Buscar

Psicanálise Teoria e Técnica_e_book

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 94 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 94 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 94 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Copyright © Portal Educação 
2012 – Portal Educação 
Todos os direitos reservados 
 
R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP:79002-130 
Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 
Internacional: +55 (67) 3303-4520 
atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS 
Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil 
 Triagem Organização LTDA ME 
 Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 
 Portal Educação 
P842p Psicanálise: teoria e técnica / Portal Educação. - Campo Grande: Portal 
Educação, 2012. 
 119 p. : il. 
 
 Inclui bibliografia 
 ISBN 978-85-66104-50-9 
 1. Psicanálise. 2. Teoria psicanalítica. I. Portal Educação. II. Título. 
 CDD 150.195 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 TEORIA PSICANALÍTICA 
1.1 O determinismo psíquico e os processos mentais inconscientes 
1.2 Pulsão ou impulso 
2 ESTRUTURA DO APARELHO PSÍQUICO 
2.1 Mecanismos de defesa 
3 TEORIA PSICANALÍTICA DA ANSIEDADE 
3.1 O aparelho psíquico- conclusão 
4 A TÉCNICA PSICANALÍTICA 
4.1 Os princípios fundamentais da técnica psicanalítica 
4.2 A posição (ou atitude) interna básica do analista diante do paciente e seu material 
4.3 A interpretação 
4.4 A dinâmica da transferência 
4.5 A análise do conteúdo sonho 
5 O FUNCIONAMENTO MENTAL 
5.1 A relação entre o conflito psíquico e o funcionamento mental normal 
GLOSSÁRIO 
REFERÊNCIAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 TEORIA PSICANALÍTICA 
 
1.1 O determinismo psíquico e os processos mentais inconscientes 
 
A psicanálise é uma disciplina científica, que como qualquer outra doutrina 
científica, deu origem a certas teorias que derivam de seus dados de observação e 
que procuram ordenar e explicar esses dados. 
É importante compreender que a teoria psicanalítica se 
interessa tanto pelo funcionamento mental normal como pelo patológico. 
De forma alguma, constitui apenas uma teoria de psicopatologia. É verdade que a prática 
da psicanálise consiste no tratamento de pessoas que se acham mentalmente enfermas 
ou perturbadas, mas as teorias psicanalíticas se referem tanto ao normal quanto ao 
patológico, ainda que se tenham derivado essencialmente do estudo e do tratamento da 
anormalidade. 
Como em qualquer disciplina científica, as diversas hipóteses da teoria psicanalítica se 
relacionam mutuamente. Algumas são mais importantes que as outras, e algumas já tiveram grande 
comprovação e parecem ser tão fundamentais em sua significação, que nos inclinamos a considerá-
las, como leis estabelecidas a respeito da mente. 
Duas destas hipóteses, que foram acentuadamente confirmadas, é o princípio do 
determinismo psíquico, ou da causalidade, e a proposição de que os processos mentais 
inconscientes são de grande frequência e significado no funcionamento mental normal, bem como 
anormal. 
Vamos começar falando do princípio do determinismo psíquico. O sentido deste princípio 
é de que na mente, nada acontece por acaso. Cada evento psíquico é determinado por aqueles que 
o precederam. Os eventos em nossa vida mental que podem parecer não relacionados com os que 
os precederam, o são apenas na aparência. Nesse sentido, não existe descontinuidade na vida 
mental. 
Se compreendermos e aplicarmos corretamente este princípio, jamais admitiremos 
qualquer fenômeno psíquico como sem significação ou como acidental. Deveremos sempre nos 
perguntar, em relação a qualquer fenômeno no qual estejamos interessados: “Que os provocou? 
Por que aconteceu assim?” Formulamos estas perguntas por estarmos certos de que existe uma 
 
 
resposta para elas. Se pudermos encontrar a resposta com facilidade e rapidez, isso naturalmente 
já é outra questão; mas sabemos que a resposta existe. 
Esquecer ou perder alguma coisa, por exemplo, é uma experiência comum na vida das 
pessoas. Geralmente, a idéia é a de que o fato é uma “casualidade”, que isso “apenas aconteceu”. 
No entanto, uma investigação de muitas dessas “casualidades” realizadas por psicanalistas nos 
últimos anos (a começar pelos estudos do próprio Freud) mostrou que de maneira nenhuma elas 
são acidentais. Pelo contrário, pode-se demonstrar que cada uma delas foi provocada por um 
desejo ou intenção da pessoa envolvida, de acordo com o princípio do funcionamento mental que 
estamos examinando. 
Se nos voltarmos aos fenômenos da psicopatologia, podemos dizer que cada sintoma 
neurótico, qualquer que seja sua natureza, é provocado por outros processos mentais, apesar do 
fato de que o próprio paciente habitualmente considera o sintoma como estranho e completamente 
desligado do resto da sua vida mental. Contudo, as conexões existem e são demonstráveis, apesar 
de o paciente não se dar conta de sua presença. 
Atente agora para o fato, de que estamos falando não só a respeito da primeira das 
nossas hipóteses fundamentais, o princípio do determinismo psíquico, mas também a respeito da 
segunda, isto é, a existência de processos mentais dos quais o sujeito não se dá conta ou é 
inconsciente. 
A relação entre estas duas hipóteses é tão próxima que dificilmente se pode examinar 
uma sem suscitar a outra. É exatamente o fato de tantas coisas em nossa mente serem 
inconscientes – isto é, desconhecidas para nós – que responde pelas “aparentes” descontinuidades 
em nossa vida mental. 
Quando um pensamento, um sentimento, um esquecimento acidental, um sonho ou um 
sintoma parecem não se relacionar com algo que aconteceu antes na mente, isso significa que sua 
conexão causal se apresenta em algum processo mental inconsciente, em vez de num processo 
consciente. 
Se se pode descobrir a causa ou as causas inconscientes, então todas as aparentes 
descontinuidades desaparecem e a cadeia causal, ou sequência, torna-se clara. 
Vamos pensar em um exemplo bem simples. Uma pessoa pode se surpreender, 
cantarolando uma melodia sem ter nenhuma idéia de como ela lhe veio à mente. No entanto, neste 
exemplo particular, um espectador afirma-nos que a referida melodia foi ouvida pela pessoa poucos 
momentos antes de haver penetrado em seus pensamentos conscientes, como se não tivesse vindo 
 
 
de parte alguma. Foi uma impressão sensorial, nesse caso auditiva, que compeliu a pessoa a 
cantarolar a melodia. Visto que ela não se deu conta de ter ouvido a melodia, sua experiência 
subjetiva foi a de uma descontinuidade em seus pensamentos, sendo necessário o testemunho do 
espectador para remover a aparência de descontinuidade e tornar clara a cadeia causal. 
É raro, no entanto, que um processo inconsciente seja descoberto de forma tão simples, 
como no exemplo citado. Naturalmente, deseja-se saber se existe um método geral para descobrir 
processos mentais dos quais o próprio indivíduo não se dá conta. Podem eles, por exemplo, ser 
observados diretamente? Caso contrário, como pôde Freud descobrir a frequência e a importância 
de tais processos em nossa vida mental? 
Ainda não dispomos de um método que nos permita observar diretamente os processos 
mentais inconscientes. Todos os nossos métodos para estudar tais fenômenos são indiretos. Eles nos 
permitem inferir a existência desses fenômenos e muitas vezes determinar sua natureza e seu 
significado na vida mental do sujeito que é objeto do nosso estudo. 
O método mais eficiente e de maior confiança de que dispomos para estudar os processos 
mentais inconscientes é a técnica que Freud desenvolveu durante vários anos. Ele denominou essa 
técnica de psicanálise pela simples razão de ter sido capaz, com sua ajuda, de discernir e descobrir os 
processos psíquicos que, de outra forma, teriam permanecidosocultos. Com a ajuda da sua nova 
técnica, Freud se apercebeu da importância dos processos mentais inconscientes na vida psíquica de 
todo sujeito, mentalmente enfermo ou não. 
Assim, Freud, ouvindo as associações “livres” do paciente – que eram na verdade livres do 
controle consciente – era capaz de formar uma imagem, por inferência, do que inconscientemente 
estava ocorrendo no psiquismo do paciente. 
O que descobriu, no decorrer de anos de escuta de seus pacientes e de cuidadosa 
observação, foi que não somente os sintomas histéricos, mas também muitos outros aspectos normais 
e patológicos do comportamento e do pensamento eram o resultado do que inconscientemente estava 
acontecendo no psiquismo daquele sujeito. 
No conteúdo do estudo dos fenômenos mentais inconscientes, Freud logo descobriu que 
estes poderiam ser divididos em dois grupos: 
- elementos psíquicos pré-conscientes- este grupo compreende pensamentos, lembranças, 
etc., que podem se tornar conscientes por um esforço de atenção. Tais elementos psíquicos têm 
acesso fácil à consciência. 
 
