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O PROCESSO PENAL NOS CRIMES ECONÔMICOS - AULA 04

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SANDRA DOBJENSKI - CRIMINALISTA 
 
O PROCESSO PENAL NOS CRIMES ECONÔMICOS 
AULA 04 
 
 
 
 FUNDAMENTAÇÃO DAS DECISÕES JUDICIAIS 
Art. 3º CPP autoriza a utilização subsidiária do CC, desde que haja omissão e não 
haja conflito entre essas disposições . 
Art. 93, IX CR todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, 
e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a 
presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou 
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do 
interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; (Redação 
dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). Trata do sigilo, do direito do 
interesse público a informação. 
*Quando se fala em todos os julgamentos (decisões judiciais), não se quer dizer 
julgamentos colegiados ou sessões de julgamento, isso deve ser entendido como 
todas as decisões judiciais proferidas durante toda a tramitação de um processo, 
seja na parte investigativa ou na tramitação do processo penal propriamente dito, ou 
seja, da ação penal por conta de denúncia ou queixa crime ou após o trânsito em 
julgado durante a execução penal. 
*A motivação das decisões judiciais possui um viés duplo, ou seja, uma importância 
que não é somente para o processo, possui viés duplo tanto endo processual, 
possui uma função dentro do processo a qual dá conhecimento as partes o poder de 
decidir, o porque seus pedidos são negados ou aceitos, dá conhecimento dentro dos 
autos para as partes que estão litigando, mas também possui uma função extra 
processual, segundo viés que é trazido pela doutrina, de tamanha importância que 
muitas vezes não é levado em consideração quando se dá enfoque somente para o 
 
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endo processual, só para as razões de decidir de dentro do processo, para fora do 
processo a função de motivação das decisões judiciais é muito mais como controle 
da sociedade das decisões que estão sendo proferidas, ou seja, dar conhecimento a 
sociedade das razões pelas quais aqueles pedidos, aquelas causas estão sendo 
decididas daquela forma. Se não forem explicitadas as razões de decidir é difícil que 
as partes tenham conhecimento que possam eventualmente impugnar aquelas 
decisões. Por outro lado a questão do extraprocessual é de tamanha importância 
porque evita que a sociedade entre em descrédito, o poder judiciário entre em 
descrédito com a sociedade, ou seja, justifica para a sociedade as razões pelas 
quais as decisões foram tomadas daquela forma. 
*O relatório das decisões judiciais acaba tendo uma importância maior justamente 
para que nessa função extraprocessual as partes tomem conhecimento não só das 
decisões de decidir, mas que as analisem com base com base nas questões fáticas. 
(Aplicação de similaridades judiciais – somente se pode aplicar uma mesma 
fundamentação, uma mesma decisão judicial para situações de identidade 
fáticas semelhantes). 
*Havia uma previsão no Art. 15 CPC para que as disposições constantes no Código 
fossem aplicadas também, ao processo penal, essa parte da redação não veio a ser 
aprovada. 
*Lei 13.964/2019 lei anticrime trouxe parte dos precedentes judiciais de motivação 
para o processo penal. 
Anteriormente – Art. 489, § 1º CPC Não se considera fundamentada qualquer 
decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: (05 hipóteses em 
que as decisões judiciais não serão consideradas motivadas) 
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar 
sua relação com a causa ou a questão decidida; Redação semelhante ao que 
predispõem o Art. 315, § 2º Não se considera fundamentada qualquer decisão 
 
