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Unidade 1 Livro Didático Digital Iara Chaves Psicologia do Trabalho Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Diretora Editorial ANDRÉA CÉSAR PEDROSA Projeto Gráfico MANUELA CÉSAR ARRUDA Autora IARA CHAVES Desenvolvedor CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS A AUTORA Iara Chaves Olá. Meu nome é Iara Chaves. Sou formada em Administração de Empresas, com especialização em Gestão de Pessoas, Mestre em Economia e Doutora em Qualidade Ambiental, com uma experiência em docência em educação nível técnico em mais de 5 anos. Na área corporativa tenho experiência em Gestão de Recursos Humanos e Negócios em mais de 18 anos. Passei por grandes empresas Nacionais na área de varejo de eletroeletrônicos e prestação de serviços, multinacionais no ramo de alimentos e bebidas, copiadoras e currier. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo projeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: ICONOGRÁFICOS INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova com- petência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Psicologia na era industrial aos dias de hoje ............................11 Primeira fase - Psicologia Industrial ................................................................................11 A segunda fase - Psicologia Organizacional .................................................................14 A terceira fase - Psicologia do Trabalho .............................................................................16 Psicologia no contexto organizacional ....................................................20 Indivíduos e sua personalidade ...............................................................29 Fundamentos da diversidade e diferenças individuais ................38 Diversidade etária ou de gerações .........................................................................39 Diversidade de gênero ............................................................................................................40 Diversidade de raça e etnia...................................................................................................41 Diversidade portador de necessidade ......................................................................43 Diversidade Religiosa ..................................................................................................................43 Psicologia do trabalho8 UNIDADE 01 LIVRO DIDÁTICO DIGITAL Psicologia do trabalho 9 INTRODUÇÃO Você sabia? A Psicologia Organizacional e do Trabalho (POT) tem ocupado importante espaço dentro das organizações por auxiliar na compreensão do comportamento humano e suas atitudes no ambiente laboral como também, oferecer ao colaborador um ambiente de trabalho agradável, saudável e propicie seu bem-estar auxiliando a fomentar condições para um melhor desempenho, qualidade de vida e segurança no trabalho e o colaborador por sua vez entregue a organização o seu comprometimento e trabalho de qualidade. Iremos entender que uma maior compreensão do ser humano, suas habilidades, necessidades e conflitos no ambiente de trabalho entre outras é fundamental para uma gestão de pessoas eficaz, afinal, pessoas entusiasmadas impulsiona as inovações e o crescimento das organizações. Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo tão interessante e desafiador! Psicologia do trabalho10 Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso propósito é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Compreender a história da psicologia organizacional; 2. Discorrer sobre o conceito e as perspectivas de estudo da psicologia nas organizações modernas; 3. Identificar os vários tipos de personalidade e as boas práticas de condução e gerenciamento do trabalho de cada tipo; 4. Entender a diversidade e as diferenças individuais no contexto do trabalho na organização. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! OBJETIVOS Psicologia do trabalho 11 Psicologia na era industrial aos dias de hoje OBJETIVO Ao término deste capítulo você será capaz de entender como ocorreu a evolução da psicologia organizacional e do trabalho. Compreenderá como é importante a compreensão do trabalho e do trabalhador para as organizações se manterem competitivas neste mundo globalizado. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Primeira fase - Psicologia Industrial Antes de tratarmos da psicologia industrial faz-se necessário compreendermos alguns conceitos de psicologia. Para Spector, (2009) a psicologia é a ciência do comportamento humano, da cognição, da emoção e da motivação. “A psicologia se desenvolveu a partir da biologia e da filosofia, com o objetivo de se tornar uma ciência que descreve como pensamos, sentimos e agimos. ” (MYERS, 1999, pág. 1). Teles (2003) define a psicologia como a ciência que busca compreender o homem e seu comportamento, para facilitar a convivência consigo próprio e com o outro. Posto os conceitos de psicologia e como ela contribui com as organizações e os seus colaboradores, seguimos então para os primeiros passos de nossos estudos a psicologia industrial. A publicação do livro intitulado ““Psychology and Industrial Efficiency”, em 1913, de Münsterberg, deu início ao período que ficou conhecido como a psicologia industrial. Os dois professores Münsterberg e Walter D. Scott foram os primeiros a fazer uso de testes psicológicos para seleção de trabalhadores, considera-se esta fase como “a pré- história” da Psicologia organizacional e do trabalho, (GOULART & SAMPAIO, 1998; CAMPOS, 2008). Psicologia do trabalho12 A primeira fase da psicologia industrial apoiou-se na busca da eficiência e a aplicação dos conhecimentos psicológicos à lógica da produção industrial e da racionalidade. A teoria científica influenciou a psicologia industrial com os estudos do engenheiro Frederick W. Taylor que observou os gestos, sequências, movimentos e ritmos do trabalho cronometrando os tempos e movimentos de operários, com esta metodologia aumentava a produtividade, tornando os processos mais rápidos e eficientes. Com este método os operários trabalhariam com fracionamento máximo das tarefas, redução de movimentos supérfluos, redução do tempo de aprendizado (CHIAVENATO, 2004). Esta expertise na linha de montagem dos produtos acabou por criar uma outra série de cargos especializados, cuja função era auxiliar ou complementar as atividades de montagem. Pode-se citar, entre outros, faxineiros, que periodicamentelimpavam o local de trabalho, os mecânicos, os controladores da qualidade final do produto e os reparadores dos defeitos de produção. Nesta época também os estudos apontavam para determinar “cientificamente” o limite do esforço para medir a cota de produção dos empregados, a “lei da fadiga”. Os trabalhadores, de modo geral, eram altamente intercambiáveis e facilmente substituídos (MAROCHI, 2002). Münsterberg por sua vez: Propõe a psicologia da indústria porque ela ajuda a encontrar os homens mais capacitados para o trabalho; define as condições psicológicas mais favoráveis ao aumento da produção; produz as influências desejadas pela administração na mente humana (ANDRADE; AMBONI, 2007, p. 56). A necessidade de métrica, controle e aprendizagem vinda das ciências do comportamento (Psicologia e Sociologia) foram incorporadas de forma a colaborar com o avanço das ferramentas de gestão desencadeado pela Administração Científica do início do século XX percebeu que tais elementos teóricos e técnicas de aprendizagem foram utilizados como instrumentos de controle que serviram como recursos ideológicos e técnicos legitimadores da abordagem administrativa, de acordo com Malvezzi: [...] os instrumentos criados pela Psicometria permitiram a aferição científica [...] das condições pessoais apresentadas Psicologia do trabalho 13 pelo trabalhador. A defasagem entre o perfil e o indivíduo indicava a necessidade de treinamento. [...] Tudo deveria ser medido: o perfil de traços e os resultados da aprendizagem. [...] Havia preocupação de materializar o controle conforme as diferentes teorias de inteligência e de habilidades específicas, como era o caso das teorias de Spearman, Thorndike e