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Planejamento Familiar Métodos Contraceptivos e Esterilização Definitiva: Anticoncepção é o uso de métodos e técnicas com a finalidade de impedir que o relacionamento sexual resulte em gravidez. É recurso de planejamento familiar para a constituição de prole desejada e programada, de forma consciente. Os métodos anticoncepcionais podem ser classificados de várias maneiras. Reconhecem-se dois grupos principais: o Reversíveis: abrangem métodos comportamentais, de barreira, dispositivos intrauterinos, hormonais e os de emergência. o Definitivos: são os métodos cirúrgicos, como esterilização cirúrgica feminina e esterilização cirúrgica masculina. O manejo das situações que envolvem anticoncepção obriga o uso de alguns conceitos que devem ficar bem claros, como: eficácia, segurança, escolha do método e critérios de elegibilidade de um método anticoncepcional. Reversíveis: Métodos Comportamentais: Também chamados de métodos de abstinência periódica. Resumem- se na observação dos sinais e sintomas que caracterizam as diversas fases do ciclo menstrual, com consequente abstinência sexual periódica. Devem ser abolidos na perimenopausa e junto à menarca, devido à maior prevalência de ciclos irregulares observados nesses períodos. Mulheres com ciclos muito curtos (menores que 26 dias) ou muito longos (maiores que 32 dias) devem evitar estes métodos por sua menor efetividade. O casal deve abster-se de relações sexuais no período fértil. A taxa de falha pode chegar a 20% no primeiro ano. Uma vez que o tempo médio de vida de um espermatozoide dentro do trato genital feminino é de 72 horas e o óvulo possui tempo médio de vida de 48 horas, o casal deve permanecer em abstinência por três a quatro dias antes da data presumida da ovulação e por três dias após. Os métodos comportamentais incluem: tabelinha (Ogino-Knaus); temperatura corporal basal; Billings; sintotérmico; e coito interrompido. Sendo classificados em dois tipos: o Abstenção Periódica: os métodos de abstenção periódica pressupõem o conhecimento do período fértil, época em que são evitadas as relações sexuais. A forma de se reconhecer o período fértil deu origem aos métodos da tabelinha ou de Ogino-Knaus, do muco cervical ou de Billings, da curva térmica, e, também o sintotérmico. o Relações em que o esperma não é depositado na vagina: consiste na utilização de práticas sexuais diversas do coito vaginal, para que a ejaculação não seja intravaginal. A prática mais conhecida e difundida é o coito interrompido. ➢ Método Ogino-Knaus (Ritmo, Tabela, Calendário): A mulher deve ser orientada a registrar a duração do seu ciclo menstrual por, pelo menos, seis meses e, a partir daí, deve ser calculada a diferença entre o ciclo mais longo e o ciclo mais curto. Caso a diferença seja superior a dez dias, o método não deve ser usado. Período de abstinência: o período fértil (durante o qual é preconizada a abstinência sexual) é calculado pela subtração de 18 do ciclo mais curto e 11 do ciclo mais longo (apenas nos casos em que a diferença entre o ciclo mais longo e mais curto foi inferior a dez dias). Fora deste período, o ato sexual é permitido. ➢ Método do Muco Cervical ou de Billings: O muco produzido pelas células glandulares do colo uterino, sob influência do estrogênio e da progesterona, modifica suas características ao longo do ciclo menstrual. No início da primeira fase do ciclo, o muco não é perceptível. Quando a mulher começa a percebê-lo, ele é espesso, pegajoso. À medida que a ovulação se aproxima, o muco vai-se tornando elástico, filante, comparável à clara de ovo. Após a ovulação, o muco volta a ficar espesso, turvo e perde a distensibilidade. Vale lembrar que este método envolve vários fatores subjetivos. A presença de uma infecção vaginal, por exemplo, influencia a percepção das características do muco. Apresenta índices de falha de até 39 em 100 mulheres por ano. As principais causas do insucesso são: ausência de abstenção na fase fértil; fluxo tardio de muco; ápice do muco muito precoce; ausência de percepção da presença de muco; avaliação precária do muco devido à leucorreia ou sêmen. Período de abstinência: da percepção do muco, ou sensação de lubrificação vaginal, até o quarto dia após a percepção máxima de umidade. ➢ Método da Curva da Temperatura Basal: Após a ovulação ocorre um aumento dos níveis séricos de progesterona. Esta atua no centro termorregulador no hipotálamo e promove uma elevação da temperatura basal entre 0,3 e 0,8ºC (em geral, 0,3ºC). Este fenômeno denuncia a postura ovular. A ovulação geralmente ocorre um dia antes da elevação da temperatura. Este aumento de temperatura permanece por 11 a 16 dias. A elevação da temperatura por menos de 11 dias sugere insuficiência do corpo lúteo e por mais de 16 dias sugere gravidez. Na ausência de ovulação, não há formação do corpo lúteo, a secreção de progesterona não ocorre e a temperatura corporal se mantém estável, resultando em um gráfico monofásico. O registro da temperatura corporal basal deve ser diário, pela manhã, após repouso de pelo menos cinco horas, antes de realizar qualquer atividade. A temperatura pode ser aferida por via oral, retal ou vaginal, com termômetro comum. Por via oral, o termômetro deverá permanecer embaixo da língua por cinco minutos. A mesma via de aferição deve ser utilizada durante todo o ciclo. A curva de temperatura pode ser: Bifásica: normal; Monofásica: geralmente anovulatória; Trifásica (ou com uma segunda fase curta): neste último caso sugestiva de insuficiência lútea ou síndrome do folículo não roto. O monitoramento da curva de temperatura basal também pode ser empregado para o diagnóstico presuntivo de gestação. O estímulo progesterônico da gravidez determina a manutenção da temperatura corporal basal elevada. As principais críticas a este método são: vários fatores podem interferir com a temperatura basal, como infecções (virais ou bacterianas) e insônia; a aferição diária acarreta ansiedade; o método não permite