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Políticas curriculares_ formação da Base Nacional Comum Curricular

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04/03/22, 23:58 Políticas curriculares: formação da Base Nacional Comum Curricular
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02994/index.html#imprimir 1/55
Políticas curriculares: 
formação da Base Nacional Comum Curricular
Profª. Maria Teresa Avance de Oliveira
Descrição
As políticas para o currículo das escolas, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, os
Parâmetros Curriculares Nacionais e as Diretrizes Curriculares Nacionais, assim como o Plano Nacional de
Educação, a BNCC e suas contradições.
Propósito
Para qualificar sua atuação na construção do currículo escolar, é essencial compreender as relações
existentes entre o projeto político-pedagógico da escola, as concepções de currículo que permeiam as
políticas públicas e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), de forma que o currículo das escolas possa
traduzir o que se pretende como objetivos e finalidades da educação.
Objetivos
Módulo 1
O currículo e as políticas públicas
Identificar as concepções de currículo que permeiam as políticas públicas para a educação.
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Módulo 2
Propostas curriculares na BNCC
Reconhecer as propostas curriculares hegemônicas na BNCC.
Módulo 3
Contrução democrática do currículo escolar
Formular estratégias de construção democrática do currículo escolar.
Um currículo não está dissociado dos movimentos vividos nas sociedades, pelo contrário, ele traduz as
mudanças, os anseios e as pretensões que determinada sociedade se impõe quando trata da formação
de seus indivíduos. O currículo, dessa forma, não é sinônimo de conteúdo a ser ensinado, mas o
conjunto das aprendizagens vivenciadas no processo de ensino e aprendizagem.
É nesse sentido que podemos dizer que o currículo tem voz: somos nós e cada um em movimento
dentro e fora da escola. O currículo nos formata e formatamos assim nosso agir e pensar no mundo e
sobre ele.
Neste conteúdo, vamos apresentar o processo de transformação do currículo, desde a Constituição de
1988, passando pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, pelo
Plano Nacional de Educação e pela BNCC, até a reforma do ensino médio. Refletiremos sobre como as
escolas estão ensinando e como estamos aprendendo.
Serão abordadas, neste estudo, perspectivas divergentes acerca das últimas políticas públicas
implementadas, o que permitirá a você, ao final, montar um panorama da discussão atual que está
gerando muitos debates dentro dos cursos de formação de professores, das redes de ensino e, por
conseguinte, das escolas nas quais essas novas diretrizes deverão se traduzir numa prática
pedagógica.
Introdução
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1 - O currículo e as políticas públicas
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as concepções de currículo que
permeiam as políticas públicas para a educação.
Contextualizando o currículo
A fim de iniciar a nossa discussão sobre o currículo, consideraremos alguns estudos da Antropologia que
procuram compreender os modos de vida e de sobrevivência das diferentes sociedades e grupos sociais.
Para os antropólogos, é preciso distinguir a cultura do saber escolar. A escola deve procurar entender o
ponto de vista daqueles a quem serve e seu contexto cultural, que, necessariamente, envolve os costumes,
os modos de viver, de vestir, de morar, das maneiras de pensar, as expressões da linguagem, os valores, os
comportamentos frente ao novo, ao inesperado. Assim:
o conhecimento não pode ser estudado como atividade isolada de seu
contexto cultural. As pessoas sabem fazer bem o que é importante para elas.
Os habitantes das ilhas Puluwat, pequeno atol da Micronésia, por exemplo,
desenvolveram habilidades navegacionais surpreendentes, transmitidas entre
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as gerações por meio da oralidade e dos costumes. Cada viagem é planejada
com antecipação e depende de um corpo específico de conhecimentos, que é
prático e útil. Ignorando os navios de passageiros à sua disposição, eles
pilotam suas canoas sem uma bússola, através de milhares de milhas, em
pleno Oceano Pacífico. Sua navegação depende de aspectos do mar e do céu,
baseando-se num sistema de lógica tão complexo que os ocidentais não o
podem reproduzir sem o uso de instrumentos avançados. Assim, o que é
aprendido como ‘prático’ em Puluwat, seria considerado como altamente
‘teórico’, ‘abstrato’, em um de nossos colégios navais. Ironicamente, quando um
navegador de Puluwat é submetido a um de nossos ‘testes de inteligência’, seu
índice de realização mental parece baixo.
(SARUP apud KRUPPA, 2016, p. 42-43)
Podemos transferir a experiência relatada para a realidade do nosso país: nossas comunidades indígenas
possuem conhecimentos seculares sobre a preservação da floresta, o uso das plantas e as formas de
subsistência, de modo a conviver harmonicamente com a floresta e tudo o que dela podem usufruir, sem
destruí-la. Essa sabedoria dos povos originários, embora muito útil e potencialmente benéfica para a
sociedade em geral, não se traduz em conhecimento escolar nas escolas tradicionais.
Resumindo
Portanto, uma das possíveis compreensões acerca do currículo é entendê-lo (CORAZZA, 2001) como uma
linguagem. E como tal, podemos identificar significantes e significados, sons, imagens, conceitos, falas,
língua, posições discursivas, representações, metáforas, metonímias, ironias, invenções, fluxos, cortes etc.
Nesse sentido, compreende-se o currículo como fruto de uma prática social, discursiva e não discursiva, que
se corporifica em instituições, saberes, normas, prescrições morais, regulamentos, programas, relações,
valores e modos de ser sujeito.
As bases legais e suas interpretações
Para entendermos as políticas públicas voltadas para o currículo, começaremos pela análise da ideia central
que está inscrita na Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, conhecida como Lei de Diretrizes da
Educação Nacional (BRASIL, 1996), que determina os princípios fundamentais que devem reger todos os
processos educacionais no país, quais sejam:
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Igualdade
Liberdade.
Pluralismo de ideias.
Gratuidade.
Valorização profissional.
Gestão democrática.
Garantia de padrão de qualidade.
Valorização da experiência extraescolar.
Consideração da diversidade étnico-racial.
Vinculação educação-trabalho-práticas sociais e a garantia de aprendizagem ao longo da vida.
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a lei maior do país, também prevê esses princípios
e ainda determina, no seu art. 14, que:
[...] a lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o
objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de
colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de
implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em
seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos
poderes públicos [...].
(BRASIL, 1988)
De acordo com a determinação da Constituição, portanto, outro arcabouço legal e fundamental para o
planejamento das ações e políticas educacionais foi instituído: o Plano Nacional de Educação (PNE).
Nas suas diretrizes, estão expressos os princípios que devem nortear todas as ações
de planejamento das políticas no período de 10 anos.
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Duranteesse processo, são necessárias ações de acompanhamento das metas para que ajustes possam
ser feitos ao longo da vigência do plano. Veja, a seguir, as diretrizes do PNE.
São diretrizes do PNE:
I - erradicação do analfabetismo;
II - universalização do atendimento escolar;
III - superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na
erradicação de todas as formas de discriminação;
IV - melhoria da qualidade da educação;
V - formação para o trabalho e para a cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em que se
fundamenta a sociedade;
VI - promoção do princípio da gestão democrática da educação pública;
VII - promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do País;
VIII - estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do
Produto Interno Bruto - PIB, que assegure atendimento às necessidades de expansão, com padrão de
qualidade e equidade;
IX - valorização dos (as) profissionais da educação;
X - promoção dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade
socioambiental.
(BRASIL, 2014)
Além das diretrizes gerais, o Plano Nacional de Educação (2014-2024) apresenta 20 metas e, em cada uma
delas, estratégias para seu cumprimento. Vemos que a Meta 2 traça duas estratégias que estão voltadas
para a elaboração de uma Base Nacional Comum Curricular:
Artigo 2º. 
Meta 2 
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2.1) o Ministério da Educação, em articulação e colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios, deverá, até o final do 2º (segundo) ano de vigência deste PNE, elaborar e encaminhar ao
Conselho Nacional de Educação, precedida de consulta pública nacional, proposta de direitos e
objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para os (as) alunos (as) do ensino fundamental;
2.2) pactuar entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios, no âmbito da instância permanente
de que trata o § 5º do art. 7º desta Lei, a implantação dos direitos e objetivos de aprendizagem e
desenvolvimento que configurarão a base nacional comum curricular do ensino fundamental.
