Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 1. CORRELACIONAR A ANATOMIA E IRRIGAÇÃO CORONARIANA COM O ECG. ARTÉRIAS CORONÁRIAS: As artérias coronárias direita e esquerda se ramificam da parte ascendente da aorta e fornecem sangue oxigenado para o miocárdio. O tronco da coronária esquerda se divide em ramos interventricular anterior e circunflexo. O ramo circunflexo distribui sangue oxigenado para as paredes do ventrículo esquerdo e átrio esquerdo. O ramo interventricular anterior ou descendente anterior fornece sangue oxigenado as paredes de ambos os ventrículos. A artéria coronariana direita se divide em ramos interventricular posterior e marginal direito. O ramo interventricular posterior irriga as paredes dos dois ventrículos. O ramo marginal posterior transporta sangue oxigenado a parede do ventrículo direito. Ramo nodal: irriga o nó sinusal. Portanto a obstrução dessa artéria pode causar arritmia. O miocárdio contém muitas anastomoses que conectam ramos de uma determinada artéria coronária ou se estendem entre os ramos de diferentes artérias coronárias. Elas fornecem desvios para o sangue arterial se uma via principal estiver obstruída. VEIAS CORONÁRIAS A maior parte do sangue venoso do miocárdio drena para um grande seio vascular no sulco coronário na face posterior do coração, chamado seio coronário. O sangue venoso do seio coronário drena para o átrio direito. As principais tributárias que transportam sangue para o seio coronário são: Veia cardíaca magna no sulco interventricular anterior, que drena as SP1: Essa dor vai me matar? 2 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 áreas do coração irrigadas pela artéria coronária esquerda (ventrículos esquerdo e direito e átrio esquerdo) Veia interventricular posterior no sulco interventricular posterior, que drena as áreas irrigadas pelo ramo interventricular posterior da artéria coronária direita (ventrículos esquerdo e direito) Veia cardíaca parva no sulco coronário, que drena o átrio direito e o ventrículo direito INFARTO DE VENTRÍCULO DIREITO O ventrículo direito é irrigado pela coronária direita, que também nutre a parede inferior na maioria dos indivíduos. Portanto o infarto de VD vem associado ao IAM de parede inferior, ocorrendo em até 50% dos casos deste último; Suspeita-se do infarto de VD quando há supra de ST em V1, mas não em V2, em um paciente com diagnóstico eletrocardiográfico de IAM de parede inferior. A confirmação é feita pela presença do supra de ST nas precordiais direitas (R = Right), especialmente V3R e V4R. Na prática médica, é bom seguir a seguinte regra: todo paciente com IAM de parede inferior deve ser avaliado para presença do infarto de VD (V3R e V4R), mesmo na ausência de sintomas sugestivos e na ausência de supra de ST em V1. O infarto de VD contraindica os nitratos, a morfina e os diuréticos! 2. DEFINIR E CLASSIFICAR SCA, EPIDEMIOLOGIA, FATORES DE RISCO, FISIOPATOLOGIA, DIAGNOSTICO E TRATAMENTO DA SCA. Atualmente, as síndromes coronarianas são divididas em dois grandes grupos: 1. Doença Arterial Crônica (DAC): manifesta-se com angina estável; 2. Síndrome Coronariana Aguda (SCA): ainda é subdividida de acordo com seu comportamento eletrocardiográfico em: (I) síndrome coronariana aguda sem supra de ST, que apresenta dois espectros de manifestação: angina instável e IAM sem supra; (II) síndrome coronariana aguda com supra de ST. Síndrome Coronariana Aguda (SCA) é um termo genérico que indica um surto de isquemia miocárdica (angina instável, IAM sem supra de ST ou IAM com supra de ST), apresentando-se normalmente como dor torácica anginosa aguda ou um equivalente anginoso. SCA SEM SUPRA DE ST A dor torácica na angina INSTÁVEL tem com características; Surgimento em repouso (ou aos mínimos esforços); Duração prolongada (> 10-20min); Caráter mais intenso (descrito como “dor” propriamente dita); Início recente (em geral nas últimas 4-6 semanas); Padrão em crescendo (dor progressivamente mais intensa, frequente e duradoura do que antes – ex.: a dor passa a despertar o paciente do sono). Os pacientes que não apresentam elevação persistente (>20 minutos) do segmento ST em duas ou mais derivações contíguas, mas tem Marcadores de Necrose miocárdica positivos (ou seja, a isquemia foi mais intensa a ponto de acarretar focos de morte celular) são classificados como tendo IAMSSST. Enquanto que naqueles sem elevação dos marcadores são classificados como Angina Instável; Em termos fisiopatológicos, a ausência de supra de ST indica que o lúmen coronariano não foi totalmente ocluído (trombo vermelho - fbrina), mas existe uma oclusão subtotal (trombo branco - plaquetas) que pode progredir. EPIDEMIOLOGIA A doença isquêmica do coração permanece a primeira causa de mortalidade; Nos Estados Unidos, três tendências recentes têm mudado a frequência de distribuição dos tipos de SCA: (1) o uso mais amplo de terapêuticas de prevenção primária (AAS, estatinas, cessação de tabagismo) parece ter resultado em menos casos de IAMSST;4 (2) o envelhecimento da população dos Estados Unidos, com taxas mais elevadas de diabetes e doença renal crônica (DRC), tem aumentado a incidência de SCASSST;5 (3) o uso de ensaios mais sensíveis para a avaliação de necrose miocárdica (p. ex., troponina cardíaca) modificou a classificação de AI para IAMSSST5 FISIOPATOLOGIA A patogênese da SCASSST envolve alguns processos: 1. ATEROTROMBOSE (principal): lesão na placa de ateroma (erosão ou fissura não profunda) com formação de trombo 3 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 suboclusivo de plaquetas (trombo branco); 2. ATEROSCLEROSE ACELERADA: aumento rapidamente progressivo no volume da placa, sem ruptura. 