dois espaços: a) a sala principal, onde essa equipe realiza suas atividades e atende às demandas da comunidade escolar, contém uma grande mesa no centro, com horários afixados das turmas matutinas e vespertinas e acompanhada de cadeiras e nas paredes observa-se os horários das turmas do turno matutino; b) a sala secundária comporta armários, estantes com livros, uma mesa, uma cadeira, uma mesa com microcomputador e diversos mapas. Esta coordenação funciona das 7h às 22h e tem por finalidade orientar e acompanhar os professores nas fases de planejamento e execução dos planos anuais de ensino, apóia os projetos e avalia o processo pedagógico na busca de um ensino eficiente viabilizando a formação integral dos estudantes. Não tivemos acesso à sala da Coordenação de esportes, porém nos foi informado que se trata de uma sala pequena, inadequada para receber equipes de atletas. O Bloco “A” de aulas encontra-se no corredor em frente à sala dos professores. À esquerda deste corredor, temos dois banheiros, masculino e feminino, para os estudantes, uma sala de vídeos e um laboratório de informática; à direita uma outra sala de vídeos; e em ambos lados salas de aula. Os banheiros são pequenos, sendo que no masculino há um sanitário, dois mictórios e uma pia, já o feminino é composto por dois sanitários e uma pia pequena. Neste bloco, encontramos quatro salas de aula, estruturadas com uma média trinta e cinco carteiras, um birô e uma cadeira para o professor, ventiladores, grupos de lâmpadas florescentes e um quadro branco com uma pequena parte para giz. No turno vespertino são acomodados os estudantes da primeira série do ensino médio. Já a sala de vídeo esta equipada uma TV de 29p, um Retroprojetor Digital, popularmente chamado de “data show”, uma tela para projeção, um aparelho de DVD, um aparelho de som, um microcomputador, um quadro branco e trinta e seis carteiras. Esta sala é utilizada pelos professores que necessitem de recursos áudios-visuais, e estes devem marcar horários para utilizá-la. Esta sala também é utilizada para reuniões administrativas. No Laboratório de Informática há aproximadamente vinte e cinco microcomputadores, sendo que nem todos estão em condições de uso. Ainda há nessa, um quadro branco para orientação. Há um micro central que gerencia todas as atividades e acessos dos outros computadores da rede, promovendo o controle da atividade dos estudantes. Após descer uma escada seguindo a entrada do “bloco pedagógico”, acessamos o Bloco “B” de aulas, que corresponde ao corredor da esquerda. Este é composto por banheiros semelhantes aos do Bloco A e seis salas de aulas com uma média de quarenta carteiras por turma. No turno vespertino, as salas são usadas pelos estudantes da 1º e 2º series do ensino 22 médio. A direita deste mesmo corredor situa-se o Bloco “C” de aulas, que é composto por nove salas de aula, sendo o maior da escola. Dessas nove, oito são destinadas para a 1º série do ensino médio e uma para os da 3º série. Ao final do corredor, à direita do Bloco C, segue o Bloco “D” de aulas, sendo o menor dentre os da escola, composto apenas por, duas salas de aula, que são as maiores da escola, comportando cerca de cinquenta carteiras. Correspondem à salas da 3º série do ensino médio. Além dessas salas de aula o Bloco “D” é composto também pelo auditório da escola, que possui tamanho médio com cem cadeiras acolchoadas, um pequeno palco com um camarim por traz e um banheiro, hoje se encontra desativado. Seguindo a direita do bloco C, passando pelo D, subindo uma escada, temos o Bloco “E” de aulas. Neste corredor encontramos cinco salas de aula utilizadas para ministrar aulas para turmas de terceira serie do ensino médio. Entre estas salas, três já foram laboratórios de ciências. No final desse corredor observa-se dois banheiros sem identificação dos gêneros; estes, assim como os outros banheiros destinados ao uso dos estudantes se encontram em péssimo estado de conservação. 