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Júlia Figueirêdo – DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS TRATAMENTO E PROGNÓSTICO NO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO: MEDIDAS DE MANEJO INICIAL: Dentre as medidas iniciais na abordagem a um paciente com suspeita de SCA estão o repouso monitorado por ECG, e a promoção, assim que possível, a terapia antitrombótica. De modo geral, todos os pacientes com IAM (salvo algumas contraindicações) devem ser submetidos a uma série de intervenções farmacológicas rápidas, descritas pelo mnemônico MONABICHE: Morfina (2 a 4mg IV): utilizada para o controle da dor anginosa, realizando também vasodilatação e a diminuição de valores de pré e pós-carga; Oxigênio (2 a 4 l/min em cateter nasal): tem como objetivo limitar a lesão isquêmica ao fornecer maiores volumes de O2 aos tecidos miocárdicos; Quadros de hipoxemia moderada podem ser abordados com fluxo em máscara, com 5 a 10 l/min. Nitratos: indicados devido a sua ação vasodilatadora, que também auxilia na redução da dor. Podem ser administrados como nitroglicerina (doses progressivas IV, a cada 5-10 min) ou dinidrato de isossorbida (5 mg, por via sublingual). Esses medicamentos não devem ser usados em caso de PAS < 90 mmHg, alterações de FC, ou em pacientes que tenham utilizado inibidores da fosfodiesterase nas últimas 24 a 48 horas. Ácido Acetilsalicílico (dose inicial de 200 mg VO): pode ser ofertado antes da realização do ECG, de forma a impedir a reoclusão coronariana por novos trombos, uma vez que inibe de forma irreversível a produção de tromboxano A2; Betabloqueadores: são utilizados com o propósito de reduzir a frequência cardíaca média, mantendo-a por volta de 60 bpm. É indicada apenas a pacientes estáveis, sendo mantida após a alta; IECA (captopril com dose inicial de 6,25mg, seguido por 12,5mg após 2 horas, 12/12h): é recomendado seu início logo após a conclusão da terapia de reperfusão miocárdica, assim que a PA for estabilizada. A dose deve ser aumentada progressivamente, com manutenção do tratamento por ao menos 5 anos. Clopidogrel (ataque de 300 mg, seguida por 75 mg/dia): antiagregante plaquetário, deve ser iniciado de forma precoce, com manutenção por 12 meses após fibrinólise ou angioplastia. Heparina (HNF 60 UI/kg IV como dose de ataque, seguida por infusão contínua a 12 UI/kg/hora por ao menos 48h): o uso desse anticoagulante visa a manutenção do TTPa em, no máximo 1,5-2 vezes do valor de referência. Com o uso de HNF, deve haver monitoramento criterioso de valores de plaquetas, hematócrito e hemoglobina. Estatinas de alta potência em dose máxima: a atorvastatina é indicada em quadros estáveis ainda nas primeiras 24 Uma importante contraindicação para o uso de nitrato ou morfina é o infarto de ventrículo direito, pois a vasodilatação pode levar ao choque cardiogênico Outras apresentações da heparina, como a enoxaparina (heparina de baixo peso molecular) e o fondaparinux, também podem ser utilizadas, normalmente por 8 dias ou até a alta hospitalar Júlia Figueirêdo – DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS horas após os sintomas, mantida de forma indefinida, com ajuste terapêutico depois de 30 dias. Estratégias iniciais de contenção para o IAM Salienta-se que essas propostas são gerais, sendo necessária a continuação terapêutica direcionada para a causa da isquemia (IAM com ou sem supra de ST, ou angina instável). ABORDAGENS ESPECÍFICAS NO IAMCSST: A terapia de reperfusão miocárdica é essencial em quadros de IAMCSST, devendo ser implementada em, no máximo, 12 horas após o início dos sintomas. Esse processo pode ser realizado tanto a partir de cateterismo percutâneo, como por meio farmacológico, com o uso de fibrinolíticos. A escolha de qual técnica aplicar será dependente do tempo porta-balão, ou seja, no intervalo gasto entre a chegada do paciente e o balonamento da artéria coronária. Sempre que isso puder ser feito em até 90 minutos, o tratamento de escolha é a angioplastia primária. Caso o hospital não apresente serviços de hemodinâmica, mas a transferência para uma unidade capacitada seja viável em até 120 minutos, a angioplastia também é recomendada. Quando é impossível atender a esses critérios em tempo hábil, a fibrinólise deve ser o tratamento de escolha, seguida pelo encaminhamento, caso necessário, para o cateterismo eletivo, em 3 a 24 horas. Protocolo terapêutico inicial para o IAMCSST CATETERISMO: A angioplastia se baseia na inserção arterial de um cateter até o ponto arterial