Buscar

DIREITOS HUMANOS TRABALHO COMPLEMENTADO-2

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 26 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CENTRO UNIVERSITÁRIO ANHANGUERA POLO URUGUAIANA
BACHARELADO EM DIREITO
NOTURNO
ADRIELE
ANDRESSA GRACIELA MEDEIROS
CAROL
FERNANDA DOS REIS ARCE CALIBARE
FRANCIELLY RIBEIRO FAN
RENATO FAGUNDES
TRABALHO DIREITOS HUMANOS, DE INCLUSÃO E DO IDOSO
PROF. BEATRIZ ANDRETTA
URUGUAIANA – RS
2021
DIREITO À MORADIA
A casa, o lar, ou o “rancho”, como costuma dizer o dialeto gaúcho, é o ponto de referência, a indicação de domicílio e residência de todos os cidadãos, o abrigo onde todos nos sentimos à vontade e seguros. Em contrapartida, é um assunto que merece atenção ao passo que há uma grande parcela da população que não têm acesso à moradia, e consequentemente ao sentimento e segurança do lar. Um assunto como direito à moradia, foge da realidade da grande maioria, pois além da individualidade e egocentrismo do ser humano, as consequências do déficit de moradia costumam ser mais enfáticas e midiáticas, pelo fato de justamente estarem indo de encontro aos interesses individuais de cada um. Inimaginável pensar que o Brasil, um país grande o suficiente em extensão territorial, com uma população estimada em 213 milhões de habitantes segundo dados do IBGE de 2020, tem cerca de 33 milhões de desabrigados, segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos. Parece mentira que mesmo já tendo sido declarado o direito à habitação como um dos elementos dos Direitos Humanos de Segunda Geração, com enfoque sob o Estado de Bem-Estar Social, seja ainda uma triste realidade vigente no nosso e em outros países o caso de inúmeras pessoas que não possuem moradia, e o de muitas que possuem vivendas em situações precárias, ambas situações indignas e insalubres para uma boa qualidade de vida humana. Basta dar uma volta pelos centros das cidades que iremos nos deparar com a cruel realidade de pessoas que ainda se encontram tendo o céu como teto, em plena situação de desabrigo.
É sabido da disparidade econômica mundial, desde os primórdios, quando imperadores e rainhas escrachavam sua superioridade sobre súditos, escravos e demais. Infelizmente, essa realidade, mesmo que não tão cruel no sentido literal da palavra, ainda permeia após séculos, e as condições miseráveis em que muitos se encontram, ainda sem lar, é bastante gritante aos olhos de quem procura enxergar e exercer a vida com um pouco mais de igualdade e paridade entre as pessoas. Embora tenha havido com o passar dos tempos a evolução dos Direitos Humanos com sua Declaração Universal e a criação dos Códigos, no Brasil o principal deles, a Constituição, ainda existe uma distância enorme entre o descrito, e a realidade. 
Segundo a Declaração Universal de Direitos Humanos, elaborada pela ONU, e declarada em 10 de dezembro de 1948, surgindo como uma expectativa e breve exigência moral para a sociedade, logo após os absurdos cometidos nas duas grandes guerras, para que de alguma forma fossem freadas as barbáries, e com isso reafirmando “ a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito e das mulheres”, com o intuito de assim judicializar atos que vão de encontro aos problemas sociais, econômicos, culturais e humanitários, assim como promover e estimular o respeito às liberdades fundamentais dos seres humanos, assim como suas garantias e seus direitos, sem distinguir, sexo, raça, religião e afins. Vale ressaltar, que embora não esteja na nossa Constituição Federal de 1988, o Tratado de Declaração Universal dos Direitos Humanos, por se tratar de um documento cujo alcance seja de norma jus cogens (norma imperativa aceita por todas as nações), o texto contido em defesa aos Direitos Humanos, é reconhecido por todos países membros da ONU, sendo o Brasil um dos 193 integrantes deste rol, tendo sido inclusive um de seus fundadores. 
O direito à moradia, além de ser um direito atrelado diretamente ao direto da dignidade da pessoa humana (Art. 1o, § III), instituído também conforme o Art. 6o da CF/88, no seu capítulo II, sobre Direitos sociais dizendo: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.
Ao falarmos da falta de moradias, partimos do princípio que está sendo violado nosso código moral e Constitucional, onde garantem os direitos a todos, e principalmente àqueles que não os têm. Quaisquer sejam os motivos para não serem cumpridos à fio o Texto constitucional e suas garantias, sejam de ordem governamental de qualquer escalão, seja por falta de priorizar o assunto, seja por falta de recursos financeiros ou planejamento estratégico, a questão final discutida neste trabalho, afeta a todos igualmente, pois a cada esquecimento das autoridades e responsáveis pela garantia desses direitos, a desigualdade aumenta, e com ela seus respectivos efeitos, sejam eles de ordem habitacional, segurança ou ambiental. É sabido que a falta de moradia, leva muitas pessoas á morarem no relento, nas ruas, procurar abrigos em prédios abandonados ou então a superpopulação em lugares nas periferias, sem o devido saneamento e condições básicas de moradia.
Segundo Bruna Pinotti Garcia Oliveira e Rafael de Lazari em seu livro Manual dos Direitos Humanos. 2015. 
“os direitos humanos são aqueles inerentes ao homem, cuja finalidade é a proteção da dignidade da pessoa humana, resguardando seus atributos mais fundamentais. A conquista de direitos da pessoa humana é, na verdade, uma busca da dignidade da pessoa humana. A dignidade humana é entendida como uma qualidade de cada ser humano, que o protege contra tratamento degradante e contra discriminação odiosa, bem como assegura condições materiais mínimas de sobrevivência. Ao Estado são impostos dois deveres a fim de proteger a dignidade da pessoa humana: o dever de respeito, relacionado com a limitação de ação dos poderes públicos e o dever de garantia, que se relaciona com a obrigação de fornecer condições materiais que possibilitem a efetiva dignidade.”