1.2 RECURSOS HUMANOS Dividimos os Recursos Humanos da escola em cinco grandes grupos: corpo docente, pessoal técnico-administrativo, pessoal de apoio, gestão da escola e corpo discente. O corpo docente da escola é constituído por 90 professores distribuídos nos três turnos: matutino são 33, vespertino são 35 e noturno são 22. Dentre estes, a grande maioria são licenciados em suas respectivas áreas de atuação, porém, encontramos casos em que professores ministram aulas nas áreas onde não possuem formação superior e também algumas turmas tem como professor, estagiários, contratados pela Secretaria Estadual de Educação, que assumem as turmas sem nenhum tipo de supervisão. O quadro de funcionários técnico-administrativos é composto por: cinco auxiliares de secretaria, no turno vespertino, que alguns desses foram remanejados de outros cargos na escola. Não nos foi informado que cargos eram esses. Todos possuem ensino médio completo. Não identificamos também, a quantidade de auxiliares de secretaria nos demais turnos. Já a coordenação pedagógica é composta por: a) no matutino: dois funcionários com formação superior em Pedagogia; b) no vespertino: duas funcionarias com formação superior em 23 Pedagogia e uma licenciada em Letras com habilitação em Língua Portuguesa; c) no noturno: não identificamos quem compõe a correspondente coordenação. Além desses, compondoos Recursos Humanos da escola há o pessoal de apoio, integrado por: três merendeiras, cinco ASGs e quatro porteiros de empresa terceirizada contratados pelo Estado. Todos esses desempenham suas funções de maneira satisfatória, exceto os ASGs, pois devido às grandes dimensões da escola não conseguem mantê-la limpa, principalmente os banheiros. Não procuramos saber a escolaridade desses funcionários. Há também, dois policiais militares da Guarda Patrimonial, exercendo a função de porteiro, um inspetor de corredor, contratado pelo Estado – acreditamos que este tenha ensino médio completo. Vinculado a escola existe um parceiro do “amigos da escola”, executando diversas atividades de apoio. A escola é gerida por uma diretora, uma vice-diretora, um coordenador administrativo financeiro e um secretário geral, além do conselho escolar que tem poder deliberativo. Este é composto por: dois professores do matutino, vespertino e noturno, sendo um titular e um suplente, dois estudantes de cada turma, dois funcionários de cada turno, dois pais de aluno de cada turno, a diretora e a vice-diretora; todos estes exercem função representativa de cada grupo, no qual todos tem poder de voz nas reuniões e apenas um representante de cada tem direito a voto. A partir de uma conversa informal com uma das pedagogas da coordenação pedagógica obtivemos informações sobre o corpo discente, nos foi informado que a maioria dos alunos são provenientes de zonas periféricas da cidade, em sua maioria da Zona Norte e Zona Oeste. A escola atende aos estudantes do sexto nível ao nono ano no turno matutino, primeira à terceira série do ensino médio no vespertino, primeira à terceira série do ensino médio além vários níveis da EJA no turno noturno. A origem social/econômica desses estudantes gira entorno da “classe média baixa”. É uma escola destinada a ambos os gêneros, apesar disso percebemos uma sutil maioria de pessoas de gênero feminino. Como a escola atente aos estudantes do sexto ano do ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio e também da EJA, a faixa etária torna-se bastante diversificada, sendo sua maioria dos dez aos dezenove anos, mas também encontramos estudantes acima dos vinte anos, e alguns da terceira idade. Não questionamos o pessoal da equipe técnica quanto ao índice correspondente a evasões e repetências dos estudantes, contudo, tomando a sala observada como parâmetro, o índice de evasão gira em torno de 7% à 9% no total, assim como o índice de alunos repetentes. Ratificamos que estas afirmações estão baseadas na sala observada e estendidas por indução ao todo da escola. 