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1 Stephanie Gobira Reis Silva- estudante de medicina do 3ºP da FASA Objetivo 1) Compreender a etiologia, fatores de risco, fisiopatologia, manifestações clínicas e complicações da pericardite (derrame pericárdico e tamponamento cardíaco). Pericardite aguda INTRODUÇÃO O pericárdio consiste de duas membranas {visceral e parietal) que envolvem o coração, e entre elas encontra-se normalmente cerca de 15 a 50 mL de um líquido seroso e claro. Acredita-se que esse líquido pericárdico aja como lubrificante, diminuindo a fricção do coração durante o ciclo cardíaco. Além disso, o líquido pericárdico teria a função de reservatório de moduladores parácrinos, como prostanoides, peptídeos natriuréticos e endotelinas, que podem regular os tônus simpático e coronário, a frequência cardíaca e a pressão arterial (PA), além do possível papel imunológico. O pericárdio visceral está intimamente ligado ao coração, à aorta, à artéria pulmonar e às veias cavas e permite a fixação do tecido adiposo (cujo interior é onde se localizam vasos epicárdicos e fibras nervosas autonômicas) ao miocárdio. O pericárdio parietal é constituído de colágenos tipos I e 111 e elastina, de espessura que varia de 1 a 2 mm, portanto mais resistente, e tem a importante função de fixar o coração à cavidade torácica. O pericárdio não é essencial para a função cardíaca, no entanto grande acúmulo de líquido pericárdico ou espessamento dessa membrana pode causar consequências clínicas significativas. Pericardite é o processo inflamatório do pericárdio e pode ser de causa primária ou secundária a diversas doenças sistêmicas. As formas agudas e recorrentes são as mais comuns na prática clínica. O termo pericardite aguda é geralmente utilizado para o primeiro episódio da doença, ao passo que pericardite recorrente se refere literalmente à recorrência após a remissão inicial, independentemente do intervalo de tempo de reaparecimento. Já o termo pericardite crônica é muito usado para aqueles casos de pericardite de curso prolongado, arbitrariamente definido como superior a três meses. ETIOLOGIA A pericardite idiopática é a forma mais comum de apresentação da pericardite aguda, representando 90% dos casos. Sabe-se que na maioria desses casos a etiologia é viral e, habitualmente, não se faz pesquisa viral de rotina na prática clínica em razão da relação custo-benefício. Em formas não benignas, pode ser importante a identificação viral por métodos de biologia molecular, como PCR e hibridização in situ. A decisão de estender a pesquisa diagnóstica deve ser individualizada, considerando principalmente Prece maometana 2 Stephanie Gobira Reis Silva- estudante de medicina do 3ºP da FASA a gravidade do caso. Além das pericardites idiopáticas ou virais, várias doenças também podem cursar com pericardite, tornando extensa a lista de causas potenciais. A pericardite pode ser a primeira manifestação de uma doença sistêmica (em geral autoimune), neoplásica ou tuberculosa. Cada uma dessas doenças apresenta a frequência de 5% dos casos não selecionados em países desenvolvidos. No Brasil, certamente a etiologia tuberculosa é muito superior em relação aos países desenvolvidos. Em geral, as causas de pericardite aguda podem ser subdivididas em infecciosas e não infecciosas. As de origem não infecciosa incluem etiologias autoimunes (relacionadas a lesão do pericárdio, doença do tecido conectivo e formas autorreativas), neoplásicas, desordens metabólicas e pericardites traumáticas. Os agentes infecciosos capazes de causar pericardite incluem vírus, bactérias, fungos e parasitas. Na prática clínica, a maioria dos casos de pericardite aguda acaba sendo classificada como idiopática (90%) e tem presumivelmente etiologia viral. As pericardites virais são a principal causa de infecção do pericárdio. A ação inflamatória é decorrente da ação direta do vírus ou da resposta imunológica. As manifestações da doença ocorrem uma a três semanas após um quadro de infecção viral. Acometem preferencialmente indivíduos jovens e têm manifestação clínica em geral autolimitada, sendo o tratamento clínico suficiente para promover alívio dos sintomas e prevenir complicações. Aumentos de cerca de quatro vezes nos níveis séricos de anticorpos são sugestivos, entretanto ainda não são diagnósticos para pericardite viral. O diagnóstico etiológico específico pode ser obtido por meio da análise do líquido pericárdico ou do material de biópsia do pericárdio seguida de análise por métodos imuno-histoquímicos. No curso de uma pericardite não complicada, em indivíduos sadios, essa análise se faz desnecessária, e o tratamento é direcionado à resolução dos sintomas. As pericardites bacterianas são raras em adultos e exibem taxa elevada de mortalidade, em torno de 40%. O acometimento do pericárdio, mais comumente, ocorre por extensão direta de uma pneumonia ou empiema. Além disso, a via hematogênica durante uma bacteremia e contaminação após cirurgia torácica ou trauma também são importantes. 