prever a ovulação, o que dificulta a contracepção nos dias que a precedem; mulheres que apresentam um gráfico claramente bifásico apresentam certamente ciclos ovulatórios, mas traçados monofásicos, quando presentes, requerem a confirmação do estado ovulatório da paciente por outros métodos. Período de abstinência: a mulher deverá se manter em abstinência durante toda a primeira fase do ciclo até a manhã do quarto dia em que se verificou o aumento da temperatura. Esta última medida assegura que o óvulo não é mais fecundável (48 horas de vida média). ➢ Método Sinotérmico: Resume a combinação entre as observações sobre a temperatura basal, o muco cervical e outros parâmetros subjetivos que possam indicar a ovulação (dor pélvica, enxaqueca). Esta associação visa aumentar a eficácia. Para identificar o início do período fértil: fazer cálculo do calendário e analisar o muco. Para identificar o fim do período fértil: observar variações do muco e identificar a decalagem da temperatura basal. ➢ Coito Interrompido: A interrupção da relação sexual antes da ejaculação não deve ser recomendada como método sistemático, mas pode ser útil em situações atípicas, quando não estão disponíveis outros recursos. Requer grande controle por parte do homem, o que nem sempre acontece. Além disso, a ejaculação é precedida de liberação de muco, que pode conter espermatozoides. A retirada do pênis leva ao ato sexual incompleto e ansiedade. Antes do ato sexual, o homem deve urinar e retirar restos de esperma de uma eventual relação sexual anterior. Outras formas de se fazer sexo sem ejaculação dentro da vagina são práticas eróticas diversas, em que não ocorre a penetração do pênis na vagina. Podem ser citados: o sexo oral, o sexo anal, a masturbação mútua etc. É importantelembrar que o coito interfemoral, em que a ejaculação se faz na vulva, pode resultar em gestação. Deve ser desestimulado pelas razões anteriormente mencionadas e pelo índice elevado de falhas. O índice de Pearl é maior que 25%. Métodos de Barreira: Possuem como mecanismo de ação a interposição de uma barreira mecânica ou química que impeça a ascensão de espermatozoides da vagina para o útero. A associação dos dois tipos de métodos aumenta sua eficácia. O uso destes métodos está sujeito a dificuldades em cada relação sexual. Os usuários requerem orientações corretas e motivação para que os métodos atinjam a melhor eficácia. Assim, quando usados corretamente, possuem boa eficácia. São considerados métodos de barreira: preservativo masculino; preservativo feminino; diafragma; capuz cervical; espermicida; e esponja. ➢ Preservativos Masculinos: Denominado de condom (camisa de Vênus), corresponde a um envoltório de látex que deve ser colocado no pênis ereto, antes do início do ato sexual. O usuário deve ser orientado a retirar o pênis da vagina logo após a ejaculação, evitando que o seu conteúdo saia do reservatório com a diminuição da ereção. O mecanismo de ação ancora-se na retenção do esperma no preservativo, o que coíbe seu contato com a vagina. É um método que diminui o risco de transmissão de HIV e de outras doenças sexualmente transmissíveis. A única condição clínica que pode restringir seu uso é a alergia ao látex. O emprego correto do método, em todas as relações sexuais, associa-se a uma taxa de falha de 3%. Apresenta índice de Pearl de 2% a 15%, com grande variação, pois depende do uso correto. Vantagens: protege contra DST (inclusive HIV e Hepatite B), não depende de controle médico e é de fácil acesso. A proteção contra algumas DST (como o HPV) não é total, pois pode haver contaminação através do contato com a pele não coberta pelo preservativo. Desvantagens: requer motivação e manipulação durante o ato sexual; podem ocorrer roturas do preservativo e reação alérgica ao látex. Já vêm sendo desenvolvidos preservativos masculinos em poliuretano, mais resistentes e menos alergênios que o látex, com o intuito de minimizar tais intercorrências. ➢ Preservativo Feminino: Denominado de condom feminino, é confeccionado com poliuretano. Consiste em um tubo medindo 17 cm de comprimento por 8 cm de diâmetro, com uma extremidade fechada e outra aberta. Dois anéis flexíveis de poliuretano, mas algo rígidos, situam-se nas extremidades. O anel com a extremidade fechada deve ser posicionado no fundo da vagina, de forma a recobrir completamente o colo uterino. O anel com extremidade aberta é posicionado na fenda vulvar, e a recobre parcialmente. Assim como o preservativo masculino, cada preservativo só pode ser utilizado uma vez. O mecanismo de ação consiste na retenção do esperma no preservativo, o que impede seu contato com a mucosa vaginal. A colocação do preservativo precede a penetração. Pode ser inserido até 8 horas antes do ato sexual e não é necessário que seja retirado imediatamente após a relação, o que confere maior adesão ao método pelos casais. Pode ser usado associado a lubrificantes espermicidas, o que aumenta a eficácia do método, além de não ser tão alérgeno como o látex. A taxa de falha oscila entre 5% (uso correto) e 21% (uso habitual). Vantagens: inserção fora do intercurso sexual, menos reação alérgica e maior resistência. Desvantagens: confere proteção parcial para herpes genital e HPV, além de ser pouco estética, de alto custo, provocar desconforto pelo anel interno e provocar ruídos durante o ato sexual, o que pode gerar incômodo intolerante. ➢ Espermicida: Consiste em substâncias químicas que recobrem a vagina e o colo do útero, imobilizando ou destruindo os espermatozoides por lesão da sua membrana celular. Devem ser aplicados antes da relação sexual e são efetivos por duas horas. A paciente e/ou o parceiro podem apresentar reação alérgica. O produto mais usado tem como base o nonoxinol-9 a 2%. O Octoxinol-9 e o Menfegol correspondem a outros agentes que podem ser empregados. Estas substâncias podem provocar microfissuras na mucosa vaginal, com aumento do risco de transmissão de HIV, sendo considerado categoria 4 em pacientes com HIV/ AIDS ou elevado risco