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1 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Enxertos e Retalhos ENXERTOS CUTÂNEOS • Pele: o É o maior órgão do corpo o Tem espessuras variadas → Por exemplo, a pele do dorso tem uma espessura mais grossa que a da pálpebra ▪ É importante saber disso porque, quando vamos enxertar, sempre tentamos usar peles da mesma espessura para determinado defeito o Independente da espessura, sempre vai ter 2 camadas (epiderme e derme) ▪ A derme é mais profunda ▪ A epiderme é mais superficial, sendo que origina embriologicamente da derme • Definição de enxerto: o É uma área doadora que se transfere para uma área receptora o Transferência da pele sem irrigação direta → O que vai irrigar é o contato com o leito vascularizado, que vai criar uma difusão plasmática, não deixando a pele morrer ▪ Depois vai ocorrer uma angiogênese e aí sim essa pele terá sua microcirculação própria • Origem: o O 1º trabalho sobre enxerto de peles foi na Alemanha em 1822 → Tentativa bem-sucedida de reconstrução do nariz com um pedaço de pele completamente separado da perna ▪ Prof. Dr. Bünger, Marburg, Germany (Journal der Chirurgie and Augenheilkunde, 4: 569, 1822) o Foi na 2ª Guerra Mundial que os enxertos cutâneos começaram a ser mais usados, para poder resolver as múltiplas feridas • Indicações: o Feridas traumáticas o Ressecções oncológicas o Queimaduras → Caso mais comum de enxertia o Contratura cicatricial o Reconstrução de aréola → Usa pele de região medial de coxa (pele + escura, dando coloração próxima à da outra aréola) • Escada da reconstrução em cirurgia plástica: o Em cirurgia plástica, eu tento fazer sempre o + simples possível e que tenha menor sequela estética e funcional ▪ Se eu conseguir fazer o mais simples possível que vai dar um resultado estético/funcional satisfatório, eu utilizo essa opção PROF. FELIPE MOSCON 2 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Agora, se a opção mais simples vai causar uma sequela motora ou funcional, aí tentamos subir na escada o Ordem da escada: ▪ 1º (fechamento primário) → Quando se tem uma ferida, primeiramente se tenta fechar primariamente (pontos e aproximação das bordas da ferida) ❖ Existe uma coisa + simples que isso, que seria deixar fechar sozinho (fechamento por 2ª intenção) → Se é uma ferida suja, que parece que não dá para fechar ainda que vai gerar sequela/infecção etc. ▪ 2º (enxerto) → Se não consigo dar ponto, vamos tentar enxertar para resolver ❖ Se o enxerto for deixar alguma sequela, vamos para os retalhos ▪ 3º (retalho local) ▪ 4º (retalho à distância) ▪ 5º (retalho livre ou microcirúrgico) o O enxerto, então, em termos de execução e eficácia, está bem no início da escada, sendo bem simples de fazer e resolve muitos problemas CLASSIFICAÇÕES • Podemos classificar os enxertos de 3 maneiras: o Quanto à forma de obtenção o Quanto à espessura o Quanto à forma • Classificação pela forma de obtenção: o Autoenxerto → Tira a pele doadora do mesmo paciente que tem a ferida (área receptora) ▪ Nesse caso, não há risco de perda do enxerto em relação à rejeição o Homoenxerto/Aloenxerto → Transfere a pele entre indivíduos da mesma espécie, porém não geneticamente iguais (doador cadáver) ▪ Nesse caso vai haver a perda do enxerto, a não ser que seja irmão gêmeo univitelino ▪ O objetivo do homoenxerto não é ser um definitivo e sim ser um curativo biológico (para poder evitar perdas de evaporação, evitar infecção e ganhar tempo para a epitelização ou para um autoenxerto) o Xenoenxerto → Transfere a pele entre espécies diferentes ▪ Ex.: Pele de porco, rã, tilápia etc. ▪ Obviamente o enxerto não vai integrar ao paciente, mas ganha tempo para poder epitelizar ou, se precisar, fazer um enxerto com pele dele mesmo (autoenxerto) • Classificação por espessura: o De pele parcial → Tira do doador apenas parte da pele, deixando parte da derme (até C na imagem) ▪ Se sobra derme, a epiderme vai voltar a crescer pela derme, então essas áreas tendem a reepitelizar 3 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Então, áreas para doação de pele parcial não são limitadas → É permitido tirar da mesma área doadora vários enxertos (espera