acometido, onde será inserido um stent, malha de metal que impede a retração elástica do vaso. O acesso se dá pela artéria radial, priorizada em função de menor risco de sangramento e menor duração do procedimento, ou pela artéria femoral. O tratamento por angioplastia apresenta menores índices de AVC, reinfarto ou óbito, ao ser comparado com intervenções medicamentosas, sendo uma opção favorável inclusive após choque cardiogênico Júlia Figueirêdo – DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS Etapas da reperfusão percutânea Ainda é possível optar por stents farmacológicos, envoltos com drogas anti- proliferativas (impede o acúmulo de endotélio no interior do equipamento), ou convencionais, equivalentes em redução de mortalidade. Nota-se, portanto, que a escolha pela melhor alternativa deve ser individualizada, em função da previsão do prognóstico do paciente. Comparação entre o fluxo da artéria coronária direita antes (dir.) e depois (esq.) da reperfusão por cateterismo TERAPIA FIBRINOLÍTICA: O tempo ideal para iniciar a fibrinólise, no iAMCSST, é de até 30 minutos, sendo que a margem “máxima” para os benefícios dessa terapia é de 2 horas. Isso se dá em decorrência da conclusão da organização do trombo, minimizando a capacidade de ação medicamentosa. Os medicamentos que podem ser empregados nessa etapa do tratamento são: Estreptoquinase-SK (1,5 milhões de UI entre 30 e 60 minutos): atualmente é pouco utilizada, pois apresenta ação inespecífica, levando a efeitos colaterais como urticária e hipotensão; Alteplase-tPA (15 mg em bolus, seguidas por 0,75 mg/kg após30 minutos e 0,5 mg/kg após 1 hora); Tenecteplase-TNK (dose única de 0,5 mg/kg em bolus); Como são fibrinoespecíficos, considera-se ideal o uso de tPA ou TNK. Observa-se, no entanto, que existem contraindicações a esse tipo de tratamento, representadas por: Contraindicações absolutas: o Hemorragia cerebral prévia; o Lesão vascular cerebral conhecida; o Neoplasias intracranianas; o AVC isquêmico há menos de 3 meses; o Sangramento ativo intenso; o Suspeita de dissecção de aorta; o Doenças de coagulação; o Condições que reduzam a expectativa de vida (ex.: sepse). Contraindicações relativas: o Histórico de hipertensão grave ou não controlada; o Manutenção de PA elevada após o controle da dor; O uso de dilatadores com medicamentos reduz a necessidade de intervenções posteriores, porém aumenta o risco de trombose o que não acontece para a alternativa tradicional Júlia Figueirêdo – DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS o Uso de cumarínicos para anticoagulação; o AVC isquêmico com mais de 3 meses; o Traumas ou cirurgias de grande porte nas últimas 3 semanas; o RCP prolongada (> 10 min); o Úlcera péptica ativa; o Hemorragia interna há 2 ou 4 semanas. Após a implementação desse tratamento, é necessário manter o paciente sob observação atenta, em busca de critérios de reperfusão, que surgem depois de 60 a 90 minutos. Se presentes, inicia-se a estratégia farmacoinvasiva com cateterismo em menor urgência. Esses parâmetros são a redução de 30 a 50% do supra de ST (com base na derivação mais alterada)e a melhora clínica da dor. O ritmo idioventricular acelerado (RIVA) é um achado frequente, com QRS largo e frequência cardíaca < 100 bpm, sugerindo sucesso da fibrinólise. ECG sugestivo de RIVA TERAPIAS AUXILIARES: Além da reperfusão inicial, alguns medicamentos podem ser usados com a finalidade de dilatar ou evitar a oclusão das artérias, mantidos por durações distintas, a saber: AAS: deve ser continuado por toda a vida do indivíduo, em dose de manutenção de 75-100 mg/dia. As únicas restrições são a úlcera gástrica ativa e a presença de hipersensibilidade; Inibidores do receptor de P2Y12: o clopidogrel é mantido por um ano, em combinação ao AAS. A dose inicial varia com o tratamento inicial, com manutenção geral a 75 mg; Idosos (> 75 anos) não devem ser submetidos a doses de ataque. Anticoagulantes: tem como função a prevenção do surgimento de novos trombos, representados principalmente pela enoxaparina, em doses maiores após a fibrinólise. Esses medicamentos devem ser usados por até 8 dias ou até a alta; A heparina não fracionada também pode ser empregada, porém por no máximo 48 horas. Betabloqueadores: o uso de carvedilol ou succinato de metoprolol possui benefícios a médio e longo prazo, justificando o início em 24 horas, exceto aos pacientes que sofreram choque cardiogênico, IC descompensada ou bradiarritmias; IECA ou BRA: têm indicação limitada a pacientes com fração de ejeção