 
- elementos psíquicos inconscientes – compreendem aqueles elementos que só podem 
tornar-se conscientes a custo de considerável esforço. Em outras palavras, eles são barrados da 
consciência por uma força considerável. 
Freud pode demonstrar também, que o fato de serem inconscientes, não os impedia de 
exercer uma influência significativa no funcionamento mental. Além disso, foi capaz de demonstrar que 
os processos inconscientes podem ser bastante comparáveis aos conscientes em precisão e 
complexidade. 
Como dissemos anteriormente, não dispomos de um meio de observar diretamente as 
atividades mentais inconscientes, mas evidências desse fato podem ser derivadas de uma observação 
clínica, ou mesmo geral. 
Por intermédio da técnica de investigação dos sonhos (o que trataremos mais adiante), 
descoberta por Freud, pode-se constatar evidências das atividades mentais inconscientes. Tomemos 
como exemplo, os sonhos nos quais a pessoa que sonha, está bebendo, somente para acordar e 
perceber que está sedenta, ou sonha que está urinando ou defecando e acorda com a necessidade de 
se aliviar. Tais sonhos demonstram igualmente, que durante o sono, a atividade mental inconsciente 
pode produzir um resultado consciente – nesses casos em que uma sensação corporal inconsciente e 
os anseios a ela ligados dão origem a um sonho consciente da desejada satisfação ou alívio. Tal 
demonstração em si é importante e pode ser feita sem uma técnica especial de observação. 
No entanto, por meio da técnica psicanalítica, Freud pôde demonstrar que por trás de todo 
sonho existem pensamentos e desejos inconscientes ativos, e assim estabelecer, como regra geral, 
que quando se produzem sonhos, estes são provocados por uma atividade mental que é inconsciente 
para o sonhador, e que assim permaneceria a menos que se empregue a técnica psicanalítica. 
Existem outros fenômenos, que também examinaremos mais adiante, que demonstram como 
as atividades inconscientes podem influenciar nosso comportamento consciente. Eles ocorrem nos 
períodos de vigília, e são chamados em geral, de atos falhos ou lapsos: lapsos da linguagem, da 
escrita, da memória e similares. 
Como no caso dos sonhos, a significação inconsciente de alguns lapsos torna-se bastante 
clara. Não é difícil deduzir, que um rapaz que tem alguma hesitação sobre o casamento se ele nos 
contar que, quando se dirigia para a igreja, parou num sinal de trânsito e só quando este mudou é que 
percebeu que se detivera para um sinal verde em vez de vermelho. 
 
 
Outro exemplo bem evidente, que poderia ser considerado mais como um ato sintomático 
que um lapso, foi fornecido por um paciente cuja hora de sessão de análise fora cancelada por 
solicitação do analista. O paciente se sentiu um tanto perdido durante o tempo em que se ocupava 
habitualmente em vir ao tratamento, e decidiu experimentar um par de pistolas de duelo antigas que 
comprara há pouco tempo. De modo que durante o tempo em que comumente ele estaria deitado no 
divã do analista, estava atirando com uma pistola sobre um alvo! 
Penso que, mesmo sem as associações do paciente, alguém poderia se sentir com bastante 
segurança para presumir que ele estava irritado com o analista por não atendê-lo aquele dia. 
Podemos acrescentar que Freud, pôde por intermédio da técnica psicanalítica, mostrar que a 
atividade mental inconsciente desempenha um papel na produção de todos os atos falhos e não 
apenas naqueles em que o significado de tal atividade é de fácil evidência. 
Pode-se notar também, que muitas vezes, os motivos para o comportamento de determinada 
pessoa podem frequentemente parecer óbvio para o observador, embora para ela seja desconhecido. 
Um exemplo é o do pacifista que está pronto a brigar violentamente com qualquer pessoa que 
contradiga seu ponto de vista sobre a indesejabilidade da violência. É obvio que seu pacifismo 
consciente se faz acompanhar de um desejo inconsciente de lutar, o que, no caso, é exatamente o que 
sua atitude consciente condena. 
Por certo, a importância da atividade mental inconsciente foi primeiramente demonstrada por 
Freud no caso dos sintomas de pacientes mentalmente enfermos. Como resultado das descobertas de 
Freud, a idéia de que tais sintomas têm um significado desconhecido para o paciente é agora 
geralmente aceita e bem compreendida. 
Se o paciente sofre de uma cegueira histérica, por exemplo, naturalmente presumimos que 
existe algo inconsciente que ele não deseja ver, ou que sua consciência o proíbe de olhar. É verdade 
que nem sempre é de todo fácil perceber o significado inconsciente de um sintoma. E muitas vezes 
também, os determinantes inconscientes para um único sintoma podem ser vários e muito complexos, 
de modo que, ainda que se possam fazer conjecturas, estas são apenas uma parte de toda a verdade. 
No entanto, nosso objetivo agora, é só demonstrar a existência dos processos mentais inconscientes. 
Ainda que agora, em nossas ilustrações, possamos perceber o poder da atividade mental 
inconsciente, não podemos esquecer que foi o uso da técnica psicanalítica que tornou esta descoberta 
possível e isto foi essencial para o estudo mais completo dos fenômenos mentais inconscientes. 
 
 
Freud convenceu-se de que de fato, a maior parte do funcionamento mental se passa fora da 
consciência. Isso constitui, por certo, um contraste marcante com o conceito que prevalecia antes, o de 
que consciência e funcionamento mental eram sinônimos. Acreditamos que os dois, não são de modo 
algum, a mesma coisa. A consciência não precisa participar, e frequentemente não participa das 
atividades mentais que são decisivas na determinação do modo de agir do sujeito, ou daquelas que 
são as mais complexas e as mais precisas em sua natureza. Tais atividades, mesmo as complexas e 
decisivas, podem ser completamente inconscientes. 
 
1.2 A Pulsão ou Impulso 
 
Prossigamos em nosso propósito de apresentar a teoria psicanalítica, agora tratando das 
forças instintivas que habitam o psiquismo. 
Inicialmente, é preciso fazer um parêntese. Muitas vezes o que aqui se chama de pulsão ou 
impulso é também denominado instinto. A distinção a se fazer é a seguinte: 
 
Instinto 
 
 
 
 
Pulsão ou Impulso 
 
 
 
 
 
 
É um esquema de comportamento característico de 
uma espécie animal, que varia muito pouco de um 
sujeito para o outro. É transmitido geneticamente e 
parece atender a uma finalidade. 
 
O que chamamos de impulso no homem, não 
pressupõe uma resposta estereotipada, mas apenas um 
estado de excitação central frente ao estímulo. A atividade 
motora que se segue a esse estado de excitação é 
mediada por uma parte da mente bastante diferenciada 
que se conhece como “ego” na terminologia psicanalítica, 
e que permite que a resposta ao estado de excitação seja 
modificada pela experiência e reflexão, em vezde ser 
predeterminada, como é o caso dos instintos dos animais 
inferiores. 
 
 
 
 
Podemos acrescentar, que no caso do homem também existem alguns desejos ou impulsos 
instintivos que são predeterminados por fatores genéticos. No adulto, por exemplo, existe obviamente 
uma conexão íntima entre o impulso sexual e aquele padrão inato de respostas ao qual chamamos de 
orgasmo. No entanto, o grau no qual este tipo de resposta aparece é muito menor no homem do que 
parece ser em outros animais. E ainda, os fatores ambientais ou da experiência do sujeito tem muito 
mais chance de modificar esta resposta reflexa. 
Aqui usaremos o termo pulsão. Uma pulsão é, portanto, um constituinte psíquico, que, 
quando em ação produz um estado de excitação psíquica ou, como dizemos tensão. Esta tensão 
impele o sujeito para a atividade, é também geneticamente determinada de uma forma geral, mas pode 
ser influenciada, alterada, pela experiência individual, subjetiva. 
Essa atividade deve levar a algo que chamamos de cessação da excitação ou da tensão, ou 
de gratificação. Quando falamos da cessação da excitação ou da tensão nos referimos a uma 
terminologia mais objetiva, enquanto falamos de gratificação, reportamo-nos a uma terminologia mais 
subjetiva. 
Assim, vemos que há uma sequência que é característica da ação do impulso. Podemos 
chamar essa sequência de: 
- Tensão → atividade motora e cessação da tensão. 
- Necessidade → atividade motora e gratificação. 
Enquanto a primeira terminologia deixa de lado os elementos da experiência subjetiva, a 
segunda se refere explicitamente a ela. 
Freud percebeu que a característica das pulsões, de impelir o sujeito à atividade, era análoga 
ao conceito de energia física, que certamente se define como a capacidade de produzir trabalho. Por 
conseguinte, presumiu que há uma energia psíquica que constitui uma parte dos impulsos, ou de certa 
forma deriva deles. 
Esta energia psíquica, não é de modo algum igual à energia física. É somente análoga em 
alguns aspectos. O conceito de energia psíquica, assim como o conceito de energia física, é uma 
hipótese que tem por objetivo servir ao propósito de simplificar e facilitar nossa compreensão dos fatos 
da vida mental que podemos observar. 
 
 
Continuando com a analogia, podemos falar do quantum de energia psíquica com o qual um 
objeto ou determinada pessoa estão investidos. Freud usou a palavra alemã Besetzung, que foi 
traduzida para o português como Catexia. 
 
Catexia 
 
 
 
 
Isso quer dizer que o impulso e sua energia são considerados como fenômenos 
intrapsíquicos. Aquilo que é catexizado são as diversas lembranças, pensamentos e fantasias do 
objeto, que compreendem o que chamamos representações mentais ou psíquicas. 
Podemos ilustrar nossa definição de catexia, por meio do exemplo, da criança pequena cuja 
mãe, assim como é esperado, é a principal fonte de gratificação. Com isso, queremos dizer que a mãe 
é um objeto altamente catexizado. 
 
Classificação das pulsões - Voltemo-nos agora para a questão da classificação das 
pulsões. A teoria instintual de Freud desenvolveu-se a partir de observações clínicas. O impulso sexual 
parecia ser central à patogênese da histeria. Freud estava principalmente preocupado com o impulso 
sexual, durante a década de 1890 e no início do século XX. 
Embora originalmente tivesse postulado um instinto autopreservativo nos anos 1890, não o 
elaborou até uns 20 anos depois. À medida que a teoria psicanalítica evoluía, sua teorização sobre o 
papel dos instintos tornou-se cada vez mais abstrata e afastada de dados clínicos. 
As hipóteses de Freud sobre sua classificação se modificaram e se desenvolveram no 
transcurso de três décadas. Na sua última formulação, Freud presume a existência de dois impulsos, o 
sexual e o agressivo. O primeiro impulso dá origem ao componente erótico das atividades mentais, 
enquanto o outro gera o componente puramente destrutivo. 
Tal teoria presume que em todas as manifestações pulsionais que podemos observar, sejam 
normais ou patológicas, participam ambas as pulsões: sexual e agressiva. Para empregar a 
É a quantidade de energia psíquica que se dirige ou se 
liga à representação mental de uma pessoa ou coisa. 
 