reepitelizar e tira de novo e assim segue) o De pele total → Tira do doador a epiderme e a derme inteiras (pele na totalidade, até D na imagem) ▪ Nesse caso, sobra apenas o subcutâneo no doador, então essa área doadora não vai fechar sozinho, não vai crescer pele de novo → Então, como é preciso fechar a área, não se pode tirar muita pele, para ser possível aproximar a ferida borda a borda para o fechamento ▪ Então, áreas para doação de pele total são limitadas • Contratura primária: o Contração que o enxerto sofre quando é retirado da área doadora → A pele encolhe/murcha o Causado pela elastina → A elastina fica na derme, ou seja, o enxerto que normalmente terá contratura primária é o de pele total ▪ Sendo assim, nos enxertos de pele total, é preciso sempre tirar um pedaço um pouco maior que a ferida • Contratura secundária: o Contração que ocorre no seu leito receptor → Ocorre depois que cicatriza, já enxertado o É causada não pelo enxerto, mas pelo rebordo da ferida, devido à atividade dos miofibroblastos o A área encolhe e fica retraída o Essa contratura normalmente acontece no enxerto de pele parcial, porque ele é fininho e não tem elastina para segurar a atividade dos miofibroblastos ▪ Nos enxertos de pele parcial, então, podemos tirar o tamanho exato que precisamos para a ferida • Escolha da espessura: o Na hora que vamos escolher um enxerto, devemos escolher muito bem como vamos tirar, o tamanho de área doadora, de onde estou tirando a pele, para qual área estou doando etc. ▪ Ex.: Enxerto de pele parcial abaixo da pálpebra → Vai retrair, puxando a pálpebra para baixo (ectrópio) ▪ Ex.: Enxerto no dorso do dedo → Vai retrair, impedindo o fechamento completo do dedo o Áreas de dobradura e articulação, áreas que precisam mover, deve ser levado sempre enxerto de pele total (porque os de parcial levarão à contratura secundária) o Já em áreas que não terão tanta alteração de mobilidade (Ex.: Peito) pode ser feito o enxerto de pele parcial • Classificação quanto à forma: Exemplo 1 – Enxerto de pele total 4 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Selo / Estampilha → Vários pedacinhos de enxerto são colocados entre espaços sem enxerto que vão fechando por segunda intenção (quase não é feito assim) o Malha → Faz bastante. Ao tirar o enxerto do doador, de pele parcial normalmente, coloca ele numa máquina que corta o enxerto com fenestras, ganhando extensão ▪ Essas máquinas podem ter várias configurações (1 para 2, 1 para 3, 1 para 6 etc.), que significam que para cada 1cm de enxerto originalmente a máquina transforma em mais (1 para 2 → 1cm vira 2cm) ▪ Isso serve para ganhar extensão, quando o paciente possui pouca cobertura de pele e é preciso maximizar o uso de pele dele ▪ É vantajoso por aumentar a cobertura do que é preciso, tem fenestras que permitem que o exsudato ou hematoma que tiver possam sair (drena melhor), porém tem aspecto estético feio o Laminar ÁREA DOADORA x ÁREA RECEPTORA • Área doadora: o Depende do tamanho da lesão o Se for de pele parcial, a área doadora vai se regenerar o Se for de pele total, a área doadora não regenera, então é preciso fechar (fechamento primário) Exemplo 3 – Ferida grande na perna do paciente. Nesse caso não dá para colocar pele total, porque precisaria de muita área doadora de pele total, o que não temos. Em compensação, não há nada que atrapalharia muito o movimento nessa região de panturrilha, então o enxerto de pele parcial é suficiente Exemplo 2 - Lesão pequena na ferida, eu poderia tirar e fecharprimariamente, porém pescoço é uma região que precisa esticar, então devemos evitar de tirar pele. Nesse caso, eu escolho fazer um enxerto de pele total (de parcial não porque a retração secundária pode levar a uma sequela de movimento), então eu retiro um pedaço de pele da região medial do braço, onde há flacidez de pele Enxerto em malha 5 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Regiões de cada tipo de enxerto – Existem poucas áreas de pele total, que são as regiões de dobra. Já áreas de pele parcial são muitas e há áreas doadoras infinitas Área doadora de pele total x de pele parcial – Na de pele total, foi preciso fazer o fechamento primário, já na de pele