ventricular baixa, diabéticos e hipertensos; Atorvastatina/Rosuvastatina: as estatinas de alta potência podem ajudar Caso a fibrinólise não seja bem-sucedida, ela NÃO DEVE ser repetida, devido ao risco elevado de sangramentos. O próximo passo é a angioplastia de resgate Ticagrelor e Prasugrel também podem ser usados, porém APENAS após o cateterismo primário Júlia Figueirêdo – DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS a estabilizar placas de ateroma, minimizando o risco de novos infartos. A meta terapêutica é manter o LDL < 50 mg/dL. PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES PÓS-INFARTO: Os desfechos secundários ao infarto podem ser divididos em mecânicos, funcionais ou elétricos, acometendo, respectivamente, a estrutura cardíaca, sua fisiologia e o ritmo de condução. Complicações mais associadas ao infarto agudo do miocárdio As primeiras são mais comuns no IAMCSST, sendo acompanhadas por choque cardiogênico decorrente da baixa perfusão. Os principais fatores de risco para essa situação são o pico acentuado de troponina e a escassez de circulação colateral. Os infartos de parede anterior normalmente se relacionam ao desenvolvimento de comunicação interventricular e rotura de parede livre, ao passo que, em acometimentos inferiores, o risco é maior para insuficiência mitral. ROTURA DE PAREDE LIVRE: Esse quadro é marcado por tamponamento cardíaco, resultante do acúmulo de sangue no pericárdio, surgindo geralmente entre o 3º e o 5º dia pós-IAM. Com a perpetuação desse “escape”, há diminuição do débito cardíaco, que apresenta severidade ainda maior em casos de rotura total. Principais apresentações da rotura de parede livre Os achados típicos são os mesmos da tríade de Beck (estase de jugular, bulhas abafadas e choque), além de pulso paradoxal, com variação do pulso > 10 mmHg entre a inspiração e expiração. A evolução dessa condição leva à atividade elétrica sem pulso, que pode causar morte súbita. Caso o rompimento seja incompleto, há dor pleurítica semelhante à da pericardite, além das manifestações do choque. O padrão terapêutico consiste no reparo cirúrgico da lesão, evitando reincidência do sangramento. Quando necessário, pode ser feita pericardiocentese, aliviando a pressão ao coração. COMUNICAÇÃO INTERVENTRICULAR: Esse tipo de alteração é resultado do comprometimento vascular do septo interventricular, associado à isquemia das artérias descendente anterior e posterior. O quadro clínico dessa complicação é caracterizado por instabilidade hemodinâmica (induzindo choque), congestão sistêmica e presença de sopro holossistólico podendo ser auscultado em todos os focos, preferencialmente apicais. O diagnóstico da rotura se baseia em alterações ecocardiográficas Júlia Figueirêdo – DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS Ao ecocardiograma, há presença de sinais de sobrecarga ventricular direita, marcando o diagnóstico. O tratamento cursa com vasodilatadores, inotrópicos (maior bombeamento) e diuréticos (redução da volemia), com o intuito de reduzir a pressão aórtica, direcionando o fluxo sanguíneo para essa região. Nota-se, no entanto, que essas medidas são paliativas, usadas para ganhar tempo até a resolução definitiva, cirúrgica. Dinâmica de alteração circulatória om a comunicação interventricular INSUFICIÊNCIA MITRAL AGUDA: A insuficiência da valva mitral é decorrente da ruptura dos músculos papilares ou das cordas tendíneas, ocorrendo principalmente após 2 a 7 dias da isquemia miocárdica. É importante destacar que os dois ramos musculares são irrigados pelas artérias descendente anterior e circunflexa, favorecendo a ocorrência desse desfecho no infarto de parede inferior. Os pacientes costumam cursar com hipotensão, edema agudo de pulmão (por excesso de pressão no átrio esquerdo) e com sopro holossistólico mitral regurgitativo, geralmente de baixa intensidade. O diagnóstico também é diagnosticado pelo ecocardiograma e pelo Doppler, capazes de identificar a frouxidão e o refluxo valvar. O tratamento, por fim, se vale dos mesmos mecanismos e medicamentos usados para a comunicação interventricular, complementado pela instalação de um balão intra-aórtico, que irá corrigir a perfusão coronariana com a insuflação diastólica. Novamente, essas medidas são paliativas, devendo ser seguidas pela troca valvar, quando o músculo é inviável, ou pela valvoplastia mitral, quando este está preservado. Na valvoplastia mitral, um balão é usado para aumentar a patência da valva
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