para a infecção. O índice de Pearl varia entre 18 e 29% (Pearl correto e típico, respectivamente). Isoladamente, não confere proteção adequada. Constituem restrição ao uso do método: história recente de infecção genital, baixa ou alta; e existência de DST/AIDS. ➢ Diafragma: Corresponde a um dispositivo circular flexível coberto por uma membrana de silicone ou látex. Tem o inconveniente de depender do médico para ser utilizado, pois é necessária avaliação do tamanho adequado de diafragma para cada paciente. É fundamental a adequada orientação quanto à sua introdução e retirada. Assim, somente após consulta com profissional de saúde a paciente poderá iniciar o uso do dispositivo. Além disso, a paciente deve ser reavaliada após cada parto e em caso de perda ou ganho de peso acentuado. A associação do dispositivo à substância espermicida incrementa a eficácia do método e simplifica a colocação. O dispositivo poderá ser inserido até duas horas antes da relação sexual. Idealmente, deve ser colocado pouco antes da relação sexual para se evitar o acúmulo de secreções. No entanto, sua remoção só deverá ser efetuada seis a oito horas após o coito, para garantir maior tempo de exposição do espermatozoide ao espermicida. A taxa de falha varia de 6% (uso consistente) a 16% (uso habitual). Protege contra DST (redução de 50% do risco pela oclusão do colo, embora não proteja contra HIV). O método possui algumas restrições ao seu uso, a saber: alergia ao látex; história de síndrome do choque tóxico; história de doença valvular cardíaca complicada (hipertensão pulmonar, fibrilação atrial, endocardite infecciosa); pacientes virgens; e pacientes com infecções vaginais e/ou DIP. O uso deve ser evitado em pacientes com prolapso uterino, cistocele, retocele, retroversão uterina fixa e nos casos de alterações anatômicas (septos vaginais, fístulas e cistos vaginais). ➢ Esponja e Capuz Cervical: A esponja constitui-se de poliuretano acompanhada de espermicida. É descartável e de fácil colocação. Tem como principal limitação ao uso o custo (produto importado com custo elevado). Pode ser utilizada por 24 horas, devendo ser descartada em seguida. As contraindicações deste método são as mesmas atribuídas ao diafragma. O índice de Pearl varia entre 9 e 32%. O capuz cervical é um dispositivo de borracha ou látex que se adapta ao colo e se adere a ele, por sucção. Deve ser utilizado em conjunto com espermicida. Pode ser inserido até 24 horas antes da relação e deve ser retirado seis a oito horas após. Pode ser utilizado em pacientes com prolapsos, para os quais o diafragma está contraindicado, mas não pode ser utilizado em pacientes com alterações cervicais, virgens e com infecções vaginais e/ou DIP. Não é método disponível no Brasil. Apresenta eficácia semelhante ao diafragma. Dispositivos Intrauterinos: O dispositivo intrauterino (DIU) é um método anticoncepcional constituído por um aparelho pequeno e flexível que é colocado dentro do útero, o qual exerce ações que culminam por evitar a gestação. Há vários modelos de DIU que se encaixam em dois tipos de DIU: os que contêm cobre e os com hormônio – progesterona ou levonorgestrel (LNG). Os DIUs com cobre foram desenvolvidos com diversos formatos, sendo que os que vingaram e são largamente usados são o TCu 380A e o Multiload 375 (MLCu375). Os números que acompanham o modelo se referem à superfície de cobre presente. Foi constatado que quanto maior essa superfície, maior seria o número de íons de cobre liberados na cavidade uterina,resultando em maior eficácia. ➢ Eficácia: Segundo vários trabalhos, o DIU TCu 380A tem uma taxa de falhas que vai de 0,4 em 12 meses a 2,1 em 120 meses (10 anos), o que lhe confere uma alta confiabilidade. O DIU com LNG tem uma eficácia maior, sendo a taxa de falhas no primeiro ano de uso igual a zero. ➢ Mecanismo de Ação: O mecanismo de ação desses dispositivos, na mulher, ainda não está completamente esclarecido. Todos provocam uma reação inflamatória no endométrio, com alterações histológicas e bioquímicas importantes (aumento de citocinas citotóxicas), que interferem na fisiologia normal da espermomigração, fertilização do óvulo e implantação do blastocisto. Os íons de cobre interferem na vitalidade e na motilidade espermática, prejudicando-as, e, também diminui a sobrevida do óvulo no trato genital. O cobre é responsável por um aumento da produção de prostaglandinas e inibição de enzimas endometriais. Estas mudanças afetam adversamente o transporte de esperma de modo que raramente ocorre a fertilização. A ovulação não é afetada em usuárias do DIU de cobre. Assim, segundo os dados científicos disponíveis, os DIUs com cobre agem, não apenas na cavidade uterina, mas também fora dela, interferindo em várias etapas do processo reprodutivo. O DIU com LNG (Mirena®) libera 20 mcg de LNG por dia, na cavidade uterina, o qual é pouco absorvido e, por isso, os efeitos sistêmicos são desprezíveis ou inexistentes. Agindo localmente, causa atrofia do endométrio e alterações no muco cervical, efeitos que aumentam muito sua eficácia contraceptiva. Adiciona à reação de corpo estranho a ação da progesterona no endométrio: decidualização e atrofia glandular. Os receptores de estrogênio e progesterona endometriais são suprimidos. O muco cervical torna-se espesso, criando uma barreira à penetração espermática. A ovulação pode ser inibida. ➢ Condições para Uso: O uso de DIU requer uma inserção por profissional devidamente habilitado. É fundamental que a paciente seja hígida. Portanto, é essencial: exame ginecológico normal; colpocitologia oncótica dentro da normalidade; ausência de vaginites, cervicites infecciosas, doença inflamatória pélvica aguda ou crônica, malformações uterinas, tumores pélvicos ou câncer genital; ausência de cardiopatias, doenças hematológicas, especialmente as hemorrágicas, deficiências imunológicas; não estar grávida. ➢ Tempo de Uso: O TCu 380A pode ser usado por 12 anos, sem comprometimento da sua eficácia. Talvez possa ser por mais tempo, mas ainda não