24 1.3 ESTRUTURA DE FUNCIONAMENTO Esta instituição atende a comunidade escolar nos três turnos: matutino, vespertino e noturno. No turno matutino são oferecidas aulas em 26 turmas, sedo estas: cinco turmas de 6º ano; seis turmas de 7º ano; sete turmas de 8º ano; e oito turmas de 9º ano. Assim como esse turno, no vespertino também são oferecidas aulas em 26 turmas, sendo: 11 turmas para a 1ª série do ensino médio; 8 turmas para 2ª série do ensino médio; e 7 turmas para a 3ª serie do ensino médio. Já no Noturno são oferecidas tanto para o ensino médio regular quanto para o EJA, sendo distribuídos em: 3 turmas de 1ª série do ensino médio; 3 turmas de 2ª série do ensino médio; 4 turmas de 3ª série do ensino médio; 2 turmas de 4º nível do EJA; 1 turma de 5º nível de EJA. Logo, o FLOCA oferece aulas aos estudantes de ensino fundamental, médio e EJA; indo desde o 6º ano do ensino fundamental à 3ª série do ensino médio, no ensino regular, e aos estudantes de 4º e 5º nível de EJA. Por decisão do conselho escolar, desde o ano de 2007 as turmas só poderão ter, no máximo, quarenta estudantes, e esta deliberação vem sendo respeitada até o presente momento. Na turma em que realizamos as observações – 1º série do ensino médio, do ensino regular, no turno vespertino – foram matriculados 38 estudantes no inicio do ano, sendo que destes, dois foram transferidos para outras escolas e três estão evadidos nas aulas de História. Respeitando a legislação vigente, foram planejados, pelo corpo docente, coordenação pedagógica e direção, 200 dias letivos de aula; não nos foi possível vermos como esses estavam distribuídos ao longo dos bimestres, pois essa informação não estava muito clara para a coordenação pedagógica. Segundo foi informado pela direção da escola, a mesma fica aberta das 7h às 22h20min, sendo que alguns setores funcionam das 7h às 22h, como é o caso da direção, da coordenação pedagógica, da secretaria e de outros. Quanto ao número de aulas ofertadas, nos turnos matutino e vespertino são cinco aulas por dia: no matutino o horário letivo vai das 7h às 11h30min, com um intervalo de 20min que vai das 9h30min às 9h50min; no vespertino, o horário de aula vai das 13h às 17h30min, com um intervalo de 20mim das 15h30min às 15h50min; e no turno noturno as aulas são realizadas das 19h às 22h20min com um intervalo de 10min que vai das 20h20min às 20h30min. A turma em que realizamos as observações tem quatro aulas de História semanais, sendo duas realizada nas terças-feiras no horário das 15h50min às 17h30min, e mais duas nas quintas- feiras de 13h50min às 15h30min. 25 1.4 DINÂMICA SOCIO-CULTURAL DA ESCOLA Tal dinâmica sócio-cultural que será aqui narrada por nós é fruto das nossas observações no FLOCA, referentes a seis dias de aula, um dia de observação da escola, uma reunião do conselho escolar, uma reunião administrativa, além da pesquisa que fizemos na secretaria da escola. Assim como na sociedade, as relações sociais na escola se dão através de interesses, disputas, escolhas e articulação de grupos. Entre os professores percebemos tais características de forma bastante explícitas, principalmente pelo fato da escola estar passando pelo processo eleitoral da nova direção. Assim, os professores estão se dividindo em três grandes grupos: um que apóia a atual gestão e que consequentemente apóia a candidata indicada por essa; outro que tem divergências com esta gestão e que propõe mudanças na estrutura administrativa da escola; e um terceiro grupo que procura não se indispor com os outros dois, não participando ativamente das discussões eleitorais. Alguns alunos acabam optando por “apoiar” o posicionamento do primeiro ou do segundo grupo, mas a grande maioria mostra-se indiferente ao que está acontecendo na escola, assistindo suas aulas e voltando para casa. Acreditamos que os professores devem estimular e orientar a participação dos estudantes na dinâmica escolar, contribuindo assim para uma formação cidadã. Percebemos uma grande diversidade de relações entre professores e alunos em sala de aula: há professores que procuram manter uma relação de afinidade com os alunos; há os que buscam fazer com que esses o temam; há ainda os que procuram seduzir os estudantes; os que não preparam suas aulas, mostrando não ser comprometidos com a educação dos estudantes; percebe-se também os