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Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste Campus de Francisco Beltrão Curso de Administração 3ª Série DISCIPLINA DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA CADERNO DE APOIO Nome ________________________________ Profª. Ivanira Correia de Oliveira Francisco Beltrão – Paraná Ano letivo 2021 Unioeste – Disciplina de Administração Financeira e Orçamentária 1 SUMÁRIO 1 APRESENTAÇÃO ................................................................................................................ 3 1.1 Função da administração financeira nas organizações ................................................... 3 1.2 Princípios fundamentais de finanças.................................................................................4 1.3 Multidisciplinaridade da administração financeira.........................................................5 1.4 Mercado financeiro..............................................................................................................6 2 DECISÕES FINANCEIRAS DE CURTO PRAZO............................................................8 2.1 Administração de curto prazo............................................................................................8 2.2 Administração de disponibilidades..................................................................................12 2.2.1 Planejamento de caixa...............................................................................................14 2.2.2 Ciclo operacional e ciclo de caixa.............................................................................15 2.2.3 Relação da organização com instituições financeiras...............................................17 2.2.4 Custo oportunidade de caixa.....................................................................................18 2.2.5 Efeitos da inflação.....................................................................................................19 2.3 Administração de crédito.....................................................................................................19 2.3.1 Política de crédito...........................................................................................................19 2.4 Administração financeira de estoques.............................................................................24 2.4.1 Estoque é investimento.............................................................................................24 2.4.2 Fatores que interferem nos níveis de estoques..........................................................24 2.4.3 Técnicas de administração de estoques.....................................................................25 2.5 Administração de financiamentos de curto prazo...........................................................28 2.5.1 Fontes de financiamentos de curto prazo..................................................................29 2.5.2 Taxas de operações de financiamentos.....................................................................29 2.5.3 Fontes não bancárias.................................................................................................33 2.5.4 Volume dos recursos necessários para o giro operacional........................................33 2.6 Demonstração do fluxo de caixa......................................................................................35 2.6.1 Estrutura da Demonstração do fluxo de caixa...........................................................38 3 DECISÕES FINANCEIRAS DE LONGO PRAZO.........................................................40 3.1 Decisões de investimentos de longo prazo.......................................................................40 3.1.1 Orçamento de capital..................................................................................................40 3.1.2 Motivos para investir no longo prazo.......................................................................40 3.1.3 Fases do processo de análise de um novo investimento...........................................41 3.1.4 Tipos mais comuns de projetos.................................................................................42 3.1.5 Padrões convencionais de fluxos de caixa de projetos.............................................42 Unioeste – Disciplina de Administração Financeira e Orçamentária 2 3.1.6 Substituição de investimentos de longo prazo..........................................................43 3.2 Avaliação de projetos de investimentos...........................................................................46 3.2.1 Valor do dinheiro no tempo.......................................................................................46 3.2.2 Técnicas de análise e avaliação de investimentos.....................................................48 3.2.3 Incerteza nas previsões..............................................................................................57 3.2.4 Risco e retorno de investimentos...............................................................................57 3.3 Decisões de financiamentos de longo prazo....................................................................61 3.3.1 Estrutura e composição das fontes de capital...........................................................61 3.3.2 Alavancagem financeira...........................................................................................69 3.3.3 Valor econômico agregado (EVA) e Valor de mercado adicionado (MVA) ..........73 4 PLANEJAMENTO OPERACIONAL E FINANCEIRO ................................................ 74 4.1 Princípios de planejamento e controle............................................................................75 4.2 Planejamento financeiro de curto prazo ......................................................... ..............76 4.2.1 Estrutura do planejamento financeiro de curto prazo........................................................76 REFERÊNCIAS......................................................................................................................80 UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 3 1 APRESENTAÇÃO Administração financeira ou finanças corporativas é exercida nas mais diversas organizações, públicas ou privadas, com ou sem fins lucrativos. Groppelli; Nikbakht (2005, p. 3), definem finanças como a “aplicação de uma série de princípios econômicos e financeiros para maximizar a riqueza ou o valor total de um negócio”. Os aportes de recursos financeiros feitos pelos proprietários e credores da organização são aplicados em ativos, os quais são utilizados na produção e comercialização de bens ou serviços. (BRAGA, 1995). Tais recursos são limitados e necessitam de uma administração financeira eficiente e eficaz, visando à sobrevivência e o crescimento da organização. Em 2010, a multinacional Bayer S.A. fez uma pesquisa com 100 dos seus principais executivos para entender o que faltava a esses profissionais para que pudessem assumir novas posições. Descobriu que os executivos gostariam de ter maior bagagem sobre finanças e estratégia para assumirem novas posições na empresa. (EXAME, 2011). Esse resultado evidencia a necessidade e importância de ter conhecimento dessas áreas para tomada de decisão. Este caderno de apoio contempla o conteúdo básico da disciplina de Administração Financeira e Orçamentária, o qual foi elaborado a partir das referências citadas e da experiência de docência na área. Espera-se que a sua utilização contribua no desenvolvimento de habilidades, seja na área específica da disciplina, quanto, de forma integrada com outras áreas da Administração. Outros conteúdos do plano de ensino serão fornecidos durante o ano. 1.1 Função da administração financeiranas organizações A função financeira compreende todas as atividades relacionadas à administração de recursos financeiros na organização. A atividade financeira de maior relevância é a intermediação de recursos financeiros, os quais se originam das atividades operacionais, do aporte de capital ou de recursos de terceiros. Portanto, envolve basicamente atividades voltadas para obtenção de recursos (financiamentos) e aplicação (atividades operacionais ou investimentos). As principais funções da administração financeira estão agrupadas em duas grandes áreas: Tesouraria e Controladoria, geralmente exercidas pelo gerente financeiro e pelo controller, respectivamente. Para Gitman (2002), a dimensão e importância da função financeira dependem do tamanho da organização. FIGURA 1 – VISÃO ORGANIZACIONAL DA ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA Fonte: Adaptado de Lemes Jr; Rigo; Cherobim (2005). F IN A N Ç A S TESOURARIA CONTROLADORIA ▪ Caixa e crédito; ▪ Risco e proteção de ativos; ▪ Câmbio; ▪ Decisões de investimento e de financiamentos, ▪ Relação com acionistas, investidores e bancos. ▪ Custos e preços; ▪ Auditoria interna; ▪ Contabilidade; ▪ Planejamento tributário; ▪ Planejamento financeiro e controle; ▪ Patrimônio; ▪ Relatórios gerenciais, salariais. UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 4 A maioria das decisões de negócios é medida em termos financeiros e o administrador tem papel fundamental, pois ele é o principal responsável pela criação de valor da organização, O administrador financeiro deve tomar boas decisões de investimento e de financiamento para melhorar o valor da organização. A maximização da riqueza tem base no modelo empresarial de gestão baseada no valor de mercado, expressa pelo preço de mercado das ações. Por esse modelo, a medida de sucesso da organização está na “sua capacidade de adicionar riqueza a seus acionistas dentro de um horizonte indeterminado de tempo e não entendido dentro de uma visão efêmera dos resultados, muitas vezes conseqüência de variáveis que não se repetirão no futuro” (ASSAF NETO, 2003, p.169). O autor acrescenta que, o valor é uma visão de longo prazo associada à continuidade da organização e que é criado somente quando as receitas operacionais são maiores que todos os custos e despesas, incluindo o custo oportunidade. Por outro lado, a maximização do lucro é objetivo de curto prazo porque a preferência é que ele ocorra o mais cedo possível, a tendência ao risco é mais alta. Risco elevado resulta em preço mais baixo da ação. Ações tomadas para maximizar lucros hoje, podem reduzir lucros no futuro. 