há trabalhos que suportem essa afirmação. O DIU com LNG pode permanecer por cinco anos sem comprometimento de sua eficácia. Após esse prazo deve ser trocado ou removido. ➢ Riscos e Paraefeitos: São os principais riscos associados ao uso de DIU, condicionados à sua inserção: dor; reação vagal; perfuração uterina; sangramento; laceração da cérvice e bacteremia transitória. Para todos eles há prevenção por meio do uso de rigor técnico na inserção. A reação vagal, quando ocorre, é leve, transitória e se resolve espontaneamente. É importante estar prevenido para isso. A perfuração uterina é, sem dúvida, a complicação mais séria, especialmente se não for diagnosticada, podendo levar à colocação do dispositivo em sítio diferente da cavidade uterina, com consequências que podem ser graves. Ainda se relacionam, como complicações do uso do DIU, a expulsão espontânea e a falha contraceptiva: a gravidez não desejada. Os paraefeitos observados, com maior frequência, durante o uso do DIU, são: dor pélvica crônica; dismenorreia; sangramentos anormais, especialmente menorragia e hipermenorreia etc. Ocorrendo atraso menstrual, na vigência do DIU, a conduta inicial é verificar se há gravidez ou não, por meio da dosagem da gonadotrofina coriônica no sangue. Sendo esta positiva, o dispositivo deve ser removido, caso seja possível. Se os fios de reparo do DIU não são visualizáveis, a gestação deve ser acompanhada com cuidados redobrados, pois aumenta muito o risco de corioamnionite e ruptura prematura de membranas com consequente interrupção prematura da gravidez. Definitivos ou Irreversíveis: Contracepção Cirúrgica: É empregada por muitos casais em nosso meio. Constitui-se no único método de contracepção definitiva, sendo definido como método irreversível. As técnicas laparoscópicas para as mulheres e a vasectomia para os homens vêm sendo empregadas com frequência cada vez maior. ➢ Esterilização Feminina: Pode ser realizada no momento de uma laparotomia para uma cesariana ou para outra cirurgia no abdome. Prolonga-se um pouco o tempo total da cirurgia sem oferecer riscos. O local ideal para o procedimento é a região ístmica. ➢ Minilaparotomia após Parto Vaginal: No período pós-parto imediato, a posição em que se encontram as trompas facilita o procedimento, o qual é realizado através de uma incisão infra ou transumbilical (técnica de Sauter). É importante frisar que a legislação brasileira vigente não prevê a laqueadura neste período, salvo raras exceções. ➢ Minilaparotomia no Intervalo: É geralmente realizada como um procedimento ambulatorial. A incisão é suprapúbica transversal. No estado não gravídico, as trompas e o útero localizam-se mais profundamente na cavidade pélvica, desta forma devemos empregar durante a minilaparotomia um levantador uterino inserido por via transvaginal. ➢ Laparoscopia: É procedimento que requer anestesia geral. A laparoscopia padrão pode lesar vasos sanguíneos no momento da introdução do trocarte, porém é muito raro. Coagulação elétrica bipolar: a porção ístmica média da tuba e a mesossalpinge adjacente são apreendidas com uma pinça bipolar por onde se desloca a corrente. Aplicação do anel de YOON: um anel de silastic (uma espécie de borracha) é liberado ao redor da base da tuba, produzindo necrose isquêmica desse segmento. Aplicação do clipe de Hulka: consiste na aplicação de um clipe plástico ou metálico, colocado através da porção ístmica de cada tuba. ➢ Esterilização Masculina: A vasectomia é realizada sob anestesia local e consiste na ressecção do ducto deferente. Apresenta índice de Pearl entre 0,1 a 0,15% homens/ano. As principais complicações incluem epididimite congestiva, hematoma do escroto e infecção de ferida operatória. Não se associa a aumento da incidência de câncer de próstata (como se acreditava antigamente), câncer de testículo, urolitíase ou aterosclerose. O procedimento não causa disfunção sexual. Após o procedimento, recomenda-se a utilização de preservativo ou outro método anticoncepcional durante três meses, pois pode haver espermatozoides presentes no ejaculado durante este período. Somente é permitida a esterilização voluntária nas seguintes situações: I - Em homens e mulheres com capacidade civil plena e maiores de 25 anos de idade ou, pelo menos, com dois filhos vivos, desde que observado o prazo mínimo de 60 dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico, período no qual será propiciado à pessoa interessada acesso a serviço de regulação da fecundidade, incluindo aconselhamento por equipe multidisciplinar, visando desencorajar a esterilização precoce. II - Risco de vida ou à saúde da mulher ou do futuro concepto, testemunhado em relatório escrito e assinado por dois médicos. Índice de Pearl: A eficácia de um método contraceptivo é a capacidade desse método de proteger contra a gravidez não desejada e não programada. É expressa pela taxa de falhas própria do método, em um período de tempo, geralmente um ano. O índice mais utilizado para esse fim é o índice de Pearl, que é assim calculado: O índice de Pearl é considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o principal avaliador da eficácia dos métodos contraceptivos. Em outras palavras, o índice avalia o número de falhas que ocorreram com a utilizaçãodo método ao fim de um ano, em 100 mulheres. Quanto menor o índice de Pearl, maior é a eficácia de um método contraceptivo. Os métodos com maior eficácia possuem índice menor do que um. A OMS recomenda que os métodos anticoncepcionais apresentem índice de falha menor que quatro gestações por 100 mulheres/ano. Critérios de Elegibilidade dos Anticoncepcionais: Atualmente, há uma grande e crescente variedade de métodos efetivos para controle da fertilidade. Embora nenhum seja totalmente livre de efeitos colaterais ou de riscos potenciais, a disponibilidade destes métodos contraceptivos é essencial para atenção à saúde da mulher na prevenção de gestações indesejadas. Este contexto destaca a importância do estudo da efetividade dos contraceptivos disponíveis