Buscar

Crescer em amizade_ uma chave de leitura para o evangelho de Lucas - Carlos Mesters

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 122 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 122 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 122 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

2
Sumário
Capa
Folha de rosto
A conversa que fez nascer este livro
1ª PARTE: O LIVRO… Autor e destinatários, motivo e divisão
1. Quem era Lucas e para quem escreveu o seu Evangelho?
2. O que levou Lucas a escrever o seu Evangelho?
3. Divisão do Evangelho de Lucas
2ª PARTE: O CONTEÚDO
PRÓLOGO: Lucas 1,1-4: Anunciar quem é Jesus para nós
1º BLOCO: Lucas 1,5-2,52: Nascimento e infância de João e de Jesus
2º BLOCO: Lucas 3,1-4,44: De João Batista para Jesus
3º BLOCO: Lucas 5,1-9,50: Ao redor de Jesus vai se formando uma nova comunidade
4º BLOCO: Lucas 9,51 até 19,28: A longa viagem da Galileia até Jerusalém
5º BLOCO: Lucas 19,28 a 21,38: A última semana de Jesus em Jerusalém
6º BLOCO: Lucas 22,1 até 24,53: Paixão, morte e ressurreição
3ª PARTE: PESSOAS QUE SÓ APARECEM EM LUCAS
1. Zacarias (Lc 1,5-25)
2. Isabel (Lc 1,5-25)
3. Os pastores visitam Jesus (Lc 2,8-20)
4. Jesus Menino (Lc 2,6-7)
5. O velho Simeão (Lc 2,25-35)
6. A profetisa Ana (Lc 2,36-38)
7. A viúva de Naim (Lc 7,11-17)
8. A prostituta que beija os pés de Jesus (Lc 7,36-50)
9. Joana (Lc 8,3)
10. Susana (Lc 8,3)
11. A mulher que elogiou a Mãe de Jesus (Lc 11,27-28)
12. A mulher encurvada (Lc 13,10-17)
13. Zaqueu, que quer ver Jesus de perto (Lc 19,1-10)
14. O bom ladrão que entra no céu junto com Jesus (Lc 23,39-43)
15. Maria, a mãe de João Marcos (Atos 12,12)
16. O anjo Gabriel, porta-voz de Deus (Lc 1,19.26)
17. Maria, a Mãe de Jesus
4ª PARTE: PARÁBOLAS QUE SÓ APARECEM EM LUCAS
1. A parábola do bom samaritano (Lc 10,25-37)
2. A parábola do filho pródigo (Lc 15,11-32)
3. A parábola do rico e do pobre Lázaro (Lc 16,19-31)
4. A parábola do juiz iníquo e da viúva persistente (Lc 18,1-8)
5. A parábola do fariseu e do publicano (Lc 18,9-14)
5ª PARTE: ACONTECIMENTOS QUE SÓ APARECEM EM LUCAS
1. Anunciação do anjo Gabriel a Maria (Lc 1,26-38)
2. A visita de Maria a Isabel (Lc 1,39-56)
3. A purificação de Maria após o parto (Lc 2,21-24)
4. Jesus no Templo aos doze anos (Lc 2,41-52)
5. Os trinta anos de Jesus em Nazaré (Lc 2,39-40.51-52)
6. A cura dos dez leprosos (Lc 17,11-19)
7. A missão dos 72 discípulos, a missão de todos nós (Lc 10,1-12)
8. A Transfiguração no monte e a agonia no horto (Lc 9,28-36; 22,44)
9. Destaque de Jesus para as mulheres
3
kindle:embed:0002?mime=image/jpg
10. A oração na vida de Jesus
6ª PARTE: LUCAS ENSINA COMO LER A BÍBLIA
Coleção
Ficha Catalográfica
4
kindle:embed:0002?mime=image/jpg
A CONVERSA QUE FEZ NASCER ESTE LIVRO
João: Tia, é verdade que Jesus se deixou beijar por uma prostituta?
Maria: Por que você pergunta isso, menino?
João: A professora falou na aula de catecismo. Muitos meninos deram risada.
Maria: É verdade, sim. Está na Bíblia.
João: Na Bíblia, tia?
Maria: Sim, na Bíblia.
João: Não é possível!
Maria: Não é possível, por quê?
João: Porque na Bíblia não tem dessas coisas.
Maria: Então vale a pena você ler um pouco mais a Bíblia, viu, menino! Sobretudo Lucas.
João: E por que Lucas?
Maria: É Lucas que conta isto no Evangelho dele. E ele conta muitas outras coisas
importantes.
João: O que mais Lucas conta sobre Jesus? A senhora se lembra de alguma coisa?
Maria: Você já ouviu falar do Filho Pródigo?
João: Sim. Muitas vezes.
Maria: Foi Lucas quem lembrou. Já ouviu falar do Bom Samaritano?
João: Muitas vezes.
Maria: Também de Lucas. Olha, é Lucas quem fala da visita do anjo a Nossa Senhora e da
visita de Nossa Senhora a Isabel. Ele fala do nascimento de Jesus, de Jesus aos 12
anos no Templo, de Jesus suando sangue no Horto. Estas e muitas outras coisas
Lucas conta para nós.
João: Então, tia, vale a pena alguém escrever algo sobre Lucas para a gente conhecer
melhor a mensagem dele sobre Jesus. A senhora não acha?
5
porque no ano que vem o Evangelho do ano vai ser Lucas. Vou falar no nosso grupo
bíblico. Lá participa gente que pode escrever sobre Lucas.
Maria conversou no grupo dela e conseguiu resultado. Tempos depois, ela disse no grupo:
Maria: Gente, o que posso dizer para vocês é isto: foi a conversa com meu sobrinho que fez
nascer este livrinho sobre Lucas.
6
1ª PARTE
O LIVRO
Autor e destinatários, motivo e divisão
1. Quem era Lucas e para quem escreveu o seu Evangelho?
O terceiro Evangelho e os Atos dos Apóstolos são do mesmo autor. São dois
volumes de uma única obra, ambos escritos com o mesmo objetivo para o mesmo
Teófilo (Lc 1,3; At 1,1). Os dois volumes carecem de assinatura. Mas, desde o início,
a Tradição das Igrejas os atribui a Lucas. Quem era Lucas?
Lucas era companheiro de viagem de Paulo. Foi durante a segunda viagem
missionária que ele se juntou ao grupo de Paulo e começou a acompanhá-lo (At
16,10). Durante aquela viagem, na hora de Paulo embarcar para a Europa, o texto dos
Atos dos Apóstolos, de repente, passa da terceira pessoa do plural (eles) para a
primeira pessoa do plural (nós), e passa a ser o relato de alguém que estava
participando da viagem. Diz o texto: “Então eles atravessaram a Mísia e desceram
para Trôade. Durante a noite, Paulo teve uma visão: na sua frente estava de pé um
macedônio que lhe suplicava: ‘Venha à Macedônia e ajude-nos!’. Depois dessa
visão, procuramos imediatamente partir para a Macedônia, pois estávamos
convencidos de que Deus acabava de nos chamar para anunciar aí a Boa Notícia.
Embarcamos em Trôade” (At 16,8-11). Daqui para a frente até o fim da viagem,
Lucas começa a fazer parte da equipe de Paulo. Ele é o “querido médico Lucas”,
mencionado na Carta de Paulo aos Colossenses (Cl 4,14). Lucas está com Paulo,
quando este escreve a Carta para Filêmon (Fm 1,24). Pouco antes de morrer, ao
escrever a segunda carta para Timóteo, Paulo diz: Somente Lucas está comigo (2Tm
4,11). Era um companheiro fiel, até a hora da morte.
A tradição informa que Lucas nasceu em Antioquia, uma grande cidade no litoral
do mar Mediterrâneo, mais ou menos uns 500 km ao norte de Jerusalém. Lucas era
um pagão convertido. Antes de entrar na comunidade cristã, ele fazia parte do grupo
que ele mesmo chama de tementes a Deus (At 10,2.22; 13,16.26) ou adoradores de
Deus (At 16,14; 17,4.17). Eram pagãos que se sentiam atraídos pelas Escrituras do
povo judeu, pela seriedade da moral e da religião que elas comunicavam e pela
promessa de salvação feita por Deus a Abraão que elas anunciavam. Nos sábados,
eles enchiam as sinagogas. Gostavam de ouvir as leituras da Lei e dos Profetas. Lucas
deve ter sido um destes tementes a Deus. Ele deve ter estudado muito a Sagrada
Escritura, pois pelo seu Evangelho e pelos Atos dos Apóstolos, a gente percebe que
ele tinha um vasto conhecimento da Sagrada Escritura.
Mesmo assim, apesar da grande admiração pelas Escrituras, os pagãos tementes a
Deus não aderiam plenamente à religião dos judeus. O impedimento era a obrigação
da circuncisão e a observância das muitas normas da pureza legal. Foi a pregação de
Paulo que, neste ponto, trouxe para eles a boa notícia: o acesso à salvação que vem de
Deus não se faz através da circuncisão e da observância das leis da pureza, mas sim
através da fé em Jesus Cristo que morreu e ressuscitou por nós. Aí, a porta se abriu e
muitos “tementes a Deus” aderiram à Boa-Nova de Deus que Jesus nos trouxe. Lucas
7
era um deles. Tornou-se um cristão fervoroso. A partir dos anos 70, este grupo dos
pagãos convertidos era cada vez mais numeroso nas comunidades cristãs das grandes
cidades do Império Romano. É para eles que Lucas, nos anos 80, escreve o seu
Evangelho e os Atos dos Apóstolos.
8
2. O que levou Lucas a escrever o seu Evangelho?
Bem no início, o Evangelho era anunciado somente aos judeus. O anúncio aos
pagãos se deu aos poucos. Começou em Antioquia por um grupo de judeus cristãos
que tinham fugido de Jerusalém por causa da perseguição. Eles chegaram a Antioquia
e, com toda a naturalidade, começaram a anunciar a Boa-Nova não só aos judeus,
mas também aos pagãos “tementes a Deus” (At 11,20-21). Esta abertura foi aprovada
por Pedro (At 10,44-48; 11,15-17), foi continuada por Paulo e, no fim, foi confirmada
pelo Concílio de Jerusalém (At 15,7-29).
Porém, mesmo aprovada, a aberturapara os pagãos continuava sendo uma fonte
de tensões (cf. At 15,1-2.5; Gl 2,11-14). Alguns cristãos do judaísmo diziam aos do
paganismo: “Se vocês não forem circuncidados, como ordena a Lei de Moisés, vocês
não poderão salvar-se” (At 15,1; cf. Gl 2,12). Essa discussão foi causa de muita
confusão nas comunidades (Gl 1,6-12; At 15,1-2). Até Pedro deixou-se envolver e
“começou a evitar os pagãos e já não se misturava com eles” (Gl 2,12). Por isso,
muitos cristãos do paganismo se perguntavam: “Será que o ensinamento que nós
recebemos é sólido mesmo?”. Este problema levou Lucas a escrever o seu Evangelho
“para que vocês possam verificar a solidez dos ensinamentos recebidos” (Lc 1,4).
Além disso, a entrada de um número cada vez maior de pagãos criou o problema
da tensão entre ricos e pobres. No início, nos anos 50 d.C., a maior parte dos cristãos
era da camada dos pobres e escravos. Paulo até escreve para a comunidade de
Corinto: “Irmãos, vocês que receberam o chamado de Deus, vejam bem quem são
vocês: entre vocês não há muitos intelectuais, nem muitos poderosos, nem muitos de
alta sociedade” (1Cor 1,26). Pouco a pouco, porém, foram entrando também pessoas
de classes mais ricas e, de repente, os cristãos se davam conta de que entre eles
começava a existir o mesmo conflito social entre ricos e pobres que marcava o
Império Romano, causando os mesmos problemas e a mesma confusão (cf. Tg 2,1-9;
1Cor 11,20-21.26; Ap 3,17).