Thurstone (1994, p.23). Paulatinamente, a divisão do trabalho vai acabando com o sentimento de equipe e provoca, na maioria dos trabalhadores, a ignorância sobre o sentido e o destino do seu trabalho. Sob uma rigorosa vigilância em nível de estrutura hierárquica e do ritmo das próprias linhas de produção, os trabalhadores se tornam corpos isolados e desprovidos de iniciativa. Para Taylor, em DEJOURS (1987), resta apenas adestrar, treinar e condicionar esta força potencial que não tem mais forma humana plena. Ainda segundo Dejours (1987), esta especialização e divisão do trabalho tinha outra especificidade e consequência em relação ao trabalhador: Traduz-se por uma tripla divisão: divisão do modo operatório, divisão do organismo entre órgãos de execução e órgãos de concepção intelectual, enfim, divisão dos homens compartimentados pela nova hierarquia consideravelmente inchada de contramestres, chefes de equipe, reguladores, cronometristas, etc. O homem no trabalho, o artesão, desapareceu para dar à luz a um aborto: um corpo instrumentalizado – operário de massa – despossuído de seu equipamento intelectual e de seu aparelho mental. Além do mais cada operário é isolado dos outros. Ultrapassado pelas cadências, o operário que “atrasa” atrapalha os que estão atrás dele na corrente de gestos produtivos. Tal é o paradoxo do sistema que dilui as diferenças, cria o anonimato e o intercâmbio enquanto individualiza os homens frente ao sofrimento (DEJOURS, 1987, p.39) Psicologia do trabalho14 Figura 1: Psicologia Industrial na Atualidade Fonte: A autora, 2020. A segunda fase - Psicologia Organizacional A segunda fase, a Psicologia organizacional do trabalho foi identificada como Psicologia Organizacional. Antes de entendermos a psicologia organizacional, vamos entender o que seja organização. As organizações são compostas por pessoas. Sem as pessoas, não existiriam quem tomasse as decisões relativas aos objetivos da organização e quem realizasse um conjunto de atividades para alcançá- las (SOBRAL & ALKETA, 2012). Daft (2002) discorre sobre a relativa dificuldade em conceituar organizações pelas suas características diversas, vistas a partir da permissão de estruturas com variados objetivos, mesmo assim metas, desenhadas como sistemas de atividades e ligadas ao ambiente. Da mesma forma que a primeira fase a Psicologia industrial teve influência da Teoria Científica, a segunda fase da Psicologia organizacional sofreu influência da Escola das Relações Humanas capitaneada pelo médico e sociólogo australiano George Elton Mayo, estes estudos enfatizaram as relações dos grupos de trabalhadores e as estruturas das organizações em meados do século XX, com a conhecida pesquisa aplicada na fábrica da Western Electric Company, em Chicago, EUA. Todavia é importante ressaltar que três anos antes da experiência em Hawthorne, Mayo já havia realizado uma pesquisa para avaliar a Psicologia do trabalho 15 relação de trabalho e rotatividade, e percebeu que o espírito de grupo tinha um papel importante das relações de trabalho conforme segue: Mayo conduzira uma pesquisa em uma indústria têxtil com elevadíssima rotatividade de pessoal [...] e que havia tentado inutilmente vários esquemas de incentivos salariais. Mayo introduziu um intervalo de descanso, delegou aos operários a decisão sobre horários de produção e contratou uma enfermeira. Em pouco tempo, emergiu um espírito de grupo, a produção aumentou e a rotatividade do pessoal diminuiu. (CHIAVENATO, 1979, p.102) A experiência contou com quatro fases distintas 1º Fase - Os Estudos da Iluminação, 2ª Fase - Sala de montagem de relés, 3ª Fase - O programa de entrevistas, 4ª Fase - Sala de montagem de terminais, teve como conclusão que o fato de os trabalhadores se sentirem parte de um grupo é o que incide diretamente sobre o aumento do rendimento no trabalho. Frente a isto ficou claro que a valorização do comportamento humano no trabalho também teve um papel decisivo no aparecimento desta segunda fase, a da psicologia das organizações. Cumpre dissertarmos também sobre a psicologia organizacional no Brasil como segue: A psicologia organizacional surge no Brasil como uma tentativa de racionalização e a procura de um caráter científico e inovador no controle dos processos produtivos, no contexto das ideias da administração científica de Taylor. Leon Walther traz para o Brasil a psicotécnica, os cursos e a primeira aplicação de testes ocorreram em 1924 no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. A aplicação desses testes para selecionar empregados expandiu-se, principalmente nas empresas ferroviárias. (ZANELLI et al, 2004) De acordo com Schein (1982), a psicologia organizacional procura compreender os fenômenos organizacionais que se desenvolvem em Psicologia do trabalho16 torno de um conjunto de questões, e por isso um sistema social complexo, referentes ao bem-estar do indivíduo. Conforme Ghiraldelli (2000), com o advento da globalização e em razão do vínculo estreito com as atividades administrativas, a Psicologia organizacional passou por várias transformações em busca do desenvolvimento da produtividade do trabalhador e do seu bem-estar. Portanto, a ênfase nesta fase passou a ser dada às pessoas que participam ou trabalham nas organizações e não mais na tarefa ou estrutura organizacional. Isto foi possível devido ao desenvolvimento das ciências humanas (CHIAVENATO, 1979, p.101). A terceira fase - Psicologia do Trabalho Primeiramente iremos falar do conceito de trabalho e na sequência, da psicologia do trabalho. Para Coutinho (2009), trabalho é uma atividade humana, individual ou coletiva, de caráter social, complexa, dinâmica, mutante e que se distingue de qualquer outro tipo de prática animal por sua natureza reflexiva, consciente, propositiva, estratégica, instrumental e moral. Conforme Marx (1983), é precisamente essa capacidade que o homem tem de transmitir significado à natureza por meio de uma atividade planejada, consciente e que envolve uma dupla transformação entre o homem e a natureza, que diferencia o trabalho do homem de qualquer outro animal. Segundo Blanch (2003) ao contrárioda perspectiva que considera o trabalho fonte de satisfação e de auto realização, como gerador para construção do sujeito e de sua missão de vida, existem outras abordagens que atribuem conotações negativas ao trabalho. De acordo com o autor, esse polo negativo está relacionado, na maioria dos casos, à representação de trabalho como maldição, castigo, jugo, estigma, coerção, esforço e penalidade, e como mera função instrumental a serviço da sobrevivência material, a qual cabe dedicar toda e só a atenção necessária para o alcance desse objetivo. A terceira fase, a Psicologia do trabalho da mesma forma que as antecessoras, sofreu influência da Teoria Geral da Administração, sendo Psicologia do trabalho 17 destacado o toyotismo. O modelo de produção toyotista foi desenvolvido por Eiji Toyoda e Taiichi Ohno no Japão no século XX. Ohno, engenheiro de produção da fábrica de automóveis da Toyota na década de 70, trabalhou no desenvolvimento de máquinas e ferramentas que permitissem uma maior flexibilidade na troca de peças e moldes. Com os resultados que ia obtendo, foi percebendo que os custos eram menores quando produzia pequenos lotes. A preocupação do sistema Toyota está em aproveitar as qualificações, conhecimentos e experiências, e não somente a força física dos trabalhadores (HARVEY, 1993). O Toyotismo é caracterizado não apenas com base na eliminação de estoques de reserva (“buffers”) e em procedimentos Just in time, mas também por causa do elemento de “relações humanas” que fornece a base para o “controle de qualidade total” e o envolvimento dos trabalhadores na racionalização. (WOOD, 1993, p. 53) No sistema Toyota a administração participativa, promove o engajamento dos funcionários nos processos decisórios, operacionais e do cotidiano, tornando-se elemento importante (MAXIMIANO, 2005). A Psicologia Organizacional e do Trabalho concentrou-se na administração participativa que compreendia uma mudança no comportamento dos empregados e o modo como eles enxergavam o seu papel na, e para a empresa. Esse fato implica um processo que recai em