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1 6º SEMESTRE 2022.1 – UNIFTC Especialidades pediátricas JULIANA OLIVEIRA Cardiologia Pediátrica INTRODUÇÃO À CARDIOPED A cardiologia pediátrica é uma especialidade médica que integra conhecimentos voltados para a cardiologia e pediatria, englobando o diagnóstico, tratamento e prevenção de disfunções ou problemas congênitos e adquiridos relacionados ao coração (prevenção de doenças cardiovasculares, entra também o tratamento multidisciplinar da obesidade). Abrange o acompanhamento desde a vida fetal até os adultos com cardiopatia congênita. A cardiopatia congênita é qualquer anormalidade estrutural ou funcional do coração que surge nas primeiras 8 semanas de gestação. No Brasil, cerca de 9 a cada 1000 nascimentos são de bebês com cardiopatia congênita. E ela responde por 6% dos óbitos infantis. Mas se formos observar apenas os óbitos por mal formações congênitas, as cardiopatias congênitas correspondem a 50% dos óbitos. ANATOMIA E FISIOLOGIA DO CORAÇÃO O coração normal tem formato de cone e fica apoiado sobre o diafragma no mediastino. Cerca de 2/3 ficam à esquerda da linha média. O ápice se localiza para frente, baixo e esquerda. A base se localiza para trás, alto e direita. LIMITES ANATÔMICOS ▪ Na superfície anterior a gente vai ter o esterno e as costelas. ▪ Superfície inferior tem o diafragma. ▪ E nas bordas temos: Borda direita → pulmão direito; Borda esquerda → pulmão esquerdo. ▪ Superior: Grandes vasos. ▪ Posterior: Traqueia, esôfago e aorta descendente. O coração normal é formado pelo pericárdio, epicárdio, miocárdio e endocárdio, sendo que esses três últimos não são visíveis a olho nu. ➔ Saco pericárdico: O saco pericárdio funciona como uma bolsa, a gente pode comparar com uma bexiga e que tem uma quantidade mínima de líquido entre essa “bexiga” e a massa muscular do coração, pra que ele possa deslizar e o pericárdio não fique aderido completamente sem nenhuma forma de deslizamento. Além disso, tem-se a margem direita, inferior, superior e esquerda. Atenção! Quando estivermos falando em raio-x é importante mencionar contorno direito, esquerdo, inferior e superior. No contorno direito ou margem direita tem-se o átrio direito, veia cava superior, e mais abaixo tem-se a veia cava inferior. Na margem inferior a gente consegue ver uma parte do ventrículo direito e na margem esquerda vemos o ventrículo esquerdo em sua grande maioria. O coração normal é formado por: ▪ 2 átrios: a) Átrio direito: Recebe o retorno venoso sistêmico (através das veias cavas superior e inferior). O seu apêndice atrial é caracterizado por ter formato triangular de base larga. Onde está localizado o nó sinusal. b) Átrio esquerdo: Recebe o retorno venoso pulmonar (duas veias pulmonares direitas e 2 esquerdas). Seu apêndice atrial é caracterizado por ter formato de dedo de luva, com base estreita, onde está localizado o seio coronário. ▪ 2 ventrículos: a) Ventrículo direito: É uma estrutura tripartite, por que possui via de entrada, porção trabecular e via de saída; Está localizado anteriormente e possui trabeculações gosseiras; Está sempre associado a valva tricúspide e a via de saída é a artéria pulmonar. b) Ventrículo esquerdo: 2 6º SEMESTRE 2022.1 – UNIFTC Especialidades pediátricas JULIANA OLIVEIRA Cardiologia Pediátrica Também é uma estrutura tripartite e possui via de entrada, porção trabecular e via de saída. Está localizado posteriormente e tem trabeculações finas. Está sempre associado a valva mitral. A via de saída é a artéria aorta. ▪ 2 valvas atrioventriculares (tricúspide e mitral) ▪ 2 valvas semilunares (pulmonar e aórtica) ▪ 2 grandes artérias (pulmonar e aorta) ▪ Sistema venoso sistêmico (cavas inferior e superior); ▪ Sistema venoso pulmonar (4 veias pulmonares); ▪ Circulação coronariana; ▪ Sistema de condução. Nessa imagem, conseguimos observar o átrio esquerdo e também as duas veias pulmonares que são as veias pulmonares esquerdas. Na imagem o coração está cortado longitudinalmente na altura do ventrículo esquerdo e estamos olhando pra ele com uma visão posterior (póstero-lateral). VENTRÍCULO ESQUERDO X DIREITO O