(BRASIL, 2014)
No mesmo sentido, a Meta 3 trata da formação no ensino médio, estabelecendo estratégias para esse
segmento:
3.2) o Ministério da Educação, em articulação e colaboração com os entes federados e ouvida a
sociedade mediante consulta pública nacional, elaborará e encaminhará ao Conselho Nacional de
Educação - CNE, até o 2o (segundo) ano de vigência deste PNE, proposta de direitos e objetivos de
aprendizagem e desenvolvimento para os (as) alunos (as) de ensino médio, a serem atingidos nos
tempos e etapas de organização deste nível de ensino, com vistas a garantir formação básica
comum;
3.3) pactuar entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios, no âmbito da instância permanente
de que trata o § 5o do art. 7o desta Lei, a implantação dos direitos e objetivos de aprendizagem e
desenvolvimento que configurarão a base nacional comum curricular do ensino médio.
(BRASIL, 2014)
Entre educadores, entidades e movimentos em defesa do direito à educação, há um consenso de que a
legislação em vigor, quando traduz a necessidade de uma base comum curricular, não determina um
currículo nacional único. A lei dispõe somente que as diretrizes sejam nacionais, de forma que os sistemas
e as escolas possam democraticamente elaborar seus currículos.
Nesse sentido, quando o Conselho Nacional de Educação (CNE) iniciou seu processo de discussão, em
2014, tinha como objetivo “acompanhar e contribuir com o Ministério da Educação na elaboração de
documento acerca dos direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento”(BRASIL, 2014), tendo em
vista, principalmente as diretrizes e as estratégias do PNE, já elencadas acima.
Meta 3 
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Esse debate inicial contemplaria as metas e as diretrizes do PNE no que diz respeito
não só à necessidade de uma base, como também à metodologia de construção
dessa base.
Comentário
As demandas políticas se misturam, e aquilo que é debatido por professores e intelectuais necessita ser
definido em uma velocidade que, por fatores políticos, não condiz com esses debates. A instabilidade
política vivida nos períodos de 2014 e 2018 fez com que o documento em debate fosse “acelerado” e
“fatiado”, por ser considerado uma demanda urgente.
Dito isso, a opção por uma construção verticalizada, com ares de participação foi a ação adotada pelo
Conselho e pelo Ministério da Educação. Pode-se aqui afirmar que não houve consenso nem mesmo dentro
do próprio CNE que, ao aprovar o relatório da BNCC, teve pedido de vistas por três conselheiras que votaram
contra o relatório e apresentaram um parecer alternativo respaldado por entidades de classe e sindicais dos
trabalhadores da educação básica.
Nesse parecer, alertava-se que propostas construídas desde os anos 80 e 90 já constituíam avanços no
delineamento de concepções político-pedagógicas para todas as etapas e modalidades da educação
básica.
Essas conselheiras defendiam que seria necessário, em primeiro lugar, delinear um marco de referência que
representasse todas as concepções, as utopias, os sonhos e os princípios educacionais desejados e
definidos coletivamente. E ainda:
Mais do que números, é fundamental uma interpretação qualificada. É preciso
conhecer o que nos revelam os dados e os micro dados para a elaboração de
um verdadeiro diagnóstico da educação. É preciso, ainda, refletir sobre o que
está sendo realizado, o que é desejável e necessário para as crianças, os
adolescentes, os jovens e os adultos do nosso país. As concepções,
alicerçadas em princípios educacionais, a serem amplamente debatidas, se
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articulam aos sonhos, as utopias de resgate da dívida histórica do Estado
brasileiro para com a educação nacional e, nesse caso, para a definição dos
objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. A construção desses
referenciais deve se efetivar de forma republicana. Não é incomum a adoção
de medidas imediatistas, desvinculadas de um planejamento pautado em
marcos de referência e nos diagnósticos, como é o caso da BNCC, que desde o
seu início privilegia um conjunto de conteúdos e objetivos sem o fundamental
suporte de uma referência que deixe claro o projeto de nação e educação
desejadas.
(AGUIAR; DOURADO, 2018, p. 14)
Ao fazer a opção pela votação de uma proposta construída pela Fundação Carlos Alberto Vanzolini,
especialmente contratada como consultora para fazer toda a consolidação das propostas que deveriam ser
incorporadas à terceira versão, o MEC se viu em uma situação de contradição: em prol da educação e da
aceleração da reforma, esvaziou o protagonismo dos professores e de todos os profissionais da educação
envolvidos nas discussões até então.
As conselheiras denunciaram em seu parecer que sequer puderam ter acesso aos documentos
sistematizados para que pudessem confrontá-los com o documento que seria apreciado e depois aprovado
pelo Conselho.As conselheiras denunciaram em seu parecer que sequer puderam ter acesso aos
documentos sistematizados para que pudessem confrontá-los com o documento que seria apreciado e
depois aprovado pelo Conselho.
A reforma curricular como parte da reforma neoliberal
Numa análise do documento do Banco Mundial, publicado em 2018, está explícita a ideia da necessidade de
reformas educacionais a partir da relação educação e desenvolvimento econômico. No relatório chamado
Aprendizagem para realizar a promessa da educação, o aspecto econômico é colocado como benefício tanto
individual como social da educação:afirma-se que a educação é um instrumento poderoso para a ampliação de renda,
tornando os trabalhadores mais produtivos ao dar-lhes habilidades que permitem que
eles aumentem o seu desempenho (BANCO MUNDIAL, 2018).
Essa é a mesma reflexão que encontramos aqui:
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No nível nacional a educação sustenta o crescimento. O capital humano pode
impulsionar o desenvolvimento de duas formas: primeiro ao melhorar a
capacidade de absorver e se adaptar a novas tecnologias, que afeta o
crescimento de curto e médio prazo; segundo, ao catalisar os avanços
tecnológicos que conduzem o crescimento sustentável de longo prazo.
(CÁSSIO, 2019, p. 54)
Esse enfoque, sempre difundido por organismos internacionais e fundações empresariais, está diretamente
relacionado à questão das competências para o mundo do trabalho. Portanto, essa formação técnica
profissionalizante é que vai dar a possibilidade para essa entrada rápida, numa qualificação aligeirada para
as necessidades do mercado.
Exemplo
A capa do Jornal O Globo de 4 de julho de 2021, ilustra bem essa demanda, ao estampar a seguinte matéria:
“País vive ‘apagão’ de pessoal com formação técnica. Já na matéria, consta que o “desemprego é recorde,
mas empresas não encontram pessoal qualificado” e o jornal aponta o motivo pelo qual tantas entidades
empresariais apostam num currículo por competências.
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI) faltarão 300 mil profissionais nos próximos dois anos
e o Brasil só deverá alcançar 106 mil dos 401 mil necessários até 2023. No Brasil, segundo a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, somente 11% dos estudantes se formam no ensino
técnico. Na média da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne 38
países desenvolvidos, a parcela é de 42%. E o que o PNE fala da educação profissional técnica de nível
médio?
A Meta 11 determina que o Brasil deveria triplicar a matrícula, assegurando a
qualidade da oferta a pelo menos 50% dos estudantes no seguimento público até
2024.
Essa trágica realidade se agrava com a aprovação da reforma do ensino médio, por meio da Lei nº 13.415,
de 16 de fevereiro de 2017, e a posterior BNCC para esse nível de ensino. Nessa reforma, a educação
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profissional está inserida nos “itinerários formativos”, apresentada pela propaganda governamental à época
como uma opção que o aluno poderá fazer na sua formação. Veja, a seguir, uma imagem da propaganda.
Captura de tela do vídeo de propaganda do MEC.
Atenção
O que a propaganda não informa é que as únicas disciplinas obrigatórias serão, daqui para frente, língua
portuguesa e matemática. Também não especifica que, na falta de professores, serão aceitos profissionais
sem formação docente para lecionarem disciplinas dos tais itinerários profissionalizantes e, ainda, que 30%
do ensino médio poderá ocorrer à distância.
Essa receita já foi testada em reforma anterior, que tornou obrigatório o ensino profissionalizante, com
justificativas semelhantes, de formação de mão de obra para as necessidades do mercado. Qual foi o
resultado?
Escolas de excelência foram criadas para alguns, como as escolas técnicas federais
e alguns projetos de escolas estaduais. Depois de alguns anos, muitos laboratórios
dessas escolas foram abandonados porque as verbas de manutenção nunca
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chegavam e as aulas práticas ficaram cada vez mais distantes dos sonhos de uma
formação profissional integral.
Hora do con�ito
Há, portanto, diferentes perspectivas e posicionamentos diante dessas reformas. Vejamos uma
contraposição dessas visões.