Estar sobre a proteção de sua privacidade, usufruindo do seu direito à saúde; pelo acesso a rede de esgoto e água tratada, usufruto do espaço seu para higiene e descanso inerente à pessoa humana. O direito à moradia, está atrelado a tantos direitos quanto imaginamos. Como também, é um direito social, moradores de ruas, por exemplo, encontram-se pejorativamente invisíveis à sociedade. Onde estão os moradores de rua em índices de pesquisas de saúde? Condições insalubres nos lares? Índice de desemprego? Uma realidade gritante e ao mesmo tempo tão invisível nas capitais, e todos municípios dos estados brasileiros; 
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, IPEA, o número Nacional de moradores de rua cresceu em 22 mil do ano de 2012 a 2020, um aumento de 140% em oito anos. Para fins didáticos de pesquisa, concentramos nossas pesquisas em capitais de três estados brasileiros: Porto Alegre/RS, Rio de Janeiro/RJ e São Paulo/SP. 
PORTO ALEGRE: Segundo a ZH Gaúcha de Março de 2021, pesquisa da Fasc (Fundação de Assistência Social e Cidadania da Capital); o número de habitantes de rua na Capital do Rio Grande do Sul aumentou em 38,7%.
No ano de 2019, o número de moradores de rua era de 2.775 pessoas. No ano de 2020, esse número teve um aumento um aumento de 1.075, passando para 3.850 pessoas. Com isso, entende-se que 1.075 pessoas devido a situação da pandemia, na capital de Porto Alegre, tiveram que ir para às ruas. Seja na condição de desemprego, e por conseguinte, impossibilidade de arcar com aluguéis.
	Segundo a presidente da Fasc, Cátia Lara Martins, além de políticas sociais, é preciso trabalhar na gestão de emprego e moradia. Na matéria da ZG Gaúcha com a Fundação, foram trazidas duas principais realidades presentes naquele meio; dos moradores com desavenças familiares e/ou que fazem uso de substâncias ilícitas e a situação de pessoas vulneráveis na crise atuas; parte dos 38,75% que devido a também crise econômica ficaramdesempregadas e tiveram que tomar as ruas como "lar". 
SÃO PAULO: População de rua na cidade de SP aumenta 53% em 4 anos e chega a 24 mil pessoas. 
	
Segundo Censo da População em Situação de Rua identificou 24.344 pessoas vivendo em situação de rua no ano de 2019. O número era de 15.905 pessoas no ano de 2015. Ou seja, aumento de 53% em 4 anos. O número leva em consideração a soma do número de pessoas dormindo embaixo de calçadas e pavimentação pública e também o número de pessoas nos abrigos. 
	Dentre esses números 11,7 mil encontram-se nos abrigos, e 12,6 mil encontram-se, realmente, nas ruas. Para fins didáticos, recolhi os dados da matéria da BBC NEWS junto com o Censo da cidade de SP, para facilmente visualizarmos os motivos que levaram aquela parcela de entrevistados para as ruas: 
RIO DE JANEIRO: Segundo estimativa do IBGE, na cidade do Rio de Janeiro no ano de 2020, 7.272 desabrigados.
No ano de 2021, segundo pesquisa da Secretarial Municipal de Assistência Social (SMAS) houve um aumento de 11% de adultos nesse número, este levantamento foi feito a pedido da CNN (Cable News Network).
	A pesquisa e matéria feita pela CNN, em parceria com a SMAS da cidade do Rio de Janeiro, aponta que a pandemia é gerou esse aumento. Assim como, indicam um aumento de idosos de 34% em abrigos quando comparados com o início da pandemia devido ao COVID 19.
“O cenário pandêmico mundial vivenciado no período acirrou os níveis de miséria nas grandes metrópoles do país, considerando o alto grau de fechamento de postos de trabalho e a necessidade de isolamento, principalmente na população idosa e que apresentava comorbidades. Desta forma, no perfil de idoso, observamos um aumento de 34% na média de usuários acolhidos”, informou a prefeitura.
	Dentro do número de 7.272 desabrigados, 1.803 estavam em acolhimentos da prefeitura, e 5.469 encontram-se nas ruas. 
	A CNN também separou os motivos justificáveis pelos moradores para a condição, e a razão que os levou para as ruas. Do número estimado, 3.960 pessoas admitiram uso de substâncias, entre elas álcool e ilícitos. 
PROGRAMAS HABITACIONAIS
Sabe-se do alto custo financeiro que é necessário para ter acesso à moradia, situação distante da realidade das pessoas hipossuficientes. Tendo em conta estes dois fatos somados ao de que o lar digno é um dos direitos fundamentais de toda pessoa humana, foi que os legisladores positivaram este direito para impulsionar as políticas públicas quanto ao tema abordado. No decorrer do tempo desde a criação e execução do primeiro Planejamento Habitacional do país, ocorrido em 1946 - Sistema Financeiro de Habitação -, foram contempladas, segundo fontes midiáticas, mais de 5 milhões de famílias brasileiras. Quantia relevante, porém, ainda distante de dar solução a um dos mais destacados problemas sociais contemporâneos, com base em um estudo feito pela BBC News no ano de 2018: “O país tem pelo menos 6,9 milhões de famílias sem casa para morar. Tem também cerca de 6,05 milhões de imóveis desocupados há décadas”. 