questões que, além de práticas, tem caráter subjetivo, pois, o empregado, segundo as repercussões que vieram com o toyotismo, precisava se ver como parte constituinte e participante dos problemas que integravam o cotidiano no trabalho, como parte de um “time” no sentido atual desta terminologia usada na administração. A nova fase da POT buscou oferecer meios para que os empregados fossem questionados como sujeitos sintonizados com o espírito da organização. Tal empreendimento implica elementos que recaem em quatro questões básicas: a) sobre a maneira como o trabalhador enxerga o seu trabalho; b) o seu papel dentro da empresa; c) a sua função social enquanto trabalhador; d) o processo de identificação entre o seu “eu” e a organização. Psicologia do trabalho18 Para que tenhamos uma melhor compreensão onde o toyotismo e a psicologia do trabalho se cruzam, faz-se importante conhecer uma entre diversas definições que poderá direcionarmos à esta complementaridade segue: A Psicologia do trabalho é uma disciplina ao mesmo tempo teórica e aplicada, que busca, mediante o uso de conceitos, modelos e métodos procedentes da Psicologia, descrever, compreender, predizer e explicar o comportamento laboral de indivíduos e grupos, assim como os processos subjacentes ao mesmo. Objetiva ainda a intervenção, tanto sobre a pessoa como sobre o trabalho, com o propósito de melhor satisfazer as necessidades dos trabalhadores, sem nunca esquecer de incrementar os benefícios e rendimentos da empresa. (GARCIA, VALDEHITA & JOVER, 2003 p. 22) Nesta fase também temos a preocupação com a Conscientização da importância da saúde ocupacional, tem seus objetivos definidos em 1957 pela Comissão Mista da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Organização Mundial da Saúde (OMS): A Saúde Ocupacional tem como finalidade incentivar e manter o mais elevado nível de bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores em todas as profissões: prevenir todo o prejuízo causado à saúde destes pelas condições de seu trabalho; protege-los em seu serviço contra os riscos resultantes da presença de agentes nocivos a sua saúde; colocar manter o trabalhador em um emprego que convenha às suas aptidões fisiológicos e psicológicas em resumo, adaptar o trabalho ao homem e cada homem ao seu trabalho. (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT) apud TERSARIOLLI et al., 2005, p.37) A Psicologia do Trabalho (terceira fase) se distingue das suas predecessoras (Psicologia Industrial e Psicologia Organizacional), na ampliação do significado e dos efeitos psicológicos do trabalho não só no contexto da organização em si, mas, também, no terreno do sujeito que está presente na organização, ou seja, em suas estruturas psicológicas. Além disso, as intervenções da Psicologia através das problemáticas Psicologia do trabalho 19 das ciências gerenciais foram ampliadas de tal forma que seus efeitos passaram a ser desdobrados não só nos trabalhadores no âmbito do interior da empresa, mas passaram a projetar formas de gerenciamento comportamental na vida dos indivíduos também fora da empresa, ou seja, orientando uma conduta de vida (VIEIRA, 2017). RESUMINDO A psicologia industrial progrediu de acordo com o tempo atendendo a necessidade das organizações, com novos estudos e sob influência de grandes marcos históricos, como a primeira Revolução Industrial, a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. A lucratividade e produtividade, sob o pilar o treinamento como fonte da não alteração da produção, enquanto os próprios funcionários passaram a ser muitas vezes considerados apenas peças de reposição. A segunda fase da psicologia organizacional voltou a sua atenção aos efeitos da estrutura organizacional com foco no indivíduo, para isso utiliza dinâmica de grupos, desenvolvimento de equipes e estudos sobre a liderança. Pode-se afirmar que a terceira fase, Psicologia do trabalho, preocupa-se com a saúde e bem-estar do trabalhador (ergonomia) e discute temos como poder e conflitos. Busca a compreensão do trabalho humano em todos os seus significados e manifestação. Apesar desta fase ter seu início no século passado ainda encontramos em nossas fábricas muito desta teoria sendo aplicada em nossos dias, como por exemplo, as linhas de produção, principalmente na indústria automotiva, onde encontramos o controle dos tempos e movimentos com a diferença entre estes dois períodos a satisfação laboral do operário. No começo do século XX, os psicólogos foram chamados a contribuir com a compreensão do desempenho e produtividade do trabalhador, com a predominância da Psicometria, com o passar do tempo este indivíduo tornou-se um ser complexo e multifacetado, com empresas cada vez mais competitivas e em um mundo globalizado, transformando o papel de controlador para estratégico. Psicologia do trabalho20 Psicologia no contexto organizacional OBJETIVO Iremos observar neste tópico a importância da psicologia no contexto organizacional e como ela pode auxiliar tanto os colaboradores na busca pela sua realização, preparação para as transformações tecnológicas que estão a caminho e seu desenvolvimento profissional, da mesma forma que deverá auxiliar as organizações a enfrentar desafios de crescimento e inserção no mundo digital e globalizado. A POT sofreu transformações significativas ao longo da história, da perspectiva inicial da Psicologia industrial para a Psicologia organizacional e do trabalho, é possível verificar em diversos aspectos que mostram a ampliação do modelo que vimos até agora. As pessoas passam grande parte do tempo e em alguns casos, a maior parte de seu dia em lojas, laboratórios, escritórios, hospitais, salas de aula, fábricas, etc. Pela sua importância e envolvimento com a organização devem ser vistas como parceiras,como parte integrante da empresa, um elo importante; então o respeito, as oportunidades de crescimento ou os novos desafios devem ser situações fomentadas pelo setor de Gestão de Pessoas, e o psicólogo o elo que irá conciliar o comportamento de cada colaborador, como indivíduo com suas expectativas e desejos aliado as necessidades da organização. Segundo Chiavenato, (2007, p.211) “A Psicologia Organizacional, consiste no planejamento, organização, desenvolvimento, coordenação e controle de técnicas capazes de promover o desempenho eficiente do pessoal”. Estamos no meio de uma revolução gerencial e organizacional. As antigas regras quanto ao tratamento a ser dado às pessoas, à organização do trabalho e às formas de liderar estão desmontando (COHEN; FINIK, 2003, p. 5). A Psicologia nas organizações é um campo de estudo e intervenção sobre o trabalho que visa analisar as múltiplas relações entre as pessoas, Psicologia do trabalho 21 os grupos e as organizações com a finalidade de contribuir para a promoção de um ambiente saudável e produtivo. (ZANELLI; BORGES; BASTOS, 2004). Os modelos propostos por Taylor e pela escola das relações humanas são bastante distintos na seleção dos aspectos relevantes, do ambiente e do indivíduo, mas constituíam modelos rudimentares até para explicar os processos motivacionais. O próprio comportamento do indivíduo passou a ser visto de forma mais abrangente, não limitado apenas ao desempenho das tarefas. Hoje, o desempenho humano no contexto de trabalho é visto como multideterminado e multifacetado, produto de complexas e sutis interações entre aspectos do ambiente, a história do próprio indivíduo e a finalidade da corporação. A psicologia se moveu, no final do século XIX, da tecnologia investigativa do experimento para a tecnologia julgadora do teste. A ideia central é de “cada um em seu lugar”, talvez relembrando um outro: “de cada um de acordo com suas habilidades”, para “cada um de acordo com suas necessidades”. Segundo Rose (2008, p. 157): Esse objetivo é atingido por meio da invenção da norma - aquele pequeno e peculiar termo que condensa, em uma palavra, ideias do normal, do regular, do significado estatístico, do desejável, do saudável.... Para os psicólogos, a norma não foi derivada de nenhum conhecimento do funcionamento orgânico da mente humana, como foram as normas da medicina em relação à regulamentação do corpo. As normas psicológicas