De um lado:
Entende-se que a reforma transforma o ensino em um mercado escolar, em que o professor passa a ser um
tutor, o diretor será o gestor gerente, enquanto outros profissionais como psicólogo, fonoaudiólogo,
coordenador, supervisor, inspetor de aluno, serventes e merendeiras, são dispensáveis ou terceirizados. Já o
projeto político-pedagógico, construído democraticamente pela comunidade escolar, agora será um
itinerário formativo, definido pela escola e por seus gerentes. Nessa visão, os alunos são clientes que agora
consumirão a mercadoria aprendizagem por competência.
Do outro lado:
Se as escolas fazem parte dos sistemas sociais e se as pessoas passam a identificar a educação como um
bem e desejam pagar por esse bem, nada tem mais sentido do que promover uma reforma de eficiência,
trazendo fundamentos da gestão para o ambiente escolar. O Estado continua a lidar com a educação como
um direito, mas também tentará ser mais eficiente e mais adequado às demandas de mercado, afinal, a
educação tem um fim — nesse ponto de vista — de inserção educacional.
Quem está certo? Depende de como você vê a questão, ambos os lados têm seus argumentos.
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A centralidade e a centralização da BNCC
Muitos autores (CÁSSIO, 2019; AGUIAR; DOURADO, 2018) concordam que a base é, antes de tudo, uma
política de centralização curricular, o que não é novo no Brasil. Analisando o tópico sobre as bases legais,
podemos perceber que, desde a Lei de Diretrizes e Bases, a centralização curricular já era tida como um
pressuposto para a melhoria da qualidade do ensino.
É a partir desse pressuposto e do processo de globalização que se insere a
necessidade de controlar para que seja possível avaliar, premiar e punir aqueles que
serão responsáveis pelo sucesso ou pelo fracasso da educação ao final.
Logomarca do grupo Todos pela Educação.
O movimento Todos pela Educação, criado formalmente por empresários em 2006, assumiu, em 2014, a
qualificação jurídica de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) e está no cerne do
Movimento pela Base. Este, formado em 2013, reúne também a Fundação Lemmann, a Fundação Roberto
Marinho, os Institutos Ayrton Senna, o Unibanco, a Natura e a Inspirare, bem como economistas, consultores
de materiais didáticos e especialistas em avaliações em larga escala.
Comentário
O Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de
Educação (Undime) trouxeram a representatividade e a “legitimidade” das redes de educação, tão almejadas
pelo Movimento pela Base.
Todas essas instituições que compõem o Movimento pela Base representam um grande poder econômico e
político do país. São elas as responsáveis por “patrocinar” muitas políticas e processos de privatização e
terceirização de serviços públicos, travestidos de parcerias público-privadas realizadas em parceria com o
Consed e com a Undime.
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Ao mesmo tempo, o financiamento público vem diminuindo, principalmente após a aprovação da reforma do
teto dos gastos (BRASIL, 2016), por meio da PEC 55 de 2016 — chamada pelos críticos de “PEC do fim do
mundo” —, que congelou os investimentos públicos por 20 anos por medida de economia ou por redução da
ação do Estado.
Atenção
Isso significou um corte abrupto em todos os investimentos públicos, mas as maiores perdas com certeza
são na educação e na saúde do país.
Hora do con�ito
Há, portanto, diferentes perspectivas e posicionamentos diante dessas ideias. Vejamos uma contraposição
dessas visões.
De um lado:
A apropriação dos fundos públicos por entes privados pode serverificada pelas consultorias,
apostilamentos e venda de livros ao PNLD, pois o MEC é o maior comprador de livros do país. Em muitos
sistemas de educação, empresas com materiais e cursos formatados oferecem esses materiais aos
professores para que o consumo seja imediato. Também não é difícil encontrar, na Internet, diferentes PPPs
formatados, adequados a diversas realidades e prontos para serem utilizados, em que a rede se ensino não
atue na sua organização. Em todos os casos, o professor é desconsiderado e deve apenas seguir as
prescrições das apostilas e dos livros didáticos adotados.
Do outro lado:
A introdução de temáticas relativas à gestão busca tornar eficientes as escolas e os modelos, de modo a
facilitar a burocracia para que as escolas possam tomar as decisões dentro do ponto de vista pedagógico.
O princípio democrático não é rompido pela disponibilização de modelos; a forma como cada uma das
escolas vai trabalhar e mobilizar esses conhecimentos é que vai definir o resultado. É a lógica da autonomia
e busca de eficiência dos estados e dos seus custos. Cabe ao Estado monitorar, acompanhar, direcionar e
cobrar os que não fazem o processo com eficiência.
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Diretrizes nacionais e currículos locais
Neste vídeo, você conhecerá a proposta de diretriz nacional pela ótica dos currículos locais e
especificidades regionais do país.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Contextualizando Currículo
1:16 min.
PNLD
1:26 min.
MÓDULO 1
Vem que eu te explico!




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Contextualizando Currículo
1:16 min.
PNLD
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Considere o seguinte texto:
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é intensamente debatida, por ser considerada uma valorização
da educação privada em detrimento da educação pública. Se, originalmente, a proposta de uma base
comum sugeria princípios democratizantes interessados em garantir isonomia curricular a todas as escolas,
independentemente das desigualdades regionais, as questões propostas por técnicos e docentes foram
atropeladas por interesses políticos.
Levando em conta os diversos momentos do processo de discussão da BNCC que nos ajudam a
compreender por que a base é enxergada de forma tão controversa, assinale a alternativa que apresenta
dois elementos presentes nas discussões.
A
A influência de grupos como o Movimento pela Base, que foi um grande articulador na
constituição da BNCC, e o documento do Banco Mundial, que aponta a necessidade de
reformas educacionais.
B
A terceira versão da BNCC, concebida integralmente pelo MEC, e o afastamento do
documento do Banco Mundial, que aponta a necessidade de reformas educacionais.
fi

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C
A aprovação do relatório final após a análise, por todos os conselheiros, das contribuições
das Audiências Públicas regionais, e a proposta de aprendizagem por competências,
associada ao futuro do trabalho.
D
A terceira versão da BNCC, concebida integralmente pelo MEC, e a proposta de
aprendizagem por competências, associada ao futuro do trabalho.
E
O grupo Movimento pela Base como um grande articulador na constituição da BNCC e a
aprovação do relatório final após a análise, por todos os conselheiros, das contribuições
das Audiências Públicas regionais.
Parabéns! A alternativa A está correta.
Podemos citar como aspectos que confirmam a afirmativa do autor o fato de a BNCC ter tido
como grupo articulador o Movimento pela Base e as indicações presentes no documento do
Banco Mundial. O Movimento pela Base é formado por entidades e associações empresariais,
que produziu farto material para os sistemas educacionais, inclusive cursos de capacitação para
professores e gestores, antes mesmo da aprovação do texto. No mesmo sentido, o documento do
Banco Mundial afirma a necessidade de reformas educacionais para o desenvolvimento que
atendam o mercado produtivo. Diferentemente do que afirmam as alternativas, a terceira versão
do documento da BNCC foi concebida por uma fundação privada, especialmente contratada para
consolidar o documento a partir das sugestões enviadas por consulta pública, e a aprovação do
relatório final ocorreu de forma abrupta, sem que os conselheiros pudessem analisar as
contribuições das Audiências Públicas regionais. Com isso, houve parecer em separado de três
conselheiros sobre o que consideraram antidemocrático. A BNCC propõe a aprendizagem por
competências, ferramenta importada da produção para introduzir a adaptabilidade e a
flexibilidade necessárias ao futuro do trabalho.
Questão 2
Ao estabelecer uma base nacional comum curricular, educadores, entidades e movimentos em defesa do
direito à educação acreditam que
A
a legislação em vigor determina um currículo nacional único, o que impede que as escolas
elaborem seus próprios currículos.
B
a legislação em vigor determina diretrizes nacionais, e os sistemas e as escolas devem
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elaborar seus currículos.
C
a legislação em vigor não determina um currículo nacional único e, dessa forma, é
responsabilidade das escolas elaborarem seus currículos.
D
a legislação em vigor determina um currículo de acordo com cada região, e as escolas
elaboram seus currículos de acordo com essas diretrizes.
E
a legislação em vigor, apesar de não determinar um currículo nacional único, tampouco
diretrizes regionais, define metas para que as escolas elaborem seus currículos.
Parabéns! A alternativa B está correta.
Os educadores, as entidades e os movimentos em defesa do direito à educação acreditam que a
legislação em vigor, quando traduz a necessidade de uma base comum curricular, não determina
que exista um currículo nacional único, mas que haja diretrizes nacionais e que os sistemas e as
escolas possam elaborar seus currículos democraticamente.

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2 - Propostas curriculares na BNCC
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer as propostas curriculares hegemônicas
na BNCC.