	Impossível seria abordar este tema sem mencionar o extinto “Programa Minha, Casa Minha Vida”, que existiu por 11 (onze) anos, dedicado a atender essa necessidade habitacional das famílias de baixa renda, e ao mesmo tempo impulsionando a indústria da construção, gerando empregos e tributos à nação. Entre 2009 e 2020 o mencionado programa habitacional entregou mais de 6 (seis) milhões de moradias mediante injeção de mais de R$ 223 bilhões de reais a preços de 2019, entre subsídios públicos (benefícios financeiros e tributários) e privados (financiamentos do FGTS com descontos). O atual Programa Casa Verde e Amarelo busca sanar irregularidades não controladas pela gestora (Caixa Econômica Federal), e propõe a redução de taxas e juros, e tem como objetivo atender 1 milhão de famílias até o ano de 2024. Segundo fontes do Governo Federal, as novas regras foram estabelecidas a partir da Lei nº 10.118/2021. 
	O programa estabelece três faixas que determinam as condições de subsídio, conforme a renda familiar bruta: 
· Faixa 1,5: famílias que possuam renda bruta de até R$ 2 mil. Taxa de juros é de até 4,75% ao ano, bem como subsídios de até R$ 47.500,00. Isso conforme a região de residência. O prazo para a quitação é de até 30 anos;
· Faixa 2: unidades familiares que tenham renda bruta de até R$ 4 mil. Subsídios de até R$ 29.000,00, variando com base na renda familiar e localização do imóvel;
· Faixa 3: para grupos que possuam renda bruta de até R$ 7 mil.
Para agricultores e trabalhadores rurais o valor é de até R$ 48.000,00. Na Lei, também fica estabelecido que os recursos do programa serão oriundos dos seguintes fundos governamentais:
- Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social – FNHIS;
- Fundo de Arrendamento Residencial – FAR;
- Fundo de Desenvolvimento Social – FDS;
- Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS.
Esses recursos ainda contam com a dotação orçamentária da União, operações de crédito de iniciativa da União, firmadas com as instituições bancárias, entre outras. O programa é fragmentado em três faixas, mas os recursos provindos da União são exclusivamente para a Faixa 1. Nesta faixa, famílias com renda bruta de até R$ 2 mil possuem vantagens, inclusive na taxa de juros que é de 4,75% e parcelamento em até 30 anos. De acordo com o texto do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), existe a previsão de R$ 1,2 bilhão para o programa.
	Também com objetivo zelar pela dignidade da pessoa humana, é de muita valia o Programa Aluguel Social, assegurado pela LEI Nº 8.742/93 -ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL-, o secreto nº 6.307/07 dispõe do pagamento mensal de um valor destinado ao pagamento de um aluguel às famílias em casos de vulnerabilidade social ou calamidade pública. 
Ante as singelas informações aqui assentadas, é fácil assimilar que para aceder a esses programas é necessário possuir renda. E àquelas pessoas que não têm? Esses semelhantes que tem o céu como teto, que se abrigam em diferentes partes da cidade? Nota-se a ausência de políticas públicas para esta classe social, que muitas são pessoas perdidas por alguma circunstância de saúde mental, ou por vícios e abandonadas por seus familiares à própria sorte, que necessitam um acompanhamento para logo retornar à vida digna e desempenhar um papel positivo na sociedade, e o ponto de partida, na minha humilde opinião, é tendo um lar como base.
POLÍTICA DE ALUGUEL SOCIAL
O direito social à moradia ainda passa por fase de consolidação de sua implementação, por meio de políticas públicas que garantam sua efetividade. Como exemplo, podemos mencionar a regulamentação da regularização fundiária em terras da União federal para habitação de interesse social (Lei no 11.481/2007) e o programa Minha Casa, Minha Vida (Lei no 11.977/2009). Desde 1964, as políticas públicas formuladas para combater o deficit habitacional ainda tomam como paradigma o direito de propriedade. No Brasil, o aluguel social ainda é utilizado apenas como forma de provisão habitacional provisória, enquanto as casas construídas para serem transferidas por meio do direito de propriedade não ficam prontas. No entanto, a materialização do direito social à moradia, tal como consagrado constitucionalmente, não implica, necessariamente, o reconhecimento dos direitos individuais de propriedade, principalmente nos assentamentos em áreas públicas. A titulação com a concessão de uso ou a implementação de uma política de aluguel social poderiam ser mais eficazes na proteção da vinculação da terra para o fim de morar, uma vez que não é raro que moradores de terras regularizadas acabem enfrentando processos de gentrificação, decorrentes da valorização imobiliária excessiva e do encarecimento do custo de vida.
Nesse sentido, é pertinente abordar brevemente a política de aluguel social, não apenas aplicada aos casos emergenciais, mas como estratégia de política de combate ao déficit habitacional como solução definitiva. 2016 habitação é muito indicada, pois permite que para uma população heterogênea, devem seraplicadas soluções habitacionais heterogêneas. 
Essa ineficiência dá-se em decorrência da adoção de programas habitacionais implementados por meio de uma lógica mercadológica, com a concessão de créditos imobiliários e a cobrança de juros tão altos, que logo os pobres tornam-se inadimplentes e perdem suas casas. O relatório avalia também o impacto que essas políticas de financiamento têm sobre o direito à moradia adequada para pessoas que vivem na pobreza. Sua conclusão é de que a plena realização do direito à moradia adequada, sem discriminação, não deve ser promovida exclusivamente com mecanismos financeiros, mas requer políticas e intervenções do estado em matéria de habitação mais abrangentes e holísticas. Uma das possibilidades aventadas é o uso do aluguel social como instrumento definitivo, e não provisório, para dar efetividade do direito à moradia. Apesar dessa forma de utilização do instituto do aluguel social ter sido pouco explorada de forma efetiva no Brasil, há uma série de diretrizes estabelecidas pelo Conselho das Cidades neste sentido, fazendo parte inclusive do Plano Nacional de Habitação elaborado em 2004. Nesta perspectiva, é importante mencionar o Seminário Internacional de Locação Social promovido pelo Ministério das Cidades (MCidades), com a participação de vários países, como Uruguai, África do Sul, Itália e França, realizado em Brasília em dezembro de 2008. 
