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1 ADAPTAÇÕES AMBIENTAIS E DOMÉSTICAS 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 Sumário ADAPTAÇÕES AMBIENTAIS E DOMÉSTICAS...................................... 1 NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 INTRODUÇÃO......................................................................................... 4 TIPOS DE BARREIRAS .......................................................................... 6 BARREIRA FÍSICA OU ARQUITETÔNICA:......................................... 7 BARREIRA COMUNICACIONAL: ........................................................ 8 BARREIRA SOCIAL: ............................................................................ 9 BARREIRA ATITUDINAL: .................................................................. 10 SÍMBOLO INTERNACIONAL DE ACESSO (SIA) ................................. 11 LEI N. 8.842/94 ...................................................................................... 12 ADAPTAÇÕES AMBIENTAIS................................................................ 13 O PLANEJAMENTO DA ADEQUAÇÃO AMBIENTAL ....................... 15 OBJETIVOS ....................................................................................... 17 AVALIAÇÃO ....................................................................................... 17 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................... 18 ADAPTAÇÕES DOMÉSTICAS.............................................................. 19 ADAPTAÇÕES DOMÉSTICAS PARA IDOSOS ................................ 20 ADAPTAÇÃO DOMÉSTICA PARA PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA .......................................................................................................... 25 DEFICIÊNCIAS E TECNOLOGIA ASSISTIVA – CONCEITOS E APLICAÇÕES .................................................................................................. 29 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 61 file:///C:/Users/EDUARDO/Documents/FACUMINAS/TERAPIA%20OCUPACIONAL%20EM%20NEUROLOGIA/ADAPTAÇÕES%20AMBIENTAIS%20E%20DOMÉSTICAS/ADAPTAÇÕES%20AMBIENTAIS%20E%20DOMÉSTICAS.docx%23_Toc59573610 4 INTRODUÇÃO Na Terapia Ocupacional o termo adaptação refere-se a modificações no ambiente, na tarefa ou no método, que objetivam a maximização da funcionalidade do indivíduo e o maior grau de independência possível no desempenho da atividade (ARAUJO, 2007). O emprego de uma adaptação envolve o “ajuste, acomodação e adequação do indivíduo a uma nova situação” (TEIXEIRA; OLIVEIRA, 2007). A resposta a esta nova situação depende do desempenho ocupacional competente, da satisfação e da interação entre o indivíduo e o ambiente. Adaptar é a soma da criatividade do terapeuta ocupacional, a eficaz utilidade do produto proposto, com a concordância e utilização pela pessoa com deficiência (TEIXEIRA et al., 2003). As adaptações podem estar enquadradas em duas categorias: baixa tecnologia ou baixo custo (Low-Tech), que tratam dos dispositivos destinados a auxiliar nas Atividades de Vida Diária; e alta tecnologia ou alto custo (High-Tech), como os comandados de computador por voz (TEIXEIRA; OLIVEIRA, 2007). Segundo Cavalcanti e Galvão (2007, p. 421) as adaptações têm uma relação direta com as ocupações, e, portanto, são aplicáveis para favorecer o desempenho independente no vestuário, higiene, alimentação, comunicação e gerenciamento de atividades domésticas. Se você está disposto(a) a ampliar sua qualificação para lidar adequadamente com situações desse tipo no ambiente profissional, encontrará nesta Unidade conteúdos básicos relacionados as adaptações ambientais e domésticas que proporcionem uma melhor qualidade de vida dos pacientes portadores de deficiências e/ou idosos. 5 O processo de desenvolvimento de uma adaptação envolve sete aspectos: análise da atividade, assimilação do problema, conhecimento dos princípios de compensação, sugestões de solução, pesquisa de recursos alternativos para a resolução do problema, manutenção periódica da adaptação e treino da adaptação na atividade. Há também a necessidade de orientar a pessoa com deficiência, sua família e ou cuidador sobre a correta utilização da adaptação, sobre os cuidados com o dispositivo e sobre o tempo que este deve ser utilizado (ARAUJO, 2007; TEIXEIRA et al., 2003). Os fatores a serem considerados na prescrição e/ou confecção de uma adaptação são a simplicidade do projeto, a manutenção da integridade dos tecidos moles, o ajuste ao usuário, o custo, a estética, o conforto, a facilidade para colocação e retirada e a higiene (CAVALCANTI; GALVÃO 2007). Outro aspecto importante no processo do emprego das adaptações é a avaliação da inclusão destas nas atividades cotidianas, para mensuração do grau de independência gerado pela mesma e para orientar as possíveis modificações nos diferentes contextos analisados. A visita ao ambiente domiciliar é um fator motivacional para a utilização da adaptação (ARAUJO, 2007). Quando há uma restrição de uso do dispositivo imposta pelo fator socioeconômico, há possibilidade do uso de adaptações de baixo custo. (TEIXEIRA et al., 2003). Rodrigues (2008) estimula os profissionais envolvidos na indicação de adaptações a observarem os produtos existentes no mercado e refletirem sobre possíveis materiais alternativos que diminuiriam o custo na produção. Elui e Santana (2008) relatam que estes dispositivos são ensinados de terapeuta para terapeuta e de professor para aluno e comumente não apresentam moldes, pois são confeccionados conforme a necessidade do paciente. 6 Muitos brasileiros apresentam restrições em relação a sua mobilidade e independência. Estima-se que no Brasil 23,1% da população seja composta por pessoas idosas ou com algum tipo de deficiência. Esta realidade as impede de exercer na plenitude sua cidadania por encontrar sérias dificuldades de movimentação frente à inadequação dos espaços públicos e das edificações, fato conhecido como Barreiras Arquitetônicas. TIPOS DE BARREIRAS De acordo com a NBR 9050/2004, “acessibilidade” é definido como a possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para a utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos. E conceitua que, para ser “acessível”, o espaço, edificação, mobiliário, equipamento urbano ou elemento tem que permitir o alcance, acionamento, uso e vivência por qualquer pessoa, inclusive por aquelas com mobilidade reduzida. O termo “acessível” implica tanto acessibilidade física como de comunicação. Aindaconforme as definições da norma técnica, temos as barreiras arquitetônica, urbanística ou ambiental, que são qualquer elemento natural, instalado ou edificado que impeça a aproximação, transferência ou circulação no espaço, mobiliário ou equipamento urbano. Pensando nestes conceitos, vamos nos aprofundar nas definições de “barreira” utilizando como referência o livro: Desenho Universal – Caminhos da Acessibilidade no Brasil. O ambiente sócio-físico é o principal gerador das dificuldades que se impõem à livre circulação de indivíduos ou grupos. Tais empecilhos podem ser: físicos, comunicacionais, sociais e/ou atitudinais. 7 BARREIRA FÍSICA OU ARQUITETÔNICA: Obstáculos para o uso adequado do meio, geralmente originados pela morfologia de edifícios ou áreas urbanas. A foto acima registra uma escada não associada a rampa ou algum equipamento eletromecânico. Esta barreira arquitetônica impede que o cadeirante tenha acesso ao piso superior do estabelecimento. Também podemos citar como exemplo calçadas com degraus (dificultando a circulação de pedestres), portas estreitas, rampas com inclinação exagerada, dentre tantos outros que infelizmente ainda encontramos em nossas cidades. O que pouca gente repara é que a forma como são feitas as ruas, calçadas e faixas de pedestres também é muito importante. Quem depende de muletas ou cadeira de rodas, por exemplo, precisa pensar bem no caminho que vai fazer antes de sair de casa. http://www.acessibilidadenapratica.com.br/wp-content/uploads/2012/09/DSC_0197.jpg http://www.acessibilidadenapratica.com.br/wp-content/uploads/2012/09/DSC_0197.jpg http://www.acessibilidadenapratica.com.br/wp-content/uploads/2012/09/DSC_0197.jpg 8 A locomoção também é importante nos ambientes fechados – como shoppings, museus e escolas – onde a disposição dos móveis e objetos pode facilitar ou dificultar o deslocamento. BARREIRA COMUNICACIONAL: Dificuldade gerada pela falta de informações a respeito do local, em função dos sistemas de comunicação disponíveis (ou não) em seu entorno, quer sejam visuais (inclusive em braille), lumínicos e/ou auditivos. Esta foto mostra o corredor de um shopping com uma placa suspensa contendo informações apenas visuais (ressaltando que este local não possui mapa tátil). Além disso, a placa possui baixo contraste, onde os símbolos e textos são de cor branca pintados sobre um fundo imitando madeira clara. Assim, a legibilidade fica prejudicada. Também são barreiras comunicacionais a falta de sinalização urbana, deficiência nas sinalizações internas dos edifícios, ausência de legendas e audiodescrição na TV, entre outras. As barreiras comunicacionais acontecem basicamente de três formas: Na comunicação interpessoal: quando, por exemplo, você vai conversar com um surdo e não sabe Libras, a comunicação fica comprometida de uma