13 A pericardiocentese - ou, preferencialmente, a drenagem pericárdica - deve ser realizada com obtenção de líquido para cultura. A lavagem do espaço pericárdico, combinada com a administração de antibióticos sistêmicos e, eventualmente, no espaço pericárdico, constitui o tratamento-padrão. A pericardiectomia pode ser necessária no caso de aderências, manutenção de infecção, tamponamento cardíaco recorrente ou constrição pericárdica. Os agentes etiológicos mais comuns são estafilococos, pneumococos e estreptococos. Nos últimos anos, tem sido expressivo o número de casos de pericardite tuberculosa, principalmente em indivíduos imunocomprometidos, em especial naqueles infectados pelo vírus HIV. A mortalidade em pacientes não tratados chega a 85%, e a evolução para constrição pericárdica a 30- 40%. O diagnóstico se faz pela identificação do Mycobacterium tuberculosis no líquido e/ ou no tecido pericárdico. Pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM) transmural frequentemente são acometidos por diferentes formas de pericardite. Em geral, entre o terceiro e o sétimo dia de evolução, quase metade dos pacientes apresenta inflamação do pericárdio subjacente à área infartada, podendo se traduzir por dor pleurítica ou surgimento de atrito pericárdico, mesmo em indivíduos assintomáticos. Em pacientes com insuficiência renal, são descritas duas formas de pericardite: a urêmica e a dialítica. 3 Stephanie Gobira Reis Silva- estudante de medicina do 3ºP da FASA O termo pericardite urêmica é utilizado para pericardite que ocorre antes do início da diálise e até oito semanas após. A incidência é de 6% a 10% em pacientes com insuficiência renal avançada, aguda ou crônica; sua ocorrência está correlacionada com os níveis de ureia e creatinina. Metabólitos tóxicos, hipercalcemia, hiperuricemia e mecanismos hemorrágicos, virais e autoimunes têm sido propostos como fatores etiológicos. A pericardite dialítica é a pericardite que ocorre após oito semanas do início da diálise e é observada em cerca de 13% dos pacientes nessa situação. Essa forma de pericardite é decorrente de diálise inadequada e hipervolemia. O diagnóstico de pericardite autoimune pode ser feito de acordo com os seguintes critérios: aumento do número de linfócitos e mononucleares maior que 5.000/mm3 (autorreativa linfocítica) ou presença de anticorpos contra o tecido miocárdico (antisarcolemal) e líquido pericárdico (autorreativo anticorpo mediado); inflamação nas biópsias epicárdicas/ endomiocárdicas maior ou igual a 14 células/mm2; exclusão de infecção viral ativa no líquido pericárdico e biópsias; infecção por tuberculose, Borrelia burgdorferi, Chlamydia pneumoniae e outras infecções bacterianas excluídas por PCR e/ ou culturas; ausência de neoplasia nas amostras examinadas; exclusãode desordens metabólicas sistêmicas e uremia. A pericardite autoimune ocorre quando há: artrite reumatoide, lúpus eritematoso sistêmico, esclerose sistêmica progressiva, polimiosite/ dermatomiosite, doença mista do tecido conjuntivo, espondiloartropatias seronegativas, síndrome de Behçet, granulomatose de Wegener e sarcoidose. Nesses casos, a intensificação do tratamento da doença sistêmica e o tratamento sintomático são indicados. FATORES DE RISCO 1. Sexo masculino: a pericardite aguda é descrita com maior frequência em homens, em particular na forma viral, para a qual há uma proporção de 3:1 entre homens e mulheres. 2. Idade entre 20 e 50 anos: esse distúrbio é descrito com maior frequência em adultos com idade entre 20 e 50 anos. 3. Infarto agudo do miocárdio (IAM) transmural: após o IAM, podem ocorrer duas formas de pericardite: "precoce" (pericardite epistenocárdica) e "tardia" (síndrome de Dressler). A forma precoce é causada pela inflamação local na borda do IAM epicárdico com exsudação direta. 4 Stephanie Gobira Reis Silva- estudante de medicina do 3ºP da FASA Ocorre em 5% a 20% dos IAMs transmurais, mas geralmente não é reconhecida clinicamente. A forma tardia ocorre dentro de 1 semana a vários meses após o infarto, e não é necessário que tenha havido um infarto transmural. Sua incidência é de 0.5% a 5% (e <0.5% em pacientes tratados com trombolíticos). A incidência da pericardite após o IAM transmural diminuiu desde o início do uso de trombolíticos e da revascularização miocárdica. 4. Cirurgia cardíaca: a síndrome pós- pericardiotomia foi relatada em até 20% dos casos 4 semanas após o enxerto coronariano. Ela se desenvolve dentro de dias até meses do período pós-operatório. Em comparação com a síndrome pós- infarto, há uma resposta maior de antimiocárdio (antissarcolêmicos e antifibrilatório) com uma maior liberação de antígenos. 5. Neoplasia: a pericardite geralmente resulta de uma invasão de um tumor local, da disseminação linfática ou hematogênica de uma neoplasia maligna. A doença pericárdica maligna primária é rara. 6. Infecção viral e infecção bacteriana: a pericardite viral é a causa mais comum de infecção pericárdica. A inflamação é decorrente do ataque viral direto e/ou de uma resposta imune (antiviral ou anticardíaca). A pericardite bacteriana é uma pericardite purulenta causada por patógenos bacterianos e ocorre em 5% dos casos. A infecção pericárdica pode ocorrer por disseminação hematogênica ou por extensão direta oriunda de órgãos adjacentes, em especial dos pulmões e/ou do espaço pleural. 