derivam das normas requeridas pelas instituições – do sistema escolar, da indústria, das forças armadas e de todos os lugares. A forma psicológica da norma emparelha esses requerimentos com as normas de variação estatística e as leis de grandes grupos, alinhando também regras de desejo sócio-político e institucional com a demanda da teoria estatística. George Canguilhem, talvez o principal autor da epistemologia histórica, reforça isso em seu estudo, The normal and the pathologic: “É a própria vida, e não o julgamento médico, que faz do normal biológico um conceito de valor e não de realidade estatística”. Psicologia do trabalho22 Nessas últimas décadas, vimos crescer de forma exponencial o trabalho intelectual integrado e menos trabalho braçal, postos de trabalho são constantemente substituídos por novas tecnologias. A quarta revolução industrial não está mais no chão de fábrica mas pulou agora, para dentro dos escritórios de engenharia, de advocacia, consultório médico entre outros, a revolução digital irá interferir no relacionamento homem- máquina, e a pergunta é como vamos conviver e reagir com colegas de trabalho que não demonstrarão cansaço, mau humor, felicidade ou novidade de final de semana, são robôs, máquinas que substituíram a mão de obra, reduziram custos e aumentaram a eficiência. Muito além de alterar a relação homem x emprego, a mudança do futuro está entre o emprego x nova tecnologia. Vamos trazer novamente o conceito de organização de trabalho proposta por Dejours (1992, p.25): [..] por organização de trabalho designamos a divisão do trabalho, o conteúdo da tarefa (na medida em que ele dela deriva), o sistema hierárquico, as modalidades de comando, as relações de poder, as questões de responsabilidade etc. O trabalho não acontecerá mais como era até então, o trabalho mecânico caminha a passos largos em direção a extinção, trazendo desalento para grande massa de trabalhadores, teremos também um grande contingente de colaboradores alcançando a idade madura sem o vigor da juventude. A perda destes indivíduos não é somente de postos de trabalho, mas também a desconstrução da identidade social. “A sociedade da informação não é um modismo. Representa uma profunda mudança na organização da sociedade e da economia, havendo quem a considere um novo paradigma técnico-econômico” (TAKAHASHI, 2000, p. 5). Psicologia do trabalho 23 Figura 2 – O Trabalho na era digital Fonte: @freepik A quebra de paradigma se faz imperioso, armazenar e saber aproveita a informação de forma eficaz passou a ter tanto valor quanto era importante concentrar patrimônio a uma década atrás. Pode-se assegurar que as pessoas vivenciam uma transição paradigmática, na qual os capitais tangíveis passam a ser substituídos pelos intangíveis, mudança que antes pareciam impensáveis estão neste momento acontecendo, o emprego presencial para o emprego virtual, o trabalho da indústria para o serviço. Várias atividades que aconteciam dentro das corporações passaram a ser realizadas fora dela, esta transição é rápida como podemos presenciar, sendo empurrada neste momento não apenas pelo avanço tecnológico, mas também pela pandemia que bate a nossa porta. O auxílio na orientação e acompanhamento vocacional, ou profissional, nestes casos se mostram indispensável, como também a saúde do trabalhador. Algumas empresas conscientes deste amplo processo de transformação buscam valorizar junto aos gestores, psicólogos e stakeholders a importância do entendimento do comportamento humano no trabalho, e os aspectos como expressões de sentimentos e emoções e que as condutas e atitudes dos trabalhadores são determinadas por Psicologia do trabalho24 muitos aspectos, dentre eles os sociais, religiosos, políticos, econômicos e morais; entra em cena agora a nova organização social denominada informacional (VERGARA, 2009). Como a ciência nos ensina “não é o mais forte e nem o mais inteligente que sobrevive, mas o que melhor se adapta as mudanças” (DARWIN, 1882). Compreender o comportamento organizacional nunca foi tão importante para administração e gestão, pois com a influência do ambiente externo causado pela competição criada pela globalização. Torna-se imprescindível que os funcionários se tornem mais flexíveis para adaptarem-se as rápidas mudanças, a inserção da tecnologia no ambiente de trabalho e a competitividade. (DARWIN, 1882). Esta transição é muito delicada e envolve sentimentos e emoções a serem trabalhadas por um profissional da área da psicologia. A organização atual precisa de um profissional que assuma responsabilidades e tenha condições de observar a realidade organizacional, da diversidade dos comportamentos dos funcionários, dos fatores que mais estão afetando a motivação dos mesmos, dos conflitos, da competição pelo poder, das relações interpessoais, das relações trabalhistas, do comprometimento das pessoas e de seu grau de resistência às mudanças; e que esteja, além disso, sempre atento às perspectivas teóricas que embasam sua prática, consciente do seu papel político dentro da empresa, numa constante reavaliação da sua atuação. (DARWIN, 1882). Figura 3 – Evolução da Psicologia nas organizações Fonte: A aurora, 2020. Psicologia do trabalho 25 Conduzir o trabalho e o trabalhador intelectual tem sido cada vez mais um desafio, por concentrar-se na construção de diretrizes para o futuro, não para o passado; para as oportunidades, não para os problemas; exigindoimaginação, coragem e liderança de alta qualidade. O trabalho e o trabalhador intelectual não produzem devidamente quando sentem que estão pressionados, só quando automotivados ou autodirigidos poderão mostrar-se produtivos (PEIXOTO, 2019). O momento presente é da busca pelo talento, do desenvolvimento humano, onde a perspectiva das empresas é gerenciar e valorizar seus colaboradores, um leque de competências, que no cotidiano organizacional se traduz em conhecimento, habilidades e atitudes. Toda organização depende de pessoas. O resultado da empresa dependerá de como iremos atrair o potencial humano, engrandecer um desempenho diferenciado para atender os seus interesses e as necessidades das pessoas, que passam grande parte de suas vidas dentro das empresas, onde irão trabalhar, se desenvolver, aprender e ensinar. (PEIXOTO, 2019). Se faz premente que o empregador resgate valores que corroborem com a relevância e a necessidade de perceber o comportamento humano, pois cada ser apresenta uma personalidade, uma forma de pensar e de agir, oferecendo meios que venham a estabelecer um bom ambiente de trabalho. Dentro das instituições os trabalhadores já estão fazendo parte do planejamento estratégico, vimos no decorrer deste estudo que pessoas eram inseridas nas organizações para produzirem, reduzindo o desperdício de tempo, de matéria prima como sendo insumos para propiciar lucros, sendo usadas como peça a serem substituídas, pois o treinamento que recebiam conseguia fazer com que a produtividade não se perdesse. Mais adiante a psicologia participou na organização para solucionar conflitos e auxiliar na construção da estrutura das organizações, hoje é muito mais que testes psicológicos, redução do absenteísmo, recrutamento, seleção e desenvolvimento de pessoas, mas auxiliar na Psicologia do trabalho26 construção de um trabalhador integral que possa continuar com a sua saúde física e mental tanto dentro como fora da organização. Os indivíduos também são parte integral e fator da tecnologia, não só como inventores ou operadores das máquinas, mas como grupos sociais que direcionam sua aplicação e utilização. Rigorosamente, a tecnologia institui novos padrões de individualidade. Como processo social, ela é ao mesmo tempo: modo de produção; totalidade dos instrumentos, dispositivos e inovações que caracterizam a era da máquina; instrumento de controle e dominação; forma de organizar, perpetuar ou modificar as relações sociais; e manifestação do pensamento e dos padrões de comportamento dominantes (Marcuse, 1999). Este autor nos permite um breve respiro, pelo menos temos uma oportunidade de direcionamento em relação a intervenção da máquina no ambiente de trabalho ou melhor da inteligência artificial com seus algoritmos na substituição