A (não) efetividade da política de aluguel social no Rio de Janeiro desde 2010, o direito social à moradia tem experimentado avanços que incluem a condenação judicial do poder público ao pagamento do aluguel social às famílias sem habitação. Tais prestações positivas representam um afastamento da abordagem tradicional, segundo a qual o poder público só estaria obrigado a incluir os desalojados em programas de construção de moradia, o que excluiria outras formas de tutela antecipada em caso de emergência, como são as remoções forçadas. a experiência do aluguel social no Rio de Janeiro O município do Rio de Janeiro tem recebido um número crescente de demandas judiciais por direito à moradia, grande parte das quais têm sido deferidas pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) (Valle, 2014).
O acolhimento destas demandas por aluguel social sugere que seja possível determinar prestações positivas do direito à moradia pela via do aluguel social, ainda que de forma provisória, enquanto a conclusão de programas habitacionais não se efetive. A legislação que garante o pagamento de aluguel social em situações emergenciais no Rio de Janeiro é oriunda da promulgação de decretos nos âmbitos estadual e municipal, quais sejam: o Decreto municipal no 23.381/2003 e os Decretos estaduais nos 41.148/2008 e 41.395/2008. Ainda, mais recentemente, o desenvolvimento do programa Morar Seguro do governo estadual, por meio do Decreto no 42.406/2010, veio complementar o avanço normativo referente ao direito à moradia. 
Na esfera estadual de governo, a definição de aluguel social estabelece que é um benefício assistencial temporário, instituído no âmbito do programa estadual Morar Seguro, destinado a atender às necessidades advindas da remoção de famílias domiciliadas em áreas de risco ou desabrigadas em razão de vulnerabilidade temporária e calamidade pública. O auxílio poderá ser concedido por um período de doze meses e o valor, que pode ser de R$ 500,0011 ou R$ 400,00,12 é definido por meio da celebração do Termo de Cooperação Técnica, assinado entre o governo do estado e os municípios (Rio de Janeiro, [s.d.]).
 As legislações municipal e estadual são de extrema importância para os casos emergenciais, como foram as já referidas tragédias decorrentes de enchentes e deslizamentos de terra em áreas de encostas. Isto porque, mesmo quando não aplicada diretamente, aquela legislação permite o ajuizamento de ações, com a possibilidade do deferimento de medida liminar antecipando-se a tutela jurisdicional visando incluir os moradores em algum dos programas habitacionais existentes, o que lhes garante o pagamento de aluguel social, também chamado de auxílio-moradia. No entanto, o Judiciário vem ampliando esse prazo em até 24 meses, conforme sentenças nos seguintes processos do TJRJ: 0088504-23.2013.8.19.0001; 0170527-26.2013.8.19.0001; e 0232578-10.2012.8.19.0001. Como vimos, a moradia é um direito essencial amplamente garantido em nosso ordenamento jurídico e, uma vez tendo sido impedidos os moradores de áreas carentes da cidade de gozar deste direito, tem o poder público o dever de garantir que ele seja efetivado, por meio da inclusão em programas de moradia popular e do pagamento do benefício do aluguel social como solução provisória. No entanto, não é sempre que o poder público aplica a legislação existente no que se refere a este benefício, o que pode ser observado em diversos casos atendidos pelo Núcleo de Terras da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, em que os moradores de áreas de risco ficaram sem qualquer alternativa, inclusive sem a indenização por sua moradia removida. São caso de graves violações ao direito à moradia destas pessoas, já que não podem viver na rua, e, se obrigadas a pagar aluguel com seus próprios rendimentos, gastam um recurso que lhes é escasso, já que antes viviam em casas próprias.
 Este tipo de tragédia não é episódio isolado: em quase todos os verões há chuvas fortes que deixam dezenas de pessoas desabrigadas. Por sua vez, o Decreto municipal no 20.454, de 24 de agosto de 2001, que aprova as diretrizes de realocação em edificações de assentamento populares, prevê: Aluguel provisório – quando o titular da edificação a ser demolida optar por outra a ser construída, dependendo do planejamento da obra, poderá ser pago um “aluguel provisório” de R$ 200,00 por mês até a conclusão da nova moradia, salvo justificadas exceções autorizadas obrigatoriamente pela Secretária Municipal de Habitação. Direito constitucional. “Aluguel social”. Direito à moradia como direito fundamental positivo. Ato administrativo que interdita a moradia da agravada, por risco de desabamento de barranco. Obra reconhecida como necessária, mas que não foi feita. Direito da agravada de exigir do estado (lato sensu) uma prestação positiva, consistente em assegurar direito à moradia. Recurso desprovido. 
Você sabia que em 21 de agosto se celebra o Dia Nacional da Habitação? A data tem o objetivo de lembrar a importância dos direitos básicos à moradia e propor uma reflexão sobre o tema. Ela foi criada em 1964, homenageando a aprovação da lei do Sistema Financeiro de Habitação e da criação do Banco Nacional da Habitação (BNH), que surgiram com a ideia de facilitar a aquisição da casa própria. Ainda que existam esses mecanismos, há diversos problemas na garantia por um lar, sobretudo às pessoas em situação de vulnerabilidade econômica e social, justamente pela dificuldade de arcar com os custos do financiamento de uma moradia. Muitas vezes, essas pessoas procuram por alternativas irregulares de habitação, ocupando solos e loteamentos sem infraestrutura. Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado em maio de 2020 mostra que o país tem mais de 5,1 milhões de moradias sem regulamentação adequada.
PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA EM PARCERIA COM MUNICÍPIOS GAÚCHOS
Em 12 de Abril de 2012, oitenta e seis municípios gaúchos de até 50 mil habitantes tiveram propostas aprovadas para receber investimentos do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. No total, seriam 3.484 residências construídas com recursos federais. Dentre estes municípios estava Itaqui, na fronteira oeste, que teria 50 casas construídas pelo programa, por solicitação da prefeitura.
O governo federal queria atingir principalmente, nessa fase do programa, as famílias que recebiam até três salários-mínimos. Esse critério foi utilizado pelo governo, que fez o cruzamento dos dados do programa habitacional com os dados do programa de combate à miséria. Por meio desse cruzamento é que foi definida a distribuição dos projetos pelas regiões.
NaFronteira Oeste, além de Itaqui, tiveram suas propostas aprovadas os municípios de Quaraí (50 casas), Barra do Quaraí (40) e Rosário do Sul (40). Na cidade de Itaqui, no ano de 2015 começaram a ser construídas apenas 37 casas, porém, essas casas foram invadidas estando ainda inacabadas no mês de setembro de 2017. A prefeitura de Itaqui sendo a proprietária do terreno e responsável pela guarda do canteiro de obras, solicitou judicialmente a reintegração de posse, o que ocorreu somente em maio de 2018. 
 
Fonte: Arquivo pessoal,07 nov. 2021. Vila do Operário- Casas construídas pelo programa habitacional minha casa minha vida no município de Itaqui-RS.
Embora tenha havido a desocupação do local para que os moradores fossem incluídos em outro projeto de habitação, o descumprimento da medida levou os moradores a retornarem e reocuparem a área abandonada. Uma outra ordem judicial havia determinado a reintegração de posse do local, mas a medida não foi executada devido à pandemia de Covid-19.
O Ministério Público do Trabalho (MPT-RS) concluiu a destinação do valor de R$ 225.700,00 para que a Prefeitura Municipal de Itaqui invista na construção de 37 habitações emergenciais para famílias em situação de vulnerabilidade no município. Os recursos são parte de uma multa estabelecida em processo judicial a uma companhia beneficiadora de arroz por descumprimento de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).
O recurso objeto da destinação será usado no projeto Todos com Moradia, que prevê a aquisição de 37 casas do tipo volante, com instalações elétricas e hidrossanitários, para doação a famílias que ocupam a Vila Operários, todas em situação de extrema vulnerabilidade. As casas serão instaladas em 37 lotes na localidade de Granjinha, anexo ao Bairro Pro morar, e integrarão um novo bairro da cidade, com 89 lotes ao todo. 
 
    Fonte: Arquivo pessoal,07 nov. 2021. Condições habitacionais dos moradores da Vila do Operário em Itaqui-RS atualmente.
DÉFICIT HISTÓRICO
Segundo Ygor Santos, gerente de Impacto Social da TETO Brasil e especialista em habitação de interesse social, o panorama do direito à moradia no país é historicamente precário. “Esse cenário começa a se agravar já no início do século XX, com o fim do ciclo do café e a grande migração do campo para a cidade, e também com a imigração e o fim da escravidão. Tudo isso vai inchando a cidade”, explica. 
Essa expansão acelerada e a fragilidade estatal na garantia desse direito às pessoas de baixa renda geram um preocupante déficit habitacional, que leva, primeiro, ao surgimento de moradias irregulares como cortiços e, depois, à formação e à expansão das favelas e dos assentamentos precários. De acordo com o Censo 2010 do IBGE, 11 milhões de brasileiros vivem nos chamados aglomerados subnormais. 
E, com a pandemia, à medida que o desemprego e a perda de renda crescem, esse cenário se torna ainda mais grave. “Se já existia uma dificuldade de cobrir o aluguel antes, agora as pessoas não conseguem mais pagá-lo. Então, hoje, um dos principais motivos do crescimento das favelas é esse: para sair do aluguel, elas precisam ocupar uma terra, mesmo que isso signifique morar em uma habitação muito mais precária”, observa o gerente do TETO.
O especialista também destaca que o grande adensamento nas comunidades e o pequeno tamanho das moradias dificultam o cumprimento das medidas sanitárias que minimizam a propagação do novo coronavírus. A essas vulnerabilidades, somam-se outras, como a falta de energia elétrica e de acesso à internet, por exemplo, que dificultam a realização de tarefas remotas, como o trabalho ou os estudos. “Vamos ter, no pós-pandemia, não só um problema habitacional e urbano, mas também um problema educacional e de saúde pública”, alerta Ygor.
O PROBLEMA É COLETIVO – E A SOLUÇÃO TAMBÉM
O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 11 prevê que, até 2030, todas as pessoas tenham acesso à habitação segura, adequada e a preço acessível. Para Ygor, é difícil resolver o desafio da habitação, que se prolonga há décadas, em nove anos, considerando os retrocessos da pandemia. Porém, se há uma solução, ela é coletiva. 
O trabalho da TETO, por exemplo, é voltado ao desenvolvimento comunitário a partir de projetos de moradia e infraestrutura realizados por moradores e jovens voluntários, de forma conjunta. “É necessário que tenhamos ações coletivas, ou seja, uma articulação que envolva o poder público, mas que também parta da sociedade civil e das organizações sociais”, reforça. “Isso é um problema coletivo, e problemas coletivos não podem ser resolvidos com soluções individuais.”