7. Uremia ou em diálise: existem duas formas: pericardite urêmica e pericardite associada à diálise. A pericardite urêmica é relatada em 6% a 10% dos pacientes com insuficiência renal aguda ou crônica, antes ou logo após a institição da diálise. A probabilidade de ocorrência da pericardite aumenta com a intensidade da azotemia (nitrogênio ureico no sangue >21.4 mmol/L [>60 mg/dL]). A pericardite associada à diálise é relatada em até 13% dos pacientes que recebem hemodiálise crônica. 8. Doenças autoimunes sistêmicas: normalmente, a pericardite está associada a doenças como artrite reumatoide e lúpus, mas nem sempre se apresenta clinicamente. FISIOPATOLOGIA Na pericardite, o exame microscópico de espécimes pericárdicos obtidos em cirurgia (p. ex., desnudamento ou janela) ou necropsia mostra sinais de inflamação aguda, com números elevados de leucócitos polimorfonucleares, vascularidade aumentada e depósito de fibrina. Se a inflamação for de longa duração, o pericárdio pode se tornar fibroso e com retração cicatricial, com depósitos de cálcio. O pericárdio altamente fibrótico pode inibir o enchimento dos ventrículos. Neste ponto, aparecem os sinais de pericardite constritiva. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As manifestações clínicas da pericardite aguda constituem a tríade de dor torácica, atrito pericárdico e alterações do eletrocardiograma (ECG). Podem variar de acordo com o agente etiológico. Quase todos os pacientes com pericardite aguda referem dor torácica. Em geral, a dor tem início repentino, é bem demarcada na área precordial e pode irradiar ao pescoço, dorso, abdome ou lado do tórax. A dor na crista escapular pode ser causada pela irritação do nervo frênico. Nos casos típicos, em razão das alterações do retorno venoso e do enchimento cardíaco, a dor piora quando o paciente respira profundamente, tosse, deglute e muda de posição. Em muitos casos, o paciente sente alívio na posição sentada e inclinado para frente. É importante notar a diferença entre a dor torácica causada 5 Stephanie Gobira Reis Silva- estudante de medicina do 3ºP da FASA pela pericardite e a do infarto do miocárdio ou da embolia pulmonar. COMPLICAÇÕES 1. Pericardite crônica; 2. Pericardite constritiva; 3. Tamponamento cardíaco; 4. Complicações bacterianas: as bactérias têm um papel vital em complicar a pericardite. Em muitos casos da pericardite bacteriana, a infecção é provocada de algumas das partes do corpo. Por exemplo, um paciente com tuberculose (infecção nos pulmões) é pericardite bacteriana inclinada se o pericárdio é alcançado diretamente pelas bactérias ou através da circulação sanguínea. Às vezes, estas infecções acumulam pus no coração ou no pericárdio, que são chamados um abcesso; 5. Parada cardíaca crônica: uma outra condição séria prevista é o myopericarditis, que é causado por uma inflamação no miocárdio ou dano ao tecido cardíaco devido a um ataque cardíaco. É chamado igualmente pericardite cargo-miocárdica (MI) do infarto ou pericardite do ataque do cargo-coração; 6. Pericardite periódica: a complicação a mais problemática da pericardite aguda é pericardite periódica ou da recaída. Pericardite Crônica PERICARDITE RECORRENTE A pericardite recorrente se caracteriza por episódios repetidos de pericardite, com caráter incessante ou intermitente, em um processo de provável etiologia autoimune. São considerados intermitentes os casos em que há um intervalo de pelo menos seis semanas entre as crises. Quando o intervalo é menor que seis semanas, define-se a pericardite incessante. A incidência varia de acordo com a etiologia e acomete em média 30% dos pacientes, comumente entre o 18° e 20° mês após o evento inicial. As principais causas de pericardite recorrente são: pericardite viral/ idiopática, síndrome pós-pericardiotomia e pós-infarto agudo do miocárdio (IAM). Tuberculose, neoplasias e pericardites bacterianas habitualmente não cursam com recorrência. DIAGNÓSTICO E QUADRO CLÍNICO O diagnóstico da pericardite recorrente é realizado em pacientes com pericardite aguda prévia documentada, dor torácica sugestiva e quando há a presença de um dos seguintes critérios: Alterações no ECG: supradesnivelamento difuso do segmento ST, infradesnivelamento de PR. Atrito pericárdico. Derrame pericárdico novo ou piora do preexistente ao ecocardiograma. Elevação de PCR e/ ou VHS. Leucocitose. Comumente os sintomas na recorrência são menos intensos em relação ao primeiro episódio. A dor torácica é o sintoma mais frequente e habitualmente tem caráter pleurítico, com melhora quando o paciente se senta e com piora quando se deita. 6 Stephanie Gobira Reis Silva- estudante de medicina do 3ºP da FASA TRATAMENTO O tratamento da pericardite recorrente objetiva o alívio dos sintomas, a melhora da qualidade de vida e a prevenção de complicações. Recomenda-se a investigação etiológica nesses pacientes em busca de causas potencialmente reversíveis e com tratamento específico (p. ex., tuberculose, doenças autoimunes). As principais opções terapêuticas para os casos idiopáticos são: Anti-inflamatórios não hormonais: estão indicados como primeira opção em todos os casos de pericardite recorrente que não apresentemcontraindicação. Recomenda-se ácido acetilsalicílico (AAS) na dose de 800 mg, a cada oito horas, ou ibuprofeno da dose de 600 mg, a cada oito horas, em associação com a colchicina. Colchicina: a colchicina está indicada se associada aos anti-inflamatórios em todos os casos de pericardite recorrente que não apresentem