ventrículo esquerdo tem um formato mais elipsoide, já o direito tem um formato mais triangular. E ele tem menos trabeculações do que o direito. O que chama a atenção é que a ponta do coração é o ventrículo esquerdo, e quando se tem o ventrículo direito formando a ponta, é por que há uma dilatação nessa câmara, o que é patológico. Na imagem é possível ver a via de saída do ventrículo esquerdo, nesse caso tem-se um corte longitudinal na altura da via de saída do ventrículo esquerdo. De modo que se tem o átrio esquerdo com as veias pulmonares entrando, a valva mitral, os músculos papilares e a via de saída do VE Atenção! Quando se vê a aorta, e caminha para a via de saída do VD, a valva pulmonar se apoia exclusivamente em músculo. E a valva aórtica se apoia em uma porção também peri- membranosa. As fibras miocárdicas no VE tem uma direção transversa, já no VD são mais longitudinais. VALVAS Tem-se duas valvas atrioventriculares (tricúspide e mitral) e 2 valvas semilunares (pulmonar e aórtica). ▪ Valva tricúspide: Se caracteriza por 3 cúspides → Septal, anterior e inferior e está sempre relacionada ao ventrículo direito, então a gente sempre fala que a valva acompanha o ventrículo e vice- versa. ▪ Valva mitral: Se caracteriza por apresentar duas cúspides (aórtica e mural); Relaciona-se ao ventrículo esquerdo. ▪ Valva pulmonar: Tem uma localização anterior e a direita, os folhetos da valva pulmonar são suportados por um infundíbulo completamente muscular. ▪ Valva aórtica: Tem localização posterior e à esquerda. Os folhetos da valva aórtica estão inseridos em parte em estruturas fibrosas (continuidade mitroaórtica) e em parte nas paredes musculares do ventrículo. GRANDES VASOS ▪ Artéria pulmonar: Emerge do infundíbulo pulmonar, sofre bifurcação precocemente dando origem às artérias pulmonares direita e esquerda. 3 6º SEMESTRE 2022.1 – UNIFTC Especialidades pediátricas JULIANA OLIVEIRA Cardiologia Pediátrica ▪ Aorta: Origina-se do ponto central do coração e se curva para cima para o arco aórtico, do arco aórtico surgem os vasos braquiocefálicos, dá origem as coronárias. Atenção! O normal é que esses vasos se cruzem, se não for possível observar o cruzamento dos vasos é patológico. DRENAGEM VENOSA Existem quatro veias pulmonares, sendo uma superior e uma inferior para cada um dos pulmões, elas entram no pericárdio para drenar no átrio esquerdo, na superfície posterior. A drenagem venosa sistêmica é dada pelas veias cavas. A veia cava superior é formada pela fusão das veias braquiocefálicas e drena para a porção superior do átrio direitoao nível da 3ª costela. A veia cava inferior é inicialmente formada na pelve pelas veias ilíacas comuns que se unem, percorre o abdome, coletando sangue das veias hepática, lombar, gonadal, renal e frênica; vai passar pelo diafragma, drenando para a porção inferior do átrio direito. VASCULARIZAÇÃO A vascularização do coração é feita pelas artérias coronárias (direita e esquerda) e seio coronário. O sangue venoso é coletado por diversas veias que desembocam na veia magna do coração, cuja porção terminal, representada por seus últimos 3 cm forma uma dilatação que recebe o nome de seio coronário. SISTEMA DE CONDUÇÃO ▪ O nó sino-atrial (SA): situado na parede atrial direita, inferior a abertura da veia cava superior; ▪ Nó atrioventricular (AV): situado no septo interatrial, anterior a abertura do seio coronário; ▪ Feixe atrioventricular (feixe de His); ▪ Ramos direito e esquerdo: que cruzam o septo interventricular, em direção ao ápice cardíaco. ▪ Miofibras condutoras (fibras de Purkinge). PROPEDÊUTICA CARDIOVASCULAR PEDIÁTRICA ▪ O principal quando falamos em ectoscopia na pediatria é observar o tônus muscular, a hipotonia; ▪ Déficit de crescimento: Isso porque a grande maioria pode cursar com um déficit de nutrição; ▪ Palidez: Isso porque os falcêmicos, por exemplo, cursam com doença cardíaca secundária, anemia crônica, má perfusão. ▪ Cianose: Lábio e língua ficam com cor arroxeadas. ▪ Síndromes genéticas: Afastar má formação congênita. SÍNDROMES GENÉTICAS ➔ Síndrome de Down: É a síndrome genética mais comum. A estimativa é de que 60% dos