 
 
terminologia de Freud, os dois impulsos se encontram regularmente “fundidos”, embora não 
necessariamente em quantidades iguais. 
Assim, mesmo o mais insensível ato de crueldade intencional, que aparentemente parece 
satisfazer apenas algum aspecto do impulso agressivo, ainda assim possui algum significado sexual 
inconsciente para seu autor e lhe proporciona certo grau de gratificação sexual inconsciente. Do 
mesmo modo, não há ato de amor, por mais terno que seja que não proporcione ao mesmo tempo um 
meio inconsciente de descarga da pulsão agressiva. 
Queremos dizer com isso, que as pulsões não são observáveis como tal no comportamento 
humano de forma pura ou não mesclada. São abstrações dos dados da experiência. São hipóteses – 
conceitos operacionais, para usar expressão que está em moda hoje em dia – que acreditamos que 
nos permitem compreender e explicar nossos dados na forma mais simples e sistemática possível. De 
modo que não devemos esperar ou procurar um exemplo clínico o qual a pulsão agressiva apareça 
isolada da sexual, ou vice-versa. 
Distinguimos então, dois impulsos ou pulsões. Um deles é chamado de pulsão sexual ou 
erótica e o outro de pulsão agressiva ou destrutiva. Assim, temos então duas espécies de energia 
psíquica. A energia que está ligada a pulsão sexual, tem o nome de libido e a que está ligada a pulsão 
agressiva leva o nome de energia agressiva. 
Pulsão sexual → libido 
Pulsão agressiva → energia agressiva 
É importante perceber, que a divisão dos impulsos em sexual e agressivo em nossa teoria 
atual se baseia na evidência psicológica. Em sua formulação original Freud procurou relacionar a teoria 
psicológica das pulsões com conceitos biológicos mais fundamentais, e propôs que as pulsões se 
denominassem pulsão de vida e pulsão de morte. Há alguns analistas que aceitam o conceito de um 
impulso de morte, enquanto outros (talvez a maioria atualmente) não o aceitam. 
Os impulsos estão intimamente relacionados com fatos observáveis. Há muitos meios pelos 
quais se pode fazer isso, mas talvez um meio tão bom quanto qualquer outro consista em examinar um 
aspecto dos impulsos que mostrou ser particularmente significativo tanto para a teoria como para a 
prática, qual seja seu desenvolvimento genético. 
Comecemos com o impulso sexual, uma vez que estamos mais familiarizados com seu 
desenvolvimento e vicissitudes que com os de seu ocasional parceiro e, às vezes, rival, o impulso 
agressivo. 
 
 
A teoria psicanalítica postula, que estas forças já estão em atividade no bebê, influenciando o 
comportamento e clamando por gratificação, que mais tarde produz os desejos sexuais do adulto, com 
todo seu sofrimento e êxtase. É bom dizer que se considera esta proposição amplamente aprovada. 
As provas válidas provêm de pelo menos três fontes. A primeira é a observação direta de 
crianças. São óbvias as evidências de desejos e comportamentos sexuais em crianças pequenas, 
quando se quer observá-las, e conversar com elas com disposição objetiva e sem preconceitos. 
Infelizmente, é aí que surge o obstáculo, porque precisamente em virtude da necessidade de 
cada pessoa esquecer e negar os desejos e conflitos sexuais da sua própria infância remota, quase 
ninguém, antes das descobertas de Freud, foi capaz de reconhecer a presença evidente de desejos 
sexuais nas crianças que observara. 
As outras fontes de evidência sobre esse ponto provêm da análise de crianças e de adultos. 
No caso da análise de crianças pode-se ver diretamente, e no caso da análise de adultos inferir 
reconstrutivamente a grande significação dos desejos sexuais infantis, bem como sua natureza. 
Vamos agora, tratar de modosistemático aquilo que se conhece da sequência típica das 
manifestações do impulso sexual desde a infância. Freud, em 1905, nos Três ensaios sobre a 
sexualidade descreveu seus pontos essenciais. 
O aluno deve compreender que as fases a serem descritas não são tão distintas uma da 
outra quanto nossa apresentação esquemática pode transparecer. Na realidade, cada fase se 
confunde com a seguinte e as duas se superpõem, de modo que a transição de uma para a outra é 
muito gradual. Pela mesma razão, os períodos assinalados como duração de cada fase devem ser 
entendidos como muito próximos. 
Fase oral – Nos primeiros meses de vida, o bebê experimenta fome e frustração na ausência 
do seio e a descarga que satisfaz a necessidade de tensão quando o seio está presente. Tensão e 
fome forçam o reconhecimento e a aceitação de pessoas no mundo externo. Segundo Freud, então, a 
primeira percepção psicológica de um objeto surge da intensa necessidade fisiológica de uma 
experiência familiar que proporciona gratificação e alivia a tensão. 
A resposta da mãe à criança é decisiva para lançar as fundações para a base mais 
rudimentar e essencial do desenvolvimento posterior de relações de objeto e a capacidade para 
ingressar no mundo dos seres humanos. Ela se torna o primeiro objeto de amor para o bebê, no 
sentido em que é reconhecida como fonte da gratificação da fome e a provedora do prazer erótico que 
o bebê obtém a partir do sugar. 
 
 
Se um relacionamento confiável e afetuoso foi estabelecido entre mãe e filho durante os 
primeiros meses de vida, o palco está preparado para o desenvolvimento de relacionamentos 
confiáveis e afetuosos com outras pessoas ao longo da vida. 
Ao contrário, quando o vínculo inicial mãe-bebê e a experiência de alimentação são 
perturbados, está estabelecida a base para problemas subsequentes na área de relações de objeto. Se 
a mãe não está disponível durante a fase inicial de sucção do estágio oral, a frustração pode ser tão 
intensa que o bebê cresce com desejos intensos de ser alimentado e cuidado por outros. 
Se a fixação ocorre durante a fase de morder do estágio oral, por exemplo, a criança pode 
ser atormentada por tendências agressivas orais ao longo da vida. Estes impulsos podem ser 
manifestados em um apetite voraz ou uma tendência a fazer comentários mordazes sobre os outros, os 
quais são destrutivos para os relacionamentos. 
Fase anal 
 
 
 
 
 
 
 
 
A erotização do estágio anal envolve tanto a sensação de prazer da excreção como 
posteriormente, a estimulação erótica da mucosa anal por meio da retenção das fezes. 
Freud observou a conexão entre impulsos anais e sádicos. Inicialmente, o objeto da atividade 
anal-sádica é as fezes, e sua eliminação é considerada como um ato sádico. À medida que o estágio 
anal progride, o sadismo assume uma natureza mais impessoal. Nas lutas em desenvolvimento em 
relação ao treinamento esfincteriano, a criança aprende a exercer poder sobre os pais cedendo ou 
retendo as fezes. A sensação de poder sobre o ambiente que surge com o controle do esfíncter 
representa outro elemento sádico. 
Após os bebês passarem pelo estágio oral 
durante os primeiros 18 meses de vida, eles 
entram no estágio anal, que dura 
aproximadamente dos 18 aos 36 meses de 
idade. Uma diferença notável é que, no estágio 
anal, a criança é muito menos passiva do que no 
estágio oral. Além disso, as demandas do 
treinamento esfincteriano durante o período anal 
conduzem a uma luta de vontades entre mãe e 
filho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Antes do treinamento esfincteriano, a eliminação e a retenção prazerosa são essencialmente 
autoeróticas porque elas não exigem a presença ou o auxílio de um objeto externo. 
O ato de defecação durante este período está imbuído de um sentimento de onipotência 
como resultado. As fezes tornam-se libidinizadas porque representam prazer. Posteriormente, a criança 
desenvolve uma visão ambivalente das fezes como conteúdos do corpo que são tanto externos como 
internos. Em outras palavras, a criança considera as fezes tanto como “eu” quanto como “não eu”. Por 
outro lado, as fezes são amadas e retidas ou reinternalizadas; por outro lado, são odiadas e expelidas. 
A ambivalência associada ao estágio anal pode ser transferida para objetos do ambiente 
externo. A estimulação associada à limpeza da área anal pode levar a fortes sentimentos eróticos em 
relação à mãe. Posteriormente, batalhas em relação ao treinamento esfincteriano produzem 
sentimentos agressivos e odiosos em relação a figuras parentais. 
Freud sugeriu que as pessoas obsessivo-compulsivas regridem para o estágio anal do 
desenvolvimento. A ambivalência associada às fezes, em conjunção com o controle parental, leva 
estas pessoas a tornarem-se compulsivamente asseadas, rígidas, dominadoras e pedantes. Freud 
também as descreveu como intensamente ambivalentes, atormentadas por sentimentos simultâneos 
tanto de controlar e de reter o objeto quanto de expeli-lo e destruí-lo. 
 
 Fase Uretral 
 
 
Relativo ao ESFÍNCTER - Músculo circular que envolve 
alguns orifícios naturais, assim como a embocadura do canal 
excretor de certos órgãos ocos. O esfíncter se compõe ou de 
músculos estriados, que obedecem às estimulações da 
consciência ou de fibras musculares lisas, que se contraem e 
se relaxam sob a influência de estimulações reflexas ou 
ainda de mistura das duas. 
Embora Freud não discutisse o estágio psicossexual 
uretral em profundidade, alguns clínicos pensam que ele apresenta 
relevância particular para questões de desempenho e controle. O 
estágio uretral é geralmente visto como transitório entre os 
estágios anal e fálico. 
 
 
 
 
 
O prazer em urinar é denominado como erotismo uretral, pode estar associado a impulsos 
sádicos trazidos do estágio anal. Competitividade e ambição são frequentemente vistas como uma 
compensação para a vergonha associada à perda de controle uretral. 
 