Este é o outro motivo que levou Lucas a escrever o seu Evangelho. E também
neste ponto o recado dele é claro e radical. Ele faz saber aos ricos que não é possível
manter a ideologia do império e continuar a ser cristão. “Vocês não podem servir a
Deus e ao dinheiro” (Lc 16,13). Com vigor profético Lucas lembra as frases mais
duras de Jesus neste ponto: “Felizes de vocês, os pobres, porque o Reino de Deus
lhes pertence. Felizes de vocês que agora têm fome, porque serão saciados. Felizes
de vocês que agora choram, porque hão de rir. Mas ai de vocês, os ricos, porque já
têm a sua consolação! Ai de vocês, que agora têm fartura, porque vão passar fome!
Ai de vocês, que agora riem, porque vão ficar aflitos e irão chorar!” (Lc 6,20-21.24-
25).
9
3. Divisão do Evangelho de Lucas
O Evangelho de Lucas é grande. Tem 24 capítulos. A divisão em seis blocos ajuda
a captar melhor a mensagem e o jeito próprio de Lucas em apresentar a Boa-Nova de
Deus de tal maneira que todos, tanto pagãos como judeus, tanto ricos como pobres,
pudessem superar suas divergências e divisões, e crescer em amizade:
Prólogo: Lucas 1,1-4: Anunciar quem é Jesus para nós
Verificar a solidez dos ensinamentos
1º Bloco. Lucas 1,5-2,52: Nascimento e infância de João e de Jesus
Vindo do AT, indo em direção ao Novo, que já vem chegando
2º Bloco. Lucas 3,1-4,44: Passando de João para Jesus
Saindo do Antigo, entrando no Novo Testamento
3º Bloco. Lucas 5,1-9,50: Ao redor de Jesus vai se formando uma nova comunidade
O novo abre o caminho e a transformação vai acontecendo
4º Bloco. Lucas 9,51-19,28: A longa viagem desde a Galileia até Jerusalém
A difícil passagem do Antigo para o Novo Testamento
5º Bloco. Lucas 19,29-21,38: A última semana de Jesus em Jerusalém
O confronto final: o grito do povo incomoda o poder
6º Bloco. Lucas 22,1-24,53: Paixão, morte e ressurreição de Jesus
O doloroso nascimento da vida nova
10
2ª PARTE
O CONTEÚDO
PRÓLOGO
Lucas 1,1-4
1Muitas pessoas já tentaram escrever a história dos acontecimentos que se passaram entre nós. 2Elas começaram do que
nos foi transmitido por aqueles que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da palavra. 3Assim sendo,
após fazer um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio, também eu decidi escrever para você uma
narração bem ordenada, excelentíssimo Teófilo. 4Desse modo, você poderá verificar a solidez dos ensinamentos que
recebeu (Lc 1,1-4).
11
Anunciar quem é Jesus para nós
Verificar a solidez dos ensinamentos
Lucas inicia o seu Evangelho dizendo que muitos já tentaram escrever sobre Jesus
e que, por isso, ele também resolveu escrever (Lc 1,1). E a gente logo pergunta: “Se
já havia tantos escritos sobre Jesus, por que ele precisava escrever mais um?”.
Aqui está o nó da questão. Havia muitas tendências e grupos: “Eu sou de Paulo.
Eu sou de Apolo. Eu sou de Pedro. Eu sou de Cristo” (1Cor 1,12). Havia muita
confusão. “Há pessoas que estão semeando confusão entre vocês e querem deturpar o
Evangelho de Cristo” (Gl 1,7). Cada um apresentava as coisas que Jesus fez e ensinou
conforme o seu próprio gosto (cf. Gl 1,6-10). Havia gente que anunciava um
Evangelho diferente daquele que Paulo tinha anunciado. Paulo chega a dizer na carta
aos Gálatas: “Maldito seja quem anuncia um Evangelho diferente daquele que vocês
receberam” (Gl 1,8-9). Lucas vivia no meio dessa confusão. Ele era um pagão
convertido. O Apóstolo Paulo, seu grande amigo, tinha sido criticado por ter acolhido
pagãos convertidos nas comunidades sem exigir deles a circuncisão nem a
observância das leis da pureza legal. Alguns judeus achavam que isso não era correto,
e diziam que todos deviam ser circuncidados para poder ser salvos (At 15,1), e que a
abertura para os pagãos, propagada por Paulo, não vinha de Jesus, mas era uma
“invenção humana” (cf. Gl 1,11).
Por tudo isto, Lucas resolveu escrever, ele também, para trazer uma luz. E ele o
fez com muito critério e pesquisa. Consultou pessoas que, “desde o princípio, foram
testemunhas oculares e ministros da palavra” (Lc 1,2), e fez “um estudo cuidadoso
de tudo que aconteceu desde o princípio” (Lc 1,3). Escreveu para mostrar que o
ensinamento de Paulo é sólido e que a abertura para os pagãos é o rumo certo. Foi o
próprio Jesus quem o iniciou. Como já dissemos, a preocupação de Lucas é uma só:
ajudar as comunidades a superar estas dificuldades, crescer em fraternidade e, assim,
revelar melhor a Boa-Nova de Deus que Jesus nos trouxe.
12
“Excelentíssimo Teófilo”
Quem era o “excelentíssimo Teófilo”, a quem Lucas dedica seus dois livros?
Alguns acham que Teófilo foi a pessoa que ajudou Lucas com dinheiro para ele poder
escrever e editar o seu livro. Naquele tempo não havia gráficas nem editoras. Os
livros eram escritos a mão. Para alguém poder escrever e editar um livro, precisava de
muito dinheiro para comprar papel (papiro) e tinta e para contratar copistas que
soubessem escrever. Teófilo teria sido uma pessoa de posse que contribuiu com
dinheiro para que Lucas pudesse escrever e editar o seu livro. É possível. Mas o mais
provável é que Teófilo seja o nome para designar todos os destinatários do livro de
Lucas. O nome Teófilo significa amigo de Deus. Muito provavelmente, Lucas não se
refere a uma pessoa determinada, mas sim aos cristãos convertidos do paganismo, aos
tementes a Deus, todos eles pessoas muito amadas de Deus, amigos de Deus. Nós
também somos os destinatários do Evangelho de Lucas, pois somos e queremos ser
Teófilos, amigos de Deus. Lucas escreve para que possamos crescer em amizade
13
1º BLOCO
Lucas 1,5-2,52
14
Nascimento e infância de João e de Jesus
Vindo do Antigo Testamento, indo em direção ao Novo que já vem chegando
Nestes dois primeiros capítulos, Lucas imita o estilo do Antigo Testamento. É
como se os dois capítulos fossem os últimos do Antigo e os primeiros do Novo
Testamento. Lendo e meditando estes capítulos, saímos do Antigo Testamento e
vamos entrando no Novo. Fazemos a transição.
Lucas quer mostrar a Teófilo que as profecias estão se realizando em Jesus. Esse é
o tema dos cânticos de Maria (Lc 1,46-55) e de Zacarias (Lc 1,68-79). Ambos
proclamam a bondade de Deus que veio realizar suas promessas. Maria diz: “Deus
socorre Israel, seu servo, lembrando-se da sua misericórdia, conforme prometera a
nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência para sempre!” (Lc 1,54-55).
Zacarias diz: “Deus fez aparecer a força de salvação na casa de Davi, seu servo,
conforme tinha anunciado desde outrora pela boca dos seus santos profetas” (Lc 1,69-
70). O plano de Deus está se realizando, conformefoi anunciado aos pais pelos
profetas.
15
* Duas crianças: João e Jesus
Neste 1º Bloco, tudo gira em torno de duas crianças: João e Jesus. Lucas descreve
o anúncio do nascimento dos dois, tanto de João (Lc 1,5-25) como de Jesus (Lc 1,26-
38), e conta como foi o nascimento de ambos: de João (Lc 1,57-80) e de Jesus (Lc
2,1-20). Os dois capítulos fazem sentir o perfume do Evangelho de Lucas. Do
começo ao fim, o ambiente é de ternura e de louvor. Todos eles louvam, rezam e
cantam: Zacarias (Lc 1,8.13.68-79), Isabel (Lc 1,25), Maria (Lc 1,46-55), os pastores
(Lc 2,10), os anjos (Lc 2,14), Simeão (Lc 2,25), Ana, a profetisa (Lc 2,37), todos e
todas! Lucas faz a gente sentir que, finalmente, após séculos de espera, a misericórdia
de Deus se manifestou e, em Jesus, estão se cumprindo as promessas feitas aos pais
no passado. E Deus as cumpriu em favor dos “humildes” e “famintos” (Lc 1,52-53).
Estes souberam esperar pela sua vinda e descobrir a sua chegada. Vindo do Antigo
Testamento, todos estão caminhando em direção ao Novo que já anuncia a sua
chegada.
16
* A profecia se realiza
As histórias narradas nestes dois capítulos estão cheias de alusões ao Antigo
Testamento. Por exemplo, João Batista é como o profeta Elias (Lc 1,17). Jesus é o
Filho do Altíssimo que recebe o trono de Davi (Lc 1,32). O cântico de Maria (Lc
1,46-55) se parece com o Cântico de Ana, a mãe de Samuel (1Sm 2,1-10), e assim
por diante. A Bíblia de Jerusalém mostra como os três cânticos de Maria (Lc 1,46-
55), de Zacarias (Lc 1,68-79) e do velho Simeão (Lc 2,29-32), juntos, têm mais de
trinta alusões ao Antigo Testamento. É para não deixar nenhuma dúvida: a história
está mostrando e anunciando que Jesus é o Messias que está vindo para realizar as
profecias do Antigo Testamento. Olhando assim a história, os pagãos tementes a
Deus recebem a certeza: quem aceita Jesus como Salvador está obedecendo ao plano
de Deus anunciado pelos profetas.
Quando se diz que em Jesus se realizam as promessas e profecias, isso diz respeito
não só às promessas dos profetas judeus do Antigo Testamento, mas também a todas
as promessas que existem em todos os povos e em todas as pessoas. Jesus é a resposta
de Deus às aspirações mais profundas do coração humano. Esta é a grande Boa
Notícia de Deus que o povo descobre olhando no espelho destas histórias tão simples
e tão humanas do nascimento de Jesus que Lucas conta para nós no seu Evangelho.
17
2º BLOCO
Lucas 3,1-4,44
18
De João Batista para Jesus
Saindo do Antigo, entrando no Novo Testamento
* Saindo do Antigo Testamento
Neste 2º Bloco, tudo gira em torno da pregação e da proposta dos dois grandes
mensageiros: João (Lc 3,1-20) e Jesus (Lc 3,4.14-21). Os dois dizem com clareza a
que vieram. E já desde o início eles correm perigo: João é preso por Herodes (Lc
3,20) e Jesus é ameaçado de morte pelo povo de Nazaré (Lc 4,28-30). Nos dois
também já transparece a força da ação do Espírito Santo (Lc 3,16; 3,22; 4,1; 4,14;
4,18).
Lucas mostra como o AT vai terminando, cedendo o lugar ao Novo. João é o
último grande profeta do AT que aponta o Novo chegando em Jesus (Lc 3,15-17). Ele
descreve a porta pela qual as pessoas poderão entrar no Novo. A porta é a partilha e a
prática da justiça. João dizia: “Quem tiver duas túnicas, dê uma ao que não tem. E
quem tiver comida, faça a mesma coisa” (Lc 3,11). Aos cobradores de impostos ele
dizia: “Não cobrem nada além da taxa estabelecida” (Lc 3,13). Aos soldados dizia:
“Não maltratem ninguém; não façam acusações falsas, e fiquem contentes com o
salário de vocês” (Lc 3,14). Quem fizer tudo isto, mesmo sem o saber, já está
entrando pela porta que dá acesso ao Novo Testamento.