BNCC – um conceito e diferentes entendimentos
Os defensores da base, que são também os defensores de todas as políticas de centralização curricular
desde os anos 80, afirmam que existe a necessidade de melhoria urgente da qualidade da educação. Eles
defendem que esse avanço seria possível a partir da garantia da aprendizagem, isto é, é preciso ter um
controle sobre o que se ensina de forma a garantir o que é ensinado.
À vista disso, são utilizadas as avaliações em larga escala, o que significa a implementação de políticas
públicas que versam sobre o controle de informação e a produção de dados.
Hora do con�ito
Há, portanto, diferentes perspectivas e posicionamentos diante dessas ideias. Vejamos uma contraposição
dessas visões.
De um lado:
Desloca-se o processo do ensino para a metrificação da aprendizagem. Todo o conhecimento acumulado
dos projetos desenvolvidos pelas escolas ao longo dos anos é deixado de lado em detrimento de uma linha
comum. Essa política apenas camufla e desvirtua os verdadeiros problemas vividos pela educação
brasileira, que são o subfinanciamento e a privatização que vem ocorrendo ao longo dos anos.
Do outro lado:
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Para que o governo possa mensurar o investimento e criar uma política pública institucional, é defendida a
comparação e a construção de um projeto nacional, com passos relativos aos planos nacionais, aos
sistemas de avaliação nacional, às formas de investimento e ao controle desses investimentos.
Em se tratando de análise de políticas públicas, especialmente no âmbito da Educação no contexto
brasileiro, é fundamental que tenhamos posicionamentos díspares, que auxiliem a nossa análise.
Provavelmente muitos de nós podem entender (e até estar vivenciando essa realidade) da privatização da
educação como possibilidade real de inclusão, em um país continental como o nosso.
Quem está certo? Depende de seu ponto de vista.
A BNCC tornou-se recentemente o carro chefe dos debates da educação brasileira. Essa base impacta
diretamente todas as outras políticas direcionadas aos currículos escolares, quais sejam:
A formação dos pro�ssionais da educação.
O papel que as universidades têm assumido na formação docente.
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Os processos de avaliação das escolas e dos sistemas de ensino.
As compras governamentais de livros didáticos, por meio do PNLD.
A política pública de formação de professores, conforme mencionado acima, é um excelente exemplo desse
impacto. Em decisão do Conselho Nacional de Educação, uma nova diretriz foi organizada pelo seu
Conselho Pleno, a Resolução nº 2 de 1º de julho de 2015, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais
para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para
graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada.
Publicada quase simultaneamente à BNCC, seu elemento mais importante é a valorização da prática
relacionada aos cursos de licenciatura, passando a ser chamados de Formação de Professores. As
instituições de ensino tinham dois anos para se adequar e pediram o adiamento por duas vezes, até que, em
dezembro de 2019, uma nova legislação que garantia o diálogo com a BNCC foi publicada. Veja, a seguir.
Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação
Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação
Básica (BNC-Formação).
O Presidente do Conselho Nacional de Educação, no uso de suas atribuições legais e
regulamentares, tendo em vista o disposto no § 1º do art. 9º e no art. 90 da Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996 (LDB); no § 1º do. art. 6º e no § 1º do art. 7º da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro
de 1961, com a redação dada pela Lei nº 9.131, de 25 de novembro de 1995; e com fundamento no
Parecer CNE/CP nº 22, de 7 de novembro de 2019, homologado pela Portaria MEC nº 2.167, de 19 de
dezembro de 2019, publicada no DOU de 20 de dezembro de 2019, Seção 1, pág. 142,
Resolução No 2, de 20 de dezembro de 2019 
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CONSIDERANDO que: O § 8º do. art. 62 da LDB estabelece que os currículos dos cursos da formação
de docentes terão por referência a Base Nacional Comum Curricular (BNCC-Educação Básica); A Lei
nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, em seu art. 11, estabelece o prazo de 2 (dois) anos, contados
da data de homologação da BNCC-Educação Básica, para que seja implementada a referida
adequação curricular da formação docente; O § 1º do art. 5º das Resoluções CNE/CP nº 2, de 22 de
dezembro de 2017 e CNE/CP nº 4, de 17 de dezembro de 2018, entre outras disposições, estabelece
que a BNCC Educação Básica deve contribuir para a articulação e coordenação das políticas e ações
educacionais em relação à formação de professores; As aprendizagens essenciais, previstas na
BNCC-Educação Básica, a serem garantidas aos estudantes, para o alcance do seu pleno
desenvolvimento, nos termos do art. 205 da Constituição Federal, reiterado pelo art. 2º da LDB,
requerem o estabelecimento das pertinentes competências profissionais dos professores; O
Ministério da Educação (MEC) elaborou, em 2018, a ‘Proposta para Base Nacional Comum da
Formação de Professores da Educação Básica’, encaminhada ao Conselho Nacional da Educação
(CNE) para análise e emissão de parecer e formulação da resolução regulamentando a Base
Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica, resolve:
(BRASIL, 2020)
Perceba pelo texto como a formação de professores passa a ser complexa e focada na BNCC. Portanto,
sendo críticos ou não, precisamos conhecê-la de maneira fundamentada, mas entendendo os seus
impactos no cotidiano dos alunos.
Hora do con�ito
É possível dizer que essa base comum visa estabelecer uma diretriz central, buscando evidenciar um caráter
de competência “gerencial” das nossas escolas. A questão principal é: ser nacional significa desconsiderar
as características regionais? Como podemos discutir essas questões?
De um lado:
A BNCC é uma proposta de um currículo único em âmbito nacional, para que todas as escolas ofereçam o
mesmo conteúdo programático. Esse objetivo é questionado, pois essa pretensão objetiva que as metas de
aprendizagem serão garantidas, mas oculta a problemática da desigualdade social associada à educação.
Há desigualdades no sistema educativo por muitos aspectos sócio-econômicos, e opositores entendem que
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não é necessário que todas as escolas tenham o mesmo currículo. O currículo precisa fazer sentido
contextualmente e atender demandas e necessidades heterogêneas. (LOPES, 2018, p. 25). Neste sentido, a
desigualdade e diversidade no brasil pode ser reforçada por um currículo único.
Do outro lado:
A Base Nacional Comum Curricular é uma demanda nacional histórica, prevista na LDB, uma demanda de
um país profundamente desigual em que as oportunidades e a circulação interna não se colocam da mesma
maneira para todos. Não é possível o desenvolvimento econômico e social, assim como as melhorias de
condição média, sem uma política pública que permita o acesso e a circulação dos seus cidadãos a uma
formação de qualidade. A criação de uma base visa garantir a aquisição das competências e habilidades
por todos os alunos do país. Assim, sua necessidade é inquestionável a um projeto nacional e uma crítica
no sentido da sua destruição é frágil e equivocada.
Quem está certo? De alguma forma, ambas as perspectivas resultam de uma preocupação com os alunos e
isso é louvável. A BNCC é uma demanda, de fato, em prol de crianças e jovens.
Seu problema diz respeito à extensão dessa base, pois a maneira que foi definida, por
conta de uma excessiva tendência ao controle, fez com que um documento que se
pretendia norteador se estendesse de tal forma que permite pouca adaptação.
Comentário
Ainda nesse ponto, cabe lembrar que uma política pública de educação não tem efeitos imediatos e também
não há uma previsão de todos os seus efeitos. É a partir da sua implementação, com muitas fases de
adaptação e discussão, que será possível avaliar sua efetividade. Por isso, provocamos o tempo todo essas
posições amplas e contraditórias sobre o assunto.
A questão da qualidade da educação e o custo aluno-
qualidade como balizador
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Vamos conceituar: o que é qualidade? Antes da implementação dos modelos neoliberais na educação,
muito se falava que as escolas, em especialas escolas públicas regulares, tinham qualidade.
Comentário
Nesse modelo, a qualidade educacional era o resultado dos alunos e o que eles conseguiam a partir dali,
mas essas escolas eram limitadas, excludentes, pois seguiam uma linha que expulsava e não incluía: uma
escola de qualidade para pouquíssimos.
Foram as medidas neoliberais que permitiram o crescimento do volume de alunos, consolidando números
impressionantes de inserção escolar ao longo das décadas de 1980 e 1990. No entanto, juntamente com
esse aumento, potencializou-se um processo de fragilização da carreira docente — iniciado antes dos anos
de 1970 —, em especial no que diz respeito ao retorno financeiro e às condições materiais. Assim, esse
processo de popularização foi avassalador para a lógica da “qualidade” nos resultados e nas condições
materiais.