na capacidade de criação e relacionamento social. Clot (2006, p. 55) afirma que ”o ramo da psicologia do trabalho visa analisar e modificar os comportamentos e as situações do Homem no trabalho, no que diz respeito às condições de trabalho exteriores a esse indivíduo e por meio dessas mesmas condições”, ou seja, deve-se buscar promover, nos espaços organizacionais, ambientes de trabalho onde as pessoas se sintam bem ou motivadas. O desafio do milênio é para que o psicólogo organizacional desenvolva consciência da relevância de seu papel afim de contribuir constantemente para o melhor desempenho das atividades relacionadas à área de Recursos Humanos de uma forma dinâmica. Psicologia do trabalho 27 Figura 4 - Relação entre indivíduo e organização Fonte: A autora, baseado em (Brum, 2015) IMPORTANTE Atualmente, a busca é por uma relação direta entre organização e indivíduos, a qual depende de fatores como (ambiente interno e externo), estrutura (padrões de relacionamento), e processos (comportamentos estabelecidos pelo meio) para que a organização possa alcançar o sucesso, concretizando seus objetivos e trazendo benefícios para todos (BRUM, 2015). RESUMINDO Aprendemos que a psicologia no ambiente organizacional enfrentará grandes desafios neste novo milênio, sua atividade até então de recrutar, selecionar, organizar, engajar, proporcionar um ambiente de trabalho seguro e confortável, entre outras, agora também deverá olhar para o futuro do trabalho e do trabalhador. Psicologia do trabalho28 As novas tecnologias trazem consigo novos aprendizados, novas funções, novas necessidades, a forma de pensar o trabalho mudou a padronização de pensamentos, comportamentos e produção não serão os mesmos. O próprio significa de trabalho também está mudando, tudo está mudando e o trabalhador precisa estar preparado para esta nova revolução tecnológica, a tarefa de ontem não será mais a tarefa de amanhã, cada vez mais a mão de obra necessitará de especialização e não será algo fácil o trabalhador quebrar paradigmas e aceitar estas mudanças. Olhando agora as organizações, aquelas que não buscarem a inovação tecnologia, não entrarem na era digital serão arrastados ou ficarão do meio do caminho. A mão de obra que o mercado de trabalho irá necessitar é aquela que produz conhecimento e não mais ficar esperando que alguém lhe treine para que ele faça a sua tarefa. A tecnologia irá impor novos padrões de individualidade e novos padrões de comportamentos e um novo produto será entregue às organizações, para isto a psicologia do trabalha precisará se reinventar e se modernizar para sustentar e amparar estes dois lados, antes Psicologia aplicada ao trabalho, tinha como finalidade classificar os homens segundo seu desempenho e sua produtividade, de acordo com a lógica da produção, e de formá-los para o trabalho, exercendo sobre eles o controle e a adaptação exigidos pelo capital, mas isto não será mais o bastante. Psicologia do trabalho 29 Indivíduos e sua personalidade OBJETIVO Este capítulo nos reserva grandes descobertas, porque a individualidade que somos e nossas personalidades serão discutidas aqui não como ponto final, mas na compreensão que neste mosaico que é o ser humano, e de como podemos nos desenvolver e contribuir com as organizações. Podemos afirmar que os componentes mais complexos do ambiente de trabalho são as pessoas. Personalidades diferentes, preferências, atitudes que podem ser opostas umas das outras. E neste caldo que necessitamos identificar o indivíduo, para entender a formação da sua personalidade e seu impacto no mundo organizacional. Sendo assim, veremos alguns conceitos de indivíduo e personalidade. O indivíduo, como objeto de estudo da psicologia social e da sociologia, é considerado, segundo Ramos (2003, p. 238), da seguinte maneira: Indivíduo dentro dos seus padrões sociais, vive em sociedade, como membro do grupo, como “pessoa”, como “socius”. A própria consciência da sua individualidade, ele a adquire como membro do grupo social, visto que é determinada pelas relações entre o “eu” e os “outros”, entre o grupo interno e o grupo externo. Cada indivíduo, ao nascer, segundo Strey (2002, p. 59), “encontra- se num sistema social criado através de gerações já existentes e que é assimilado por meio de inter-relações sociais”. O homem, desde seus primórdios, é considerado um ser de relações sociais, que incorpora normas e valores vigentes na família, em seus pares, na sociedade. Assim, a formação da personalidade do ser humano é decorrente, segundo Savoia (1989, p. 54), “de um processo de socialização, no qual intervêm fatores inatos e adquiridos”. Compreende-se, por fatores inatos, aquilo que herdamos geneticamente dos nossos familiares, e os fatores adquiridos provêm da natureza social e cultural. Psicologia do trabalho30 Passando agora para o entendimento de personalidade. Personalidade é um resultado global, da ação dos fatores hereditários/ genéticos (constituição física, caracteres morfológicos e físico-químicos) e dos ambientais (interação entreas pessoas e o mundo, que envolve os hábitos, valores, capacidades, aspirações, etc.), ou seja, diz respeito à “totalidade daquilo que somos” (PISANI, 1996, p. 14). A palavra personalidade origina-se do grego Persona, nome de uma máscara usada por atores em peças teatrais, para identificar vários personagens. Geralmente é associada à força de vontade, e à moral do indivíduo, diferentemente da abordagem científica, porque exclui avaliações morais ou judicativas, porém confirma que tem relação com a disposição motivacional, sendo definida como o conjunto de características que explica um modo próprio da pessoa responder aos estímulos do ambiente, respostas emocionais e escolhas individuais (BUSATTO, 2006). O conceito de personalidade é encontrado desde os tempos antigos, Galeno, no século II d.C., com o prestígio de sua autoridade, revitalizou a doutrina humoral e ressaltou a importância dos quatro temperamentos, conforme o predomínio de um dos quatro humores: sanguíneo, fleumático, colérico (de cholé, bile), melancólico (de melános, negro + cholé, bile). Colérico, portanto, é aquele que tem mais bile amarela, e melancólico, o que tem mais bile negra. Transfere-se, desse modo, para o comportamento das pessoas, a noção de equilíbrio e harmonia dos humores (DIEPGEN, 1932, p. 77). Toda doença e perturbação mental eram consideradas desequilíbrios entre esses humores também chamados de temperamentos e que as doenças provinham do desequilíbrio dos humores (PEREIRA, 2002; GUZZO, 2002). A personalidade é o conjunto de características de uma pessoa, é a força ativa que ajuda a determinar o relacionamento das pessoas baseado em seu padrão de individualidade pessoal e social, referente ao pensar, sentir e agir. Segundo Parkes e Razavi (2004), algumas características pessoais influenciam a forma como o indivíduo relaciona-se com seu trabalho, sua Psicologia do trabalho 31 organização, sua chefia, suas atividades, seus resultados etc. Destacam também os autores os traços mais relevantes: extroversão, resiliência pessoal, lócus de controle e auto eficiência. Filloux (1966, p. 12) afirma que a personalidade: é única, própria a um indivíduo, embora este possua traços em comum com os outros; 2) ela não é somente uma soma, um total de funções, mas também uma organização, uma integração; (...); 3) a personalidade é temporal, visto sempre pertencer a um indivíduo que vive historicamente; 4) por fim, não sendo nem estímulo, nem resposta, ela se apresenta como uma variável intermediária, afirmando-se como um estilo através e por meio do comportamento. Delisle (1999, p. 19) caracteriza a personalidade como: Um específico e relativamente estável modo de organizar os componentes cognitivos, emotivos e comportamentais da própria experiência. O significado (cognitivo) que uma pessoa atribui aos eventos (de comportamento) e os sentimentos (emocional) que acompanham esses eventos permanecem relativamente estáveis ao longo do tempo e proporcionam um senso individual de identidade. Personalidade é esse senso de identidade e o impacto que ele provoca nas outras pessoas. Personalidade pode ser definida como “a soma total das maneiras como