parcial não porque foi tirado só a epiderme e um pouco de derme, ficando derme lá que vai reepitelizar Exemplo 3 – Mesma ferida da anterior, tirou a necrose e colocou o enxerto de pele parcial. Nesse caso, não foi malha, mas o próprio cirurgião fez incisões de bisturi, não para ganhar em extensão, mas sim para drenar caso fiquem saindo seromas, evitando que se perca o enxerto 6 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Como deve estar a área receptora? o Limpa → A área tem que estar limpa, sem infecção e necrose. Se tiver necrose, sujeira, pus etc. não dá para enxertar, é preciso fazer curativo primeiro, limpar aquela área e só depois fazer enxertia o Hemostasia → A área deve estar sem sangramento ativo nenhum. Se tiver sangue fora de vaso pode criar um coágulo que vai criar uma interface, impedindo o contato do enxerto com o leito receptor o Granulada → A área tem que estar bem vascularizada (sangue dentro do vaso) INTEGRAÇÃO DO ENXERTO • Fases de integração: o Embebição → Fase imediata ▪ Primeiro contato com o leito doador com receptor ▪ 2 primeiros dias ▪ Sai o exsudato, começa a ter uma difusão plasmática e a ter aquele contato e a cascata de cicatrização o Inosculação → 2ª fase ▪ Do 3º ao 5º dia ▪ Começa a criar uma rede de fibrina, ou seja, começa a colar o enxerto no leito → Por isso só abrimos curativo de enxerto no 5º dia (se abrir antes pode mexer e deslocar o enxerto e toda rede de fibrina se perde) o Neovascularização ▪ Depois dos 5 dias ▪ O enxerto já começa a ser irrigado por microcirculação, não mais por embebição plasmática Dermátomo elétrico – Instrumento mais moderno para retirada de área doadora para enxerto, também é uma lâmina que regula a abertura Faca de Blair – É uma lâmina em que é possível regular a abertura e se passa tangencialmente à pele para retirar a pele para enxerto. É um instrumento um pouco arcaico, não sai uma pele de boa qualidade, pode acabar “mastigando” a pele toda, então exige melhor técnica para ser usada. 7 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Complicações: o Não integração do enxerto ▪ Principal complicação ▪ O enxerto morre, é perdido ▪ Má vascularização do enxerto o Hipertrofia da área doadora o Hipercromia da área doadora o Sequelas de contratura Exemplo 4 – Ferida em dorso da mão, se usar um enxerto de pele parcial pode ser que altere um poco de mobilidade na mão. Então, o cirurgião optou por pele total, tirando pele da região medial do braço e fazendo o fechamento primário da área. Observar que o enxerto já retraiu na hora. Foram feitos cortezinhos no enxerto caso tenha algum hematoma ou algo para sair. Depois foi feito um curativo de Braun, com gaze e pontos, para poder aumentar o contato do leito receptor com o enxerto para melhorar a difusão plasmática 8 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 RETALHOS CUTÂNEOS • Definição: o Lembrando que o enxerto não tem nenhum vaso ligando-o diretamente, o retalho tem o Retalho é a transferência de um segmento de pele de um local para outro, mantendo-se um pedículo vascular o Na escada de reconstrução em cirurgia plástica, os retalhos já são do meio para mais avançados em comparação ao fechamento primário e o enxerto • Irrigação: o A irrigação de um retalho é composta por 2 tipos ▪ Macrocirculação → Grandes vasos, que dão artérias segmentares, que vão dar as artérias perfurantes ❖ Geralmente é usada em retalhos maiores/compostos ▪ Microcirculação → Plexo subdérmico e dérmico ❖ São usados para retalhos cutâneos Microcirculação Macrocirculação 9 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Alterações fisiológicas após elevação de retalho: o Interrupção do fluxo sanguíneo → As incisões vão interromper o fluxo vindo de algumas direções para aquela área de pele do retalho o Autonomização do retalho → Em compensação à interrupção do fluxo, a área de pele do retalho e a direção que ainda irriga começam a trabalhar mais para aumentar o fluxo e conseguir irrigar corretamente o Neovascularização → Depois de um tempo que já elevou o retalho, também como processo de compensação, há a formação de novos vasos para a volta do fluxo nas direções interrompidas pelas incisões • Regra 1:3: o A base