1.2 Princípios fundamentais de finanças A área financeira como parte da administração empresarial é complexa e desafiadora. Três princípios orientam as finanças empresariais (ASSAF NETO, 2003; BRIGHAN, GAPENSKI, EHRHARDT, 2003; DAMODARAN, 2004; GITMAN, 2002; LEMES JR., RIGO, CHEROBIM, 2005): a) Princípio do investimento – investir em ativos e projetos que ofereçam retorno maior que o custo de capital, incluindo não só aqueles que criam receitas e lucros, como também aqueles que poupam recursos, são mais eficientes e sustentáveis. Ao analisar se deve ou não investir, o administrador avalia o valor do investimento e compara com seu custo de aquisição. Dessa forma, investirá somente se houver expectativas de ganhos superiores ao custo de capital. Esse princípio é válido para qualquer tipo de investimento, seja de curto ou de longo prazo. b) Princípio do financiamento – O administrador deve avaliar quais são as melhores fontes de financiamentos de terceiros ou próprio ou escolher um conjunto de financiamentos (capital próprio e de terceiros) para seus investimentos. A opção de escolha deve ser aquela que maximize o valor dos investimentos feitos, ou seja, proporcione maior contribuição para a valorização da organização. Muitas vezes a escolha entre opções de financiamento para investimentos é uma decisão difícil, pois necessita de conhecimento da estrutura financeira e da capacidade de pagamento na situação atual para avaliar e decidir por novos financiamentos numa situação prevista, o que deve ser feito considerando os benefícios e custos. c) Princípio dos dividendos – O pagamento de dividendos é uma forma de devolver sobra de caixa aos proprietários (acionistas). A decisão de distribuir recursos ao invés de aplicá-lo na organização deve ser baseada no efeito que tal decisão terá sobre seu valor, ou seja, se não encontrar investimentos que proporcionem retorno maior que o custo de capital distribui dividendos. “Os princípios de administração financeira pressupõem que a maximização da rentabilidade deva ser alcançada através das atividades operacionais e não com aplicações financeiras de alto risco [...] Os indivíduos podem ‘jogar’ com seu dinheiro em operações altamente especulativas. Às empresas cabe exclusivamente administrar seus recursos com eficácia” (BRAGA, 1995, 123). UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 5 1.3 Multidisciplinaridade da Administração Financeira Para Morante; Jorge (2008), a administração financeira é multidisciplinar. Para atingir seus objetivos relaciona-se de forma mais ou menos intensa com outras áreas do conhecimento que permeiam a organização, tais como: economia, contabilidade, matemática, estatística, ciência da computação e direito. ✓ Economia (ciência da escassez) Para tomar melhores decisões, o administrador financeiro deve acompanhar constantemente o que ocorre na economia, nos diferentes níveis de atividade econômica. As atividades empresariais são afetadas pelo desempenho da economia local, nacional e global, onde o Produto Interno Bruto (PIB)1 é a variável de maior interesse. Segundo ADVFN (2018), no cálculo do PIB considera-se somente os bens e serviços finais da cadeia de produção, excluindo todos os insumos intermediários (matérias-primas, mão-de- obra, impostos e energia). Isso é feito para evitar a dupla contagem dos valores gerados na cadeia de produção, o que provocaria erro na soma do PIB. No Brasil, houve redução do PIB em 2015 e 2016 (-3,8% e -3,6%), em 2017 e 2018 o crescimento foi 1,1% e 1,8%, respectivamente. Os governos por meio da política econômica adotam medidas para controle e regulação da atividade econômica, as quais interferem na atividade das organizações, tais como políticas monetária, fiscal, cambial e de renda2. Algumas medidas econômicas atingem todos os setores da economia (medidas macroeconômicas). Outras afetam setores específicos (medidas microeconômicas). Duas teorias microeconômicas afetam as finanças corporativas: a Teoria da Firma e a Teoria da Preferência pela liquidez. Com a Teoria da Firma, a ciência econômica procura compreender o comportamento da organização (firma), onde as decisões são tomadas, a partir do critério de eficiência técnica e econômica. A eficiência técnica diz respeito à produção de bens e serviços utilizando menos fatores de produção (capital/máquinas, mão de obra, terra, etc.). Para a economia interessa a eficiência econômica, a qual está relacionada à utilização de 1 Indicador do valor de todos os bens e serviços recém-fabricados em uma economia em determinado tempo. O PIB mede o tamanho da economia. É o indicador mais utilizado na macroeconomia. (TAYLOR, 2007, p.52). 2 A política de renda visa prover renda mínima aos trabalhadores e aposentados, incentivar a produção e o consumo de determinados produtos. A Macroeconomia estuda a economia como um todo, o sistema econômico: seus agentes e suas inter-relações, fluxos de recursos e taxas de juros e não um setor em específico. As variáveis macroeconômicas atuam no ambiente externo às organizações, influenciando nas políticas e estratégias de negócios,possibilitando a identificação de oportunidades de investimentos e busca por recursos para financiamentos ou restringindo ambos. Todas as organizações estão sujeitas à submissão às leis e normas que regulamentam a atividade econômica. A Microeconomia estuda o comportamento e interação de organizações, famílias, mercados e setores específicos da economia. Os fatores microeconômicos influenciam nos preços e na disponibilidade de recursos no mercado e nas oportunidades de investimentos. UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 6 insumos de produção com menores custos, visando valorização do capital aplicado. O emprego de fatores de produção, custos, preços de produtos e serviços, oferta e demanda são variáveis estudadas na Teoria da Firma. A Teoria da Preferência pela liquidez explica que investidores e organizações preferem ter disponibilidade de recursos financeiros no presente e, caso tenham que esperar exigem remuneração do investimento. ✓ Contabilidade A contabilidade registra as operações financeiras e proporciona informações que são utilizadas no processo de tomada de decisão. No entanto, é necessário saber de que há diferenças básicas entre finanças e contabilidade, com relação ao registro financeiro e contábil das operações que ocorrem na organização. A administração financeira enfatiza o regime de caixa, registrando entradas e saídas de dinheiro somente quando há recebimento ou pagamento, sem levar em consideração o lucro ou perda contábil. Na contabilidade, a ênfase está nos registros pelo regime de competência lançados quando há fato gerador. De modo que podem ocorrer casos, onde há saldo em caixa, mas a situação contábil é de prejuízo ou há necessidade de caixa e o resultado contábil mostra lucro. Para melhor compreensão da diferença entre o regime de caixa e o regime de competência, tem-se o seguinte exemplo de registro: Certa loja de confecção emitiu nota fiscal (NF) de R$500,00 referente a venda de 4 peças de vestuário no dia 30/03. Essa venda foi feita em duas parcelas iguais, à vista e com 30 dias. Registro financeiro: Dia 30/03, entrada de caixa de R250,00 e R$250,00 é lançado como previsão de entrada de caixa no dia 30/04. Registro contábil: Dia 30/03 é feito um lançamento de R500,00, como receita. ✓ Matemática e Estatística A Matemática e a Estatística fornecem modelos matemáticos e estatísticos que auxiliam a área financeira no desenvolvimento de previsões, medidas quantitativas e explicativas, tais como: cálculos de juros, média, desvio padrão, variabilidade de risco e retorno, análise de viabilidade e aceitabilidade de investimentos, previsões de produção e de demanda e outros. ✓ Ciência da Computação A ciência da computação auxilia a administração financeira desenvolvendo softwares de controles operacionais, bancos de dados e sistemas eletrônicos de informação gerencial, necessários à tomada de decisão. ✓ Direito Todas as organizações devem atuar dentro de parâmetros legais, observando leis, direitos e obrigações em relação aos acionistas, trabalhadores, credores, clientes, governo e sociedade de modo geral. Para tanto, em muitas ações, a empresa necessita de pareceres jurídicos de diversas áreas do direito, tais como societária, trabalhista, comercial, tributária e ambiental. 1.4 Mercado financeiro Segundo CVM (2018), o Sistema Financeiro Nacional (SFN) tem em sua estrutura entidades normativas, supervisoras e operadoras3. 