Diante dessa expansão da educação, mesmo antes da publicação da BNCC, as
políticas públicas de currículo passaram a funcionar como garantidoras de condições
ou de entregas mínimas, com foco em elementos conteudistas e centralizadores.
A partir da perspectiva de que a educação precisava ser medida, foram implementadas práticas de gestão e
sistemas de avaliação internacionais, que alçaram a educação pública ao olhar do senso comum como um
grande fracasso.
Esse olhar cruel e seus impactos negativos precisam ser discutidos, pois geram até mesmo um receio
dessas políticas públicas: como um efeito dominó, a maioria dos sistemas tem adotado avaliações em larga
escala que fazem enxergar as suas atuações como problemáticas e frágeis, um desafio que chega ao senso
comum como um problema, e não como algo importante e fundamental à sociedade.
A unificação de currículos se torna, portanto, condição para que as avaliações em larga escala ocorram,
segundo um mesmo padrão de ensino adotado em todos os sistemas e em todos os países.
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Hora do con�ito
E quais os problemas desse tipo de avaliação? Será mesmo que a avaliação produz um diagnóstico para o
planejamento ou replanejamento das ações pedagógicas e políticas públicas? Ou a avaliação somente
estabelece um padrão de competitividade entre sistemas, escolas, professores e alunos, candidatos ao
mercado também competitivo?
Por um lado:
Podemos afirmar que, nesse tipo de avaliação, não se considera as condições de trabalho dos educadores.
Sabemos que muitos professores e demais profissionais da educação não são remunerados dignamente e
atuam em salas de aula lotadas, sem equipamentos básicos e sem acesso às tecnologias, dentro de
escolas com estruturas físicas que não comportam todas as necessidades de estudo, lazer, pesquisa e
acolhimento. Todas essas questões são fundamentais quando pensamos no processo de ensino-
aprendizagem com qualidade.
Por outro lado:
Só conseguimos mensurar as necessidades das escolas quanto às suas condições materiais medindo e
verificando os avanços a partir da ampliação dos investimentos. Assim, é possível notar como as aulas e os
espaços podem ser melhorados. As relações de competitividade fazem parte da sociedade, inclusive na
área de ensino-aprendizagem: o aluno vai concorrer, disputar vagas, logo, as escolas tentarem ser mais
competentes e cuidadas contribui para desenvolver projetos.
No tocante aos investimentos em educação, algumas questões são colocadas: quanto tempo demora para
melhorar o sistema? Quanto custa formar um aluno? Há quem defenda que a educação não deve ser
discutida dessa forma, que a melhoria é um processo institucional; outros vão utilizar termos como “saco
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sem fundo”, justificando que o investimento público na educação é via de regra perdido, não se sabe onde
foi aplicado.
Um conceito importado e adaptado no século XXI, chamado custo aluno-qualidade, que considera as
métricas educacionais e as comparações sobre o custo da educação, está incluído nas metas
internacionais.
Comentário
O conceito custo aluno-qualidade continuou a ganhar força nos textos do PNE 2014, quando diz que os
padrões mínimos de qualidade têm de estar relacionados a insumos necessários para a realização do
trabalho educativo.
E que insumos indispensáveis seriam esses?
Quanto à valorização dos pro�ssionais da educação:
1 – Cumprimento da lei com o pagamento de Piso Nacional Salarial para todos os professores.
2 – Existência de uma política nacional para a carreira do professor, com plano de cargos e salários.
3 – Condições de trabalho com relação adequada de número de alunos por turma.
4 – Política de formação continuada.
Quanto à estrutura das escolas:
1 – Espaços físicos com luz, água e esgotamento sanitário — embora pareça óbvio, a realidade
brasileira mostra outra coisa.
2 – Biblioteca, quadra de esportes coberta, laboratório de informática e de ciência, e Internet banda
larga.
Saiba mais
Falando sobre a realidade brasileira: “O Censo Escolar 2017, lançado nesta quarta-feira (31), pelo Ministério
da Educação (MEC), mostra que as escolas brasileiras ainda têm deficiências quando o quesito é
infraestrutura. No caso das escolas que oferecem ensino fundamental, apenas 41,6% contam com rede de
esgoto, e 52,3% apenas com fossa. Em 6,1% delas, não há sistema de esgotamento sanitário. Nas escolas

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de ensino fundamental, a garantia de água ocorre por meio da rede pública de abastecimento na maior parte
dos casos (65,8%), mas há as abastecidas por poço artesiano (17,4%); cacimba, poço ou cisterna (11,9%) ou
diretamente por rios, córregos ou outros canais (6,2%). Em 10% delas, não há água, energia ou esgoto.”
(MARTINS, H. Censo aponta que escolas públicas ainda têm deficiências de infraestrutura. Agência Brasil,
31 out. 2018. Consultado na internet em: 11 ago. 2021.)
O que os números do Censo Escolar 2017 demonstram e qual sua relação com a política pública de
currículo?
As políticas públicas atuam em meio a debates complexos, mas são direcionamentos que visam
construir projetos de longa duração, organizando um fim que atenda aos anseios sociais. É
importante destacar, nesse sentido, que as políticas públicas da educação brasileira não são
produtos de um governo, são demandas históricas, fruto de grupos que debatem e fazem acúmulos,
ainda que cada conjunto dos poderes executivos gere seu próprio direcionamento.
Ao longo dos últimos trinta anos no Brasil, presenciamos um desenvolvimento da educação de
cunho neoliberal, que aponta para uma valorização como direito fundamental, de um lado, e também
como um conjunto que precisa ser gerido, regulado e estruturado pelos entes federativos. Sua
métrica central é a capacidade de avaliação; seu parâmetro de qualidade, a comparação; e seu
princípio, o da ampliação do número de alunos, na idade escolar apropriada, com a garantia de
insumos mínimos para funcionamento e de investimentos para sua melhora.
A base de observação do BNCC busca garantir valores necessários para sua manutenção, estudos do custo
e como ser possível atingir a qualidade mensurável dos resultados da educação nacional. As políticas de
currículo, então, criaram parâmetros de qualidade, estabelecendo habilidades e competências que os alunos
devem ter ao concluir cada uma das etapas.
Esses parâmetros, entretanto, não limitam a atuação dos espaços educacionais, afinal, tais políticas
públicas estão fundamentadas no princípio da gestão democrática dos sistemas e das escolas, de modo
que seus currículos carreguem as características vinculadas à regionalidade e às decisões tomadas pela
sua comunidade.
Atenção
O problema reside no limite entre aquiloque é determinado pelos conjuntos administrativos relacionados
com a educação e o que as escolas podem efetivamente realizar. O Estado estabelece métricas mínimas
em vários aspectos, desde políticas de acesso e permanência dos estudantes até as divisões de
responsabilidade pela educação.
Resposta 
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Uma outra questão se coloca: qual a relação entre o “currículo” estabelecido pelo Estado e a qualidade que
se deseja obter?
Retornando ao início da discussão, quando falamos em qualidade na educação, destacamos que a
qualidade envolve uma série de adjetivações, o que traduz também diferentes respostas às perguntas que já
fizemos aqui: qual educação queremos para o Brasil? Assim, o termo qualidade está em disputa na
sociedade. Para cada resposta, temos uma solução diferenciada. E nesse contexto aparece a BNCC, vendida
como solução para uma qualidade almejada.
A qualidade foi de�nida no Plano Nacional de Educação
O Plano Nacional de Educação, aprovado em 2014, estabeleceu o planejamento da política de Estado num
período de 10 anos, portanto, deveria ser o balizador de todas as políticas educacionais. Há, entretanto, um
grande problema:
o PNE não aparece como prioridade nas políticas públicas de educação, nem mesmo
como parte da formulação da BNCC.
Considerando as metas previstas pelo PNE, o seu cumprimento traria benefícios efetivos para o sistema e
para os profissionais que nele atuam, assim como possibilitaria a melhoria da infraestrutura das escolas e,
consequentemente, da qualidade da educação.
A prioridade do governo federal em relação à meta 2 do PNE é amplamente criticada por profissionais da
educação por ter sido posta em prática de forma desarticulada. Um bom exemplo da crítica se dirige ao seu
próprio fatiamento: as BNCCs da educação infantil e do ensino fundamental foram aprovadas
separadamente da BNCC do ensino médio.
Comentário
Os demais itens do Plano — que devem ser lidos por todos estudantes da área da educação — não
aparecem como centrais nos grandes debates atuais da educação. O currículo nacional, ou a base de um
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currículo nacional, tornou-se a iconografia máxima da própria política pública.