contraindicações. Deve ser utilizada na dose de 0,5 mg, duas vezes ao dia por seis meses. Corticoides: o uso de corticoide está associado à melhora rápida dos sintomas à custa de aumento das taxas de recidiva. A droga de escolha é a prednisona na dose de 0,2 a 0,5 mg/kg. Após controle da crise e normalização das provas de atividade inflamatória deve-se reduzir a dose de maneira lenta e gradual, usualmente em 1 a 2 mg por semana. Imunossupressores: em pacientes com pericardite recorrente idiopática refratária ao tratamento com corticoides podem ser utilizados imunossupressores em associação aos corticoides e à colchicina. A droga de escolha é azatioprina, na dose de 2 a 3 mg/kg/dia. lmunoglobulina humana: pequenas séries de casos sugerem beneficio da imunoglobulina em pacientes com pericardite recorrente. A dose recomendada é 500 mg/kg/ dia por cinco dias consecutivos. Antagonista do receptor de interleucina-1: em pacientes refratários ou com intolerância ao uso de corticoides e imunossupressores, o uso de anakinra, um antagonista do receptor de IL-1 utilizado no tratamento da artrite reumatoide, pode ser considerado. A dose recomendada é 100 mgl dia, uso subcutâneo por três meses. Pericardiectomia: a cirurgia de ressecção do pericárdio pode ser indicada em pacientes com sintomas refratários ao tratamento clínico ou com sinais de complicações como pericardite constritiva e tamponamento. Os pacientes com pericardite recorrente idiopática raramente evoluem com tamponamento cardíaco (3,5% dos casos) ou pericardite constritiva (menos de 1% dos casos). A ocorrência dessas complicações parece estar mais ligada à etiologia da pericardite (p. ex., tuberculose, infecção bacteriana) do que ao número de eventos. As principais complicações da doença são as repetidas crises que comprometem a qualidade de vida e os efeitos colaterais das drogas utilizadas no tratamento (insuficiência renal, síndrome de Cushing, infecções oportunistas). Derrame pericárdico e tamponamento cardíaco INTRODUÇÃO Derrame pericárdico é a acumulação de líquido na cavidade pericárdica, geralmente em consequência de um processo infeccioso ou inflamatório. Essa condição também pode ser causada por neoplasias, cirurgia cardíaca, traumatismo, ruptura cardíaca secundária a um infarto do miocárdio e aneurisma dissecante da aorta. A cavidade pericárdica tem pouco volume de reserva. A relação de pressão-volume entre os volumes cardíaco e pericárdico normais pode ser dramaticamente afetada por quantidades pequenas de líquido, 7 Stephanie Gobira Reis Silva- estudante de medicina do 3ºP da FASA quando são alcançados níveis críticos de derrame. Como as pressões de enchimento do coração direito são menores do que as do coração esquerdo, as elevações de pressão geralmente são detectadas por sinais e sintomas de insuficiência cardíaca direita, até que se consiga a equalização das pressões. ETIOLOGIA Quase qualquer causa de pericardite pode provocar derrame pericárdico. PATOGÊNESE O volume de líquido, a velocidade de acumulação e a elasticidade do pericárdio determinam o efeito causado pelo derrame pericárdico na função cardíaca. Derrames pericárdicos pequenos podem ser assintomáticos, ou causar algumas anormalidades clínicas. Mesmo os derrames volumosos que se acumulam lentamente podem causar poucos sintomas ou nenhum, contanto que o pericárdio consiga estirar-se e evitar a compressão do coração. Contudo, a acumulação rápida de apenas 200 ml pode aumentar a pressão intracardíaca a níveis que limitam gravemente o retorno venoso ao coração. Os sinais e sintomas de compressão cardíaca também podem ocorrer com acúmulos relativamente pequenos de líquidos quando o pericárdio está espessado por tecidos fibróticos ou infiltrados neoplásicos. O derrame pericárdico pode causar uma condição conhecida como tamponamento cardíaco, na qual há compressão do coração em consequência da acumulação de líquido, pus ou sangue no saco pericárdico. Essa condição potencialmente fatal pode ser causada por infecções, neoplasias e hemorragia. O tamponamento cardíaco aumenta a pressão intracardíaca, causa limitação progressiva do enchimento diastólico dos ventrículos e diminui o volume ejetado e o débito cardíaco. A gravidade do quadro depende do volume de líquido e da velocidade com que se acumula. A acumulação significativa de líquido no saco pericárdico aumenta a estimulação adrenérgica, causando taquicardia e aumento da contratilidade cardíaca. Também há elevação da pressão venosa central, distensão das veias jugulares, redução da pressão arterial sistólica, redução da pressão do pulso e sinais de choque circulatório. As bulhas cardíacas podem ser abafadas em razão dos efeitos isolantes do líquido pericárdico e da função cardíaca deprimida. Em geral, os pacientes que desenvolvem lentamente tamponamento cardíaco apresentam sinais de doença aguda, mas não tão dramáticos quanto os observados nos casos de tamponamento com evolução rápida. Tamponamento cardíaco O saco pericárdico contém uma pequena quantidade de líquido (30 a 50 ml) que envolve o coração. Quando uma quantidade significativa de líquido se acumula e ultrapassa a capacidade de distensão do tecido fibroelástico pericárdico, ocorre progressiva compressão de todas as câmaras cardíacas decorrente do aumento da pressão