3 Mais informações podem ser encontradas em http://www.portaldoinvestidor.gov.br e http://www.bcb.gov.br. UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 7 As entidades normativas são constituídas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e o Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC), os quais definem as políticas e diretrizes do sistema financeiro. As entidades supervisoras constituídas pelo Banco Central do Brasil (BCB), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC) possuem funções executivas, como a fiscalização das instituições sob sua responsabilidade, assim como regulamentação de decisões tomadas pelas entidades normativas ou atribuições outorgadas a elas diretamente pela Lei. As entidades operadoras são compostas pelas instituições financeiras e instituições auxiliares4, que entre outras atribuições, são responsáveis pelas intermediações de recursos entre poupadores (aplicadores) e tomadores ou pela prestação de serviços. Os produtos negociados no mercado financeiro podem ser divididos em produtos de investimentos e produtos de financiamentos. Existe a probabilidade de não pagamento dos juros e taxas pelo tomador, por isso aplicadores (fornecedores de recursos) (Figura 2) exigem retornos maiores, quando o risco é maior. A diferença entre o custo do dinheiro para o aplicador e os juros para o tomador final é chamada de spread. FIGURA 2 – INTERMEDIAÇÃO DE RECURSOS FINANCEIROS Em função da natureza e do prazo das operações realizadas, o mercado financeiro está divido em quatro grandes mercados (FORTUNA, 1992): Mercado monetário; Mercado de crédito; Mercado de capitais e Mercado de câmbio. ✓ Mercado monetário (mercado de moeda) O mercado monetário exerce a função de facilitar a aplicação de recursos por um período reduzido e o controle da liquidez do mercado. A formação de taxa de juros Sistema de liquidação e custódia (Selic) e do certificado de depósito interbancário (CDI) ocorrem no mercado monetário. Neste mercado há a atuação das instituições bancárias e do Banco Central do Brasil (BCB) com operações de open Market e de instituições financeiras entre si negociando títulos de renda fixa de curto prazo e CDI. O BCB realiza a política monetária por meio do mercado monetário5, controlando a liquidez do mercado (volume de moeda na economia). Quando há excesso de moeda em circulação, ou 4 Bolsa de valores, companhias seguradoras, sociedades de capitalização, entidades abertas de previdência complementar e os fundos de pensão (CVM, 2018). 5 Mais informações podem ser encontradas em http://www.bcb.gov.br Poupadores (aplicadores) Intermediários financeiros Tomadores de recursos Captação Aplicação UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 8 seja, maior oferta, os juros são menores e o consumo é maior. Pouco dinheiro, juros maiores, menor consumo. Para regular o volume de moeda, BCB faz leilão de títulos públicos às instituições credenciadas o que provoca redução de moeda em circulação e aumento das taxas de juros. Quando a liquidez está insuficiente, o BCB recompra os títulos injetando moeda no mercado, provocando redução dos juros. A liquidez do sistema é regulada principalmente pela venda e resgate de títulos públicos. Os instrumentos de política monetária são: Operação de mercado aberto (open market) – emissão e recompra de títulos públicos (títulos do tesouro, títulos da carteira do BCB e títulos de emissão própria, bônus e notas do Banco Central – NBC). Depósito compulsório – é um recolhimento realizado pelas instituições financeiras de parte dos depósitos à vista dos seus clientes. É retido no BCB, não pode ser utilizado pelos bancos para empréstimos. Taxa de redesconto – é uma taxa cobrada pelo BCB dos bancos em operações de desconto de títulos. É usado caso falte dinheiro nos empréstimos interbancários. ✓ Mercado de crédito Os recursos negociados no mercado de crédito originam-se de depósitos captados pelas instituições financeiras, repasses de linhas de crédito oficiais e externas, bem como recursos próprios das instituições e visa suprir necessidade de créditosaos consumidores, pessoa física e pessoa jurídica. ✓ Mercado de capitais O mercado de capitais visa o financiamento das atividades produtivas com recursos de longo prazo, por meio da emissão de debêntures, emissão e subscrição de ações. Organizações como Fundos de pensão, Seguradoras e Fundos de investimentos estão entre os principais investidores institucionais no mercado de capitais. Investidores institucionais ou não ao investirem nesse mercado estão financiando as organizações de capital aberto. ✓ Mercado de câmbio No mercado de câmbio são negociadas moedas estrangeiras conversíveis em moeda nacional pelas instituições credenciadas e fiscalizadas pelo BCB, entre elas instituições bancárias e sociedades corretoras de câmbio. Também são realizadas neste mercado, operações referentes a recebimentos, pagamentos e transferências para o exterior6. 2 DECISÕES FINANCEIRAS DE CURTO PRAZO Decisões financeiras de curto prazo estão relacionadas à tomada de decisão de investimentos e financiamentos necessárias para atender as atividades operacionais das organizações. 2.1 Administração de curto prazo A administração de curto prazo ou administração do capital de giro está fundamentada no gerenciamento de ativos e passivos circulantes, isto é, no gerenciamento das disponibilidades (caixa e aplicações de curto prazo); contas a receber; estoques; fornecedores; empréstimos e outras obrigações de curto prazo. Portanto, a administração do capital de giro está relacionada 6 Mais informações podem ser encontradas em http://www.bcb.gov.br UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 9 à tomada de decisões financeiras, envolvendo entradas e saídas de ativos e passivos circulantes que ocorrem no prazo de um ano ou menos. No entanto, a expressão “capital de giro” se refere ao montante total investido no ativo circulante, ou seja, ao total de investimentos de curto prazo (VIEIRA, 2008). O capital de giro é importante porque representa o total dos recursos demandados pela organização para financiar seu ciclo operacional. É necessário às atividades operacionais. Os ativos circulantes são os componentes mais líquidos do balanço patrimonial, pois podem transformar-se em dinheiro, com maior rapidez. Os passivos circulantes são capitais de terceiros de curto prazo necessários às atividades operacionais. Alguns dos componentes do passivo circulante são considerados como fontes espontâneas de financiamento porque se originam naturalmente, em consequência da atividade da organização, tais como: fornecedores, salários, encargos sociais e impostos. Para Gitman (2002, p.620), os “ativos circulantes guardam estreita relação com o nível de produção. Têm variação direta com aumentos ou reduções da produção. Já o nível de ativo permanente é determinado pela escala de produção e pela intensidade do uso do fator capital”. Segundo o autor, investimento alto em capital de giro reduz a lucratividade, baixo demais aumenta risco de não poder honrar as obrigações. As duas situações levam a redução do valor da organização. O nível ótimo ainda é uma questão sem solução. ✓ Objetivo da administração do capital de giro O objetivo principal da administração do capital de giro é “a manutenção do equilíbrio financeiro da empresa, como forma de garantir a continuidade da atividade operacional e propiciar condições adequadas que favoreçam a sua sobrevivência e o crescimento” (VIEIRA, 2008, p.40). Para atingir esse objetivo torna-se necessário o monitoramento da liquidez; estabelecimento de estratégias de ação relacionadas ao controle de estoque, políticas de crédito e de cobrança; ao financiamento de ativos e expansão do negócio. “A administração do capital de giro envolve um processo contínuo de tomada de decisões voltadas principalmente para a preservação da liquidez da empresa, mas que também afetam a sua rentabilidade” (BRAGA, 1995, p.81). Aproximadamente 60% do tempo do administrador financeiro é gasto com administração do curto prazo. ✓ Políticas de administração do capital de giro Para Lemes Jr; Rigo; Cherobim (2005), as políticas voltadas para a administração do capital de giro objetivam definir o volume de investimentos necessários para o giro dos negócios; a distribuição desses investimentos em caixa, valores a receber e estoques e, como serão financiados esses investimentos. Essas políticas devem estar relacionadas sempre ao volume de vendas preestabelecido. Basicamente podem ser identificadas três políticas relacionadas aos investimentos em ativos circulantes: agressiva, restritiva e moderada (VIEIRA, 2008; BRIGHAN, EHRHARDT, 2006; GITMAN,2002): Uma política agressiva (mais liberal) eleva o montante de recursos investidos em ativos circulantes operacionais, sendo utilizada normalmente para apoiar o crescimento de vendas. No entanto, maior investimento em circulantes pode reduzir o giro do investimento. A política restritiva procura reduzir os investimentos em circulantes em patamares mínimos, ou seja, busca minimizar o volume de recursos em ativos circulantes operacionais para aumentar o giro do investimento. Entre esses dois extremos, a política moderada procura alternativas de equilíbrio ao manter investimentos em volume adequado às vendas. UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 10 As políticas devem ser revistas sempre que houver alterações no ambiente interno ou externo. Por exemplo, uma política liberal de concessão de crédito é definida para melhorar as vendas, mas se houver dificuldade de acesso ou custo muito elevado para financiar a expansão de vendas, a organização deve rever sua política liberal e restringir o crédito. A falta ou insuficiência de