3. REESTENOSE PÓS-ANGIOPLASTIA: Lesão da placa pelo procedimento, com estimulo pró-trombótico insatisfatoriamente contrabalanceado pelas medicações (antiplaquetários e anticoagulantes); 4. OBSTRUÇÃO DINÂMICA: graus variáveis de espasmo, tanto em coronária epicárdica quanto em arteríolas musculares intramurais. Decorre da disfunção endoletial (perda de fatores vasodilatadores) e/ou ação de vasoconstrictores. 5. INFLAMAÇÃO: edema na parede coronariana (vasculite) reduzindo o fluxo sanguíneo. 6. ANGINA SECUNDÁRIA: Isquemia por aumento do MVO2 e/ou redução no aporte de 02. Ex: taquicardia, tireotoxicose, febre, anemia, hipotensão, hiooxia. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de SCA é fundamentalmente clínico, baseado na anamnese e exame físico, com o auxílio de ECG e curvas de MNM. As características da precordialgia devem ser pesquisadas em todo paciente: caráter, Localização, Intensidade, “Nitrato” (fatores que melhoram ou pioram a dor), Irradiação, Curso no tempo e Associados (ex.: sudorese? dispneia? hipotensão?). A partir dessas informações, podemos classificar a dor torácica em 4 tipos: O exame físico na maioria das vezes é normal na SCA. No entanto, na vigência de sinais de falência do ventrículo esquerdo (ex: B3, congestão pulmonar, hipotensão, palidez e sudorese fria) temos dados que corroboram o diagnóstico. ECG Pode se apresentar normal ou apenas com alterações previas, ou então revelar anormalidades de isquemia aguda espontânea, eventualmente de caráter flutuante. São elas: Onda T simétrica e apiculada, com o segmento ST retificado; Inversão da onda T >2mm Pseudonormalização da onda T; Infradesnivelamento do segmento ST >0,5mm. A regra é: qualquer alteração dinâmica (nova ou presumivelmente nova) da onda T e do segmento ST significa isquemia miocárdica espontânea, até que se prove o contrário. Outro ponto importante: se o ECG for inicialmente "não diagnóstico" e os sintomas persistirem, recomenda-se repetiro exame com acréscimo das derivações V3R, V4R, V7, V8 e V9, a fim de aumentar a sensibilidade do método para flagrar eventuais sinais isquêmicos decorrentes de doença na coronária direita e/ou artéria circunflexa. MARCADORES DE NECROSE MIOCÁRDICA Todo paciente com SCA sem supra de ST deve ser avaliado com uma curva dos marcadores de lesão miocárdica, dosando-se preferencialmente 4 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 troponina US (ultrassensível) na admissão e dentro de 1-2h do início dos sintomas. Nenhum outro MNM precisa ser dosado neste cenário.... Caso a troponina US não esteja disponível, a troponina convencional deverá ser dosada na admissão e repetida 3-6h após. A dosagem de CK-MB massa só deve ser utilizada se não houver possibilidade de dosar troponina. CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA Esta é a classificação clínica de Braunwald para AI/IAMSST, e possui correlação direta com o prognóstico! Vale citar que a circunstância clínica de pior prognóstico é a angina pós-infarto... ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO Uma vez diagnosticada a SCA sem supra de ST, torna-se prioritário determinar se o risco do paciente é alto, médio ou baixo. O termo “risco” refere-se à probabilidade em curto prazo de óbito ou eventos cardíacos maiores, como o IAM. Pacientes de médio/alto risco se beneficiam de internação em unidade coronariana, com realização de tratamento “agressivo” e estratégia invasiva precoce (coronariografia e revascularização, que pode ser angioplastia ou cirurgia). Já os pacientes de baixo risco alcançam os mesmos resultados com uma estratégia “conservadora” ou “invasiva” ESCORE HEART O escore HEART demonstrou maior habilidade em distinguir pacientes de baixo risco para eventos cardíacos maiores (alto valor preditivo negativo), comparado a escores mais tradicionais; Um escore HEART ≤ 3, associado à troponina negativa + ECG sem alteração isquêmica + ausência de antecedentes de DAC ou outro diagnóstico alternativo com risco iminente de morte permite a alta segura do serviço de emergência para reavaliação ambulatorial. 5 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 ESCORE TIMI RISK Aqui contabilizaremos sete fatores de risco independentes, cada um valendo um ponto. Seu somatório possibilita a estratificação do paciente. O uso prévio de AAS é um fator de risco de pior prognostico, pois num paciente que está em uso de AAS e ainda assim desenvolve SCA, significa que a lesão coronariana subjacente evoluiu com instabilidade a despeito do tratamento, o que quer dizer que ela é mais grave. EXAMES ADICIONAIS NA ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO 1. ECO TRANSTORÁCICO: deve ser feito de rotina em todos os pacientes. Pode revelar a existência de segmentos miocárdicos discinéticos durante o episódio de angina. Avalia a função ventricular, que quando reduzida confere pior prognostico. E ainda ajuda no diagnóstico diferencial com doenças de aorta, pericárdio e circulação pulmonar. 