do retalho não pode ter mais do que 3x do que o retalho que quero elevar o Caso a parte elevada tiver mais do que 3x o tamanho, fica muito comprido e não vai chegar sangue o suficiente na parte distal, podendo necrosar essa pontinha CLASSIFICAÇÕES • Classificação quanto ao suprimento sanguíneo: o Randomizado → Quando não se sabe o nome específico do vaso que está irrigando o retalho (é um suprimento exclusivamente subdérmico/dérmico ▪ A maioria dos retalhos cutâneos é randomizado o Axial → Quando tem uma artéria dominante levando sangue diretamente para o retalho ▪ Retalhos maiores, quando se sabe o nome da artéria que vai irrigar, sendo mais seguro • Classificação quanto à localização: o Retalho local ▪ Retalho de avanço → Nesse caso, se fica tudo incisado em volta, o sangue vem do plexo subdérmico ▪ Retalho de rotação → Retira a ferida e faz uma rotação da pele ao redor (a pele é muito elástica e aceita esse tipo de rotação) ▪ Retalho de transposição → Parece muito com o de rotação, porém não só roda, mas transpõe a pele ▪ Retalho de interpolação → Tira uma ilha de pele para a parte do defeito, geralmente é feito em 2 estágios ❖ 1º estágio → Para tapar o defeito, ficando preso por um pedículo de pele para levar o sangue por 21d Randomizado x Axial 10 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ❖ 2º estágio → Retirada do pedículo de pele o Retalho à distância ▪ Distância pediculado → É como um retalho local de interpolação, mas pegando o retalho de uma área mais distante, também mantém um pedículo preso para irrigação por 21 dias até angiogênese local ▪ Distância livre (retalho microcirúrgico) → Pega o retalho de um local distante levando a artéria de irrigação e fazendo uma anastomose na área que vai receber Retalho de rotação – No caso desse paciente foram 2 rotações, uma de um lado e uma do outro, para fechar um defeito que estava no meio Retalho de avanço – Retalho de avanço em VY, sobe em V e termina em Y 11 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Retalho de transposição – Retalho bilobado, de dupla de transposição Retalho de transposição – Retalho do romboide ou retalho de Limberg 12 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Distância pediculado – Defeito no cotovelo do paciente com prótese ortopédica exposta (não é possível o enxerto pela placa de metal presente, além de atrapalhar a mobilidade). É feito um retalho pediculado, recebendo o sangue de uma artéria epigástrica por 21 dias, depois é ressecado esse pedículo e fica solto o braço Distância pediculado - Retirada da pele da testa para tapar odefeito no nariz, mantém um pedículo por 21 dias para irrigação com a A. Supratroclear até começar angiogênese local e depois resseca Retalho de interpolação 13 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Classificação quanto à composição: o Simples → Única estrutura anatômica ▪ Na maioria dos casos, leva só pele o Composta → 2 ou + estruturas anatômicas ▪ Pele com outra coisa junto, como músculo, osso etc. ▪ Quanto + estrutura anatômica, mais tem que ter um vaso nutrindo isso ▪ Então, não pode ser só um retalho randomizado para levar várias estruturas anatômicas, tem que ser geralmente um retalho axial (uma artéria calibrosa para irrigar) Distância livre – Paciente com tumor de mediastino que foi retirado, deixando expostos vários órgãos. Para fechamento, foi feito um retalho anterolateral da coxa, levando a artéria de irrigação desses local junto, fazendo a anastomose no mediastino e depois fechando o defeito 14 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 PRINCIPAIS RETALHOS Retalho nasolabial/nasogeniano Retalho frontal mediano (retalho indiano) – É um retalho interpolado usado muito na Índia para poder tampar defeitos de uma forma de punição em que se arrancava o nariz da pessoa 15 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Retalho romboide (de Limberg) Retalho bilobado 16 CIRURGIA PLÁSTICA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Exemplo de retalho romboide – Paciente com sequela de mielomeningocele, uma fístula liquórica que evoluiu com deiscência, que foi reparado com retalho romboide
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