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Políticas Públicas de Saúde e sua Evolução Histórica O que é uma Política Pública? “É o conjunto das diretrizes e referenciais ético-legais adotados pelo Estado para fazer frente a um problema que a sociedade lhe apresenta... Em outras palavras, política pública é a resposta que o Estado oferece diante de uma necessidade vivida ou manifestada pela sociedade’’ (ACURCIO, 1998). ➔ As Políticas de Saúde são gestadas e implementadas pelo Estado para o enfrentamento de problemas sociais, dentre eles aqueles relacionados à saúde. -A política de saúde de uma época reflete o momento histórico no qual foi criada, a situação econômica, os avanços do conhecimento científico, a capacidade das classes sociais influenciarem a política. O êxito e o grau de implementação de seu(s) projeto(s) dá a dimensão da capacidade de determinados atores/forças sociais influenciarem a política de saúde em um contexto histórico. -O Estado em relação ao problema de maior ou de menor importância, define seu caráter (social, de saúde, policial), lança mão de instrumentos para sua solução, define responsabilidades (ministérios, Congresso, Judiciário) e adota, ou não, planos de trabalho ou programas. As Políticas de Saúde devem: -Ser acessível a todo cidadão; -Ser capaz de responder às transformações do quadro demográfico e do perfil epidemiológico; -Deve ter como objetivo a preservação da saúde e não apenas a cura da doença; -Deve operar de modo articulado; -Deve contar com um processo decisório participativo. Relação das Políticas Públicas e construção do nosso SUS: 1. A evolução histórica das políticas de saúde está relacionada diretamente a evolução político-social e econômica da sociedade brasileira, não sendo possível dissociá-los; 2. O processo de construção do Sistema Único de Saúde(SUS) é resultante de um conjunto de embates políticos e ideológicos, travados por diferentes atores sociais ao longo dos anos. No que concerne à saúde preventiva, ao longo de toda a existência, o Brasil enfrentou diversas dificuldades institucionais e administrativas decorrentes do limitado desenvolvimento científico, tecnológico e industrial, bem como pela expansão da assistência médica, atrelada à lógica do mercado. Mas, também, principalmente, pelo lento processo de formação de uma consciência dos direitos de cidadania. A ideia da cidadania ocupa um lugar central no ideário e na institucionalidade política democráticas, por sua associação com o valor da liberdade e com os direitos dele derivados. Em sua versão liberal-democrática, a ideia da cidadania foi sistematizada por T.H. Marshall (sociólogo britânico) em sua obra Cidadania e classe social, de 1950, que a compreende como um composto de três elementos: civil, político e social. São direitos que tomaram corpo com o fim da 2ª Guerra Mundial, com o aumento substancial dos direitos sociais por meio da criação do Estado de Bem-Estar Social (Welfare State), que estabeleceu princípios mais coletivistas e igualitários. No campo político, afirma-se o 'direito à participação no exercício do poder', como 'membro ou eleitor dos membros das instituições investidas de poder político, como o Parlamento e demais câmaras representativas ou conselhos de governo'. Já os direitos sociais não envolvem definição precisa, pois estão relacionados ao padrão de desenvolvimento das sociedades, implicando desde o 'direito a um mínimo de bem-estar econômico e segurança' até o direito à 'participação total' nos níveis de 'vida civilizada' prevalentes em cada sociedade. Direitos que se exercem, fundamentalmente, através do sistema educacional e dos serviços sociais. A crise de financiamento apontava caminhos que envolviam a restrição de direitos sociais e de benefícios como única alternativa de sua superação, e a maior parte das medidas de política se pautou por este diagnóstico. No entanto, se nos países desenvolvidos a reorganização do Estado tem se realizado sem que os direitos sociais sejam afetados em seus aspectos essenciais, a questão assume outros contornos em países como o Brasil, em que a crise no plano econômico se associou a uma crise do regime político, coincidindo com o início do processo tardio de construção da cidadania. Aqui, as conquistas ainda estão se consolidando e suas forças sociais de sustentação têm densidade que pode ser ainda insuficiente para sustentá-las. Construir o novo significa buscar estratégias viabilizadoras de políticas públicas includentes, tendentes à universalização, direcionadas à construção de uma sociedade mais equânime e menos desigual, enfrentando as tendências, e não subordinando-se a elas. Mais do que hospitais, o que precisa ser assegurado aos cidadãos é qualidade de vida. Essa é mais uma das razões pelas quais a existência de um sistema público estatal de atenção à saúde é importante numa sociedade como a brasileira. O processo de construção do Sistema Único de Saúde é resultante de um conjunto de embates políticos e ideológicos, travados por diferentes atores sociais ao longo dos anos. Decorrente de concepções diferenciadas, as políticas de saúde e as formas como se organizam os serviços não são fruto apenas do momento atual, ao contrário, têm