Hora do con�ito
Há, portanto, diferentes perspectivas e posicionamentos diante dessas ideias. Vejamos uma contraposição
dessas visões.
De um lado:
Profissionais da educação críticos ao método como foi formulada a BNCC afirmam que o texto aprovado no
CNE, supostamente construído democraticamente, foi um simulacro de participação. No primeiro momento
de participação pública, segundo o MEC, houve mais de 12 milhões de contribuições à primeira versão da
BNCC, em 2015. Entretanto, não foi explicitado que essas contribuições, na sua maioria, vieram de um
questionário em que cada pessoa teria apenas que dizer se concordava, concordava plenamente,
discordava ou discordava plenamente.
Do outro lado:
As participações, que, de fato, mobilizaram os professores, formaram um campo de conflito intenso. Uma
dificuldade enfrentada pela comissão era como mediar as participações de conjuntos tão grandes,
encontrando na adoção de formulários que permitiam comentários a possibilidade de gerar caminhos em
uma primeira fase de debates. Nesse sentido, a ideia de participações quantitativas tornava possível a
medição. A comissão entendeu que havia um preço em propor um debate com um número tão grande de
profissionais, logo, era melhor estabelecer desenhos institucionais a partir das contribuições quantitativas.
Vamos entender o debate?
A educação brasileira tem como pressuposto indiscutível a democracia e, portanto, a possibilidade de
participação pública. Ao mesmo tempo, tem um forte viés para criar mecanismos de gestão a fim de
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fundamentar um projeto nacional, marcado como um direcionamento nacional essencial.
A criação do documento a partir de uma consulta pública faseada foi inquestionavelmente um grande
avanço para a formulação de políticas públicas, que, ao longo da história, foram elaboradas dentro dos
gabinetes. Contudo, há esse desafio da própria democracia em lidar com vozes e valores tão diversos,
marcados por conflitos e interesses muito complexos.
A segunda rodada de contribuições da LDB foi marcada pela organização de comissões e reuniões
regionais, que resultaram em contribuições as quais demonstraram uma imensa dificuldade de gerar
parâmetros como o desejado. Discussões sobre história, letras e geografia geraram nas instituições
verdadeiros campos de batalha. Reduzir era entendido como assumir o risco de apagamento e ampliar o
risco de unificação, enquanto os processos, fundamentais à educação brasileira, eram, ao mesmo tempo,
tidos como uma dor de difícil superação.
As participações da segunda versão, quando o Conselho Nacional de Educação promoveu audiências
regionais em todo o Brasil, e o relatório apresentado para aprovação no CNE apontavam para a necessidade
da continuação dos debates, o que gerou uma enorme pressão política para os direcionamentos
necessários. Há aqui uma grande tensão:

Parte dos grupos defende que essas contribuições não foram incorporadas à versão final.

Alguns participantes alegam que houve o apagamento dos debates.

O governo alega que os debates foram construções vitais, mas era necessária uma decisão de governo, de
implementação.
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Nesse ínterim, houve mudanças substanciais na composição do CNE e do Fórum Nacional de Educação. A
terceira versão apresentada para a votação no CNE surge depois da contratação da Fundação Vanzolini.
Novamente, alguns segmentos defendem que a versão final foi organizada para que as decisões fossem
contempladas, outros alegam que foi um atropelamento de um processo que fora então constituído. Veja, a
seguir.
Ensino Fundamental
Com o compromisso de nortear as demais políticas geradas a partir de então, a Base Nacional Comum
Curricular para o ensino fundamental foi definida e publicada separadamente, de forma ímpar, por Rossieli
Soares da Silva. No texto introdutório do documento, é reforçada a participação multidisciplinar, e o
documento está voltado às expectativas de desenvolvimento econômico e de aprendizagem. Seu olhar é
construído em pilares fundamentais: objetivos claros, habilidades e competências como princípio e
compreensão de que ela é norteadora, uma base.
Ensino médio
Quanto ao ensino médio, o processo passou por uma dinâmica apartada. Enviada ao Congresso por meio de
Medida Provisória nº 746/2016, a Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, alterou a LDB para reformar todo
o ensino médio. Com tantos jovens terminando o ensino fundamental, seria necessário que os governos
estivessem se preparando para recebê-los no ensino médio. Entretanto, a juventude, por vezes, é encarada
pela mídia e pelo senso comum como o lugar dos problemas, e isso esteve visível por anos em políticas de
financiamento da educação voltadas apenas ao ensino fundamental. Assim, a invisibilidade desse nível de
ensino aliado ao descompromisso e à mitigação dos orçamentos públicos ao longo do tempo, fez com que
a juventude fosse abandonada à própria sorte e aos impulsos mercadológicos para venda de soluções
fáceis e mobilizadoras.
Essa lei da reforma do ensino médio precedeu a BNCC, para que a base, que foi discutida no CNE e
aprovada de maneira acelerada já considerasse a reforma.
Hora do con�ito
Há, portanto, diferentesperspectivas e posicionamentos diante dessas ideias. Vejamos uma contraposição
dessas visões.
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De um lado:
Enquanto todas as universidades debatiam sobre suas necessidades e sobre as características da BNCC
para o ensino médio, os debates foram interrompidos, as comissões, desfeitas. A publicação vinculada à
chamada reforma do ensino médio decretava o fim de muitas disciplinas fundamentais e tradicionais para
os alunos. Críticos entendem que ideias como o ensino por pessoas com “notório saber” são deturpações
que restringem o conhecimento docente a um conteúdo meramente conteudístico e técnico, assim como
desvalorizam de maneira definitiva e vergonhosa os docentes.
Do outro lado:
Notou-se um corporativismo e uma resistência à mudança, com áreas e cursos temendo a redução de
postos de trabalhos, o que demonstrou que a preocupação não estava centrada nos alunos. A mudança era
necessária, isso é ponto pacífico, mas sem uma ação efetiva para que essa mudança ocorresse, seria
impossível. A título de exemplo, podemos citar áreas como Letras e História, que discutem rompimentos
com o pensamento colonial, mas, em uma abordagem decolonial, propõem a manutenção de estruturas
tradicionais em suas diretrizes, cursos e, consequentemente, no ensino escolar.
Quem está com a razão? Essa questão é dificílima. A política tem um tempo diferente dos debates
acadêmicos, enquanto a gestão e a economia muitas vezes não dialogam com o que é realmente
necessário ao aluno.
Temos aqui uma das chaves para o debate: o currículo deve ser garantidor, isto é, prever o essencial, e são
as instituições de ensino que decidem, com a comunidade e de forma democrática, como será o seu
currículo. Por outro lado, o histórico de nossas decisões, as características do mercado e a resistência ao
investimento na educação, por parte da sociedade, criam um clima de projeto de desmonte e fragilização.
Resumindo
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Trabalhou-se para vencer currículos cristalizados, que formaram alunos sem objetivos, que se sentiam
despreparados ao sair da escola e consideravam enfadonho e desnecessário boa parte do que estudaram.
Ao estabelecer os itinerários formativos, a reforma e a BNCC trouxeram finalmente a valorização do aluno,
com o direito de escolha e o direcionamento de gostos e valores, modernizando o ensino médio.
É visível que mais ficar como estava e que, com essas políticas, temos problemas e avanços, logo,
correções de rumos e debates ainda precisarão ser realizados.
As razões daqueles que defendem a BNCC
Após compreendermos um pouco o contexto em que foi aprovada a BNCC, vamos entender agora os
pressupostos daqueles que defendem a proposta aprovada e regulamentada pelo MEC.
Inicialmente, parte-se da análise de que a educação brasileira vai mal e entende-se a educação como a
ponte para o desenvolvimento. Somos um país com profundas desigualdades e todos os índices que
avaliam a performance dos estudantes brasileiros nos colocam numa posição muito inferior aos países com
mesmo nível de desenvolvimento. Nesse sentido, faz-se necessária a reorganização e reestruturação das
escolas e de seus currículos, a fim de promover a equidade e a igualdade na educação.Dessa forma,
pretende-se reverter a situação de exclusão histórica que envolve os grupos minoritários — indígenas e
quilombolas —, aqueles que não conseguiram completar os estudos em idade própria, os alunos com
deficiência, reconhecendo a importância da inclusão como prática pedagógica.
Inclusão
A palavra inclusão foi associada à ruptura de uma educação dita especial, que estaria direcionada às
pessoas com deficiência ou neurodivergentes, como alunos cegos, surdos, com transtornos
comportamentais ou cognitivos. Entretanto, a inclusão aqui no sentido aqui utilizado deve englobar a
representação e o acolhimento de todos, de modo que pessoas de todas as etnias, religiões, mulheres, entre
outros grupos, não se sintam previamente excluídos ou marginalizados também no espaço da escola.