pacientes com essa síndrome tenham cardiopatia congênita e dessa porcentagem 65% vão ter defeito de septo atrioventricular. ➔ Síndrome de Marfan: O paciente tem dilatação da aorta e prolapso de valva mitral. Logo, quando se tem um paciente sindrômico devemos investigar cardiopatia congênita. É necessário solicitar ecocardiograma em toda síndrome genética nem que seja para documentar a anatomia cardíaca normal. SINAIS VITAIS ➔ Frequência respiratória: ▪ < 2 meses: até 60 ipm. ▪ 2 a 12 meses: até 50 ipm. ▪ 1 a 5 anos: até 40 ipm. ▪ Acima de 6 anos: em torno de 20 ipm. ➔ Frequência cardíaca e pulso: Além da frequência cardíaca é importante analisar também o pulso, e algumas peculiaridades que o compõe como frequência, ritmo, amplitude e simetria. Os valores são variáveis de acordo com a faixa etária. ▪ 0 -1 dia: 90-155 ▪ 1-3 dias: 91-158 ▪ 3-7 dias: 90-166 4 6º SEMESTRE 2022.1 – UNIFTC Especialidades pediátricas JULIANA OLIVEIRA Cardiologia Pediátrica ▪ 7-30 dias: 106-162 ▪ 1-3 meses: 120-160 ▪ 3-6 meses: 105-160 ▪ 6-12 meses: 108-169 ▪ 1-3 anos: 89-152 ▪ 3-5 anos: 73-137 ▪ 5-8 anos: 65-133 ▪ 8-12 anos: 62-130 ▪ 12-16 anos: 60-120 ➔ Pressão arterial: Na pediatria, é importante ter alguns equipamentos e condições específicas para conseguir realizar a aferição. ▪ Manguito adequado: Envolvendo toda a circunferência e cobrindo 2/3 do braço. ▪ Tabelas específicas. ▪ Criança calma. ▪ Manguitos para coxa a depender do tamanho da criança. ▪ Considera-se hipertensão os percentis acima de 95. Obs: A partir dos 3 anos, toda criança deve ter pelo menos uma aferição de pressão por ano. SISTEMA RESPIRATÓRIO ➔ Na inspeção torácica é importante analisar: ▪ Abaulamento precordial: O Pectus excavatum geralmente não está associado com doença cardíaca, mas se existir um abaulamento precordial, também descrito como aumento do diâmetro ântero- posterior do tórax a gente pode pensar que esse paciente tem uma cardiomegalia. ▪ Ictus: Podemos usar a localização do ictus para supor uma cardiomegalia. - Período neonatal: 3º ou 4º EIE, para fora da linha hemiclavicular. - Entre 1 e 2 anos: 4º EIE, ainda um pouco para fora da linha hemiclavicular. - Fim da segunda infância (após 10 anos): 5º EIE, para dentro da linha hemiclavicular AUSCULTA CARDÍACA Devemos realizar a ausculta de todo o precórdio. Na pediatria não se utiliza os focos (mitral, pulmonar ou aórtico), por isso, é importante descrever pela localização p.ex. rebordo esternal esquerdo médio, alto, baixo, direito, região infraclavicular, mesocárdia, dorso. A descrição é feita dessa maneira porque no foco aórtico podemos ter uma válvula pulmonar, pode-se ter uma transposição das artérias ou até mesmo uma ausência de válvula pulmonar, logo, não se tem os focos como nos adultos. ▪ B1: Fechamento das valvas Atrioventriculares (TUM) ▪ B2 fechamento das valvas semilunares (TÁ) Atenção! Na pediatria acontece muito de ter desdobramento de segunda bulha fisiológico na respiração profunda. De uma forma geral, existe um certo atraso do fechamento da valva pulmonar em relação a valva aórtica, é possível ouvir a diferença, visto que ao invés de ser TUM TÁ, escuta TUM TRÁ é um discreto atraso. Isso é importante porque tem o desdobramento fisiológico e a gente tem o desdobramento fixo da segunda bulha que é um desdobramento patológico. ▪ B3: enchimento rápido do ventrículo (redução da complacência ventricular). ▪ B4: choque do sangue atrial com sangue ventricular. – Esse é raro de se ver na pediatria. Essas bulhas são graduadas de acordo com a sua intensidade, podendo ser hiperfonese, hipofonese ou normofonese. ➔ Avaliação da segunda bulha: ▪ Desdobramento fixo de B2 (excesso de volume na via de saída do ventrículo direito – comunicação interatrial). Essa situação trata-se do desdobramento patológico. ▪ B2 única (artéria pulmonar posterior ou obstruída). ▪ B2 com componente pulmonar hiperfonético (HAP): Nessa situação devemos pensar em hipertensão pulmonar. SOPROS O sopro no coração é um som incomum que se sente entre as batidas do coração durante a ausculta. Um fluxo de sangue linear (laminar) é silencioso, no caso de fluxo turbulento é possível ouvir