que tratam alunos como “tabulas rasas”, reconhecendo o estudante como alguém a quem vai simplesmente transmitir o conhecimento; e diversos outros tipos já conhecidos. Assim como na sociedade, percebemos diversos grupos de estudantes na realidade dessa escola. Iremos apresentar alguns desses grupos, mas, não é nossa intenção generalizar ou reduzir as escolhas individuais pelo simples pertencimento a esses grupos. Identificamos os seguintes grupos de estudantes: emocores (emos), adeptos do forró (forrozeiros), adeptos da banda Grafith (grafiteiros), pop roqueiros, os gospels. Estes grupos apresentados fazem 26 referências às preferências musicais, mas, como afirma Stuart Hall4, as identidades de grupo são compostas de elementos diversos, assim a identidade é múltipla e às vezes até contraditória. Nesta perspectiva, indivíduos podem participar de um grupo, mas gostarem de algunselementos de outro, como estilos de roupas, símbolos específicos, gírias, gostos musicais, entre outros. Então, a divisão que apresentamos acima é uma tentativa limitada e superficial de representar a realidade identitária dos estudantes do FLOCA, constituindo-se como uma possibilidade de representação dessa, a partir do olhar de um agente estranho à dinâmica sócio-cultural da escola. Tendo em vista que limitamos nossas observações ao espaço escolar, não podemos apresentar as relações estabelecidas entre os estudantes em dois shoppings e uma praça/quadra que ficam próximos a escola, eleita pelos estudantes como principal espaço de sociabilidade, e interação desses indivíduos. É no Pátio da escola onde os estudantes mais interagem entre si e estabelecem trocas de experiências, se alimentam e se divertem juntos, tanto nos intervalos, horários vagos, principalmente. 1.5 CARACTERIZAÇÃO DA TURMA Realizamos uma pesquisa na documentação dos estudantes da turma observada que estão sob guarda da secretaria, autorizados pela direção da escola, para levantarmos informações sobre esses estudantes (ver anexo). A turma observada é de 1ª série de ensino médio, turma “C”, do turno vespertino, e possui 38 estudantes matriculados; desses, 18 são indivíduos do gênero masculino e 20 do gênero feminino. Quanto a divisão por idade, encontramos: dois estudantes de 16 anos de idade; três estudantes de 14 anos de idade; e 33 estudante de 15 anos de idade; identificou-se ainda a presença de 12 novatos, 3 repetentes, 2 transferidos e um evadido. Embora tenhamos buscamos obter informações junto à secretaria da escola e à coordenação pedagógica, sobre as profissões e/ou outras ocupações exercidas pelos estudantes, nenhum desses setores souberam responder a tais questionamentos, devido a uma não sistematização dessas informações. Cogitamos a possibilidade de realizar entrevistas individuais com os estudantes, mas, devido ao longo tempo que demandaria tal estratégia, optamos por não fazer tal levantamento. 4 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP &A. 2003. 27 1.5.1 Quanto à atuação de alunos (as) Percebemos, através das observações realizadas, que os momentos em que são solicitadas atividades em classe são os que os estudantes mais se empenham e ficam atentos. Porém, identificamos também, que este “empenho” se dá devido a uma demasiada preocupação que esses tem com suas notas5, além do fato da professora liberar os estudantes que concluam os exercícios.6 Reconhecendo a sala de aula como um espaço privilegiado para a sistematização do conhecimento de diversas áreas, acreditamos que deva haver um “nível harmonioso” de respeito entre os sujeito que atuam neste espaço. Identificamos que isso não acontece na sala de aula observada. A professora não consegue a atenção em quase todas as vezes que expõe o conteúdo; a sala é extremamente barulhenta, desorganizada, inquieta e devido a estes fatores não atingem um bom rendimento. Sobre a relação entre alunos e professora, podemos afirmar que não há o respeito à presença desta, pois, como já mencionado, os estudantes não fazem silencio quando ela tenta expor o conteúdo; independente dela estar em sala ou não, os alunos ficam