19
* João: o último profeta do Antigo Testamento
Lucas dá uma atenção muito grande a João Batista. É que, na época em que ele
escreve, em torno dos anos 80, havia muita discussão acerca da missão de João
Batista. Por exemplo, na comunidade de Éfeso ainda havia pessoas que não
conheciam o batismo de Jesus, nem tinham ouvido falar do dom do Espírito Santo. Só
conheciam o batismo de João (At 19,1-7). Sinal de que João continuava tendo uma
grande autoridade. Muitos o consideravam o Messias.
Neste 2º Bloco, Lucas traz uma luz para ajudar as comunidades no discernimento.
Ele deixa bem claro que João não é o Messias e traz as palavras do próprio João que
dizia a todos: “Eu batizo vocês com água. Mas vai chegar alguém mais forte do que
eu. E eu não sou digno nem sequer de desamarrar a correia das sandálias dele. Ele é
quem batizará vocês com o Espírito Santo e com fogo” (Lc 3,16).
20
* O Novo chegando
Neste 2º Bloco, Lucas acentua três aspectos do Novo que estavam aparecendo em
Jesus:
1) Jesus é o novo começo do povo de Deus. O antigo povo foi tentado três vezes e
caiu. Jesus sofreu as mesmas tentações e venceu: tentação do pão na hora da fome
(Lc 4,3-4; cf. Ex 16,2-8; Dt 3); tentação do poder ao ver a grandeza do mundo (Lc
4,5-7; Dt 6,13); tentação da popularidade precipitando-se do pináculo do Templo sem
morrer nem receber alguma ferida (Lc 4,9-12; Dt 6,13). Foi tentado e venceu pela
força do Espírito (Lc 4,1). Jesus é o novo começo!
2) Jesus ultrapassa a raça de Abraão. A genealogia de Jesus (Lc 3,23-38) não vai
só até Abraão, o patriarca do povo judeu, mas ultrapassa Abraão (Lc 3,34) e vai até
Adão (Lc 3,38). Em Jesus, o plano de Deus ultrapassa a descendência do povo judeu
e se abre para a humanidade toda. A mensagem de Jesus vai além dos limites da raça
(Lc 4,26-27).
3) Jesus manifesta o dom prometido do Espírito Santo. O dom do Espírito Santo,
prometido no Antigo Testamento, está presente em tudo o que Jesus diz e faz, desde o
batismo (Lc 3,21-22), até a hora da sua morte, quando entrega o Espírito ao Pai (Lc
23,46). Eis as vezes em que a ação do Espírito Santo aparece ligada a Jesus:
1. “O Espírito virá sobre ti” (Lc 1,35).
2. “Meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador” (Lc 1,47).
3. “Batizará no Espírito Santo” (Lc 3,16).
4. “O Espírito desce sobre Jesus na hora do batismo” (Lc 3,22).
5. “Repleto do Espírito, Jesus volta do Jordão” (Lc 4,1).
6. “Jesus é conduzido pelo Espírito através do deserto”
(Lc 4,1).
7. “Volta para Galileia com a força do Espírito” (Lc 4,14).
8. “O Espírito do Senhor está sobre mim” (Lc 4,18).
9. “Jesus se alegrou no Espírito” (Lc 10,21).
10. “O Pai dará o Espírito Santo aos que o pedirem” (Lc 11,13).
11. “Blasfemar contra o Espírito não será perdoado” (Lc 12,10).
12. “O Espírito Santo vos ensinará o que dizer” (Lc 12,12).
13. “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46).
14. “Enviarei aquele que meu Pai prometeu” (Lc 24,49).
15. “Movido pelo Espírito Santo, Jesus deu instruções aos apóstolos” (At 1,2).
16. “Manda esperar a realização da promessa do Pai, que é o dom do Espírito” (At
1,4).
17. “O Espírito Santo descerá sobre vocês para serem minhas testemunhas” (At
1,8).
Ao longo do 2º Bloco, apareceu a semente da novidade, trazida por Jesus. Nos
próximos blocos, esta semente irá crescendo, provocando conflitos com o Antigo, que
vai se fechando.
21
3º BLOCO
Lucas 5,1-9,50
22
Ao redor de Jesus vai se formando uma nova comunidade
O novo abre o caminho, e a transformação vai acontecendo
* O Novo se abre e vai revelando a novidade da missão de Jesus
No 2º Bloco, Jesus atuava sozinho, realizando as promessas do Antigo
Testamento. Agora, no 3º Bloco, a semente do Novo vai se abrindo e aos olhos de
todos aparece quem é Jesus e qual a sua missão. Ele chama outras pessoas para segui-
lo: chama Pedro, Tiago e João (Lc 5,1-11), chama Levi (Lc 5,27-31), escolhe os doze
(Lc 6,12-15). Pouco a pouco, estas e outras pessoas, homens e mulheres (Lc 8,1-3),
vão sendo envolvidas na missão, chamadas a ir na frente de Jesus para anunciar a
Boa-Nova do Reino ao povo (Lc 9,1-6).
No 2º Bloco, já dava para ver as diferenças entre o Antigo e o Novo. Já aparecia a
universalidade da missão de Jesus. Agora, no 3º Bloco, esta semente desabrocha e
aparece com clareza toda a novidade da mensagem de Jesus. Ao redor dele forma-se
uma nova comunidade de homense mulheres.
* Jesus acolhe os marginalizados (Lc 5,12-16),
* perdoa os pecados (Lc 5,20),
* critica a hipocrisia (Lc 5,27-32),
* diz que o Evangelho não cabe nos esquemas antigos
(Lc 5,33-39),
* transgride normas que não têm nada a ver com a vida
(Lc 6,1-5),
* afirma que ele veio para salvar e fazer o bem (Lc 6,6-11),
* constitui o grupo dos doze (Lc 6,12-15),
* proclama a nova Lei de Deus (Lc 6,20-49),
* ultrapassa o povo judeu e acolhe um romano (Lc 7,1-10),
* ressuscita os mortos (Lc 11-17),
* ultrapassa o tradicional (Lc 7,18-30),
* critica os que não sabem ler os sinais dos tempos
(Lc 7,31-35),
* acolhe a moça pecadora que lhe beija os pés, e a defende contra o fariseu que a
condenava em nome das suas leis (Lc 7,36-50).
Assim, através destas e tantas outras ações e palavras, a novidade do Evangelho
vai aparecendo, abrindo caminho. A transformação vai acontecendo como Amostra
do Reino de Deus. O jeito de ensinar e de agir de Jesus era diferente. O povo gostava
dele, mas as autoridades o criticavam e começam a persegui-lo. A cruz aparece no
horizonte (Lc 9,22; 9,31; 9,44).
23
* Aparecem com clareza a continuidade e a ruptura entre os dois Testamentos
Neste 3º Bloco aparecem também os conflitos que a Boa-Nova provoca quando
ela entra em contato com a mentalidade antiga que se fecha sobre si mesma. Pois
Jesus acolhe todo tipo de pessoas, sobretudo as que, em nome da lei de Deus, eram
excluídas do convívio na comunidade: leprosos (Lc 5,12-16), paralíticos (Lc 5,17-
26), publicanos (Lc 5,27-32), os pobres (Lc 6,20-23), estrangeiros (Lc 7,1-10). Para o
bem das pessoas, Jesus transgride as normas da pureza legal (Lc 5,13), do jejum (Lc
5,33-39), do sábado (Lc 6,1-10), e amplia a comunhão de mesa (Lc 5,30). Num longo
discurso, ele denuncia a injustiça dos ricos que gera a pobreza (Lc 6,20-26) e manda
ter uma atitude diferente para com os inimigos (Lc 6,27-38).
Toda esta prática de Jesus desnorteia até João Batista, que mandou perguntar: “És
tu aquele que deve vir ou devemos esperar por outro?” (Lc 7,19). Jesus mandou
responder citando palavras do profeta Isaías: “Vão dizer a João aquilo que vocês
estão vendo e ouvindo: cegos veem, coxos andam, leprosos são limpos, surdos
ouvem, mortos ressuscitam e aos pobres é anunciada a Boa-Nova!”. Esta frase de
Jesus vem do profeta Isaías (Is 35,5-6; 42,7; 26,19; 61,1). Com outras palavras,
delicadamente, Jesus manda João comparar os fatos com as profecias para assim
poder corrigir o seu modo errado de esperar o Messias (Lc 7,18-30).
24
* Quem é este Jesus?
Em Jesus aparece um poder maior, nunca visto antes: ele acalma a tempestade (Lc
8,22-25), expulsa demônios (Lc 8,26-39), vence a impureza legal e ressuscita os
mortos (Lc 8,40-56). Afinal, quem é este Jesus que age e fala desta maneira? Essa
pergunta vai crescendo na cabeça dos discípulos e dos leitores. Jesus ultrapassa as
respostas já prontas. Ele é maior.
No fim, Jesus faz uma avaliação da caminhada e pergunta: “Quem sou eu no dizer
da multidão?” (Lc 9,18-21). A resposta mostra que o povo não sabe bem quem é
Jesus: É João Batista? É Elias? É um profeta? Os discípulos reconhecem nele o
Messias, mas eles o entendem conforme a propaganda do governo e da religião
oficial, que esperavam um Messias glorioso nacionalista. Jesus é o Messias, sim, mas
não o messias da propaganda do governo e da religião oficial. Ele é o Messias Servo,
anunciado pelos profetas, que vai sofrer e ser morto na cruz. Quem quiser segui-lo no
mesmo compromisso com os pobres e excluídos vai ter que carregar a mesma cruz
(Lc 9,22-27).
É o momento da crise, tanto para Jesus como para os discípulos. Para enfrentar a
crise, Jesus sobe a montanha para rezar. Lá em cima, no alto da montanha, ele se
transfigura diante dos discípulos. “Dois homens estavam conversando com Jesus:
eram Moisés e Elias. Apareceram na glória, e conversavam sobre o êxodo de Jesus,
que iria acontecer em Jerusalém” (Lc 9,30-31). Moisés representa a Lei; Elias, a
Profecia. Aparecendo na glória, Jesus é o Messias glorioso que todos esperavam, mas
tanto a Lei (Moisés) como a Profecia (Elias) confirmam que o caminho para a glória
passa pelo êxodo, pela cruz. Mas nem assim os discípulos entendem o anúncio da
cruz (Lc 9,44-45). Eles continuam brigando entre si para saber quem é o maior (Lc
9,46-48) e pensam ter o monopólio sobre Jesus (Lc 9,49-50). A imagem do Messias
glorioso, divulgada pelo pessoal do Templo de Jerusalém, impedia-os de ver em Jesus
o Messias Servo Sofredor, anunciado por Isaías (cf. Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-
53,12).
Diante desta conjuntura, Jesus assume a sua missão como Messias Sofredor, Servo
de Deus, anunciado por Isaías, e decide ir para Jerusalém (Lc 9,51). Começa a longa
caminhada da Galileia até Jerusalém, onde Jesus será preso, condenado e morto.
25
4º BLOCO
Lucas 9,51 até 19,28
26
A longa viagem da Galileia até Jerusalém
A difícil passagem do Antigo para o Novo Testamento
Até aqui, para compor o seu Evangelho, Lucas seguia a sequência do Evangelho
de Marcos. De vez em quando, ele introduzia pequenas diferenças ou mudava
algumas palavras, para que os tijolos tirados de Marcos se adaptassem ao novo
quadro que ele, Lucas, imaginou para o seu livro. Mas, como já vimos, além do
Evangelho de Marcos, Lucas também teve acesso a outras fontes, pesquisou outros
livros e consultou testemunhas oculares e ministros da Palavra (Lc 1,2). Todo esse
material, próprio dele, Lucas o ajeitou na forma de uma longa viagem, que vai desde
a Galileia, no norte, até Jerusalém, no sul. A descrição desta viagem é o assunto do 4º
Bloco, que ocupa dez capítulos do Evangelho de Lucas, desde Lc 9,51 até 19,28.
