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ORTODONTIA PROF. ME. DIOGO MARQUES SAPATA Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-reitor: Prof. Me. Ney Stival Diretoria EAD: Prof.a Dra. Gisele Caroline Novakowski PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Felipe Veiga da Fonseca Letícia Toniete Izeppe Bisconcim Luana Ramos Rocha Produção Audiovisual: Eudes Wilter Pitta Paião Márcio Alexandre Júnior Lara Marcus Vinicius Pellegrini Osmar da Conceição Calisto Gestão de Produção: Kamila Ayumi Costa Yoshimura Fotos: Shutterstock © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande responsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conhecimento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivência no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mercado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................5 1. INTRODUÇÃO E DEFINIÇÃO ORTODONTIA E ORTOPEDIA DENTOFACIAL ......................................................6 1.1 OS TRÊS TIPOS DE ORTODONTIA ......................................................................................................................6 1.1.1 A ORTODONTIA PREVENTIVA ...........................................................................................................................6 1.1.2 A ORTODONTIA INTERCEPTATIVA ..................................................................................................................6 1.1.3 A ORTODONTIA CORRETIVA ............................................................................................................................6 1.2 TIPOS DE APARELHOS .......................................................................................................................................7 1.2.1 APARELHOS REMOVÍVEIS ..............................................................................................................................7 1.2.2 APARELHOS FIXOS...........................................................................................................................................8 1.3 MOTRICIDADE .....................................................................................................................................................9 1.3.1MIOTERAPIA ......................................................................................................................................................10 INTRODUÇÃO, FISIOLOGIA E DESENVOLVIMENTO DA OCLUSÃO PROF. ME. DIOGO MARQUES SAPATA ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: ORTODONTIA 4WWW.UNINGA.BR 1.3.2 FUNCIONAL ......................................................................................................................................................10 1.3.3 MIOFUNCIONAL ..............................................................................................................................................10 2. FISIOLOGIA DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO ............................................................................................... 11 2.1. SISTEMA NERVOSO ........................................................................................................................................... 11 2.2. FUNÇÕES ESTOMATOGNÁTICAS ....................................................................................................................12 2.2.1. RESPIRAÇÃO ...................................................................................................................................................12 2.2.2. MASTIGAÇÃO .................................................................................................................................................13 2.2.3. DEGLUTIÇÃO ...................................................................................................................................................15 2.2.4. FALA .................................................................................................................................................................16 3. DESENVOLVIMENTO DA DENTIÇÃO E DA OCLUSÃO .......................................................................................19 3.1. ODONTOGÊNESE ..............................................................................................................................................19 3.2 O RECÉM-NASCIDO E A DENTIÇÃO DECÍDUA ............................................................................................... 20 3.3 CARACTERÍSTICAS NORMAIS DA DENTIÇÃO DECÍDUA ............................................................................... 20 3.3.1 DESENVOLVIMENTO DA OCLUSÃO ............................................................................................................... 20 3.3.2. ALTERAÇÕES NA DENTIÇÃO DECÍDUA E SUAS IMPLICAÇÕES ................................................................22 3.4. DENTIÇÃO MISTA ..............................................................................................................................................22 3.4.1 PERÍODO TRANSICIONAL ...............................................................................................................................22 3.4.2 ERUPÇÃO DOS PRIMEIROS MOLARES PERMANENTES ...........................................................................23 3.4.3 ERUPÇÃO DOS INCISIVOS PERMANENTES ................................................................................................24 3.4.4 ERUPÇÃO DOS PRÉ-MOLARES E CANINOS .................................................................................................25 3.5 DENTIÇÃO PERMANENTE.................................................................................................................................25 3.5.1 EVOLUÇÃO DA OCLUSÃO ................................................................................................................................25 3.6 IMPORTÂNCIA DA MUSCULATURA NA ESTABILIDADE DA OCLUSÃO NORMAL ........................................26 4. CRESCIMENTO CRÂNIO FACIAL PÓS-NATAL: CONCEITOS BÁSICOS ...........................................................26 4.1 CONCEITOS DO CRESCIMENTO CRANIOFACIAL ............................................................................................26 4.1.1 FORMAÇÃO ÓSSEA ENDOCONDRAL ..............................................................................................................26 4.1.2. FORMAÇÃO ÓSSEA INTRAMEMBRANOSA ..................................................................................................27 4.2. MECANISMOS DE CRESCIMENTO .................................................................................................................27 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................................30 5WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO O tratamento interdisciplinar requer compreensão de conhecimentos básicos por parte dos profissionais envolvidos devido a complexidade do crescimento e do desenvolvimento craniofacial. A fonoaudiologia se alia à odontologia e, mais precisamente, à ortodontia e ortopedia dentofacial para garantir um tratamento e um prognóstico mais favorável possível para seus pacientes. A ortodontia e ortopedia dentofacial são as especialidades da odontologia que estudam o crescimento do complexo craniofacial, do desenvolvimento da oclusão e do tratamento das anormalidades dentofaciais (MOYERS, 1991). Logo, é uma especialidade que tem por finalidade tratar de problemas dentários, esqueléticos e funcionais, visando a harmonia entre os dentes, músculos e ossos maxilares, levando a um equilíbrio facial adequado (CUNHA, 2015). A fonoaudiologia é uma ciência que estuda a comunicação humana e seus distúrbios envolvendo as áreas da voz, fala, linguagem e audição. Dentre as especialidades podemos encontrar a motricidade orofacial que, por sua vez, busca tratar patologias do sistema estomatognático e respectivas funções que se apresentem fora do padrão normal (CUNHA, 2015). As duas áreas, fonoaudiologia e ortodontia, se complementam no sentido de uma depender da outra com o propósito de buscar um padrão de normalidade. Na qual o objetivo do profissional é alcançar o equilíbrio de forças estáticas e dinâmicas, indispensável na realização das funções do sistema estomatognático, como respiração, mastigação, sucção, deglutição e, por fim, fonação (CUNHA, 2015). O ortodontista, junto ao fonoaudiólogo, possui métodos terapêuticos, como é o caso dos aparelhos ortodônticos, para alcançar o objetivo de homeostase do sistema estomatognático. O objetivo da Unidade I será abordar os conhecimentos básicos da ortodontia e ortopedia funcional dos maxilares, bem como a fisiologia do sistema estomatognático, da morfologia dos dentes e do crescimento e desenvolvimento da oclusão e do crânio, oferecendo conhecimento necessário para o aluno iniciar seu aprendizado no mundo da ortodontia. 6WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1. INTRODUÇÃO E DEFINIÇÃO ORTODONTIA E ORTOPEDIA DENTOFACIAL Podemos definir a ortodontia e ortopedia dentofacial explorando didaticamente a ortodontia preventiva, ortodontia interceptativa e ortodontia corretiva. Devemos considerar os tipos de aparelhos utilizados no tratamento ortodôntico que podem ser: fixos ou removíveis, intra ou extraorais, sendo estes com finalidade ortodôntica ou ortopédica. Quanto à motricidade orofacial, o foco é a adequação miofuncional, e podemos considerar três linhas de trabalho distintas que podem ser utilizadas ao mesmo tempo: mioterapia, funcional e miofuncional. 