intrapericárdica, redução do volume de enchimento cardíaco e maior interdependência ventricular. O desenvolvimento do tamponamento depende da velocidade de instalação e do fator causal: o tamponamento cardíaco agudo ocorre em minutos, devido ao trauma, ruptura do coração e aorta, ou como complicação de procedimentos diagnósticos e terapêuticos (biópsias cardíacas, estudo eletrofisiológico, oclusão de apêndice atrial, oclusores de septo interatrial etc.), resultando num quadro de choque. Já o tamponamento cardíaco subagudo ocorre entre dias e semanas e poder estar associado com dispneia e fadiga. Tamponamento de baixa pressão (oculto) ocorre em pacientes que estão hipovolêmicos, com consequente redução da pressão intracardíaca, favorecendo a compressão extrínseca do derrame pericárdico. Tamponamento cardíaco regional ocorre quando um derrame localizado ou um hematoma produz compressão regional em uma única câmara. 8 Stephanie Gobira Reis Silva- estudante de medicina do 3ºP da FASA O diagnóstico é clínico, baseado na história e no exame físico: taquicardia, pressão venosa elevada, hipotensão arterial e a presença de pulso arterial paradoxal. Efeitos da respiração e do tamponamento cardíaco no enchimento ventricular e no débito cardíaco. Durante a inspiração, o fluxo venoso ao coração direito aumenta, provocando abaulamento do septo interventricular para dentro do VE. Isso diminui o volume ventricular esquerdo e causa redução subsequente do volume ejetado. Com o tamponamento cardíaco, o líquido acumulado no saco pericárdico comprime ainda mais o VE e acentua as reduções inspiratórias normais do volume ejetado e da pressão arterial sistólica. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A apresentação clínica do derrame pericárdico depende basicamente da etiologia, do tamanho e da velocidade de acúmulo de líquido no espaço pericárdico. Derrames pequenos, em geral, não causam restrição ao enchimento das câmaras cardíacas e não determinam sintomas. As manifestações clínicas do derrame pericárdico sem tamponamento são semelhantes às da pericardite. No tamponamento pericárdico, tem-se: a) Dispneia: é osintoma mais comum de tamponamento cardíaco. A patogênese provavelmente está relacionada com uma redução do débito cardíaco e, em alguns pacientes, com a presença de edema pulmonar. b) Pressão venosa jugular elevada: turgência jugular. Além disso, o tamponamento altera a dinâmica do enchimento atrial. Normalmente, o enchimento atrial ocorre primeiro durante a ejeção ventricular (descida y) e, depois, quando a valva tricúspide se abre (descida x). No tamponamento cardíaco, o átrio pode se encher durante a contração ventricular, de modo que a descida x ainda pode ser observada. Contudo, quando a valva tricúspide se abre, enchimento adicional do átrio direito é impedido porque o tamanho da câmara é limitado pelo líquido pericárdico envolvente. Por esta razão, a descida y não é observada no paciente com tamponamento pericárdico. Perda da descida y no cenário de pressões venosas jugulares elevadas sempre devem levantar a suspeita de tamponamento pericárdico. c) Hipotensão: ocorre devido ao débito cardíaco reduzido. d) Pulso paradoxal: pressão sanguínea arterial sistólica normalmente cai de 10 a 12 mmHg com a inspiração. Queda inspiratória acentuada da pressão arterial sistólica (> 20 mmHg) é um achado físico 9 Stephanie Gobira Reis Silva- estudante de medicina do 3ºP da FASA importante no diagnóstico de tamponamento cardíaco, mas também pode ser observado em doença pulmonar grave e, menos comumente, na pericardite constritiva. A diminuição acentuada do volume sistólico do ventrículo esquerdo na inspiração ocorre pela diminuição do volume diastólico final do ventrículo esquerdo. Com a inspiração, o retorno venoso aumentado amplia o enchimento do ventrículo direito, o que causa o encurvamento do septo interventricular para a esquerda e reduz o volume diastólico final do ventrículo esquerdo (efeito Bernheim invertido). Também durante a inspiração, o fluxo para o átrio esquerdo a partir das veias pulmonares está reduzido, diminuindo ainda mais a pré-carga ventricular esquerda. e) Bulhas cardíacas abafadas: as bulhas cardíacas podem ficar hipofonéticas ou indistintas devido ao líquido pericárdico. Pericardite constritiva ETIOLOGIA A pericardite constritiva é consequência da inflamação crônica do pericárdio, que se torna espessado e calcificado desencadeando restrição do enchimento diastólico dos ventrículos, queda do volume sistólico e baixo débito cardíaco. Tuberculose, pericardite bacteriana, neoplasias e cirurgia cardíaca prévia são causas frequentes da doença, que pode se manifestar de diferentes formas de acordo com a localização, a extensão e o grau de espessamento pericárdico. FISIOPATOLOGIA Na pericardite constritiva o pericárdio espessado limita a expansão dos ventrículos durante a diástole. Desse modo, no momento em que se abrem as valvas atrioventriculares, ocorre rápido enchimento dos ventrículos e aumento abrupto da pressão diastólica. Como resultado, a maior parte do enchimento ventricular ocorre no terço inicial da diástole e, a partir do momento em que o pericárdio determina a máxima expansão da cavidade, cessa o aumento de volume e de pressão em seu interior. Além disso, ocorre aumento das pressões