forma bem óbvia. Além disso, um problema frequente são os erros na forma de se dirigir às pessoas com deficiência – que são chamadas frequentemente de “deficientes”, por exemplo. http://www.acessibilidadenapratica.com.br/wp-content/uploads/2012/09/DSCN3573.jpg http://www.acessibilidadenapratica.com.br/wp-content/uploads/2012/09/DSCN3573.jpg 9 Na comunicação escrita: quando informações importantes não estão disponíveis em Libras ou em Braile – o que acontece bastante em bibliotecas, placas de sinalização e até mesmo em sites! Nos espaços virtuais: quando não há acessibilidade digital, ou seja, quando os sites não permitem que certas pessoas acessem suas informações. Também entra aqui a falta de tradução automática, de audiodescrição e de textos alternativos nas imagens. Muita gente acha que deixar um site acessível é um trabalho difícil e que não vale à pena de se realizar. Mas, seguindo algumas dicas simples o processo fica fácil e traz resultados incríveis – como melhorar o posicionamento da página nas buscas do Google! BARREIRA SOCIAL: Relativa aos processos de inclusão/exclusão social de grupos ou categorias de pessoas, especialmente no que se refere às chamadas “minorias”, como grupos étnicos, homossexuais, pessoas com deficiência e outros. Fonte da foto: Projeto Cisne Negro A foto mostra uma criança isolada do grupo principal, demonstrando sua exclusão. http://www.acessibilidadenapratica.com.br/wp-content/uploads/2012/09/menina.jpg http://www.acessibilidadenapratica.com.br/wp-content/uploads/2012/09/menina.jpg http://www.acessibilidadenapratica.com.br/wp-content/uploads/2012/09/menina.jpg 10 BARREIRA ATITUDINAL: Gerada pelas atitudes e comportamento dos indivíduos, impedindo o acesso de outras pessoas a algum local, quer isso aconteça de modo intencional ou não. As barreiras mais difíceis de se perceber são erguidas por nós mesmos. Mas, por sorte, elas são as mais fáceis de se derrubar, e as que trazem o maior impacto para a vida das pessoas. Algumas das nossas atitudes com as pessoas com deficiência podem reforçar as barreiras comunicacionais e arquitetônicas. São os nossos preconceitos e os estereótipos. E não se engane, todo mundo tem preconceitos, e não tem nada de ruim em querer acabar com eles. Mas, para isso, é preciso buscar informação e estar disposto a conhecer mais sobre o outro, independentemente de quem seja! Esta imagem demonstra uma barreira atitudinal, infelizmente muito comum. São carros estacionados na calçada que, além de impedirem a passagem dos pedestres, estão bloqueando o piso tátil direcional. Outras barreiras atitudinais: uso indevido de vagas reservadas para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, obstrução de rebaixamentos de guia, os diversos tipos de preconceito, desrespeito com os idosos e vários outros exemplos. http://www.acessibilidadenapratica.com.br/wp-content/uploads/2012/09/foto-1.jpg http://www.acessibilidadenapratica.com.br/wp-content/uploads/2012/09/foto-1.jpg 11 SÍMBOLO INTERNACIONAL DE ACESSO (SIA) Com a atualização da norma técnica de acessibilidade, temos agora duas opções de representação do símbolo. Antes de qualquer coisa, é preciso entender a verdadeira finalidade do símbolo. O Símbolo Internacional de Acesso deve indicar a acessibilidade aos serviços e identificar espaços, edificações, mobiliários e equipamentos urbanos onde existem elementos acessíveis ou utilizáveis por pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. A aplicação deste símbolo deve ser utilizada principalmente nos seguintes locais, quando acessíveis: a) entradas; b) áreas e vagas de estacionamento de veículos; c) áreas de embarque e desembarque de passageiros com deficiência; d) sanitários; e) áreas de assistência para resgate, áreas de refúgio, saídas de emergência; f) áreas reservadas para pessoas em cadeira de rodas; g) equipamentos e mobiliários preferenciais para o uso de pessoas com deficiência. É importante ressaltar que, para cada situação, outro símbolo complementar pode ser empregado junto ao SIA. A representação do Símbolo Internacional de Acesso consiste em um pictograma branco sobre fundo azul (referência Munsell 10B5/10 ou Pantone 2925 C). http://www.acessibilidadenapratica.com.br/wp-content/uploads/2015/10/smbolo-internacional-de-acesso-2.gif 12 Este símbolo pode, opcionalmente, ser representado em branco e preto (pictograma branco sobre fundo preto ou pictograma preto sobre fundo branco), e deve estar sempre voltado para o lado direito, permanecendo no padrão anterior à atualização da norma. Atualmente, após a atualização da NBR 9050, podemos utilizar esta segunda forma de representação. A diferença é que o símbolo pode ser mais encorpado, porém as outras características devem permanecer as mesmas, não devendo haver nenhuma outra modificação, estilização ou adição ao pictograma. LEI N. 8.842/94 CAPÍTULO IDa Finalidade Art. 1º A política nacional do idoso tem por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11737912/art-1-politica-nacional-do-idoso-lei-8842-94 http://www.acessibilidadenapratica.com.br/wp-content/uploads/2015/10/smbolo.png http://www.acessibilidadenapratica.com.br/wp-content/uploads/2015/10/smbolo2.png 13 Inciso V do Artigo 10 da Lei nº 8.842 de 04 de Janeiro de 1994 Art. 10. Na implementação da política nacional do idoso, são competências dos órgãos e entidades públicos: V - Na área de habitação e urbanismo: a) destinar, nos programas habitacionais, unidades em regime de comodato ao idoso, na modalidade de casas-lares; b) incluir nos programas de assistência ao idoso formas de melhoria de condições de habitabilidade e adaptação de moradia, considerando seu estado físico e sua independência de locomoção; c) elaborar critérios que garantam o acesso da pessoa idosa à habitação popular; d) diminuir barreiras arquitetônicas e urbanas; ADAPTAÇÕES AMBIENTAIS INTRODUÇÃO Estudos nacionais mostram que as quedas são prevalentes em idosos e que a porcentagem é de 30% entre as pessoas com mais de 65 anos, considerando-se o quantitativo de uma queda ao ano. O evento da queda pode ser definido como um deslocamento não- intencional do corpo para um nível inferior à sua posição inicial, com incapacidade de correção em tempo hábil. Nesta perspectiva, até mesmo desequilíbrios ou pequenas alterações não-intencionais de postura são consideradas quedas, mesmo que o idoso não chegue ao chão. 14 A etiologia, que é multifatorial, pode se dar em dois grandes grupos, os fatores intrínsecos e os extrínsecos. Entre os fatores intrínsecos encontram-se as alterações fisiológicas da velhice, o uso de medicamentos e as condições patológicas. Entre os fatores extrínsecos, destacam-se os perigos ambientais e os calçados e roupas inadequados. O monitoramento destes fatores pode ser um diferencial nos indicadores de quedas ambientais no domicilio e mesmo em instituições de longa permanência. No âmbito domiciliar, a manutenção da nova estruturação do ambiente é um grande desafio, visto que os arranjos familiares são comumente geracionais, somado a questão comportamental e até mesmo cognitiva dos idosos. O uso de novas tecnologias também pode contribuir para a prevenção ou mesmo para a diminuição dos danos recorrentes as quedas. Estes dispositivos incluem: sensores de movimento e iluminação, camas baixas, cintos de cama, sistemas de adequação postural, transferência realizada por sistema de elevação, entre outros. Vale ressaltar que estes dispositivos devem ser indicados por profissional qualificado conforme cada caso ou necessidade. Esta problemática, crescente e relevante em domicílios e instituições de longa permanência, se estende também em ambientes hospitalares. Para controle dessa situação, atualmente pode-se contar com a certificação Selo Hospital Amigos do Idoso, que consiste em uma série de ações do governo paulista em benefício da terceira idade, conferida aos Municípios/hospitais que cumpram exigências nesse sentido. Para a obtenção do Selo, as cidades devem cumprir quatro etapas, nas quais estão contidas 40 ações entre eletivas e obrigatórias. Dentre elas: assinatura do Termo de Adesão; ações obrigatórias para receber o Selo Inicial; ações obrigatórias e eletivas para adquirir o selo intermediário e uma ação obrigatória para receber o Selo Pleno. 15 Todas as ações estão previstas num plano de ação que contemplam esses requisitos e devem ser seguidos minuciosamente. O envelhecimento populacional é o fenômeno demográfico observado atualmente no Brasil, desde meados do século XX, que tem sido expresso pelo crescente aumento da expectativa de vida da população e do contingente de idosos. As projeções indicam que até o ano de 2025 a população idosa no Brasil corresponderá a mais de 32 milhões de pessoas. De acordo com o mencionado por pesquisadores, com o aumento da expectativa de vida dos brasileiros e sendo o envelhecimento um processo ativo, houve um crescimento das doenças crônico-degenerativas e em decorrência, os declínios funcionais. O prejuízo funcional, ou a dificuldade do idoso em desempenhar tarefas da vida diária, aumenta o risco de acidentes com consequente agravo do processo saúde-doença, altera a qualidade de vida, interfere na autonomia e independência e pode levar ao isolamento social e até mesmo a institucionalização. Neste processo, o ambiente domiciliar e extradomiciliar exercem papel fundamental na promoção da autonomia do idoso, como facilitador no exercício das funções e na interação com o meio, porém, quando não adaptado às suas necessidades, pode funcionar como uma barreira para o desempenho satisfatório das atividades. O PLANEJAMENTO DA ADEQUAÇÃO AMBIENTAL O planejamento da adequação ambiental no domicílio, realizada pelo terapeuta ocupacional, fundamenta-se no conhecimento do diagnóstico do paciente, suas alterações clínicas e informações em relação à perspectiva de evolução do quadro e prognóstico; o histórico de quedas e informações a respeito do desempenho ocupacional e rotina. Para tal, é indicado que se aplique uma escala de medida funcional para que se possa avaliar o impacto da intervenção no ambiente na otimização da capacidade funcional do indivíduo, considerando as habilidades que foram perdidas, as habilidades que estão prejudicadas e as que se encontram preservadas. 