Fase Fálica 
 
 
 
 
 
 
 
O estágio fálico é também caracterizado por maior tolerância de ambivalência e a habilidade 
de suportar frustração na ausência de objetos significativos devido à capacidade de manter uma 
representação interna do objeto ausente. 
Outro grande contraste entre os estágios psicossexuais pré-genitais do desenvolvimento e o 
estágio fálico é a natureza da atividade libidinal da criança. Nos estágios: oral e anal, tais atividades 
são, em sua maior parte, autoeróticos, no sentido de que os impulsos sexuais da criança são voltados 
na direção do seu próprio corpo. 
Na fase fálica o prazer é ainda obtido no próprio corpo, mas este período de desenvolvimento 
é também caracterizado pela tarefa fundamental de encontrar um objeto de amor que estabelecerá 
padrões posteriores de escolha de objeto na vida adulta. 
As fases - oral e anal são geralmente chamadas de pré-genitais ou pré-fálicas. A fase fálica 
penetra na organização sexual adulta da puberdade. Essa fase adulta é conhecida como fase genital. 
Fase genital 
Por volta dos três anos, a criança entra no estágio 
fálico, no qual o pênis ou o clitóris é a zona erógena 
principal. O estágio fálico do desenvolvimento psicossexual 
anuncia a chegada do nível edípico do desenvolvimento, no 
qual os relacionamentos tornam-se mais complicados do que 
no passado. A ênfase passa para relacionamentos 
triangulares ao invés de diádicos. 
 
Esta fase do desenvolvimento psicossexual 
corresponde à fase adolescente, que inicia com o começo da 
puberdade e termina com a aquisição da fase adulta jovem. 
A influência mais notável deste período do desenvolvimento 
 
 
 
 
 
 
 
Este estágio um tanto longo do desenvolvimento psicossexual, sem dúvida um dos mais 
desafiadores no ciclo vital, requer o desenvolvimento de domínio psicológico sobre as pressões dos 
impulsos. 
Além disso, uma tarefa-chave do desenvolvimento associado ao estágio genital é o 
estabelecimentode relações de objeto maduras e da sexualidade genital com um parceiro apropriado. 
Um aspecto importante desta aquisição é a separação emocional dos próprios pais e o 
estabelecimento de um estilo de vida independente. 
Além destas modalidades essenciais da sexualidade na criança, que deram seus nomes às 
fases principais que examinamos, existem outras manifestações do impulso sexual que merecem 
atenção. 
Uma dessas é o desejo de olhar, que em geral é mais acentuado na fase fálica, e seu 
equivalente, o desejo de exibir. A criança deseja ver os genitais de outras, bem como mostrar os seus. 
Sua curiosidade e exibicionismo, naturalmente, incluem outras partes do corpo e também outras 
funções corporais. 
As sensações cutâneas também contribuem com sua parte, e assim o fazem a audição e o 
olfato. 
Descrevemos a sequência de fases que se produzem normalmente na infância como 
manifestações do impulso sexual. Essa sequência envolve, naturalmente, variações no grau de 
interesse e importância que se prende na vida psíquica da criança aos vários objetos e modalidades de 
gratificação do impulso sexual. 
O bico do seio, ou o seio, por exemplo, é de uma importância psíquica muito maior durante a 
fase oral do que na anal ou na fálica, e o mesmo é verdadeiro em relação à sucção, modalidade de 
gratificação que é característica, por certo, do início da fase oral. 
 
 
Vimos também que essas modificações se produzem antes paulatinamente que de modo 
abrupto, e que os antigos objetos e modalidades de gratificação são abandonados de forma gradativa, 
mesmo depois que os novos estejam estabelecidos por algum tempo no papel principal. 
Se descrevermos esses fatos em termos dos nossos conceitos recentemente definidos, 
diremos que a catexia libidinal de um objeto de uma fase anterior diminui à medida que se alcança a 
fase seguinte, e podemos acrescentar que, embora diminuída, a catexia persiste por algum tempo 
depois de se tornar estabelecida a última fase e depois que os objetos a ela apropriados se 
constituíram nos principais objetos da catexia libidinal. 
A teoria da energia psíquica nos fornece uma explicação do que acontece nessas 
modificações. Presumimos que a libido que catexizou o objeto ou a modalidade de gratificação da fase 
anterior se desprende dele gradualmente a catexiza, em seu lugar, o objeto ou modalidade de 
gratificação da fase seguinte. 
Assim, a libido que primeiramente catexizou o seio, ou, para ser mais precisa, a 
representação psíquica do seio, catexiza depois as fezes, e ainda mais tarde o pênis. 
Podemos dizer então, que há um fluxo da libido de objeto para objeto e de uma fase de 
gratificação para outra, durante o percurso do desenvolvimento psicossexual, fluxo que segue um 
caminho que é provavelmente determinado geneticamente em forma ampla, mas que pode variar 
consideravelmente de pessoa para pessoa. 
Temos razões para acreditar, no entanto, que nenhuma catexia libidinal seja abandonada. A 
maior parte da libido pode fluir para outros objetos, mas certa quantidade, pelo menos, permanece 
normalmente ligada ao objeto original. A esse fenômeno, isto é, à persistência de catexia libidinal de 
um objeto de tenra infância ou meninice na vida posterior, denomina-se “fixação” da libido. 
Por exemplo, um menino pode permanecer fixado em sua mãe e desse modo ser incapaz, na 
vida adulta, de transferir suas afeições a outra mulher, como deveria normalmente ser capaz de fazer. 
Além disso, a palavra “fixação” pode se referir a um modo de gratificação. Assim, falamos de pessoas 
que estão fixadas às modalidades de gratificação oral ou anal. 
O uso do termo “fixação” indica ou implica, geralmente, psicopatologia. Isso se deve a que a 
persistência das catexias iniciais tenha sido inicialmente reconhecida e descrita, por Freud e aqueles 
que o seguiram, em pacientes neuróticos. É provável, como já dissemos que constitua uma 
característica geral do desenvolvimento psíquico. Talvez seja mais provável que, quando em proporção 
excessiva, resulta numa consequência patológica. 
 
 
Uma fixação, tanto a um objeto como a uma fase do desenvolvimento, é em geral 
inconsciente, seja totalmente ou em parte. Por exemplo, apesar da forte intensidade de suas catexias, 
os interesses sexuais da nossa infância, são comumente esquecidos em grande parte à medida que 
abandonamos a tenra infância. De fato, é mais exato dizer que as lembranças de tais interesses são 
energicamente barradas de se tornarem conscientes, e certamente o mesmo deve ser verdade para as 
fixações em geral. 
Assim como temos um fluxo progressivo da libido no desenvolvimento psicossexual, também 
podemos produzir um refluxo. Esse refluxo é chamado de “regressão”. Este termo designa o retorno a 
uma fase ou a um objeto mais remoto de gratificação. 
A regressão se relaciona com a fixação, uma vez que de fato, quando sucede a regressão, 
geralmente ela se faz para um objeto ou fase do desenvolvimento ao qual o sujeito já se fixara. Se um 
novo prazer se mostra insatisfatório e é abandonado, o sujeito tende naturalmente a retornar aquele 
que já foi experimentado e aceito. 
Um exemplo característico de regressão seria a resposta de uma criança pequena ao 
nascimento de um irmãozinho, com que terá que partilhar o amor e a atenção da mãe. Embora tenha 
abandonado a sucção do seu polegar vários meses antes da chegada do irmão. 
Logo retornará depois do nascimento deste, nesse caso, o objeto mais primitivo de 
gratificação libidinal para o qual a criança regrediu foi o polegar, enquanto que a fase mais remota foi à 
sucção. 
Como nosso exemplo sugere geralmente se considera a regressão como aparecendo sob 
circunstâncias desfavoráveis e, ainda que não seja necessariamente patológica, amiúde se associa a 
manifestações patológicas. 
Devemos mencionar neste ponto uma característica da sexualidade infantil que é de especial 
importância. Diz respeito ao relacionamento da criança com os objetos. Para usarmos um exemplo 
bem simples, se o bebê não pode ter sempre o seio da mãe, logo aprende a se acalmar sugando os 
próprios dedos, da mão ou do pé. Essa capacidade de gratificar suas próprias necessidades sexuais 
por si mesmo é chamada de autoerotismo. Dá à criança certa independência em relação ao ambiente, 
no que se refere a obter gratificação. 
Quanto ao impulso agressivo, devemos confessar que se tem escrito muito menos sobre 
suas vicissitudes do que sobre as do impulso sexual. Isso certamente se deve ao fato de que foi 
somente em 1920 que Freud considerou o impulso agressivo como um componente instintivo 
 
 
independente, na vida mental, comparável ao comportamento sexual, que desde muito cedo foi 
reconhecido e tornado objeto de estudo. 
As manifestações do impulso mostram a mesma capacidade de fixação e regressão, e a 
mesma transição de oral a anal e a fálica. Isso quer dizer que os impulsos agressivos no bebê muito 
novo são passíveis de serem descarregados por um tipo de atividade oral como morder. Um pouco 
mais tarde, evacuar ou reter as fezes tornam-se meios importantes de liberação do impulso agressivo, 
enquanto que na criança ligeiramente maior o pênis e sua atividade são empregados, ou pelo menos 
usados na fantasia, respectivamente como uma arma e um meio de destruição. 
No entanto, é claro que o relacionamento entre o impulso agressivo e as diversas partes do 
corpo que acabamos de mencionar não se encontra num relacionamento tão próximo como no caso do 
impulso sexual. A criança de cinco ou seis anos, por exemplo, não usa em grande extensão, na 
realidade, seu pênis como arma; geralmente emprega suas mãos, seus pés e palavras. No entanto, o 
que se pode demonstrar pela análise, é que as armas que usa em seus jogos e fantasias, tais como 
espadas, flechas, rifles, etc., representam seu pênis e seus pensamentos inconscientes. Parece, 
portanto, que em suas fantasias ela está inconscientemente destruindo seusinimigos com seu 
poderoso e perigoso pênis. 
É interessante que a questão da relação do impulso agressivo com o prazer ainda seja, do 
mesmo modo, duvidosa. Não temos dúvida sobre a conexão entre o impulso sexual e o prazer. A 
gratificação do impulso sexual não significa apenas uma descarga indiferente de tensão, mas também 
uma descarga que proporciona prazer. O fato de que o prazer possa ser impedido ou mesmo 
substituído por sentimento de culpa, vergonha, ou aversão em certos casos, não altera nosso ponto de 
vista no que se refere à relação original entre sexualidade e prazer. 
E a satisfação do impulso agressivo, ou em outras palavras, a descarga da tensão agressiva, 
também traz prazer? Freud, em 1920, pensava que não. Outros autores mais recentes. Outros autores 
mais recentes presumem que sim. Não temos meios de encontrar, por enquanto, a afirmação correta. 
Uma ressalva pode ser útil no que diz respeito as palavras “libido” e “libidinal”. Elas devem 
ser compreendidas como se referindo não apenas à energia do impulso sexual, mas também a do 
impulso agressivo. 
 