de átrio direito, ventrículo direito e capilar pulmonar, culminando com a equalização das pressões de enchimento nas quatro câmaras cardíacas. Em virtude da restrição diastólica e menor tensão parietal, postula -se que ocorra menor estímulo à liberação de peptídeo natriurético tipo B. Em pacientes com fisiologia constritiva, a inspiração determina aumento de retorno venoso para as câmaras direitas do coração e diminuição para as câmaras esquerdas. O ventrículo direito, ao receber maior volume sanguíneo durante a diástole, é impedido pelo 10 Stephanie Gobira Reis Silva- estudante de medicina do 3ºP da FASA pericárdio espessado de expandir sua parede livre. Como resultado, ocorre desvio do septo interventricular em direção ao ventrículo esquerdo, com consequente redução do enchimento diastólico, do volume e da pressão sistólica. Assim, ocorre um aumento das pressões de enchimento em câmaras direitas associado à redução da pré-carga em câmaras esquerdas e do débito cardíaco. Esse fenômeno é denominado interdependência ventricular, marco fisiopatológico da doença constritiva e ferramenta útil para diferenciá-la das cardiomiopatias restritivas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Ascite é um sinal inicial marcante e pode acompanhar-se de edema dos pés, dispneia aos esforços e fadiga. As veias jugulares também ficam distendidas. O sinal de Kussmaul consiste na distensão inspiratória das veias jugulares causada pela incapacidade de o átrio direito – encarcerado em seu pericárdio rígido – acomodar o aumento do retorno venoso que ocorre durante a inspiração. Intolerância aos esforços, atrofia muscular e emagrecimento ocorrem nos estágios terminais da pericardite constritiva. Objetivo 2) Analisar o traçado eletrocardiográfico da pericardite. Pericardite aguda ELETROCARDIOGRAMA Os pacientes com pericardite aguda frequentemente exibem alterações eletrocardiográficas compatíveis com inflamação do tecido epicárdico. A intensidade dessas alterações depende de características próprias do paciente, do agente etiológico, do miocárdico associado e da resposta ao tratamento efetuado. As arritmias cardíacas, principalmente as atriais, podem ocorrer em qualquer momento do curso da doença. A presença de complexos QRS de baixa amplitude sugere DP, ao passo que a alternância elétrica de morfologia e amplitude do QRS sinaliza DP volumoso e está associada a tamponamento cardíaco. As alterações eletrocardiográficas (difusas) podem ser caracterizadas em estágios de evolução de acordo com o tempo de apresentação: Estágio I (primeiras horas a dias): caracteriza-se por supradesnivelamento côncavo difuso do segmento ST e por infradesnivelamento do segmento PR. Diferencia-se do padrão isquêmico que apresenta supradesnivelamento convexo, de maior magnitude, limitado às derivações correspondentes à área do infarto, sem surgimento de ondas Q. Estágio II (primeira semana): retorno dos segmentos ST e PR aos padrões normais. Estágio III (após normalização do segmento ST): ocorre inversão difusa da onda T. Estágio IV: retorno da onda T ao padrão normal. 11 Stephanie Gobira Reis Silva- estudante de medicina do 3ºP da FASA Derrame pericárdico e tamponamento cardíaco ELETROCARDIOGRAMA Taquicardia sinusal, complexos QRS de baixa voltagem, com amplitude máxima de 5 mm em derivações do plano frontal e de 10 mm no plano horizontal. A alternância elétrica, definida como a alteração da amplitude do QRS a cada batimento, em decorrência da mobilidade do coração no fluído pericárdico (swinging heart syndrome), é um achado muito sugestivo. Achados compatíveis com pericardite aguda (inversão de T, infradesnivelamento de PR, supradesnivelamento difuso do ST) podem também estar presentes. Pericardite constritiva ELETROCARDIOGRAMA Alterações inespecíficas do segmento ST e onda T, ondas Q patológicas, complexos QRS de baixa voltagem, bloqueio atrioventricular, fibrilação atrial, sinais de sobrecarga atrial ou distúrbios da condução intraventricular. 12 Stephanie Gobira Reis Silva- estudante de medicina do 3ºP da FASA Objetivo 3) Entender as características gerais da doença autoimune. INTRODUÇÃO As doenças autoimunes são um grupo de doenças distintas que têm como origem o fato do sistema imunológico passar a produzir anticorpos contra componentes do nosso próprio organismo. Por motivos variados e nem sempre esclarecidos, o nosso corpo começa a confundir suas próprias proteínas com agentes invasores, passando a atacá-las. Portanto, uma doença autoimune é uma doençacausada pelo nosso sistema imunológico, que passa a funcionar de forma inapropriada. O QUE É SISTEMA IMUNOLÓGICO Para entender o que é uma reação autoimune é preciso antes conhecer um pouco do nosso sistema imunológico. Nosso organismo possui um complexo sistema de defesa contra invasões de agentes externos, sejam estes bactérias, vírus, fungos, parasitas, proteínas, ou qualquer outro ser ou substância que não seja natural do corpo. Este sistema de defesa é chamado de sistema imunológico. O processo evolutivo criou um mecanismo de defesa capaz de reconhecer praticamente qualquer invasão ou agressão ao nosso corpo. A complexidade do sistema está exatamente em conseguir distinguir entre: 1. O que é danoso ao organismo, como vírus e bactérias; 2. O que faz parte do nosso próprio corpo, como