1.1 Os Três Tipos de Ortodontia 1.1.1 A ortodontia preventiva A ortodontia preventiva tem como objetivo prevenir más oclusões ainda não presentes na cavidade oral. Logo, ela atua diretamente na prevenção de cáries, de doenças periodontais, entre outras condições clínicas. Também tenta evitar a perpetuação de hábitos deletérios, como sucção não nutritiva, respiração oral, entre outras. Quando se constata uma deficiência no desenvolvimento da oclusão, a ortodontia preventiva atua com o auxílio de aparelhos ortodônticos, como os mantenedores de espaço, para evitar que essa deficiência se perpetue. Portanto, para que não ocorra complicações futuras, a ortodontia preventiva se une a vários profissionais, como pediatras e fonoaudiólogos, para evitar a instalação das más oclusões. 1.1.2 A ortodontia interceptativa A ortodontia interceptativa tem como finalidade intervir na progressão da má oclusão que se apresenta em progresso na cavidade oral. Por sua vez, quando a prevenção for tardia ou insuficiente, a intervenção se faz necessária, com o auxílio de aparelhos ortodônticos, dos mais variados tipos, que podem recuperar e manter a oclusão no caminho para se desenvolver corretamente. A ortodontia interceptativa pode se utilizar de aparelhos mantenedores e recuperadores de espaço, como, por exemplo, as variadas placas de Hawley, ou os ortopédicos fixos, como Hass e Hyrax, e, ainda, funcionais, como a grade palatina, o Bionator, Klammt, Bimler, entre outros. 1.1.3 A ortodontia corretiva A ortodontia corretiva tem como objetivo corrigir uma má oclusão já instalada na cavidade oral. Essa ortodontia se faz necessária quando não houve prevenção nem intervenção durante o processo de desenvolvimento da oclusão. então, utiliza-se da ortodontia corretiva, com auxílio do aparelho fixo, braquetes, da biomecânica e de mecanismos de ancoragem esquelética, cirurgias, entre outras mecânicas para alcançar as chaves de oclusão e recuperar a oclusão normal. 7WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1.2 Tipos de Aparelhos 1.2.1 Aparelhos removíveis Os aparelhos removíveis são constituídos por acrílico, fios de aço inoxidável, parafusos expansores, molas digitais e podem ser associados a elásticos intra e extraorais. Podemos citar os mantenedores e recuperadores de espaço, que são placas de Hawley com expansores, molas e arcos vestibulares. Também podemos citar o AeB e a máscara de Petit. Figura 1 - Aparelho removível – placa de Hawley com parafuso expansor e arco vestibular. Fonte: Cunha (2015). Figura 2 - Aparelho removível – AeB. Fonte: o autor. 8WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 3 - Aparelho removível - Máscara facial de Petit. Fonte: o autor. 1.2.2 Aparelhos fixos Os aparelhos fixos são cimentados com cimento de ionômero de vidro (CIV), logo são colados ou fixados aos dentes, sendo ativados ou removidos somente pelo ortodontista. Os aparelhos intraorais são adaptados diretamente na cavidade oral e não necessitam de apoios na cabeça ou no pescoço para sua ativação, como nos casos dos extraorais. Podemos citar os braquetes, Hass e Hyrax. Figura 4 - Aparelho fixo – Braquetes. Fonte: Cunha (2015). 9WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 5 - Aparelho fixo – Hass. Fig. Fonte: o autor. Figura 6 - Aparelho fixo – Hyrax. Fonte: o autor. 1.3 Motricidade Os aparelhos ortopédicos têm como objetivo redirecionar o crescimento dos ossos maxilares (mandíbula e maxila), sendo utilizados em pacientes em fase de crescimento que apresentam displasias esqueléticas. Por outro lado, os aparelhos ortodônticos buscam a correção do posicionamento dos dentes, independente da faixa etária. Resumindo, os aparelhos ortodônticos são indicados para problemas dentários e os ortopédicos para problemas esqueléticos, embora sejam indicados simultaneamente ou em momentos distintos. 10WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Na motricidade orofacial o foco é a adequação miofuncional, porém existem três linhas de trabalho distintas que podem ser utilizadas ao mesmo tempo. São elas Mioterapia, Funcional e Miofuncional. Nesse ponto, podemos citar os aparelhos Bionator, Bimler, Klammt, SN, entre outros. Figura 7 - Aparelho de motricidade – Bionator. Fonte: Cunha (2015). 1.3.1 Mioterapia Basicamente se resume aos exercícios visando a adequação do tônus muscular, ou seja, é indicado ao paciente de fisioterapia para adequar a musculatura de cabeça e pescoço. 1.3.2 Funcional Trabalha diretamente com as funções do sistema estomatognático, objetivando que estas propiciem a adequação do tônus muscular. O sistema estomatognático possui várias funções, na qual as principais são: respiração, mastigação, fala e deglutição. Cada uma dessas funções é trabalhada para um correto desenvolvimento da oclusão e, consequentemente, do sistema estomatognático. 1.3.3 Miofuncional Trabalha a preparação muscular e a adequação da função. Une os dois grupos anteriores e é onde a ortodontiamais atua com o auxílio dos aparelhos já citados, Bionator, Klammt, Bimler, entre outros. Vale ressaltar que, segundo Pereira (2005), o fonoaudiólogo tem participação fundamental nessa área da ortodontia, na qual é o “profissional responsável e competente no que se refere à avaliação, diagnóstico e tratamento das pessoas com distúrbios miofuncionais, orofaciais e cervicais” (SOCIEDADE BRASILEIRA DE FONOAUDIOLOGIA - SBFa, 2002). 11WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 2. FISIOLOGIA DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO O sistema estomatognático (do latim estomaI, boca, e gnatus, mandíbula) representa um conjunto de estruturas estáticas e dinâmicas relacionadas, anatômica e funcionalmente, com a mandíbula. Atuando de modo integrado em seus componentes (ossos, dentes, glândulas, músculos, articulações, ligamentos, sistema nervoso, sanguíneo e linfático) que desempenham diferentes funções, denominadas funções estomatognáticas (CUNHA, 2015). 2.1. Sistema Nervoso Para que ocorra inter-relação de todos os constituintes desse sistema e para que executem determinadas funções é necessário que ocorra um impulso nervoso que se propaga até os núcleos motores localizados no tronco cerebral (CUNHA, 2015). Os impulsos nervosos excitarão grupos específicos de estruturas para que determinada função programada ocorra, mas para que a função programada se realize estruturas denominadas receptores coordenam e controlam esses impulsos. No entanto, para ocorrer excitação dos receptores é preciso que um estímulo alcance o limiar de excitabilidade (DOUGLAS, 1998). Os receptores podem ser classificados baseado no tipo de estímulo que recebe, como os Mecanorrecptores, receptores mecânicos localizados na pele, na mucosa da cavidade oral, no periodonto (região ao redor do dente), nos músculos, nas articulações e nos ligamentos; existem os Termorreceptores, localizados na pele, na mucosa e em estruturas centrais, que são sensíveis à temperatura; os Quimiorreceptores que detectam mudanças químicas, relacionadas ao sistema nervoso central, vascular, gustativo e olfativo, até mesmo o processo doloroso; há também os Acústicos, capacidade de captar ondas acústicas e ondas luminosas (CUNHA, 2015). No entanto podemos agrupar os receptores dependendo do meio (interno e externo) e o tipo de excitação. Logo, podemos definir os grupos como exteroceptores, que captam informações do meio extra corporal, tais como calor, frio, gustação e olfato, formado, assim, um grupo de receptores. Por outro lado, os interceptores captam informações do meio interno, como pressão arterial e variação do pH ou CO2. Ainda podemos incluir os proprioceptores, que detectam variações de funções do sistema estomatognático, como músculos e articulações, por exemplo (DOUGLAS, 1998). Os receptores se adaptam aos estímulos dependendo da excitação recebida, sejam elas exacerbadas ou diminuídas podem ser decorrentes de alterações no processo de adaptação dos receptores, na via aferente sensitiva ou na região cerebral responsável pelo processamento da informação. A terapêutica empregada poderá promover modificações nos limiares de excitabilidade, facilitando o processo de adaptação dos receptores e/ou acesso cortical das informações que, por sua vez, reestabelece a via aferente e o ato motor relacionado. A principal via de condução aferente sensitiva orofacial é representada pelo V par (trigêmeo), que corresponde a várias funções, inclusive gustação e olfato. Quanto às funções desempenhadas pelo sistema estomatognático, podemos incluir os seguintes pares cranianos: trigêmeo, responsável pela inervação dos músculos da mastigação e também pela sensibilidade orofacial, menos gustação e olfato; o facial, inerva músculos da mímica facial e tem função gustativa para 2/3 anteriores da língua; o vestibulococlear, relacionado a função auditiva e ao equilíbrio corporal global, glossofaríngeo, sensitivo e motor, voltado a orofaringe; vago, sensitivo e motor, inerva o palato mole, faringe, laringe, e esôfago; hipoglosso, relacionado aos movimentos da língua; acessório, que inerva os músculos cervicais (CUNHA, 2015). 12WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Podemos dizer que as funções desempenhadas pelo sistema estomatognático é resultado da inter-relação entre diferentes conexões neurais e que determina uma “memória neuromuscular” específica para cada função. As condições morfológicas dos constituintes desse sistema e o processo de amadurecimento neuromuscular causam implicações significativas sobre o padrão funcional que será aprendido. Portanto o tratamento voltado à adequação das funções estomatognáticas não pode estar centralizado na correção da forma ou aspectos musculares, logo é necessário a integração de ambos, uma vez que após o estabelecimento das conexões neurais relacionadas com o padrão neuromuscular a influência anatômica poderá não ser suficiente para modificá-los. 2.2. Funções Estomatognáticas As funções estomatognáticas podem ser divididas em clássicas, como mastigação, deglutição, fala e respiração, e adaptativas, como vômito, mordida, beijo, sorriso, cuspir, entre outros (DOUGLAS, 1998). Considerando as funções clássicas, é importante saber sobre a postura de repouso dos constituintes do sistema. Logo, enquanto em equilíbrio anatomofuncional, a mandíbula deve permanecer elevada, os lábios devem estar em contato ou levemente separados, até 3mm, e o mento não deve apresentar sinais de contração de sua musculatura (aparência de “bola de golf ”), já os dentes devem estar desocluídos mantendo o espaço funcional livre de 1 a 3mm (Dimensão Vertical de Repouso – DVR) e, por fim, a língua deve estar com seu ápice na região da papila palatina. Muitas são as condições que alteram as características descritas que podem ser discrepâncias nos maxilares, alterações dento-oclusais, quadros de respiração oral e doenças neuromusculares. A postura corporal influencia e é influenciada pela postura dos constituintes do sistema estomatognático. Por exemplo, respiradores orais mantêm a cabeça anteriorizada, com o propósito de aumentar o espaço orofaríngeo, diminuindo, assim, a resistência a entrada de ar. Por outro lado, alterações na coluna vertebral acarretam mudanças na postura corporal, incluindo a posição da cabeça, da mandíbula, da língua e do palato mole que, por sua vez, interfere no sistema estomatognático (CUNHA, 2015). Portanto deve-se sempre observar o comportamento do paciente e identificar os seus sinais, nem sempre esse trabalho deve se resumir a um tipo de profissional e sim a uma equipe multidisciplinar. 2.2.1. Respiração A respiração se inicia ao nascer, sendo a amamentação natural fundamental para se estabelecer a respiração nasal. A amamentação, por sua vez, é de extrema importância para o desenvolvimento craniofacial e, consequentemente, da oclusão. O nariz junto ao seio maxilar e a fossa nasal possuem a função de condicionamento aéreo, umidificando, filtrando e aquecendo o ar. A cavidade oral também é capaz de realizar as mesmas funções, mas sem a filtração. A respiração oral é um distúrbio que causa impactos negativos ao sistema estomatognático e as causas mais comuns estão relacionadas à obstrução das regiões nasal, nasofaringe e orofaringe, como pólipos nasais, desvios do septo nasal, rinite alérgica, entre outros. Tais fatores contribuem para a absorção insuficiente de ar, que acompanha mecanismos de compensação, como aceleração dos movimentos respiratórios e circulatórios (SÁ FILHO, 2004). 13WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA As manifestações faciais e orais no paciente decorrentes da respiração oral podem se apresentar no tipo facial longo, aumento do ângulo goníaco e do terço inferior da face, língua anteroinferiorizada, ausência do contato labial, inflamação e hipertrofia das gengivas (gengivites e periodontites), mordida cruzada posterior e mordida abertaanterior, além de hipotonia dos músculos elevadores da mandíbula e orofaciais. Além de prejudicar o sistema estomatognático, os prejuízos podem alcançar o sistema auditivo, a linguagem oral e escrita, além da postura corporal, sendo, então, necessário uma equipe multidisciplinar para realizar o tratamento. A resolução dos fatores causais relacionados à obstrução nasal nem sempre é o suficiente para eliminar o hábito de respiração oral em razão da “memória neuromuscular”. A não resolução do quadro pode promover perpetuação da situação, portanto, apenas um diagnóstico preciso possibilitará um plano de tratamento eficiente a curto prazo, sendo que a mensuração da capacidade respiratória, por meio da espirometria, deve ser incluída na rotina não só como diagnóstico, mas como acompanhamento do quadro. 2.2.2. Mastigação A mastigação é uma função muito complexa, pois envolve movimentos mandibulares, movimentos das articulações temporomandibulares (ATM) e de vários músculos da cabeça e pescoço. Todos esses órgãos são coordenados por centros nervosos altamente refinados (CUNHA, 2015). Essa função está diretamente relacionada ao desempenho prévio da função de sucção que propicia a maturação neuromuscular (mandíbula, língua, músculos em geral) e o desenvolvimento das estruturas anatômicas (crescimento mandibular e ATM). Além disso, os desenvolvimentos dos dentes decíduos, em seguida dos dentes permanentes e o amadurecimento do sistema estomatognático contribuem para a realização dessa função (CUNHA, 2015). Estímulos podem ser conduzidos baseados na dieta do paciente, que estimula o desenvolvimento de todo o sistema estomatognático. Desse modo, a atenção primária à saúde relacionada à amamentação natural, higiene oral, controle de doenças orais, bem como o tipo de dieta consumida é de extrema importância para o desenvolvimento correto do sistema estomatognático. Além disso, o desenvolvimento dos dentes, da oclusão e da ATM deve estar sempre sendo acompanhado pelos profissionais, o que em caso de surgimento de alguma complicação o acompanhamento odontológico, tanto do ortodontista e do especialista em DTM, se faz necessário (CUNHA, 2015). Durante a mastigação são determinadas as funções específicas para os diferentes grupos de dentes e de acordo com suas características anatômicas. Já a língua e musculo bucinador são responsáveis por manter o alimento na face oclusal dos dentes. A passagem do alimento pela boca acontece por um processo de qualificação, que ajuda a selecionar as partículas adequadas para deglutição. Os ciclos mastigatórios correspondem a uma atividade rítmica coordenada principalmente pelos músculos (CUNHA, 2015). Os principais músculos responsáveis pela mastigação são: Músculo Temporal, Músculo Masseter, Músculo Pterigoideo Medial, Músculo Pterigoideo Lateral. O sistema nervoso central possui papel importante na coordenação dos movimentos e, consequentemente, dos músculos citados, logo, alterações relacionadas com o sistema nervoso central, bem como com as vias aferente sensitiva e/ou eferente motora acarretarão implicações importantes ao desempenho mastigatório do indivíduo (CUNHA, 2015). 14WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Portanto, os profissionais, de forma multidisciplinar, não devem medir esforços para conduzir o paciente ao desenvolvimento normal. Figura 8 - Músculo envolvidos no processo mastigatório. Músculo temporal. Músculo pterigoideos laterais e me- dial. Fonte: Cunha (2015). Figura 9 - Músculo envolvidos no processo mastigatório. Músculo temporal. Músculo pterigoideos laterais e me- dial. Fonte: Cunha (2015). 15WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 2.2.3. Deglutição A deglutição inicia-se na fase intrauterina, auxiliando, assim, o controle da quantidade de líquido amniótico, estando, após o nascimento, vinculada à função de sucção. A deglutição tem como propósito conduzir o alimento da boca até o estômago, sendo que, para tal, conta com a participação de diferentes estruturas demostrado na figura a seguir. Figura 10 - Músculo da faringe, faciais e supra-hióideos envolvidos no processo de deglutição. Fonte: Cunha (2015). Pode ser dividida em cinco fases, como a fase pré-oral, resumida em satisfação, saciedade e preparação da cavidade oral para receber o alimento; a fase preparatória, mastigação; a fase lingual, transferência; a fase faríngea e a fase esofágica, ambas são caracterizadas pelo transporte do bolo alimentar. Conhecer a função de deglutição auxilia no processo de diagnóstico, bem como a definição de condutas frente a distúrbios relacionados a todas as fases da deglutição. Portanto cabe aos profissionais investigarem os fatores causais, como estresse, medicação, radioterapia, entre outros. Pacientes que apresentam má oclusão demonstram padrões de deglutição adaptados, o que pode sugerir algum hábito de sucção não nutritiva, ou quadro de respiração oral ou, ainda, macroglossia, entre outros. Um diagnóstico correto pode proporcionar uma abordagem mais direta na resolução do caso. 16WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Pacientes que possuem próteses dentárias devem ser observados de perto, afinal as próteses dentárias, com o tempo, passam a prejudicar mais do que ajudar o paciente, inclusive na função de deglutição, e a troca delas periodicamente deve ser considerada. 2.2.4. Fala A fonoarticulação também é complexa e envolve habilidades auditivas, linguísticas, cognitivas e intelectuais, sendo os movimentos fonoarticulatórios resultantes da integração de mecanismos relacionados com os sistemas respiratórios e estomatognáticos (CUNHA, 2015). As características anatômicas da face e a condição dentária e oclusal dos indivíduos poderão interferir na resultante do som gerado na laringe. Procedimentos odontológicos, como a cirurgia ortognática, geram modificações transitórias nas características vocais e exigem acompanhamento fonoaudiológico. Outros pacientes que podem apresentar quadros de alteração de qualidade vocal são os indivíduos que sofrem de disfunção temporomandibular (DTM). Quanto aos distúrbios relacionados à função velofaríngea, podem ser causados por alterações estruturais, como fissuras labiopalatinas, megafaringe, e/ou funcionais, como alterações neuromusculares que impossibilitam a execução da função. Além da abordagem cirúrgica e da terapia de fala e voz, a odontologia e a fonoaudiologia têm utilizado próteses de palato, sendo esse um aparelho removível com extensão fixa em direção à faringe, denominado de bulbo, que trabalhando junto à musculatura da faringe favorece o controle do fluxo de ar oronasal (PEGORARO-KROOK, 1995). A avaliação diadococinética, que se caracteriza por repetições rápidas de padrões simples de contrações opostas, deve ser utilizada na avaliação fonoaudiológica com o intuito de diagnosticar e auxiliar o processo terapêutico. É importante saber que mesmo com a correção das condições anatômicas relacionadas com o processo de produção e fala, as condições neurais formadas, tendem a permanecer, o que exige do profissional o conhecimento de todos os aspectos do sistema estomatognático e da função da fala, para que se possa conduzir os pacientes a uma condição mais confortável de vida. Figura 11 - Esquema representativo do processo fonoatório. Fonte: Cunha (2015). 17WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 12 - Músculos Supra e infra-hióideos. Fonte: Cunha (2015). Figura 13 - Vista lateral e superior dos músculos intrínsecos da laringe. Fonte: Cunha (2015). 18WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 14 - Vista lateral e superior dos músculos intrínsecos da laringe. Fonte: Cunha (2015). Figura 15 - Imagem em corte sagital das cavidades oral, nasal, faringe e laringe, representando as cavidades de ressonância. Fonte: Cunha (2015). 19WWW.UNINGA.BROR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 3. DESENVOLVIMENTO DA DENTIÇÃO E DA OCLUSÃO Para o entendimento dos fatores que afetam um problema ortodôntico, é fundamental compreender o processo de formação da dentição humana, desde o início da formação dos germes dentários decíduos até a total erupção dos dentes permanentes e, então, as alterações fisiológicas da oclusão (CUNHA, 2015). 3.1. Odontogênese O desenvolvimento dos dentes ocorre por interação entre epitélio e ectomesênquima, passando por 5 diferentes fases: botão, capuz, campânula, coroa e raiz. Nas fases de botão e capuz o evento mais evidente é a proliferação celular, que proporciona o aumento do número de células tato do epitélio (que está invaginando) quanto do ectomesênquima (que se condensa abaixo do epitélio). A partir da fase de campânula inicia a morfogênese e a citodiferenciação. Na fase de campânula, o epitélio interno adquire o formato do futuro dente e inicia a diferenciação de ameloblastos e odontoblastos. Na fase de coroa, inicia a amelogênese e a dentinogênese (secreção de matriz de esmalte e dentina). E na fase de raiz, ocorre a diferenciação dos cementoblastos (que formarão o cemento), fibroblastos (que formarão o ligamento periodontal) e dos osteoblastos (que formarão o osso alveolar). Figura 16 - Origem das diferentes estruturas contidas no germe dentário. Fonte: Cunha (2015). 20WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 3.2 O Recém-Nascido e a Dentição Decídua O processo de formação do germe dentário decíduo até a erupção do primeiro dente decíduo pode ser chamado didaticamente de período pré-dental. A iniciação da calcificação dos dentes decíduos se dá no período intrauterino e obedece, genericamente, à seguinte ordenação: 14° semana – Incisivos centrais; 15° semana – primeiros molares; 16° semana – incisivos laterais; 17° semana – caninos; 18° semana – segundos molares (CUNHA, 2015). A posição da mandíbula nos primeiros 6 meses de vida encontra-se retrognática, no entanto, a lactação natural que atua nesse período de vida funciona como um agente estimulador de músculos e articulações, promovendo o crescimento da mandíbula no sentido posteroanterior. Alguns trabalhos citam a presença de um ou dois incisivos na boca à época do nascimento (MOYERS, 1988; PROFFIT, 2002). São os “dentes neonatais” que podem gerar desconforto para a mãe durante a amamentação. Esses dentes só devem ser extraídos caso sejam diagnosticados como sendo supranumerários, do contrário, devem ser mantidos. A erupção dos dentes decíduos deve ocorrer por volta dos 6 meses de vida, esse movimento dos dentes em direção ao plano oclusal segue junto a formação de suas raízes (HATON, 1995; 34:397). Os primeiros dentes a irromper são os incisivos centrais inferiores seguidos dos superiores. O contato dentário anterior desses dentes promove os movimentos verticais da mandíbula, iniciando, por volta dos 20 meses, os primeiros indícios de mastigação. A língua amassa o alimento contra o palato e favorece a mastigação (ENLOW, 1993). Seguindo a sequência de erupção, os dentes inferiores, de modo geral, devem erupcionar antes que os superiores e aos 7 meses de vida aparecem os incisivos laterais, em seguida, com quase 1 ano a criança recebe os primeiros molares, depois com 16 meses, os caninos, por volta dos 20 meses de idade vem os segundos molares inferiores para depois surgir os superiores quase no segundo aniversário e encerrando essa fase de erupção dos dentes decíduos (HATON, 1995; 34:397). Nessa fase, a língua inicia movimentos de lateralidade em busca de estímulos, dentários e alimentares, desenvolvendo, assim, movimentos transversais e alcançando amplitude de movimento. Por fim, ocorre aumento da cavidade oral e, consequentemente, o desenvolvimento da mastigação (ENLOW, 1993). Portanto, há uma mudança de hábitos alimentares, que irão contribuir para o desenvolvimento dos ossos maxilares, a manutenção dos arcos, proporcionando estabilidade na oclusão e no equilíbrio muscular e funcional. 3.3 Características Normais da Dentição Decídua 3.3.1 Desenvolvimento da oclusão O desenvolvimento da oclusão se inicia com a erupção dos dentes decíduos e, posteriormente, só com dentes permanentes, no entanto podemos classificar três tipos de dentição: a decídua, a mista e a permanente. Durante a fase de dentadura mista, podemos classificar o tipo de arco, tipo I e tipo II, e, assim, entender a presença ou ausência de espaço para que ocorra a erupção dos dentes permanentes. O arco tipo I de Baume é o arco que apresenta espaço para erupção dos dentes permanentes, já o tipo II de Baume não apresenta espaços para erupção e, consequentemente, não haverá alinhamento dos dentes permanentes. 21WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 17 - Arco tipo I com espaçamentos generalizados. Arco tipo II sem espaçamentos. Fonte: Cunha (2015). Além dos espaços generalizados, há espaços amplos, localizados nas mesiais dos caninos superiores e nas distais dos caninos inferiores, denominados espaços primatas. A dimensão vertical é estabilizada pela erupção dos segundos molares decíduos. Deve-se levar em consideração o plano terminal reto que pode se apresentar na mesial dos segundos molares, superiores e inferiores, o que, consequentemente, deve levar a uma relação de classe I, isso ocorre em 76% dos casos. Mas quando não há harmonia de crescimento e/ou existem hábitos parafuncionais, cavidades de cáries extensas e, ainda, quando outros fatores agem no desenvolvimento da oclusão, podemos encontrar um degrau mesial ou distal. Nos casos em que a mandíbula se encontra mais anteriormente do que a maxila, há um degrau mesial (cerca de 14% dos casos) e que guiará a relação molar para uma classe I ou III de Angle. Um degrau distal é observado nos casos em que a maxila se posiciona anteriorizada, levando a uma relação de molar classe II de Angle (10% dos casos) (MULLER ARAÚJO, 1999). Na dentição decídua não existe compensação no sentido anteroposterior (Curva de Spee), se faz presente na dentição permanente e devemos planificar considerando como uma chave de oclusão a ser controlada. A dentição decídua termina por volta dos 2 anos e 6 meses e pode apresentar as relações mastigatórias, quase ideais pela adaptabilidade dos sistemas ósseos, dentário e muscular. Consequentemente, apesar de todo o sistema continuar se desenvolvendo, há uma maior estabilidade e equilíbrio da mastigação. Um dos fatores mais importantes desta função é o aspecto sensorial dos dentes recém-erupcionados, pois os músculos que controlam a posição da mandíbula são influenciados pelos primeiros contatos oclusais dos incisivos (ENLOW, 1993). 22WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 3.3.2. Alterações na dentição decídua e suas implicações Algumas anomalias congênitas podem estar presentes na dentição decídua, levando a alterações no desenvolvimento da oclusão. A ausência de dentes decíduos é uma condição rara e pode estar associada ou não a ausência do permanente. A falta de um dente pode promover mesialização do dente vizinho, ou seja, há uma ocupação indevida do espaço, causando desarranjos no desenvolvimento da oclusão e dificultando as chaves de oclusão. Do contrário podemos citar os dentes supranumerários que ocupam espaços a mais. Anomalias de formas também ocorrem, mas menos do que em dentes permanentes. A anquilose mais comumente encontrada é uma fusão do dente ao osso alveolar, causado por algum trauma, seguido de alteração do ligamento periodontal. Geralmente seu diagnóstico é feito clinicamente, quando o dente se encontra aquém do desenvolvimento vertical, e radiograficamente confirmando o quadro. Vale ressaltar que a língua, nessa fase, é relativamente grande em relação aos maxilares, o que pode levar a uma protrusão entre os dentes, mas sem causar alterações dentárias. Por fim, alteraçõesadquiridas, como os hábitos deletérios, são fatores etiológicos potenciais para o desenvolvimento de más oclusões na dentição permanente. 