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judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: (Incluído pela Lei nº 
13.964, de 2019) 
I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar 
sua relação com a causa ou a questão decidida; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 
2019) a intenção do legislador processual civil e penal é evitar que as decisões 
sejam proferidas com a simples invocação ou transcrição de dispositivo legal 
sem que haja uma remissão, ou seja, uma análise do caso concreto e uma 
demonstração de como aquele dispositivo legal se enquadram para o caso 
concreto. Ex.: Não basta ao analisar uma quebra de sigilo telefônico ou fiscal 
que o juiz se limite a dizer que a quebra de sigilo fiscal ou telefônico estão 
previstos em lei conforme disposição do Art. X e transcrever o artigo é 
necessário uma análise dos fatos daquele caso concreto específico no qual a 
decisão está sendo tomada para evitar que as decisões sejam tão genéricas 
que possam ser utilizadas para outros casos quaisquer que sejam. Se a 
decisão apenas transcreve as leis ou artigos que autoriza a quebra de sigilo 
fiscal ou a quebra de sigilo telefônico e sustenta diante da previsão legal se 
defere, essa decisão poderia ser utilizada em qualquer processo que fossem 
feitos os pedidos em questão. Possibilidade de cabimento de recurso especial 
caso essa discussão não venha a ser acatada em recurso de apelação. 
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de 
sua incidência no caso; A visão do legislador é evitar que a questão endo 
processual ou mesmo a função extraprocessual sejam inviabilizadas, pois a 
partir do momento em que as razões não são expostas com relação a causa 
que está sendo discutida a possibilidade daquela decisão judicial para 
qualquer outro caso acaba sendo aumentada e é justamente isso que o Poder 
Judiciário deve evitar. Desrespeito à tutela individual do acusado. 
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; utilização 
da decisão judicial em quaisquer outros casos. 
 
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IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, 
infirmar a conclusão adotada pelo julgador; causa discussão doutrinária e 
jurisprudencial uma vez que foi fixada a tese de que não são necessárias a 
análise de todos os argumentos trazidos no processo, mas sim todos os 
argumentos necessários para a solução do caso concreto e que levou a 
conclusão. Não é necessária a análise de todos os argumentos mediante pena 
de ofensa a duração razoável do processo, que é uma garantia constitucional. 
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus 
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta 
àqueles fundamentos; seguir decisões judiciais anteriores. Para a interposição 
de recurso especial há uma regulamentação no regulamento do STJ com 
relação ao cotejo analítico. Quando há um conflito entre entendimentos dos 
tribunais que ensejaria o cabimento de recurso especial ou entre a decisão 
proferida e o entendimento do STJ e a interposição se baseia em dissídio 
jurisprudencial, nessas hipóteses há uma necessidade de se fazer um cotejo 
analítico do caso decidido do caso em que pretende que haja semelhança. 
Aquele que se apresenta como acórdão paradigma. (Análise do cotejo analítico 
= análise dos fatos, estes devem ser semelhantes, os fundamentos da decisão 
devem ser contrários e com a aplicação de um mesmo dispositivo legal). A 
aplicação de qualquer precedente judicial ou súmula nas decisões judiciais, ou 
seja, a utilização de uma decisão pretérita numa nova decisão ou utilizar o 
enunciado de súmula vinculante ou normal nas próximas decisões judiciais 
também depende do cotejo analítico, no sentido de que haja uma similitude 
entre o caso que foi decidido e que está sendo usado como precedente ou a 
similitude entre aquela súmula com o caso concreto sob pena de utilização de 
um precedente que não tenha relação com a causa. 
Súmula 7 STJ - A PRETENSÃO DE SIMPLES REEXAME DE PROVANÃO 
ENSEJA RECURSO ESPECIAL. Vedação de análise de reexame de fatos e 
 