16 Em seguida, deve ser realizada uma análise dos ambientes acessados pelo idoso para que se mantenha a característica do domicílio e que se modifique o menos possível, valorizando a utilização do ambiente a todas as pessoas do domicílio. Este processo inclui os locais onde o paciente circula, o mobiliário que ele utiliza, as rotas que interligam os ambientes e o planejamento e a viabilização do ambiente em casos de emergência. Após estes dados, inicia-se o processo de avaliação ambiental, que consiste na identificação das barreiras relacionadas aos objetos e dispositivos necessários para o desempenho funcional e o nível de alcance; mobiliário; segurança / risco de acidentes; circulação / espaço e pistas visuais e auditivas. Realizada esta avaliação, obtêm-se dados suficientes para o planejamento da adequação do ambiente, a exploração de alternativas de facilitadores, o uso provisório das adaptações (caso possível); a aquisição das adaptações ou modificações ambientais; o treino da utilização das mesmas e o monitoramento das adequações. A fundamentação teórica utilizada no processo de adaptação consiste na ABNT 9050, os princípios do design universal, os conceitos da Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) e a análise da atividade, ferramenta utilizada pelo Terapeuta Ocupacional. Adaptações estruturais e reformas na casa e/ou ambiente de trabalho, com rampas, elevadores, adaptações em banheiros, entre outras, que retiram ou reduzem as barreiras físicas, facilitando a locomoção da pessoa com deficiência dependem de projetos arquitetônicos, respeito às medidas antropométricas, considerações clínicas ou da deficiência da pessoa e otimização de espaços e ambientes de interação. Ademais, a adaptação do comportamento e do ambiente favorece a função, quer seja de interação com o ambiente, quer seja para mobilidade. Os termos técnicos mais utilizados na elaboração das adaptações são: – Acessibilidade: possibilidade e condição de o portador de deficiência alcançar e utilizar, com segurança e autonomia, edificações e equipamentos de seu interesse. 17 – Barreira arquitetônica ambiental: impedimento da acessibilidadeao deficiente, representado por obstáculo natural ou resultante de implantações arquitetônicas / urbanísticas. – Parâmetros antropométricos: medidas referenciais consideradas de adoção necessária e indispensáveis nas edificações e equipamentos de interesse, para que possam torná-los acessíveis às pessoas deficientes. OBJETIVOS Quanto aos objetivos, podemos citar: - Maior participação / Independência nas atividades cotidianas. - Facilitar a relação do indivíduo com o ambiente, permitindo que ele realize atividades de seu interesse. Envolve barreiras ambientais e suportes ambientais para o desempenho ocupacional, sendo influenciado por fatores sociais, culturais, econômicos, institucionais, físicos e arquitetônicos. Parte de uma visão sobre a relação entre a necessidade populacional e a necessidade individual. Pontos importantes: - Focos de Atenção da Equipe de Saúde - Movimento livre e independente - Inclusão social - Legislação AVALIAÇÃO No processo de avaliação, deve-se atentar para: - Fatores físicos (ambiente natural e construído) - Adaptação - Dinâmica de execução da atividade. - Fatores sociais (relação familiar, vizinhança, comunidade, grupos institucionais ou lideranças) 18 - Fatores culturais (influência em atitudes e interesses, normas de comportamento, tradições e definições de regras) - Fatores de cidadania (aceitação da comunidade para as adaptações ambientais) - Fatores organizacionais (características ambientais e suas relações com organizações e instituições - incluindo regras e leis). O estudo de relação entre a habilidade pessoal e o contexto em que o indivíduo estará inserido pode envolver: – Arquitetos – Cientistas sociais – Antropólogos – Design de interiores – Bio-engenheiros – Equipes de Saúde (Parâmetros Antropométricos para acessibilidade: Medidas e padrões referenciais básicos, segundo a Associação Brasileira de Normas e Técnicas – ABNT. Disponível em: www.ufpb.br/cia/contents/manuais/ abnt-nbr9050-edicao-2015.pdf) CONSIDERAÇÕES FINAIS Dessa forma, o Terapeuta Ocupacional na abordagem a diferentes saberes, com profissionais em dinâmica de equipe, busca melhorar a acessibilidade, prevenindo quedas e incluindo as pessoas em suas atividades cotidianas. Isso se dá no princípio do conceito do design universal, onde os produtos fabricados e os locais construídos devem ser de uso equitativo, flexível, simples e intuitivo, com informações perceptíveis a todos, produtos de baixa tolerância ao erro, com o mínimo desgaste físico, e com tamanho e espaço para uso e alcance máximo dos usuários; e assim prover que todos os produtos, ambientes e meios de comunicação atendam a maioria da população, independente de gênero, idade, tamanho, desempenho funcional ou incapacidade; esse conceito juntamente com as normas técnicas e uma completa análise das atividades, levam a maior autonomia e independência funcional, e consequentemente uma sociedade mais inclusiva. 19 ADAPTAÇÕES DOMÉSTICAS Desfrutar do conforto e do bem-estar da nossa própria casa é muito bom. Porém, para as pessoas com deficiência nem sempre é possível usufruir do ambiente doméstico, quando vivem em moradias não adaptadas às suas necessidades. Pensando nisso, a NBR 9050, norma técnica da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), foca na acessibilidade de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzidas — além de idosos, obesos e gestantes — onde todos os espaços, construções, mobiliários e equipamentos urbanos devem atender às necessidades especiais dos indivíduos. Felizmente, as pessoas com deficiência podem encontrar as possibilidades de acessórios para as reformas de suas casas, o mercado começa a oferecer uma gama de produtos que facilitam a utilização de mobiliários e equipamentos fabricados para elas, como os mecanismos de acionamento, superfícies texturizadas e dispositivos sonoros. Mas deve-se ter atenção na hora de comprar os materiais, percebendo a normatização e as certificações pelos órgãos competentes, como a ABNT. Adaptar é pensar o espaço, é projetá-lo pensando nas pessoas, tenham elas deficiência ou não. Atraente deve ser a relação criada pela interação homem-espaço, que garanta a segurança e o conforto, proporcionando a liberdade e a independência. Uma das principais preocupações para que se garanta o bem-estar e a segurança das pessoas com mobilidade reduzida é a aplicação de pisos antiderrapantes que garantam uma aderência adequada mesmo no contato com a água. 20 ADAPTAÇÕES DOMÉSTICAS PARA IDOSOS Redução de até 40% acidentes A última estimativa populacional do Brasil, realizada no ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que o número de pessoas acima de 60 anos subiu cerca de 50%. O percentual representa um crescimento de mais de 8,5 milhões de pessoas nesta faixa etária. Ante esse aumento, surgem as adaptações em casas e apartamentos ou até mesmo a construção de condomínios para atender a terceira idade. Estudos da Universidade de São Paulo (USP) concluíram que construir moradias preparadas para receber e dar o conforto necessário aos idosos reduz cerca de 40% dos acidentes domésticos. Dados do Ministério da Saúde mostram ainda que 70% dos acidentes envolvendo pessoas acima de 60 anos acontecem dentro das residências. Ás vezes, basta um piso molhado ou um tapete solto para provocar uma queda que causa ferimentos ou, no mínimo, um grande susto. Esse risco é maior entre as pessoas idosas, que têm a mobilidade limitada e os reflexos reduzidos conforme o avanço da idade, ou que podem sofrer de doenças que as fragilizam fisicamente. De acordo com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, um terço da população acima dos 65 anos sofre pelo menos uma queda por ano, proporção que aumenta com o envelhecimento. Tais acidentes podem ocasionar lesões leves, contusões, torções ou até fraturas, além de provocar, no idoso, o medo de cair novamente. Adaptar a casa para essas limitações ou mesmo evitar o uso de objetos que possam representar riscos ajuda a reduzir as chances de acidentes domésticos envolvendo idosos. Confira algumas orientações para prevenir quedas e outros incidentes. 