capital de giro pode ser causada por vários fatores que podem contribuir individualmente ou em conjunto. Os principais fatores são: redução de vendas; crescimento da inadimplência; aumento de despesas financeiras, de outras despesas e custos. ✓ Capital Circulante Líquido (CCL), Capital de Giro Líquido (CGL) ou Net Working Capital (NWC) O CCL corresponde à margem de segurança que a organização deve ter para saldar suas dívidas de curto prazo. CCL representa o valor líquido das aplicações no ativo circulante. Calcula-se o CCL pela expressão: Analisado de outra forma, o capital de giro líquido representa os recursos de longo prazo que estão financiando o ativo circulante da organização. Pode ser determinado pela expressão: Onde: CGL = Capital de giro líquido PL = Patrimônio líquido ELP = Exigível a longo prazo AP = Ativo permanente RLP = Realizável a longo prazo “As empresas não podem contar exclusivamente com dívidas de curto prazo para compor o seu capital de giro, havendo necessidade de utilizar também recursos permanentes para essa finalidade” (BRAGA, 1995, p.86). A Figura 3 apresenta CCL positivo. FIGURA 3 – CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO POSITIVO ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE ATIVO PERMANENTE EXIGÍVEL A LONGO PRAZO PATRIMÔNIO LÍQUIDO CCL ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE ATIVO PERMANENTE EXIGÍVEL A LONGO PRAZO PATRIMÔNIO LÍQUIDO CCL CGL = (PL + ELP) – (AP + RLP) CCL = Ativo Circulante – Passivo Circulante UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 11 CCL positivo representa liquidez, porém valores elevados prejudicam a rentabilidade da organização. O excesso de ativos circulantes pode indicar ineficiência na administração dos recursos financeiros com imobilização desnecessária em estoques e, pela perda do poder aquisitivo dos demais elementos expostos aos efeitos da inflação. A liquidez significa capacidade da organização de liquidar seus compromissos financeiros nas datas convencionadas e constitui condição necessária para sua sobrevivência. CCL negativo indica queo volume de recursos aplicados no ativo permanente é financiado por dívidas de curto prazo (Figura 4). FIGURA 4 - CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO NEGATIVO CCL negativo representa situação de risco, de tornar-se insolvente, pois há nível mais elevado de financiamentos de curto prazo (passivos circulantes) em relação aos níveis de ativos circulantes, mostrando que a organização faz uso de financiamentos de curto prazo em aplicações de longo prazo (ativos permanentes). A insolvência é uma situação de situação financeira crítica, o que pode ter causas diversas, tais como excesso de imobilizações, estoques muito elevados, longos prazos de recebimentos das vendas ou fontes de financiamentos inadequadas. ✓ Retorno e risco na administração do capital de giro Retorno na administração de curto prazo refere-se à lucratividade (receitas – custos). Risco refere-se a uma provável situação de insolvência, o que ocorre quando a organização é incapaz de pagar suas dívidas de curto prazo. Nesse caso, é considerada tecnicamente insolvente. O risco pode ser decorrente das atividades operacionais, quando por exemplo ocorre redução de vendas ou pode ser financeiro, quando a organização tem custos de financiamentos superiores à taxa de rentabilidade de suas operações. A relação entre endividamento (risco), lucratividade e liquidez se alteram, conforme as políticas financeiras adotadas pela organização. As definições de lucratividade e risco, segundo Gitman (2002, p.620) são: Lucratividade – relação entre receita e custos gerados ao se usar os ativos da empresa (circulante e permanente), no processo produtivo. Os lucros podem ser aumentados, aumentando-se receitas ou reduzindo-se custos. Risco – probabilidade de a empresa não ser capaz de pagar suas contas no vencimento. ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE ATIVO PERMANENTE EXIGÍVEL A LONGO PRAZO PATRIMÔNIO LÍQUIDO CCL ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE ATIVO PERMANENTE EXIGÍVEL A LONGO PRAZO PATRIMÔNIO LÍQUIDO CCL UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 12 Na administração do capital de giro é importante buscar o equilíbrio entre lucratividade e risco com financiamentos de curto prazo proporcionais às aplicações. Quando a organização utiliza financiamentos de curto prazo para aplicações de longo prazo (permanente) há maior risco de não poder realizar o pagamento, aí então, ocorre o desequilíbrio. O “dilema risco-retorno” da administração do capital de giro diz respeito à definição do volume adequado de capital de giro, que seja capaz de proporcionar maximização do retorno e minimização do risco. A direção da organização deve decidir quanto de risco vai assumir. Para aumentar o retorno do investimento a organização acaba correndo maior risco, por isso diz-se que existe trade off (curva de troca) entre risco e retorno que envolve benefícios e custos do investimento. Há trade off quando para aumentar o desempenho de um critério, acaba-se perdendo em outro. A Figura 5 representa essa troca. FIGURA 5 – CURVA DE TROCA (TRADE OFF) Risco % 5 10 15 5 10 15 20 20 Retorno % A B Pelo fato de aceitar maiores riscos, a organização busca ser compensada com expectativa de retorno maior. Por outro lado, para ter maior segurança, a organização aceita retorno menor. Em outras palavras: retorno maior representa menor segurança no investimento. Menor retorno representa maior segurança do investimento. É a troca entre retorno e risco. A redução do capital de giro líquido aumenta a eficiência do capital e o lucro. São recomendáveis recursos mínimos no capital de giro ou valores iguais às necessidades para manter as operações da organização. Níveis reduzidos de ativos circulantes melhoram a lucratividade, mas aumentam os riscos da organização (menor liquidez e maior risco), podendo levá-la à falta de liquidez no caso de alguma alteração em seu ciclo operacional, como por exemplo, atrasos nos recebimentos, redução nas vendas ou paralisação da produção. 2.2 Administração de disponibilidades As disponibilidades da organização são constituídas por itens do ativo circulante: numerário em caixa, saldos em contas correntes e aplicações financeiras de curtíssimo prazo. Apresentam relativa previsibilidade de datas para realização. A conta caixa representa o UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 13 numerário em poder da organização e em conta corrente bancária. As aplicações financeiras de curto prazo representam investimentos de recursos no curto prazo de excedentes de caixa. Níveis muito baixos de recursos disponíveis comprometem a capacidade de solvência da organização, no entanto, o excesso de disponibilidade prejudica a rentabilidade. Mesmo sabendo que dificilmente há sincronia entre recebimentos e pagamentos, a administração deve buscar o equilíbrio entre esses extremos. Caixa operacional Para Damodaran (2004), caixa operacional é o caixa mantido pelas organizações para atender necessidades operacionais. O valor depende do tipo de negócio e do tamanho da organização, algumas necessitam mais, outras menos. Torna-se necessário planejar o montante mínimo de caixa operacional, o qual pode ser determinado pelo volume de vendas, regularidade das entradas e pagamentos de caixa, todavia, incertezas ocorrem, devido à falta ou prorrogação de recebimentos e às emergências que requerem desembolsos de caixa. Esse montante pode ser mantido pela organização em conta corrente bancária ou em aplicações financeiras de curto prazo. A determinação do caixa operacional depende de muitos fatores, entre eles destacam-se: a) Falta de sincronia entre recebimentos e pagamentos; b) Ocorrência de eventos não previstos no planejamento, por exemplo, vendas menores que o planejado, custos mais elevados que o previsto; c) Dilatação de prazo médio de recebimento das vendas; d) Dificuldade no acesso às fontes de financiamento; e) Inflação elevada; f) Falhas na política de crédito (falha no controle de recebíveis; problemas na qualidade do crédito, inadimplência); g) Desperdícios no processo produtivo que elevam os custos; h) Manutenção de várias contas correntes. Principais transações que afetam o volume de caixa Motivos para manutenção de recursos em caixa John Maynard Keynes, economista inglês, autor do livro Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro, escrito em 1936, pregou o controle da inflação por meio de poupança forçada. Para ele há três razões pelas quais as organizações e os indivíduos mantêm recursos em caixa. No caso da organização, os motivos são de transação, de precaução e de especulação (GITIMAN, 2002), conforme descrição a seguir. Aumentam o caixa Integralização de capital; financiamentos; recebimento pela venda de ativo permanente; vendas à vista; recebimento de vendas realizadas anteriormente pelo crediário e outras entradas, como juros, dividendos e indenizações de seguros. Reduzem o caixa Pagamento de juros; amortização de dívidas; aquisição de ativos; pagamento de dividendos; pagamento de fornecedores de bens e serviços ou ativo permanente; pagamento de despesas e custos. UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 14 Motivo transação – este motivo seria para atender a demanda por dinheiro referente ao pagamento dos gastos rotineiros (operacionais) por causa da incerteza nos recebimentos, caso o cliente não pague. No ciclo de caixa, entre o pagamento da compra e o recebimento da venda de produtos, a organização consome recursos que podem ser supridos pelos valores mantidos no caixa. Portanto, as necessidades de recursos financeiros têm relação direta com o ciclo de caixa, quanto mais longo esse período, maior será o montantede recursos necessários. Motivo precaução – por este motivo, a organização manteria determinado volume de dinheiro, como saldo preventivo para minimizar incertezas, quanto às necessidades futuras, ou seja, para atender demanda por dinheiro para gastos inesperados. O nível de caixa mantido pelo motivo precaução está relacionado à capacidade da organização em conseguir captar recursos para atender suas necessidades momentâneas, pela facilidade de acesso ao crédito e pelo grau de aversão ao risco. Motivo especulação - pelo motivo especulação a organização manteria certo nível de caixa para tirar proveito de oportunidades lucrativas de mercado. Além destes, há o chamado saldo reciprocidade que corresponde aos saldos deixados em contas correntes para cumprir exigências de reciprocidade bancárias. Na administração do disponível é importante fazer o planejamento de caixa; administrar ciclo operacional e ciclo de caixa; analisar o custo oportunidade de caixa e os efeitos da inflação sobre, a fim de manter a organização saudável, do ponto de vista financeiro. 