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provas em sede de recurso especial extraordinário. Os casos que derão 
origem a utilização do enunciado de súmula não possuem nenhuma relação 
com o processo criminal. (revaloração das provas que é diferente do reexame 
das provas). O que o legislador pretende é abrir precedente, como já decidido 
pelo STJ é possível à prorrogação de prazo em caso de interceptação 
telefônica por mais de uma vez. Não será considerada como fundamentada se 
simplesmente for invocado sem fazer um ajuste e uma demonstração, um 
apontamento de como o caso em julgamento se ajusta aos fundamentos da 
decisão anterior. 
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado 
pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a 
superação do entendimento. Seguir decisões judiciais anteriores. Se alguma das 
partes, no caso criminal a acusação ou defesa invocarem o enunciado de 
súmula, alguma jurisprudência ou algum precedente ao afastamento da 
aplicação desse precedente somente pode acontecer com a demonstração de 
existência de uma distinção. Deve ocorrer a demonstração da distinção entre 
os casos. 
* As disposições do Art 489 do CPC foram transferidas para o CPP no Art. 315. Eles 
se preocupam não só com a carência total de motivação, mas também com a 
fundamentação deficiente, em que pese estar parcialmente fundamentada há 
ausência concreta de razões de decidir. 
*Ex.: Interceptação telefônica – enquanto há um pedido de interceptação telefônica 
como primeira análise judicial analisam-se os indícios de autoria e materialidade e a 
necessidade da realização daquela prova. A interceptação é deferida, há um pedido 
de prorrogação e neste consta somente a tese “defiro”, não há nenhuma 
fundamentação da decisão judicial uma vez que sequer remete ao pedido, seja 
representação policial ou ao pedido feito pelo MPF. O porquê de a prorrogação ter 
sido deferida é completamente desconhecida. Seja no viés endo processual ou 
 
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extraprocessual para controle da sociedade em relação a quebra de sigilo telefônico 
conforme consta na decisão. 
*Na lei anticrime houve um prestígio por parte do legislador em relação a 
fundamentação das decisões judiciais, de forma a evitar uma aplicação subsidiária 
do CPC. 
Art. 315 CPP. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será 
sempre motivada e fundamentada. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) 
preocupação com a aplicação das prisões. 
§ 1º Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de qualquer outra cautelar, 
o juiz deverá indicar concretamente a existência de fatos novos ou contemporâneos 
que justifiquem a aplicação da medida adotada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 
2019). 
 
 
 
Questão de outras decisões judiciais 
Art. 315, § 2º CPP Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja 
ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
I - limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar 
sua relação com a causa ou a questão decidida; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 
2019) 
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de 
sua incidência no caso; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; (Incluído 
pela Lei nº 13.964, de 2019) 
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, 
infirmar a conclusão adotada pelo julgador; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
 
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V - limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus 
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta 
àqueles fundamentos; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado 
pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a 
superação do entendimento. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
*Viés duplo = controle interno e externo de atividade do Poder Judiciário. 
DISCIPLINA DOS RECURSOS ESPECIAIS E EXTRAORDINÁRIOS 
 
 
No CPC se tinha a disciplina do RESE e do RESp pela lei 8.038/90 com a entrada 
do CPC em vigor em 2015 essas disposições foram revogadas da lei 8.038 que 
tinham aplicação tanto para o processo civil quanto para o processo penal, com 
algumas diferenciações feitas pelo STF, como por exemplo para o prazo para 
interposição do agravo de instrumento, para a subida desses recursos que tinham 
sido negados inicialmente, a partir da revogação da lei 8.038 esses dispositivos 
passam a ter sua aplicação feita pelo CPC. 
PRECEDENTES JUDICIAIS 
 
 
 
*O CPC foi além – previsão de um micro sistema de precedentes judiciais. 
Necessidade de estabilização da jurisprudência, para fazer com que o tribunal 
decida de maneira igual casos iguais, para que não haja divergência de 
entendimento entre a 1ª turma do STF, por exemplo, e a 2ª turma como acontece no 
caso da sustentação oral (Agravo regimental em HC) ou na discussão a cerca da 
ordem da apresentação das alegações finais. 
 
SANDRA DOBJENSKI - CRIMINALISTA 
 
*Aproximação da comom low com a civil low, em quanto na comom low há uma 
prevalência das decisões judiciais e uma utilização de decisões judiciais para casos 
subsequentes, ou seja, a utilização de decisões anteriores para justificar decisões 
posteriores, o que não significa que é imutável (codificar a legislação). Por outro lado 
no civil low família de direito romano que o Brasil é afiliado, há uma prevalência da 
legislação, sem afastar a importância das decisões judiciais para os casos 
subsequentes. (Brasil e Itália) (criação de tipos penais por decisões do STF – Ex.: 
criminalização da homofobia) (decisão dos órgão hierarquicamente superiores)

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