2. TESTE DE ESFORÇO: realizado nos pacientes considerados de baixo risco, que permanecem sem angina e sem evidencias de isquemia. Deve ser realizado após 9-12h de estabilidade. 3. ECO-STRESS COM DOBUTAMINA OU CINTILOGRADIA MIOCÁRDICA: são alternativas para os pacientes em que não se pode realizar o eletro de esforço (ex.: incapacidade física para deambulação; alterações crônicas no ECG, como BRE de 3º grau antigo). 4. ANGIO TC DE CORONÁRIAS: pacientes de risco baixo e intermediário podem ser submetidos a uma angio-TC de coronárias na sala de emergência se o ECG for inconclusivo e os MNM negativos. Tal exame permite o chamado "descarte triplo", isto é, além de avaliar as artérias coronárias para a presença ou não de obstrução, avalia também se há ou não tromboembolismo pulmonar e/ou síndromes aórticas agudas como possíveis causas graves para a dor torácica. TRATAMENTO Caracterizada a síndrome coronariana aguda sem supra de ST, subentende-se a ausência de uma oclusão total do vaso coronariano e o objetivo principal é estabilizar de imediato o trombo coronariano suboclusivo na “artéria culpada”. Isso evitaria a evolução para um trombo oclusivo e estabilizaria as demais placas coronarianas instáveis porventura presentes. Para isso, utiliza-se inicialmente com a terapia medicamentosa e faz-se a avaliação para a necessidade de reperfusão precoce. 1. Estratégia invasiva imediata (arteriografia e revascularização dentro de 2h) – instabilidade hemodinâmica (choque, IVE) ou instabilidade elétrica (TV OU FV); paciente irresponsivo (angina 6 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 refratária), complicações mecânicas (regurgitação mitral nova). 2. Estratégia invasiva precoce (arteriografia e revascularização dentro de 24h) – pacientes que não estejam incluídos nas cinco condições anteriores e um dos seguintes: com escore GRACE > 140, alteração da troponina e infra de ST novo ou presumidamente novo. 3. Estratégia invasiva ou estratégia invasiva retardada (arteriografia e revascularização dentro de 25-72h) – pacientes que não estejam incluídos nas condições anteriores e um dos seguintes: com escore GRACE 109-140, TIMI ≥ 2, diabetes mellitus, insuficiência renal (TFG < 60 ml/min/1,73 m²), FE < 40%, angina pós-infarto, angioplastia nos últimos seis meses, revascularização miocárdica prévia. 4. Estratégia conservadora – indicada aos pacientes de baixo risco (ou com dúvidas sobre a origem dos sintomas), inclui intensificação da terapia medicamentosa com realização de teste de estresse pré-alta ou, atualmente, angio-TC de coronárias. A avaliação invasiva por cateterismo cardíaco seria necessária apenas naqueles que tenham sintomas importantes ou evidências de isquemia. Pacientes portadores de comorbidades muito graves (ex.: neoplasia avançada) também poderiam ser encaixados nesse grupo, assim como aqueles que optem pela abordagem conservadora quando devidamente orientados. TERAPIA MEDICAMENTOSA 1. ANTIPLAQUETÁRIOS Todos os pacientes com síndrome coronariana aguda, logo após a admissão, devem receber AAS (mastigar e engolir 160-325 mg). Associado ao AAS, em terapia dupla antiplaquetária, devemos incluir um antagonista do ADP (inibidores do receptor P2Y12 – clopidogrel, prasugrel ou ticagrelor). O clopidogrel deve ser dado a todos os pacientes de médio/alto risco, com uma dose de ataque de 300mg VO, seguido de 75mg/dia de manutenção. Em pacientes indicados para a estratégia invasiva imediata ou precoce, deve-se aguardar a realização de coronariografia para ministrar o clopidrogrel. O prasugrel se mostrou superior ao clopidrogrel. A dose é de 60mg de ataque e 10mg/dia de manutenção. Está contraindicado em pacientes com história de AVC. O ticagrelor é superior ao clopidogrel. Pode ser suspenso 48-72h antes da revascularização. A dose de ataque é de 180mg e manutenção de 90mg/2x ao dia. 2. ANTICOAGULANTES A anticoagulação deve ser iniciada logo após a admissão junto com a terapia antiplaquetária e é utilizada normalmente por 2-5 dias (terapia conservadora) ou até a realização da angioplastia (interrupção após o procedimento) ou 6-8h antes da cirurgia. A enoxaparina – uma Heparina de Baixo Peso Molecular (HBPM) – atualmente é o anticoagulante de escolha no tratamento da SCA sem supra de ST, exceto se houver previsão de CRVM nas próximas 24h, quando então a Heparina Não Fracionada (HNF) deve ser escolhida. Outras situações onde a HNF é preferível à HBPM são: (1) disfunção renal grave (clearance de creatinina < 15 ml/min); e (2) obesos com peso > 150 kg. 3. NITRATOS Os nitratos são excelentes fármacos antianginosos, sendo indicados apenas nos pacientes que estão 7 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 com angina no momentodo atendimento, crise hipertensiva ou sinais ou sintomas de insuficiência cardíaca. A utilização inicial se dá pela via sublingual, a cada cinco minutos, por três vezes. A persistência dos sintomas indica a utilização de nitroglicerina IV (Tridi®). As principais contraindicações são: infarto de VD, uso de sildenafila e derivados nas últimas 48 horas, hipotensão arterial, FC < 50 bpm ou > 100 bpm. 4. BETABLOQUEADORES Os betabloqueadores, na ausência de contraindicações, devem ser administrados nas primeiras 24h por via oral (maior risco de choque pela via IV). 