2.2.1 Planejamento de caixa O planejamento de caixa no curto prazo é basicamente o orçamento de caixa. É um dos instrumentos mais relevantes na administração de capital de giro. Está relacionado às atividades de planejamento e controle do caixa e das aplicações de curtíssimo prazo. Consiste em estabelecer com antecedência as ações que serão executadas para atingir os objetivos. A geração de caixa constitui a principal entrada de recursos financeiros para as atividades da organização, caso isso não ocorra, tanto a liquidez, quanto a continuidade do negócio ficam comprometidos. O orçamento de caixa é composto pela previsão de recebimentos e pagamentos, chegando-se ao saldo de caixa, como mostra a estruturação básica, a seguir. Entradas (de vendas e outras entradas) ( = ) valor total das entradas ( - ) saídas (pagamentos) ( = ) valor total das saídas ( = ) déficit ou superávit de caixa (diferença entre valor total de entradas e saídas) ( + ) saldo inicial (saldo em caixa) ( = ) excesso ou necessidade de caixa A utilização do orçamento de caixa, como ferramenta da administração financeira proporciona estimativas da situação do caixa em um determinado período, de modo que a organização poderá saber com antecedência o saldo. As principais finalidades do orçamento de caixa são: a) Indicar a posição financeira provável das operações planejadas; b) Indicar o excesso ou a insuficiência de caixa; UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 15 c) Indicar a necessidade de empréstimo ou disponibilidade de recursos; d) Estabelecer bases para a política de crédito; e) Permitir a coordenação de recursos financeiros, em relação a (1) capital de giro total; (2) vendas; (3) investimentos e (4) capital de terceiros; f) Estabelecer bases para o controle corrente da posição financeira. Incertezas no planejamento de caixa O planejamento de caixa é necessário para prever operações de negócios em razão da instabilidade de recursos que entram e saem da organização, para pagar dívidas, efetuar pagamentos correntes e reciprocidade bancária. Para reduzir incertezas, normalmente é utilizada a técnica da análise de sensibilidade que envolve a elaboração de vários orçamentos, sendo um baseado em previsão pessimista, um em previsão mais provável e outro com previsão otimista. Esta técnica é utilizada para analisar os fluxos de caixa sob diversas circunstâncias possíveis. 2.2.2 Ciclo operacional e Ciclo de caixa O ciclo operacional e o ciclo de caixa (Figura 6) representam processos importantes na análise e eficácia da administração do capital de giro. Uma organização industrial para assegurar um ciclo contínuo no processo de comprar, produzir e vender, muitas vezes adquire a matéria-prima e insumos para produção a prazo, com créditos concedidos pelos fornecedores. Após a fabricação os produtos são vendidos. Se for a prazo, os créditos concedidos aos clientes dão origem às contas a receber. Neste processo, o gerenciamento de estoques, de pagamento de fornecedores e recebimento de clientes representam práticas indispensáveis na administração de curto prazo. FIGURA 6 - CICLO OPERACIONAL E CICLO DE CAIXA O objetivo da administração do ciclo operacional é minimizar o ciclo de caixa por meio da redução dos períodos de estoques e de recebimento e o aumento do tempo médio de pagamento. A entrada de matéria-prima ou mercadoria para o estoque marca o início do ciclo operacional e os recebimentos pelas vendas indicam o término do ciclo operacional. Conhecendo-se o Compra de mercadorias Recebimento pelas vendas Ciclo operacional PME Pagamento ao fornecedor Venda a prazo PMP PMR Ciclo financeiro ou ciclo de caixa UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 16 período médio de estoque (PME), o prazo médio de cobrança ou período médio de recebimento (PMR), pode-se determinar o ciclo operacional (CO). PME e PMR podem ser determinados usando as equações a seguir. 360= vendidosprodutosdosCusto estoquesdemédia PME Uma indústria normalmente trabalha com insumos de produção (mão-de-obra e matéria- prima) com pagamento posterior. Esses insumos a crédito geram fontes espontâneas de financiamento para a organização. Segundo Groppelli; Nikbakht (2002), aproximadamente 80% das compras anuais são feitas a prazo. PMR elevado significa giro mais lento dos recebimentos. Pode indicar que a organização está adotando uma política liberal de crédito ou tem deficiência na cobrança, ou as duas coisas juntas. O tempo que leva para pagar por estes insumos é chamado de período médio de pagamento (PMP). Este prazo compensa um pouco, o período em que os insumos são transformados em produtos acabados. Pode-se determinar o PMP utilizando a equação: 360= créditoacompras esfornecedordemédia PMP O ciclo operacional representa a extensão de tempo desde o momento que a empresa compra itens para estoque, até o momento em que recebe o dinheiro pela venda. Pode-se obter o ciclo operacional por meio da seguinte equação: Os movimentos de caixa que resultam de saídas de recursos (pagamentos de compras) e das entradas (recebimento de vendas) que ocorrem em diversos momentos compõem o ciclo de caixa ou ciclo financeiro. Pode-se obter o ciclo de caixa utilizando-se da seguinte equação: ou Onde: CC= ciclo de caixa PMR = (Média de contas a receber/vendas a prazo) × 360 Ciclo de caixa = ciclo operacional – PMP CC = (PME+PMR) - PMP Ciclo operacional = PME + PMR UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 17 PME= período médio de estoque PMR= período médio de recebimento PMP=período médio de pagamento. O ciclo de caixa pode ser descrito como o período que inicia com o desembolso no momento da compra de matéria-prima, insumos ou mercadorias até o recebimento da venda, ou seja, é um período de financiamento, pois são investidos recursos nas operações sem que ocorram entradas correspondentes. Portanto, as necessidades de financiamento da organização ocorrem desde o momento que é efetuado o pagamento das compras de insumos até o recebimento pelas vendas realizadas. Para um bom equilíbrio financeiro é preciso que o CC ocorra da forma mais rápida possível, pois quanto mais lento for o giro, maior será a necessidade de recursos. No mínimo os prazos de pagamento aos fornecedores devem ser maiores que os prazos concedidos aos clientes. Interpretação: Ciclo de caixa positivo (CO>PMP): significa necessidade de financiamentos para sustentar o ciclo de caixa. Ciclo de caixa negativo (PMP>CO): significa benefício para a organização com financiamentosespontâneos. Quanto maior o CC, maior será o risco de falta da liquidez. Indústrias normalmente têm CC positivo, outras organizações, como por exemplo, do setor de serviços podem ter CC negativo porque geralmente trabalham com estoques menores que giram rapidamente e geralmente vendem seus produtos ou serviços à vista. Segundo a revista Exame de 29/03/06, para reduzir custos, o Boticário reduziu o tempo de estoques de 45 para 25 dias. Isso gera um benefício enorme, pois há redução de custos e torna o CO e o CC mais eficiente. Estratégias básicas para gerenciar o ciclo operacional: a) Girar o estoque o mais rápido possível; b) Receber o mais rápido possível os créditos concedidos; c) Obter prazos maiores para pagamento de compras. Ações que modificam as necessidades de capital de giro: 2.2.3 Relação da organização com instituições financeiras Manter bom relacionamento com instituições financeiras é importante na administração do capital de giro, pois de modo geral, a organização necessita de seus produtos e serviços. As Aumentam as necessidades de capital de giro - Compra à vista. - Redução de prazos de fornecedores. - Venda a prazo. - Deficiência na cobrança. - Níveis elevados de estoques. - Aquisição de imobilizado. -Despesas pré-operacionais. Ações que diminuem as necessidades de capital de giro - Venda à vista. - Cobrança eficiente. - Venda de imobilizado desnecessário. - Aporte de capital. - Maior lucratividade. - Aumento de prazos dos fornecedores. - Maior rotação de estoque. UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 18 instituições financeiras para desenvolverem suas atividades contam com recursos próprios e recursos oriundos da arrecadação de impostos, taxas, contribuições e venda de produtos e serviços. Os produtos e serviços mais comuns