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P2 - dermatite atópica 1 💊 P2 - dermatite atópica Compreender a etiopatogenia da dermatite atópica. As alterações fundamentais na fisiopatologia do eczema atópico permanecem desconhecidas. Múltiplos fatores parecem fazer parte de um complexo mecanismo. Até o momento, os conhecimentos indicam existir uma interação de fatores constitucionais e ambientais, em que as imunidades humoral e celular ocupam lugar de destaque. Os estudos demostraram uma ligação genética da dermatite atópica com o cromossomo 1q21. A região do cromossomo 1q21 possui o complexo de diferenciação epidérmica, local onde residem genes ligados à diferenciação e à função da barreira epidérmica. As mutações no gene da filagrina também estão fortemente associadas com a doença Os níveis de AMP-cíclico (AMPc) (molécula de transdução de sinal) intracelulares estão diminuídos nos macrófagos, basófilos e linfócitos. Os baixos níveis de AMPc seriam responsáveis, dentre outras consequências, pelo aumento da liberação de histamina, diminuição dos linfócitos T supressores e aumento da produção de IgE. P2 - dermatite atópica 2 Têm sido observadas anormalidades no metabolismo do ácido araquidônico com aumento nos metabólitos tanto da via lipo-oxigenase quanto da ciclo- oxigenase, provavelmente contribuindo para a persistência da inflamação. Alterações sudorais, alterações do manto lipídico da pele e baixo limiar ao prurido são outras características muito conhecidas da DA. O limiar ao prurido nos indivíduos atópicos é mais baixo, e os estímulos prurigênicos produzem, nos atópicos, prurido mais intenso, mais duradouro e em áreas mais extensas do que em indivíduos normais. A sudorese, no atópico, geralmente se acompanha de prurido, atribuído a uma retenção sudoral ou eliminação de alergênios pelo suor. As 2 possibilidades exacerbariam os fenômenos inflamatórios próprios da pele com eczema. Xerose é uma característica da pele do indivíduo atópico e é decorrente de alteração na filagrina contida nos grânulos de cerato-hialina. Há uma diminuição da secreção sebácea com redução do número e do tamanho das glândulas sebáceas. O estresse induzido no atópico provoca eritema e prurido nas áreas de eczema. O perfil da personalidade desses indivíduos também é peculiar, envolvendo labilidade emocional, hiper-reatividade, agressividade reprimida, insegurança e inteligência superior à média. A ocorrência de história familial de atopia em até 70% dos casos de DA assegura o caráter hereditário, sendo provavelmente de herança poligênica. Entretanto, as alterações genéticas isoladas não são capazes de causar dermatite atópica, mas quando associadas ao uso de agentes que causam dano à barreira, como sabonetes e uso crônico de corticosteroides tópicos, a função epidérmica pode ser prejudicada, ocorrendo o aparecimento das lesões (ADDOR; AOKI, 2010). Quanto à herança materna e paterna, inquéritos de base populacional mostram que o risco de crianças desenvolverem atopia é maior quando a mãe é atópica do que quando o pai possui esse antecedente (ROOK; WILKINSON; EBLING, 2010). A imunopatologia do eczema atópico é complexa e controversa, envolvendo distúrbios da imunidade humoral, imunidade celular e disfunção de outras células imunes. Imunidade humoral: O eczema atópico é associado à elevada produção de IgE e à reatividade alterada da pele e das mucosas, com aumento da suscetibilidade a reações anafiláticas. Aumento dos níveis séricos de IgE ocorre em 80% dos indivíduos com eczema atópico, e parece ter correlação P2 - dermatite atópica 3 com a extensão e gravidade da doença e com asma e/ou rinite alérgica. Além disso, existe aumento dos níveis séricos de IgE com especificidade a antígenos alimentares e, principalmente, inalantes. Imunidade celular: os portadores de DA apresentam diminuição de respostas de hipersensibilidade retardada (que se correlaciona inversamente com os níveis séricos de IgE), evidenciando-se