5. ANTAGONISTAS DOS CANAIS DE CALCIO São drogas de terceira linha no combate à dor anginosa (isto é, são reservados aos casos refratários a nitratos e BB), ou como alternativa nos pacientes que apresentam contraindicações aos BB. Vale lembrar que os ACC preferencialmente utilizados nas SCA são o diltiazem e o verapamil 6. MORFINA Reservada aos pacientes que permanecem sintomáticos após nitratos e BB/ACC, bem como aqueles que evoluem com edema agudo de pulmão (a morfina tem propriedades venodilatadoras, reduzindo a pré-carga e a congestão pulmonar) As estatinas também são benéficas na SCA sem supra de ST, pelo seu efeito estabilizador de placa em longo prazo e estão indicadas para todos os pacientes com SCA, em altas doses (atorvastatina 80 mg/dia). Outra droga praticamente obrigatória dentro das primeiras 24h é o IECA (mas não tão precoce quanto a aspirina, pois o paciente deve ter estabilidade hemodinâmica). Eles estão indicados rotineiramente nos diabéticos, hipertensos, nefropatas ou com disfunção de VE (FE < 40%). Uma vez iniciados, tanto o IECA quanto a estatina devem ser mantidos indefinidamente. IAM COM SUPRA DE ST O IAMST está associado a oclusão total de uma artéria coronária. A principal causa dessa oclusão é a aterotrombose, ou seja, a formação de um trombo sobre a placa de ateroma que sofreu ruptura. Nesses casos as rupturas são mais profundas, com maior exposição dos conteúdos fibrinogenicos, originando os trombos vermelhos (coágulos de fibrina). A chance de ruptura depende dos determinantes de vulnerabilidade da placa, que são basicamente o grau de inflamação intraplaca, a magnitude do seu conteúdo lipídico e a espessura da capa de colágeno. A principal consequência da cascata isquêmica é o déficit contrátil segmentar na forma de acinesia ou discinesia. Ambas são consideradas evidencias de isquemia transmural - de toda parede miocárdica. Se a área isquêmica for significativa (>20-25% do VE) instala-se um quadro de insuficiência ventricular esquerda, que pode evoluir para edema agudo de pulmão. Se houver isquemia em >40% do miocárdio é grande o risco de choque cardiogênico. EPIDEMIOLOGIA O Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) é uma das maiores causas de morte no Brasil e no mundo. A taxa de mortalidade geral (extra e intra- hospitalar) ainda é alta, por volta de 30%. É importante reconhecer que cerca de METADE desses óbitos (40-65%) ocorre na primeira hora após o início do evento (sendo a maioria por fibrilação ventricular), geralmente antes de qualquer atendimento médico.. QUADRO CLÍNICO Dor torácica anginosa (precordialgia constritiva), tipicamente de forte intensidade, longa duração (> 20min), e que não se resolve por completo com repouso ou nitrato sublingual. A dor pode-se irradiar para o epigástrio, dorso, membros 8 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 superiores (principalmente o esquerdo) e pescoço ou mandíbula. Idosos, mulheres, diabéticas, portadores de DRC e transplantados podem se apresentar com os equivalentes anginosos como epigastralgia, náuseas, diaforese, sincope. Cerca de 40-60% dos pacientes refere um fator desencadeante, tal como estresse físico ou emocional, ou mesmo uma longa refeição. Na maioria dos IAM o exame físico é pouco informativo. Os principais achados durante a fase aguda são: taquicardia sinusal (IAM anterior extenso), bradicardia sinusal (IAM inferior), hipertensão arterial e surgimento da 4º bulha. DIAGNÓSTICO Aumento e/ou queda dos marcadores de necrose miocárdica, na presença de pelo menos um dos abaixo: Sintomas de isquemia miocárdica; Desenvolvimento de onda Q patológica no ECG; Desnivelamento de ST (supra ou infra) ou BRE de 3º grau novo ou supostamente novo; Imagem “nova” compatível com perda de miocárdio viável (ex.: acinesia/discinesia segmentar) 1. ELETROCARDIOGRAMA Em todo paciente suspeito, deve ser obtido e interpretado em menos de 10 minutos. Em todo paciente com ECG normal que continua sintomático, repetir a cada 5-10minutos. Critérios eletrocardiográficos: Elevação nova do ST no ponto J, em pelo menos duas derivações contíguas, ≥ 1 mm (0,1 mV), em todas as derivações (exceto V2-V3). Em V2-V3: elevação do ST ≥ 2 mm em homens com mais de 40 anos; ≥ 2,5 mm em homens com menos de 40 anos ou ≥ 1,5 mm em mulheres. As alterações eletrocardiográficas do IAM com supra de ST possuem uma evolução característica, passando por três fases: 1. Fase hiperaguda; 2. Fase subaguda; e 3. Fase crônica (infarto antigo). Fase hiperaguda (poucas horas): supra de ST proeminente com onda T positiva promovendo um formato retificado ou côncavo do ST-T. A onda Q patológica de inatividade elétrica ainda não apareceu, Fase subaguda (após as primeiras horas até quatro semanas): a onda T começa a se negativar, modificando o segmento ST que passa a ter o formato de abobada (convexo). Surge a onda Q patológica, indicando inatividade elétrica transmural. Fase crônica (após 2-6 semanas): o supra de ST desaparece permanecendo a onda Q patológica que marca a sequela do infarto. Obs: Para fins práticos, recomenda-se interpretar um BRE de 3º grau novo ou supostamente novo, no paciente sintomático, como uma evidência de oclusão coronariana total (equivalente ao “supra de ST”). 