utilizados pelos clientes pessoa jurídica no curto e médio prazo são: As instituições financeiras podem prestar serviços de aval e fiança para clientes pessoas jurídicas. Movimentação bancária A movimentação de recursos financeiros corresponde às operações contratadas pela organização junto às instituições bancárias. Os créditos lançados em conta podem vir de depósitos, cobrança de títulos, liberação de financiamentos e transferências recebidas. Os débitos são efetivados quando da liquidação de compromissos, como cheques emitidos, transferências bancárias, amortização de financiamentos, tarifas e encargos financeiros. O controle da conta corrente é importante, pois é frequente a diferença entre os controles da organização e os saldos das contas bancárias. Isso pode ocorrer devido ao float de pagamento, referente aos cheques emitidos pela organização e não sacados ou depositados pelos favorecidos. Por outro lado, há o float de recebimento que é o período entre a quitação de títulos de cobrança, recebidos e não creditados na conta da organização e cheques depositados por ela e que aguardam compensação. Reciprocidade bancária A manutenção de recursos em conta corrente ou a manutenção de produtos ou serviços pelas organizações junto às instituições bancárias favorecem a liberação de futuras operações financeiras e negociações que a empresa venha a fazer. Essa “exigência” de manutenção de recursos é chamada de reciprocidade bancária. Curiosidade: quando o Deutsche Bank foi constituído, em 1870, as operações bancárias estavam passando por mudanças radicais: estavam começando a aceitar depósitos em dinheiro (BRIGHAN; GAPENSKI; EHRHARDT, 2003, p.763). 2.2.4 Custo oportunidade de caixa O custo oportunidade representa o sacrífico de remuneração por ter aplicado os recursos financeiros em investimento alternativo, de risco semelhante. (ASSAF NETO, 2003). Quando Serviços bancários - Movimentação de numerários por meio de cheques; - Transferências de valores; - Cobrança de títulos; - Custódia de valores; - Corretagens de câmbio. Produtos bancários - Seguros; - Empréstimos: desconto de duplicatas e de cheques, cheque especial, conta garantida, adiantamento de exportações, financiamento de impostos; - Aplicações financeiras: Certificado de Depósito Bancário (CDB), Recibo de Depósito Bancário (RDB), caderneta de poupança, fundos de investimento. UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 19 se fala em caixa, pode-se dizer que custo oportunidade é aquilo que a organização deixa de ganhar sobre saldo disponível, ou seja, quando mantém saldo no caixa para garantir sua sobrevivência em vez de aplicar o dinheiro e obter remuneração. 2.2.5 Efeitos da inflação A inflação aumenta o risco financeiro da organização devido à baixa capacidade de geração de caixa. Com a inflação crescente, organizações com ciclo de caixa elevado terão que aumentar preços acima da inflação para manterem a lucratividade. No entanto, preços mais altos podem afastar clientes. Com inflação, a organização sofre perdas de natureza monetária sobre suas disponibilidades (caixa e contas correntes) e nos recursos aplicados em duplicatas a receber. O inverso ocorre com as obrigações da organização (fornecedores, salários), sobre as quais ela obtém ganhos monetários, devido a perda do poder aquisitivo da moeda. Quando há inflação ocorre elevação no nível geral de preços de bens e serviços na economia. Incertezas na economia geram previsões mais altas nas taxas de juros e investidores exigem juros reais em troca do maior risco são geralmente fatores que contribuem para a elevação da inflação. No Brasil o índice oficial que mede a inflação a partir de julho de 1999 é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Alguns dos efeitos da inflação na organização: a) Crescimento geométrico do capital de giro, devido ao aumento do nível geral de preços. Para manter mesmo nível de produção e de vendas, a organização tem necessidades adicionais de recursos para o capital de giro. b) Com a insegurança dos rumos da inflação na economia, as organizações transferem aos clientes os custos de produção, conforme a expectativa de inflação, gerando distorção de preços. c) Com economia inflacionada ocorre perda do poder aquisitivo, salários ficam defasados e reduz a demanda por produtos e serviços. Para evitar excesso de estoque é importante a previsão de vendas. Demanda em queda reduz as margens de lucro, surgem problemas de liquidez e o aumenta o custo do dinheiro. 2.3 Administração de crédito Segundo Lemes Jr; Rigo; Cherobim (2005), crédito é a disposição de alguém conceder parte do seu patrimônio ou prestar serviço a terceiros na expectativa de receber o valor devido no futuro. Recebíveis (duplicatas a receber) e estoques geralmente representam o maior investimento nos ativos circulantes da organização. De acordo com Gitman (2002), cerca de 40% do ativo circulante e 18% do ativo total correspondem a valores a receber. Segundo o autor, as contas a receber provenientes de vendas a prazo representam os componentes mais significativos do capital de giro e são administrados, conforme as políticas de crédito estabelecidas pela organização. 2.3.1 Política de crédito A política de crédito refere-se aos procedimentos que a organização adota para estabelecer parâmetros na concessão de crédito que tratam das condições gerais de crédito aos clientes. UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 20 Essa concessão de crédito é determinada pela avaliação de cada cliente, seja cliente novo ou antigo. A análise de crédito permite estimar a capacidade de pagamento do cliente, pessoa física ou pessoa jurídica. Conceder crédito aos clientesrepresenta assumir custos e riscos que não ocorrem nas vendas à vista, tais como: despesas com cadastro e cobrança, despesas com pessoal, instalações, serviços de informações, custo dos recursos aplicados em duplicatas a receber, risco de inadimplência e perda do poder aquisitivo do valor dos créditos quando há processo inflacionário. O desenvolvimento de fontes adequadas de informações sobre crédito, métodos de análise de crédito, condições de vendas e políticas de cobrança, são importantes para a obtenção de resultados positivos na política de crédito. Como avaliar o cliente para a concessão do crédito? Para cliente pessoa física, basicamente são utilizados a comprovação de renda, informações de gastos familiares, informações bancárias e comerciais, cadastro de bens e títulos; consultas ao SPC e SERASA7. Na avaliação de cliente pessoa jurídica utiliza-se do Balanço Patrimonial e Demonstrativo de Resultado (históricos e projetados), Fluxo de Caixa e previsão de caixa. Analisa-se principalmente a capacidade de pagamento e o nível de endividamento. Outras informações normalmente utilizadas são obtidas no contrato social ou estatuto, em referências comerciais e bancárias, certidões, SPC, SERASA, associações comerciais, etc.. 2.3.1.1 Qualidade do crédito A qualidade do crédito pode ser avaliada pela análise de cinco fatores, conhecidos mundialmente como cinco “Cs” do crédito: caráter, capacidade, capital, colateral e condições. Geralmente são considerados importantes na determinação do valor a ser concedido a um cliente. a) Caráter refere-se à disposição do cliente em honrar suas obrigações. Está relacionado a sua moral, honestidade, histórico de pagamentos, etc.. b) Capacidade refere-se ao potencial de renda para pagamento de compras. É avaliada geralmente utilizando-se de informações financeiras. c) Capital refere-se ao patrimônio líquido do cliente. É avaliado pela condição econômica em efetuar o pagamento. d) Colateral é representado pelas garantias que o cliente pode oferecer para obter o crédito. e) Condições relacionadas a fatores externos que podem afetar a capacidade de pagamento do cliente, como tendências econômicas gerais. 2.3.1.2 Elementos que compõem a política de crédito Os elementos que compõem a política de crédito são: padrões de crédito; termos de crédito 7 SPC Brasil concentra dados e informações de devedores no comércio. Pertence à Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). A Serasa Experian S.A concentra dados e informações de devedores das instituições bancárias, recentemente também mensura riscos de empresas. Mais informações: http://www.serasaexperian.com.br e http://www.spcbrasil.org.br. UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 21 (prazo e desconto para pagamento antecipado) e política de cobrança (GTIMAN, 2002; ASSAF NETO, 2003): a) Padrões de crédito Os padrões de crédito definem quais requisitos mínimos de segurança serão exigidos para que se conceda crédito aos clientes. Se afrouxados, aumentam as vendas e o investimento em duplicatas a receber e, provavelmente aumentam os riscos de atrasos e de perdas por falta de pagamento. Quando a organização concede crédito aos clientes amplia seu nível de operações, favorece o escoamento da produção, aumenta o giro de estoques e absorve melhor os custos fixos, consequentemente, maximiza a lucratividade. b) Termos de crédito (prazo e desconto para pagamento antecipado) O prazo concedido aos clientes para fazer seus pagamentos é um elemento-chave da política de crédito (SANTOS, 2001). Ao conceder crédito são estabelecidos prazos para os clientes. O aumento ou a redução do prazo pode influenciar nos lucros da organização. A dilatação do prazo pode elevar as vendas, mas é possível que se eleve também a inadimplência. Também implica em maior investimento em contas a receber, aumenta a necessidade de capital de giro e