 
 
 
 
2 ESTRUTURA DO APARELHO PSÍQUICO 
 
Embora Freud tenha usado a formulação do ego no transcorrer da evolução da teoria 
psicanalítica, a psicologia do ego, como é conhecida hoje, iniciou, de fato com a publicação de O 
Ego e o ID, em 1923. 
A psicologia psicanalítica do ego contemporânea baseia-se na teoria estrutural de Freud, 
em que o ego é entendido como separado das demandas pulsionais. 
 
 
 
 
 
 
 O aspecto inconsciente do ego contém os mecanismos de defesa, tal como a 
repressão, necessários para se contrapor às poderosas demandas pulsionais albergadas no id – 
especificamente, sexualidade e agressividade. 
 
 O id constitui uma instância intrapsíquica completamente inconsciente, interessada 
apenas em descarregar tensão. O id é controlado pelos aspectos inconscientes do ego e pela 
terceira instância do modelo estrutural – o superego. 
 
 O superego, em sua maior parte é inconsciente, embora alguns dos seus aspectos 
sejam certamente conscientes. Esta instância incorpora a consciência moral e o ideal do ego. A 
consciência moral reprova, o que o sujeito deve ser ou fazer por intermédio da internalização dos 
valores sociais e parentais. O ideal do ego determina o que o sujeito deve ser ou fazer. 
 
 
O aspecto consciente do ego é o órgão executivo do 
psiquismo, responsável pela tomada de decisões e 
integração dos dados perceptuais. 
 
 
 
 
 
 
Modelo estrutural de Freud 
 
 
 
 
O superego, o ego e o id batalham entre si, ao passo que a sexualidade e a agressividade 
demandam expressão e descarga. O conflito entre as instâncias produz ansiedade. 
Esta ansiedade sinalizadora alerta o ego da necessidade de um mecanismo de defesa. O 
mecanismo de formação do sintoma neurótico pode ser entendido desta maneira. O conflito produz 
ansiedade, que resulta em defesa, levando a um compromisso entre o id e o ego. 
 
 
 
 
 
 
Portanto, 
O superego tende a ser mais sensível às demandas do id e, portanto, encontra-se 
mais imerso no inconsciente do que o ego (ver figura abaixo). 
 
A psicologia do ego conceitualiza o mundo intrapsíquico 
em termos de conflito entre as instâncias. 
Um sintoma constitui uma formação de 
compromisso que, ao mesmo tempo, 
defende contra a emergência do desejo 
proveniente do id e o gratifica de forma 
mascarada. 
 
 
Vamos citar um exemplo. Um contador com transtorno obsessivo-compulsivo estava 
terrivelmente preocupado com a possibilidade de explodir de raiva contra seu chefe. Acreditava que 
controlaria sua raiva deglutindo cem vezes consecutivas. 
Este sintoma o defendia contra a erupção da raiva proveniente do id, mas também 
continha uma forma atenuada de gratificação de seu desejo agressivo em relação ao seu chefe – o 
processo de contagem e deglutição impediam-o de realizar seu trabalho, desafiando, portanto, seu 
chefe e afirmando sua independência. 
Tais formações de compromisso constituem processos mentais normais. Os sintomas 
neuróticos representam apenas a variedade patológica. Os próprios traços de caráter também 
podem ser formações de compromisso, representando soluções criativas e adaptativas para o 
conflito intrapsíquico. 
 
 
 
2.1 Mecanismos de defesa 
 
Freud reconhecia a existência de outros mecanismos de defesa, porém dedicou a maior 
parte de sua atenção à repressão. Sua filha, Anna, em sua obra memorável, O ego e os 
mecanismos de defesa, ampliou o trabalho do pai, descrevendo detalhadamente nove mecanismos 
de defesa específicos: 
 Regressão, 
 Formação reativa, 
 Anulação, 
 Introjeção, 
 Identificação, 
 Projeção, 
 Voltar-se contra si próprio, 
 Reversão 
 Sublimação. 
 
 
 
Ainda mais importante, era o reconhecimento das implicações que a observação atenta da 
operação defensiva do ego teria para o tratamento. O psicanalista não poderia mais simplesmente 
desvendar os desejos inaceitáveis provenientes do id. 
Era preciso que fosse dada igual atenção às vicissitudes dos esforços defensivos 
empreendidos pelo ego, que se manifestariam como resistências ao tratamento. 
Ao desviar a ênfase da psicanálise das pulsões para as defesas do ego, Anna Freud 
antecipou o movimento da psicanálise. Atualmente, definimos em parte muitas formas de transtorno 
de personalidade de acordo com as suas operações defensivas típicas. 
Freud (1926) postulou que todas as defesas possuem em comum a proteção do ego 
contra as demandas instintivas do id. Alguns dos principais mecanismos de defesa neuróticos são: 
repressão, deslocamento, formação reativa, isolamento do afeto, anulação, somatização e 
conversão. 
 
Vamos falar de cada um deles: 
 
 Freud considerava este mecanismo como a rainha de todas as defesas. Opera 
inconscientemente por meio da expulsão dos desejos, sentimentos, ou fantasias de percepção 
consciente. A repressão primária refere-se a remover idéias e sentimentos antes que eles tenham 
atingido a consciência. Já a repressão secundária exclui da percepção o que foi uma vez 
experimentado como consciente. O reprimido não é realmente esquecido, na medida em que o 
comportamento simbólico pode estar presente. 
 
 Esta defesa é um processo inconsciente por intermédio do qual os 
sentimentos ligados a uma fonte são redirecionados a outra. A transferência* constitui um exemplo 
óbvio do deslocamento, visto que os sentimentos por uma pessoa do passado são transferidos para 
uma figura do presente. 
 
* este conceito discutiremos mais amplamente em outro capítulo. 
 
Repressão 
Deslocamento 
 
 
As fobias são o exemplo clássico desta defesa, porque a ansiedade associada com uma 
fonte inconsciente é redirecionada para um substituto consciente, frequentemente inofensivo por si 
próprio. 
O deslocamento também constitui um dos principais mecanismos de disfarce no sonho, 
que trataremos mais à frente. 
 
 Esta defesa comum é caracterizada pelo desvio de um impulso ou desejo 
inaceitável por meio da adoção de um traço de caráter diametralmente oposto. É transformar um 
impulso inaceitável em seu oposto. 
 
 
 Este mecanismo dissocia ou separa uma idéia do afeto que a 
acompanha. Por exemplo, uma lembrança traumática pode ser facilmente recordada, porém estará 
despida de quaisquer sentimentos intensos concomitantes. O isolamento com frequência atua 
simultaneamente com a intelectualização, que realiza uma função similar de evitar o afeto. 
 
 
 Este mecanismo envolve pensamento mágico, sendo uma ação 
simbólica realizada com o objetivo de anular ou cancelar um pensamento ou ação completamente 
inaceitável. 
Um paciente diria: “Se você pisar numa fresta quebrará o pescoço de sua mãe”. Toda vez 
que ele inadvertidamente pisasse numa rachadura da calçada, retornaria para reconstituirseus 
passos, de modo a repeti-los sem acertar a fresta. 
 
 
 Esta defesa típica de pacientes hipocondríacos envolve a transferência 
de sentimentos dolorosos para as partes do corpo. O sujeito tende a reagir com manifestações 
somáticas ao invés de psíquicas. 
Formação reativa 
Isolamento do 
afeto 
Anulação 
Somatização 
 
 
A terapia com pacientes somatizadores é frequentemente frustrante, porque os 
sentimentos são inaceitáveis e suas preocupações emocionais podem ser somente comunicadas 
por meio de queixas físicas. 
 
 
 Este mecanismo caracteriza-se pela representação simbólica de um 
conflito intrapsíquico em termos físicos. Como no caso citado anteriormente de Anna O., que 
desenvolveu entre outros sintomas, uma paralisia. A simbolização motora ou sensorial 
frequentemente envolve uma defesa inaceitável. 
 
Podemos citar ainda, outros mecanismos de defesa: 
 
 É um mecanismo de defesa pelo qual um sujeito situa no mundo exterior, 
mas sem identificá-los como tais, pensamentos, afetos, concepções, desejos, etc., acreditando, por 
isso, em sua existência exterior, objetiva, como um aspecto do mundo. 
Em um sentido mais estrito, a projeção constitui uma operação por meio da qual um 
sujeito coloca para fora e localiza em outra pessoa uma pulsão que não pode aceitar em sua 
pessoa, o que lhe permite ignorá-lo em si mesmo. A projeção é uma operação essencialmente 
imaginária. 
 
 
 Este mecanismo de defesa consiste em usar excessivamente 
processos intelectuais para evitar a expressão afetiva ou a experiência. Uma ênfase indevida é 
focalizada no inanimado a fim de evitar intimidade com pessoas. A atenção é prestada à realidade 
externa a fim de evitar a expressão de sentimentos. A ênfase é colocada sobre detalhes irrelevantes 
para evitar perceber o todo. 
 