RELATO
Simone nasceu e cresceu na Mooca, bairro de classe média na zona leste de São Paulo. Ela vivia em uma casa alugada com a mãe. A família pagava o financiamento de um apartamento próprio, mas o prédio nunca ficou pronto e um processo judicial para reaver o dinheiro se arrasta há anos, diz Simone. Há dez anos, sua mãe morreu e ela, desempregada e sem dinheiro, não conseguiu mais pagar o aluguel. "Pensei: ou pago aluguel ou compro comida. Foi assim que vim para a rua, e nunca mais consegui sair", diz, enquanto caminha pelo Bixiga, tradicional bairro da região central, com destino a um restaurante popular na rua 13 de Maio.
Na bolsa, Simone sempre carrega um papel com seu cadastro na Cohab, companhia de habitação social da prefeitura. Ele foi feito em outubro de 2012, quando ela já estava na rua, mas até agora ela não teve resposta se conseguirá ou não uma moradia social para viver. Hoje, vive sozinha e tem pouquíssimo contato com os irmãos.
"É o que eu mais espero para o ano que vem: uma casa, um lugar onde eu possa ficar tranquila, porque a rua e essa cidade são uma grande produção de indigentes. E eu não quero isso", diz.
REALIDADE URUGUAIANENSE
Já a realidade na nossa cidade, região fronteiriça onde foi inaugurada a Casa de Passagem no dia 14 de julho de 2017, em com o intuito de abrigar além de moradores de rua, também migrantes e andarilhos, conta com espaço para homens e mulheres em situação de desabrigo, com refeitório, sala de convivência e dormitório, para que possa de alguma forma, estabelecer situação digna de moradia para quem necessita. Apesar de ser um espaço pequeno, com lotação máxima de 50 pessoas, levando em consideração a população de 126.866 habitantes (IBGE 2020), o assistente social Maicon, exercendo sua função desde o início da pandemia no abrigo, diz ser suficiente, devido a falta de procura pela população. É de importante ressalva, salientar que devido a classificações feitas a partir da Resolução no 109, de 11 de novembro de 2009, e Resolução CNAS no 13, de 13 de maio de 2014, no código de Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais a Casa de Passagem, passou a ser abrigo institucional, onde enquanto casa de passagem, apenas eram fornecidos a refeição e pernoite, não permitindo a permanência diurna na casa. Já enquanto, abrigo institucional, é permitido a permanência na casa durante 24horas, pelo período de 6 meses, até que haja a reinserção dos habitantes à sociedade e atividades, no entanto, esta é apenas uma estimativa, conforme os casos já assistidos e com sucesso de reintegração, no caso de não ter sucesso na busca e reinserção na sociedade as pessoas permanecem no local. “Por se tratar de um serviço de acolhimento social, ninguém pode ser mandado embora.” – Maicon Luis Minho, Assistente Social. 
Atualmente existem 30 pessoas em cadastro de situação de rua, habitando o abrigo, recebendo alimentação diária, assim como atendimento psicossocial e condições dignas de moradia. Segundo relata Maicon, existem na casa muitos venezuelanos, ainda que agora a situação esteja amena, durante a pandemia, muitas pessoas procuraram o abrigo, não por condições de moradores de rua, mas por não ter como arcar com aluguel, necessitaram da ajuda e estada até que sua situação melhorasse, no entanto, foram supridas as necessidades de todos, não faltando espaço para abrigar os solicitantes. Vale também lembrar que além dos migrantes, a procura é bastante solicitadadevido a conflitos familiares, as pessoas procurando então onde ficar.
O abrigo ainda recebe crianças, adolescentes e adultos, e os separa conforme a demanda, sendo família, permanecem juntos, se não, homens e mulheres são separados, assim como as crianças, porém os menores quando não acompanhados da família, devido à complexidade e demanda causal, são encaminhados para o serviço de acolhimento específico, conforme faixa etária, no antigo cacau, onde faz-se o acolhimento de crianças e adolescentes, estes, tratados como demanda e responsabilidade municipal, enquanto adultos, são tratados como demanda da sociedade como um todo. 
Durante o período da estada no abrigo institucional, como supracitado, com duração de até 6 meses, é feito a tentativa de realocação dos transeuntes, seja na aproximação com a família, seja através de projetos sociais, assim como parceria com o SINE, na tentativa de arranjar emprego. 
Ainda, é importante mencionar, que existem buscas ativas pelas equipes de assistência social do município, em abordagens diurnas e noturnas aos moradores de rua, oferendo o acolhimento no abrigo, assim como também referenciam a sua parceria com o caps e ambulatório de saúde mental municipal, na tentativa de que estes saiam da rua, porém muitos recusam a oferta de ajuda, por serem dependentes químicos e por fazerem uso de álcool. 
Por fim, Maicon relata que é necessário o fortalecimento do trabalho em conjunto entre CAPS, CRAS, Ambulatório de saúde mental e abordagem social, para facilitar o andamento do processo de reinserção e reabilitação dos habitantes, como um todo, pois com maior comunicação sobre os casos e suas particularidades, será mais fácil e de êxito as conquistas para com os assistidos. Sobre a equipe, diz ainda que seria necessário um reforço para que pudessem assistir melhor as pessoas, contando hoje com uma parte técnica de três profissionais, sendo eles, enfermeira, psicóloga e assistente social, e nove cuidadores com escala de 12 horas. 
· Relato e informações foram obtidas através de conversa com o Assistente Social responsável pela casa, Maicon Luis Minho, colaborador da instituição a um ano e nove meses.
Ademais, em conversa com Suelen Fuques, coordenadora do IBGE em Uruguaiana, ao pesquisar sobre o assunto, foi informado da dificuldade de planilhar os moradores de rua da cidade, devido a dificuldade de encontrá-los em local fixo, e por muitas vezes se identificarem apenas por apelido, e nem sempre o mesmo. Quando questionado sobre a iniciativa de programas que estimulem a contagem para reconhecimento dos moradores de rua da cidade, juntamente com a Prefeitura Municipal, a resposta foi de que não há interesse por parte dos responsáveis municipais sobre o assunto, nem mesmo há iniciativa ou proposta de alternativas para que isso pudesse ser viabilizado.