por menor incidência de eczema de contato e respostas a antígenos intradérmicos fúngicos (candidina), bacterianos (PPD, SKD) e virais, além de serem menos suscetíveis à sensibilização pelo DNCB. Observa-se também diminuição no número de linfócitos T circulantes, particularmente os linfócitos T supressores (Ts), alterando a proporção CD4+/CD8+, que passa a ser de 7:1. O aumento do número de null cells circulantes parece corresponder a células T imaturas. Ocorre ainda diminuição da resposta in vitro dos linfócitos a antígenos microbianos e do número e atividade dos linfócitos natural killer. A lesão eczematosa que ocorre na dermatite atópica é própria da reação tipo IV envolvendo imunidade celular, e o infiltrado linfocitário dérmico das lesões eczematosas é composto, predominantemente, por linfócitos auxiliadores (CD4+). Conhecer as manifestações clínicas da DA nas diferentes faixas etárias. A idade de início costuma ocorrer entre os dois e seis meses de idade na maioria dos casos. A distribuição das lesões varia de acordo com a idade do paciente. Para Azulay, a dermatite atópica pode-se dividir nas seguintes fases: infantil, pré-puberal e adolescentes-adultos, podendo evoluir de uma fase para outra, ou iniciar-se em qualquer uma delas. Para ele, a DA infantil (até 2 anos) surge, em geral, entre os 3 e 6 meses como áreas eritematocrostosas, inicialmente nas regiões malares, disseminando-se, principalmente, para o couro cabeludo, pescoço, fronte, punhos, face de extensão de membros e área das fraldas. Dentição, infecções, distúrbios emocionais, alterações ambientais (temperatura e umidade), imunizações e outros fatores podem agravá-la ou desencadeá-la. Antígenos alimentares (ovo, castanha, leite, peixe, soja, galinha e aditivos alimentares) podem ter papel importante até o final dessa fase. Ao término do 2 o ano de vida, observa-se resolução espontânea em menos da metade dos casos; na maioria, as lesões tornam-se menos exsudativas, mais papulosas e com tendência a liquenificação, comprometendo principalmente as dobras antecubitais e poplíteas, punhos, pálpebras, face e pescoço. O surgimento de vesiculação P2 - dermatite atópica 4 aguda, localizada ou generalizada, sugere infecção secundária bacteriana ou viral. Nessa fase, aumenta a hipersensibilidade a inalantes (pelo de animais, pólen, penas e poeira domiciliar – ácaros). Observa-se incidência aumentada, nos atópicos, de hipersensibilidade a níquel, neomicina, oleorresinas e lanolina. Com a chegada da adolescência, as lesões se tornam papulodescamativas e, mais caracteristicamente, liquenificadas, sujeitas a surtos de agudização. No adulto, sua distribuição usual é típica e compreende dobras antecubitais e poplíteas, sendo também frequente o comprometimento do pescoço, pálpebras, mãos e punhos. A doença tende a atenuar com a idade, sendo rara sua persistência após os 30 anos. Já para Rook, Nos primeiros 18 meses de vida, as áreas mais acometidas são a face (regiões malares) e a superfície de extensão dos membros inferiores e superiores, podendo em alguns casos ser generalizadas (ROOK; WILKINSON; EBLING, 2010). As lesões são do tipo inflamatório agudo: eritêmato- vesicodescamativas, secretantes e crostosas. O prurido é intenso, porém não costuma aparecer liquenificação. A infecção secundária por S. aureus é frequente (ROTTA, 2008). A área da fralda costuma ser poupada (WOLFF et al., 2008; ROOK; WILKINSON; EBLING, 2010). A doença evolui por surtos e costuma melhorar após os dois anos. Se as lesões persistem, mudam de característica e de localização (ROTTA, 2008). Após os 18 meses e antes da fase adulta, as lesões localizam-se preferencialmente nas dobras cubitais, poplíteas, lateral do pescoço, punhos e tornozelos. As lesões são eritemato-descamativas e liquenificadas, mas há fases de agudização com eritema, vesiculação e secreção. O prurido é intenso. A evolução ocorre em surtos e tende a melhorar durante a puberdade (ROOK; WILKINSON; EBLING, 