 
 É um processo inconsciente pelo qual as demandas ou desejos 
conscientemente inaceitáveis são canalizados para alternativas socialmente aprovadas. 
Conversão 
Projeção 
Intelectualização 
Sublimação 
 
 
Dito de outro modo é a gratificação de impulsos e a obtenção de metas, mas alterando 
uma meta ou objeto socialmente reprovável para um socialmente aceito. A sublimação permite que 
os instintos sejam canalizados ao invés de bloqueados ou reprimidos. Os sentimentos são 
reconhecidos, modificados e voltados em direção a um objeto ou meta significativa. 
Todos nós lançamos mão de mecanismos de defesa. Isto nos mostra o princípio dinâmico 
em que a saúde e a enfermidade situam-se em um continuum. De fato, um perfil dos mecanismos 
típicos de defesa de uma pessoa constitui um bom barômetro da sua saúde psicológica. 
 
 
 
 
3 TEORIA PSICANALÍTICA DA ANSIEDADE 
 
Segundo Freud, a teoria original de sobre a ansiedade resultava de uma descarga, de um 
represamento inadequado da libido. Quer a acumulação normal da libido no interior da psique fosse 
resultado de obstáculos externos a sua descarga adequada, pudesse ser em razão a obstáculos 
internos, tais como: conflitos ou inibições inconscientes concernentes à gratificação sexual, 
considerada de pouca importância relativa quanto ao ponto de vista da teoria da ansiedade. 
Em qualquer caso, o resultado era uma acumulação de libido não liberada que se poderia 
transformar em ansiedade. A teoria não explicava como se processava essa transformação, nem os 
fatores que determinavam o momento exato em que ela ocorria. 
Esta era a situação da teoria psicanalítica da ansiedade até 1926. Naquele ano, foi 
publicada uma monografia de Freud, intitulada Inibições, sintomas e ansiedade (1926). Nessa 
monografia Freud salientou que a ansiedade é o problema central da neurose e propunha uma nova 
teoria sobre a ansiedade, fundada na hipótese estrutural, e que vamos resumir a seguir. 
Ao procurar entender a nova teoria, devemos antes de qualquer coisa nos compenetrar de 
que Freud acreditava que a ansiedade tinha uma base biológica, herdada. Em outras palavras, 
acreditava que o organismo humano é dotado, ao nascer, da capacidade de reagir por meio das 
manifestações psicológicas e físicas que denominamos ansiedade. Realmente ele ressaltou que 
tanto no homem, como nos animais inferiores, essa capacidade tem um valor definido de 
 
 
sobrevivência para o sujeito, pelo menos em seu estado “natural”. Se um ser humano, sem a 
proteção dos pais, não se atemorizasse por coisa alguma, seria logo destruído. 
Portanto, o que Freud procurou explicar, nessa teoria da ansiedade, não foi a natureza, nem a 
origem básica da ansiedade, e sim seu lugar e sua importância na vida psíquica do homem. 
 
Em sua nova teoria Freud pretendia relacionar o aparecimento da ansiedade com o que 
denominou “situações traumáticas” e “situações de perigo”. Definiu a primeira delas como uma 
situação em que a psique é engolfada por uma afluência de estímulos demasiado grande para que 
os possa dominar ou descarregar. 
Segundo Freud acreditava, quando isso acontece, a ansiedade automaticamente se 
desenvolve. 
Uma vez que faz parte da função do ego dominar os estímulos recebidos tanto quanto 
descarregá-los de forma eficaz, seria de esperar que ocorressem situações traumáticas mais 
frequentemente nos primeiros meses e anos de vida, quando o ego é ainda relativamente débil e 
pouco desenvolvido. Freud, de fato, era da opinião de que o protótipo da situação traumática é a 
experiência do nascimento, tal como ela afeta o bebê que emerge. Nesse momento, o bebê é 
submetido a uma poderosa afluência de estímulos sensoriais, viscerais e externos, aos quais reage 
com o que Freud considerava manifestações de ansiedade. 
O principal interesse de Freud no nascimento como situação traumática, acompanhada 
por ansiedade, decorria aparentemente do fato de que o mesmo pode ser interpretado, como o 
protótipo de situações traumáticas posteriores, psicologicamente mais significativas, e, como tal, 
coincidia com suas novas idéias. 
Freud dedicou grande atenção às situações traumáticas que ocorrem na infância logo após o 
nascimento. Como exemplo dessas situações, relatou o seguinte: um bebê, nos primeiros tempos de 
vida, é dependente da mãe 
para a gratificação da maioria 
de suas necessidades 
corporais e para atingir a 
gratificação que, nesse 
período da vida, se relaciona primordialmente à satisfação das 
necessidades corporais, como, por exemplo, à amamentação, 
 
 
quando a criança sente satisfação oral tanto quanto o prazer de ser aconchegada, aquecida e 
acariciada. 
O bebê, antes de atingir certa fase em sua vida, não pode obter prazeres, isto é, essas 
gratificações instintivas, por suas próprias forças. Se, quando a mãe está ausente, o bebê sente uma 
necessidade instintiva que só pode ser satisfeita por ela, desenvolve-se uma situação que, para a 
criança, é traumática, no sentido em que Freud usou esta palavra. 
O ego do bebê não está suficientemente desenvolvido de modo a torná-lo capaz de adiar a 
gratificação, mantendo assim, os desejos e impulsos em suspenso; ao invés disso, a psique do bebê é 
engolfada por uma afluência de estímulos. Como não pode dominar nem descarregar de forma 
adequada esses estímulos, desenvolve-se a ansiedade. 
A idéia de Freud, contida na hipótese estrutural, consistia em que 
 
Sentir qualquer emoção é uma função do ego, segundo Freud, e naturalmente deve 
prevalecer também em relação à ansiedade. 
Os bebês muito novos possuem apenas rudimentos de ego e mesmo essa pequena porção 
que começou a se destacar do resto do id ainda é praticamente indistinguível do mesmo. Não obstante, 
seja qual for à parte do ego que pode ser distinguida em crianças tão novas, constitui o local em que se 
desenvolve a ansiedade. 
Freud acreditava também que a tendência ou capacidade do aparelho psíquicopara reagir a 
uma afluência excessiva de estímulos, isto é, pelo desenvolvimento da ansiedade, persiste por toda a 
vida. Em outras palavras, uma situação traumática, no sentido freudiano, pode desenvolver-se em 
qualquer idade. 
Devemos lembrar ainda, que a situação torna-se traumática e gera ansiedade, somente 
quando os estímulos produzidos sejam de origem interna ou externa, não podem ser adequadamente 
dominados ou descarregados. 
Tanto quanto podemos saber, as situações traumáticas que surgem em consequência das 
exigências do id são as mais comuns e as mais importantes nos primórdios da vida. 
Este conceito básico adquire importância clínica, isto é, a admissão de que as chamadas 
neuroses traumáticas da vida adulta, como, por exemplo, as neuroses de guerra e o que se costumou 
o ego é o local de todas as emoções 
 
 
chamar de choque traumático, são consequência de uma afluência avassaladora de estímulos externos 
que determina então, automaticamente a ansiedade. 
O conceito de Freud sobre as situações traumáticas e sobre o desenvolvimento automático 
da ansiedade nestas situações constitui o que podemos chamar da primeira parte de sua nova teoria 
da ansiedade. 
Podemos agora resumir a primeira parte da nova teoria de Freud da seguinte maneira: 
 
A segunda parte da nova teoria consiste em que, no decorrer do crescimento, a criança 
pequena aprende a antecipar o acontecimento de uma situação traumática e a reagir à mesma com 
ansiedade antes que se torne traumática. A este tipo de ansiedade Freud chamou de ansiedade de 
alarme. É produzida por uma situação de perigo ou pela antecipação do perigo, sua produção é uma 
A ansiedade desenvolve-se 
automaticamente, sempre que a 
psique é assaltada por uma 
afluência de estímulos 
demasiadamente grande para ser 
dominada ou descarregada. 
Quando a ansiedade se 
desenvolve automaticamente, de 
acordo com esse padrão, é uma 
situação traumática. 
Esses estímulos podem ser de 
origem externa ou interna; 
surgem, porém, mais 
frequentemente do id, isto é, dos 
impulsos. 
A ansiedade automática é 
característica da infância, em 
razão à debilidade e à 
imaturidade do ego àquela época 
da vida, mas também se 
manifesta na vida adulta. 
O protótipo dessas situações 
traumáticas é o nascimento. 
 
 
função do ego, e serve para mobilizar as forças sob o comando deste último para enfrentar ou evitar a 
situação traumática iminente. 
Para ilustrar o significado da expressão “situação de perigo” Freud retornou ao exemplo do 
bebê que a mãe deixou sozinho. Se a criança for assaltada por alguma necessidade, cuja gratificação 
requeira a presença da mãe, a situação se tornará traumática e a ansiedade se desenvolverá 
automaticamente. 
Freud argumentou que, depois de alcançar certo estágio de desenvolvimento, o ego da 
criança reconheceria a existência de uma relação entre a saída da mãe e o desenvolvimento de um 
estado sumamente desagradável de ansiedade automaticamente induzida que, às vezes, aparece 
depois que a mãe sai. Em outras palavras, o ego saberá que, se a mãe estiver presente, a ansiedade 
não se desenvolverá ao passo que pode aparecer se ela for embora. Como resultado, o ego passa a 
considerar a separação da mãe como uma “situação de perigo”, sendo que o perigo repousa no 
aparecimento de uma exigência imperiosa de gratificação por parte do id enquanto a mãe está ausente, 
com o consequente aparecimento de uma situação traumática. 
Que faz o bebê em tal situação de perigo? Parte do que faz é familiar a qualquer um que 
tenha tido experiência com crianças. Por meio de várias expressões de ansiedade a criança procura 
impedir a mãe de sair ou fazê-la voltar se ela já saiu. 
Freud estava preocupado com o que ocorre intrapsiquicamente no bebê. Sugeriu que numa 
situação de perigo o ego reage com ansiedade que ele próprio gera ativamente e propôs chamar essa 
situação, ansiedade de alarme, por ser produzida pelo ego como um sinal de perigo. 
Quando o ego reconhece uma situação de perigo e a ela reage produzindo uma ansiedade 
de alarme, surge o princípio de prazer*. A ansiedade de alarme é desagradável, tanto mais quanto 
mais intensa. Presumimos, naturalmente, que, de certa forma, a intensidade da ansiedade é 
proporcional à avaliação que o ego faz da gravidade ou da eminência do perigo, ou ambos. Assim, 
esperamos que no caso de qualquer situação de perigo intenso, a ansiedade e o desprazer também 
serão intensos. 
O desprazer desencadeia então, automaticamente, o que Freud chamou o “onipotente” 
princípio de prazer. É a atuação do princípio do prazer que então empresta ao ego a força necessária 
para dominar o aparecimento ou a ação continuada de quaisquer impulsos do id que possam 
determinar uma situação de perigo. 
 