os custos financeiros. A determinação de prazos depende de: - Práticas comerciais setoriais (nível micro setorial); - Natureza do mercado em que a organização atua (concorrência); - Restrições na política monetária; - Estabelecimento de descontos financeiros para pagamentos antecipados. Descontos financeiros são oferecidos ao cliente para estimular a antecipação de pagamentos. É uma estratégia de cobrança que poderá representar redução do prazo médio de cobrança dos recursos aplicados em duplicatas a receber, do número de duplicatas em atraso e do risco de perdas com inadimplência. No entanto, ao conceder descontos a organização reduz receitas com vendas. c) Política de Cobrança Chama-se política de cobrança, todos os procedimentos adotados para receber créditos concedidos aos clientes na data do vencimento, bem como o estabelecimento de ações a serem tomadas em relação aos clientes inadimplentes, aos métodos de cobrança e critérios para protestar créditos vencidos. As vendas a prazo podem ser recebidas em carteira ou por meio do sistema bancário. A cobrança em carteira tem custos operacionais. A cobrança bancária tem custos de serviços bancários, além do float, pois os recebimentos, geralmente são repassados à organização em data posterior ao pagamento do cliente. Outros meios de cobrança seriam transferências ou depósitos feitos pelo cliente em conta corrente da organização e o cartão de crédito, cujo pagamento das parcelas é efetuado pela administradora do cartão. A organização que se encontrar em melhor situação financeira terá maior liberdade para estabelecer a política de crédito, de forma que poderá seguir os padrões de crédito do setor no qual atua, bem como praticar uma política de crédito que favoreça sua expansão no mercado. Segundo o jornal Valor de 18/02/2013, o Itaú Unibanco precisou reformular parte da política de crédito, nos critérios de liberação de crédito. Com isso conseguiu reduzir a inadimplência UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 22 em 4,8% em dezembro de 2012. Os chamados “calotes” ocorreram principalmente em financiamentos para pequenas empresas e para aquisição de veículos. Os meios que podem ser adotados para créditos vencidos são cartas, visitas, telefonemas, agências de cobrança, ação legal e atualmente tem-se dado maior ênfase à negociação. 2.3.1.3 Planejamento e avaliação de política de crédito Quando há dilatação de prazo de recebimento, ocorre aumento das vendas e, consequentemente aumenta também o volume de contas a receber. O mesmo ocorre se a organização resolver afrouxar os padrões de crédito, usados na liberação de crédito. O lucro esperado com o aumento das vendas deve ser comparado com o acréscimo do custo oportunidade do investimento em contas a receber e com as prováveis perdas com inadimplência que podem aumentar, principalmente com o afrouxamento do crédito. A implantação ou alteração de uma política de crédito precisa necessariamente ser analisada em relação às despesas com inadimplência, com crédito e cobrança, custo marginal e margem de contribuição. A análise desses aspectos indicará o resultado esperado e a organização então, poderá tomar a melhor decisão. a) Despesas com inadimplência A probabilidade de inadimplência aumenta quando os padrões de crédito são flexibilizados. Segundo Matias (2007), inadimplentes são clientes com atraso de até 30 dias, após o vencimento da conta. Acima de 30 até 180 dias são clientes insolventes e, acima de 180 dias estão em ações de recuperação ou perda do crédito. b) Despesas gerais com crédito e cobrança Aumentando o volume de duplicatas a receber a organização necessitará de mais pessoal para o departamento de crédito, aumentam as consultas ao SPC e SERASA, podem aumentar as tarifas bancárias. c) Custo do investimento marginal em duplicatas a receber Investimento marginal se refereao investimento adicional que a organização deve fazer para sustentar o aumento de vendas a prazo. Por esse investimento adicional terá custo para manter recursos imobilizados em créditos a receber. Esse custo é atribuído à renúncia de outras oportunidades de receitas, com iguais riscos. O investimento marginal pode ser calculado pela diferença entre o custo de sustentar contas a receber antes e após o relaxamento dos padrões de crédito. d) Margem de contribuição A margem de contribuição corresponde à diferença entre o preço de venda e os custos e despesas variáveis. O planejamento e a avaliação de decisões relacionadas à política de crédito utilizam o conceito de margem de contribuição. A equação para determinar a margem de contribuição é: Margem de contribuição = preço de venda – (custos e despesas variáveis) UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 23 2.3.1.4 Indicadores de atividade no crédito A análise dos indicadores de atividade permite avaliar o desempenho da administração do ciclo operacional da organização. a) Prazo médio de recebimento O prazo médio de recebimento pode ser calculado pela média ponderada dos prazos de recebimento de vendas realizadas pelo crédito comercial, conforme a seguinte expressão: receberavaloresdostotal PVPVPV PMR 332211 )(...)()( +++ = Onde: PMR = prazo médio de recebimento ou PMC = prazo médio de cobrança. V1, V2, V3 = representam os diversos valores a receber. P1, P2, P3 = representam os diversos prazos a receber. Exemplo Uma organização que possui em seus controles, os seguintes prazos e valores a receber: Para R$300.000,00 com prazo de 30 dias; R$100.000,00 com prazo de 10 dias; R$200.000,00 com prazo de 50 dias. Qual o período médio dos recebimentos? b) Giro de contas a receber Este indicador representa quantas vezes as contas a receber (estoque de crédito) se renovam. Calcule o giro das contas a receber utilizando o resultado do exemplo anterior e a equação abaixo. c) Saldo médio e Investimento médio em contas a receber Saldo médio corresponde ao estoque médio de contas a receber durante o ano. Pode-se calcular o saldo médio de contas a receber utilizando a seguinte equação: receberacontasdegiro prazoavendas médioSaldo DR =)( O investimento médio em contas a receber corresponde somente aos custos variáveis, aqueles diretamente relacionados ao produto, sejam gastos efetuados na compra ou na produção. Os custos fixos não compõem o investimento médio em contas a receber porque são independentes do volume de produção ou operação da organização. Giro de contas a receber (gr) = (360/PMR) UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 24 Calcula-se o investimento médio em contas a receber pela seguinte expressão: Exemplo As vendas de uma organização têm um período médio de recebimento de 45 dias. O valor das vendas anuais a prazo é de R$1.200.000,00 e o custo variável é de 60% do valor das vendas. Utilizando as equações apresentadas anteriormente, calcule o saldo médio e o investimento médio em contas a receber. Comente. 2.4 Administração financeira de estoques No setor de comércio, o estoque de mercadorias para revenda é base das operações. Nas indústrias, os estoques favorecem a produção pelo uso de matéria-prima no processo de fabricação e na venda, os produtos acabados atendem à demanda. Nos serviços, os estoques são os materiais de consumo e almoxarifado. A responsabilidade pelo gerenciamento do estoque não cabe diretamente ao administrador financeiro, mas ele poderá influir nas decisões, juntamente com as áreas responsáveis, a fim de controlar o nível e o giro de estoques, minimizando custos, gerando lucros e preservando a capacidade de pagamento. 2.4.1 Estoque é investimento Estoque representa imobilização de recursos, pois reduz a disponibilidade de dinheiro para pagamentos e gera custos e despesas. Por isso, organizações que possuem níveis elevados de estoques muitas vezes são obrigadas a captar recursos de terceiros para capital de giro. Na aquisição e manutenção de estoque, a organização renuncia a outras oportunidades de ganhos, nesse caso, tem-se o custo oportunidade do investimento em estoque. Em geral pode- se encontrar os seguintes tipos de estoques: matéria-prima, materiais auxiliares, produtos em processo e produtos acabados, material de manutenção e consumo, estoque em trânsito e estoques em consignação. O estoque médio (investimento médio em estoque) pode ser calculado utilizando-se da seguinte equação: estoquedegiro CMV médioestoque = 2.4.2 Fatores que interferem nos níveis de estoques A demanda, durabilidade e obsolescência, custos de armazenagem, custo oportunidade, mercado fornecedor e escala de produção são fatores que devem ser analisados na tomada de decisão de aquisição e manutenção de estoques. Investimento (DR)= (Custo variável em contas a receber/giro de contas a receber) UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 25 a) Demanda A previsão de vendas constitui um fator de determinação de estoque. Nesse aspecto é importante observar: sazonalidade, disponibilidade de recursos, descontos para volumes de compra, proteção contra escassez de matéria-prima. b) Durabilidade e obsolescência São fatores que têm a haver com a natureza do estoque. A durabilidade (perecibilidade) de produtos que após o vencimento não podem ser consumidos. Quanto à obsolescência são produtos que após certo período caem no desuso ou ficam ultrapassados, como produtos de moda, tecnológicos e eletrônicos. c) Custos de armazenagem e custo oportunidade Para estoques elevados supõe-se maior investimento em instalações, segurança, adequação de espaço físico e custo oportunidade do investimento. Em uma política de estoques deve ser incluído a análise da liquidez do estoque, isto é, a capacidade dos itens estocados serem convertidos em dinheiro. Segundo Gitman (2002) há estimativas de que um item em estoque tenha custo anual de manutenção entre 20 a 30% de seu valor. d) Mercado fornecedor Na administração de estoques é importante ter conhecimento da localização dos fornecedores e da capacidade de atendimento de pedidos. Muitas vezes a distância entre a organização e o fornecedor ou sua incapacidade de atender pedidos acaba forçando a manutenção de estoques mais elevados para evitar falta de matéria-prima ou produto até que ocorra reposição. e) Escala de produção Para pequenas organizações que trabalham com recursos escassos, a administração de seus estoques torna-se imprescindível para minimizar custos e níveis de estoques, liberando fundos para uso em outras aplicações. No entanto, para organizações maiores, a economia de escala pode justificar níveis mais elevados de estoque. 