2. MARCADORES DE NECROSE MIOCÁRDICA O papel dos marcadores de necrose no IAM com supra de ST pode ser: 1) Corroborar o diagnóstico nos casos duvidosos (ex.: supra de ST discreto, bloqueio de ramo ou hipertrofia ventricular no ECG, quadro clínico muito atípico, IAM pós-angioplastia); 2) Ajudar na determinação do prognóstico (a letalidade do IAM é proporcional ao tamanho da área sob a curva; um pico precoce, antes de 12h, é um dos critérios de reperfusão miocárdica); e 3) Fundamental para o diagnóstico do reinfarto precoce. MAS ATENÇÃO: um erro primário, basal, é esperar o resultado dos marcadores para determinar a conduta!!! A conduta se define pelo ECG. Por ser mais sensível e especifica, a troponina é o marcador de escolha. Os valores utilizados como 9 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 referência dependerão do tipo de ensaio realizado e são considerados anormais aqueles acima do percentil 99. 3. ECOCARDIOGRAMA O melhor exame para localizar e identificar a extensão do infarto. Ele fornece detalhes sobre a função dos segmentos miocárdicos, localizando o IAM nas regiões que apresentam déficit contrátil (acinesia ou discinesia). São considerados de alto risco pacientes com FE <35%. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO TRATAMENTO Uma vez presente o supra de ST, começa a nossa abordagem especifica. Os objetivos do tratamento inicial são o alívio da dor, a estabilização hemodinâmica e a redução da isquemia miocárdica. Nesse momento, uma terapia medicamentosa anti-isquêmica e antitrombótica semelhante à que já tratamos na SCA sem supra de ST deve ser instituída. No entanto, o passo mais importante e decisivo é a terapia de reperfusão miocárdica (recanalização da coronária ocluída)! TERAPIA DE REPERFUSÃO MIOCÁRDICA Indicações de Reperfusão: 1. Sintomas compatíveis com IAM (de preferência dor torácica aguda). 2. Delta-T deaté 12h (tempo decorrido desde o início dos sintomas). 3. Supra de ST em duas ou mais derivações consecutivas ou bloqueio de ramo novo ou presumivelmente novo. Quanto à decisão de como reperfundir, não há dúvidas hoje de que a melhor terapia de reperfusão miocárdica é a angioplastia. Tempo limite para a Angioplastia: 90 minutos ou 120 minutos se transferência hospitalar. Caso esses tempos não sejam possíveis de cumprir, a opção ficará pelo fibrinolítico que, por sua vez, deverá ser iniciado em não mais do que 30min da chegada à unidade (tempo porta-agulha). ANGIOPLASTIA PRIMÁRIA Trata-se da reabertura mecânica da coronária recém-ocluída, a tempo de evitar ou reduzir a necrose miocárdica. A angioplastia é feita sempre com stent, seja ele metálico ou farmacológico. A ICP primária é aquela que precede à administração de fibrinolíticos, enquanto a de resgate ou salvamento é após a administração. Esta última pode ser utilizada em 3-24 horas após a administração dos fibrinolíticos em pacientes que não obtiveram reperfusão com sucesso à terapia química. TROMBOLÍTICO Caso demore mais do que 90-120 minutos, é indicado o uso do fibrinolítico. Este deve ser feito dentro de 30 minutos da chegada da unidade. 10 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 Os trombolíticos mais utilizados são o alteplase e o tenecteplase. Após a administração do fibrinolítico, nada garante que a obstrução seja resolvida. A menos que seja feita uma coronariografia mostrando um retorno ao fluxo normal ficaremos na dúvida. Por isso, o ideal é realizar uma coronariografia em todos os pacientes que fizeram fibrinolítico. Indiretamente, o sucesso da fibrinolise pode ser avaliado pela melhora súbita da dor, redução do supra de ST >50%, pico precoce dos marcadores de necrose e arritmias de reperfusao; A importância de averiguar esses fatores é que pacientes que apresentem piora do quadro (instabilidade) ou sem critérios de reperfusão após 1,5h da infusão dos trombolíticos devem fazer angioplastia de “resgate” imediata (não mais “primária”) TERAPIA MEDICAMENTOSA Ao mesmo tempo em que se faz a avaliação inicial e providenciamos a terapia de perfusão, drogas de rotina devem ser iniciadas: Antiplaquetários: os pacientes com IAM com supra de ST devem utilizar dois antiplaquetários – AAS e um antagonista do ADP (clopidogrel, prasugrel ou ticagrelor). O AAS deve ser dado antes da angioplastia, o mais precoce possível, e mantido por tempo indefinido. O outro antiplaquetário, comumente o clopidogrel, deve ser fornecido também o mais precoce possível, em dose de ataque (exceto quando utilizado fibrinolítico em pacientes com mais de 75 anos) e mantido por um ano, tanto para os stents metálicos quanto os farmacológicos. Cabe destacar que segundo as recomendações vigentes, na trombólise farmacológica apenas o clopidogrel deve ser utilizado; Anticoagulantes: vamos pesar duas situações: 1. Caso a terapia de reperfusão seja com a angioplastia, devem ser utilizados um dos dois anticoagulantes – Heparina Não Fracionada (HNF) e bivalirudina. 