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DOENÇAS ARTERIAIS: DAOP e OAA Autor: Pedro V.F. Medrado DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA PERIFÉRICA (DAOP) - É uma condição importante de limitação do paciente, pois piora a qualidade de vida – claudicação, dor em repouso e amputações. - Tem uma grande incidência populacional – 20% dos indivíduos com mais de 70 anos - Aponta para uma doença sistêmica degenerativa grave – a aterosclerose · É um processo crônica, progressivo e sistêmica decorrente de uma resposta inflamatória e proliferativa associada às agressões ao endotélio vascular. · Tem etiologia multifatorial – inflamatório, genético e ambiental · Doença da civilização, e uma das principais causas de morte no ocidente - Arteriosclerose – é qualquer doença arterial que envolve o espessamento da parede com perda da elasticidade, e as manifestações clínicas são resultantes da diminuição da circulação arterial nas artérias das extremidades - A placa de ateroma – células espumosas com a tríade: estresse oxidativo, deposição lipídica e inflamação Doença arterial obstrutiva periférica (DAOP) – ocorre por uma limitação obstrutiva do fluxo sanguíneo que leva a isquemia - Quando tem 50% de estenose a resistência ao fluxo aumenta em 16x pela lei de Poiseuille – a manutenção do fluxo se faz às custas de velocidade na estenose arterial - Fluxo = Velocidade x Área - A formação de uma circulação colateral se dá a partir do gradiente pressórico entre a artéria proximal e o leito distal após a obstrução Etiologia - 85% dos casos tem origem na aterosclerose - Outras causas: Arterites (de Takaysu), Aprisionamento de A. poplítea, Doença Cística adventícia da a. poplítea e ergotismo. - Fatores de risco · Tabagismo · Hiperlipidemia · Hipertensão · Diabetes · Idade, Sexo e sedentarismo Manifestações clínicas - Claudicação intermitente – dor muscular ao esforço físico medida pela distância ou tempo, que regride ao repouso – ITB - Dor em repouso – dor intensa de caráter permanente, que obriga a permanecer com a extremidade comprometida pendente. - Úlceras e gangrena – quadro crítico quando associado à dor e lesões necróticas sinaliza risco iminente de perda da extremidade - A evolução da doença é resultado do balanço entre o desenvolvimento de circulação colateral e os fatores de risco. · Boa evolução – aumento da circulação colateral, e redução dos FR · Má evolução – redução da circulação colateral, e aumento dos FR - Classificação de Fontaine · Estágio I – assintomático · Estágio II – claudicação intermitente – a) limitante e b) incapacitante · Estágio III – dor isquêmica em repouso · Estágio IV – lesões tróficas - Classificação de Rutherford · Categoria 0 – assintomático · Categoria 1 – claudicação leve · Categoria 2 – claudicação moderada · Categoria 3 – claudicação severa/grave · Categoria 4 – dor em repouso · Categoria 5 – lesão trófica pequena · Categoria 6 – necrose extensa Diagnóstico - O diagnóstico clínico é feito com anamnese e exame físico · Inspeção estática – diminuição do fluxo sanguíneo causa rarefação de pelos, pele brilhante, edema de extremidades, palidez, cianose, atrofia muscular, úlceras e gangrenas · Inspeção dinâmica – elevação do membro o membro fica pálido, e abaixando ocorre uma hiperemia reativa com tempo de enchimento venoso prolongado. · Teste de Leo Buerguer – decúbito dorsal membro em 60º por 1min – palidez significa isquemia · Palpação – ausência de pulsos distais e frialdade · Ausculta – sopros sistólicos suspeita de estenose - Como exames complementares podemos lançar mão de início de um Doppler portátil como exame inicial para avaliar ITB - Doppler portátil – maneira objetiva para avaliar o fluxo arterial do membro, por meio do fluxo de artérias superficiais. · Índice tornozelo-braço (ITB) – relação entre pressão de perfusão do membro isquêmico/membro normal – quanto menor o ITB, pior a situação. · Normal maior ou igual a 0,9 a 1,30 · Claudicante maior ou igual a 0,5 e menor que 0,9 · Isquemia critica menor que 0,5 · Aterosclerose de Monckeberg – calcificação circunferencial da parede da artéria, e consequentemente o ITB estará normal ou até aumentado (diabéticos) - Teste na esteira – feito em uma esteira ergométrica com velocidade de 3,2 km/h e inclinação de 10 a 12º. · O teste somente é interrompido quando: (1) a dor se torna insuportável (claudicação ou distância máxima), ou (2) quando se atinge o tempo de 5 minutos, ou (3) se o paciente apresentar dor torácica ou desconforto respiratório. · Grau 0 – assintomático – ele caminha por 5 minutos e nada · Grau I – claudicação intermitente: · CI – Leve – completa o teste, mas no final a pressão no tornozelo (PT) está >50 mmHg e 20 mmHg menor que a do repouso · CI – Moderada – resultados na faixa intermediária · CI – Grave – não completa o teste, e a PT <50 mmHg após o exercício · Grau II e III – revelam isquemia · Grau II – dor em repouso – a PT <40mmHg e pressão <30 mmHg em pododáctilo, e as ondas estão fracas e achatadas · Grau III – perda tecidual · Pequena – úlcera que não cicatriza, ou gangrena focal, PT repouso menor que 60mmHg e em pododáctilo <40mmHg · Maior – lesão tecidual além dos metatarsos, com perda funcional (precisa fazer esteira??) - Ultrassonografia duplex – Doppler · Operador-dependente, não invasivo e sem riscos · Permite identificar as placas de ateroma, medida indireta de estenoses · Velocidade e volume do fluxo, área da placa, constituição da placa e úlceras - AngioTC · Tem sido usada no pré-operatório, tem vários benefícios e gera imagens de alta resolução que quando associados com a arteriografia tem ótima correlação clínica - Angio ressonância · É um método não invasivo que não utiliza contraste iodado – usa gadolíneo · Fornece informações anatômicas do sistema arterial · Contraindicado: marca-passo cardíaco ou clipes metálicos - Angiografia/arteriografia · Fornece informações anatômicas, mas é invasivo e usado como método de avaliação intraoperatória · Subtração digital · Convencional Conduta e tratamento - Se o indivíduo é assintomático e tem claudicação o tratamento é clínico - Se o indivíduo tem dor em repouso e a lesão é trófica o tratamento é intervencionista - O tratamento clínico vai atuar nos fatores de risco da DAOP, como mudança de hábitos, controle da HAS, do diabetes (HbA1c <7%), da hiperlipidemia e cuidados diários com os pés. - Mudança de hábitos · Controle do fumo – o tabaco tem efeito aterogênico, vasoconstritor e trombogênico · Sedentarismo – exercícios prolongados · Obesidade - Controle da hiperlipidemia · Colesterol total <200 mg/dL; LDL <130; HDL>40mg/dL; TG <150mg/dL - Cuidados diários com os pés · Examinar a pele dos pés à procura de rachaduras, bolhas, ferimentos e sinais de infecções · Na hiper-hidrose usar talco, se forem secos usar cremes hidratantes · Usar sapatos confortáveis · Nunca andar descalço · No frio usar meias de lã · Nunca aplicar frio ou calor nas extremidades - Medicamentoso – todos pacientes do DAOP devem fazer uso de antiagregantes plaquetários, como AAS, clopidogrel e ticlopidina, para profilaxia da trombose na placa aterosclerótica. - Além do controle das doenças associadas, é preciso fazer profilaxia da trombose - Profilaxia primária – não tem comprovação de risco/benefício no assintomático - Profilaxia secundária – só para quem já apresentou alguma manifestação · Antiplaquetários – AAS, Ticlopidina e Clopidrogrel · Estatinas – estabilização da placa · Vasodilatadores – Cilostazol (inibidor da fosfodiesterase III) e Naftidrofurila (impede o influxo de Ca2+ na célula muscular lisa do vaso). - Além disso, pode-se fazer tratamento das lesões cutâneas, analgésicos e antibióticos Tratamento cirúrgico - Indicações: · Claudicação com sintomas limitantes, que acarretam dificuldade para realização de atividades, sem resposta ao TTO clínico; · Dor isquêmica em repouso; · Lesões tróficas (úlcera ou