Direito Constitucional da Moradia e o Usucapião de Bens Públicos
Existe uma aproximação desses institutos jurídicos, porém, verifica-se possuir proibição quanto a possibilidade de adquirir bem imóvel público por usucapião, nos termos do parágrafo § 3º, do artigo 183 e parágrafo Único do artigo 191, ambos da Constituição Federal de 1988 (CF/88), caracterizando a imprescritibilidade que compõe seu regime jurídico. 
Em outras palavras, ainda que a posse exercida sobre um imóvel público cumpra com todos os requisitos exigidos para aquisição do domínio nas hipóteses da usucapião, não é permitido, por não incidir o prazo de prescrição aquisitiva sobre o imóvel público.
Entretanto, uma parte da doutrina defende que a imprescritibilidade do imóvel público não é absoluta. Entre os doutrinadores destaco a tese defendida por Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald, que propõem a divisão dos bens públicos entre bens materialmente públicos e formalmente públicos, sendo o segundo, aqueles registrados em nome de pessoa jurídica do Direito Público (Ex.: municípios) permanecem resguardados pela imprescritibilidade, a outro tanto, os bens materialmente públicos, sendo, prédios desativados, terras resolutas, os bens definidos como dominicais, seriam passiveis de usucapir, uma vez que o estado se ausentar de cumprir com a função social dessas propriedades (2006, p. 267, aput TARTUCE, 2012, p. 885)[1].
Nessa linha, a Carta Magna define que a função social da propriedade tem como prioridade garantir a moradia, compreendida como um direito fundamental de todos.
Deste modo, se evidencia que o Estado através de seus entes federativos (União, Estados e Municípios) tem o dever de ser exemplo na destinação de seus bens imóveis, respeitando os princípios constitucionais, garantindo que o cumprimento da função social da propriedade, bem como da dignidade da pessoa humana, ambos amparam o direito de moradia a todos os brasileiros.
Isso posto, vamos partir para o próximo tema, o qual possibilidade assegurar o direito de moradia para aquele que detém a posse sobre um imóvel público.
Concessão de uso para fins de Moradia
Por outro lado, a Constituição Federal de 1988, determinou cabível a concessão especial de uso do imóvel público, considerando o parágrafo § 1º, do artigo 183, da CF/88, desde que, cumpridas as exigências, sendo elas; (a) possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados (250 m²); (b) pelo período de cinco anos, de forma ininterrupta e sem oposição; (c) utilizando da área para sua moradia ou de sua família, desde que não seja dono, ou tenha a concessão de qualquer outra área rural, ou urbana.
Nessa linha, veio a publicação da Medida Provisória 2.220/2001, regulando o procedimento necessário para obtenção da concessão Especial para Fins de Moradia (CUEM), definindo um limite temporal para ocupação, sendo até 30 de junho de 2001, posteriormente o limite foi ampliado até 22 de dezembro de 2016 (Redação dada pela Lei nº 13.465/2017), deste modo os requisitos para a concessão ficaram os seguintes.
· Possuir área urbana de até 250 m².
· Posse ininterrupta e sem oposição durante 5 anos, até 22 de dezembro de 2016.
· Utilizar a área exclusivamente como moradia própria ou de sua família.
· Não ser proprietário nem concessionário de outro imóvel (rural/urbano).
Cumpre destacar que, a dimensão do imóvel deve obedecer ao tamanho limite de 250 m², de todo modo, compreende-se que esse requisito não limita o tamanho total do imóvel público, mas exclusivamente a parcela ocupada pelo possuidor, esse é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ou seja, exemplo: o indivíduo pleiteia a concessão de uso sobre um lote na área urbana de um Município, identifica-se que as dimensões da propriedade são de 1000 m², contudo a ocupação alcança apenas 250 m², portanto, desde que cumpridos todos os requisitos exigidos, nada obsta a concessão de uso apenas sobre a fração da área ocupada.
Sendo assim, aquele que usa como moradia 250 m² de imóvel público na área urbana pelo período mínimo de 5 anos até a data de 22/12/2016, contanto que não seja proprietário ou concessionário de outro imóvel, rural ou urbano, tem o direito de concessão especial de uso para fins de moradia por tempo indeterminado, de forma gratuita.
Existente o direito após cumpridos todos os requisitos mencionados acima, o possuidor, ou seja, a pessoa que reside no imóvel público e faz dele a sua moradia, tendo intenção de solicitar a concessão especial de uso, deve primeiramente fazer um pedido administrativo junto ao órgão competente, no caso do imóvel ser identificado como de propriedade do município o requerimento é feito na respectiva Prefeitura Municipal.
Por precaução é importante instruir bem a solicitação, isto significa, juntar o máximo de provas possíveis. Nesse caminho, para comprovar que se trata de um imóvel público e ainda identificar qual o ente federativo proprietário, o interessado deverá solicitar certidão expedida pelo Poder Público municipal, inclusive atestando a localização do imóvel em área urbana e a sua destinação para moradia (§ 2º, art. 6º, MP 2.220/01), e também, levar cópia da matrícula, fornecida pelo Cartório de Registro de Imóveis.Adiante, para confirmar a dimensão da ocupação é necessário realizar um memorial descritivo das edificações (casa) presentes no terreno, esse documento é feito apenas por profissionais qualificados (Ex.: Engenheiro Civil), e também é o documento de maior custo.