3.4. Dentição Mista 3.4.1 Período transicional Segundo Moyers (1988), esse período se inicia com a irrupção do primeiro molar permanente. É uma fase importante na determinação do padrão oclusal permanente. A erupção de um dente permanente se dá por meio de três fenômenos: reabsorção da raiz do ente decíduo; alongamento da raiz do dente permanente; crescimento vertical do processo alveolar. Dentre alguns fatores que regulam e afetam a erupção dos dentes permanentes, podemos citar a genética, a raça, os distúrbios mecânicos, como a sucção digital que interrompe a erupção do dente permanente, e a nutrição, que pode afetar o sistema como um todo. Quando o dente apresenta 1/3 da raiz formada este inicia o processo de erupção, quando com 2/3 de raiz formada o dente emerge (irrompe) na cavidade oral. Nolla (1960) mapeou os estágios de formação dos dentes permanentes e ordenou esses estágios de 0 a 10. 23WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 18 - Estágios de Nolla. Fonte: o autor. 3.4.2 Erupção dos primeiros molares permanentes Os primeiros molares são os primeiros dentes permanentes a surgirem. A ordem se segue sempre com o inferior e depois com o superior. Geralmente os primeiros irrompem na cavidade por volta dos 6 anos de idade. Deve-se observar o plano terminal dos molares, assim como foi comentado anteriormente, buscando saber se será necessária alguma intervenção para que a oclusão, ao final de seu desenvolvimento, atinja a Classe I de Angle. Mas também deve-se levar em consideração o Espaço Livre de Nance, que, por sua vez, é a diferença de tamanho entre os dentes decíduos e os dentes permanentes. Os dentes decíduos, por serem maiores que os permanentes, garantem espaço para os dentes seguintes irromperem. Em média, na arcada superior há uma sobra de 0,9 mm de cada lado e na arcada inferior há uma sobra de 1,7 mm também para cada lado. Juntas, essas duas condições podem garantir a classe I de Angle devido a um processo de migração fisiológica dos molares consumindo os espaços que podem estar presentes (CUNHA, 2015). Com a irrupção dos primeiros molares permanentes ocorre um levante da mordida, promovendo um novo aumento da dimensão vertical do paciente. 24WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 3.4.3 Erupção dos incisivos permanentes Por volta dos 7 anos inicia-se a irrupção dos incisivos permanentes, primeiro os centrais e depois os laterais e sempre os inferiores primeiro, depois os superiores. Nessa fase, para que ocorra a acomodação desses dentes há uma compensação e utilização dos espaços primatas que se fazem presentes; em arcos tipo I de Baume há ainda mais espaços para sofrerem compensações e, por fim, os caninos decíduos se movem para distal. Na arcada superior é possível que os incisivos superiores apareçam mais vestibularizados, garantindo mais espaços para sua irrupção. Mas mesmo com essas compensações é possível encontrar ligeiro apinhamento nessa fase, o que considerado normal, “apinhamento em forma de W”, que muitas vezes se autocorrige. Quando dentes permanentes irrompem em posição ectópica e não ocorre a exfoliação do decíduo, seguida de migração do dente permanente para sua posição, é indicada a exodontia do dente decíduo. Uma fase fundamental é a fase do patinho feio, que ocorre por volta dos oito anos de idade. Ela se caracteriza pela presença de diastemas (espaços) entre os incisivos superiores, junto a uma inclinação para vestibular destes e, ainda, a presença de sobremordida (trespasse vertical anterior reduzido) na arcada. Nesse período pode surgir uma distorção dos fonemas sibilantes, pois a sobremordida favorece essa distorção, proporcionando contatos inadequados na produção desses fonemas, o que favorece a elevação da parte média da língua, que fica mais alta que o normal, ocasionando a saída de ar lateralmente com a impressão acústica de um chiado durante a produção desses sons (CUNHA, 2015). A correção da “fase do patinho feio” se dá de forma fisiológica, com a irrupção dos caninos permanentes, corrigindo os diastemas e a vestibularização, e com a irrupção dos segundos molares permanentes, corrigindo a dimensão vertical e estabelecendo cobertura de 1/3 dos incisivos inferiores por meio dos incisivos superiores. Nem sempre é indicado intervenção ortodôntica para corrigir essa fase. A exceção seria em caso de um comprometimento estético muito grande, na qual, a criança não aceita tal condição. O crescimento da cavidade oral e faríngea faz com que haja aumento do espaço para a função da língua, que se estabiliza posturalmente, não necessitando anteriorizar-se ou protruir- se, pois o crescimento e o desenvolvimento podem corrigir a posição fisiológica da língua. Figura 19 - Fase do patinho feio – Dentição mista. Fonte: Cunha (2015). 25WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 3.4.4 Erupção dos pré-molares e caninos A presença do plano terminal correto, do espaço de nance e da correta ordem de erupção desses dentes favorece o alinhamento desses dentes. A ordem de erupção dos inferiores são: primeiro o canino, depois o primeiro pré-molar, seguido do segundo pré-molar e, por fim, o segundo molar; quase ao mesmo tempo os superiores, que, por sua vez, seguem a seguinte ordem: o primeiro pré-molar, depois o segundo pré-molar, seguido do canino e, por fim, o segundo molar. Quando essa ordem não ocorre há grandes chances de desalinhamento da arcada ou, até mesmo, impacção dos caninos que são, de certa forma, comumente observados na prática clínica. Sua incidência é maior em mulheres do que em homens. 3.5 Dentição Permanente 3.5.1 Evolução da oclusão A fase da dentição permanente se inicia com irrupção de todos os dentes permanentes, excluindo os terceiros molares. A oclusão permanente normal é aquela em que todos os dentes se encontram bem posicionados em suas bases ósseas e em correta relação com seus antagonistas. A dentição ideal segue alguns critérios, como tamanho dos dentes, número de dentes, forma dos arcos, contorno dos arcos, contatos interdentários, inclinações axiais, contatos oclusais, curvas de oclusão dos arcos dentais, sobremordida, sobressaliência e, por fim, as chaves de oclusão. Todas essas características devem estar presentes na oclusão ideal e seguindo padrões considerados ideias. Em resumo a tudo isso, as chaves de oclusão servem como grande referência ao ortodontista para que ele possa alcançar essa oclusão ideal. Figura 20 - As seis chaves de oclusão. Fonte: o autor. 26WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 3.6 Importância da Musculatura na Estabilidade da Oclusão Normal Toda musculatura que circunda os dentes deve ser considerada um fator determinante da posição dentária. As forças provenientes dos músculos que atuam como forças externas se anulam contra as forças dos músculos que atuam como forças internas, é o caso do musculo bucinador e orbicular dos lábios – força externa –, contra a língua – força interna. Consequentemente, os dentes sofrem com a atuação desses músculos e assumem suas posições quando são submetidos a essas forças. Portanto essas forças atuam constantemente nos dentes, regulando a posição e as funções deles. Por fim, hábitos deletérios que atuam junto a musculatura, como sucção não nutritiva, chupeta, por exemplo, podem levar a um desequilíbrio oclusal (OKESON, 1992). 4. CRESCIMENTO CRÂNIO FACIAL PÓS-NATAL: CONCEITOS BÁSICOS 4.1 Conceitos do Crescimento Craniofacial O crescimento e o desenvolvimento, do nascimento à idade adulta, são caracterizados por multiplicidade de alterações morfológicas, fisiológicas e psíquicas (CUNHA, 2015). Os conceitos de crescimento e desenvolvimento podem ser definidos de formas distintas. O crescimento é quantitativoe consiste em alterações normais, desde a concepção até a morte, e medido por unidade de aumento e de tempo. O desenvolvimento é definido qualitativamente, sendo um esforço que o organismo faz para atingir sua maturidade. Portanto o crescimento e o desenvolvimento não são sinônimos, mas são processos inseparáveis que ocorrem no curso da vida de um indivíduo (CUNHA, 2015). Outro processo importante relacionado ao crescimento e ao desenvolvimento craniofacial é a maturação, que são mudanças qualitativas que ocorrem com o amadurecimento ou a idade. Na ortopedia dentofacial fases importantes são reconhecidas como surto de crescimento, que consiste em uma grande quantidade de crescimento em um curto período de tempo. Esse crescimento varia de pessoa para pessoa e também em relação ao gênero, em média se inicia aos 12,08 anos para os meninos e 10,04 anos para as meninas. Esse é um dado importante para o planejamento de pacientes com deficiências ortopédicas, tendo como objetivo redirecionar o crescimento de bases ósseas, como maxila e mandíbula, nos três sentidos de crescimento: vertical, anteroposterior e transverso. Logo torna-se imprescindível conhecer essa fase para poder atuar com os aparelhos ortopédicos. (CUNHA, 2015). Os órgãos e tecidos apresentam três tipos de crescimento tecidual: intersticial, aposicional e endocondral. 4.1.1 Formação óssea endocondral Na ossificação endocondral, primeiro forma-se uma cartilagem. Em algumas áreas essa cartilagem persiste, sendo denominada cartilagem de crescimento. Essas áreas são responsáveis pelo crescimento, em comprimento, dos ossos longos; são as regiões entre as epífises e diáfises (CUNHA, 2015). 27WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Na formação do tecido cartilagíneo, há inicialmente um crescimento intersticial, em que as células mesenquimais se diferenciam em condroblastos (células formadoras de cartilagem). Esses condroblastos começam a produzir uma matriz cartilagínea de tal forma que ficarão, posteriormente, aprisionados nessa matriz, dando origem aos condrócitos. O crescimento intersticial ocorre quase somente na fase inicial de crescimento da cartilagem, porque depois o crescimento é majoritariamente aposicional – a partir dos condroblastos que se diferenciam do pericôndrio. Essa cartilagem, posteriormente, é invadida e substituída por tecido ósseo, denominado osso endocondral (CUNHA, 2015). 