uma longa trajetória de formulações e de lutas. A busca de referências históricas do processo de formulação das políticas de saúde, e da vinculação da saúde com o contexto político mais geral do país, pode contribuir para um melhor entendimento do momento atual e do próprio significado do SUS. (Cunha & Cunha, 1998) 1500 até o Primeiro Reinado (Colônia portuguesa) Durante os 389 anos de duração da Colônia e do Império, pouco foi feito com relação à saúde. Não havia políticas públicas estruturadas, muito menos a construção de centros de atendimento à população. Além disso, o acesso a tratamentos e cuidados médicos dependia da classe social: pessoas pobres e escravos viviam em condições duras e poucos sobreviviam às doenças que tinham. As pessoas nobres e colonos brancos, que tivessem terras e posses, tinham maior facilidade de acesso a médicos e remédios da época. Portanto, suas chances de sobrevivência eram maiores. Com a chegada da Família Real portuguesa ao Brasil, em 1808, veio o desenvolvimento do país para que se aproximasse da realidade vivida em Portugal, uma das primeiras medidas foi a fundação de cursos universitários. ➢ Atenção à saúde limitava-se aos próprios recursos da terra (plantas, ervas) e, àqueles que, por conhecimentos empíricos (curandeiros); ➢ Índios e Escravos – conhecimentos culturalmente tradicionais, amuletos, ervas, pajé. ➢ Disseminação de doenças infecciosas importadas, óbitos desenfreados; ➢ 1543 – Santa Casa em São Paulo, católica, unidade de apoio à saúde filantrópica; ➢ Após vinda da família real portuguesa (1850), normas sanitárias mínimas: controle dos portos e delegação de regras sanitárias às juntas municipais; https://www.politize.com.br/monarquia-e-republica-qual-a-diferenca/ https://www.politize.com.br/politicas-publicas-o-que-sao/ http://www.mv.com.br/pt/blog/um-breve-relato-da-historia-da-saude-publica-no-brasil http://www.mv.com.br/pt/blog/um-breve-relato-da-historia-da-saude-publica-no-brasil ➢ Elite basicamente assistida pelos médicos do exército e/ou privados. Inexistência de assistência médica pelo território, aumento nº de boticários (farmacêuticos); ➢ Em 1808, Dom João VI criou o Colégio Médico - Cirúrgico no Real Hospital Militar da Cidade de Salvador. Em novembro do mesmo ano, criou a Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro, anexa ao Real Hospital Militar- os médicos estrangeiros foram substituídos por médicos brasileiros, ou formados no Brasil; ➢ 1888 – abolição da escravidão, negros abandonados se juntam aos demais pobres, sem moradia, alimentação, empregos e sem acesso à saúde. Caridade, filantropia e saúde: o papel das Santas Casas de Misericórdia: A ligação entre entidades religiosas e tratamentos de saúde é bastante forte e existe desde a colonização do Brasil: movimentos da Igreja Católica, da Igreja Protestante, da Igreja Evangélica, da ComunidadeEspírita. O surgimento das primeiras santas casas coincidiu com o “descobrimento” do Brasil. Elas foram criadas antes mesmo de o país se organizar juridicamente e determinar as funções do Estado- que só ocorreu com a Constituição Imperial de 1824. As Santas Casas de Misericórdia são entidades que se destinam a prestar assistência médica às pessoas. Foram, durante décadas, a única opção de acolhimento e tratamento de saúde para os pobres. Elas eram fundadas pelos religiosos e, num primeiro momento, conectadas com a ideia de caridade – entre o século XVIII e o ano de 1837. De 1838 a 1940, as santas casas mudaram seu propósito e começaram a agir por meio da filantropia -“tornar a ajuda útil àqueles que dela necessitam”. Mais importante do que bens, a filantropia seria a orientação das pessoas e a preocupação com o seu bem-estar futuro. Independência ou morte? Mudanças nas políticas de saúde durante o Império Em 1822, D. Pedro I declara a independência brasileira com relação a Portugal. ● D. Pedro II criou órgãos para vistoriar a higiene pública principalmente na nova capital brasileira, o Rio de Janeiro; ● A cidade sofreu mudanças urbanas: calçamento de ruas e iluminação pública, higienização do centro urbano – de maneira sanitária e social; ● Expulsou do centro da cidade os casebres e as pessoas de classe social mais inferior, proliferando o desenvolvimento de favelas nas áreas periféricas. A higienização sanitária ocorreu por conta das recorrentes endemias de febre amarela, peste bubônica, malária e varíola, doenças associadas à falta de saneamento básico e de higiene. Os esgotos, na época, corriam a céu aberto e o lixo era depositado em valas. Assim, o alvo da campanha pela saúde pública nesse princípio de século XIX foi estruturar o saneamento básico. A Primeira República (República Velha) - as vacinas e os sanitaristas (1889 - 1930) O país foi governado pelas oligarquias dos estados mais ricos - São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A cafeicultura era o principal setor da economia, dando aos fazendeiros paulistas grande poder de decisão na administração federal. Os lucros produzidos pelo café foram parcialmente aplicados nas cidades. Isso favoreceu a industrialização, a expansão das atividades comerciais e o aumento acelerado da população urbana, engrossada pela chegada dos imigrantes