Hora do con�ito
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Há, portanto, diferentes perspectivas e posicionamentos diante dessas ideias. Vejamos uma contraposição
dessas visões.
De um lado:
Muitos autores debatem que, apesar dos avanços, outros grupos continuaram excluídos da BNCC, como os
negros — mesmo sendo o grupo majoritário entre os brasileiros —, a população LGBTQIA+ e os analfabetos.
No mesmo sentido, temas como as questões de gêneros de jovens e adultos, e a educação especial
também não foram abordados pelo documento.
Do outro lado:
Os defensores afirmam que esses grupos estão contemplados, ainda que sua inclusão não seja indicada
nominalmente diante das grandes métricas. No documento, são nomeados somente grupos que não tinham
seu espaço garantido e sua posição refletida.
Qual é o caminho? Equidade!
Aqui, o conceito de equidade pressupõe a igualdade de oportunidades para ingressar, permanecer e
aprender na escola, ao se estabelecer um patamar que todos têm direito — ou, pelo menos, todos os que
estão aqui referenciados.
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Outro termo defendido na BNCC é o pacto interfederativo, por meio do qual se buscará a igualdade nas
“decisões curriculares e didático-pedagógicas das Secretarias de Educação, no planejamento do trabalho
anual das instituições escolares, nas rotinas e nos eventos do cotidiano escolar” (BRASIL, 2018a, p. 11).
Essa mesma igualdade, agora no âmbito da igualdade de oportunidades, soma-se ao conceito de
flexibilidade, também defendido pela BNCC, e que abordaremos a seguir.
Educação para todos, todas e todes? Todes?
A norma culta da Língua Portuguesa define que, ao usarmos “todos”, já incluímos todos os gêneros, pois se
trata de um termo neutro e não masculino. Termos como todes, entretanto, têm sido apresentados para
marcar um discurso inclusivo, embora estejam longe da unanimidade. Essas adjetivações são fruto de
muitas batalhas, pequenos avanços e conquistas que chegam às salas de aula de nossas escolas.
Gêneros: feminino, neutro e masculino
A flexibilidade, que pode ser entendida como adaptabilidade ou resiliência, é necessária à vida dos
trabalhadores e trabalhadoras e daqueles que, desde a sua formação, serão conformados ao modo de vida
neoliberal. Esses conceitos se transmutam como uma reinterpretação daquilo que historicamente
conquistamos como direitos universais:
O deslocamento da linguagem da educação para uma linguagem da
aprendizagem não é, evidentemente, fruto de uma simples escolha de palavras.
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Ele é, sobretudo, um deslocamento político, em que um projeto coletivo
(educação) vai sendo fragmentado e paulatinamente transformado em um
projeto individual (aprendizagem mensurável nas avaliações).
(CÁSSIO, 2019, p. 33)
Por outro lado...
A BNCC planeja justamente que a ideia da mudança da determinação de gênero, das adjetivações, cabem
ao contexto de cada escola, de cada ambiente. Não é da alçada de uma estrutura normativa trabalhar a
necessária discussão sobre como as sociedades precisam pensar seus conceitos. A BNCC defende que a
educação não é imóvel, não está estagnada, que as demandas atuais serão diferentes das futuras e que é
necessário ter espaço para a transformação.
Atenção
A formulação da língua, a decisão por renegaradjetivos pejorativos que faziam referência a populações
descendentes de pessoas escravizadas, a crítica a modelos racistas, o combate às dogmáticas religiosas
que não permitem a pluralidade, entre outras demandas, devem estar presentes na escola, mas qualquer
determinação linear prevista em uma lógica de competências não estaria atendendo aos debates dos
grupos que o constituem.
O currículo por competências
A principal diferença entre a tradição disciplinar e a pedagogia das competências está no momento da
seleção dos conteúdos. Veja a seguir:
Tradição disciplinar
O currículo tem o campo da ciência como referência para seu desenvolvimento. Assim, a matemática, a
biologia, a geografia, a história, a exemplos de alguns dos saberes escolares, serão organizados em
disciplinas.
Currículo por competências

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O que se espera é a mudança de comportamentos, frente aos desafios da vida e do mundo do trabalho.
Como se comportarão e se adaptarão diante das mudanças impostas pelo desenvolvimento das
tecnologias, por exemplo? Assim, os conteúdos são instrumentos para as mudanças necessárias às
novas problemáticas.
Hora do con�ito
Se a crítica à escola tradicional é a distância entre o que se ensina e a realidade do estudante, o apelo da
pedagogia das competências é exatamente essa vinculação imediata do que se aprende com a realidade,
ou seja, o mundo do trabalho e da produção.
De um lado:
Essa opção pragmática, que determina que o conhecimento a ser ensinado deve seguir a lógica da utilidade
retira do estudante o direito ao conhecimento socialmente construído que é universal. Dessa forma,
justifica-se a não obrigatoriedade da sociologia ou da filosofia como disciplinas nesse currículo, afinal, os
filhos das classes trabalhadoras não encontrarão uma utilidade imediata para esses conhecimentos no
mundo do trabalho. Entretanto, também não terão condições de discutir ou reivindicar seus direitos, como
melhores condições de remuneração e dignidade no trabalho, uma vez que essas reflexões fazem parte do
conhecimento daquelas disciplinas.
Do outro lado:
Não houve a retirada efetiva de sociologia, filosofia ou qualquer uma das bases de ciências humanas, a
BNCC permitiu a flexibilização de seu olhar e possibilitou o trabalho desses conhecimentos em dinâmicas
de projetos e de valorização social.
É importante não confundir os debates políticos atuais que marcam o documento normativo com as suas
formas de aplicação. Pressupor que públicas os debates sociológicos, filosóficos e a dinâmica de tempo-
espaço sumirão das escolas públicas é irreal. Eles se modificam. A busca é por valorizar o contexto, saber
que as competências e as demandas mudam, e permitir que isso ocorra em meio às políticas públicas.
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Custo Aluno-qualidade
Neste vídeo, você saberá mais sobre o conceito e a importância do custo aluno-qualidade para a educação
brasileira.
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Novo Ensino Médio
1:43 min.
Aprendizagem por Competência
1:20 min.
MÓDULO 2
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Vem que eu te explico!
Novo Ensino Médio
1:43 min.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Sobre o conceito de qualidade da educação e a BNCC, analise as afirmações:
I. Para os defensores da BNCC, a qualidade da educação se relaciona com a qualidade de aprendizagem,
que não pode ser metrificada.
II. Para os defensores da BNCC, a aprendizagem se refere às competências necessárias para inserção
flexível ao mercado produtivo.
III. Para os críticos da BNCC, a qualidade é socialmente referenciada, visto que o direito à educação diz
respeito também ao direito a uma escola com padrões mínimos de insumos para seu funcionamento, além
da garantia de profissionais qualificados e bem remunerados.
IV. Para os críticos da BNCC, a qualidade da educação está relacionada à inserção das escolas no contexto
da globalização, nas quais o processo de aprendizagem visa adequar os alunos aos padrões
mercadológicos.
Está correto o que se afirma em:
A I, II e IV.
B

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B II, III e IV.
C I e III.
D II e III.
E III e IV.
Parabéns! A alternativa D está correta.
Para os defensores da BNCC, a qualidade da educação está relacionada à quantidade de
aprendizagem, devidamente metrificada, e a aprendizagem se refere às competências
necessárias para a inserção flexível ao mercado produtivo. Já para os que criticam a BNCC, a
qualidade é socialmente referenciada, na medida em que o direito à educação passa também
pelo direito a uma escola com padrões mínimos de insumos para seu funcionamento, além da
garantia de profissionais qualificados e bem remunerados. Uma educação de qualidade reflete
uma escola inserida no contexto cultural de seus alunos que, junto com eles, constrói seu
processo de aprendizado, de forma crítica e participativa.
Questão 2
A reforma do ensino médio, proposta pela Medida Provisória nº 746/2016, aprovada e transformada na Lei
nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, apresenta uma mudança em sua estrutura, propondo a flexibilização
da grade curricular e a valorização do protagonismo juvenil. Nessa proposta, há uma estrutura comum e
obrigatória para todas as escolas, conforme descrita na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e
itinerários formativos diferenciados. Sobre a estrutura do ensino médio, a partir da lei citada, analise as
afirmações:
I. Os itinerários formativos estão organizados em três grandes áreas: Linguagens, Aritmética e Formação
profissional.