21 Sala adequada A sala de estar costuma conter muitos móveis e objetos de decoração. Um idoso com dificuldade de locomoção ou mesmo uma pessoa distraída pode bater ou tropeçar em um desses itens, se ele estiver bloqueando a passagem. Tapetes irregulares também podem fazer o morador cair, então vale minimizar as chances de que isso aconteça. Evite tapetes soltos Não deixe móveis fora do lugar habitual Garanta a área de passagem livre mesas de centro, plantas ou outros objetos que possam representar obstáculos Mantenha fios elétricos e extensões bem afixadas, evitando que fiquem soltos pelo caminho Prefira cadeiras e poltronas com apoio de braço Sala e corredor: Organizar os móveis de maneira a deixar o caminho livre e evitar ter de se desviar muito; Instalar interruptores de luz na entrada das dependências, para evitar andar no escuro até conseguir ligá-los; Preferir interruptores que brilhem no escuro; Manter corredores, escadas e salas bem iluminados; Deixar sempre o caminho livre de obstáculos; Tapetes, só se forem antiderrapantes. 22 Banheiro seguro O banheiro é o local com maior ocorrência de acidentes graves, por causa da umidade que torna o ambiente escorregadio. Se o idoso puder contar com itens que deem mais aderência aos pés e pontos de apoio para se segurar, ele deve se sentir mais confiante. Utilize um tapete antiderrapante na área de banho Instale barras de apoio nas paredes próximas ao sanitário e ao chuveiro Considere utilizar um assento removível para adequar a altura do vaso sanitário Opte por um box resistente e de material inquebrável A cadeira de banho pode ser utilizada por quem tem equilíbrio mais comprometido Banheiro seguro Ter um banheiro adaptado para as necessidades que a idade exige pode deixar a vida de idosos mais fácil e confortável. O medo de novas quedas leva o idoso a diminuir suas atividades, provocando a síndrome da imobilidade. Imagem: Pinterest 23 Cozinha acessível Ter de subir em uma cadeira para alcançar algo guardado no armário mais alto representa um grande risco, ainda mais para quem possui algum tipo de limitação física. Adaptações no mobiliário ou mesmo na organização ajudam a tornar a cozinha mais segura e prática para idosos. Ajuste as bancadas para uma altura de uso confortável Evite estocar alimentos ou louças em locais de difícil acesso Limpe imediatamente qualquer líquido que tenha sido derrubado no chão Mantenha os utensílios mais utilizados no dia a dia guardados em locais mais acessíveis Ao cozinhar, evite o uso de panelas pesadas, que podem cair e provocar queimaduras Não deixe a cozinha sem se certificar de que as chamas do fogão estão apagadas Quarto sem estresse Manter os pertences acessíveis e os móveis compatíveis com as características do idoso ajuda a garantir que ele tenha um bom descanso e, se precisar se levantar à noite, que o faça em segurança. Utilize uma cama de altura confortável para subir e descer sem dificuldades Mantenha armários e gavetas em alturas acessíveis e fáceis de abrir Utilize um colchão de densidade adequada para o seu peso e tamanho Colocar ao lado da cama: um abajur, um telefone e uma lanterna; Os armários devem ter portas leves e maçanetas grandes, para facilitar a abertura; Instalar um sistema de iluminação e corrimãos entre a cama e o banheiro; Não deixar objetos espalhados pelo chão do quarto. 24 Quarto adaptado para Idosos. Criador: Reinaldo Meneguim 11-9961-8791 Direitos autorais: Reinaldo Meneguim/HORUS PHOTOGRAPH Escada: Nunca deixar malas, caixas ou qualquer tipo de objeto nos degraus; Interruptores de luz devem estar instalados tanto na parte inferior quanto na parte superior da escada; Uma outra opção é instalar sensores de movimento, que fornecerão iluminação automaticamente; Manter uma lanterna guardada em algum lugar próximo em caso de apagão; Jamais colocar tapetes no início ou no final da escada; Colocar tiras adesivas antiderrapantes em cada borda dos degraus; Instalar corrimãos por toda a extensão da escada e em ambos os lados. 25 Cuidados para a casa toda Mantenha antiderrapantes nas escadas e rampas Instale corrimões nas escadas Assegure-se de que os ambientes estejam bem iluminados e com interruptores em pontos de fácil acesso Evite encerar o chão ou utilizar outro produto que o deixe escorregadio Certifique-se de que não haja irregularidades no piso Não sobrecarregue as tomadas Mantenha o telefone em um local acessível, para utilizá-lo facilmente em casos de emergência Certifique-se de que as fechaduras abram por dentro e por fora ADAPTAÇÃO DOMÉSTICA PARA PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA Para pessoa com deficiência física, ou mora com alguém que é usuário de cadeira de rodas, provavelmente já sabe que é necessário fazer algumas adaptações na casa. Além de garantir a segurança e o conforto, os ajustes também permitem mais autonomia para se locomover e realizar as atividades de rotina. 26 Rampas Para casas com garagem ou algum tipo de desnível, é muito importante que haja uma rampa na entrada, afinal, escadas, ou mesmo um único degrau, tornam impossível o acesso de quem está em uma cadeira de rodas. Em decorrência disso, sobrados ou prédios sem elevador não são uma opção para pessoas com deficiência física. Para que a rampa seja segura, e a condução da cadeira de rodas ou cadeira motorizada seja facilitada, é preciso seguir as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT para construção de rampas de acessibilidade. Nivelamento de pisos Muitas casas acabam apresentando um leve desnível entre os cômodos quando há tipos diferentes de piso. No entanto, para que seja seguro circular com a cadeira de rodas, é fundamental que o piso esteja todo perfeitamente alinhado. Uma boa ideia é utilizar em todos os ambientes o piso vinílico, que é bastante versátil, resistente, e ainda é mais silencioso do que outras opções. Evite também carpetes, que dificultam a locomoção, e tapetes, que podem sair do lugar e causar acidentes. Muito espaço para circulação Para que seja possível se locomover sozinho e com conforto, é preciso ter bastante espaço livre na casa. Assim, os móveis devem ser posicionados de modo a proporcionar a maior área de circulação possível. É importante que os corredores sejam largos, e que haja espaço de sobra na cozinha, na sala e próximo à cama. Procure utilizar janelas e móveis com portas de correr, que ocupam menos espaço. Móveis com altura apropriada Mesas, fogões, gavetas, camas, sofás e as demais peças de mobília devem estar em uma altura adequada para quem está sentado na cadeira de 27 rodas. Assim, será possível ter mais independência nas tarefas, cozinhar e fazer as refeições confortavelmente. Leve em conta também o acabamento dos móveis — evite quinas, por exemplo, e dê preferência pelas extremidades mais arredondadas, que não causam ferimentos durante a locomoção. Não se esqueça de que é preciso ter bastante espaço ao lado da cama, para a hora de deitar, e também espaço junto a mesas, para que a pessoa na cadeira de rodas possa se posicionar junto a elas. Barras de apoio As barras de apoio são fundamentais no banheiro, para que a pessoa com deficiência possa utilizá-lo sozinha, tanto junto ao sanitário quanto dentro do box. Além do banheiro, elas também podem ser instaladas em outros pontos da casa, principalmente no quarto. As barras de apoio dão mais autonomia aos movimentos e ajudam a evitar quedas. Por ser um item de segurança, é imprescindível que a instalação da barra seja feita por um profissional capacitado; ele pode garantir sua firmeza, se a altura está correta e se ela atende às normas da ABNT. Piso antiderrapante O piso antiderrapante é uma das mais importantes adaptações; isso porque muitas vezes é possível ficar de pé (como no momento de sair da cadeira para a cama), mas um escorregão pode causar sérios acidentes. Além disso, o piso adequado também torna mais cômodo e mais seguro locomover-se na cadeira de rodas ou com andadores. O ideal é utilizar piso antiderrapante em toda a casa, mas os locais mais necessários são o quarto e as áreas da casa que costumam ficar molhadas, como cozinha e banheiro. Campainha de emergência Uma das melhores maneiras de garantir a segurança de uma pessoa com deficiência é certificar-se de que ela seja rapidamente socorrida caso haja algum problema. 28 Por isso, instalar campainhas pela casa, posicionadas em local baixo e próximo ao chão, é uma excelente ideia. Além disso, é importante que elas se comuniquem com outros ambientes da casa. As campainhas são simples de serem instaladas e fazem toda a diferença. Elas também são regulamentadas pela norma da ABNT que trata sobre a acessibilidade, a NBR9050:2015. Cama motorizada As pessoas com deficiência física passam muito tempo sentadas ou deitadas; por isso, é importante alternar as posições para evitar dores, lesões e até mesmo atrofia dos músculos. Uma cama motorizada é uma boa maneira de garantir o conforto, pois ela pode ser reclinada em vários ângulos, elevar a região das pernas e tera sua altura totalmente ajustada. Para quem precisa de ajuda para se alimentar ou fazer a higiene pessoal, a cama também é muito prática para o cuidador. Banheiro confortável Além de contar com barras junto ao sanitário e no box, e de ter piso antiderrapante, o banheiro deve oferecer total comodidade. Isso inclui, por exemplo, a instalação de uma pia de altura mais baixa, e sem nenhuma mobília embaixo, para que a pessoa possa encaixar-se com a cadeira de rodas por baixo dela na hora de usar. Para quem sente mais dores devido ao frio, pode-se considerar instalar um piso aquecido no banheiro. Embora não seja uma medida muito popular em nosso país, pelo seu clima predominantemente quente, essa medida tem um grande impacto no conforto. Quintal em bom estado Para quem mora em casa com quintal, é preciso levar em conta que ele também seja seguro e confortável para a locomoção. Deixe bastante espaço para circulação e faça reparos no piso ou concreto sempre que houver alguma irregularidade. 