gangrenas). - Cirurgia diretas abertas · Endarterectomia · Angioplastia convencional · Derivação/enxerto - Derivações extra-anatômicas - Cirurgias endovasculares · Angioplastia sem stent – com balão · Angioplastia com stent - Cirurgiasindiretas · Simpatectomia · Neurotripsia · Amputações – mais distais possíveis · Menor gasto energético do paciente ao efetuar manobras · Adaptação mais fácil das próteses · Retorno mais rápido ao convívio social e profissional CONCLUSÃO - A DAOP costuma ter início insidioso, com piora progressiva ao longo da vida, sendo geralmente indicativa da presença de uma doença sistêmica grave, a aterosclerose. - Diagnóstico correto e tratamento precoce – a vida e a qualidade de vida do paciente OCLUSÃO ARTERIAL AGUDA (OAA) - É a oclusão aguda de uma artéria ocorrendo redução súbita do suprimento sanguíneo aos tecidos vascularizados por este vaso – resulta em isquemia de intensidades variáveis até necrose, dependendo do local acometido. - Quanto mais proximal, ou alta, mais grave a isquemia. E quanto mais distal, ou baixa, menos grave a isquemia. - Oclusão aguda do aporte sanguíneo a um determinado tecido, produz 2 fenômenos primários: · Queda da produção energética de ATP · Acumulo de metabólitos e acidificação dos tecidos - Quando a oclusão é lenta e progressiva, isso permite as colaterais manterem o fluxo, e as manifestações são menos exuberantes ou assintomáticas – não é uma emergência - Quando a oclusão é súbita, não há colaterais para manter o fluxo, e as manifestações são mais agressivas o que requer uma desobstrução imediata - - Danos teciduais · Miocárdio – infarto em 17 a 20 minutos de isquemia · SNC – infarto cerebral já é detectado após 4 a 8 minutos de isquemia · Membros inferiores – alterações isquêmicas importantes podem persistir por 5 a 6horas sem a perda da extremidade · Nervos – tem maior sensibilidade a isquemia – sofre primeiro · Músculos esqueléticos – 4h começa a perda da contratilidade, ao fim de 24 a 48horas as lesões se tornam irreversíveis · Pele, ossos e cartilagem – por possuírem baixo metabolismo, resistem mais a isquemia, após 24-48horas podem não existir lesões cutâneas · N(nervo)UNCA M(músculo)AIS V(vasos)OU P(pele)ODER C(cartilagem)OMER O(osso)VO Etiologia - Embolia e Trombose são as mais frequentes - Outras: traumatismo vascular, compressão extrínseca, espasmos arteriais, hipercoagulabilidade sanguínea e arteriopatias. - Um trombo é um coágulo no sítio de formação, ou nos vasos ou no coração · Locais acometidos – vasos afetados por aterosclerose preexistente · Há circulação colateral adjacente – sintomas são menos exuberantes · Isquemia menos grave que a embolia aguda · A. femoral superficial – vaso periférico mais acometido · Trombose de aneurisma da artéria poplítea – causa comum e grave de isquemia aguda do membro · A trombose arterial costuma ser mais grave do que a venosa, pois impede a chegada de oxigênio às células provocando morte tecidual · A gravidade vai depender do local afetado e da extensão da trombose. · Quanto mais proximal pior · Fatores que desencadeiam a trombose – fluxo lento tem maior risco de trombosar · Choque (hipovolemia), sepse, desidratação, hemorragia interplaca, baixo débito cardíaco, estado de hipercoagulabilidade e trombose prévia em enxertos arteriais - O êmbolo é um coágulo arrastado pela corrente sanguínea, ou um coágulo originado de outro local da circulação, geralmente coração, liberado para a circulação e obstruindo um ramo arterial de qualquer local do corpo. · Os MMII são os locais mais atingidos – 40% na bifurcação femoral · Artérias cerebrais, Aorta e artérias ilíacas (24%), a. poplítea (15%). · 80% dos êmbolos arteriais são de origem cardíaca · A FA (50%) é a causa mais comum dos êmbolos cardiogênicos e o IAM (25% - miocárdio atordoado, até mesmo formando aneurismas de VE) a segunda. · Êmbolos maiores obstruem artérias dos membros · Êmbolos menores (microembolias) obstruem artérias