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Unidade 1 - Teoria Geral dos Recursos 1. Conceito De acordo com Renato Brasileiro, recurso “é um instrumento processual voluntário de impugnação de decisões judiciais previsto em lei federal utilizado antes da preclusão e na mesma relação jurídica processual, objetivando a reforma, a invalidação, a integração ou o esclarecimento da decisão impugnada”. Perceba que o recurso é dotado de voluntariedade, ou seja, representa um verdadeiro ônus para a parte. Não há obrigação de recorrer. Além disso, para que o recurso seja interposto há necessidade de previsão legal, chamado de cabimento (pressuposto objetivo de admissibilidade recursal). Destaca-se que os recursos são interpostos na mesma relação jurídica processual, fato que os diferencia das ações autônomas de impugnação (habeas corpus e revisão criminal). Na realidade, o recurso é um desdobramento da relação que vinha na primeira instância. Por fim, o objetivo do recurso é a invalidação, a reforma, a integração ou o esclarecimento da decisão. 2. Princípios a) duplo grau de jurisdição: Trata-se da possibilidade de reexame integral da matéria de fato e de direito da decisão do juízo a quo, a ser confiado a órgão jurisdicional diverso e, em regra, de hierarquia superior. No âmbito criminal, a apelação materializa o duplo grau de jurisdição, tendo em vista que pode ser questionada matéria de fato, probatória e jurídica. b) princípio da unirrecorribilidade (singularidade ou unicidade): Se a decisão é passível de impugnação, será cabível apenas um recurso contra ela, a exemplo do art. 593, §4º do CPP em que a apelação absorve o RESE. CPP, art. 593, § 4º: Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que somente de parte da decisão se recorra Em outras palavras: Não se admite mais de um recurso, simultaneamente, contra a mesma decisão. Esse princípio é desdobramento do pressuposto objetivo da adequação. Contudo, há exceções, como cabimento de Recurso Especial e Extraordinário. c) princípio da fungibilidade dos recursos: A interposição de recurso inadequado não impede o seu conhecimento como se fosse o recurso correto. Encontra-se previsto no art. 579 do CPP, observe: Art. 579. Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por outro. Parágrafo único. Se o juiz, desde logo, reconhecer a impropriedade do recurso interposto pela parte, mandará processá-lo de acordo com o rito do recurso cabível. Atenção para o disposto do parágrafo único, pois o juiz mandará aplicar, de imediato, o procedimento do recurso cabível. Perceba que o pressuposto básico para a aplicação do princípio da fungibilidade é a ausência de má-fé. De acordo com a doutrina, a má-fé estará presente: • Quando é interposto o recurso errado no prazo maior do que o recurso correto. Por exemplo, o prazo da apelação é de 5 dias e do RE de 15 dia, a parte interpõe um RE no 15º dia, como se fosse uma apelação; • Quando houver erro grosseiro, deve haver uma dúvida razoável quanto ao recurso que deveria ser interposto. É o caso da decisão que manda suspender o processo, há dúvida se cabível apelação ou RESE (prevalece). d) princípio da convolação: Uma impugnação adequada poderá ser recebida e conhecida como outra, quando for mais vantajosa ao recorrente. Imagine, por exemplo, que João foi condenado pela Justiça Militar pela prática de um crime eleitoral, já houve o trânsito em julgado, há mandado de prisão expedido contra ele. Perceba que se trata de caso de incompetência. João interpôs revisão criminal, apesar de ser um recurso adequado não é o melhor instrumento. O ideal teria sido a interposição de HC cumulado com pedido liminar. e) princípio da voluntariedade dos recursos: Para as partes, os recursos representam verdadeiro ônus, tendo em vista que as partes, mesmo diante de uma decisão desfavorável, não são obrigadas a recorrer. Encontra-se previsto no art. 574 do CPP, in verbis: Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser interpostos, de ofício, pelo juiz: É aplicável ao Ministério Público, aos Defensores Públicos, dativos ou constituídos. STJ: “(...) Se a defensora dativa e o réu foram intimados pessoalmente da sentença condenatória e não manifestaram a pretensão de recorrer, aplicável, à espécie, a regra processual da voluntariedade dos recursos, insculpida no art. 574, caput, do Código de Processo Penal, segundo a qual não está obrigado o defensor público ou dativo, devidamente intimado, a recorrer. (...)”. (STJ, 6ª Turma, HC 105.845/SC, Rel. Min. Og Fernandes, j. 10/03/2009, Dje 06/04/2009 A exceção à voluntariedade dos recursos fica por conta dos recursos de ofício (reexame necessário). Por fim, caberá recurso de ofício nos casos de: • Sentença que conceder HC; • Decisão concessiva de reabilitação (art. 746); • Decisão absolutória ou de arquivamento de autos em crime contra a economia popular e contra a saúde pública (não é aplicada ao tráfico de drogas); • Sentença concessiva de mandado de segurança. f) princípio da non reformatio in pejus: Também chamado de efeito prodrômico da sentença. Em recurso exclusivo da defesa (aplica-se ao HC e à revisão criminal), a situação do acusado não pode ser agravada/prejudicada, mesmo em se tratando de um erro material. Non reformatio in pejus indireta e soberania dos veredictos Em virtude da soberania dos veredictos, os jurados podem, no segundo julgamento, reconhecer qualificadoras e causas de aumento de pena não reconhecidas no julgamento anterior, o que possibilitará o agravamento da situação do acusado (exceção a non reformatio in pejus); Porém, caso no segundo julgamento a decisão dos jurados seja idêntica à primeira decisão, o juiz presidente não poderá agravar a situação do acusado por ocasião da fixação da pena. g) princípio da reformatio in mellius: Em um recurso exclusivo da acusação pode a situação do acusado ser melhorada, seja para aplicar causas de diminuição de pena ou atenuantes não reconhecidas pelo juízo a quo, seja para excluir qualificadoras constantes da decisão impugnada, podendo inclusive absolver o acusado. Extrai-se esse entendimento da interpretação ‘a contrário sensu’ do art. 617 do CPP. h) princípio da colegialidade: A ideia do princípio da colegialidade é a de que o recurso seja julgado por um órgão colegiado, permitindo a discussão das teses e a troca de experiências entre os desembargadores, podendo levar a mudança de orientação de um dos membros.
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