29 Se a casa tiver um jardim, o ideal é que haja espaços sem grama ou raízes de árvores aparentes, pois é muito difícil a locomoção com cadeira de rodas nesse tipo de solo. Aproveite o quintal para criar uma área para hobbies, como jardinagem, espaço de leitura etc. Quem tem piscina em casa pode instalar um elevador individual ao lado dela; afinal, atividades na água são uma ótima terapia para pessoas com deficiência, desde que acompanhadas. DEFICIÊNCIAS E TECNOLOGIA ASSISTIVA – CONCEITOS E APLICAÇÕES 1 Evolução tecnológica no mundo moderno Analise o ambiente ao seu redor e repare quanta tecnologia espetacular existe bem aí perto de você, que está lendo este texto! O primeiro pensamento poderia focalizar computadores, tablets, televisões e outros itens caros e de extrema sofisticação, mas existe também tecnologia invisível a olho nu: a eletricidade, a internet e os circuitos microeletrônicos, tudo isso operando de forma sincronizada num filme lindo que você recebeu no celular, onde palavras e imagens afagam seus ouvidos e olhos, mesmo que isso tenha acontecido num tempo diferente do atual (GALVÃO, 2012). Há outras coisas ainda mais estranhas como itens de tecnologia que você nunca parou para pensar: o piso sintético, a água filtrada, as suas roupas, tudo isso é tecnologia ou fruto dela. Artefatos de tecnologia existem para tornar as coisas mais fáceis, e isso não quer dizer que todos eles visem ao bem (uma bomba atômica é um exemplo), mas é ótimo pensar que a tecnologia tem sido responsável pelo salvamento de muitas vidas, com diagnósticos por aparelhos quase mágicos para visualização do interior do corpo, além de remédios e tratamentos que curam doenças mortais há bem pouco tempo (BORGES, 2009). Até mesmo as relações humanas se modificam quando computadores conectados em rede viabilizam novas formas de comunicação, de trabalho e de consumo de bens e serviços. Veja a Figura 1. 30 Figura 1 – Aluna com deficiência visual usando um computador para escrever Fonte: Acervo do Autor Pela tecnologia talvez seus limites de ser humano desapareçam. Você não tem asas, mas consegue voar com um avião ou uma asa delta. Você conversa com seu amigo lá do outro lado do mundo, olhando seu rosto e ouvindo sua voz, e, quem sabe, daqui a algum tempo, sentindo o perfume que ele está usando. O seu sonho de consumo talvez seja um carro que obedece a sua voz e estaciona sozinho. Não é preciso grande esforço para tomar consciência das enormes influências que a tecnologia tem sobre nossa vida, e como ela se amplifica e ganha mais possibilidades. A tecnologia também tem o poder de nos equalizar. Por exemplo: em termos de uma fábrica, qual a diferença entre um levantador de peso, que é capaz de levantar 300 quilos com pequeno esforço, e um sujeito bem franzino, exímio motorista de empilhadeira, que levanta o mesmo peso sem nenhum esforço? Indo ainda mais longe, se esta pessoa não tiver pernas, ainda poderá levantar os tais 300 quilos? Claro que sim, a empilhadeira eventualmente poderia sofrer uma adaptação para eliminar os pedais e ser comandada por um joystick, podendo assim ser operada por uma pessoa com esta grave deficiência. Os limites são inimagináveis. Usando o mesmo raciocínio, torna-se óbvio que uma pessoa que consiga controlar um computador só com o olhar (por exemplo, usando uma interface Tobii para eyetracking) também conseguiria levantar os tais 300 quilos, se este computador estivesse conectado a uma http://www.tobii.com/ 31 empilhadeira adaptada convenientemente para isso. Estes exemplos são parecidos, só que o índice de amplificação do potencial humano vai se tornando cada vez mais e mais alto! Isso me faz lembrar uma frase famosa, criada há muitos anos por Mary Pat Radabaugh, antiga diretora do Centro Nacional de Apoio para Pessoas com Deficiência da IBM, nos Estados Unidos, que hoje está um tanto desgastada pelo uso, mas muito verdadeira: “Para as pessoas sem deficiência, a tecnologia torna as coisas mais fáceis. Para as pessoas com deficiência, a tecnologia torna as coisas possíveis.” Mas será que a tecnologia está ali, disponível para qualquer pessoa usar? Esta empilhadeira adaptada existe no mercado? Um empresário compraria esta empilhadeira robotizada para dar emprego a uma pessoa sem pernas? O tempo vai passando e as tecnologias acabam por permear a vida de um número cada vez maior de pessoas. Cada vez mais acesso, mais gente usando. Será mesmo? Infelizmente a tecnologia nunca é gratuita e nunca é para todos. Assim, a pessoa que não é deficiente mas não tem recursos financeiros também não terá acesso às tecnologias. Pela lógica vigente no mundo atual, para toda tecnologia que pode ser produzida, é preciso que exista alguém que queira (e possa) obtê-la, e este fluxo tem que resultar em lucro. Com isso em mente, temos que pensar nas questões importantes de subsídios de cunho social e na existência de produtos voltados para a distribuição em larga escala para pessoas sem recurso, em particular aqueles que tenham deficiência. Quando não há um equilíbrio mediado por ações honestas de política pública, atrelada a medidas de cunho social, a evolução tecnológica acaba contribuindo para o aumento do desequilíbrio econômico, em que os pobres empobrecem mais, à medida que os ricos enriquecem mais. Em resumo, não é tão importante o que a tecnologia representa, mas o uso que fazemos dela. Ou, dito de outra forma, e aproveitando as palavras de Melvin Kransberg (1986): A tecnologia não é boa nem é má, mas também não é neutra. 32 2 Conceitos teóricos sobre deficiência A palavra “deficiência” foi por muito tempo associada à “enfermidade” e “aflição”, bem como fenômenos como pobreza, feiura, fraqueza ou doença. No imaginário popular, com frequência “deficiência” também compartilhou terreno com termos como “monstruosidade” e “deformidade” – o primeiro possuindo toques sobrenaturais e o último representando um tipo particular de feiura moral e física. Foi muito usada também a palavra “paralisia”, derivada da ideia de alguém que se arrasta, numa tentativa de caracterizar várias deficiências físicas que impediam ou dificultavam a mobilidade. Do mesmo modo, a expressão “inválido” era associada a pessoas com uma ampla gama de doenças ou situações físicas debilitantes. Ainda hoje algumas instituições guardam resquícios desta época, por exemplo, ao rotular uma criança com deficiência como “criança defeituosa”. Pessoas com deficiência muitas vezes foram também exploradas como “objetos curiosos”, em circos ou freak shows. Mesmo hoje, quando passa uma linda mulher numa cadeira de rodas, muitas pessoas ainda olham curiosas, como se beleza e deficiência fossem antônimos. Figura 2 – Participantes de um Freak Show (Tod Browning e os atoresde Freaks) no início do século XX Fonte: http://www.socialistamorena.com.br 33 Felizmente estas conotações tão pejorativas vão paulatinamente perdendo sua força, e a palavra deficiência vai ganhando aceitação social, mesmo que expressões discutíveis, como “criança especial”, ainda sejam cunhadas e acabem por virar um modismo politicamente correto. Concluindo esta primeira abordagem, é importante observar que a palavra “deficiente” é usada de forma diferente: dependendo das diversas finalidades práticas ou teóricas; variando com as diferentes culturas e situações socioeconômicas; podendo se amoldar para ser compatível com a conveniência individual. Um exemplo: uma pessoa cega de um olho pode querer que sua visão monocular seja considerada legalmente como deficiência, a fim de ser contemplada em reserva de vagas para as cotas de emprego; no entanto, a mesma pessoa não quer ser considerada da mesma forma, quando almeja tirar uma carteira de habilitação para dirigir caminhões. Em termos oficiais e aceitos no mundo todo, a Organização Mundial de Saúde define deficiência como a ausência ou a disfunção de uma estrutura psíquica, fisiológica ou anatômica. Esta definição, portanto, se refere exclusivamente à conformação biológica da pessoa, ou seja, algo que deveria ser tratado por um médico, no sentido de tentar consertar (tratar, operar, colocar uma prótese, etc.). Ela não leva em consideração que nosso valor como seres humanos está muito mais relacionado com aquilo que fazemos, que produzimos, que deixamos como legado. Figura 3 – Beethoven Fonte: http://miltonribeiro.sel21.com.br 34 O que é mais importante: o fato de Beethoven ter ficado surdo, ou de ter composto (quando surdo) melodias de uma beleza transcendental? Quando eu agrego a esse raciocínio algumas considerações sobre a origem etimológica da palavra “deficiente” – cujas raízes latinas significam “sem eficiência” –, a ideia central é que se eu obtiver eficiência, não sou deficiente… As palavras importam, quando tentamos explicar o mundo. É preciso usar as palavras corretas, escolhidas com muito critério. Nós sugerimos que você leia um artigo de