com base nas orientações dos critérios clínicos de elegibilidade da Organização Mundial de Saúde. O planejamento familiar é definido pela Lei 9263 de 12/01/1996 como “conjunto de ações de regulação da fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal”. No Brasil, o Ministério da Saúde disponibiliza gratuitamente diversos métodos de controle de natalidade para a população usuária dos serviços públicos de saúde, como condom masculino e feminino, diafragma, esterilização cirúrgica, minipílula, DIU de cobre, Anticoncepcionais Orais (ACO) e injetáveis e espermicidas. Os métodos atualmente estão agrupados de acordo com sua efetividade e não mais em função do tipo de contracepção, sendo dividididos em 4 categorias. Categoria 1 ou de Primeira Linha: Os considerados de primeira linha são aqueles mais efetivos e caracterizados pela facilidade de uso. Esses métodos requerem mínima motivação da usuária ou intervenção e apresentam índice de gravidez não desejada inferior a 2 em 100 durante o primeiro ano de uso. Como esperado, esses métodos de primeira linha proporcionam a maior duração de efeito contraceptivo e requerem o menor número de consultas de retorno. Entre os métodos de primeira linha estão dispositivos intrauterinos, implantes contraceptivos e diversos métodos de esterilização feminina e masculina. A redução do número de gravidezes indesejadas é mais facilmente obtida aumentando-se o uso desses métodos de primeira linha. Assim, embora o aconselhamento deva incluir todas as formas de contracepção, parte das impressões equivocadas acerca de alguns desses métodos de primeira linha – particularmente sobre os dispositivos intrauterinos – pode ser esclarecida. Portanto, são métodos que podem ser usados sem qualquer restrição. Categoria 2 ou de Segunda Linha: Os métodos de segunda linha incluem contraceptivos hormonais sistêmicos disponíveis em comprimidos orais, injeção intramuscular, adesivos transdérmicos ou anéis transvaginais. Somados, a taxa de fracasso esperado varia entre 3 e 9% durante o primeiro ano. Esta taxa alta provavelmente é reflexo de uso inadequado sem nova dosagem no intervalo apropriado. Os sistemas automatizados de lembrete para esses métodos de segunda linha têm se mostrado ineficazes. Portanto, o uso do método em apreço pode apresentar algum risco, habitualmente menor do que os benefícios decorrentes de seu uso. Em outras palavras, o método pode ser usado com cautela e precauções maiores, especialmente acompanhamento clínico mais rigoros. Categoria 3 ou de Terceira Linha : Os métodos de terceira linha incluem métodos de barreira para homens e mulheres, assim como métodos de consciência corporal, como as tabelas com base no ciclo menstrual. A taxa de fracasso esperada varia entre 10 e 20% no primeiro ano de uso. Contudo, a eficácia aumenta com o uso consistente e correto. Portanto, o uso do método pode estar associado a um risco, habitualmente considerado superior aos benefícios decorrentes de seu uso. O método não é o mais apropriado para aquela pessoa, podendo ser usado, contudo, no caso de não haver outra opção disponível, ou em que a pessoa não aceita qualquer outra alternativa, mas desde que seja bem alertada desse fato e que se submeta a uma vigilância médica muito rigorosa. Categoria 4 ou de Quarta Linha : Entre os métodos de quarta linha estão as formulações espermicidas, com taxa de insucesso entre 21 e 30% no primeiro ano de uso. O coito interrompido é tão imprevisível que alguns autores concluíram que não faz parte dos métodos contraceptivos. Portanto, o uso do método em apreço determina um risco à saúde, inaceitável. O método está contraindicado. Composições dos Métodos Hormonais: Os contraceptivos hormonais são métodos extremamente difundidos e eficazes. No entanto, seu índice de sucesso depende fundamentalmente da paciente. Com isso, na prática seu índice de falhas aumenta consideravelmente decorrente do uso incorreto, chegando a taxas de gravidez no primeiro ano de uso entre 3 e 9 por 100 usuárias. Dentre esses contraceptivos os mais conhecidos são: contraceptivos orais combinados (COCs), contraceptivos contendo apenas progestogênio (COPs) e contraceptivos com estrogênios e/ou progestogênios de uso sistêmico por injeção, adesivo transdérmico ou anel intravaginal. Contraceptivos Hormonais Combinados (CHCs): Os CHCs possuem a combinação de um estrogênio e um progestogênio no mesmo método. Desse grupo fazem parte as pílulas contraceptivas de uso oral, o injetável mensal, o adesivo transdérmico e o anel intravaginal. Apresentam bons níveis de efetividade e continuidade do uso do método. O mecanismo de ação dos CHCs ocorre pela inibição da ovulação. Vamos relembrar, no ciclo menstrual o hormônio folículo estimulante (FSH) é responsável pelo recrutamento e desenvolvimento folicular. Já o hormônio luteinizante (LH) é o responsável pela ovulação. O componente de estrogênio dos CHCs inibe o FSH, enquanto que o progestogênio age inibindo o LH. Ora, se esses dois hormônios estão bloqueados, não pode ocorrer recrutamento folicular, amadurecimento do folículo dominante e nem ovulação. Além disso, a progesterona presente nesses contraceptivos torna o muco cervical espesso, dificultando a espermomigração, reduz a motilidade tubária e ainda tem efeito antiproliferativo no endométrio. Já o estrogênio contido na formulação estabiliza o endométrio, reduzindo os sangramentos e aumenta a produção hepática da globulina carreadora de hormônios sexuais (SHBG), reduzindo a fração livre de testosterona. Sabendo disso, fica fácil elencar vários benéficos dos CHCs: Possuem alguns efeitos adversos relacionados aos hormônios utilizados. Além disso, devido aos hormônios utilizados os CHCs possuem inúmeras contraindicações relativas e absolutas. Apresentaremos no quadro abaixo as contraindicações absolutas (categoria 4) mais importantes de acordo com os critérios de elegibilidade da Organização Mundial de Saúde (OMS). Contraceptivo Oral Combinado (COCs) : Também são conhecidos como pílulas anticoncepcionais. O