uma pessoa reage com os demais” (ROBBINS, JUDGE, SOBRA, 2010, P. 126) Para alguns autores a hereditariedade e o código genético também são determinantes para personalidade, o código genético traz as predisposições que se mostrarão ou não na personalidade, de acordo com o ambiente vivido ao longo do processo de socialização (SGARIONI, NARLOCH, 2008) A personalidade torna cada pessoa única, mas utiliza-se o conceito “traços de personalidade” a fim de se conseguir estudar, avaliar, descrever e explicar os comportamentos, mas também tendências “na forma de pensar, sentir e atuar com as pessoas” (SILVIA, NAKANO, 2011, p. 52). Psicologia do trabalho32 Jung (1971) evidenciou que as pessoas têm diferentes características comportamentais, habilidades, aptidões, atitudes e motivações que vão caracterizar os tipos psicológicos. O modo preferencial de uma pessoa portar-se de forma em geral deve-se, dentre outras, à herança genética, às influências familiares e às experiências que o indivíduo teve ao longo de sua vida. Verificou-se duas formas de atitudes: a pessoa que prefere concentrar sua atenção no mundo externo de fatos e pessoas (extroversão), e/ou no mundo interno de representações e impressões psíquicas (introversão). Compreende-se que o indivíduo em sua relação com o outro fixa sua personalidade, e conforme o uso, poderá ser canalizada para situações positivas e /ou negativas. Mediante a observação do comportamento exteriorizado é que se torna possível inferir algo a respeito daquilo que esteja acontecendo no interior das pessoas, Só se pode avaliar o potencial intelectual de alguém fazendo-o comportar-se diante de uma situação que solicite ação desse potencial específico, como no caso dos testes de inteligência. Da mesma forma só é possível concluir pelas características afetivo- emocionais, caso a pessoa se mostre exuberante diante de uma dada situação (Bergamini, 2005, p. 103). A personalidade é, portanto, uma dedução ou um conjunto de deduções feitas sobre uma pessoa, a partir da observação direta de seu comportamento (LAZARUS, 1990, p. 60). Segundo Bergamini (2005), a personalidade tem como função descrever e determinar as características extrínsecas e intrínsecas dos indivíduos, ou seja, aquilo que cada um é, ou aquilo que cada um mostra ser. A personalidade é exteriorizada como o comportamento do indivíduo diante as realidades que identifica e compreende o reflexo no que quer ou deve fazer. As funções psíquicas juntamente com as atitudes de introversão e extroversão, representam os tipos psicológicos. Jung distinguiu quatro funções psíquicas: Sensação, Intuição, Pensamento e Sentimento. Existem Psicologia do trabalho 33 duas maneiras por meio das quais percebemos as coisas - Sensação e Intuição - e existem outras duas, as quais usamos para julgarmos os fatos –Pensamento e Sentimento (JUNG,1971). Trazemos agora os conceitos: objeto, como sendo tudo o que está fora do indivíduo ou que o cerca; subjetividade, mundo não diretamente observável por quem está de fora; libido, energia psíquica, é a intensidade do processo psíquico; e sujeito, é o indivíduo, diferente de tudo que não for ele mesmo. Por tanto, pelo movimento de sua libido, o indivíduo introvertido enfatiza a importância do sujeito e o extrovertido do objeto, caracterizando a introversão e a extroversão (MENEGON, 2010). A Teoria do Tipos tem como ponto de partida o movimento da energia psíquica e nunca pretendeu criar estereótipos (o grande risco de qualquer tipificação tipológica). Embora os conceitos nela inerentes (introversão, extroversão e funções psíquicas) e a classificação dos tipos tenham grande aplicabilidade, a riqueza desta teoria está relacionada à dinâmica do movimento da libido. No sistema proposto por Jung, a conceituação do dinamismo (consciente e inconsciente) e a presença de todas as polaridades cria um sistema de trocas entre as instâncias através dos movimentos da energia psíquica. (Barcaui, Patrocínio & Quelhas, 2004, p.36). De acordo com Guillén e Saris, (2013) que indivíduos extrovertidos são vistos como sociáveis, conversadores, e geralmente, sentem-se confortáveis com os outros, também têm se relacionado à ambição e iniciativa. Os extrovertidos são comunicativos, possuem vivacidade e se sentem à vontade em uma variedade de situações sociais. Representam uma tendência para trabalhar arduamente, sendo minuciosos, procurando organizar-se, não agem deliberadamente. São cuidadosos antes de agir. São abertos a experiências, remetem à curiosidade, criatividade, sair do convencional, e um amor pela arte e natureza. (BAKKER-PIEPER & VRIES, 2013). Psicologia do trabalho34A teoria de Jung adota critérios em seus estudos voltado a duas atitudes, a introvertida, na qual há a função de retração, e a extrovertida, onde há presteza para reação frente ao objeto (PERRONE, 2008). Figura 5 – Descrição geral de tipos psicológicos – Jung Fonte: A autora, baseada em Ramos (2005) Conforme Ramos, (2005) Jung constatou que a psique além de possuir duas disposições psíquicas (extroversão e introversão) também possui quatro funções psíquicas: sensação e intuição (funções de percepção ou irracionais) e pensamento e sentimento (funções de julgamento ou racionais) que também são mecanismos de adaptação do indivíduo à sua realidade subjetiva e objetiva, todos nós nos enquadramos em um destes tipos, eventualmente em dois e às vezes alguns poderão dominar três, mas os quatro juntos não são possíveis dentro de uma condição normal. Andrade (2011) aponta que, segundo a teoria dos tipos psicológicos de Jung: A função sensação, nessa teoria, relaciona-se àquilo que é: o mundo da matéria. Cabe a essa função da consciência Psicologia do trabalho 35 apontar a existência concreta de algo. As outras funções, nominalmente a intuição, o pensamento e o sentimento, relacionam-se aos insights e a antever possibilidades ainda encobertas, conceituar o que algo é e conferir valor e avaliar alguma coisa, respectivamente (ANDRADE, 2011, p. 80) Conforme Lucas, (2020), na avaliação de pessoal nas organizações são aplicadas majoritariamente duas teorias de traços de personalidade: o indicador de Tipos de Personalidade Myers-Briggs, baseado nas dimensões propostas por Carl Jung e o modelo Big Five, ou modelo dos cinco grandes fatores (CGF). Nunes e Hutz, (2002) asseveram que um dos pioneiros no desenvolvimento do modelo dos CGF foi McDougall que, na década de 30, sugeriu que a análise da linguagem de uma população ajudaria a entender a sua personalidade, propondo um modelo na qual ela poderia ser analisada a partir de cinco fatores independentes, sendo eles extroversão, amabilidade, conscienciosidade, estabilidade emocional e abertura para experiências. Quadro 1 - Traços de personalidades de Carl Jung Extroversão (E) e Introversão (I) Relacionam-se ao interesse do indivíduo ao mundo exterior ou ao mundo interior; Pensamento (T) e Sentimento (F) Relacionam-se ao processo de tomada de decisão mais lógico ou baseado em razões mais subjetivas; Sensação (S) e Intuição (N) Relacionam-se a processos de captação de informação baseadas em detalhes, etapas e fatos ou baseados em processos inconscientes e em temas mais amplos; Julgamento (J) e Percepção (P) Relacionam-se a postura de decidir, resolver e alcançar metas ou a postura de ser flexível e buscar sempre mais informações. Fonte: A autora baseada em Lucas, 2020. Psicologia do trabalho36 Outro modelo de análise de personalidade é o modelo Big Five, baseado em cinco agrupamentos de traços de personalidade conforme quadro 2. Quadro 2 – Traços de Personalidade Big Five Extroversão Avalia o nível de interação e conforto com os relacionamentos interpessoais; Amabilidade Refere-se aos tipos de interações que uma pessoa apresenta, variando de amáveis e cooperativas a frias e confrontadoras; Conscienciosidade Variável que mede a confiabilidade das pessoas com cautela, organização e responsabilidade; Estabilidade Emocional (Oposto de Neuroticismo): ajustamento emocional e capacidade de liderar com o estresse; Abertura para experiências Interesse e reconhecimento da importância de ter novas experiências. Fonte: A autora, baseada em Lucas, 2020. Stevens, Beyer e Trice, (1978) procuram