2010; ROTTA, 2008). Na idade adulta,as lesões são semelhantes às das crianças maiores. Existe prurido intenso e liquenificação mais acentuada, e a localização preferencial são as áreas flexurais. Na mulher pode ocorrer acometimento da pele ao redor dos mamilos. O vermelhão do lábio e a pele adjacente podem apresentar sinais de acometimento (ROOK; WILKINSON; EBLING, 2010). Em todas as fases, cerca de 30 a 50% dos pacientes possuem manifestações de asma e/ou rinite. O antecedente familiar de manifestações alérgicas como eczema, asma ou P2 - dermatite atópica 5 rinite está presente em cerca de 70% dos casos (ROOK; WILKINSON; EBLING, 2010; SAMPAIO; RIVITTI, 2008). Citar os principais fatores desencadeantes para a dermatite atópica. Estresse emocional, coçadura, a xerodermia e afastar os agravantes (sabões, lã, extremos de temperatura, baixa umidade ambiente, exposição a antígenos inalantes, banhos demorados e quentes, roupas sintéticas, substâncias irritantes à pele) Entender a investigação utilizada para a dermatite atópica e como realizá- las. O diagnóstico é basicamente clínico, corroborado muitas vezes por uma história pessoal ou familial de atopia; eosinofilia e aumento da IgE circulante podem reforçá-lo. A confirmação diagnóstica é feita por meio dos critérios apresentados na tradicional classificação de Hanifin e Rajka. É necessária a associação de um mínimo de 3 critérios maiores a 3 menores. Características maiores (deve ter 3 ou mais) Prurido Morfologia e distribuições típicas Liquenicação flexural em adultos Envolvimento facial e extensor em lactentes e crianças Dermatite – crônica ou cronicamente recorrente História pessoal ou familiar de atopia – asma, rinite alérgica, dermatite atópica Características menores (deve ter 3 ou mais) Catarata (anterior sub capsular) Ceratocone Ceratose pilar Conjuntivite – recorrente Dermatite das mãos – não alérgica irritativa Dermatite dos mamilos P2 - dermatite atópica 6 Dermograͅsmo branco Eczema – acentuação perifolicular Escurecimento periorbital Hiperlinearidade palmar Ictiose IgE elevada Infecções (cutâneas) – Staphylococcusaureus, herpes simples Intolerância à lã Intolerância alimentar Palidez facial/eritema facial Pitiríase alba Prega infraorbital (linhas de Dennie-Morgan) Prurido quando transpira Queilite Reativida de cutânea imediata (tipo1) Xerose 0 a 14: dermatite atópica leve 15 a 40: dermatite atópica moderada acima de 41: dermatite atópica grave. Neste contexto, a soma total seria 83 e nos casos de dermatite grave e desfigurante na face acrescentam-se 10 pontos; nesse caso, a pontuação máxima será 93. Compreender a conduta terapêutica na crise e na manutenção, e as orientações educacionais. Durante crise BANHO: O banho é importante para a retirada de alérgenos e sujidades da pele. Não deve ser muito demorado nem muito quente. P2 - dermatite atópica 7 Não existe consenso na literatura em relação ao número de banhos por dia, tipo (banheira ou chuveiro) e duração. Considera-se adequado pelo menos um banho ao dia. Adaptações podem ser utilizadas levando-se em consideração os hábitos familiares e o clima. Todos os fatores que ressecam a pele devem ser evitados, como banhos muito prolongados, água muito quente e excesso de sabonete. Sabonetes com detergentes sintéticos (syndet) ou mais suaves são mais indicados. Em locais muito quentes pode ser necessário mais de um banho ao dia, já que o suor isoladamente é um fator agravante da dermatite. HIDRATAÇÃO: Existem muitas opções de hidratantes para uso na criança atópica. Recomendam-se formulações livres de fragrâncias, aditivos e/ou componentes potencialmente sensibilizantes. A hidratação da pele é mais eficaz logo após o banho, com quantidade generosa do produto. Considera-se que o consumo de hidratante no lactente é de 200 g por semana, na infância de 300 a 500 g/semana e no adulto acima de 500 g /semana. Qualquer fator que danifique uma barreira cutânea já alterada como banhos excessivos