Romeu Sassaki que explica o uso correto de termos como “pessoa com deficiência”, “necessidades especiais”, “deficientes” e muitas outras. https://www.deficienteciente.com.br/necessidades-especiais.html Modelos conceituais sobre deficiência Até os anos 1940, a visão que se tinha sobre as pessoas com deficiência era a menos favorável possível, dependentes da caridade, chegando ao limite de exibição em freak shows (Ver Figura 2). Foi mais ou menos nesta época que se estabeleceu o “modelo médico”, uma abordagem que define a deficiência como “uma propriedade do corpo do indivíduo“. Neste modelo, o centro de referência são os médicos, autoridades publicamente reconhecidas que se preocupam com assuntos relacionados à etiologia, diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças físicas, sensoriais e cognitivas. Neste modelo, as pessoas com deficiência são pessoas inerentemente inferiores que devem ser curadas ou tratadas. Em outras palavras, são elas, e não a sociedade, que precisam ser modificadas ou melhoradas. A partir dos anos 1960-70, criaram-se novos conceitos sobre deficiência, considerando que os indivíduos são extremamente afetados por fatores que não estão no corpo, mas no mundo que nos cerca. Um bom ambiente adaptado de trabalho, por exemplo, é muito mais importante do que o fato de a pessoa ter ou não ter uma perna. Esta abordagem recebe o nome de “modelo social” e desafia o modelo médico, que é focado exclusivamente em um corpo individual que clama por tratamento, correção ou cura. A partir da aceitação do modelo social, estabeleceu-se que não é uma deficiência ou necessidade de ajuste do indivíduo, mas sim as barreiras socialmente impostas que determinam o sucesso https://www.deficienteciente.com.br/necessidades-especiais.html 35 ou insucesso da pessoa com deficiência na sociedade. Isso implica a disponibilização ampla de locais acessíveis, transporte, meios de comunicação adequados etc. O modelo social trata da eliminação de tais barreiras como uma questão inalienável de direitos civis. Muitos ativistas e ideólogos hoje em dia defendem um outro modelo, que poderíamos denominar de “modelo cultural de deficiência”. Ele explora a interface do organismo com deficiência com os ambientes em que o corpo está situado. No modelo cultural a deficiência serve como uma identidade grupal, em que as pessoas são parte do tecido mais amplo da diversidade humana, e como um local de resistência cultural a concepções socialmente construídas de normalidade. Por exemplo, muitas pessoas surdas se sentem parte de uma “comunidade surda” e acham abjeta a hipótese de um implante coclear de escutar, na medida em que a situação de surdez é por eles considerada uma identidade cultural e linguística. Todos estes modelos, que são considerados clássicos e bem estabelecidos, hoje são contestados. Surgem novos modelos, como o “modelo da interação simbólica”, que tentam contemplar a pessoa como protagonista, em que “ao invés de ter um corpo, somos nossos corpos”. O fundamento desta visão diferenciada é que há muitas situações de deficiência as quais nenhuma mudança ambiental pode eliminar completamente. Por exemplo, precisar de cuidados especiais, cuidadores e fisioterapia quando se tem tetraplegia ou esclerose lateral amiotrófica é uma situação em que melhorias na condição ou relação social nada podem oferecer. Afinal, quem é deficiente, do ponto de vista conceitual? Não podemos esquecer que “cada pessoa é uma pessoa”, sempre diferente das demais. Como consequência, as manifestações de deficiência também são diferentes de indivíduo para indivíduo, e o número de gradações da deficiência é infinito. Em outras palavras: dependendo da situação, uma pessoa pode ser convenientemente considerada ou não como uma pessoa com deficiência, e em cada caso a classificação acaba por ser uma mistura de influências envolvendo: condições intrínsecas do corpo físico; designações segundo justificativas sociais ou jurídicas; identificação com aspectos culturais de comunidades; relações de dependência em relação a outras pessoas. 36 Figura 4 – Automóvel adaptado para cadeirantes Fonte: http://www.portac.com.br Hoje, existe um certo consenso de que a deficiência deva ser pensada em termos de modificações na funcionalidade: sua presença exige que se modifique a maneira de fazer as coisas, mas não impossibilita que sejam feitas. Por exemplo, quando agregamos estratégias de acessibilidade ao mundo, possivelmente com uso de tecnologia adequada, um cego conseguirá ler, um cadeirante conseguirá se locomover e um surdo conseguirá se comunicar. 3 Uma breve taxonomia sobre as deficiências e suas demandas Uma classificação (ou mais do que uma) será sempre necessária, porém, como existe enorme gradação entre as deficiências individuais, qualquer classificação não será mais do que um referencial teórico impreciso! Mesmo assim, este tipo de taxonomia, embora não reflita toda a verdade, ajuda a definir e compreender que é possível utilizar critérios gerais de caráter mais ou menos aproximado, visando obter primeiro uma compreensão global e, a partir dela, estabelecer as características individuais, assim como realizar as adaptações para suportá-las, seja por ações individuais, seja por políticas públicas. Em termos gerais, a deficiência pode ser classificada em: A. sensorial – referente aos sentidos como visão e audição; B. física – referente aos membros e à mobilidade; 37 C. intelectual/mental – referente a efeitos da cognição e comportamento. Cada uma destas classificações tem subdivisões, como, por exemplo: a deficiência sensorial sedivide em visual e auditiva; por sua vez, deficiência visual se divide em cegueira e baixa visão etc. Não é uma classificação perfeita, mas tem sido utilizada amplamente em planejamento escolar e em aspectos da legislação. Nota sobre deficiência sensorial Repare que, se pensarmos em “sentidos” usando o senso comum, pensaremos em visão, audição, olfato, paladar e tato. Então, em princípio, se alguém perde a sensibilidade nas mãos, deveria ser considerada uma “pessoa com deficiência tátil”. Mas é raríssimo ver este tipo de situação relacionada nos textos, não porque ela não exista, mas porque, estatisticamente, é muito menos encontrada do que uma deficiência auditiva e também com impacto muito menor sobre os indivíduos em sua vida diária. Estabeleceremos a seguir uma breve correlação entre diversos tipos de deficiências, suas principais subcategorias e demandas associadas. Nota: este é apenas um resumo, veja nas leituras sugeridas como saber mais sobre o tema, incluindo as diversas subcategorias, causas, tratamentos e detalhes sobre as demandas específicas. DEFICIÊNCIA E SUBCATEGORIAS DEMANDAS DEFICIÊNCIA VISUAL Cegueira Baixa visão Assistir aulas Entender o que o professor está fazendo Acessar a leitura e escrita convencional Dispor de material em Braille Ter ajuda na interpretação de gráficos Receber orientação e se mover DEFICIÊNCIA AUDITIVA Aparelhos de surdez Aparelhos de amplificação de som (transmissão FM) para a sala de aula 38 Surdez profunda Deficiência auditiva média ou leve Necessidade de tradutor-intérprete de Libras Alternativas para leitura de textos em português* � ênfase em imagens Incentivo ao domínio da leitura labial, mesmo sabendo que é método limitado *É muito difícil dominar a leitura de textos em português, pois o método de escrita é fonético (algo que é totalmente inacessível para um surdo profundo) e não simbólico, como a Língua de Sinais. DEFICIÊNCIA FÍSICA Paraplegia (mobilidade acima da cintura) Tetraplegia (mobilidade comprometida em todo o corpo) Hemiplegia (mobilidade em um lado) Mutilação (falta de membro) Pessoas com graves deformidades físicas Acessibilidade física: Rampas, banheiros, portas largas etc. Mobilidade para ir e vir Transporte urbano Ajuda na higiene Alguns precisam de cateterismo Ajuda na alimentação DEFICIÊNCIAS ASSOCIADAS À DEBILIDADE FÍSICA Paralisia cerebral Distrofia muscular Esclerose lateral amiotrófica Síndrome de Rett Ajuda com os espasmos e a disreflexia Cateterismo Dificuldade de articular a fala Dificuldade na movimentação Reconhecimento de que seus aspectos cognitivos podem estar totalmente OK DEFICIÊNCIA INTELECTUAL/COGNITIVA DM – deficiência mental Psicose Esquizofrenia e outros Comunicação Aprendizagem Relacionamento 39 Retardo mental Síndrome de Down Espectro autista SUPERDOTAÇÃO Indicação de que certa pessoa tem “talentos ou habilidades fora de série” Conflitos sociais Bulling DEFICIÊNCIAS MÚLTIPLAS Surdez – cegueira Comunicação Relacionamento social DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM (que não são classificados oficialmente como deficiência) Dislexia – dificuldade de expressar-se oralmente Disgrafia – dificuldade de expressar-se por escrita Gagueira Baixo nível de cognição. TDAH – Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade Estratégias educacionais específicas Alternativas para leitura, escrita e comunicação em geral. 