Quase uma terça parte!
Eis como Lucas descreve o Início da viagem: “Estava chegando o tempo de Jesus
ser levado para o céu. Então ele tomou a firme decisão de partir para Jerusalém” (Lc
9,51). Em seguida, inúmeras vezes, Lucas lembra ou sugere que Jesus está a caminho
de Jerusalém (Lc 9,51.53.57; 10,1.38; 11,1; 13,22.33; 14,25; 17,11; 18,31; 18,38;
19,1.11.28). A chegada ao monte das Oliveiras marca o fim da viagem: “Jesus se
aproximou de Betfagé e de Betânia, perto do chamado monte das Oliveiras” (Lc
19,29). E mesmo depois de Jesus chegar a Jerusalém, Lucas mantém a caminhada
dele em direção ao centro de Jerusalém que é o Templo (Lc 19,41.45; 20,1;
22,1.7.14). É para confirmar que Jesus assume a cruz que o espera na capital.
Apresentando assim os fatos na forma de uma longa viagem, Lucas envolve seus
leitores e nos convida a acompanhar Jesus em direção a Jerusalém. É como se o
próprio Jesus nos dirigisse um convite: “Você quer vir comigo?”.
27
* Preferências de Lucas ao falar de Jesus
É difícil definir as preferências de uma pessoa. É só convivendo com ela que você
vai descobrindo. Enumeramos aqui alguns destaques que aparecem com certa
frequência no Evangelho de Lucas. Alguns desses destaques serão retomados e
completados mais adiante na 3ª e na 5ª parte deste livro. Lendo e meditando, você
mesmo os confirma, completa ou corrige:
1. A ternura e a misericórdia de Deus:
* A parábola do filho pródigo (Lc 10,29-37).
* A parábola do bom samaritano (Lc 15,11-32).
2. O amor pelos pobres e pequenos:
* A parábola do rico e do pobre Lázaro (Lc 16,19-31).
* Pai, eu te agradeço, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as
revelaste aos pequenos. Sim, Pai, assim foi do teu agrado” (Lc 10,21-22).
3. A radicalidade das exigências do seguimento de Jesus (Lc 9,57-62; 11,23):
* “Quem põe a mão no arado e olha para trás não serve para o reino” (Lc 9,62).
* “Quem não está comigo é contra mim. Quem não recolhe comigo dispersa” (Lc
10,23).
4. O relacionamento de Jesus com as mulheres:
* Marta e Maria (Lc 10,38-42).
* A mulher que gritou: “Feliz o seio que te trouxe!” (Lc 11,27-28).
5. A oração na vida de Jesus:
* O testemunho de oração de Jesus (Lc 11,1-13).
* A parábola da viúva insistente e do juiz iníquo (Lc 18,1-8).
6. Abertura para além das diferenças de raça:
* Entra no território dos samaritanos (Lc 9,51-55).
* A missão é para ahumanidade toda (Lc 10,1-12).
7. As parábolas:
* Do ricaço sem misericórdia e do pobre Lázaro (Lc 16,19-31).
* Do fariseu e do publicano (Lc 18,9-14).
8. Atitude de entrega na providência de Deus:
* “Não tenham medo! Vocês valem mais do que muitos pardais!” (Lc 12,7).
* “Busquem o Reino e Deus dará o resto em acréscimo” (Lc 12,31).
9. A expulsão de espíritos que alienam as pessoas:
* “Se pelo dedo de Deus expulso demônios, é que o Reino de Deus chegou” (Lc
11,20).
* “Alegrem-se não por expulsar demônios, mas por ter o nome escrito no céu” (Lc
10,20).
10. Não foge do conflito
* Expulsão dos vendedores no Templo (Lc 19,45-48).
* Não foge do cálice do sofrimento (Lc 22,42).
28
* As comparações e parábolas de Jesus para esclarecer o Reino de Deus ao povo
Jesus era da roça. Ele não estudou em Jerusalém como o apóstolo Paulo. Viveu em
Nazaré, no interior, o tempo todo, trabalhando na carpintaria e na roça. Não havia
TV, nem rádio, nem internet, nem Facebook, nem celular. Havia as pessoas, a
família, as conversas, os encontros, os sábados, as orações, os nascimentos, os
casamentos, as doenças, os enterros, a natureza, o nascer e o pôr do sol, as chuvas e
as secas, as enchentes e as colheitas. Havia a Bíblia, a história, a memória, as festas,
as romarias, as celebrações na sinagoga, os doutores da lei, os fariseus, os essênios,
os saduceus, os zelotes, os sicários. Havia as taxas, os impostos, as dívidas, as
ameaças, a escravidão, os romanos, a exploração, as invasões e as destruições.
Esse era o horizonte que marcou a vida de Jesus, durante aqueles trinta e três anos
que viveu entre nós. Como toda pessoa do interior sem estudo superior, Jesus
transmite o seu pensamento não através de raciocínios complicados, mas através de
comparações com as coisas mais comuns da vida de cada dia.
Assim, na descrição da longa viagem de Jesus desde a Galileia até Jerusalém,
aparecem comparações e parábolas que Jesus usava para revelar ao povo a presença
do Reino nas coisas mais comuns da vida das pessoas. Algumas delas aparecem
também nos outros Evangelhos, outras só aparecem em Lucas.
Eis uma lista de algumas comparações e parábolas:
* a figueira que não dá fruto (Lc 13,6-9);
* a semente de mostarda (Lc 13,18-19);
* o fermento que a mulher usa para fermentar a farinha
(Lc 13,20-21);
* a porta estreita e a porta larga (Lc 13,22-30);
* os primeiros lugares no banquete (Lc 14,7-11);
* os convidados que recusam o convite (Lc 14,15-24);
* a ovelha perdida (Lc 15,4-7);
* a dracma perdida (Lc 15,8-10);
* o administrador infiel (Lc 16,1-8);
* as minas e os talentos (Lc 19,11-27);
* pôr a mão no arado e olhar para trás (Lc 9,62);
* um cordeiro no meio de lobos (Lc 10,3);
* pisar serpentes e escorpiões (Lc 10,21);
* lâmpada debaixo do alqueire (Lc 11,33);
* túmulos disfarçados (Lc 11,44);
* cinco pardais por uns poucos centavos (Lc 12,6);
* os passarinhos do céu e os lírios do campo (Lc 12,24-32);
* nuvem no poente, chuva na certa (Lc 12,54-59);
* a galinha reúne seus pintinhos (Lc 13,34-35);
* o sal não pode ser insosso (Lc 14,34-35);
* lançado ao mar com pedra de moinho no pescoço (Lc 17,1-3);
* receber o Reino como uma criança (Lc 18,15-17);
* camelo pelo buraco da agulha (Lc 18,24-26);
* a casa de oração virou covil de ladrões (Lc 19,45-46).
29
* Os conflitos de Jesus com as autoridades que se fecham
Neste 4º Bloco, também aparecem, com maior frequência, os conflitos com as
autoridades religiosas (Lc 11,37-53; 13,31-33; 13,34-35). Pois a experiência que
Jesus tinha de Deus como Pai amoroso o levava a acolher como irmão e irmã as
pessoas que, em nome de uma interpretação errada da Lei, eram excluídas pela
religião oficial como pecadoras impuras: os leprosos (Lc 17,11-19), os doentes (Lc
14,1-6), crianças (Lc 18,15-17), cegos (Lc 18,35-42) etc. Essa acolhida fraterna sem
preconceito era o motivo dos conflitos. Foi por essa sua atitude tão diferente que as
autoridades religiosas e civis decidiram prender e matar Jesus. A cruz aparece no
horizonte e o aguarda lá em Jerusalém. Jesus sabe que vão matá-lo, mas ele não volta
atrás. Continua fiel ao Pai e aos pobres e excluídos. Ele assume a cruz que o espera
na capital.
A ida para Jerusalém é vista por Lucas como o êxodo de Jesus (Lc 9,31) e como a
sua assunção ou seu arrebatamento ao céu (Lc 9,51). No AT, foi Moisés quem
conduziu o primeiro êxodo, tirando o povo da opressão do Faraó (Ex 3,10-12). Para
Lucas, Jesus é o novo Moisés que vai realizar o novo êxodo libertando o povo da
opressão da Lei. No AT, o profeta Elias foi arrebatado ao céu (2Rs 2,11). Para Lucas,
Jesus é o novo Elias que vai ser arrebatado ao céu através da sua paixão, morte e
ressurreição. Moisés e Elias aparecem junto com Jesus na Transfiguração (Lc 9,30).
Jesus é o novo Moisés (êxodo) que vem dar a nova lei, e é o novo Elias
(arrebatamento) que vem preparar a chegada do Reino de Deus.
30
* A longa e dura caminhada da periferia até a capital
Como já deu para perceber, a descrição da longa viagem de Jesus para Jerusalém
não é só um recurso literário de Lucas para introduzir o material que ele tinha de
próprio. A longa viagem de Jesus reflete também a caminhada concreta das
comunidades dos pagãos convertidos, para as quais Lucas escrevia o seu Evangelho.
A Boa-Nova que Jesus trouxe nasceu e cresceu no mundo rural da Galileia, ao redor
das sinagogas marcadas pela cultura semita do povo hebreu. Mas as comunidades,
para as quais Lucas escreve o seu Evangelho nos anos 80, viviam nas periferias das
grandes cidades da Grécia, onde a cultura era outra: Antioquia (At 11,19; 13,1),
Filipos (At 16,11-15), Tessalônica (At 17,1-9), Corinto (At 18,1-11), Éfeso (At 19,1-
20), Roma (At 25,12; 28,15-31). Não era fácil passar da cultura semita do mundo
rural dos judeus para o mundo urbano e cosmopolita da cultura grega; sair das
comunidades que surgiram ao redor da sinagoga, espalhadas pela Palestina, para as
comunidades que se organizavam nas casas do povo nas periferias das grandes
cidades da Ásia Menor e da Europa. Esta passagem da Palestina para a Europa era
marcada por uma forte tensão entre os cristãos vindos do judaísmo e os novos que
vinham chegando de outras etnias e culturas.
A descrição da longa viagem de Jesus desde a Galileia até Jerusalém reflete este
doloroso processo de conversão que as pessoas tinham de fazer: sair do mundo da
observância da lei que acusa e condena, para o mundo da gratuidade do amor de Deus
que acolhe e perdoa; passar da consciência de pertencer ao único povo eleito,
privilegiado por Deus entre todos os povos, para a certeza de que, em Jesus, todos os
povos foram fundidos num único povo diante de Deus.
Resumindo: no 4º Bloco, Lucas apresenta a viagem de Jesus como um espelho da
conversão e da longa e dolorosa travessia das comunidades: sair do mundo fechado
da raça para o território da humanidade.
31
5º BLOCO
Lucas 19,28 a 21,38
32
A última semana de Jesus em Jerusalém
O confronto final: o grito do povo incomoda o poder
Neste 5º Bloco, Lucas retoma o fio da meada de Marcos e descreve as atividades
da última semana da vida de Jesus em Jerusalém, desde a solene entrada, no domingo
de Ramos (Lc 19,28-40), até a véspera da sua morte (Lc 21,38). Você vê Jesus chorar
sobre a cidade (Lc 19,41-44) e expulsar os comerciantes do Templo (Lc 19,45-48).
Você assiste ao doloroso confronto com as autoridades e às duras críticas que ele
dirige aos chefes dos sacerdotes, aos doutores da lei, aos anciãos, aos fariseus, aos
saduceus (Lc 20,1-47). Em tudo isso transparece a fidelidade de Jesus ao plano do
Pai. É por causa dessa sua fidelidade ao Pai que Jesus vai ser preso e condenado. Vai
ser morto na cruz.