cerebrais e viscerais · A. mesentérica – infarto intestinal · A. renal – IR progressiva - Tanto um quanto o outro vão causar obstrução do fluxo sanguíneo - Êmbolo paradoxal – é um trombo originário da circulação sistêmica venosa que passa para arterial através de um defeito cardíaco do forame oval Quadro clínico - 5P’s · Pain (dor) · Palidez · Pulso (ausência de pulso) · Parestesia · Paralisia - Oclusão embólica · A dor tem aparecimento súbito, pode ser assintomático prévio, mas costuma ser intensa · Palidez é intensa, sem sinais de fluxo cutâneo · Pulso é normal acima da oclusão, e está ausente abaixo da oclusão, e é de apenas um lado - Oclusão trombótica · Costuma ter uma claudicação anterior, e tem vários graus de dor · A palidez é menos intensa, e tem alguns sinais de fluxo de colaterais · O pulso está alterado acima da oclusão, e a alteração é bilateral - A causa embólica costuma ter fatores de risco como FA, IAM e próteses cardíacas, seu inicio é súbito, não tem claudicação prévia e os achados são UNILATERAIS - A causa trombótica tem fatores de risco associado a placas ateroscleróticas (dislipidemia, HAS), tem sintomas de claudicação prévia e os achados são BILATERAIS, no lado acometido vai estar mais acometido, mas o seu contra-lateral tem sinais. Diagnóstico - É clínico, mas pode ter auxílio de exames complementares, que não deve retardar a terapêutica (pela clínica já dá para diferenciar embolia da trombose) - Exames não invasivos · US Doppler – avalia a severidade da isquemia · Localização da oclusão, causa, presença de doença aterosclerótica no mesmo lado e contralateral, ou se há circulação colateral · Aumento das velocidades – estenose com placa · Angioressonância magnética e tomografia helicoidal - Exames invasivos – casos emergenciais · Arteriografia – aspecto da oclusão, visualiza aspecto dos vasos distais, aspecto da circulação colateral, define prognóstico sobre possibilidade de restauração arterial ou não. · Aspecto em ponta de lápis – oclusão da artéria carotídea interna esquerda por trombo · Embolia da artéria poplítea – forma de taça invertida · Estenose · Circulação colateral – trombo por placa Tratamento - Para tratar oclusão embólica · Anticoagulação com bolus de heparina IV (5.000 a 10.000 unidades) – evitar que o trombo aumente · Revascularização rápida para restauração do fluxo · Embolectomia com balão · Introdução de um cateter adaptado ao calibre do vaso e é introduzido pela arteriotomia, após atravessar o trombo, o balonente é inflado e retirado carregando consigo o êmbolo · Tromboembolectomia a Fogarty – Rutherford III - Para tratar oclusão trombótica (não se passa balão, o risco é muito alto) · Anticoagulação · Arteriografia inicial – delimita a anatomia e define a melhor técnica de revascularização · Revascularização através de pontes cirúrgicas – quando segmento de oclusão é longo · Recanalização do vaso por terapia trombolítica por cateter e angioplastia com balão – quando semento de oclusão é curto - Avaliação da viabilidade do membro - Síndrome de reperfusão · É uma complicação do tratamento da isquemia arterial aguda · Com a reperfusão do músculo antes isquemiado, uma série de elementos represados no tecido ganham a corrente sanguínea levando a consequências: · IRA, Arritmias, Acidose metabólica, Mioglobinúria e síndrome compartimental - Síndrome compartimental · É o aumento da pressão no interior de um espaço osteofacial fechado, que reduz a perfusão capilar até um nível inferior àquele necessário para que seja mantida a viabilidade dos tecidos · Com o estabelecimento da perfusão muscular, ocorre intenso edema intracelular e muscular que acaba comprimindo vasos que passam ao seu redor. · Ocorre isquemia distal a esse local · O compartimento posterior não costuma comprimir muito · Síndrome compartimental por gesso · Isquemia com duração de mais 6 horas requer fasciotomia profilática
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