principal estrogênio utilizado é o etinilestradiol. Mas novas formulações podem conter o estradiol e o valerato de estradiol que são estrogênios naturais. Os COCs que possuem etinilestradiol em sua composição podem ser classificados pela dose estrogênica, em pílulas de alta ou baixa dose. As pílulas que contêm doses abaixo de 50 mcg de etinilestradiol são as de baixa dose, aquelas com quantidade superior a 50 mcg são as de alta dose. De acordo com o tipo de progestagênios contido, os COCs podem ser classificados em primeira, segunda ou terceira geração. Os COCs de primeira geração são os que possuem levonorgestrel (progestágeno) associado a 50 mcg de etinilestradiol. Já as de segunda geração contêm o etinilestradiol em doses menores, associado ao levonorgestrel. Se a pílula tiver desogestrel ou gestodeno associado ao progestágeno, são denominadas de terceira geração. Pode ser utilizado de maneiracontínua ou estendida. No uso contínuo, não há interrupção das pílulas e no uso estendido, as pausas acontecem 3 a 4 vezes por ano, dependendo do produto. As pílulas devem ser iniciadas no primeiro dia do ciclo menstrual. As cartelas a depender do tipo esquema utilizado indicam pausas mensais que podem variar de quatro a sete dias. Nesses casos, após a primeira cartela inicia-se a segunda no quinto ou oitavo dia, respectivamente. Alguns anticoncepcionais de 28 dias podem ser utilizados sem pausa. O importante é utilizar diariamente para evitar falhas. No caso de esquecimento, deve se fazer o uso da pílula esquecida mais a pílula do dia para evitar sangramento por colapso endometrial. Já o restante da cartela deve ser consumido com uma pílula por dia. Em caso de mais de um dia esquecido, deve-se utilizar um contraceptivo de barreira por pelo menos 7 dias para evitar gestação. Injetável Mensal: Os anticoncepcionais hormonais combinado injetável são utilizados mensalmente. Os mais utilizados são o de valerato de estradiol com enantato de noretisterona, e o cipionato de estradiol com acetato de medroxiprogesterona. É indicado para pacientes que possuem dificuldade de aderir pílula anticoncepcional. O mecanismo de ação é o mesmo que os demais contraceptivos combinados. O sangramento menstrual ocorre a cada três semanas após o 22° dia da injeção. A aplicação ocorre via intramuscular no músculo deltoide a cada 30 dias. Anel Vaginal: Esse método contraceptivo combinado que possui o formato de um anel transparente e flexível e contém 2,7 mg de etinilestradiol e 11,7 mg de etonogestrel. O anel vaginal libera cerca de 15 μg de etinilestradiol/dia e 120 μg de etonogestrel/dia. Deve ser colocado em forma de “8” no fundo vaginal entre o primeiro e o quinto dia do ciclo menstrual. O dispositivo permanece por três semanas consecutivas, faz-se uma pausa de sete dias, quando ocorre o sangramento e recoloca um novo dispositivo ao final da pausa. Adesivo Transdérmico: O adesivo transdérmico contém uma camada interna hormonal e uma camada externa resistente à água. Ele libera diariamente 30 μg de EE e 150 μg de norelgestromina, que, após metabolismo hepático, se transforma em levonorgestrel. O adesivo deve ser aplicado na pele limpa, podendo ser colocado nas nádegas, parte externa do braço, abdome inferior ou região superior do dorso, evitando as mamas. Basta pressionar o adesivo por cerca de 10 segundos. O primeiro adesivo é aplica do no primeiro dia do ciclo. Depois disso, o adesivo é trocado uma vez por semana, após a terceira semana é feita uma pausa, quando ocorrerá o sangramento e ao final da pausa um novo adesivo é colocado. Além disso, o contínuo, ou seja, sem pausas também pode ser utilizado. Ele fornece proteção contraceptiva mesmo após dois dias de atraso na substituição do adesivo. Em caso de descolamento do adesivo, basta recolocá-lo ou aplicar um novo. Nesses casos não há redução da eficácia. Como efeitos adversos, pode ocorrer dismenorreia, mastalgia e spotting. Contraceptivos Apenas de Progestogênio (COPs): Esses contraceptivos possuem como hormônio apenas a progesterona. Dentro desse grupo está a pílula de progesterona isolada, o injetável trimestral, o implante subdérmico e o SIU de levonorgestrel (discutido no tópico de dispositivos intrauterinos). As principais contraindicações desse método estão descritas no quadro abaixo. Pílula de Progesterona Isolada: Esses contraceptivos podem ser compostos por desogestrel, acetato de noretindrona e levonorgestrel. Minipílula: Os contraceptivos compostos por acetato de noretindrona e levonorgestrel são também conhecidos como minipílulas e podem ser utilizados em pacientes em aleitamento e na perimenopausa. Essas medicações promovem efeito contraceptivo através do espessamento do muco cervical e inibição da implantação do embrião no endométrio. Não possuem efeitos anovulatórios. Nesse caso, o uso de minipílulas é contínuo e devem ser prescritas no puerpério de mulheres que amamentam seis semanas após o parto. O seu uso deve ser rigoroso, pois após 27 horas da injesta do último comprimido já pode perder o seu efeito. Desogestrel: Esse contraceptivo é composto por 75 μg de desogestrel e tem a capacidade de inibir a ovulação, por isso, é mais eficaz que as minipílulas. Além disso, torna o muco cervical espesso, dificultando a ascensão dos espermatozoides. Também pode ser indicado durante a amamentação e tem a vantagem de poder ser tomado com atraso de até 12 horas, sem comprometer a sua eficácia. Injetável Trimestral: O contraceptivo injetável trimestral geralmente é utilizado em pacientes que possuem contraindicação ao uso de estrogênios. Ele bloqueia a ovulação através da inibição do LH, também levando à alteração nas características do muco e atrofia endometrial. Além disso, pode levar à amenorreia e redução da dismenorreia, TPM e câncer endometrial. Como efeitos adversos, pode estar presente o sangramento intermenstrual, edema, ganho de peso, acne, náuseas, mastalgia, cefaleia, alterações do humor e redução da densidade mineral óssea. É aplicado via intramuscular na nádega