explicar o comprometimento organizacional como resultante de múltiplos determinantes, entre eles os psicológicos através do estudo das diversas personalidades convivendo em harmonia. O resultados dos testes de traços de personalidade são muito utilizados nas empresas em processos de seleção, desenvolvimento e promoção, porém não podem ser usados para excluir pessoas, apenas para conhecê-las. Eles são baseados em pesquisas científicas, legalizadas e regulamentadas pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2010). RESUMINDO Foi possível neste capítulo identificar conceitos de indivíduo e de personalidades; e traços e tipos de personalidades. Vimos que a busca pelo entendimento das personalidades é perseguida desde muito tempo. Fundamentada em quatro divisões de humores são elas: sanguíneo, fleumático, colérico e melancólico, tudo isto ligada a um fluido produzido pela vesícula biliar, órgão de nosso corpo, e o seu desequilíbrio seria a causa das doenças. Psicologia do trabalho 37 Também conhecemos os dois tipos gerais de atitudes Junguianos descritos através de suas disposições psíquicas: os extrovertidos, tipo de personalidade extremamente sociável; e os introvertidos, que em geral são pessoas que se sentem melhor sozinhas, são menos sociáveis e interagem com menos pessoas. Quanto a função tem-se quatro funções psíquicas: sensação e intuição (funções de percepção ou irracionais) e pensamento e sentimento (funções de julgamento ou racionais). O modelo Big Five ou modelo dos cinco grandes fatores é uma teoria que está embasada em cinco agrupamentos de traços de personalidade, extroversão, amabilidade, conscienciosidade, estabilidade emocional e abertura para experiências, a qual tem significância para identificação das personalidades. É importante ressaltar que toda vez que o assunto forem pessoas nunca teremos a dicotomia do sim e não, certo e errado, somos seres complexos e em construção desde o nascer até a hora de fecharmos nossos olhos pela última vez. Estes estudos e conceitos são importantes para nos fornecer um norte sobre os indivíduos e suas personalidades, que podemos encontrar em nossas organizações. Psicologia do trabalho38 Fundamentos da diversidade e diferenças individuais OBJETIVO Neste capítulo aprenderemos sobre diversidade, para tanto, os conceitos de diversidade de gênero, idade, grupo étnico, religião, pessoas com deficiência, e geração. Também estarão contextualizados, para que possamos caminhar com maior assertividade para o respeito, aceitação e entendimento que o diferente nos une para a inovação nas organizações globalizadas. A diversidade nas organizações é ainda muito recente e inquietante, e por isso precisamos entender seus conceitos e procurar nas diferenças a fortaleza das organizações em suas pessoas diversas e na força da mão de obra. Neste item faremos um recorte buscando apresentar um pouco de cada uma das diversidades que poderemos encontrar nas organizações e como podem ser valorizadas. A definição da diversidade para os autores Robbins; Judge; Sobral (2014, p.26) “é um termo amplo, e a expressão diversidade no local de trabalho pode se referir a qualquer característica que torne as pessoas diferentes umas das outras”. Fleury (2000) explica que o significado de diversidade implica vários aspectos como sexo, idade, grau de instrução, grupo étnico, religião, origem raça e língua, e a define “[...] como um mix de pessoas com identidades diferentes interagindo no mesmo sistema social”. (FLEURY, 2000, p.20). Segundo Bugarelli (2008) ressalta a necessidade de considerar as diferenças para que as pessoas possam desenvolver seus potenciais por meio de oportunidades. Sendo esse um dever e compromisso dos indivíduos, das organizações e da sociedade. Psicologia do trabalho 39 Diversidade pode significar variedade, diferença e multiplicidade. A diferença é qualidade do que é diferente; o que distingue uma coisa de outra, a falta de igualdade ou de semelhança. Nesse sentido pode-se afirmar que onde há diversidade existe diferença (ABRAMOWICS, 2006 p.12) De acordo com Chiavenato (2014, p. 42) “A diversidade realça as diferenças individuais e se contrapõe à homogeneidade, que procura tratar as pessoas como se elas fossem padronizadase despersonalizadas”. Para Ethos (2000, p.29) “um tratamento mais justo aos empregados e a possibilidade de expressarem suas queixas reduz o número de ações trabalhistas motivadas por discriminação”. Diversidade etária ou de gerações Os autores Robbins; Judge; Sobral (2010) indicam razões importantes em relação a idade e o desempenho do trabalho. Para eles existe uma crença na qual o desempenho do trabalho decai com a idade e muitos empregadores agem baseados nesse posicionamento. Afirmam ainda que os trabalhadores com mais idade possuem em sua maioria “[...] experiência, o bom-senso, um forte sentido da ética e o compromisso com a qualidade. ”(p.41). Os autores argumentam, que geração não é a data de nascimento em comum, mas o processo histórico que uma parcela da população compartilha (FEIXA e LECCARDI, 2010). A multiplicidade geracional que atualmente interage no ambiente de trabalho representa um desafio para as organizações, uma vez que é mais complexo desenvolver ações para atrair e reter talentos humanos tão dispares (DÍAZ-SARMIENTO; LÓPEZ-LAMBRAÑO; RONCALLO- LAFONT, 2017). De acordo com Munhoz (2015, p.114) esclarece que as empresas podem colaborar para “transformar toda população crescente de idosos em uma força de trabalho que começa a ser reconhecida. ” Psicologia do trabalho40 Diversidade de gênero Conforme Jesus, (2012) gênero se refere a forma de se diferenciar e ser identificada como homem ou como mulher. Orientação sexual se refere à atração afetivossexual por alguém de algum ou alguns, gênero ou gêneros. Uma dimensão não depende da outra, não há uma norma de orientação sexual em função do gênero das pessoas, assim, nem todo homem e mulher é “naturalmente” heterossexual. Sexo é biológico, gênero é social, construído pelas diferentes culturas. E o gênero vai além do sexo: O que importa, na definição do que é ser homem ou mulher, não são os cromossomos ou a conformação genital, mas a auto percepção e a forma como a pessoa se manifesta socialmente (JESUS, 2012, p.8). Não há diferença entre homens e mulheres nas questões de “habilidades de resolução de problemas, capacidade de análise, espírito competitivo, motivação, sociabilidade ou capacidade de aprendizagem”, portanto, observa-se que não há diferenças na produtividade das mulheres em relação aos homens, (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010, p.43). Para Henderson, Ferreira & Dutra (2014) ainda não há uma igualdade entre homens e mulheres no topo da hierarquia organizacional. A ciência afirma que diversidade genética dentro de uma espécie é de fundamental importância e necessária para manter a diversidade de espécies. Os conceitos de sexo e gênero possuem significados diferentes, sendo que o primeiro se baseia na condição física que difere a fêmea e o macho. Enquanto o segundo é referente a uma construção de papéis sociais para mulheres e homens, não atrelados exclusivamente ao sexo, mas sim, aos comportamentos, atitudes e atributos entendidos como coerentes por cada sociedade tanto para homens quanto mulheres por meio da socialização (TOLEDO, 2017). Ethos (2013, p. 24) explica que impor determinado padrão, como um comportamento heterossexual, “[...] gera discriminação, humilhação, exclusão e sujeita as pessoas a formas variadas de violência”, causando impactos não só no comportamento das pessoas, mas também, na Psicologia do trabalho 41 estrutura das organizações influenciando na maneira de ser, de agir e de se relacionar. Outras questões atravessam as relações sociais e influenciam diretamente na construção e relações de gênero. Mulheres negras, índias, mestiças, pobres, trabalhadoras, muitas delas feministas, reivindicaram uma ‘diferença’–dentro da diferença. Ou seja, a categoria ‘mulher’, que constituía uma identidade diferenciada da de ‘homem’, não era suficiente para explicá-las. Elas não consideravam que as reivindicações as incluíam (SOIHET; PEDRO, 2007, p. 287). Ethos (2013, p. 24) explica que impor