2. Caso a terapia de reperfusão seja com o uso de trombolíticos, podem ser utilizados três anticoagulantes: Heparina Não Fracionada (HNF), enoxaparina (Heparina de Baixo Peso Molecular – HBPM) e fondaparinux. Eles devem ser utilizados após a infusão dos trombolíticos por um tempo mínimo de 48h e preferencialmente durante toda a internação. Betabloqueadores: formulações orais devem ser iniciadas dentro das primeiras 24h, desde que não tenham contraindicações – sinais de insuficiência cardíaca ou evidência de baixo débito cardíaco, risco elevado de desenvolver choque cardiogênico, intervalo PR > 240ms, BAV 2º e 3º graus, asma ativa ou doença reativa das vias aéreas. IECA ou antagonista da angiotensina II: pode ser administrado de rotina nas primeiras 24h para todos os pacientes, especialmente naqueles que tenham localização anterior, IC ou FE ≤ 40%; Estatinas: devem ser utilizadas em altas doses em todos os pacientes, independentemente dos níveis de LDL, sendo a atorvastatina a droga de escolha. Os nitratos, embora melhorem os sintomas como vasodilatadores, não são capazes de reduzir o dano isquêmico, a menos que haja vasoespasmo associado. Assim, estão indicados nos quadros de dor persistente ou na presença de hipertensão ou IC. Para o uso de analgésicos em pacientes refratários aos nitratos e aos betabloqueadores, a morfina poderia ser utilizada, especialmente naqueles que complicam com edema agudo de pulmão. Evitar no infarto de VD: nitratos, morfina e diuréticos! PROGNÓSTICO INTRA-HOSPITALAR A evolução do paciente com IAM dependerá de diversos fatores, entre os quais temos como deletérios: idade > 75 anos, sexo feminino, diabetes mellitus, infarto prévio, FE < 40% ou ICC prévia, infarto de parede anterior e múltiplas derivações envolvidas. Existe uma classificação prognostica que é o principal determinante da mortalidade intra- hospitalar do IAM. Ela é baseada nos sinais clínicos da Insuficiência Ventricular Esquerda, que por sua vez depende do tamanho do infarto. 11 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 3. ESTUDAR AS COMPLICAÇÕES DA SCA (ARRITMIAS PÓS-IAM); A isquemia transmural de instalação súbita altera as propriedades eletrofisiológicas do miocárdio ventricular, tornando-o instável do ponto de vista elétrico. Daí a enorme frequência de extrassístoles ventriculares nas primeiras horas do IAM (80-90%) e a possível ocorrência de arritmias ventriculares graves e fatais na fase aguda do IAM, como a fibrilação ventricular primária e secundária, e a taquicardia ventricular sustentada. Taquiarritmias e Extrassitolia: ■ Extrassístoles ventriculares: presentes em quase todos os casos na fase hiperaguda (primeiras 24h). Não devem ser tratadas, nem as formas de extrassistolia complexa. A lidocaína profilática aumenta a mortalidade e o risco de assistolia!!! ■ Fibrilação atrial: incidência = 10%. Marcador de mau prognóstico (associada à disfunção grave de VE). ❯ FA de alta resposta: reverter prontamente (cardioversão elétrica). ❯ FA persistente: anticoagular e controlar a resposta ventricular. ■ Ritmo Idioventricular Acelerado (RIVA): pode ser uma arritmia de reperfusão; geralmente assintomática e transitória; raramente necessita de terapia (atropina). ■ Taqui Ventricular Não Sustentada (TVNS): ❯ TVNS Na fase hiperaguda, ocorre em 10- 20% dos pacientes e não há indicação de tratar, a não ser que provoque sintomas; ❯ TVNS na fase tardia (> 48h) é marcador de mau prognóstico, conferindo maior risco de morte súbita em médio prazo, quando associada a FE < 40%. Conduta: estudo eletrofisiológico – se TV monomorfica sustentada induzível, indicar cardiodesfibrilador implantável (estudo MADIT I). ■ Taqui Ventricular Monomórfica Sustentada (TVMS): rara, predomina na fase tardia (> 48h), com alto risco de morte súbita em médio prazo (primeiros seis meses), especialmente se associada a FE < 40%. ❯ Reverter com cardioversão elétrica (100 J), antiarrítmico venoso (amiodarona ou procainamida). ❯ Conduta após reversão de uma TVMS instável tardia: indicar cardiodesfibrilador implantável e manter amiodarona oral. ■ Taqui ventricular polimórfica: raríssima; isquemia- induzida; necessidade de revascularização precoce. As taquicardias ventriculares (especialmente as com FC > 170 bpm) devem ser tratadas com cardioversão elétrica (iniciar com 100-200 J) e antiarrítmicos, visando prevenir as recidivas. A princípio, as TV precoces (< 48h) respondem melhor à lidocaína, enquanto que as TV tardias respondem melhor à amiodarona ou à procainamida ■ Fibrilação ventricular: ❯ FV primária: causa mais comum de morte pré-hospitalar; pico de incidência nas primeiras2h, eventualmente, até 48h; piora o prognóstico intra-hospitalar, mas não interfere no risco em longo prazo; O mecanismo dessa arritmia é isquêmico geralmente por alterações da refratariedade e condutividade miocárdicas, levando ao mecanismo de reentrada funcional. O pronto reconhecimento e desfibrilação elétrica com 360 joules revertem a grande maioria desses pacientes. ❯ FV secundária: definida como uma fibrilação ventricular que ocorre nos pacientes em Killip II, III ou IV, associada à grave disfunção de VE e choque cardiogênico; mortalidade altíssima; ❯ FV tardia (> 48h): alto risco de morte súbita. Nesta fase, geralmente não há mais isquemia, e a área de necrose está em plena cicatrização. A reentrada dá-se em torno de um foco necrótico do miocárdio ventricular, servindo de estopim para desencadear a FV. O paciente que evolui para FV nas primeiras 48h deve ser desfibrilado e, em seguida, feito ataque e infusão contínua de lidocaína (1-4 mg/min) por 48-72h. Se a FV for tardia (> 48-72h), está indicado um antiarrítmico em longo prazo (ex.: amiodarona 400 mg/dia) e estudo eletrofisiológico após a alta, indicando-se o implante definitivo de um cardiodesfibrilador automático Bradiarritmias e Bloqueios Fasciculares ■ Bradicardia sinusal: comum no IAM inferior, nas primeiras 6h (reflexo vasovagal ou de Bezold- Jarisch e/ou isquemia sinusal); pode provocar hipotensão; responde bem à atropina, indicada somente nos casos sintomáticos; MP somente nos casos sintomáticos refratários à atropina. 