 
Freud esboçou uma série de situações típicas de perigo que podem ocorrer em sequência na 
vida da criança: 
* ver glossário 
 
 
A ansiedade de alarme é ou deveria ser, de muito menor intensidade do que a ansiedade que 
acompanha uma situação traumática. Em outras palavras, esse aviso que o ego aprende a dar no seu 
desenvolvimento é menos desagradável do que a ansiedade que se poderia desenvolver, caso o aviso 
não fosse dado e se manifestasse uma situação traumática. A ansiedade de alarme é uma ansiedade 
atenuada. 
Essa função da ansiedade não é, de modo algum, patológica em si mesma. Ao contrário, 
constitui parte necessária à vida psíquica e ao crescimento. Sem ela, seria impossível qualquer espécie 
de educação, no sentido mais amplo da palavra. 
•consiste na separação de uma pessoa que é 
importante para a criança como fonte de gratificação. 
Este perigo é característico da fase mais primitiva do 
desenvolvimento do ego, talvez até a idade de um ano 
e meio. 
“perda do 
objeto” ou 
“perda do 
objeto amado” 
•a situação de perigo é a perda do amor de uma pessoa 
de seu ambiente, da qual tenha que depender para sua 
gratificação. Em outras palavras, mesmo que a pessoa 
esteja presente, a criança pode temer a perda do seu 
amor. Esta fase segue a primeira, e dura até 
aproximadamente os três anos. 
“perda do 
amor do 
objeto” 
•esta situação típica de perigo, difere de um sexo para 
o outro. No caso do menino o perigo repousa na perda 
do seu pênis, o que, na literatura psicanalítica, é 
designado como castração. No caso da menina o 
perigo consiste em alguma lesão genital análoga. Esta 
última situação de perigo é proveniente da culpa ou 
desaprovação e consequente punição pelo superego. 
Este perigo se torna importante depois dos cinco ou 
seis anos de idade. 
“perda do 
pênis”/ “lesão 
genital” 
 
 
O sujeito ficará a mercê de cada impulso que surgisse em seu id e deveria procurar gratificá-
los um de cada vez ou simultaneamente, a menos que a propósito de fazê-lo determinasse uma 
situação traumática em que o sujeito fosse subjugado pela ansiedade. 
Devido à ênfase que a literatura psicanalítica atual dá a importância da ansiedade nos casos 
de enfermidade mental, pode-se perder de vista que a função que tem a ansiedade de possibilitar ao 
ego o controle ou inibição dos impulsos que lhe pareçam perigosos, é uma função indispensável ao 
desenvolvimento normal. 
Recapitulemos agora esta segunda parte da nova teoria da ansiedade: 
 
 
Ao longo de seu 
desenvolvimento o ego 
adquire a capacidade de 
produzir ansiedade 
quando surge uma 
situação de perigo 
(ameaça ou situação 
traumática) e, mais tarde, 
em antecipação ao perigo. 
Por meio da ação do 
princípio de prazer essa 
ansiedade de alarme 
permite ao ego controlar 
ou inibir os impulsos do id, 
em uma situação de 
perigo. 
A ansiedade de alarme é 
uma forma atenuada de 
ansiedade, que tem grande 
influência no 
desenvolvimento normal, e 
é a forma de ansiedade 
característica das 
psiconeuroses. 
Existe um conjunto ou uma 
sequência característica de 
situações de perigo na 
primeira e na última 
infância, que sobrevive 
comotal, 
inconscientemente, em 
maior ou menor grau, por 
toda a vida. 
 
 
Todos estes perigos persistem inconscientemente, pelo menos até certo ponto, por toda a 
vida – em pacientes neuróticos, de maneira excessiva – e a importância relativa de cada perigo varia 
de pessoa para pessoa. No trabalho clínico com um paciente, é evidentemente de a maior importância 
prática saber qual é o perigo que o paciente mais teme inconscientemente. 
 
3.1 O aparelho psíquico – conclusão 
 
Freud foi o primeiro a nos fornecer um quadro claro da grande importância que tem, para a 
nossa vida e desenvolvimento psíquicos, a relação com outras pessoas. A primeira delas é 
naturalmente, a relação da criança com os pais, relação esta que, a princípio, na maior parte dos casos 
se restringe principalmente à mãe ou à sua substituta. Um pouco mais tarde surge a relação com os 
irmãos, ou outros companheiros próximos. 
Freud assinalou que as pessoas as quais as crianças se apegam em seus primeiros anos 
ocupam uma posição central em sua vida psíquica. Isto acontece, quer o apego da criança a essas 
pessoas seja por laços de amor, de ódio, ou ambos, sendo o último caso o mais comum. 
A importância dessas primeiras relações deve decorrer, em parte, do fato de que tais 
relações iniciais influenciam o desenvolvimento da criança, o que as relações posteriores não poderão 
realizar na mesma proporção, em razão, justamente, ao fato de serem posteriores. 
Decorre também, em parte, do fato de que em seus primeiros anos de vida a criança é 
relativamente indefesa durante muito tempo. Em consequência desse desamparo prolongado, ela 
depende do seu ambiente para encontrar proteção, gratificação, e para o próprio processo de viver, por 
um período muito mais longo que qualquer outro mamífero. 
Na literatura psicanalítica o termo “objeto” é empregado para designar pessoas ou coisas do 
ambiente externo que são psicologicamente significativas para a vida psíquica do sujeito, sejam tais 
“coisas” animadas ou inanimadas. 
Do mesmo modo a expressão “relações de objeto” refere-se à atitude e ao comportamento do 
sujeito para com esses objetos. 
Nos estágios iniciais da vida, as crianças não percebem os objetos como tais e só 
gradativamente, ao longo dos primeiros meses de seu desenvolvimento, aprendem distinguir sua 
própria pessoa dos objetos. Também afirmamos que, entre os objetos mais importantes da infância, se 
 
 
incluem as várias partes do próprio corpo da criança, isto é, seus dedos e boca. Eles são 
extremamente importantes como fontes de gratificação, razão pela qual admitimos que os 
representantes psíquicos desta parte do corpo são altamente catexizados. A esse estado de libido 
autodirigida Freud (1914) denominou de narcisismo. Segundo a lenda, o jovem Narciso se enamorou 
da sua própria imagem. 
 
 
 
Quando se aplica o termo a uma criança, naturalmente, indica em geral o que consideramos 
como um estágio normal ou característico de desenvolvimento inicial. 
Deve-se acrescentar que Freud acreditava que a maior parte da libido permanecia narcísica, 
isto é, autodirigida, por toda a vida. Assim, podemos dizer que a libido do objeto deriva da libido 
narcísica e a ela pode retornar se, mais tarde, por qualquer razão o objeto for abandonado. 
Podemos dizer então que a atitude da criança para com os primeiros objetos é uma atitude 
egocêntrica. A princípio, a criança só se interessa pelas gratificações que o objeto proporciona. No 
começo, o objeto só é catexizado quando o bebê começa a sentir alguma necessidade que pode ser 
satisfeita pelo objeto ou por meio dele e que, de outra forma, psiquicamente inexiste para o bebê. 
Supomos que só gradativamente desenvolve-se uma relação contínua com o objeto, ou em 
outras palavras, a criança paulatinamente desenvolve interesse pelos objetos de seu ambiente, o qual 
persiste mesmo quando ela não está procurando prazer ou gratificação por intermédio dos mesmos. 
Em geral, emprega-se o termo narcisismo para indicar 
pelo menos três coisas diferentes, embora 
relacionadas, quando se aplica a um adulto: 
Uma 
hipercatexia do 
eu 
Uma hipocatexia 
dos objetos do 
ambiente 
Uma relação 
patologicamente 
imatura com 
esses objetos 
 
 
Inicialmente, a mãe só desperta o interesse do bebê quando ele tem fome ou dela necessita 
por alguma razão; porém, mais tarde, na primeira e na última infância, a mãe é psicologicamente 
importante de maneira contínua e não mais apenas ocasional. 
Estes primeiros objetos são chamados de objetos parciais. Com isto, podemos dizer, por 
exemplo, que só depois de muito tempo a mão existe para a criança como um objeto total. Antes disso, 
seu seio, ou a mamadeira, sua mão, seu rosto consistem, cada um, como objetos separados na vida 
psíquica da criança. Podem bem ser que mesmo aspectos diferentes do que fisicamente constitui um 
único objeto sejam também, para a criança, objetos distintos, e não unidos ou relacionados. 
Por exemplo, o rosto sorridente da mãe pode ser inicialmente para a criança, um objeto 
diferente de seu rosto zangado ou amuado, sua voz carinhosa um objeto diferente da voz que ralha, 
etc., e pode ser que somente depois de algum tempo esses dois rostos ou essas duas vozes sejam 
percebidos pela criança como um único objeto. 
Acreditamos que só se desenvolve uma relação de objeto contínua na última parte do 
primeiro ano de vida. Uma das características importantes dessas primeiras relações de objeto é seu 
alto grau do que chamamos ambivalência. Isto quer dizer que sentimentos de amor podem alternar em 
igual intensidade com sentimentos de ódio, dependendo das 
circunstâncias. Por volta do segundo ano de vida, a criança 
começa a experimentar sentimentos de raiva bem como de 
prazer para com o mesmo objeto. Esta ambivalência precoce 
persiste normalmente, diminuindo gradativamente até a vida 
adulta. 
 