determinado padrão, como um comportamento heterossexual, “[...] gera discriminação, humilhação, exclusão e sujeita as pessoas a formas variadas de violência”, causando impactos não só no comportamento das pessoas, mas também, na estrutura das organizações influenciando na maneira de ser, de agir e de se relacionar. Diversidade de raça e etnia O termo raça foi construído historicamente pela sociedade por meio de aspectos culturais baseado em elementos físicos (cor da pele, estatura, tipo de cabelo, formato do crânio). Assim, são abordadas as raças branca, preta/negra, parda, amarela ou indígena (IBGE, 2018). Apesar de acreditar que todos são iguais, a diversidade seja no mercado de trabalho ou na educação ainda está longe da realidade no Brasil de acordo com Fleury: (...) embora o povo brasileiro valorize sua origem diversificada, e goste de se imaginar como uma sociedade sem preconceitos de raça ou de cor, ele reflete na realidade uma sociedade estratificada, em que o acesso às oportunidades educacionais e às posições de prestígio no mercado de trabalho é definido pelas suas origens econômicas e raciais. (Fleury, 2000, p.19). Psicologia do trabalho42 Em relação a raça consideram como “herança biológica que as pessoas usam para identificar umas às outras”. Já etnia “como um grupo adicional de características culturais que muitas vezes se justapõe à raça. ” (ROBBINS; JUDGE; SOBRAL, 2010, p.41). A cor da pele é determinada pela quantidade e tipo do pigmento melanina presente na derme, e [...] sua variação é controlada por apenas quatro a seis genes (STURM, 1998). Este número de genes poderia ser considerado extremamente insignificante, ao menos do ponto de vista quantitativo, diante dos 35 mil genes existentes no genoma humano. No entanto, alguns dos problemas sociais mais enfáticos e insistentes das democracias e ditaduras modernas giram precisamente em torno da percepção social das diferenças produzidas por estes quatro ou cinco genes (BARROS, 2009, p. 10). As relações raciais no Brasil dizem respeito as ideologias e discursos que foram sendo veiculados ao longo dos anos, desde o período colonial brasileiro, para que se acreditasse na noção de raça e, além disso, na inferioridade da raça negra em relação à branca de origem europeia. A escravidão e o colonialismo são dois elementos particularmente importantes para se analisarem as relações raciais no Brasil porque foi por meio deles que se deu início a uma distinção mais evidente e disseminada entre os povos em nosso País. Foi por meio deles que os negros africanos foram escravizados e que se sustentaram as mencionadas e já existentes correlações entre genética, intelecto e moralidade a partir de uma perspectiva racializada (TEIXEIRA, OLIVEIRA e CARRIERI, 2020) Para Santos, et al. (2010) a diferença entre raça e etnia é que raça determina um grupo de pessoas com os perfis biológicos e etnia refere-se a aspectos culturais, linguísticos, religiosos, dentre outros. Concluem que há uma relação entre raça, porém com significados distintos, enquanto raça envolve questões biológicas para se referir e identificar as categorias humanas, a etnia compreende elementos culturais de um grupo com afinidades. Psicologia do trabalho 43 Diversidade portador de necessidade Robbins; Judge; Sobral (2010, p.45) afirmam que portador de deficiência é “uma pessoa que possua qualquer problema físico ou mental que limite substancialmente uma ou mais das principais atividades exercidas pelo ser humano. ” De acordo com o último Censo Demográfico 2010, 23,9% da população brasileira possui algum nível de comprometimento funcional (IBGE, 2010). O termo deficiência significa a perda permanente ou total de uma das funcionalidades do corpo. O Decreto 3298/89 dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência e define cada tipo de deficiência: física, auditiva,visual e mental. Também podendo haver a deficiência múltipla sendo a associação de duas ou mais deficiências (BRASIL, 2000). As Pessoas com Deficiência (PCD) passaram a ser incluídas nas organizações pelas suas potencialidades, a partir de 1990 (CARVALHO- FREITAS; MARQUES, 2006). Miranda (2017) reforça esse pensamento ao reafirmar que a gestão da diversidade passou a ser uma necessidade vital para as empresas a partir da criação das cotas de inclusão, com a finalidade de aumentar a inclusão de PCDs. Diversidade Religiosa Segundo Nunes, (2017) no ambiente de trabalho a questão da religiosidade é pouco discutida, pois os gestores consideram como uma particularidade de cada pessoa. ”A diversidade pressupõe o respeito aos valores e crenças pessoais e uma postura inclusiva, que incorpore e promova a heterogeneidade de modos de pensar e agir de seus empregados ” (Ethos, 2000, p. 59). O objetivo principal da gestão da diversidade cultural é administrar as relações de trabalho, as práticas de emprego e composição interna da força de trabalho a fim de atrair e reter talentos dentre os chamados grupos de minoria (FLEURY, 2000) Psicologia do trabalho44 Figura 6 - Diversidades nas organizações Fonte: A autora, 2020 A figura mostra as principais diversidades que encontramos dentro das organizações, as quais devemos direcionar o olhar para sermos uma empresa que assume a sua responsabilidade social. Psicologia do trabalho 45 Figura 7 – Diversidade e benefícios potenciais Fonte: A autora, 2020 baseada em FLEURY, 2000 A valorização da diversidade nas empresas ratifica o papel das organizações socialmente responsáveis, no qual existam práticas de respeito e de valorização da diferença em contrapartida, a organização receberá inovação, engajamento, reconhecimento e competitividade. Pode-se inferir que a diversidade de todas as formas são um desafio tanto para atração como para retenção de pessoas, mas este é o único caminho. SAIBA MAIS Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo: “Diversidade nas organizações: inclusão social ou estratégia competitiva? ” (SANTOS, SANTANA & ARRUDA), acessível pelo link https://bityli.com/ImILT. (Acesso em 05/05/2020). Psicologia do trabalho46 RESUMINDO E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a administração industrial sofreu forte influência da teoria Clássica da Administração, nesta fase o foco estava na tarefa e na otimização do tempo e movimentos e está atrelada aos interesses das industriais e introdução de testes para identificar o candidato mais adequado a tarefa. Na segunda fase na psicologia organizacional sofre influência da Teoria das Relações Humanas onde o foco estava na equipe, solução de conflitos e na estrutura organizacional das empresas. Na terceira fase da Psicologia do Trabalho sofreu influência do Toyotismo, seu foco estava no bem- estar do colaborador, buscando aliar o trabalho e vida fora da organização tendo o entendimento do trabalho humano em todos os seus significados. Em relação a psicologia nas organizações o grande desafio está em conseguirmos alinhar a tecnologia com o trabalho e o trabalhador, sem perder de vista a individualidade, a saúde mental e empregabilidade no mundo digital. Por fim podemos observar a complexidade do indivíduo e sua personalidade como fator de comprometimento e engajamento através do tempo em que permanece nas organizações entre outros. Vimos também que no universo corporativo, podemos e devemos unir as diversidades de raças, gênero, religiosidade, idade, orientação sexual, e de gerações pois, necessitamos desta pluralidade que nos enriquece enquanto pessoas e devemos sobre tudo aprender, aceitar e respeitar. Toda esta gama de informações nos levou a pensar que pessoas são o que permite que organizações se mantenham competitivas, se inovando, crescendo dando lucro com a responsabilidade social que lhe compete. Psicologia do trabalho 47 BIBLIOGRAFIA ABRAMOWICZ, Anete; OLIVEIRA, Fabiana. A escola e a construção da identidade na diversidade. In: ABRAMOWICZ, Anete; BARBOSA, Lucia Maria de Assunção; SILVÉRIO, Valter Roberto (Orgs.). Educação como prática da diferença. Campinas, SP: Armazém do Ipê, 2006. p. 12 AMADOR, Fernanda Spanier. Psicologia, Trabalho e Gestão?. Arq. bras. psicol., Rio de Janeiro , v. 69, n. 2, p. 21-33, 2017 . 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