desde o final do século XIX. Com a abolição da escravidão em 1888, consolidou-se o processo de substituição da mão de obra escrava pela assalariada, de origem européia. Na indústria também utilizou-se mão de obra européia, que chegou carregada de idéias anarquistas. Foram frequentes os protestos e greves neste período. No que se refere à situação de saúde, as epidemias continuavam a matar a escassa população, diminuindo o número de pessoas dispostas a vir para o Brasil. Por isso, o governo da época foi obrigado a adotar algumas medidas para melhorar esta situação. ● 1897 – Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP), ligada ao Ministério da Justiça,na tentativa de organizar a saúde nacional; ● 1903 - Oswaldo Cruz, médico sanitarista, pesquisador do Instituto Pasteur, assume a DGSP; Adotou o modelo das campanhas sanitárias, destinado a combater as epidemias urbanas e, mais tarde, as endemias rurais. ➔ Modelo Campanhista, inicialmente, objetivo de erradicar o surto de febre amarela no Rio de Janeiro. 1.500 guardas sanitários, arbitrários, militaristas, usando força e autoridade,não priorizava educação sanitária da população; ● 1904 – Lei 1.261, de 30/10/1904, instituiu a vacinação anti-varíola, de forma obrigatória no Brasil, por Oswaldo Cruz; ➔ A população insatisfeita com as ações do modelo campanhista vigente, se revolta pela obrigatoriedade da vacinação, surgindo um grande movimento popular, REVOLTA DA VACINA. A população revoltou-se com a medida, pois não foram explicados os objetivos da campanha e do que se tratavam as vacinas. ● Apesar dos abusos e arbitrariedade, o modelo campanhista obteve importantes vitórias, como: a erradicação da febre amarela no RJ; ● Agro-exportação, monocultura cafeeira, saúde como política de saneamento para evitar doenças que poderiam prejudicar exportação; ● Com o controle das epidemias urbanas, o modelo campanhista deslocou-se para a área rural, combatendo as denominadas endemias rurais, pois a agricultura era atividade hegemônica da economia na época. ● Meados do séc. XX - Acúmulo de capital cafeeiro, início da Revolução Industrial brasileira, expansão das atividades comerciais, o aumento acelerado da população urbana; ● Imigrantes italianos – lutas trabalhistas convergem com lutas sociais para melhorias na saúde. ● 1920 – Carlos Chagas, sucede Oswaldo Cruz, reestruturações, surge Departamento Nacional de Saúde: • Introduz propagandas e educação sanitária nas técnicas do modelo campanhista; • Foram criados os serviços e programas de saúde pública em nível nacional (central), controle de tuberculose, lepra, doenças venéreas; • Priorização de assistência hospitalar, saúde infantil e a higiene industrial; • Expansão de atividades de saneamento para outros estados; • Criação da Escola de Enfermagem Anna Nery. ● 1923 - Lei Eloy Chaves - marco inicial da Previdência Social no Brasil. No período entre 1923 e 1930 surgem as Caixas de Aposentadoria e Pensões – (CAPS). A Era Vargas (1930 - 1945) - O começo da organização das leis Com a presidência de Getúlio Vargas, houve reformulações no sistema a fim de criar uma atuação mais centralizada, inclusive quanto à saúde pública. O foco de seu governo foi o tratamento de epidemias e endemias, sem muitos avanços, pois os recursos destinados à saúde eram desviados a outros setores – parte dos recursos dos IAPS iam para o financiamento da industrialização. - 1930 – criação do Ministério da Educação e Saúde; - No plano da política de saúde - processo de centralização dos serviços que objetivava dar um caráter nacional a esta política. - Uniformizou-se uma estrutura dos departamentos estaduais de saúde do país e houve um relativo avanço da atenção à saúde para o interior, com a multiplicação dos serviços de saúde" (CEFOR, s.d.) - 1932 - Criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs) • Organizados por categorias profissionais; acentua-se o componente de assistência médica, por meio de serviços próprios, e principalmente, compra de serviços do setor privado - A Previdência é claramente definida enquanto seguro, privilegiando os benefícios e reduzindo a prestação de serviços de saúde. - A Constituição de 1934, concedia novos direitos aos trabalhadores, como assistência médica e “licença-gestante”. - 1941 - Reforma Barros Barreto, a qual orienta as novas medidas de atuações e ações governamentais no âmbito da saúde no território nacional. ➔ Órgãos para orientar a assistência sanitária e hospitalar, combate às principais endemias no país (malária, febre amarela e peste), buscou fortalecer o Instituto de Infectologia Oswaldo Cruz; descentralizou país em 8 regiões sanitárias; criou programas de abastecimento de água e construção de esgotos; atenção aos problemas das doenças degenerativas e mentais, criação do Instituto Nacional do Câncer (INCA). - Consolidação das Leis Trabalhistas de 1943, a CLT, determina aos trabalhadores a carteira assinada, o salário mínimo, e benefícios à saúde., O Período de Redemocratização (1945 - 1964) No campo da saúde pública vários órgãos são criados. - Destaca-se a atuação do Serviço Especial de Saúde Pública - SESP. - 1953 - Criou-se o Ministério da Saúde;
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