33
* Jerusalém durante a Semana de Páscoa
Na festa de Páscoa, o povo romeiro vinha dos lugares mais distantes para
encontrar-se com Deus no Templo. Triplicava a população! Olhando a imponente
beleza do Templo no monte Sião, a firmeza das muralhas da cidade, a grandeza das
montanhas ao redor, o povo rezava: “Os que confiam em Yahweh são como o monte
Sião: ele nunca se abala,está firme para sempre. Jerusalém é rodeada de montanhas,
assim Javé envolve o seu povo, desde agora e para sempre” (Sl 125,1-2)
Uma contradição pesava sobre o Templo. De um lado, era o lugar do encontro do
povo com Deus e fonte de reabastecimento da fé. De outro lado, era fonte de
alienação e de exploração do povo. Pois em Jerusalém estavam também a sede do
governo, o palácio dos chefes e a casa dos sacerdotes e doutores que detinham o
poder. Muitos deles exploravam o povo com tributos e impostos. Usavam a religião
como instrumento para enriquecer e fortalecer a sua dominação sobre a consciência
do povo. Transformaram o Templo, a Casa de Deus, num “covil de ladrões” (Jr 7,11;
cf. Lc 19,46).
34
* Jesus chegando a Jerusalém
A viagem de Jesus está chegando ao fim. Saindo de Jericó, onde se encontrou com
Zaqueu (Lc 19,1-10), ele subiu pelo deserto de Judá e está chegando ao pé do monte
das Oliveiras. Faltava passar por Betfagé e Betânia, e alcançar o topo do monte das
Oliveiras para poder contemplar a beleza da capital do seu povo. Jesus sabe que, ao
entrar na cidade, vai ser aclamado como Messias. Ele aceita ser o Messias, sim, mas
não o messias nacionalista da propaganda do governo e da religião oficial.
No tempo de Jesus, havia uma grande variedade de esperança messiânica. Alguns
esperavam um messias rei (Mc 15,9.32); outros, um messias santo ou sacerdote (Lc
4,34); outros, um messias guerrilheiro subversivo (Lc 23,5), um messias doutor (Jo
4,25), um messias juiz (Lc 3,5-9) ou um messias profeta (Mc 6,4; 14,65). Cada qual,
conforme seus próprios interesses e classe social. Ao que parece, nenhum dos grandes
esperava o Messias Servo, anunciado pelo profeta Isaías (Is 42,1; 49,3; 52,13). Eles
não se lembravam de valorizar a esperança messiânica como um serviço do povo de
Deus à humanidade. Só pensavam no privilégio, esqueceram o serviço! Os pobres é
que esperavam o Messias Servo. Maria dizia ao anjo: “Eis aqui a Serva do Senhor”
(Lc 1,38).
Jesus se mantém no caminho do serviço, simbolizado pelo jumentinho, animal de
carga. Aclamado pelo povo como Messias, ele entra na cidade sentado no
jumentinho. Com este gesto ele evoca a profecia de Zacarias que dizia: “Teu rei vem
a ti, humilde, montado num jumento. O arco de guerra será eliminado” (Zc 9,9.10).
Jesus assume ser Messias-Servo: “Eu estou no meio de vocês como aquele que
serve!” (Lc 22,27).
Jesus chega à cidade e vai diretamente ao Templo. Expulsa os vendedores e diz:
“Está escrito: minha casa será uma casa de oração. Vocês fizeram dela um covil de
ladrões”. Jesus cita as palavras dos profetas, Isaías (Is 56,7) e Jeremias (Jr 7,11), para
justificar a sua ação. Ele quer que o Templo seja novamente a casa de oração (Lc
2,49).
Com este gesto profético contra os vendedores no Templo termina a longa
caminhada da periferia até a capital. Diariamente, ele passa a ensinar no Templo (Lc
19,47). Seu ensinamento incomodava os poderosos que queriam matá-lo, mas o povo
escutava Jesus fascinado (Lc 19,48).
35
* O confronto final entre Jesus e as autoridades
Os capítulos 20 e 21 do Evangelho de Lucas descrevem como foi o confronto final
entre Jesus e as autoridades. Os chefes dos sacerdotes e os doutores da lei querem
saber com que autoridade Jesus faz as coisas (Lc 20,1-8). Jesus os acusa por meio da
parábola dos vinhateiros homicidas (Lc 20,9-19). As autoridades mandam perguntar a
Jesus se é permitido pagar tributo a César (Lc 20,20-26). Os saduceus, que não
acreditam na ressurreição, tentam outro meio para poder acusar e prender Jesus (Lc
20,27-40).
O próprio Jesus provoca as autoridades a respeito do Messias como filho de Davi
(Lc 20,41-44). Jesus diz ao povo: “Cuidado com os doutores da Lei!” (Lc 20,45-47).
No fim, vendo os ricos colocar muito dinheiro no cofre do Templo e uma viúva
colocar apenas dois centavos, Jesus diz: “A viúva depositou mais do que todos!” (Lc
21,1-4).
Em seguida, Lucas traz o discurso de Jesus sobre a chegada final do Reino de
Deus (Lc 21,5-36). Ele conclui as suas informações sobre a última atividade de Jesus
da seguinte maneira: “De dia, Jesus ensinava no Templo. Ao anoitecer, Ele saía e
passava a noite no chamado monte das Oliveiras. De manhã cedo, todo povo ia ao
Templo para ouvi-lo” (Lc 21,37-38).
36
6º BLOCO
Lucas 22,1 até 24,53
37
Paixão, morte e ressurreição
O doloroso nascimento da vida nova
Neste 6º Bloco, inicia-se a etapa final do êxodo e do arrebatamento de Jesus,
anunciados por Moisés e Elias no monte da Transfiguração (Lc 9,31). Lucas descreve
os últimos acontecimentos:
* a decisão dos chefes de matar Jesus (Lc 22,1-2);
* a decisão de Judas de trair Jesus (Lc 22,3-6);
* os preparativos para a Páscoa (Lc 22,7-13);
* a última ceia (Lc 22,14-20);
* o anúncio da traição de Judas (Lc 22,21-23);
* o anúncio da negação de Pedro (Lc 22,31-34);
* as últimas conversas entre Jesus e seus discípulos (Lc 22,24-30; 22,35-38);
* a agonia no horto (Lc 22,39-46);
* a traição de Judas (Lc 22,47-48);
* a tentativa de alguns para defender Jesus na hora da prisão (Lc 22,49-51);
* a denúncia de Jesus contra a falsidade dos que vêm prendê-lo (Lc 22,52-53);
* a prisão de Jesus (Lc 22,54);
* a negação de Pedro (Lc 22,55-62);
* o maltrato dos guardas contra Jesus durante a noite (Lc 22,63-65);
* a condenação de Jesus pelo sumo sacerdote na manhã do dia seguinte (Lc 22,66-
71);
* a acusação dos judeus contra Jesus diante de Pilatos (Lc 23,1-5);
* a acusação contra Jesus diante do rei Herodes (Lc 23,6-12);
* a declaração de Pilatos de querer soltar Jesus (Lc 23,13-16);
* a recusa dos anciãos de aceitar a proposta de Pilatos de soltar Barrabás (Lc
23,17-23);
* a sentença final de Pilatos: Barrabás é solto, e Jesus é condenado à morte (Lc
23,24-25).
Em seguida, Lucas descreve tudo aquilo que aconteceu e que nós recordamos na
Semana Santa e na Via-Sacra: a paixão, morte e ressurreição de Jesus (Lc 23,26 a
24,53). Vejamos de perto alguns episódios:
38
* A Ceia Pascal (Lc 22,14-21)
“Desejei ardentemente comer esta páscoa com vocês” (Lc 22,15). Com estas
palavras Jesus inicia a celebração. É como se dissesse: “Até que enfim! Chegou o
momento que tanto desejei!”. O desejo ardente de levar a bom termo o projeto do Pai!
Durante a ceia, “Jesus tomou um pão, agradeceu a Deus, o partiu e distribuiu a eles
dizendo: “Isto é o meu corpo que é dado por vocês. Façam isto em memória de mim”.
Depois da ceia, Jesus fez o mesmo com o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova
aliança do meu sangue que é derramado por vocês” (Lc 22,19-20). Beber o cálice
significa cumprir a missão recebida do Pai (cf. Mc 10,38-39; Jo 18,11). Distribuindo
o pão e o vinho, Jesus faz um gesto de partilha e convida seus amigos a tomar o seu
corpo e o seu sangue. Ele distribui o pão e o vinho como expressão daquilo que ele
mesmo estava vivendo naquele momento: doar sua vida, seu corpo e seu sangue,
distribuir-se aos outros, para que eles possam viver e, assim, revelar o amor do Pai.
Este é o sentido da Eucaristia: aprender de Jesus a distribuir-se aos outros, a doar-se,
entregar-se, servir, sem medo dos poderes que ameaçam a vida. E Jesus acrescenta
uma frase que só Lucas conservou: “Fazei isto em memória de mim!” (Lc 22,19; cf.
1Cor 11,24).
39
* O anúncio da traição de Judas (Lc 22,21-23)
Jesus diz: “A mão daquele que me trai está comigo sobre a mesa” (Lc 22,21). Para
os judeus, a comunhão de mesa era a expressão máxima de amizade e de confiança
mútua. Com outras palavras, Jesus vai ser traído por alguém muito amigo! E ele diz:
“Sim, o Filho do Homem vai morrer, segundo o que foi determinado!” (Lc 22,22).
Esta frase de Jesus não indica fatalismo inevitável. Pelo contrário! Revela a certeza
da experiência humana de séculos: num mundo organizado a partir do egoísmo, quem
decide viver o amor vai morrer crucificado.
40
* O anúncio da negação de Pedro (Lc 22,31-38)
Jesus diz a Pedro: “Simão, eu rezei por você, para que sua fé não desfaleça. E
você, uma vez confirmado na fé, confirme seus irmãos” (Lc 22,32). Pedro reagiu e
disse que ele estava pronto amorrer por Jesus. Jesus respondeu: “O galo não terá nem
tempo de cantar, e você já me terá negado três vezes” (Lc 22,34). Se Pedro está firme
na fé até hoje, não é por causa das qualidades pessoais dele, mas é porque Jesus rezou
por ele, “para que não desfaleça a tua fé. E você, uma vez confirmado na fé, confirme
seus irmãos”.
41
* No Horto das Oliveiras: tentação e angústia (Lc 22,39-47)
“Como de costume, Jesus sai para o monte das Oliveiras” (Lc 22,39). Jesus
costumava ir àquela chácara para rezar. Ele sente a tentação chegando: a tentação de
escapar do cálice: “Afasta de mim este cálice!” (Lc 22,42). E era muito fácil escapar!
Bastava ele subir o monte das Oliveiras, alcançar o deserto de Judá, e ele estaria livre.
Ninguém o prenderia! Mas Jesus resiste a esta tentação rezando e pede aos amigos
que rezem, “a fim de não entrar em tentação!”.
Jesus reza de joelhos. Ele devia estar muito abalado e angustiado, pois, naquele
tempo, o costume era rezar em pé. Lucas traz as palavras da oração: “Pai, se queres,
afasta de mim este cálice. Contudo, não a minha, mas a tua vontade seja feita!”. É a
oração da entrega. Jesus não volta atrás, não quer escapar do cálice.
42
* O anjo do céu
É só Lucas que o menciona. O anjo não veio para consolar Jesus. Ele veio para
ajudá-lo a beber o cálice até o fundo. De fato, depois que apareceu o anjo, Lucas diz
que “Jesus, cheio de angústia, reza com mais insistência ainda” e começa a suar
sangue (Lc 22,44). Suor de sangue é sinal de que a angústia que o envolve é muito
grande. Jesus é jovem. Tem apenas 33 anos de vida. É acusado e perseguido por algo
que nunca fez. Ele sabe que vão matá-lo. É pela oração que Jesus vence a tentação,
reencontra-se consigo mesmo, com a sua missão e com o Pai. A paz voltou. “Ele foi
atendido por causa da sua total entrega!” (Hb 5,7).