sem adequada hidratação posterior, ambientes com baixa umidade, estresse emocional, hiperaquecimento da pele, exposição da pele a solventes e/ou detergentes e uso de roupas sintéticas ou muito oclusivas são fatores exacerbantes. Como o atópico geralmente responde mais rapidamente a estímulos pruriginosos, qualquer estímulo que provoque coceira deve ser evitado. Corticosteroides tópicos: São considerados a primeira opção de tratamento quando os hidratantes não controlam o quadro. A escolha do corticosteroide tópico dependerá da idade do paciente e da área e extensão do acometimento. Os corticosteroides tópicos são classificados em mais ou menos potentes, de acordo com sua capacidade de levar à vasoconstrição local. Recomenda-se o uso de P2 - dermatite atópica 8 corticosteroides de baixa à média potência para o controle das crises, uma a duas vezes ao dia. Especial atenção deve ser dada às áreas de dobras e à região da face, restringindo-se o uso nesses locais ao mínimo necessário. Assim que o eczema é controlado, o corticosteroide deve ser suspenso. Novos cursos de tratamento podem ser realizados. O uso de corticosteroides tópicos de alta ou muito alta potência deve ser restrito a pequenas áreas de acometimento, por curtos períodos. A quantidade a ser aplicada também é importante. Deve-se aplicar o mínimo que cubra a lesão com desaparecimento completo do produto. Denomina-se tratamento proativo o uso do corticosteroide tópico duas vezes na semana (dias consecutivos ou não) naquelas áreas em que o eczema sempre recidiva. Esse tratamento é utilizado mesmo na ausência de lesões ativas, com o fim de reduzir o índice de recidivas. Tem-se mostrado eficaz tanto em crianças como em adultos. Os efeitos colaterais associados ao uso de corticosteroide tópicos mais comuns são a atrofia da pele, estrias e supressão de eixo adrenohipófise- hipotálamo. Esses efeitos são mais descritos quando corticosteroides de alta ou muita alta potência são utilizados por muito tempo e em grandes superfícies corporais. Antibióticos tópicos, sistêmicos e antissépticos: Os pacientes com DA são mais suscetíveis a infecções bacterianas. A presença do Staphylococcus aureus, com ou sem infecção, é suficiente para desencadear uma reação inflamatória da pele. Diante de infecção cutânea evidente (pústulas e/ou crostas melicéricas), recomenda-se a coleta do material para exame de cultura e o início de antibiótico sistêmico. O antibiótico sistêmico deve ser associado ao tratamento tópico da DA, incluindo o uso concomitante de corticosteroide tópico. Alguns pacientes podem se beneficiar com o tratamento da colonização bacteriana com banhos de imersão com hipoclorito de sódio diluído. Pacientes com DA extensa e infecções de pele de repetição foram tratados com antibiótico sistêmico durante o processo infeccioso por duas semanas, associado a banhos de imersão com hipoclorito de sódio (1 mL de hipoclorito de sódio 5% em 1 litro de água) duas vezes por semana e muporicina intranasal duas vezes ao dia, sete dias ao mês, por três meses, com melhora da intensidade da dermatite P2 - dermatite atópica 9 Identificar as complicações da DA. Os pacientes atópicos estão mais predispostos a infecções de pele devido à barreira cutânea comprometida. O Staphylococcus aureus é um agente causal frequente e, além disso, um colonizador da pele do atópico. A taxa de colonização no paciente com DA varia de 40 a 90%, conforme o estudo. Sua presença, mesmo sem infecção, é suficiente para desencadear uma reação inflamatória da pele via toxinas que agem como super antígenos. A infecção estreptocócica também é uma preocupação. Nem sempre é diagnosticada rapidamente e pode levar a complicações graves como infecções bacterianas invasivas e septicemias. Eczema herpeticum é uma complicação muito temida e em um estudo retrospectivo 57% dos pacientes necessitaram de hospitalização e terapia antiviral intravenosa.
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