2.4.3 Técnicas de administração de estoques Embora a responsabilidade da administração do estoque não seja do administrador financeiro, é importante que ele conheça as principais técnicas de controle de estoques. Existem várias técnicas para administrar estoques, entre as mais utilizadas, estão: método do estoque físico, sistemas computadorizados, lote econômico, estoque Just-in-time, sistema ABC e método de duas gavetas. a) Método de estoque físico Um sistema de estoque físico periódico envolve a contagem real de itens de estoque. A contagem é feita em unidades físicas. A simplificação do processo de fazer uma contagem física ocorre quando são utilizados códigos de barras nos itens estocados. Os códigos de barras são lidos pelos leitores óticos que transmitem informações para um computador. b) Sistemas computadorizados Ossistemas computadorizados geralmente são utilizados por organizações varejistas maiores, mas já existe em organizações menores. A contagem do estoque é feita pelo computador que ajusta automaticamente o saldo do estoque, ao mesmo tempo realiza um novo pedido quando UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 26 o estoque atinge um nível estabelecido. É um sistema de controle dinâmico, permanente. c) Lote econômico de compra (LEC) Na representação da Figura 7, o lote econômico corresponde ao ponto mais baixo na curva dos custos totais, onde coincide a interseção das curvas de custos de manutenção e de renovação. FIGURA 7 - REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO LOTE ECONÔMICO Fonte: Adaptado de GITMAN, 2002, p.718. O resultado apurado utilizando-se da equação abaixo representa quantas unidades será comprada, a fim de minimizar os custos totais. Esse resultado é chamado de lote econômico de compra. Ce VCp2 Q = Onde: Q = Quantidade de cada pedido V = Volume de vendas do período Cp = Custo de cada pedido Ce = Custo de estocagem por unidade Os custos considerados na análise do lote econômico Pelo método de lote econômico, o custo de processamento de cada pedido de compra é fixo. Custos de manutenção (estocagem) Com armazenamento (aluguel, luz, seguro), custo oportunidade, juros, imposto predial, taxas de serviços públicos, conservação (limpeza, iluminação, refrigeração, calefação). Custos de renovação Custos de manutenção Custos totais LEC Custo Quantidade de pedido (unidades) Custos de renovação Custos de manutenção Custos totais LEC Custo Quantidade de pedido (unidades) Custos de renovação (pedidos) Diversos procedimentos administrativos para emitir e receber pedidos: gastos com cotação, inspeção (mão de obra, telefone, energia elétrica, correios, reprografia, viagens, material utilizado no processamento de pedidos e inspeção de compras). UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 27 Se a organização comprar materiais somente à medida que estes forem sendo consumidos, o estoque médio será mínimo e o custo de armazenagem será baixo, no entanto envolverá custos de processamento elevados. Por outro lado, se a organização comprar grandes quantidades de mercadorias, o custo de processamento será baixo e o custo de estocagem será elevado. Os custos de manutenção aumentam à medida que aumentam os estoques. Além dos custos, os estoques estão sujeitos a riscos, como furtos, eventuais perdas por deterioração, obsolescência, queda de preços no mercado, etc.. Limitações do LEC: ✓ Não considera o tempo de reposição (não há demora na entrega da compra); ✓ Não há limitação financeira; ✓ É desenvolvido em condições de certeza (não há risco de falta do produto). d) Sistema Just-in-time (JIT) O sistema Just-in-time popularizado no Japão e adotado em vários países tenta cortar custos de manutenção de estoque, reduzindo-o e maximizando seu giro. Novos estoques são recebidos somente após a saída do último item em estoque. O objetivo fundamental da metodologia JIT é manter em estoque apenas o suficiente para atender às necessidades imediatas de produção. A adoção do sistema JIT necessita de forte cooperação com os fornecedores, cultura muito forte, produção enxuta (processo planejado de produção). A Toyota, montadora de veículos fundada em 1937 teve sua pior crise no final da 2ª guerra mundial. O primo do fundador pediu a Taiichi Ohno (principal executivo e engenheiro) que reinventasse o processo produtivo. “Os tempos de aperto não permitiam mais o desperdício e os estoques altos, comuns às indústrias da época”. Ohno não contratou nenhuma consultoria, ele mesmo analisou todo o processo de fabricação de automóveis e conseguiu reinventar o processo produtivo com a aplicação do sistema JIT. No ano de 2007, os estoques da empresa duravam no máximo 30 minutos. (EXAME, ed.892 de 09/05/2007). e) Sistema de classificação ABC (Curva ABC) Os estoques são constituídos por diferentes itens, cada um representando um tipo específico de material, produto ou mercadoria para revenda. No estoque cada item é formado por determinada quantidade de bens homogêneos que são agrupados, visando estabelecer o montante de recursos investidos. Deste modo, pode-se obter a seguinte classificação: ✓ Itens A – pequeno número de itens que demandam alta participação no valor total dos estoques. O valor em estoques correspondente ao grupo A fica entre 60% a 80% do valor total em estoques. ✓ Itens C – grande número de itens que representam menores investimentos no valor total dos estoques. Cerca de 5% a 10% do valor dos estoques pertencem aos itens C. ✓ Itens B – itens que estão situados entre as categorias anteriores, representam o maior investimento depois dos itens A. Os itens classificados como B consomem aproximadamente 15% a 30% do valor dos estoques. Os itens da categoria A são revistos e ajustados com maior frequência, os itens B com menor frequência e, os itens C, com pouca frequência. Em geral, são colocados 20% dos itens na classe A, 30% na classe B e os 50% restantes na classe C. UNIOESTE Campus Francisco Beltrão – Disciplina de Administração financeira e orçamentária 28 O sistema ABC na administração de estoques é usado para definir políticas de vendas, estabelecer prioridades para a programação da produção e auxiliar na resolução de outros problemas da organização. Entretanto, a curva ABC não pode ser usada de forma indiscriminada, pois podem existir elementos essenciais à produção, porém pouco representativos em termos de valor. Na curva ABC de consumo, itens de estoque com o mesmo valor unitário podem ficar em classes diferentes, porque a classificação é determinada pelo valor total consumido de cada item. f) Método de duas gavetas É uma técnica simples, os estoques são divididos em duas partes ou duas gavetas. Quando a primeira parte é esgotada, um novo pedido de reposição é realizado. A segunda gaveta deverá cobrir as necessidades de suprimento até que a nova compra chegue. Embora existam diversos sistemas para controle de estoques, a ênfase na simplicidade do sistema favorece o controle às pequenas empresas, evita desperdício e controles de estocagem que necessitam de técnicas sofisticadas e de pessoal mais capacitado. O capital de giro investido em estoques tem custo financeiro, por isso, é necessário controle do estoque e manutenção de seus níveis, o mais baixo possível, sem prejudicar as atividades normais da empresa. Também é importante manter bom relacionamento com fornecedor para que em época de escassez não faltem suprimentos. Relação entre estoques e contas a receber Existe uma relação entre contas a receber derivadas de vendas a prazo e estoques. Na venda a prazo os valores referentes a itens vendidos saem do estoque e vão para duplicatas a receber e, posteriormente para o caixa. Os custos associados ao estoque, em geral são mais elevados que os custos de manter contas a receber, pois além do retorno exigido pelos recursos investidos no estoque há outros custos de manutenção e renovação. 2.5 Administração de financiamentos de curto prazo Os ativos de uma organização podem ser financiados com capital próprio ou capital de terceiros. O uso de capital de terceiros deve ser adequado, de modo que seu volume não coloque em risco a liquidez, assim como o custo deve compensar sua utilização. A utilização de capital de terceiros será vantajosa quando o seu custo é menor que o retorno proporcionado pelos seus ativos. A adoção de uma política de financiamento, com a utilização de mais créditos de curto prazo, quando os custos forem menores que os custos de longo prazo melhoram os resultados, mas podem comprometer a liquidez. Segundo Assaf Neto (2003), a preferência
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