transitando no espaço da sala interrompendo o andamento da aula. Algumas alunas chegaram a afirmar que fazem isso porque “com a professora agente tem uma relação mais íntima”. Acreditamos que deva existir uma relação de proximidade entre os estudantes e os professores das disciplinas, porém o professor deve ter um cuidado metodológico para que tal relação não influencie de forma negativa o desenvolvimento das aulas; tal relacionamento deve ser explorado pelo professor de maneira a contribuir para a construção do conhecimento em sala de aula, sendo mais um facilitador do desenvolvimento escolar dos estudantes. Além desses problemas com a professora, identificamos uma série de atitudes problemáticas nas relações dos estudantes na sala observada. Dentre elas destacamos as 5 Ao questionarmos os estudantes sobre essa atitude diversas justificativas foram apresentadas, dentre as quais destacamos: a demasiada preocupação com notas somente até 3º Bimestre, uma vez que atingindo uma média satisfatória o deixará tranquilo para as avaliações do 4º Bimestre, e como em nossas observações acompanhamos o 2º e o início do 3º Bimestre ainda percebemos essa preocupação, a partir dessa justificativa; outra identificada remete à pressão dos familiares para se atingir boas notas, já que os mesmos “não fazem nada além de estudar”; a mais frequente foi a que relacionou as notas obtidas com a aprovação no fim do ano. 6 A professora justificou esta ação pela impaciência dos alunos, pois os que terminavam a atividade primeiro “não sabem esperar o restante da turma terminar”, com isso, por não ter o domínio da turma, a mesma termina por liberá-los. Consideramos aceitável a possibilidade de liberar estudantes mais cedo por terem concluído suas atividades mais cedo, porém, o profissional de história que atua em sala de aula deve ter a preocupação de planejar suas aulas, pois houve casos em que estudantes saiam com 1h30min para o término do horário; pensando na nossa futura atuação profissional, não repetiríamos essas ações, primeiro por contribuir minimamente para a formação escolar dos estudantes, e segundo, por explicitar o não comprometimento deste profissional, contribuindo para uma gradativa perda da credibilidade. 28 seguintes: desrespeito verbal, escrito, físico que incidem diretamente na integridade moral do individuo, sejam em suas escolhas sexuais ou até religiosas. Apesar disso, os estudantes aparentemente tem uma boa convivência, mas as atitudes destacadas acima terminam por atrapalhar o desenvolvimento das aulas. Nos dias em que fomos às aulas, não houve uma ação efetiva da professora que questionasse tais atitudes, e acreditamos que uma das funções do professor é contribuir para uma formação crítica, valorizando o respeito às diversidades e a um convívio social, além da formação especifica da área. O professor, diante dessas questões, deveria fomentar e mediar uma discussão construtiva na qual os estudantes percebessem a construção desses valores ao longo das ações humanas no tempo. Não observamos na sala nenhum estudante com necessidades educacionais especiais, mas são oferecidas aulas de LIBRAS aos estudantes dessa. Tais aulas foram ministradas por um professor que não fazia parte do quadro da escola e vinha nas quintas-feiras, utilizando parte da aula de História. Quanto aos conteúdos ministrados pela professora, aparentemente, não instigava o interesse dos alunos, mas percebemos que as questões religiosas eram alvos de constantes discussões em sala; mas não havia uma preocupação da professora em integrar tais discussões aos conteúdos da disciplina, acreditamos que isso seria possível, já que os conteúdos das aulas referentes à história antiga, período em que a maioria das religiões populares se originaram. Antes de falarmos do rendimento dos estudantes, faz-se necessário apresentar minimamente o método avaliativo a qual esses são submetidos. Este se constitui em quatro momentos distintos: a) responder atividades que a professora copia no quadro; b) responder “memorandos” presentes no livro didático utilizado; c) Apresentar “seminários” a partir de temas definidos pela professora; d) prova escrita. Além desses a professora também realiza chamadas orais e indica estudantes para fazerem leituras em sala, tais atividades se constituem como avaliação complementar, e valem pontuação. No primeiro bimestre, os alunos obtiveram o seguinte rendimento: Três estudantes tiveram notas acima de 8,0pt; Onze estudantes tiveram notas entre 7,9,0pt e 6,0pt; Nove estudantestiveram notas entre 5,9pt e 4,5pt; Doze estudantes tiveram notas abaixo de 4,4pt. Assim, 21 estudantes não atingiram a média e 14 ficaram entre a média e/ou acima dela. Dos 38 estudantes matriculados, dois foram transferidos e um evadido. No segundo bimestre, os alunos obtiveram o seguinte rendimento: Dezessete estudantes tiveram notas acima de 8,0pt; Oito estudantes tiveram notas entre 7,9,0pt e 6,0pt; 29 Nove estudantes ainda não tem sua nota definida por não terem realizado alguma das atividades propostas. O terceiro bimestre encontra-se em andamento. A partir de nossas experiências estudantis, acreditamos que a professora deva reavaliar sua metodologia de avaliação, pois a utilizada permite, no máximo, acompanhar a capacidade dos estudantes de sintetizar informações contida no livro didático e nos textos copiados no quadro pela professora. E, partindo das ideias presentes no PCN-História, diversas outras habilidades devem ser desenvolvidas ao longo do ensino médio, tais como: a) Criticar, analisar e interpretar fontes documentais de natureza diversa, reconhecendo o papel das diferentes linguagens, dos diferentes agentes sociais e dos diferentes contextos envolvidos em sua produção (BRASIL/MEC/SEMTEC, 2002, p. 74); b) Relativizar as diversas concepções de tempo e as diversas formas de periodização do tempo cronológico, reconhecendo-as como construções culturais e históricas (BRASIL/MEC/SEMTEC, 2002, p. 74-75.); c) Construir a identidade pessoal e social na dimensão histórica, a partir do reconhecimento do papel do indivíduo nos processos históricos, simultaneamente, como sujeito e como produto dos mesmos (BRASIL/MEC/SEMTEC, 2002, p. 75); d) Comparar problemáticas atuais e de outros momentos históricos (BRASIL/ MEC/SEMTEC, 2002, p. 76). Para avaliarmos o desenvolvimento de tais habilidades a resolução escrita de exercícios e as provas tradicionais não são meios adequados para tal, mas limitadores da própria experiência escolar dos estudantes. Quanto aos conteúdos em que os estudantes apresentam mais facilidade de aprendizagem e/ou dificuldade de apreensão, supomos que esses se interessem mais pelos conteúdos que fazem referência às sociedades “mais próximas” do nosso tempo, que perpetuaram alguma herança cultural dieta em nossa sociedade. Mas, segundo a professora, os alunos tem dificuldades de aprendizado em todos os conteúdos, pois não sabem interpretar os textos e contextualizar as palavras. Desde o início do semestre até o fim de nossas observações a professora trabalhou os seguintes conteúdos: a) 1º Bimestre: “Refletindo sobre a História”: Cap. 1 – Tempo e História; “Pré-história”: Cap. 2 – Origem humana, Cap. 3 – As primeiras sociedades; b) 2º Bimestre: “Pré-história”: Cap. 4 – Primeiros povos da América; “Antiguidade oriental”: Cap. 5 – Povos da Mesopotâmia, Cap. 6 – Egípcios; c) 3º Bimestre: “Antiguidade oriental”: Cap. 7 – Hebreus, fenícios e persas; “Antiguidade clássica”: Cap. 8 – Gregos, Cap. 9 – Romanos. Sobre os diálogos em sala de aula, referentes aos conteúdos ministrados, esses giraram em torno de duvidas gramaticais, ou termos curiosos ao conhecimento dos estudantes e até referente a assuntos que emergem de um ponto descontextualizado do conteúdo ministrado, 30 como por exemplo, em uma aula sobre a sociedade egípcia, a professora discorreu sobre as estratégias utilizadas por governos europeus para o aumento populacional, não estabelecendo relação entre ambos os temas. Em conversas informais que tivemos com alguns estudantes, ao questioná-los quanto ao seus hábitos de estudo, esses comentaram que só estudavam para as disciplina quando havia alguma atividade avaliativa, valendo nota, ou prova marcada; isso para disciplinas que o professor mostra-se exigente, para as avaliações de “professores bonzinhos” os estudantes “dão uma olhada no livro antes de entrar na sala”, ou mesmo na própria sala, quando o professor permite. 