Outra característica das primeiras relações de 
objeto é o fenômeno da identificação* com o objeto. Qualquer 
relação de objeto acarreta uma tendência para se identificar 
ao objeto, isto é, para se tornar igual a ele e que, quanto 
mais primitiva a fase de desenvolvimento do ego, maior a 
tendência para a identificação. 
Tem-se assinalado nos últimos anos que nos 
primeiros anos de vida, as relações inadequadas ou 
insatisfatórias com os objetos, isto é, com o mundo externo, podem impedir o desenvolvimento 
 
 
apropriado das funções do ego. Pode-se assim, já no início da vida, ter preparado o terreno para as 
grandes dificuldades psicológicas, quer da última infância, quer da vida adulta. 
As primeiras fases das relações de objeto que até aqui procuramos caracterizar são 
chamadas como relações de objeto pré-genitais, ou, às vezes, mais especificamente como relações de 
objeto anais ou orais. 
Na literatura psicanalítica, as relações de objeto da criança denominam-se, conforme a zona 
erógena que, no momento, esteja desempenhando o papel mais importante na vida libidinal da criança. 
São os impulsos, e talvez, principalmente, o impulso sexual, que procuram os objetos em 
primeiro lugar, pois é exclusivamente por intermédio dos objetos que se pode atingir uma descarga ou 
gratificação. A importância das relações de objeto é principalmente determinada pela existência de 
nossas exigências instintivas, e a relação entre impulso e objeto é de importância fundamental durante 
toda a vida. 
Quando a criança tem de dois anos e meio a três anos e meio, inicia as relações que 
habitualmente se convergem nas relações de objeto mais intensas e decisivas de toda a sua vida. Do 
ponto de vista dos impulsos, como já falamos no conteúdo II, a vida psíquica da criança passa, nesta 
idade, do nível anal para o nível fálico. Isto significa que, daí por diante, os desejos e impulsos 
principais que a criança experimenta em relação aos objetos de sua vida instintiva serão impulsos 
fálicos. 
A fase fálica é diferente das quea antecedem, quer no que diz respeito ao ego como aos 
impulsos. Quando se trata do ego, porém as diferenças decorrem do desenvolvimento progressivo das 
funções do ego que caracteriza toda a infância e, mais particularmente, os primeiros anos, enquanto as 
modificações na vida instintiva, isto é, no id, da fase oral a anal e a fálica, devem-se principalmente, 
pensamos nós, às tendências biológicas herdadas. 
O ego da criança de três ou quatro anos é mais experiente, mais desenvolvido, mais 
integrado e, consequentemente, diferente sob muitos aspectos, do ego da criança de um ou dois anos. 
Nessa idade a criança não mais possui relações parciais de objeto, se seu desenvolvimento foi normal. 
Assim, por exemplo, as diversas partes do corpo da mãe, seus diferentes humores, e seus papéis 
contraditórios, são todos reconhecidos pela criança dessa idade como compondo um único objeto 
chamado mãe. Além do mais, as relações de objeto da criança adquirem por esta época um alto grau 
de estabilidade. 
 
 
As relações de objeto mais importantes na fase fálica são as que se agrupam sob o complexo 
de Édipo. Realmente, o período de vida de cerca de dois anos e meio a seis anos é chamado fase 
edipiana ou período edipiano. As relações de objeto que abrangem o complexo edipiano são da maior 
importância tanto para o desenvolvimento mental normal quanto para o patológico. 
Freud considerou os acontecimentos desta fase da vida como, de fato, muito importantes 
(1924). Parece provável que as ocorrências do período edipiano tenham um significado crucial para a 
maior parte das pessoas e de enorme importância para quase todos. 
Ao longo dos primeiros dez ou quinze anos deste século, tornou-se evidente que o complexo 
de Édipo não era uma característica apenas da vida mental inconsciente dos neuróticos, manifestando-
se também em pessoas normais. A existência de tais desejos na infância e os conflitos aos quais dão 
origem é de fato, uma experiência comum a toda humanidade. 
É verdade, como muitos antropólogos tornaram claro, que as culturas diferentes da nossa 
apresentarão diferenças conseqüentes em relação à vida mental e aos conflitos da infância. Mas a 
melhor evidência de que dispomos no momento indica a existência de impulsos incestuosos e 
parricidas e de conflitos circundantes em todas as culturas que conhecemos. 
O complexo de Édipo, de maneira mais sumária, é uma atitude dupla em relação aos dois 
genitores: de um lado o desejo de eliminar o pai odiado de forma ciumenta e até de lhe tomar o lugar 
em uma relação sensual com a mãe; de outro lado, o desejo de eliminar a mãe também odiada com 
ciúmes, e de lhe tomar o lugar junto ao pai. 
 
 
 
Antes de ampliarmos a formulação acima, devemos fazer uma advertência. É importante se 
ter em mente a respeito do complexo edipiano, a força e a intensidade dos sentimentos envolvidos. É 
um verdadeiro caso de amor. Para muitas pessoas é o caso mais ardoroso de toda a sua vida, mas é 
de qualquer modo tão ardoroso quanto qualquer outro que o sujeito possa experimentar. Quando 
falarmos do complexo de Édipo, tenha em mente a intensidade das paixões de amor e ódio, de desejo 
e ciúme, de fúria e medo que ruge dentro da criança. Isto é o que queremos dizer quando procuramos 
descrever o complexo de Édipo. 
O complexo de Édipo 
 
 
No começo do período edipiano a criança menino ou menina, habitualmente mantêm com a 
mãe sua relação de objeto mais forte. Com isto queremos dizer que os representantes psíquicos se 
catexizam mais firmemente que quaisquer outros, exceto os do próprio eu da criança. 
O primeiro passo definido para a fase edipiana é, pois, a mesma em ambos os sexos. 
Consiste em uma expansão ou extensão já existente com a mãe, de modo a incluir a gratificação dos 
desejos genitais que despertam na criança. Ao mesmo tempo, desenvolve-se o desejo de possuir com 
exclusividade seu amor e admiração, o que, presumivelmente se relaciona ao desejo de ser grande e 
“ser papai”, fazer o que “papai faz com a mamãe”. Aquilo que “papai faz”, a criança dessa idade não 
pode compreender claramente. Entretanto, por suas próprias reações físicas, sejam quais forem às 
possibilidades que possa ter tido de observar os pais, deve relacionar esses desejos com as sensações 
excitantes em seus genitais e, no caso de um menino, com a sensação e o fenômeno de ereção. 
Freud, desde muito cedo, percebeu que a criança pode criar uma ou várias fantasias 
diferentes a respeito das atividades sexuais de seus pais, que ela deseja repetir com a mãe. Por 
exemplo, pode chegar à conclusão de que vão ao banheiro juntos, que olham para os genitais um do 
outro, que os manuseiam juntos, na cama. Essas conjecturas ou fantasias da criança se relacionam 
com suas próprias atividades autoeróticas. 
Devemos, também, acrescentar que o desejo de dar bebês à mãe, como fez o pai, é um dos 
desejos edipianos mais importantes, e que as teorias sexuais desse período relacionam-se 
grandemente com o problema de como se faz isso, e de como saem bebês quando são feitos. 
Paralelamente aos desejos sexuais pela mãe e ao desejo de ser o único objeto de seu amor, 
existem os desejos pela aniquilação ou desaparecimento de quaisquer rivais, que são, em geral, o pai 
e os irmãos. A rivalidade entre os irmãos tem como principal origem, o desejo da posse exclusiva do 
genitor. 
Esses desejos ciumentos e homicidas despertam na criança conflitos graves de dupla 
natureza. A primeira é o medo do revide, principalmente da parte do genitor que, para a criança desta 
idade, parece ser verdadeiramente onipotente. 
A segunda é que esses desejos se chocam com os sentimentos de amor e admiração de 
dependência em relação do genitor ou ao irmão mais velho, e com o medo da desaprovação paterna 
pelo seu desejo de destruir um irmão mais novo. Em outras palavras, a criança teme tanto a retaliação 
quanto a perda do amor em consequência dos seus desejos ciumentos. 
 
 
Vamos agora, considerar separadamente a evolução do complexo de Édipo no menino e na 
menina: 
- O Édipo no menino: a retaliação que o menino teme como consequência de seus desejos 
edipianos pela mãe, é a perda de seu próprio pênis. Isto é o que a literatura psicanalítica define pelo 
termo castração. 
A observação por parte das crianças de que há, de fato, pessoas reais que não possuem 
pênis, isto é, meninas ou mulheres as convencem de que sua própria castração é uma verdadeira 
possibilidade; então o medo de perder o órgão sexual que tanto preza, precipita um intenso conflito 
entre seus desejos edipianos. Este conflito, eventualmente, levará ao repúdio dos desejos edipianos 
que, em parte, são abandonados e em parte reprimidos, quer dizer, são banidos para os processos 
mais incessíveis do psiquismo inconsciente da criança. 
A situação se complica pelo fato de que o menino também é incitado por uma raiva ciumenta 
contra a mãe, por haver a mesma rejeitado o seu desejo de possuir com exclusividade seus carinhos e 
seu corpo, o que reforça ou desperta o desejo de livrar-se dela (matá-la) e de ser amado pelo pai, em 
seu lugar. Como isto também provoca o medo de castração, depois de descobrir que ser mulher é 
carecer de pênis, esses desejos consequentemente terão de ser reprimidos. 
Vemos assim que tanto os desejos masculinos quanto os femininos, do período edipiano, 
despertam a ansiedade de castração; e como o menino não está realmente maduro quer física quer 
sexualmente, só poderá resolver os conflitos provocados por seus desejos se renunciar aos mesmos 
ou os controlar por vários mecanismos de defesa e outras atividades defensivas do ego. 
- O Édipo na menina: no caso da menina, a situação é um pouco mais complicada. Seu 
desejo de personificar o homem junto á mãe não se fundamenta no medo da castração, já que, para 
começar, ela não tem um pênis. Sente-se fracassada ao se convencer de que não está

Continue navegando