4.1.2. Formação óssea intramembranosa Para a formação óssea membranosa há uma condensação do tecido conjuntivo membranoso. As células mesenquimatosas diferenciam-se em osteoblastos que produzem a substância óssea extracelular, denominada matriz osteoide. Essa matriz sofre calcificação, tendo como resultado o tecido ósseo. Esse osso neoformado é constituído pela combinação da matriz mineralizada e dos osteoblastos enclausurados (osteócitos) dentro dela. Os tecidos ósseos depositados pelo periósteo, pelo endósteo, pelas suturas e pela membrana periodontal são de formação intramembranosa (CUNHA, 2015). 4.2. Mecanismos de Crescimento O crescimento ósseo acontece pelos mecanismos básicos de remodelação, deslizamento e deslocamento. A remodelação óssea consiste nos processos especializados de aposição óssea em um lado da superfície cortical (onde há a direção do crescimento) e de reabsorção óssea na superfície oposta, promovida pelos osteoblastos e osteoclastos, respectivamente. Há dois tipos de movimentos durante o crescimento: o deslizamento e o deslocamento. O deslizamento é o movimento gradual da área de crescimento ósseo, provocado pela combinação dos processos de aposição e reabsorção óssea (remodelação óssea). O deslocamento é o movimento de todo o osso como uma unidade (CUNHA, 2015). Conforme o osso cresce por deposição óssea em uma determinada direção, ele se desloca no sentido contrário, afastando-se do osso vizinho. Esse deslocamento recebe o nome de deslocamento primário e ocorre não por compressão de um osso contra outro, mas por uma força de expansão dos tecidos moles em crescimento que o recobrem. Conforme os ossos crescem, ocorre também outro tipo de deslocamento, chamado deslocamento secundário que se dá não pelo crescimento do próprio osso, mas pelo crescimento de outros ossos relacionados a ele direta ou indiretamente. Por exemplo, o crescimento em direção anterior da fossa craniana média e do lobo temporal do cérebro desloca a maxila para a frente e para baixo (CUNHA, 2015). 28WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA De acordo com Scott (1953), o deslocamento para baixo e para frente da face era, primariamente, atribuído aos ossos da base do crânio, vômer e septo nasal (que possuem ossificação endocondral). A cartilagem é um tecido mais tolerante à pressão que as suturas vascularizadas e sensíveis e, provavelmente, possui uma maior capacidade de empurrar expansivamente todo o complexo nasomaxilar para baixo e para frente (CUNHA, 2015). Segundo Moss (1962), a determinação dos crescimentos ósseo e cartilaginoso é uma resposta ao crescimento intrínseco de estruturas associadas, chamadas por ele de matrizes funcionais, observando que o código genético para o crescimento esquelético está fora do esqueleto ósseo. Cada componente da matriz funcional desempenha uma função necessária, como respiração, mastigação e fala, enquanto os tecidos esqueléticos apoiam e protegem essas matrizes funcionais associadas. O tecido esquelético cresce somente em resposta ao crescimento dos tecidos moles e o efeito é uma translação passiva dos componentes esqueléticos no espaço (CUNHA, 2015). Enlow (1965) desenvolveu a teoria do crescimento em V, que se baseia no princípio de que o crescimento sobre os extremos livres aumenta a distância entre eles mesmos. Muitos ossos faciais ou cranianos, ou partes de ossos, têm uma configuração em forma de V. A deposição óssea ocorre no lado interno do V e a reabsorção acontece na superfície externa. A direção do movimento está voltada para a extremidade ampla do V. Assim, crescimento e alargamento simultâneos se processam por adição de osso na parte interna e remoção na parte externa. A aplicação desse princípio pode ser feita em diversas estruturas da maxila e da mandíbula, como o crescimento da órbita e do palato (CUNHA, 2015). De acordo com a teoria de Petrovic (1974), o crescimento das várias regiões craniofaciais é fruto da interação de uma série de mudanças causais e mecanismos de feedback. Petrovic, em seus estudos, detectou uma predeterminação não genética no comprimento final da mandíbula, em que a direção e a magnitude da variação do crescimento condilar foram percebidas como respostas quantitativas ao aumento da maxila. Essas ideias permitem um maior entendimento da ação dos aparelhos ortopédicos no crescimento mandibular (CUNHA, 2015). Sicher, em 1947, deduziu, após muitos estudos histológicos, que as suturas eram responsáveis pela maior parte do crescimento facial, desenvolvendo a teoria da dominância sutural. Ele observou que a proliferação do tecido conjuntivo nas suturas resultava no afastamento dos ossos (criando espaço entre os ossos para o crescimento aposicional), deslocando-os na direção de menor resistência (CUNHA, 2015). 29WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Nessa unidade estudamos a ortodontia desde os seus conceitos básicos, passando pelo desenvolvimento do organismo e suas funções até ter uma breve noção que os profissionais devem atuar de forma interdisciplinar e multidisciplinarmente. Podemos dizer que existe essa operação em conjunto? Um único profissional é capaz de cuidar das etiologias que podem surgir durante o desenvolvimento do indivíduo? Na ortodontia sempre dividimos a responsabilidade com vários profissionais e consequentemente várias especialidades, principalmente com a fonoaudiologia, porque o ser humano é um organismo complexo e depende de todos os conhecimentos disponíveispara se alcançar um diagnóstico correto seguido de um prognóstico favorável. Para aprender mais sobre a introdução a ortodontia, leia: JANSON, G.; GARIB, D. G; PINZAN, A.; HENRIQUES, J. F. C. Introdução a ortodontia (Abeno). eBook Kindle. • Se você quer aprender mais sobre o que foi abordado nessa unidade, além de sanar algumas curiosidades, indica-se: VOZ E CANTO. Erupção dos dentes na ordem cronológica e seu desenvolvimento ao longo da vida 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=DFEUkJXuUCQ>. Acesso em: 29 nov. 2018. • Continuando sobre a erupção dentária, caso tenha curiosidade em aprender mais sobre os estágios de Nolla, segue o link: ODONTO DICAS - BSB. Estágios de Nolla - vídeo extra em comemoração aos primeiros 100 inscritos | odonto dicas 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=SMsuhRHm3UQ>. Acesso em: 29 nov. 2018. • Se sua intenção for visualizar o sistema estomatognático em ação segue o link: ALEJANDRA MALDONADO. Sistema estomatognático 1 - 2018. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=jmZ1SkgiKb0>. Acesso em: 29 nov. 2018. • Caso você tenha curiosidade em saber como os aparelhos ortodônticos são confeccionados, acesse o link: ETELVINA NEVES. Placa hawley - 2012. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=sRXkpcjI5eY>. Acesso em: 29 nov. 2018. 30WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA CONSIDERAÇÕES FINAIS Nessa primeira unidade introduzimos a ortodontia e ortopedia funcional dos maxilares, bem como o desenvolvimento de toda a área de cabeça e pescoço. Aprendemos sobre os tipos de ortodontia e seus momentos de atuação, bem como os tipos de aparelhos ortodônticos, mesmo que superficialmente. Também foi possível conhecer o sistema estomatognático e suas funções. Aprendemos sobre o desenvolvimento da oclusão desde a formação dentária até a dentição permanente, quando ocorre o amadurecimento do sistema estomatognático. E ainda foi possível aprender sobre o desenvolvimento e o crescimento craniano, conhecendo todo o processo fisiológico do desenvolvimento ósseo. Esse conhecimento básico se faz necessário para que os profissionais se relacionem e consigam alcançar um diagnóstico e, consequentemente, um prognóstico favorável na resolução das etiologias dos maxilares. Logo, o paciente se beneficiaria do conhecimento adquirido pelos profissionais e, consequentemente, o indivíduo tornaria a sua vida normalmente. Todo o profissional que lida com a oclusão dentária, seja ele dentista clínico, ortodontista, protesista, odontopediatra, fonoaudiólogo e de áreas afins deve, além de dominar suas especialidades, conhecer o sistema estomatognático, a oclusão e seu desenvolvimento. Também é essencial saber muito mais, que iremos aprender logo mais, pois torna-se muito importante entender um pouco do que o colega de outra área também sabe e, assim, ambos poderem trabalhar de forma interdisciplinar para o bem do paciente, o indivíduo maior interessado em tudo isso. 3131WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................34 1. ETIOLOGIA DAS MÁS OCLUSÕES .......................................................................................................................35 1.1 FATORES EXTRÍNSECOS DA MÁ OCLUSÃO ......................................................................................................35 1.1.1 HEREDITARIEDADE ..........................................................................................................................................35 1.1.1.1 INFLUÊNCIA RACIAL HEREDITÁRIA ..............................................................................................................35 1.1.1.2 TIPO FACIAL HEREDITÁRIO ..........................................................................................................................35 1.1.1.3 INFLUÊNCIA HEREDITÁRIA NO PADRÃO DO CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ...........................36 1.2. MOLÉSTIAS OU DEFORMIDADES CONGÊNITAS ............................................................................................36 1.2.1. FISSURAS LABIAIS E PALATAIS .....................................................................................................................36 