12 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 ■ BAV de 1º grau: comum no IAM inferior ou pelo uso do betabloqueador. No IAM anterior, quando associado a BRD + hemibloqueio, constitui um bloqueio trifascicular (indica marca-passo em demanda). ■ Bloqueio AV de 2º grau Mobitz I: predomina no IAM inferior (vagotonia, isquemia do nódulo AV); supra-hissiano; acompanhado de BAV de 1º grau; responde bem à atropina; MP indicado apenas nos casos sintomáticos não responsivos à atropina. ■ Bloqueio AV de 2º grau Mobitz II: predomina no IAM anterior (septal); intra ou infra-hissiano (isquemia-necrose do feixe de His e ramos); associado a bloqueio fascicular; mau prognóstico; sempre indica um marca-passo (alto risco de evoluir para BAVT). ■ BAVT: ❯ No IAM inferior: BAVT transitório, supra- hissiano, porém aumenta a mortalidade e tem importante associação com o infarto de VD; sempre indica MP provisório; ❯ No IAM anterior: BAVT permanente (necrose septal); prognóstico reservado; associado a bloqueio fascicular; indicado MP (geralmente o DEFINITIVO). ■ Bloqueios de ramo e hemibloqueio: todos os tipos de bloqueio de ramo e hemibloqueio podem instalar-se agudamente no IAM, sendo as seguintes incidências: BRE (5%), HBAE ou BDAS (4%), BRD (2%), HBPE ou BDPI (< 1%). Todos esses distúrbios de condução intraventricular agudos conferem um pior prognóstico ao paciente com IAM, sendo o mais benigno o HBAE isolado (Hemibloqueio Anterior Esquerdo). 4. IDENTIFICAR AS COMPLICAÇÕES HEMODINÂMICAS DA SCA E SEUS TRATAMENTOS. CHOQUE CARDIOGÊNICO Epidemiologia: enquanto a FV é a complicação que mais mata os pacientes com IAM antes de chegarem ao hospital, o choque cardiogênico é o líder das mortes intra-hospitalares! Geralmente se instala nas primeiras 24h do IAM, devido a uma grande área de isquemia e necrose (mais frequente no IAM de parede anterior). Predomina no IAM de parede anterior, com oclusão proximal da DA. A oclusão do tronco da coronária esquerda (tronco CE) quase sempre leva a óbito precoce por instabilidade hemodinâmica de evolução fulminante! Apresentação: PA sistólica < 90 mmHg (por mais de 30min) + sinais de hipoperfusão com ou sem sinais de congestão pulmonar. ECO fundamental para firmar o diagnóstico e afastar a presença de alguma complicação mecânica. Classificação hemodinâmica de Forrester (conhecer para a prova!): Classe I (normal): IC > 2,2 L/min/m² e PCP < 18 mmHg; Classe II (congestão pulmonar pura): IC > 2,2 L/min/m² e PCP > 18 mmHg; Classe III (hipovolemia grave): IC < 2,2 L/min/m2 e PCP < 18 mmHg; Classe IV (choque cardiogênico): IC < 2,2 L/min/m² e PCP > 18 mmHg. Tratamento: 1. revascularização de emergência com angioplastia ou cirurgia, independentemente do tempo de aparecimento do infarto; 2. suporte hemodinâmico com drogas inotrópicas (dobutamina); 3. considerar suporte hemodinâmico com Balão Intra-Aórtico (BIA) ou equipamento de assistência circulatória. Dica: é importante diferenciar o choque cardiogênico da hipotensão arterial volume responsiva!! Esta é muito comum na fase aguda do IAM, e pode ser decorrente de: 1. hipovolemia (vômitos, uso prévio de diuréticos); ou 2. vasodilatação (resposta vagal no IAM inferior, estreptoquinase, dose excessiva de nitrato ou IECA). Portanto todo paciente com IAM e PA sistólica < 100 mmHg, na ausência de congestão pulmonar no exame físico, deve receber reposição volêmica cuidadosa (250 ml de SF 0,9% por vez), observando-se a resposta hemodinâmica. Se houver boa resposta, o prognóstico é excelente! Na presença de bradicardia sinusal associada, BAV de 1º ou 2º grau Mobitz I, uma ou duas doses de atropina 0,5-1 mg IV devem ser ministradas. EDEMA AGUDO DE PULMÃO Outra complicação hemodinâmica grave, com mortalidade de 20-30%, também mais comum no IAM de parede anterior. 13 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 Decorrente de insuficiência ventricular esquerda aguda, com componente sistólico e diastólico. Apresentação: dispneia, ortopneia franca, cianose, estertoração pulmonar além da metade do hemitórax, terceira bulha (B3), sudorese, apreensão. Ecocardiograma: afastar complicações mecânicas. Tratamento: 1. Oxigênio ou ventilação com pressão positiva; 2. Furosemida IV 0,5-1,0 mg/kg; 3. Nitroglicerina venosa 10-20 mcg/min (PA > 100 mmHg); e 4. Dobutamina 2-20 mcg/kg/min (PA entre 70-100 mmHg). INFARTO DE VD: Associado ao IAM inferior (a incidência pode chegar a 50% destes pacientes dependendo da referência, porém apenas 10-15% se apresentam com o quadro clínico significativo). Traz um pior prognóstico para este infarto, aumentando o risco de instabilidade hemodinâmica, BAVT e óbito. Apresentação: hipotensão arterial (algumas vezes com critérios de choque), turgência jugular patológica, sinal de Kussmaul (aumento da