43
* Resistir à tentação (Lc 22,45-46)
Jesus se levanta e vai ao encontro dos discípulos. Eles estão dormindo de tristeza
(Lc 22,45). Novamente, lhes dá a mesma recomendação: “Levantem e rezem, para
que não entrem em tentação!”. No Pai-nosso, Jesus já tinha mandado fazer o mesmo
pedido: “Não nos deixeis cair em tentação!” (Lc 11,4). Como entender essa tentação?
É a tentação para ser o Messias glorioso, e não o Messias Sofredor. Essa tentação
acompanhou Jesus, do começo ao fim. A pressão vinha de todos os lados: pessoas,
fatos, situações, o próprio demônio, todos tentavam levá-lo por outros caminhos. Mas
nunca ninguém conseguiu desviá-lo do caminho do Pai que lhe indicava o caminho
do Messias Servidor e Sofredor:
* Pedro tentou afastá-lo da Cruz, mas Jesus lhe disse: “Vai embora, Satanás!” (Mc
8,33).
* Seus pais ouviram: “Então não sabiam que devo estar na casa do meu Pai?” (Lc
2,49).
* Aos parentes ele disse: “Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?” (Mc
3,33).
* Aos apóstolos: “Vamos para outros lugares! Pois foi para isto que eu vim!” (Mc
1,38).
* João Batista é convidado a olhar as profecias (Mt 11,4-6; Is 29,18-19; 35,5-6;
61,1).
* Aos fariseus: “Fico aqui hoje e amanhã. Só vou terminar depois de amanhã!”
(Lc 13,32).
* Ao povo que queria forçá-lo a ser o messias-rei, Jesus refugiou-se na montanha
(Jo 6,15).
* Ao demônio, Jesus reage com força, por três vezes com palavras da Escritura
(Mt 4,4.7.10).
* No sofrimento: “Pai, afasta de mim este cálice! Mas não o que eu quero” (Mc
14,36).
* Na hora da prisão (Lc 22,53), aparece pela última vez a tentação de seguir pelo
caminho do messias guerreiro. Jesus reage: “Guarde a espada no seu lugar!” (Mt
26,52).
Orientando-se pela Palavra de Deus, Jesus recusou todas essas propostas. Inserido
no meio dos pobres e excluídos e unido ao Pai pela oração, fiel a ambos, ele resistia
às tentações e segue pelo caminho do Servo Sofredor, o caminho do serviço ao povo
(Mt 20,28).
44
* A oração de Jesus no Horto
No início da sua missão, Jesus foi tentado no deserto (Lc 4,1-12). Naquela
ocasião, Lucas fez a seguinte observação: “Tendo acabado toda a tentação, o diabo
deixou Jesus até o momento oportuno” (Lc 4,13). Este momento oportuno agora
chegou. Chegou a hora da tentação suprema, “a hora do poder das trevas” (Lc 22,53).
A última etapa do êxodo de Jesus. Satanás já tinha conseguido desviar Judas (Lc
22,3). Queria desviar Tiago e João na hora da vingança contra os samaritanos, no
início da viagem para Jerusalém (Lc 9,55). Quis entrar em Pedro, mas a oração de
Jesus foi mais forte (Lc 22,31). Agora ele vai fazer a tentativa suprema para desviar o
próprio Jesus do caminho do Pai. Mas não consegue.
45
* Morte e ressurreição. Só ressuscita quem morre primeiro!
Lucas conta os fatos da paixão, morte e ressurreição de Jesus de tal modo que a
gente consiga perceber a semente de esperança e de vida nova que nasce da crise, da
dor e da morte:
* Na hora em que a luz bate nos olhos, tudo escurece.
* Na hora do parto, as dores se anunciam.
* Na hora da crise, o futuro se abre.
* Na hora da morte, a vida renasce.
Os inimigos conseguiram realizar o seu projeto. Mataram Jesus. Venceram,
usando o poder da força bruta. Venceram, mas não convenceram! Não conseguiram
destruir nem abafar a bondade e o amor em Jesus. Lucas mostra como Jesus,
exatamente enquanto está sendo vítima do ódio e da crueldade dos homens, revela
para todos a ternura de Deus. Eis algumas frases de Jesus que só Lucas nos conservou
e nas quais transparece a vitória da vida que a morte não conseguiu matar:
* “Desejei ardentemente comer esta páscoa com vocês” (Lc 22,15).
* “Façam isto em memória de mim!” (Lc 22,19).
* “Simão, rezei por você, para que não desfaleça a sua fé!” (Lc 22,32).
* Jesus fixou o olhar em Pedro e provocou nele choro e arrependimento (Lc
22,61).
* Jesus acolhe as mulheres: “Filhas de Jerusalém, não chorem por mim!” (Lc
23,28).
* Ao ser pregado na cruz, ele reza: “Pai, perdoa, porque não sabem o que fazem”
(Lc 23,34).
* Ao ladrão, ele diz: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso!” (Lc 23,43).
Com essas frases de Jesus, Lucas nos oferece o olhar correto com que devemos ler
e meditar a paixão, morte e ressurreição de Jesus.
46
* A morte de Jesus (Lc 23,44-46)
Jesus está pregado na cruz. A morte está chegando. De meio-dia até as três da
tarde, o sol escurece, as trevas invadem a terra (Lc 23,44). Jesus deu um forte grito:
“Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). É com essa frase do salmo
(Sl 31,6) que Jesus, na hora de morrer, devolve ao Pai o Espírito que dele tinha
recebido na encarnação (Lc 1,35) e na hora do batismo (Lc 3,22). Foi na força do
Espírito que ele iniciou a sua missão. E é na força do mesmo Espírito que ele a
encerra: “Em tuas mãos entrego o meu espírito”.
Naquele momento, rasgou-se o véu que, no Templo, separava o Santo dos Santos
da vida do povo (Lc 23,45). Terminou a vigência do AT, simbolizado pelo véu que
separava Deus do resto do mundo. Pela sua vida, paixão, morte e ressurreição, Jesus
trouxe Deus para perto de nós e revelou a sua presença em tudo que existe e acontece.
Na hora de morrer, Jesus soltou um grito. Diz o Evangelho de Lucas: “Então Jesus
deu um forte grito: ‘Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito’. Dizendo isso,
expirou” (Lc 23,46). É a continuação do grito do povo oprimido que fez acontecer o
primeiro êxodo (Ex 2,23-25). Deus escutou o grito do povo e fez acontecer o primeiro
êxodo. Escutou o grito de Jesus, cuja paixão, morte e ressurreição fazem acontecer o
novo êxodo.
47
* As reações diante da morte de Jesus (Lc 23,47-49)
Um estrangeiro, centurião do exército romano, vendo o que acontecera na hora da
morte de Jesus, fez uma profissão de fé: “Realmente, este homem era um justo!” (Lc
23,47).
A multidão, vendo o que tinha acontecido, voltou para casa batendo no peito.
Reconhece o erro que cometeu, pedindo a condenação de Jesus (Lc 23,48).
Os amigos e as mulheres que o haviam acompanhado desde a Galileia
permanecem a distância, observando tudo (Lc 23,49). Testemunham que foi assim
que Jesus morreu. Aqui, Lucas indica a fonte de onde recolheu o material que acaba
de contar.
48
* O enterro de Jesus (Lc 23,47-49)José de Arimateia, membro do Sinédrio, que não concordou com a condenação de
Jesus, cuidou do enterro. Jesus foi enterrado num sepulcro novo, talhado na rocha.
Realizou-se, assim, outra profecia de Isaías sobre o Servo: “Seu túmulo está com os
ricos” (Is 53,9). Lucas insiste em dizer: “Era o dia da Preparação. O sábado estava
quase começando”. O sábado é o 7º dia. Estava terminando o 6º dia da nova criação.
Como Deus Criador que, na primeira criação, descansou no 7º dia (Gn 2,1-2), Jesus
descansou no 7º dia da nova criação.
49
* As mulheres, testemunhas da morte e do enterro de Jesus (Lc 23,55-56)
As mulheres testemunham, não só a morte de Jesus, mas também o lugar onde foi
colocado o corpo de Jesus. Havia ali muitos sepulcros, alguns fechados, outros
abertos. Quem não soubesse bem onde Jesus tinha sido enterrado poderia enganar-se.
Mas elas seguiram José de Arimateia, observaram bem o túmulo, viram o lugar,
fixaram na memória. Aquele sepulcro aberto do domingo de Páscoa era realmente de
Jesus! Não foi um engano! Em seguida, elas voltam para casa, preparando aromas e
perfumes para poder ungir o corpo de Jesus depois do descanso do sábado.
50
* As mulheres testemunhas da ressurreição (Lc 24,1-3)
Seguindo de perto o Evangelho de Marcos, Lucas oferece informações detalhadas
sobre a hora e o lugar. Os detalhes sugerem que as mulheres são pessoas de confiança
para testemunhar a ressurreição. Elas estavam convencidas de que Jesus estava
morto, pois iam para o túmulo para ungi-lo. A sua fé na ressurreição não foi fruto de
fantasia, mas algo totalmente inesperado. Quando chegaram ao sepulcro, viram que a
pedra já tinha sido removida. Entrando dentro do sepulcro, não encontraram o corpo
de Jesus.
Dentro do sepulcro, elas encontram dois homens em vestes fulgurantes que lhes
interpretam o significado desses fatos inexplicáveis: “Jesus está vivo. Ele
ressuscitou!”. Elas lembraram as palavras do próprio Jesus e as palavras da Escritura.
Daqui para a frente, a palavra de Jesus e a palavra da Escritura têm ambas o mesmo
valor (cf. Lc 24,8).
51
* Os apóstolos não acreditaram no testemunho das mulheres (Lc 24,9-12)
A experiência da ressurreição aconteceu, primeiro, nas mulheres (Mt 28,9-10; Mc
16,9; Lc 24,4-11.23; Jo 20,13-16). Eram Maria Madalena, Joana e Maria, a mãe de
Tiago, bem como as outras que estavam com elas. Voltando do sepulcro, elas
anunciaram a Boa-Nova aos Onze, mas estes não lhes deram crédito. Não foram
capazes de crer no testemunho das mulheres. Diziam que era tolice, invenção (Lc
24,11). Pedro foi ao túmulo, encontrou-o vazio e voltou para casa. Mas não chegou a
crer. Ficou admirado, surpreso (Lc 24,12).
A experiência da ressurreição é a confirmação de que, para Deus, uma vida vivida
como Jesus é vida vitoriosa. Deus a ressuscita! Crer na ressurreição, o que é?
* É voltar para Jerusalém, reunir a comunidade e partilhar as experiências (Lc
24,33-35).
* É receber a força do Espírito, abrir as portas e anunciar a Boa-Nova à multidão
(At 2,4).
* É ter a coragem de dizer: “É preciso obedecer antes a Deus que aos homens” (At
5,29).
* É reconhecer o erro e dizer: “Teu irmão estava morto e voltou a viver” (Lc
15,32).
* É crer que Deus é capaz de tirar vida da própria morte (Hb 11,19).
* É receber a luz que ilumina a cruz e a transforma em sinal de vida (Lc 24,25-
27).
* É receber um novo olhar para entender o sentido da Sagrada Escritura (Lc
24,25s.44-48)
* É sentir a mão de Jesus ressuscitado que, nas horas difíceis, nos diz: “Não tenha
medo! Eu sou o Primeiro e o Último. Sou o Vivente. Estive morto, mas eis que
estou vivo para sempre. Tenho as chaves da morte e da morada dos mortos” (Ap
1,17s).