1.2.2. PARALISIA CEREBRAL ...................................................................................................................................36 ETIOLOGIA, CLASSIFICAÇÃO, PREVENÇÃO E TRATAMENTO DA MÁ OCLUSÃO PROF. ME. DIOGO MARQUES SAPATA ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: ORTODONTIA 32WWW.UNINGA.BR 1.2.3. TORCICOLO .....................................................................................................................................................36 1.2.4. DISOSTOSE CLEIDOCRANIANA ....................................................................................................................36 1.2.5 SÍFILIS CONGÊNITA ........................................................................................................................................37 1.2.6. FEBRES EXANTEMATOSAS ...........................................................................................................................37 1.2.7. MEIO AMBIENTE .............................................................................................................................................37 1.2.7.1 INFLUÊNCIA PRÉ-NATAL ..............................................................................................................................37 1.2.7.2 INFLUÊNCIA PÓS-NATAL .............................................................................................................................37 1.2.8 AMBIENTE METABÓLICO E ENFERMIDADES PREDISPONENTES ............................................................37 1.2.9. DEFICIÊNCIA NUTRICIONAL .........................................................................................................................37 1.2.10. HÁBITOS E PRESSÕES ANORMAIS ............................................................................................................38 1.2.11. POSTURA ........................................................................................................................................................38 1.2.12. ACIDENTES E TRAUMATISMOS...................................................................................................................38 1.2.13. FATORES INTRÍNSECOS DA MÁ OCLUSÃO ................................................................................................38 1.2.14. ANOMALIAS DE NÚMERO ...........................................................................................................................38 1.2.14.1 SUPRANUMERÁRIOS ..................................................................................................................................38 1.2.14.2 AUSÊNCIA OU AGENESIAS ........................................................................................................................39 1.2.15. ANOMALIA DE TAMANHO ............................................................................................................................39 1.2.16 ANOMALIAS DE FORMA ................................................................................................................................39 1.2.17 FRÊNULO LABIAL NORMAL .......................................................................................................................... 40 1.2.18 PERDA PRECOCE ...........................................................................................................................................41 1.3 RETENÇÃO PROLONGADA DE DENTES DECÍDUOS ........................................................................................41 1.4 ERUPÇÃO TARDIA DE DENTES PERMANENTES............................................................................................41 1.4.1 VIA DE ERUPÇÃO ANORMAL ...........................................................................................................................41 1.4.2 ANQUILOSE .....................................................................................................................................................42 1.4.3 CÁRIE DENTAL .................................................................................................................................................43 1.4.4 RESTAURAÇÕES INADEQUADAS ...................................................................................................................43 2. HÁBITOS ORAIS DELETÉRIOS ............................................................................................................................43 2.1 ALEITAMENTO MATERNO ..................................................................................................................................43 2.2 ALEITAMENTO ARTIFICIAL .............................................................................................................................. 44 2.3 HÁBITOS ........................................................................................................................................................... 44 2.4 HÁBITOS ANORMAIS ........................................................................................................................................ 44 33WWW.UNINGA.BR 3. CLASSIFICAÇÃO DA MÁ OCLUSÃO .....................................................................................................................45 3.1 SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO ..........................................................................................................................45 3.2 SENTIDO VERTICAL ...........................................................................................................................................45 3.2.1 SOBREMORDIDA ..............................................................................................................................................45 3.2.2 MORDIDA ABERTA ANTERIOR ......................................................................................................................46 3.2.3 MORDIDA ABERTA LATERAL .........................................................................................................................47 3.3 SENTIDO TRANSVERSAL ..................................................................................................................................47 3.3.1 MORDIDA CRUZADA POSTERIOR ..................................................................................................................47 3.3.2 DESVIO DE LINHA MÉDIA ..............................................................................................................................48 3.4 SENTIDO ANTEROPOSTERIOR .........................................................................................................................49 3.4.1 SOBRESSALIÊNCIA ..........................................................................................................................................49 3.4.2 SOBRESSALIÊNCIA NEGATIVA OU MORDIDA CRUZADA ANTERIOR ........................................................49 3.4.3 CLASSIFICAÇÃO DE ANGLE ............................................................................................................................50 3.4.3.1 OCLUSÃO NORMAL .......................................................................................................................................50 3.4.3.2. CLASSE I ......................................................................................................................................................50 3.4.3.3 CLASSE II – DIVISÃO 1 E 2 E SUBDIVISÃO ................................................................................................50 3.4.3.4 CLASSE III – SUBDIVISÃO ...........................................................................................................................51 3.4.4 CLASSIFICAÇÃO DE LISHER ...........................................................................................................................51 3.4.5 PARTE ESQUELÉTICA .....................................................................................................................................53 4. DISPOSITIVOS UTILIZADOS NA PREVENÇÃO E INTERCEPTAÇÕES DE MÁS OCLUSÕES ..........................55 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................59 34WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO A etiologia é o estudo das causas das doenças. Má oclusão são irregularidades dentárias que impedem os dentes de se encaixarem corretamente. Compreender e classificar as más oclusões é um passo muito importante para o odontólogo, para o ortodontista e, também, para os profissionais envolvidos com a oclusão, como o fonoaudiólogo, odontopediatra, entre outros. Logo, conhecer as más oclusões é fundamental para se pensar em uma prevenção ou, então, em casos mais avançados, pensar em um diagnóstico assertivo, seguido de uma interceptação eficaz e, enfim, chegar a um prognóstico favorável, função que os profissionais envolvidos de forma multidisciplinar podem exercer. Existem muitas más oclusões possíveis, sendo elas consequências de uma deficiência no desenvolvimento do sistema estomatognático. Podemos considerar os hábitos deletérios um agente facilitador desse quadro, como, por exemplo, a sucção não nutritiva, como a chupeta, o dedo ou, então, podemos incluir a interposição lingual. Ainda podemos considerar o tempo de amamentação materna ou se o paciente é um respirador bucal e assim por diante. Esses hábitos serão abordados mais a frente, eles dificultam o desenvolvimento dos maxilares. Muitos autores estudaram as más oclusões e favoreceram os estudos, a evolução e a prática clínica na ortodontia (GRABER, 1996; MOYES, 1991; PROFFIT, 1995). O objetivo dessa unidade será explorar a etiologia das más oclusões e suas classificações além de explanar os conceitos de oclusão normal e anormal. Também serão demonstrados os dispositivos utilizados para a prevenção e tratamento dessas más oclusões. 35WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1. ETIOLOGIA DAS MÁS OCLUSÕES A etiologia das más oclusões é um tema complexo em razão dos inúmeros fatores envolvidos e as muitas combinações possíveis entre esses fatores, ou seja, as más oclusões apresentam uma etiologia multifatorial, o que dificulta o diagnóstico e o plano de tratamento. A grande adaptabilidade do organismo faz com que o mesmo fator etiológico cause diferentes efeitos em indivíduos diferentes e em idades diferentes (PROFFIT, 1995). 1.1 Fatores Extrínsecos da Má Oclusão São fatores que atuam a distância, muitas vezes durante a formação do indivíduo, sendo, portanto, difíceis de serem controlados pelo ortodontista (VELLINI, 2002). 1.1.1 Hereditariedade Um dos principais fatores etiológicos das más oclusões. O padrão do crescimento e desenvolvimento, a morfologia, o tamanho e o número de dentes são fatores que podem sofrer influência da hereditariedade e que podem causar má oclusão. 1.1.1.1 Influência racial hereditária Em populações raciais homogêneas quase não são encontradas más oclusões, mas em populações heterogêneas é possível encontrá-las. Isso se deve a intensa miscigenação racial nas populações urbanas modernas, gerando uma alta prevalência de más oclusões e uma grande variedade de problemas ortodônticos (CUNHA, 2015). 1.1.1.2 Tipo facial hereditário O tipo facial é o mais influenciado pela herança, sendo um fator etiológico importante. Existem, basicamente, três tipos faciais:• Braquifaciais: “face curta”, a largura facial é maior do que a altura. • Dolicofacial: “face comprida”, a altura facial é maior do que a largura. • Mesofaciais: “face equilibrada”, características intermediárias entre braqui e dolicofacial. Cada face possui uma forma de arco específico, bem como sua musculatura, logo, interferindo diretamente nos efeitos do tratamento ortodôntico. De certa forma, cada face pode apresentar íntima relação com uma má oclusão, por exemplo, o braqui pode apresentar uma sobremordida profunda e o dolicofacial pode apresentar uma mordida aberta. Já o mesiofacial não possui tendências de más oclusões específicas. 36WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1.1.1.3 Influência hereditária no padrão do crescimento e desenvolvimento Há uma grande influência hereditária sobre o padrão morfológico facial final. Geralmente, o indivíduo possui histórico familiar sobre determinada má oclusão, portanto a avaliação desse histórico deve ser levada em conta. Fatores ambientais também fazem parte do desenvolvimento e podem piorar ou melhorar as condições da oclusão. 1.2. Moléstias ou Deformidades Congênitas As deformidades congênitas constituem um dos fatores etiológicos pré-natais das más- oclusões e se caracterizam por apresentar forte relação genética. Atuam desde a formação intrauterina até o nascimento, apresentando manifestações clínicas ou tardias. 1.2.1. Fissuras labiais e palatais As fissuras se caracterizam pela falta de fusão entre os processos palatinos e/ou dos segmentos que formam os lábios superiores (SPINA, 1972). Muitas complicações são encontradas relacionadas ao desenvolvimento do sistema estomatognático e suas funções, bem como graves problemas esqueléticos, funcionais, psicológicos e estéticos, com desajuste total do arco dental, periodontites, ausência de dentes no local da fissura, perdas precoces de dentes permanentes, mordidas cruzadas etc. Como consequência, esses pacientes necessitam de cuidados multidisciplinares durante todo o crescimento e desenvolvimento (VELLINI, 2002). 1.2.2. Paralisia cerebral Uma lesão craniana levando à falta de coordenação muscular pode causar distúrbios na função muscular ao mastigar, deglutir, respirar e falar (VELLINI, 2002). 1.2.3. Torcicolo É a atrofia do músculo esternocleidomastóideo que pode causar assimetrias faciais decorrentes de alterações no desenvolvimento mandibular, inclusive desvio de linha média dentária (VELLINI, 2002). 1.2.4. Disostose cleidocraniana Doença congênita, frequentemente hereditária, pode estar ligada a alterações na cavidade bucal. Se trata de um atraso no desenvolvimento dos ossos do crânio e da região da clavícula da criança, retrusão maxilar, protrusão mandibular, presença de dentes supranumerários, atraso na erupção dos dentes permanentes e retenção prolongada dos dentes decíduos. Raízes dos permanentes se apresentam curtas e finas (VELLINI, 2002). 37WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1.2.5 Sífilis congênita A infeção sistêmica por sífilis interfere nos estágios de diferenciação e maturação do germe dental, levando aos dentes de Hutchinson, que são incisivos em chave de fenda ou molares em amora (VELLINI, 2002). 1.2.6. Febres exantematosas Febre elevada que caracteriza algumas infecções, como rubéola, catapora, sarampo e escarlatina, altera os tecidos de origem ectodérmica, causando sulcos no esmalte dental (VELLINI, 2002). 1.2.7. Meio ambiente 1.2.7.1 Influência pré-natal A dieta e o metabolismo materno podem afetar a formação dentária dando origem à linha neonatal, que pode ser encontrada em dentes decíduos ou permanentes que estejam em formação na época do nascimento. Outros fatores também podem causar complicações durante a vida intrauterina, como postura intrauterina, fibromas maternos, drogas em geral (VELLINI, 2002). 1.2.7.2 Influência pós-natal Podemos citar os traumas e fraturas que, por sua vez, podem levar a uma deficiência no desenvolvimento dos maxilares, por exemplo. Também podemos citar a ingestão de tetraciclina por crianças de dois meses a dois anos, que podem causar pigmentação e hipoplasia nos dentes permanentes (VELLINI, 2002). 1.2.8 Ambiente metabólico e enfermidades predisponentes Poliomielite, distrofia muscular e endocrinopatias são algumas doenças que podem causar má oclusão. Dentre os distúrbios endócrinos que afetam a cavidade bucal podemos citar aqueles relacionados às glândulas tireoide, paratireoide e hipófise. Nesses casos podemos encontrar problemas na formação dentária e no processo de amadurecimento da oclusão (VELLINI, 2002). 1.2.9. Deficiência nutricional Deficiências nutricionais podem causar alterações na formação do esmalte dental (amelogênese), perda prematura e/ou retenção prolongada dos dentes decíduos, erupção anormal e hipoplasia de esmalte e/ou dentina (VELLINI, 2002). 38WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1.2.10. Hábitos e pressões anormais Podemos citar os hábitos deletérios. Iremos explorar esse tema mais a frente. 1.2.11. Postura Más-condições posturais podem causar má oclusão. A postura corporal acompanhada a má posição da cabeça pode refletir no crescimento anormal das bases ósseas. A má postura pode, ainda, acentuar uma má oclusão já existente (VELLINI, 2002). 1.2.12. Acidentes e traumatismos O uso de fórceps durante o parto pode causar fratura de côndilo e hipoplasia da mandíbula, apesar de pouco comum. Queimaduras seguidas de cicatrizes podem limitar o desenvolvimento dos maxilares. Traumas nos dentes decíduos podem afetar os dentes permanentes (GRABER, 1996). 1.2.13. Fatores intrínsecos da má oclusão São as causas mais importantes da má oclusão para o cirurgião-dentista. Devem ser diagnosticadas e tratadas o mais cedo possível, para permitir desenvolvimento adequado (GRABER, 1996). 1.2.14. Anomalias de número Pode ser de origem hereditária, podendo estar associada a deformidades congênitas, como fissuras de lábio e/ou palato, displasias ectodérmicas e disostose cleidocraniana. A perda de um ou mais dentes contribui para o estabelecimento da má oclusão (GRABER, 1996.) 1.2.14.1 Supranumerários Basicamente, podemos definir como o surgimento de dentes a mais na arcada. Como consequência eles causam má posicionamento dos dentes decíduos ou permanentes, levando ao apinhamento e má oclusão. Seu tratamento se resume a extração desse dente (VELLINI, 2002). 39WWW.UNINGA.BR OR TO DO NT IA | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 1 - Dentes supranumerários na mandíbula. Fonte: Cunha (2015). 1.2.14.2 Ausência ou agenesias Pode ser anodontia, ausência de todos os dentes, ou oligodontia, referente a ausência de alguns dentes. É mais comum do que os supranumerários. Também pode levar a más oclusões, seu tratamento pode ser conduzido de várias formas e depende de várias características do paciente e da oclusão (VELLINI, 2002). 1.2.15. Anomalia de tamanho Podemos citar a macrodontia e microdontia. Suas consequências são relacionadas a apinhamento e diastemas, respectivamente, comprometendo o comprimento do arco e o engrenamento dentário. 1.2.16 Anomalias de forma Determinação hereditária, interferem diretamente na oclusão do indivíduo. A anomalia mais frequente é a do incisivo lateral superior conoide. • Geminação: tentativa de divisão do germe dental por invaginação, resultado da formação incompleta de dois dentes, ocorre tanto na decídua quanto na permanente, com possível tendência hereditária, prejudica a estética, o perímetro do arco e, consequentemente, consome mais espaço (PROFFIT, 1995). • Fusão: união embriológica de dois germes dentários decíduos ou permanentes, causada durante a formação em razão de alguma força física ou contato, causa comprometimento estético e funcional. (PROFFIT, 1995). • Dilaceração: é uma angulação ou curvatura acentuada da raiz ou da coroa do dente formado, causado por algum
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