II. As duas disciplinas obrigatórias são língua portuguesa e matemática.
III. Os itinerários formativos poderão ser ministrados por profissionais sem formação específica na área.
IV. O ensino da língua inglesa não é obrigatório no ensino médio.
Está correto o que se afirma em:
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A I, III e IV.
B I, II e III.
C II e III.
D I e III.
E II e IV.
Parabéns! A alternativa C está correta.
A reforma do ensino médio, determinada pela Lei nº 13.415/17, contempla disciplinas
obrigatórias, como língua portuguesa e matemática, e todas as outras disciplinas podem ser
oferecidas dentro dos itinerários formativos: linguagem e suas tecnologias; matemática e suas
tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; ciências humanas e sociais aplicadas; e
formação técnica e profissional. Os cinco itinerários poderão ser ministrados por profissionais
sem formação específica na área.

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3 - Contrução democrática do currículo escolar
Ao �nal deste módulo, você será capaz de formular estratégias de construção democrática do
currículo escolar.
A�nal, a BNCC é ou não é um currículo?
Para respondermos a essa questão, começaremos com a seguinte afirmação:
Se o educador é o que sabe, se os educandos são os que nada sabem, cabe
àquele dar, entregar, levar, transmitir o seu saber aos segundos. Saber que
deixa de ser de experiência feita para ser de experiência narrada ou transmitida
[...]. A educação que se impõe aos que verdadeiramente se comprometemcom
a libertação não pode fundar-se numa compreensão dos homens como seres
vazios a quem o mundo encha de conteúdos; não pode basear-se numa
consciência especializada, mecanisticamente compartimentada, mas nos
homens como corpos conscientes e na consciência como consciência
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intencionada ao mundo. Não pode ser a do depósito de conteúdos, mas a da
problematização dos homens em suas relações com o mundo.
(FREIRE, 1985, p. 79)
Com apenas um ou dois cliques, qualquer professor pode acessar um curso, uma palestra, uma apostila ou
mesmo um plano de aula pronto de qualquer assunto relacionado na BNCC.
Para os reformadores, isso significa liberdade.
Você está livre para escolher como vai fazer, mas o que vai fazer deve estar lá na BNCC, assim como lá está
o tempo para se fazer. Ora, se existe liberdade, deveria existir autonomia para que o professor pudesse fazer
seu próprio planejamento, já que ninguém conhece melhor seus alunos e suas necessidades de
aprendizagem.
Em oposição a essa ideia, nenhum professor vai encontrar, com um clique na Internet, um projeto político-
pedagógico que seja a alma de sua escola, que traduza os anseios e os sonhos de pais, alunos e
professores, que traga uma reflexão coletiva dos problemas vivenciados por todos, dos percursos
necessários para sua superação, que organize os roteiros de aprendizagem necessários para a vida e para a
coletividade.
Não será possível encontrar um PPP que mostre caminhos possíveis de avanços para a superação das
injustiças, da pobreza, da miséria, das desigualdades, da discriminação de todo e qualquer ser humano por
sua cor de pele, opção religiosa, orientação sexual, assim como em nenhum lugar da Internet poderá
encontrar tanta riqueza cultural que cada um e cada uma daquela escola tem para compartilhar.
Nenhum clique encontrará respostas únicas para tantas questões que permeiam o
fazer pedagógico das escolas!
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Ao afirmar que a BNCC não é o currículo, o MEC (MACEDO, 2018) assume o conceito de “currículo em ação”,
isto é, o currículo seria uma materialização formal que deve estar presente em todos os sistemas e escolas.
Esse currículo estaria fundamentado nessa base comum, mas não se esgotaria nela, pois a outra parte seria
construída pelos sistemas e seus professores, de modo a atender às especificidades e às necessidades das
redes de ensino, bem como às características das escolas.
O currículo em ação ou currículo vivido seria uma chamada para que a escola
se abra ao que não pode, nem muito menos deve, ser planejado, projetado e
essa chamada anima um sentido de educação como subjetivação.
(MACEDO, 2018. p. 29)
Para muitos autores na literatura nacional e internacional, currículos centralizadores têm falhado
sistematicamente.
Um currículo vivido no projeto político-pedagógico da
escola
Considerando que os sistemas de ensino e as escolas são obrigados por lei a ter a BNCC como guia, torna-
se ainda mais importante garantir a elaboração autônoma de propostas pedagógicas.
Conforme o art. 14 da LDB, cabe a cada escola e sistema de ensino elaborar seus PPPs, com ampla
participação e debates com todos os segmentos da comunidade escolar. O projeto político-pedagógico
pode ser entendido como a alma da escola e, como tal, deve traduzir toda a vida pungente e pulsante que
existe dentro e fora dela:
Para a definição de ações educacionais, seja a nível governamental ou de
instituições educativas e escolares, é necessário ter um marco de referência,
que represente as concepções, as utopias, os sonhos, os princípios
educacionais desejados e definidos coletivamente [...]. A construção desses
referenciais deve se efetivar de forma republicana. Não é incomum a adoção
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de medidas imediatistas, desvinculadas de um planejamento pautado em
marcos de referência e nos diagnósticos, como é o caso da BNCC, que desde o
seu início privilegia um conjunto de conteúdos e objetivos sem o fundamental
suporte de uma referência que deixe claro o projeto de nação e educação
desejadas.
(AGUIAR; DOURADO, 2018, p. 14)
Veja, a seguir, o relato de uma professora da Escola Paula Brito, na Rocinha, sobre a construção de um
projeto político-pedagógico.
Repensando a minha própria prática educativa, volto aos anos 80, quando era professora na Escola
Paula Brito, na Rocinha. Ali vivi a primeira experiência da construção de um projeto político-
pedagógico, antes mesmo de aprender sobre esse conceito na universidade, onde me formei
pedagoga, em 1985. Toda a ideia partiu da direção da escola e da equipe pedagógica,
particularmente da supervisora educacional, que, inconformadas com os altos índices de repetência
dos alunos, mobilizaram os pais, os alunos, os professores e a comunidade para uma discussão
sobre o que deveria ser feito para melhorarmos esses índices. Tivemos a ajuda de um educador
popular, Antonio Leal, que já atuava em projetos de alfabetização na comunidade.
Nossos alunos eram filhos de imigrantes nordestinos, muitos pais eram também analfabetos. Dessa
discussão também surgiu a necessidade de um projeto de alfabetização de adultos. Uma construção
coletiva, democrática, que traçou objetivos, propostas e projetos que se desenvolveram ao longo dos
anos que ali lecionei. Avaliações periódicas permitiam verificar o que estava dando certo, o que era
necessário mudar nos processos, inclusive os próprios professores avaliavam seu envolvimento nos
projetos.
A formação continuada que existia por parte da Secretaria Municipal de Educação foi fundamental
para o bom desenvolvimento do PPP da Escola Paula Brito. Fazíamos cursos de alfabetização na
metodologia construtivista, entretanto, eram mais que isso: eram um acompanhamento de nós
professores no fazer pedagógico. Todas as semanas, tínhamos reunião para discutir o
desenvolvimento dos alunos a partir da nova proposta de alfabetização. Tirávamos dúvidas e
planejávamos os próximos passos.
Foi na Rocinha que aprendi a dançar forró, aprendi a fazer pipa e a costurar bonecas de pano, em
oficinas que realizamos com os pais e a comunidade. Foi ali que comecei a exercer a pedagogia da
autonomia freireana.
Relato 
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Hora do con�ito
Quanto retornamos à pergunta inicial, se a BNCC é um currículo, há, novamente, respostas divergentes.
De um lado:
Para alguns, sim, é um currículo engessado, centralizador, restrito e insuficiente. No entanto, é na prática que
ele se dará, e diante da imensa potência das escolas e de seus projetos político-pedagógicos, a Base talvez
seja revista e redesenhada por aqueles que, comprometidos com uma educação de qualidade, socialmente
referenciada, possam torná-la, de fato, um currículo vivo.
Do outro lado:
A definição de currículo mais usada refere-se ao caminho que o aluno percorre no ambiente escolar, seu
processo formativo, seu todo, é o valor do sujeito. Assim, currículo não é o gradeamento, não é a
determinação de disciplinas, o currículo é um processo de construção em que o aluno e a escola são ativos.
O fato de escolas não seguirem os modelos democráticos para construção de seus PPPs, bem como não
estimularem a troca e a construção coletiva, não é culpa da BNCC, pelo contrário, é consequência de um dos
problemas que a construção da base visou sanar. Romper paradigmas históricos é importante, e a BNCC se
dispõe a enfrentá-los.
E quem está certo? É com você. Leia sobre a questão

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