Continuando, para demonstrar o período da posse, pode ser utilizado documentos como, cadastro na companhia de saneamento, bem como na companhia de energia, que são as empresas que fornecem água e luz para o seu imóvel, também podem utilizar correspondências antigas, declaração de matrícula escolar, documentos que exigem prévio cadastro com endereço do titular para sua expedição.
Vale ressaltar, conforme elencado no parágrafo § 1º, artigo 6º, da MP 2.220/01, que a administração pública tem o prazo de 12 (doze) meses para decidir, contando a partir da data do protocolo. Restando negada a concessão pela via administrativa, também pode pleitear o direito via judicial, conforme esclarece o caput do mesmo artigo, prevendo o caso de recusa ou omissão do pedido administrativo.
Independente do título ser conferido via administrativa ou judicial, ambos servirão para o registro no cartório de registro de imóveis.
Após reconhecido o direito, no caso de a área ocupada trazer algum risco a vida ou a saúde dos ocupantes, ou ainda, quando se tratar de área que se enquadre em alguma hipótese prevista nos incisos do artigo 5º, da MP 2.220/01, sendo elas: I – de uso comum do povo; II – destinado a projeto de urbanização; III – de interesse da defesa nacional, da preservação ambiental e da proteção dos ecossistemas naturais; IV – reservada à construção de represas e obras congêneres; ou V – situado em via de comunicação.
O Poder Público visando assegurar o direito de concessão de uso adquirido pelos ocupantes, tem obrigação de destinar outro local.
Importante ressaltar, que conforme revela a constituição a concessão de uso será dada ao homem ou a mulher, ou a ambos, independente do estado civil, assim expõe o § 1º, do artigo 183, da CF/88.
Reitero que a concessão especial para fins de moradia, diferente da concessão de uso real, não delimita tempo para resolução do direito, que é quando o Poder Público pode reivindicar o imóvel, a concessão especial e concedida por tempo indeterminado.
A outro tanto, conforme prevê o artigo 7º, da MP 2.220/01, o direito de concessão de uso especial para fins de moradia é transferível por ato entre pessoas vivas (Inter vivos), ou no caso de morte (causa mortis).
Compreendendo, como ato entre pessoas vivas o contrato de cessação da posse, tendo o cedente (vendedor) transferindo seu direito possessório para um cessionário (comprador), o contrato devera, sob pena de invalidade, ser feito no cartório de notas.
A transferência no caso de morte, e quando o direito sobre o bem passa daquele que obteve a concessão (cessionário) para um herdeiro, ocorrendo a sucessão do direito, conforme preceitua o parágrafo 3º, do artigo 1º, da MP 2.220/01.
§ 3o Para os efeitos deste artigo, o herdeiro legítimo continua, de pleno direito, na posse de seu antecessor, desde que já resida no imóvel por ocasião da abertura da sucessão.
São definidas apenas duas hipóteses que, preveem a extinção do direito de concessão de uso especial, sendo elas, no caso de o concessionário dar ao imóvel destinação diversa da moradia para si ou para sua família, ou o concessionário adquirir a propriedade, ou a concessão de uso de outro imóvel urbano, ou rural, ambas são elencadas nos incisos I e II do artigo 8º, da MP 2.220/01.
Veja, uma vez que, cumpridos, todos os requisitos exigidos na MP 2.220/01, não se trata de ato discricionário da administração pública, atender ou não o pedido de concessão, mas sim ato vinculado, cabendo um único comportamento diante dessa situação, que é, analisar o preenchimento dos requisitos, uma vez constatado que o requerimento obedece à lei, o único resultado possível é a aprovação.
Entretanto, no caso de haver a negativa da solicitação, ainda que a posse esteja conforme prevista na lei, é perfeitamente permitido ao poder judiciário decidir quanto ao deferimento, sem que, para tanto, incida qualquer ofensa a separação dos poderes, considerando, que a própria norma prevê a possibilidade de autorização via ação judicial.
Diante disto, os presentes institutos abordados servem como importante ferramenta para a regularização fundiária no Brasil, promovendo acesso a moradia digna.
Destacamos que, as informações expostas têm como base a pesquisa da legislação vigente e investigação da jurisprudência acerca dos temas abordados.
Sendo importando, esclarecer que, a concessão de uso especial, comentada, não é assegurada em todos os casos, havendo situações em que o requerimento não será concedido.
Por fim, restando algum questionamento, procure um advogado da sua confiança, para mais esclarecimentos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
· Ministério Público do Trabalho no RS - 4ª Região. Acesso em: 21 nov. 2021. Disponível em: https://www.prt4.mpt.mp.br/procuradorias/ptm-uruguaiana/11566-destinacao-de-recursos-pelo-mpt-rs-vai-financiar-moradia-para-37-familias-vulneraveis-de-itaqui
· Prefeitura Municipal de Itaqui. Acesso em: 20 nov. 2021. Disponível em: https://www.itaqui.rs.gov.br/noticias/2012/04/itaqui-e-contemplado-pelo-minha-casa-minha-vida.html
· Prefeitura Municipal de Itaqui. Acesso em: 20 nov. 2021. Disponível em: < https://www.itaqui.rs.gov.br/noticias/2018/05/obras-do-programa-minha-casa-minha-vida-estao-aptas-para-retomada.html>
· TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único/ Flávio Tartuce. 2. Ed. ver., atual. E ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2012.
· BRASIL. Superior tribunal de justiça. Agravo regimental no agravo em recurso especial nº 333.647. Ministro: Antonio Carlos Ferreira. Quarta turma. Data de Julgamento 10/02/2015. Data de publicação (Dje): 19/02/2015. 2015. Disponível em https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201301238984&dt_publicacao=19/02/2015. Último acesso em 04/09/2020

Outros materiais