células, tecidos e órgãos; 3. O que não é naturalmente nosso, mas não causa danos, como, por exemplo, alimentos que entram no corpo pela boca. Toda vez que o sistema imunológico se depara com alguma substância estranha, que ele interprete como potencialmente danosa, ele passa a produzir células de defesa e anticorpos para combatê-la. Toda substância estranha capaz de desencadear uma resposta imunológica é chamada de antígeno. Durante a nossa formação enquanto feto, nosso organismo começa a criar o sistema imunológico. O primeiro trabalho é reconhecer tudo o que é próprio, para mais tarde poder reconhecer o que é estranho. O útero materno é um ambiente estéril, ou seja, livre de agentes infecciosos. Assim que nascemos somos imediatamente expostos a um “mundo hostil” com uma enormidade de antígenos. Desde o parto, o corpo começa a reconhecer, catalogar e atacar tudo que não é “original de fábrica”. Esse contato com antígenos nos primeiros anos de vida é importante para a formação de uma “biblioteca de anticorpos”. O corpo consegue montar uma resposta imune muito mais rápida se já houver dados sobre o invasor. Se o antígeno for completamente novo, é necessário algum tempo até que o organismo descubra quais os anticorpos são mais indicados para combater aquela partícula. Essa é a lógica por trás das vacinas. Expomos o paciente a um antígeno, seja ele um vírus ou bactéria, mortos ou fracos, de forma a estimular o sistema imunológico a criar anticorpos contra esses germes. Quando a bactéria de verdade nos invadir, já temos pronto um arsenal imunológico para eliminá- la rapidamente, antes que a mesma consiga provocar qualquer doença. O QUE É DOENÇA AUTOIMUNE As células nos próprios tecidos da pessoa também possuem antígenos. Normalmente, o sistema imunológico reage apenas aos antígenos de substâncias estranhas ou perigosas e não aos antígenos dos próprios tecidos da pessoa. No entanto, às vezes o sistema imunológico funciona de forma incorreta, considerando os próprios tecidos do organismo como elementos estranhos e produzindo anticorpos anômalos (denominados autoanticorpos) ou células imunológicas que vigiam e atacam determinadas células ou tecidos do organismo. Esta resposta é denominada reação autoimune. Resulta em inflamação e dano tecidual. 13 Stephanie Gobira Reis Silva- estudante de medicina do 3ºP da FASA Estes efeitos podem constituir uma doença autoimune, mas muitas pessoas produzem quantidades tão pequenas de autoanticorpos que não chegam a desenvolver uma doença autoimune. Ter autoanticorpos no sangue não significa que uma pessoa tenha uma doença autoimune. Existem muitas doenças autoimunes. Algumas das doenças autoimunes mais comuns incluem a doença de Graves, artrite reumatoide, tireoidite de Hashimoto, diabetes mellitus tipo 1, lúpus eritematoso sistêmico (lúpus) e vasculite. CAUSAS DE DOENÇAS AUTOIMUNES As reações autoimunes podem ser desencadeadas de várias formas: Uma substância normal do organismo pode sofrer uma alteração provocada por um vírus, um fármaco, a luz solar ou a radiação, por exemplo. A substância alterada pode parecer estranha ao sistema imunológico. Por exemplo, um vírus pode infetar células do organismo e, por conseguinte, alterá-las. As células infectadas pelo vírus estimulam o sistema imunológico a atacar. Uma substância estranha semelhante a uma substância natural do organismo pode penetrar no corpo. O sistema imunológico pode atacar acidentalmente a substância semelhante do organismo ao mesmo tempo que persegue a substância estranha. Por exemplo, as bactérias que causam infecções na garganta têm um antígeno semelhante a um antígeno encontrado em células cardíacas humanas. O sistema imunológico raramente ataca o coração da pessoa após uma infecção na garganta (esta reação faz parte da febre reumática). As células que controlam a produção de anticorpos, por exemplo, as células B (um tipo de glóbulo branco), podem funcionar de forma incorreta e produzir anticorpos anômalos que atacam algumas das células do corpo. Uma substância do organismo que normalmente se encontra limitada a uma área específica (estando, por conseguinte, oculta do sistema imunológico) é liberada na corrente sanguínea. Por exemplo, um soco no olho pode levar o líquido do globo ocular a passar para o fluxo sanguíneo. Esse líquido estimula o sistema imunológico a identificar o olho como estranho e a atacá-lo. Não se sabe porque algo desencadeia uma reação ou doença autoimune em uma pessoa e não em outra. Entretanto, às vezes há causas hereditárias. Algumas pessoas têm genes que as tornam um pouco mais suscetíveis a desenvolver uma doença autoimune. Esta suscetibilidade ligeiramente aumentada para desenvolver uma doença autoimune é herdada, e não a própria doença. Nas pessoas propensas a apresentar uma doença autoimune, um fator desencadeante, como uma infecção viral ou uma lesão tecidual, pode dar origem a doenças. SINTOMAS DE DOENÇAS AUTOIMUNES Os sintomas variam segundo a doença e a parte do corpo afetada. Algumas doenças autoimunes afetam determinados tipos de tecidos em todo o corpo, como os vasos sanguíneos, a cartilagem ou a pele. Existem outras doenças autoimunes que afetam um determinado órgão. Praticamente qualquer órgão, incluindo os rins, os pulmões, o coração e o cérebro, pode ser afetado. A inflamação decorrente e a lesão nos tecidos podem causar dor, deformações nas articulações, fraqueza, icterícia, prurido, dificuldade respiratória, acúmulo de líquido (edema), delírio e até a morte. Uma doença autoimune é um mau funcionamento do sistema imunológico, levando o corpo a atacar os seus próprios tecidos. 