* É crer que o mesmo poder, usado por Deus para tirar Jesus da morte, opera
também em nós e nas nossas comunidades, através da fé (Ef 1,19-23).
A ressurreição nos faz experimentar a presença libertadora de Jesus e ser sinal de
vida que luta contra as forças da morte, sobretudo aqui na América Latina, onde a
vida do povo corre perigo por causa do sistema de morte que nos foi imposto. A fé na
ressurreição nos leva a cantar: “Quem nos separará, quem vai nos separar, do amor de
Cristo, quem nos separará? Se ele é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8,38-39).
52
3ª Parte
PESSOAS QUE SÓ APARECEM EM LUCAS
1. Zacarias (Lc 1,5-25)
2. Isabel (Lc 1,5-25)
3. Os pastores que visitam Jesus (Lc 2,8-20)
4. Jesus Menino (Lc 2,6-7)
5. O velho Simeão (Lc 2,25-35)
6. A profetisa Ana (Lc 2,36-38)
7. A viúva de Naim (Lc 7,11-17)
8. A prostituta que beija os pés de Jesus (Lc 7,36-50)
9. Joana (Lc 8,3)
10. Susana (Lc 8,3)
11. A mulher que elogiou a Mãe de Jesus (Lc 11,27-28)
12. A mulher encurvada (Lc 13,10-17)
13. Zaqueu quer ver Jesus de perto (Lc 19,1-10)
14. O bom ladrão que entra no céu junto com Jesus (Lc 23,39-43)
15. Maria, mãe de João Marcos (At 12,12)
16. O anjo Gabriel, porta-voz de Deus (Lc 1,19.26)
17. Cléofas no caminho de Emaús (Lc 24,18)
18. Maria, a Mãe de Jesus
53
1.
54
Zacarias
(Lc 1,5-25)
O nome Zacarias significa lembra-te de Yahweh. Muitos pais davam este nome
aos filhos, para que se lembrassem de Deus, e que Deus se lembrasse deles. Zacarias
era sacerdote. Uma vez por ano, de acordo com o sorteio do seu grupo, ele devia
oficiar no Templo de Jerusalém. Quando chegou a vez do seu grupo, ele “foi sorteado
para entrar no Santuário e fazer a oferta de incenso” (Lc 1,9). O povo ficava do lado
de fora, acompanhando a cerimônia. Enquanto Zacarias fazia a oferta do incenso, o
anjo Gabriel lhe apareceu. Zacarias ficou assustado. Mas o anjo disse: “Não tenha
medo, Zacarias! Deus ouviu a sua oração, sua esposa Isabel vai ter um filho e você
lhe dará o nome de João. Você ficará alegre e feliz e muita gente se alegrará com o
nascimento do menino!” (Lc 1,13-14). Mas Zacarias não acreditou, nem na visão,
nem na promessa. Ele disse: “Como é que vou saber se isso é verdade? Sou velho e
minha mulher é de idade avançada” (Lc 1,18). O anjo disse: “Eu sou Gabriel. Estou
sempre na presença de Deus, e foi ele que me mandou dar esta boa notícia para
você!” (Lc 1,19). E acrescentou: “Você vai ficar mudo e não poderá falar até o dia em
que se realizem estas coisas, porque você não acreditou nas minhas palavras que se
cumprirão no tempo certo” (Lc 1,20). Uns dias depois, Zacarias voltou para sua casa
e Isabel, sua esposa, ficou grávida (Lc 1,23-24).
2.
55
Isabel
(Lc 1,5-25)
Foi Zacarias que recebeu a notícia do anjo Gabriel dizendo que Isabel, sua esposa,
ia ter um filho, a quem ele, Zacarias, devia dar o nome de João (Lc 1,13). Quando
ficou grávida, Isabel se escondeu durante cinco meses. Por que cinco meses? É que,
depois de cinco meses, a barriga já revela a gravidez ao povo e ela podia dizer ao
povo: “Eis o que o Senhor fez por mim, nos dias em que ele se dignou tirar-me da
humilhação pública!” (Lc 1,25). Um mês depois, no sexto mês, ela recebeu a visita de
Maria que vinha lá de Nazaré (Lc 1,39-40). Isabel elogiou a fé que Maria teve na
palavra do anjo: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque vai acontecer o que o
Senhor lhe prometeu” (Lc 1,45), pois Zacarias, o marido dela, não deu conta de crer
na promessa do anjo. Quando, no oitavo dia depois do nascimento do filho, os
vizinhos e parentes quiseram dar ao menino o nome do pai Zacarias, Isabel reagiu e
disse: “Não! Ele vai se chamar João” (Lc 1,60). Então perguntaram ao pai Zacarias
como deveria ser chamado o menino. Ele tomou uma tabuinha e escreveu: “O nome
dele é João” (Lc 1,62). Nesse instante, a boca de Zacarias se abriu e ele entoou um
salmo bonito de agradecimento a Deus (Lc 1,68-79). Nesse salmo ele diz: “Deus
realizou a misericórdia que teve com nossos pais, recordando sua santa Aliança” (Lc
1,72). O nome João significa consolador, aquele que consola.
3.
56
Os pastores visitam Jesus
(Lc 2,8-20)
Os pastores eram pessoas marginalizadas, pouco apreciadas. Viviam junto com os
animais, separados do convívio humano. Por causa do contato permanente com os
animais, eram considerados impuros. Ninguém jamais os convidaria paravir visitar
um recém-nascido. É a estes pastores que aparece o Anjo do Senhor: “Eu anuncio
para vocês a Boa Notícia, que será uma grande alegria para todo o povo: hoje, na
cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor. Isto lhes
servirá de sinal: vocês encontrarão um recém-nascido, envolto em faixas e deitado na
manjedoura” (Lc 2,10-12). Os pastores se levantaram e foram até Belém para ver “o
Salvador, o Messias, o Senhor”. E o que encontraram? Encontraram “um recém-
nascido, deitado numa manjedoura no meio dos animais” (Lc 2,16), “pois não havia
lugar para eles dentro da casa” (Lc 2,7). Os pastores viram, acreditaram e “voltaram,
glorificando e louvando a Deus por tudo o que haviam visto e ouvido, conforme o
anjo lhes tinha anunciado” (Lc 2,20). Naquele tempo, as hospedarias eram de dois
andares. O andar de cima, “a casa”, era para as pessoas. O andar de baixo era para os
animais. Hoje seria como o estacionamento para os carros. Para Maria e José não
havia lugar na casa, no andar de cima. Jesus nasceu no estacionamento, no meio dos
animais. A Mãe de Jesus “conservava todos esses fatos, e meditava sobre eles em seu
coração” (Lc 2,19).
4.
57
Jesus Menino
(Lc 2,6-7)
O menino Jesus veio ao mundo no dia de Natal. Mas ele já estava no meio de nós
durante os nove meses da gravidez, desde aquele Sim de Maria: “Eis aqui a serva do
Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). A primeira viagem que
Jesus fez, ainda no seio da mãe, foi de Nazaré até a casa de Isabel e Zacarias, ida e
volta (Lc 1,39). A segunda viagem, ainda no seio de Maria, mas já perto de nascer,
foi de Nazaré até Belém (Lc 2,4-5). Foi lá em Belém que o menino nasceu (Lc 2,6-7).
Nasceu na estrebaria de animais, porque na casa não havia lugar para aquele casal
pobre que vinha lá da Galileia (Lc 2,7). O Evangelho de Mateus informa que, logo
depois, ele teve que viajar de novo, fugindo para o Egito, carregado nos braços da
mãe Maria, para escapar da fúria de Herodes que queria matar o menino (Mt 2,13-
15). Depois da morte de Herodes, outra longa viagem de volta, desde o Egito, via
Belém, até Nazaré (Mt 2,19-23). Ao todo, desde o Sim de Maria até o retorno a
Nazaré, depois do nascimento de Jesus, foram bem mais de mil quilômetros! Tudo a
pé, no lombo do animal! Em Nazaré, lugar bem pequeno, o menino Jesus foi
crescendo, aprendendo a falar, a comer, a escutar, a rezar, a conviver no meio da
família e do povo da cidade: “O menino crescia e ficava forte, cheio de sabedoria. E a
graça de Deus estava com ele” (Lc 2,40). Quando alcançou a idade de doze anos,
pôde acompanhar os pais na romaria até Jerusalém (Lc 2,42). Menino precoce! –,
pois o costume era de ir em romaria só depois dos treze anos de idade. Lá no Templo
ele se sentiu tão à vontade na Casa do Pai, que se esqueceu de acompanhar os pais na
volta para Nazaré (Lc 2,49). Depois que Maria e José o encontraram, “Jesus desceu
com seus pais para Nazaré, e permaneceu obediente a eles. E sua mãe conservava no
coração todas essas coisas. E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e graça, diante
de Deus e dos homens” (Lc 2,51-52). Aí deixou de ser menino, e começou a ser
rapaz.
5.
58
O velho Simeão
(Lc 2,25-35)
O velho Simeão estava no Templo quando Maria e José lá chegavam levando
consigo o menino Jesus para ser apresentado a Deus, conforme exigia a lei de Deus a
respeito do resgate de todo filho primogênito (Lc 2,22-25). Lucas diz: “Havia em
Jerusalém um homem chamado Simeão. Era justo e piedoso. Esperava a consolação
de Israel, e o Espírito Santo estava com ele” (Lc 2,25). Avançado em idade, Simeão
tinha dentro de si o grande desejo e a convicção de um dia poder experimentar de
perto a realização das profecias a respeito do Messias: “O Espírito Santo tinha
revelado a Simeão que ele não morreria sem primeiro ver o Messias prometido pelo
Senhor” (Lc 2,26). Quando Simeão viu aquele casal pobre de Nazaré com o menino
nos braços, a mente dele se abriu e o Espírito Santo o fez experimentar a chegada da
hora de Deus. Ele tomou o menino nos braços, agradeceu a Deus e fez um cântico
bonito: “Agora, Senhor, podeis deixar o vosso servo ir em paz, porque meus olhos
viram a salvação de Israel” (Lc 2,29-30). O que é que viram os olhos de Simeão? Ele
viu um casal pobre lá da Galileia com um menino nos braços. Mas a sua fé enxergou
“a salvação de Israel”. Em seguida, “Simeão os abençoou, e disse a Maria, mãe do
menino: ‘Eis que este menino vai ser causa de queda e elevação de muitos em Israel.
Ele será um sinal de contradição. Quanto a você, uma espada há de atravessar-lhe a
alma’” (Lc 2,34-35).
6.
59
A profetisa Ana
(Lc 2,36-38)
A profetisa Ana era “filha de Fanuel, da tribo de Aser. Ela casou bem jovem e
viveu sete anos com seu marido. Depois ficou viúva e viveu assim até os oitenta e
quatro anos de idade. Nunca deixava o recinto do Templo, servindo a Deus noite e
dia, com jejuns e oração” (Lc 2,36-37). Para a cultura daquele tempo, Ana tinha a
idade perfeita. Oitenta e quatro anos significava a vivência de doze ciclos de sete
anos. Depois desta longa vida, entre jejum, oração e serviço, Deus a recompensou por
tanta dedicação, e Ana teve a alegria de contemplar o menino Jesus. Ela estava no
Templo quando Maria e José chegaram por lá para oferecer o menino Jesus. Segundo
a Lei, Jesus, sendo o primogênito, pertencia a Deus (cf. Nm 3,11-13). Caso José e
Maria quisessem levá-lo consigo de volta para casa, deviam fazer a oferta de resgate.