4 Quantas pessoas com deficiência existem no Brasil Nos últimos anos muitos números discrepantes têm sido divulgados pelos censos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com relação à quantidade de pessoas com deficiência no Brasil. Diferentes metodologias utilizadas nas entrevistas para aquisição de dados produziram em 2000 o número de 14,5% de pessoas com deficiência e, em 2010, este número saltou para quase 24%! Se isso fosse verdade, uma em cada quatro pessoas teria deficiência no Brasil! Estes números tão altos e discrepantes criaram distorções em projetos políticos, gerando, entre outras coisas, o planejamento de investimento muito maior do que deveria ser. 40 Entretanto, após ajustes no processo de entrevistas, e mudanças metodológicas de avaliação, foram gerados números bem mais conservadores na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS): 6,2% da população tem algum tipo de deficiência. O levantamento foi feito pelo IBGE em 2013 em parceria com o Ministério da Saúde, e os resultados, divulgados em 2015. Figura 5 – População residente por tipo de deficiência – Brasil – 2010 Fonte: IBGE, Censo demográfico 2010. Nota: Algumas pessoas declararam possuir mais de um tipo de deficiência. Por isso, quando somadas as ocorrências de deficiências, o número é maior do que 45,6 milhões que representa o número de pessoas, não de ocorrência de deficiência. A Pesquisa Nacional de Saúde considerou quatro tipos de deficiências: visual, física, auditiva e intelectual. Os principais dados obtidos, que podem ser recuperados a partir do site do IBGE, são os seguintes: A. Deficiência visual A deficiência visual é a mais representativa e atinge 3,6% dos brasileiros, sendo mais comum entre as pessoas acima de 60 anos (11,5%). O grau intenso ou muito intenso da limitação impossibilita 16% dos deficientes visuais de realizarem atividades habituais como ir à escola, trabalhar e brincar. O Sul é a região do país com maior proporção de pessoas com deficiência visual (5,4%). A pesquisa mostra que 0,4% são deficientes visuais desde o nascimento e 6,6% usam algum recurso para auxiliar a locomoção, como bengala articulada ou cão-guia. Menos de 5% do grupo frequenta serviços de reabilitação. 41 B. Deficiência física 1,3% da população tem algum tipo de deficiência física e quase a metade deste total (46,8%) tem grau intenso ou muito intenso de limitações. Somente 18,4% desse grupo frequenta serviço de reabilitação. C. Deficiência intelectual 0,8% da população brasileira tem algum tipo de deficiência intelectual, e a maioria (0,5%) já nasceu com as limitações. Mais da metade (54,8%) tem grau intenso ou muito intenso de limitação, e cerca de 30% frequentam algum serviço de reabilitação em saúde. D. Deficiência auditiva 1,1% da população brasileira é portadora dessa deficiência. Foi o único tipo que apresentou resultados estatisticamente diferenciados por cor ou raça, sendo mais comum em pessoas brancas (1,4%) do que em negros (0,9%). Cerca de 0,9% dos brasileiros tornaram-se surdos em decorrência de alguma doença ou acidente, e 0,2% nasceu surdo. Do total de deficientes auditivos, 21% têm grau intenso ou muito intenso de limitações, que compromete atividades habituais. Os percentuais mais elevados de deficiência intelectual, física e auditiva foram encontrados em pessoas sem instrução e em pessoas com o ensino fundamental incompleto. 5 Tecnologia Assistiva Sem nos preocuparmos, a princípio, com definições precisas, vamos chamar de Tecnologia Assistiva àquela que é destinada a pessoas com deficiência. Não há dúvida, Tecnologia Assistiva ajuda muito e se torna elemento-chave na vida das pessoas. Segundo Rita Bersch (2017), “Tecnologia Assistiva é um termo utilizado para identificar todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e consequentemente promover sua vida independente e inclusão.” 42 Para a maioria das pessoas, Tecnologia Assistiva é uma especialidade da informática e da engenharia que visa criar produtos com o objetivo de melhorar a vida das pessoas com deficiência (como na Figura 3). Não está errado totalmente, mas é muito mais que isso. Tecnologia não é sinônimo de coisa cara nem de coisa comprada! Pode ser algosimples, algo que certa mãe, pobre, mas criativa, inventa para seu filho, usando apenas objetos reciclados e que funciona perfeitamente! Figura 6 – Tecnologia de alta complexidade Fonte: http://www.reab.com Figura 7 – Tecnologia de baixa complexidade Fonte: http://www.reab.com Tecnologia Assistiva muda radicalmente a vida das pessoas com deficiência. Podemos até dizer, metaforicamente, que um cego deixa de ser cego quando a tecnologia invade sua vida. Ele caminha e se localiza com precisão, lê com proficiência, reconhece ambientes, escreve sem dificuldade e assim por diante. O mesmo raciocínio vale para quem é paraplégico e, através de uma tecnologia específica, como uma cadeira de rodas motorizada, deixa de ter as limitações de uma pessoa com deficiência física, por não poder andar, e passa a poder correr. http://www.reab.com/ http://www.reab.com/ 43 O conhecimento tecnológico hoje é muito vasto, materiais se tornaram mais disponíveis e baratos, e as possibilidades de construção usando motores e controles computadorizados tornaram a tecnologia para pessoas com deficiência mais fácil de desenvolver e produzir. A tecnologia também passou a ser necessariamente adaptável e capaz de absorver as grandes diferenças que existem nas pessoas que a utilizarão. A quantidade e variedade de itens de Tecnologia Assistiva existentes hoje é incomensurável. É impossível fazer uma classificação de importância, na medida em que uma adaptação criada por uma mãe pode ser tão relevante quanto o produto robótico de última geração. Optamos assim por utilizar uma classificação criada por Rita Bersch e José Tonoli, baseada em categorias comumente adotadas em diversos países. Exemplos de tecnologias assistivas Auxílios para a vida diária Materiais e produtos para auxílio em tarefas rotineiras tais como comer, cozinhar, vestir-se, tomar banho e executar necessidades pessoais, manutenção da casa etc. Comunicação aumentativa (suplementar) e alternativa Recursos, eletrônicos ou não, que permitem a comunicação expressiva e receptiva das pessoas sem a fala ou com tal limitação. São muito utilizadas as pranchas de comunicação, além de dispositivos para fala sintética. 44 Recursos de acessibilidade ao computador Equipamentos de entrada e saída (síntese de voz, Braille), auxílios alternativos de acesso (ponteiras de cabeça, de luz), teclados modificados ou alternativos, acionadores, softwares especiais (de reconhecimento de voz etc.), que permitem às pessoas com deficiência usarem o computador. Sistemas de controle de ambiente Sistemas eletrônicos que permitem às pessoas com limitações motolocomotoras controlar remotamente aparelhos eletroeletrônicos e sistemas de segurança, entre outros, localizados em seu quarto, sala, escritório, casa e arredores. Projetos arquitetônicos para acessibilidade Adaptações estruturais e reformas na casa e/ou ambiente de trabalho, através de rampas, elevadores e adaptações em banheiros, entre outras, que retiram ou reduzem as barreiras físicas, facilitando a locomoção da pessoa com deficiência. 45 Órteses e próteses Troca ou ajuste de partes do corpo, faltantes ou de funcionamento comprometido, por membros artificiais ou outros recursos ortopédicos (talas, apoios etc.). Incluem-se os protéticos para auxiliar nos déficits ou limitações cognitivas, como os gravadores de fita magnética ou digital que funcionam como lembretes instantâneos. Adequação postural Adaptações para cadeira de rodas ou outro sistema de sentar visando ao conforto e à distribuição adequada da pressão na superfície da pele (almofadas especiais, assentos e encostos anatômicos), bem como posicionadores e contentores que propiciam maior estabilidade e postura apropriada do corpo através do suporte e posicionamento de tronco/cabeça/membros. Auxílios de mobilidade Cadeiras de rodas manuais e motorizadas, bases móveis, andadores, scooters de 3 rodas e qualquer outro veículo utilizado na melhoria da mobilidade pessoal. 46 Auxílios para cegos ou com visão subnormal Auxílios para grupos específicos que incluem lupas e lentes, Braille para equipamentos com síntese de voz, grandes telas de impressão, sistema de TV com aumento para leitura de documentos, publicações etc. Auxílios para surdos ou com déficit auditivo Auxílios que incluem vários equipamentos (infravermelho, FM), aparelhos para surdez, telefones com teclado — teletipo (TTY), sistemas com alerta táctil-visual, entre outros. Adaptações em veículos Acessórios e adaptações que possibilitam a condução do veículo, elevadores para cadeiras de rodas, camionetas modificadas e outros veículos automotores usados no transporte pessoal. Para concluir, é importante exibir a definição brasileira oficial de Tecnologia Assistiva, emitida pelo Comitê de Ajudas Técnicas (CAT) da Corde (Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa com Deficiência): Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou 47 mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social. É importante notar que esta definição fala claramente que serviços são um tipo de Tecnologia Assistiva. Esta decisão do CAT é coerente com as definições utilizadas em outros países e tem como premissa o fato de que os equipamentos, por si só, não produzem resultados adequados; só são obtidos através dos serviços profissionais especializados, que devem ser colocados como parte indissociável dos itens físicos de tecnologia. 