1.5.2 Aspectos que constituem dificuldades no fazer pedagógico Sobre as dificuldades do fazer pedagógico identificadas pela professora, nos limitaremos a, através dos discursos da mesma, apresentá-las: • Uma das reclamações da professora é a quantidade excessiva de alunos por sala, retirando dez alunos, ou seja, mantendo apenas 30 alunos em sala, poderia “trabalhar melhor”. • Outro problema é o barulho excessivo dos estudantes, sejam em sala ou no corredor, afirmando que uma sala de “alunos mudos” seria um “paraíso”. • A interpretação dos textos e contextos é um ponto mencionado pela professora, como fraqueza dos estudantes e que termina por atrapalhar suas aulas. • A professora mencionou também que o trabalho com estagiários, pode vir a atrapalhar a sua pratica docente, se não houver diálogo com a mesma, pois esses vem sem saber preencher uma Caderneta e ela tem de refazer todo o trabalho após a saída desses. Observamos que o desinteresse de alguns alunos pela disciplina, também se constitui como uma dificuldade para o fazer pedagógico do professor. Já quanto aos problemas observados que terminam por atrapalhar no desenvolvimento escolar dos estudantes, listamos os seguintes: 31 • Falta de carteiras em sala. Foi observado que em alguns dias os estudantes precisaram procurar carteiras sobrando em outra sala; • O quadro está muito sujo. Em algumas partes torna-se ilegível o que a professora escreve; • O excessivo número de alunos no corredor acaba tirando a atenção do aluno em sala; • As carteiras são de péssima qualidade e estão em má conservação; • Ausência de aulas expositivas para sistematizar os conteúdos das atividades; • Limitação do método avaliativo empregado, não havendo uma diversidade de meios para acompanhar o desenvolvimento escolar dos estudantes; • Uso limitado do livro didático por parte da professora: seguindo a sequência de conteúdos apresentados pelo autor do livro sem que haja escolha por parte do professor; insistência de crítica ao material de didático, reproduzindo as informações neste contido, como verdades absolutas; Apesar de identificarmos tais problemas na prática docente da professora, alguns estudantes afirmaram preferir esta a outros mais rigorosos, ou, segundo falas dos próprios estudantes, “mais chatos”. 1.6 OBSERVAÇÕES DAS AULAS 1.6.1 Observação nº 1. Data: 02/09/2010 Essa primeira observação foi realizada na aula de História na turma “C” de 1ª série de ensino médio entre 13h50min e 15h30min, estando presentes 28 estudantes, segundo a nossa contagem, mas segundo a caderneta da professora 35 estudantes estavam presentes.7 Para apresentar o conteúdo de Egito Antigo a professora copiou uma atividade no quadro (que está no anexo “Observação Nº 1. Data: 02/09/2010: Apontamentos do Estagiário Fabiano Marques”) e solicitou que os estudantes lessem textos do livro didático, em voz alta, valendo um ponto na nota do bimestre; utilizando-se do quadro branco, pincel para o mesmo e 7 Essa divergência da quantidade de estudantes em sala estará presente um praticamente em todas as observações que realizamos, acreditamos que isso se deve ao fato da professora delegar a um aluno a feitura da chamada, assim, mesmo algum aluno não estando presente, o mesmo marcava sua presença. Pelo que observamos a professora realiza esta prática para ganhar tempo na aula, pois enquanto esse realiza a chamada, a professora inicia a cópia de questões no quadro. 32 o Livro didático como recursos. Quanto à comunicabilidade da professora com os estudantes, não pudemos avaliar este quesito, pois a mesma só copiou a atividade, já com as respostas, e encaminhou as leituras do livro pelos estudantes, sendo quase nula a comunicação entre esses sujeitos. Essa atividade, escrita com um vocabulário simples e objetivo, valia 1,5 pontos para quem a copiasse, mesmo que já estivesse com