ou músculo deltoide a cada três meses. Implante Subdérmico: O implante subdérmico é composto contendo progestágenos como o etonogestrel (Implanon) e o levonorgestrel (Norplant). O primeiro tem duração de 3 anos, enquanto que o segundo dura até 5 anos. Esse dispositivo é implantado na parte subdérmica do antebraço, entre os músculos bíceps e tríceps. Para ser retirado, é preciso pequena incisão sob anestesia local. O implante de levonorgestrel atua inibindo a ação do LH, impedindo a ovulação. Além disso, leva à atrofia endometrial e alteração do muco cervical. Por não apresentar um componente estrogênico que estabiliza o endométrio, pode ocorrer como efeito adverso o spotting. Já o implante de levonorgestrel previne a gestação por meio da ação sobre o muco cervical que se torna impenetrável aos espermatozoides. Também está associado a cefaleia, mastalgia, acne e ganho de peso. Após a remoção do implante, o retorno à fertilidade é rápido, podendo variar em média de 1 a 18 semanas. O implante de etonogestrel tem uso seguro durante a amamentação. LARCS: A contracepção reversível de longa ação (long acting reversible contraceptives [LARC]) é representada pelos dispositivos intrauterinos e pelo implante contraceptivo. São métodos altamente eficazes, com ação contraceptiva igual ou superior a três anos. Os LARCs são superiores em termos de eficácia, propiciando taxas de gravidez de menos de 1% ao ano em uso perfeito e em uso típico. Existem a taxa de falha inerente ao método (com uso perfeito ou falha teórica) e a taxa de falha associada ao uso típico do método (uso na vida real). Por não dependerem da motivação da usuária para manter sua eficácia, os LARCs são mais eficazes e bem indicados a mulheres com fatores de risco de baixa adesão. Os LARCs independem da ação do médico ou da usuária para manter sua e cácia e apresentam as mais altas taxas de satisfação e continuidade de uso entre todos os contraceptivos reversíveis. Os LARCs disponíveis atualmente, no Brasil, são o implante subdérmico liberador de etonogestrel (ENG), dispositivos intrauterinos (DIUs) medicados com cobre (TCu380A) e sistemas intrauterinos liberadores de levonorgestrel (SIU-LNG). Anticoncepção e Menacme: Lactação: Aproximadamente 20% das mulheres que amamentam ovulam em torno do terceiro mês de pós-parto. A ovulação frequentemente precede a menstruação e essas mulheres correm risco de gravidez não planejada. Para as mulheres que amamentam de forma intermitente deve-se iniciar contracepção efetiva como se não estivessem amamentando. Além disso, a contracepção é essencial após a primeira menstruação, a não ser que se esteja planejando nova gravidez. Dosmétodos disponíveis, o dispositivo intrauterino de cobre em lactantes está na categoria 1 ou 2, ou seja, as vantagens consistentemente superam os riscos. Considerando que os contraceptivos orais contendo apenas progestogênio têm pouco efeito sobre a lactação, eles são preferidos por alguns para serem usados por até seis meses nas mulheres que estejam praticando aleitamento materno exclusivo. A contracepção apenas com progestogênio pode ser iniciada com seis semanas de pós-parto para aquelas que estejam praticando aleitamento materno exclusivo, ou com três semanas, caso o aleitamento não seja exclusivo. A contracepção com combinação de hormônios pode ser iniciada seis semanas após o nascimento, caso o aleitamento esteja bem estabelecido e o estado nutricional do lactente esteja sendo acompanhado. Também pode ser iniciada com quatro semanas de parto se a aderência ao acompanhamento previsto para o pós-parto for uma preocupação e se não houver risco de tromboembolismo venoso (TEV). As preocupações acerca do uso de contraceptivos orais durante aleitamento estão baseadas em possibilidades teóricas e biologicamente plausíveis – mas não comprovadas – de que os progestogênios sistêmicos interfeririam com a produção de leite. É importante ressaltar que os contraceptivos hormonais não parecem afetar a qualidade do leite materno. Quantidades mínimas dos hormônios são excretadas no leite materno, mas não há relatos de efeitos adversos nos lactentes. Adolescência: A função reprodutora estabelece-se muitos anos antes de haver compreensão psicossocial acerca das consequências da atividade sexual. Este desenvolvimento sexual precoce pode resultar em encontros sexuais intermitentes espontâneos com percepção ingênua sobre os riscos de gravidez e de doenças sexualmente transmissíveis. Além disso, as adolescentes do sexo feminino que não utilizam algum método contraceptivo no seu primeiro encontro sexual têm probabilidade dobrada de engravidar durante a adolescência em comparação com aquelas que de início usam contracepção. Assim, o aconselhamento sobre métodos contraceptivos deve idealmente ser realizado antes do início da atividade sexual. É possível prescrever contracepção sem necessidade de exame físico da pelve ou sem rastreamento para câncer do colo uterino. Perimenopausa: a perimenopausa, a ovulação se torna irregular e a fertilidade oscila. Entretanto, é possível haver gravidez e, em mulheres com idade ≥ 40 anos, mais de 33% das gestações não são intencionais. É importante ressaltar que a gravidez em idade materna avançada implica riscos aumentados de morbidade e mortalidade relacionadas com a gestação. As mulheres nesse grupo também podem apresentar problemas clínicos coexistentes capazes de contraindicar alguns métodos. Finalmente, os sintomas da perimenopausa podem estar presentes nesse grupo e talvez sejam aliviados com os métodos hormonais. Anticoncepção de Emergência: Segundo a Organização Mundial da Saúde e o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia (ACOG), AE é definida como um método que oferece às mulheres uma maneira não arriscada de prevenir gravidez não planejada até 120 horas da relação sexual. As opções atuais são seguras e bem toleradas. Entre os métodos hormonais, são indicados os que contêm etinilestradiol e LNG (método Yuzpe), LNG, acetato de ulipristal e, menos