14 Stephanie Gobira Reis Silva- estudante de medicina do 3ºP da FASA DIAGNÓSTICO DE DOENÇAS AUTOIMUNES Exames de sangue; Avaliação de um médico Análises sanguíneas que indicam a presença de inflamação podem sugerir uma doença autoimune. Tais testes incluem: A velocidade de hemossedimentação (VHS): Este teste mede a velocidade com que os glóbulos vermelhos (eritrócitos) se sedimentam no fundo do tubo com sangue. Na presença de inflamação, a VHS encontra- se frequentemente aumentada, porque as proteínas produzidas em resposta à inflamação interferem na capacidade dos glóbulos vermelhos em permanecer em suspensão no sangue. Hemograma completo (CBC): Este teste inclui determinar o número de glóbulos vermelhos no sangue. Frequentemente este número está diminuído (anemia) porque há uma menor produção de glóbulos vermelhos na presença de inflamação. Visto que há muitas causas para uma inflamação (muitas das quais não são autoimunes), é frequente que o médico também solicite exames de sangue para detectar anticorpos diferentes que podem ocorrer em pessoas com doenças autoimunes específicas. Exemplos desses anticorpos são: Anticorpos antinucleares, que estão tipicamente presentes no lúpus eritematoso sistêmico. O fator reumatoide ou anticorpos contra o peptídeo citrulinado cíclico (anti-CCP), que estão tipicamente presentes na artritereumatoide. Porém, mesmo estes anticorpos às vezes ocorrem em pessoas que não apresentam uma doença autoimune, portanto o médico geralmente usa uma combinação dos resultados das análises e os sintomas da pessoa para determinar a presença de uma doença autoimune. TRATAMENTO DE DOENÇAS AUTOIMUNES Fármacos que suprimem o sistema imunológico, incluindo corticosteroides. No caso de algumas doenças autoimunes, plasmaferese e imunoglobulina intravenosa. Tratamento medicamentoso Fármacos que suprimem o sistema imunológico (imunossupressores), como azatioprina, clorambucila, ciclofosfamida, ciclosporina, micofenolato e metotrexato, são muitas vezes administrados por via oral e habitualmente por um longo período. No entanto, estes fármacos suprimem tanto a reação autoimune como a capacidade de defesa do organismo contra substâncias estranhas, inclusive micro-organismos que provocam infecções e células cancerígenas. Por conseguinte, o risco de contrair infecções e determinados tipos de câncer aumenta. É frequente que administrem corticosteroides, como prednisona, geralmente por via oral. Esses fármacos aliviam a inflamação e suprimem o sistema imunológico. A administração prolongada de corticosteroides pode ter muitos efeitos colaterais. Se possível, os corticosteroides são administrados durante pouco tempo: no início da doença ou quando os sintomas se agravam. Contudo, por vezes, é preciso utilizar os corticosteroides indefinidamente. Algumas doenças autoimunes (como a esclerose múltipla e doenças da tireoide) também são tratadas com fármacos que não são imunossupressores ou corticosteroides. O tratamento para aliviar os sintomas pode revelar-se igualmente necessário. O etanercepte, o infliximabe e o adalimumabe bloqueiam a ação do fator de necrose tumoral (FNT), uma substância que pode causar inflamação no organismo. Esses fármacos são muito eficazes no tratamento da artrite reumatoide e de algumas outras doenças autoimunes, mas podem ser 15 Stephanie Gobira Reis Silva- estudante de medicina do 3ºP da FASA prejudiciais quando utilizados para tratar determinadas doenças autoimunes, como a esclerose múltipla. Esses fármacos também aumentam o risco de infecção e certos tipos de câncer de pele. Certos fármacos novos visam especificamente os glóbulos brancos. Os glóbulos brancos ajudam a defender o organismo contra a infecção e também participam das reações autoimunes. Esses medicamentos incluem os seguintes: Abatacepte bloqueia a ativação de um tipo de glóbulos brancos (célula T) e é usado na artrite reumatoide. Rituximabe, inicialmente usado contra certos tipos de câncer nos glóbulos brancos, funciona através da depleção de certos glóbulos brancos (células B) do organismo. É eficaz em algumas doenças autoimunes, como na artrite reumatoide e em certas doenças que causam a inflamação dos vasos sanguíneos (vasculite), incluindo granulomatose com poliangeíte (anteriormente denominada de granulomatose de Wegener). Rituximabe está sendo avaliado em uma variedade de outras doenças autoimunes. Outros fármacos que visam os glóbulos brancos estão em desenvolvimento. Imunoglobulina intravenosa e plasmaferese A plasmaferese é utilizada no tratamento de algumas doenças autoimunes. Neste procedimento, o sangue é retirado e filtrado para remover proteínas anormais como autoanticorpos. Uma vez filtrado, o sangue é restituído ao paciente. Imunoglobulina intravenosa (uma solução purificada de anticorpos obtida de doadores voluntários e administrada na veia) é usada para tratar algumas doenças autoimunes. Não se sabe como funciona.
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