6 Como a Tecnologia Assistiva se aplica ao mundo da pessoa com deficiência Para cada evolução tecnológica assimilada, a vida da pessoa com deficiência muda. A influência é tão grande que é como se os artefatos tecnológicos passassem a fazer parte da própria pessoa. O ser “deficiente tecnologizado” tem mais poder. E isso faz toda a diferença para ele, para sua família e seus amigos, no trabalho, e para toda a sociedade (SONZA et al., 2011). Está tudo muito melhor hoje para quem tem deficiência. Há alguns anos, as perspectivas de vida de alguém nesta situação seriam de grande dependência. Sempre era necessário alguém para suprir as dificuldades, e o potencial de desenvolvimento da pessoa tornava-se bastante limitado. Entretanto, hoje, com a ajuda de um número muito grande de dispositivos mecânicos e eletrônicos, de computadores e de muitas invenções, quase todas as pessoas com deficiência conseguem superar suas limitações e adquirir certo grau de eficiência, como mostrado na Figura 4. Quanto mais a Tecnologia Assistiva evolui, maior se torna esta eficiência, e a evolução parece não ter fim! Hoje, por exemplo, um cego pode ler através de um programa de computador; um tetraplégico pode se locomover sozinho com uma cadeira de rodas motorizada; um amputado pode correr com pernas metálicas especiais (DIAS et al., 2013). 48 Figura 8 – Pessoa amputada correndo Fonte: http://passofirme.wordpress.com A tecnologia nos faz transcender as nossas limitações. Não temos todos os mesmos limites, mas a tecnologia nos equaliza. Ela não vai conseguir transformar a pessoa com deficiência em alguém sem deficiência. Mas é quase certo que, se ela for dominada e bem utilizada, vai transformá-la em uma pessoa eficiente. 7 A inclusão escolar e o acesso à Tecnologia Assistiva na escola pública Figura 9 – A escola é para todos Fonte: http://www.comunidadeviaduto.com.br No Brasil, durante os anos 1980, houve importantesmovimentos das pessoas com deficiência, pela defesa de direitos, entre os quais se destacavam a acessibilidade, a educação e a inclusão social. Caravanas de pessoas com deficiência se deslocaram para Brasília, participando de comícios e passeatas, 49 em busca de um diálogo com os legisladores, em particular com aqueles responsáveis pela redação da Constituição de 1988. Por conta destas ações, foi agregado artigo na Constituição que dá sustentação de inserção das pessoas com deficiência na rede regular de ensino – complementando o artigo 5º, que garante expressamente o direito de todos à educação. Art. 208 – O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente, na rede regular de ensino. A partir da década de 1990, como resultado da participação do país em diversas conferências internacionais, o Brasil assinou vários tratados, preconizando os princípios de educação para todos, em particular das pessoas com deficiência, num modelo de inclusão escolar, segundo o qual. As escolas devem acomodar todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. No modelo de inclusão, todas as pessoas devem ter acesso ao sistema de ensino de modo igualitário. Não é tolerado nenhum tipo de discriminação, seja de gênero, etnia, religião, classe social, condições físicas e psicológicas etc. A filosofia da inclusão reconhece e valoriza a diversidade, considerando que através dela a sociedade se enriquece em experiências, e que isso gera crescimento de oportunidades – leia-se enriquecimento social. A inclusão se tornou um movimento mundial de luta das pessoas com deficiências e de seus familiares na busca dos seus direitos e lugar na sociedade. No modelo de inclusão escolar existe a integração dos alunos com e sem deficiência nas salas de aula regulares, compartilhando as mesmas experiências e aprendizados (MANTOAN, 2003). Importante: A inclusão escolar não deve ser confundida com escolarização especial, que atende aos portadores de deficiência em escolas ou salas de aula separadas, formadas apenas por crianças com deficiência. Ela 50 prevê a integração desses alunos em classes de aula regulares, compartilhando as mesmas experiências e aprendizados com os outros estudantes. No Brasil, a inclusão escolar não é decisão da escola ou do professor: é lei a ser obedecida. Um gestor ou professor que se recuse a receber uma criança com deficiência para inclusão numa classe regular estará cometendo um crime punível com 2 a 5 anos de reclusão. É lei, mas não é nada fácil de implementar: os alunos com deficiência têm necessidades específicas, muitas vezes exclusivas para suas limitações, o que implica investimento e remanejamento de atividades, sem contar com o tempo adicional a ser gasto, que é necessário para atender convenientemente a cada aluno com deficiência. Muitos destes problemas são de gestão, mas é ao professor que cabem as tarefas mais demandantes: receber o aluno, resolver os problemas associados à sua presença e organizar as estratégias diferenciadas de ensino, como modificações na forma de apresentação, adaptações no material didático, adequação do tempo e critérios diferenciados de avaliação. (SANTOS; SANTIAGO; MELO, 2016). Existe sempre um custo envolvido nisso, e haverá sempre quem diga que “seria melhor usar este dinheiro para privilegiar a maioria do que para atender a uns poucos”, uma lógica economicamente justificável, mas do ponto de vista humanitário, muito discutível (DIAS et al., 2016). Figura 10 – A Tecnologia Assistiva é ensinada no AEE Fonte: http://www.escolascreches.com.br Não é, portanto, de se espantar, que a escola busque ansiosamente por soluções de Tecnologia Assistiva. Do ponto de vista organizacional, com base 51 na Lei nº 6.571/08, a viabilização do uso de Tecnologia Assistiva no ambiente escolar é uma das funções do que se denomina Atendimento Educacional Especializado (AEE). Um serviço da educação especial que identifica, elabora e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, os quais eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas. Dependendo da situação individual, o AEE definirá o tipo de Tecnologia Assistiva, o que inclui programas de computador e equipamentos especializados. Os alunos com deficiência têm aulas complementares em contraturno no AEE, em salas especiais, chamadas “Salas de Recurso Multifuncioniais”, que são equipadas com diversos itens de Tecnologia Assistiva. Nelas se prepara e disponibiliza material pedagógico acessível, se ensinam Braille e a Língua Brasileira de Sinais (Libras), se disponibilizam recursos de Tecnologia Assistiva, incluindo acessibilidade ao computador, se promovem atividades relativas à orientação e mobilidade, se disponibilizam mecanismos para comunicação alternativa etc. (DIAS et al., 2015). Nota: Dadas as dificuldades que um professor pode ter, quando necessário, um mediador poderá ser contratado ou alocado para ajudar o professor no atendimento ao aluno com deficiência na sala de aula, mas isso na prática não é muito comum. 8 Principais produtos de Tecnologia Assistiva no Brasil Existem muitos produtos de Tecnologia Assistiva sendo distribuídos hoje no Brasil, desde pequenos dispositivos mecânicos, aparelhinhos eletrônicos até caríssimos equipamentos para uso em escolas, institutos de reabilitações e hospitais. Há diversas adaptações para automóveis, ônibus, máquinas e equipamentos. E há também softwares, em razoável quantidade, para desktops, celulares e tablets. Vivemos hoje num momento em que já houve grande evolução no Brasil na área do atendimento às pessoas com deficiência por meio da tecnologia. Diversos artefatos e softwares foram criados em vários lugares do mundo, trazidos para cá e aplicados, com ou sem sucesso. 52 Mostraremos a seguir alguns produtos e representantes de Tecnologia Assistiva no Brasil. Não são os únicos, mas são os mais conhecidos. Na área de produtos para deficiência visual, existe a proeminência da Civiam, da Laratec e da TecAssistiva, formando um pequeno corpo de empresas que domina grande parte do mercado nacional. Elas estão muito associadas à venda de produtos importados. Na área de produtos para deficientes físicos a principal fabricante é a Polior, que realiza exportações para Espanha e Reino Unido. Outra grande produtora é a brasileira Expansão, que produz e comercializa os produtos patenteados Tuboform. Na área de cadeiras de rodas e outros dispositivos mecânicos, há uma grande quantidade de fabricantes. As maiores são a Freedom, a Ortobras, a Jaguaribe e a Ortomix. Seria antiético fazer deste texto uma propaganda de produtos de empresas comerciais. Optamos, portanto, por sermos o mais genéricos possível, mostrando, para diversos tipos de deficiência, um apanhado sobre os principais produtos disponíveis e utilizados amplamente no Brasil. Demos ênfase aos produtos gratuitos, quase todos originários do trabalho do Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Tecnologia Assistiva do Instituto Tércio Pacitti da UFRJ (Lab. TecnoAssist – NCE/UFRJ). Figura 11 – Professores e alunos de cursos do Laboratório TecnoAssist Fonte: Acervo do Autor http://civiam.com.br/ http://loja.laratec.org.br/ http://www.tecassistiva.com.br/ http://www.polior.com.br/ https://www.expansao.com/site/produtos/tuboform-9 http://www.freedom.ind.br/ https://ortobras.com.br/ http://www.ortomix.com.br/ 53 8.1 Produtos para deficiência visual Figura 12 – Dosvox, um dos programas mais usados no Brasil Fonte: Acervo do Autor Até a década de 1980, a Tecnologia Assistiva para cegos no Brasil
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