frequentemente, mifepristona ou uso de dispositivo intrauterino de cobre. No Brasil, os métodos liberados para uso de AE são os hormonais combinados e os com progestagênio isolado (LNG). Mecanismo de Ação: O mecanismo de ação dos métodos para a AE não foi ainda completamente elucidado. De modo geral, age impedindo ou atrasando a ovulação. Também altera os níveis hormonais, interferindo no desenvolvimento folicular, na maturação do corpo lúteo e inibindo a fertilização. O mecanismo preciso de ação do DIU de cobre é desconhecido, todavia os efeitos pré-fertilizantes são proeminentes, em que o cobre interfere no sêmen e no óvulo. Além disso, a presença de um corpo estranho induz resposta inflamatória crônica, levando à liberação de citocina e integrina, que causam efeito inibitório da implantação, mesmo que a fertilização ocorra. Esse mecanismo não é completamente compreendido e tais efeitos costumam ocorrer antes que o embrião se implante no útero. Eficácia: A administração de LNG previne cerca de dois terços das gestações, se for iniciada até 24 horas do ato sexual. Em revisão sistemática sobre a e cácia entre as diferentes pílulas usadas como AE, o método com LNG apresentou menos incidência de gestações (11 a 24 por mil mulheres) que o método de Yuzpe (29 por mil mulheres). A eficácia do AE diminui significativamente com o atraso na administração após relação sexual desprotegida. Indicações e Contraindicações: A AE deve ser indicada a mulheres após relação sexual desprotegida e em outras situações conforme exposto no quadro. Não há contraindicações médicas absolutas para o uso de AE. As usuárias devem ser informadas de que a utilização concomitante de fármacos indutores de enzimas CYP3A4 (como barbitúricos, carbamazepina, felbamato, griseofulvina, oxcarbazepina, fenitoína, rifampicina, erva- de-são-joão e topiramato) interfere, diminuindo sua eficácia. Evidências recentes indicam menos e cácia da AE em mulheres com sobrepeso (IMC entre 25 e 29,9 kg/m²) e, principalmente, nas obesas (IMC > 30 kg/m²). Recomendações atuais orientam que a AE deve continuar a ser indicada em mulheres de todos os pesos porque os beneficios superam os riscos. Efeitos Adversos: Os eventos adversos são relativamente leves e podem incluir náuseas, vômitos, cefaleia, tontura e alteração de sangramento. Aspectos Legais da Reprodução Feminina: Conforme a lei federal 9.263/96, o planejamento familiar é direito de todo o cidadão e se caracteriza pelo conjunto de ações de regulação da fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal. Em outras palavras, planejamento familiar é dar à família o direito de ter quantos filhos quiser, no momento que lhe for mais conveniente, com toda a assistência necessária para garantir isso integralmente. Para o exercício do direito ao planejamento familiar, devem ser oferecidos todos os métodos e técnicas de concepção e contracepção cientificamente aceitos e que não coloquem em risco a vida e a saúde das pessoas, garantindo a liberdade de opção. As áreas englobadas por ações preventivas e educativas, com garantia de acesso às informações, meios, métodos e técnicas disponíveis incluem o auxílio à concepção e contracepção, o atendimento pré- natal, a assistência ao parto, puerpério e ao neonato, o controle das doenças sexualmente transmissíveis e controle e prevenção do câncer de colo do útero, de mama e de pênis. A lei de planejamento familiar também estabelece as regras de esterilização cirúrgica. Somente podem submeter-se a ela: homens e mulheres com capacidade civil plena e maiores de vinte e cinco anos de idade ou, pelo menos, com dois filhos vivos, desde que observado o prazo mínimo de 60 dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico, período no qual será propiciado à pessoa interessada acesso a serviço de regulação da fecundidade, incluindo aconselhamento por equipe multidisciplinar, visando desencorajar a esterilização precoce. Ela também pode ser realizada quando uma nova gravidez pode trazer risco à vida ou à saúde da mulher ou do futuro concepto. Não pode ser realizada durante os períodos de parto ou aborto, exceto nos casos de comprovada necessidade, por sucessivas cesarianas anteriores (ex: ruptura uterina, + 5 partos cesarianos, etc, porém precisa de LAUDO ATESTANDO RISCO). As únicas formas aprovadas para esterilização são a laqueadura tubária e a vasectomia,não sendo permitida sua realização pela retirada do útero ou dos ovários. É importante lembrar que a esterilização cirúrgica é um método irreversível, mas que também pode apresentar falhas. A pessoa que realiza esse procedimento deve estar ciente desses termos e manifestar sua vontade por escrito após a informação a respeito dos riscos da cirurgia, possíveis efeitos colaterais, dificuldades de sua reversão e opções de contracepção reversíveis existentes. Referências Bibliográficas: • Tratado de Ginecologia / Manoel João Batista Castello Girão, Edmund Chada Baracat, Geraldo Rodrigues de Lima, editores associados Afonso Celso Pinto Nazário... [et al.]. – 1. ed. – Rio de Janeiro : Atheneu, 2017. a. Vol2. Seção 11. Cap 104 – Introdução ao planejamento familiar – páginas 1267 a 1271. b. Vol2. Seção 11. Cap 105 – Classificação dos métodos contraceptivos – páginas 1273 a 1276. c. Vol2. Seção 11. Cap 106 – Critérios de elegibilidade para uso dos métodos contraceptivos – páginas 1283 a 1285. • Joseph I. Schaffer, Barbara L. Hoffman, John O. Schorge. Ginecologia de Williams. 2ª. Edição, Editora Artmed, 2014. a. Capítulo – 5 - páginas 132 a 169 • FEBRASGO - Manual de Critérios Médicos de Elegibilidade da OMS para uso de Métodos Anticoncepcionais. Disponível em: https://www.febrasgo.org.br/images/arquivos/manuais/Manuais_ Novos/Manual-de-Criterios-Elegibilidade.pdf • Resumos da Med: https://www.febrasgo.org.br/images/arquivos/manuais/Manuais_%20Novos/Manual-de-Criterios-Elegibilidade.pdf https://www.febrasgo.org.br/images/arquivos/manuais/Manuais_%20Novos/Manual-de-Criterios-Elegibilidade.pdf
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