este ruído. É necessário buscar um pediatra para confirmar a causa do sopro se for percebido alguns dos sintomas abaixo: ▪ Perda de apetite e falta de apetite. ▪ Respiração rápida. ▪ Nanismo. ▪ Transpiração excessiva. ▪ Lábios e unhas azuladas coloridas. A causa pode ser o ducto de Botallo, ou seja, um canal que conecta a artéria pulmonar à aorta e pode criar problemas para o coração. Este defeito congênito é mais frequente em bebês prematuros. Entre as causas do sopro cardíaco em crianças também existe o forame oval patente, uma pequena abertura entre o átrio direito e o esquerdo do coração. Nas crianças mais velhas pode haver o sopro no coração. Algumas crianças têm paredes torácicas mais finas, neste caso, os sons tornam-se finos. Esse tipo de respiração é chamado de sopro funcional (ou benigno). Os pais não têm com que se preocupar com esses barulhos. Em alguns casos o sopro pode ser causado por estresse, anemia ou febre. Até mesmo os vasos sanguíneos podem causar um ruído anormal. 5 6º SEMESTRE 2022.1 – UNIFTC Especialidades pediátricas JULIANA OLIVEIRA Cardiologia Pediátrica Quando é ouvido um sopro forte, pode ser necessário realizar mais exames. A radiografia é feita para verificar alguns defeitos do coração. Um eletrocardiograma confirma se o coração bate normalmente. Para o sopro cardíaco benigno não serve um tratamento.Existem casos muito raros em que o sopro no coração pode causar problemas cardíacos graves. Entre os riscos e complicações também existe a morte. Geralmente, o sopro do coração benigno irá diminuir com o tempo. Os sons tornam-se menos audíveis quando a parede torácica engrossa. ➔ Classificação dos sopros: ▪ Qualidade ou timbre. ▪ Localização ▪ Irradiação ▪ Tempo de duração dos ciclos: Sistólico. Diastólico. Contínuo → Dura o tempo todo. ▪ Intensidade: Grau 1: Só é audível com manobra Grau 2: É o sopro audível, porém não tão facilmente audível. Grau 3: Sopro facilmente audível, mas não tem frêmito. Grau 4: Facilmente audível, com frêmito. Grau 5: Facilmente audível, com meia campânula. Grau 6: É quando o examinador não encosta o estetoscópio na pele do paciente e mesmo assim é possível ouvir o sopro. ➔ Tipos de sopro: ▪ Protodiastólico: É o sopro da insuficiência aórtica. O sangue retorna para o VE devido à pressão da aorta ser maior. Então, tem a sístole toda, fechou a valva aórtica e começou o relaxamento isovolumétrico, nesse momento existe uma pressão no VE bem menor do que a pressão na aorta, então tem-se uma maior quantidade de sangue retornando com uma velocidade maior e com um turbilhonamento maior. Quando se abre a valva mitral e começa a encher o ventrículo de sangue, começa a equalizar as pressões e ter menos retorno venoso através da valva aórtica. O sopro protodiastólico tem mais intensidade no início da sístole e vai reduzindo o turbilhonamento com o tempo. ▪ Telediastólico: É o sopro da estenose mitral. Na diástole, tem o enchimento isovolumétrico do coração. Quando a valva mitral abre existe um primeiro momento do enchimento ventricular e esvaziamento atrial, esse é um momento de diferença de pressão. Quando começa a ter uma equalização das pressões, o átrio começa a contração e ai haverá uma acentuação do sopro no final da diástole. ▪ Sopro mesossistólico: O sopro mesossistólico é um sopro sistólico em forma de “diamante”, ou seja, é constante do início ao fim da sístole, é contínuo e tem um pico no meio da sístole. É um sopro comum por estenose aórtica. A gente tem a primeira contração ventricular -contração isovolumétrica- onde ainda não se tem a abertura, depois disso, quando ela começa a abrir, o sangue começa a passar e chega no máximo, e vai decrescendo. É o sopro da insuficiência mitral ou tricúspide. Primeiro tem-se o fechamento da valva mitral, depois ela fecha, começa a contração isovolumétrica e continua tendo refluxo, por isso conseguimos auscultar o sopro e o turbilhonamento. Durante toda a contração ventricular tem o refluxo da valva mitral, ele chega no início da sístole e vai até o final, ele só vai passar quando começar o relaxamento isovolumétrico.
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