Eles fizeram a oferta dos pobres: um casal de pombinhas (cf. Lc 2,22-24). Ana
“louvava a Deus e falava do menino a todos os que esperavam a libertação de
Jerusalém” (Lc 2,38). Hoje, nas nossas comunidades, há muitas “Anas”. São as
senhoras que se dedicam ao serviço comunitário e à animação das celebrações. Elas
dão uma contribuição muito importante na caminhada do povo de Deus. Muitas delas,
como Ana, com a idade já avançada, ainda participam dos estudos bíblicos, das
pastorais sociais e das romarias. Que Deus as abençoe sempre!
7.
60
A viúva de Naim
(Lc 7,11-17)
Não sabemos o nome desta viúva. Ela era de Naim. Lugar pequeno, onde todo
mundo conhece todo mundo e onde todos compartilham a dor e a alegria de todos.
Morreu o filho único dessa viúva. Todo o povoado se solidariza com ela e a
acompanha levando o filho para o cemitério que ficava fora dos muros da cidade. No
exato momento de a multidão sair da cidade, Jesus chega acompanhado de outra
multidão. Os dois grupos se encontram na porta da cidade (Lc 7,11-12). Vida e Morte
se encontram! Jesus vê e sente a dor da mãe que perdeu o filho único. Ele manda o
cortejo parar, chega perto do caixão e diz: “Moço, eu te ordeno: Levanta-te” (Lc
7,14). O moço se levantou, e Jesus o devolveu à mãe. O povo comentou o fato
dizendo: “Um grande profeta apareceu entre nós, e Deus veio visitar o seu povo” (Lc
7,16). Eles souberam discernir a visita de Deus nos fatos da vida. Hoje também tem
gente que sabe discernir a visita de Deus nas casas do povo:
– Irmã, ontem Deus passou aqui em casa e nos fez uma visita.
– Como assim?
– Pois é. Meu menino estava passando mal e no posto de saúde me deram a receita
de um remédio, mas eu não tinha dinheiro para comprar aquele remédio de vinte
reais. À tarde, uma senhora passou em casa, e deixou vinte reais em cima daquela
mesa. E eu não tinha falado nada para ela, nem do filho nem do remédio. Foi Deus!
Não foi?
Como o povo de Naim, esta senhora pobre soube discernir a presença de Deus na
visita que recebeu naquela tarde. Será que eu sei discernir?
8.
61
A prostituta que beija os pés de Jesus
(Lc 7,36-50)
Convidado, Jesus estava jantando na casa de Simão, um fariseu. Durante o jantar,
uma moça entrou e começou a beijar os pés de Jesus, banhando-os com suas lágrimas
(Lc 7,36-38). A moça era conhecida na cidade como pecadora. Deve ter sido uma
moça prostituída e, portanto, desprezada e marginalizada. Mas ela teve a coragem de
quebrar todas as normas: entrou na casa de Simão, um fariseu, e, chorando, colocou-
se aos pés de Jesus, cobrindo-oscom beijos e enxugando-os com seus cabelos e com
perfume. Ela deve ter tido uma fé muito grande em Jesus e uma certeza absoluta de
ser acolhida por ele, pois era necessário ter muita coragem e muita fé para fazer o que
ela fez: entrar na casa de um fariseu durante o jantar e beijar os pés do hóspede,
desafiando a rigidez dos costumes da época. Jesus acolheu a moça. Ele não retirou o
pé, não fez nenhum sinal de impaciência ou de desagrado. Aceitou o gesto da moça.
Simão, o fariseu, pensava: “Se esse homem fosse mesmo um profeta, saberia que tipo
de mulher está tocando os pés dele!” (Lc 7,39). Jesus defendeu a moça contra a crítica
do fariseu e disse: “Os muitos pecados que cometeu estão perdoados, porque ela
demonstrou muito amor” (Lc 7,47).
9.
62
Joana
(Lc 8,3)
É só Lucas que conservou a memória de Joana. O nome Joana significa
consoladora. Joana aparece duas vezes no Evangelho de Lucas. Na primeira vez, é
quando Lucas informa que, ao lado dos doze apóstolos, havia também um grupo de
discípulas que seguiam a Jesus. “Elas ajudavam Jesus e os discípulos com os bens
que possuíam”. Uma delas é “Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de Herodes”
(Lc 8,3). Na outra vez, Joana aparece entre as mulheres que, na manhã do primeiro
dia da semana após a morte de Jesus, foram ao sepulcro com perfumes para
embalsamar o corpo de Jesus (Lc 24,1). Elas encontraram o túmulo aberto e dois
anjos lhes apareceram, dizendo que Jesus havia ressuscitado (Lc 24,5). Joana é uma
das muitas mulheres na Bíblia das quais conhecemos apenas o nome e, muitas vezes,
nem o nome. Apenas sabemos que elas seguiam Jesus e procuravam servir a ele e aos
discípulos (Mc 15,40-41). Hoje, no Brasil, são muitas as Joanas que seguem Jesus e
que, com a sua boa vontade e os seus bens, servem à comunidade e ajudam onde
podem. Deus ama e conhece a todas elas como a palma da sua mão (cf. Is 49,16).
Sem se darem conta, elas irradiam para todos nós o amor que recebem de Deus.
Distribuem de graça o que de graça receberam.
10.
63
Susana
(Lc 8,3)
Foi novamente Lucas quem conservou o nome e a memória de Susana. O nome
dela significa Lírio. Susana fazia parte do grupo de mulheres que acompanhavam
Jesus. Lucas diz: “Jesus andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a
Boa Notícia do Reino de Deus. Os Doze iam com ele, e também algumas mulheres
que haviam sido curadas de espíritos maus e doenças: Maria, chamada Madalena, da
qual haviam saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, alto funcionário de
Herodes; Susana, e várias outras mulheres, que ajudavam a Jesus e aos discípulos
com os bens que possuíam” (Lc 8,1-3). Jesus permitia que um grupo de mulheres o
“seguisse” (Lc 8,2-3; 23,49). A expressão seguir Jesus tem o mesmo significado de
quando é aplicada aos homens. Elas eram discípulas que seguiam Jesus, desde a
Galileia até Jerusalém. O Evangelho de Marcos define a atitude delas com estas três
palavras: seguir, servir, subir. Ele diz: “Elas o seguiam e serviam enquanto esteve na
Galileia. E ainda muitas outras que subiram com Ele para Jerusalém” (Mc 15,41). Os
nomes de sete dessas discípulas estão espalhados pelas páginas dos Evangelhos:
Maria Madalena (Lc 8,3), Joana, mulher de Cuza (Lc 8,3), Susana (Lc 8,3), Salomé
(Mc 15,40), Maria, mãe de Tiago e José (Mc 15,40), a mãe dos filhos de Zebedeu (Mt
27,56), e Maria, mulher de Cléofas (Jo 19,25). Em todos esses textos, exceto João
19,25, Maria Madalena é citada em primeiro lugar, indicando a liderança no grupo
das discípulas de Jesus.
11.
64
A mulher que elogiou a Mãe de Jesus
(Lc 11,27-28)
Não sabemos o nome dessa mulher. Uma tradição antiga diz que ela era uma
vizinha de Maria em Nazaré. Ela teria tido um filho da mesma idade de Jesus,
chamado Dimas. Quando via e ouvia Jesus falar tão bonito sobre Deus e sobre a vida,
agradando ao povo simples que o escutava, ela disse espontaneamente para Jesus
ouvir: “Feliz o ventre que te trouxe e os peitos que te alimentaram” (Lc 11,27). Ela
elogiou Maria, sua vizinha lá de Nazaré. Jesus reagiu na hora e disse: “Mais felizes
são aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática!” (Lc 11,28). É o
elogio mais bonito de Jesus para sua mãe. É o resumo de tudo aquilo que ele
aprendeu dela. O que Jesus observava na vida de Maria, sua mãe, era a felicidade dela
em poder ouvir e praticar a Palavra de Deus, todos os dias da sua vida. Estas palavras
de Jesus a respeito de sua mãe são a chave que Lucas nos oferece para entender
melhor os relatos da Infância de Jesus (Lc 1 e 2). Lucas vê em Maria o modelo de
como as comunidades dos anos oitenta, época de Lucas, deviam relacionar-se com a
Palavra de Deus. No AT, a imagem da Filha de Sião era o modelo de como o povo
devia ser fiel a Deus. Para Lucas, Maria é a Nova Filha de Sião, o novo modelo do
povo de Deus, da Igreja.
12.
65
A mulher encurvada
(Lc 13,10-17)
Lucas não informou o nome desta senhora que foi atrás de Jesus em busca de cura.
Havia dezoito anos, um mal-estar fazia com que ela ficasse curvada sem poder
endireitar-se. Foi num sábado, na celebração semanal da comunidade, que ela
encontrou Jesus. Vendo-a, Jesus colocou as mãos sobre ela e disse: “Mulher, você
está livre de sua doença!” (Lc 13,12). Imediatamente, a mulher se endireitou e ficou
boa. Agradecida, ela começou a louvar a Deus (Lc 13,13). O coordenador da
comunidade ficou furioso, porque Jesus tinha feito uma cura em dia de sábado. E
gritou: “Gente, há seis dias para trabalhar. Venham nesses dias para serem curados,
mas não em dia de sábado!” (Lc 13,14). O contraste é grande. De um lado, a bondade
de Jesus que não aguenta ver o povo sofrer e cura a mulher com o toque de suas
mãos. Do outro, a atitude do coordenador da comunidade que só olha a lei e não
percebe o problema das pessoas nem a bondade e a humanidade de Jesus. A reação de
Jesus foi imediata: “ ‘Hipócritas! Cada um de vocês não solta do curral o boi ou o
jumento para dar-lhe de beber, mesmo que seja em dia de sábado? Aqui está uma
filha de Abraão que Satanás amarrou durante dezoito anos. Será que não deveria ser
libertada dessa prisão em dia de sábado?’. Esta resposta deixou confusos todos os
inimigos de Jesus. E toda a multidão se alegrava com as maravilhas que Jesus fazia”
(Lc 13,15-17).
13.
66
Zaqueu, que quer ver Jesus de perto
(Lc 19,1-10)
Em Jericó morava um judeu muito rico. Chamava-se Zaqueu, nome que significa
o puro. Apesar desse nome, ele era um pecador, já que a sua riqueza vinha da
corrupção. Ele era o chefe dos publicanos que cobravam os impostos para os
romanos, desviando muito dinheiro para o próprio bolso. Tendo ouvido falar de
Jesus, Zaqueu desejava muito ver de perto esse profeta. Assim, quando Jesus entrou
em Jericó e estava atravessando a cidade, Zaqueu tentou vê-lo, mas não conseguia,
porque havia muita gente e ele era baixinho. Mas ele não desistiu. Correu na frente da
multidão e subiu numa figueira, esperando Jesus passar. Quando Jesus chegou perto,
ele olhou para Zaqueu no alto da árvore e disse: “Zaqueu, desça depressa, porque
hoje eu preciso ficar em sua casa” (Lc 19,5). Zaqueu desceu e com muita alegria
recebeu Jesus em sua casa. Muita gente criticou Jesus por ele se hospedar na casa de
um corrupto. Mas Zaqueu ficou de pé diante de Jesus e disse: “Vou dar a metade de
meus bens aos pobres. E, se roubei alguém, vou restituir quatro vezes mais” (cf. Lc
19,8). Devolver quatro vezes o que roubou era obrigação da lei (cf. Ex 21,37; 2Sm
12,6). Mas partilhar a metade dos bens com os pobres era algo novo, resultado do
contato de Zaqueu com Jesus! Muito contente com esse gesto, Jesus proclamou:
“Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de
Abraão, porque o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc
19,10).
14.
67
O bom ladrão que entra no céu junto com Jesus
(Lc 23,39-43)
Jesus não foi crucificado sozinho. Junto com ele foram crucificados dois outros
condenados, que a Bíblia chama de “ladrões” ou “criminosos” (Lc 23,32). Um deles
se chamava Dimas. Na época de Jesus havia muita violência

Continue navegando