pressão jugular à inspiração). Ictus de VD palpável e/ou hepatomegalia congestiva. A bradicardia é comum, variando desde sinusal até um BAVT!! ECG: supra de ST somente de V1, no ECG de 12 derivações (além do supra de ST na parede inferior – DII, DIII e aVF). Confirmação: supra de ST ± onda Q patológica em V3R e V4R. Ecocardiograma: importante para firmar o diagnóstico e estimar a disfunção de VD. Tratamento: reposição volêmica com SF 0,9% (1-2 L). Ao contrário do VE, o VD disfuncionante tolera alta carga volêmica, aumentando o seu débito, já que esta câmara trabalha com baixas pressões de enchimento. Se não responder: dobutamina; terapia de reperfusão (grande benefício); marca-passo de dupla câmara (em caso de BAVT). Os nitratos e diuréticos (ou qualquer droga redutora de pré-carga) são contraindicados! O marca-passo provisório transvenoso de dupla câmara é importante para os casos de BAVT associado. Vale ressaltar que a terapia de reperfusão é fundamental em pacientes com delta-T de até 12h. Se a escolha for o trombolítico, a hipotensão arterial e a bradicardia devem ser controladas antes da infusão da droga. 5. COMPREENDER O ACOMPANHAMENTO DO PACIENTE PÓS-IAM. Bom, inicialmente temos que lembrar que o controle da hipertensão, diabetes, tabagismo e dislipidemia deve ser feito agressivamente! Com base no que vimos anteriormente, o paciente vai para casa com a prescriçãode, pelo menos, cinco drogas (“quinteto medicamentoso pós- IAM”): AAS, inibidor do receptor P2Y12, betabloqueador, IECA e estatina. Cabe lembrar que a espironolactona também estaria indicada nos pacientes com disfunção cardíaca sintomática ou diabetes. Um programa cuidadoso de reabilitação cardíaca e uma dieta saudável são metas fundamentais no pós-IAM. O teste ergométrico pode orientar a reabilitação cardíaca e o retorno ao trabalho e à atividade sexual. O retorno ao trabalho costuma ser possível após duas semanas da alta 6. CONHECER A FARMACOLOGIA DOS MEDICAMENTOS (NITRATO). A nitroglicerina também é conhecida como trinitroglicerina ou trinitrato de glicerina. Faz parte da classe dos medicamentos vasodilatadores, possuindo ação anti-anginosa. Atua reduzindo o consumo cardíaco de oxigênio, secundário à redução da pré e pós carga cardíaca; redistribuindo o fluxo coronariano em direção a áreas isquêmicas através de artérias colaterais e alívio dos espasmos coronarianos. Mecanismos de ação A nitroglicerina atua através da formação de óxido nítrico, que induzirá a vasodilatação de arteríolas e veias por meio da geração de GMP cíclico. A nitroglicerina produz uma venodilatação relativamente maior do que a dilatação arteriolar, entretanto, causa dilatação de musculatura lisa em geral, incluindo a musculatura esofágica e biliar. Além dos efeitos sobre a musculatura lisa, o óxido nítrico aumenta a velocidade de relaxamento do músculo cardíaco. Por fim, este vasodilatador reduz principalmente a demanda cardíaca de oxigênio, diminuindo a pré-carga (pressão diastólica final do ventrículo esquerdo); pode reduzir modestamente a pós- 14 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 carga; dilatar as artérias coronárias e melhorar o fluxo colateral para as regiões isquêmicas.. Farmacocinética e farmacodinâmica da Nitroglicerina A nitroglicerina pode ser administrada através de diversas vias, sendo a principal delas a sublingual e a intravenosa, mas havendo composições de spray translingual e adesivo transdermal. É rapidamente inativado pelo metabolismo hepático, o que torna a sua deglutição ineficaz. Sua excreção é principalmente por via urinária. Indicações A nitroglicerina sublingual é a terapia de escolha para episódios anginosos agudos e para a profilaxia de atividades conhecidas por desencadearem angina. É administrado ao paciente com IAM agudo para melhorar os sintomas, reduzir a pressão arterial, melhorar a congestão pulmonar e, em alguns casos, para ajudar no diagnóstico de espasmo da artéria coronária. A nitroglicerina intravenosa é tipicamente iniciada em pacientes com dor torácica isquêmica persistente, quando o uso de três comprimidos de nitroglicerina sublingual e outras terapias adjuvantes não solucionam o quadro. A nitroglicerina, apenas de reduzir pressão arterial, tem menor eficácia anti-hipertensiva em comparação com outros medicamentos de uso em emergências hipertensivas, mas pode ser útil em pacientes com doença coronariana sintomática e naqueles com hipertensão após cirurgia de revascularização do miocárdio. Contraindicações A nitroglicerina está contraindicada em casos de: Hipersensibilidade à nitroglicerina, outros nitratos ou nitritos, ou qualquer componente da formulação (inclui adesivos para produto transdérmico); Uso concomitante com inibidores da fosfodiesterase-5 (avanafil, sildenafil, tadalafil ou vardenafil); Uso concomitante com estimuladores de guanilato ciclase, Aumento da pressão intracraniana Efeitos adversos Dentre os principais efeitos adversos estão a hipotensão postural e cefaleia, que ocorre devido à vasodilatação direta. A taquicardia também é muito frequente, resultante da ativação simpática reflexa. Entretanto, a principal preocupação com uma infusão contínua de nitroglicerina é o desenvolvimento da tolerância ao nitrato que ocorre na maioria dos pacientes em 24 horas.
Compartilhar