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Bianca Leal Ribeiro Turma 91 - MEDUFPI ANOMALIAS MORFOLÓGICAS E PROCESSO INFLAMATÓRIO DA MAMA ___ INTRODUÇÃO 2 MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS 3 Agenesia mamária 3 Politelia 4 Polimastia 4 DISTÚRBIO DO DESENVOLVIMENTO 4 Anomalias adquiridas 4 Assimetria mamária 5 Papila retraída 5 Hipomastia 5 Hipertrofia mamária 5 Simastia 6 MASTITES 6 Mastites lactacionais 7 Mastite não lactacional 9 1 Bianca Leal Ribeiro Turma 91 - MEDUFPI INTRODUÇÃO Por volta das 5 semanas, há um espessamento do ectoderma na região da faixa galáctea ou crista mamária, que se estende da axila até a região inguinal). Por volta da 7° semana, o espessamento regride e se concentra em dois sítios ao nível da região torácica, onde se desenvolvem as mamas. Na 12° semana, há um desenvolvimento do mesoderma inferior que forma o broto primário. O broto sofre uma série de divisões arboriformes, gerando os ductos lactíferos e seus ramos. Ao nascimento, a papila é invertida e eleva-se acima da pele durante a infância. Se essa elevação não ocorre, dá-se origem à papila invertida na idade adulta. São originados cerca de 15 a 20 ductos, todos desembocando na papila mamária. Os lobos principais se subdividem e formam estruturas denominadas lóbulos. Os ductos são circundados por tecido conjuntivo denso (parênquima mamário) e tecido gorduroso, o qual se deposita na mama durante a puberdade. A mama feminina repousa na parede torácica anterior, com sua base se estendendo da segunda a sexta costela. Cerca de dois terços da mama repousam sobre o músculo peitoral maior, e o restante está em contato com o músculo serrátil anterior e a porção superior do músculo oblíquo abdominal. O tecido mamário frequentemente se estende até a axila, e essa extensão é chamada de cauda de Spence. No complexo aréolo-papilar, pode-se observar um conjunto de glândulas sebáceas, denominado de complexo de Montgomery. Abaixo da pele da aréola existe uma fina camada de músculo liso cujas fibras se distribuem no sentido radial e continuam na papila com fibras longitudinais e circulares que envolvem os ductos lactíferos, juntamente com o tecido conjuntivo de sustentação. 2 Bianca Leal Ribeiro Turma 91 - MEDUFPI Qualquer alteração que ocorra no percurso de desenvolvimento da mama resulta nas anomalias morfológicas. As anomalias se dividem em dois grupos: malformações congênitas e distúrbios do desenvolvimento (anomalias adquiridas). MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS As malformações congênitas podem ser de 3 tipos: - Agenesia: ausência de desenvolvimento mamário - Politelia: quando há formação de mais de 2 papilas mamárias - Polimastia/mama aberrante:quando há formação de parênquima mamário além dos sítios normais. Na polimastia, a mama extranumerária localiza-se na crista mamária, enquanto que, na mama aberrante, a formação da mama se dá fora da crista mamária Agenesia mamária - Amastia: ausência congênita de desenvolvimento mamário, frequentemente unilateral, com ausência do complexo areolopapilar. - Amasia: ausência do desenvolvimento mamário, com a presença do complexo areolopapilar. - Atelia: ausência congênita do complexo areolomamilar. - Atrofia do músculo peitoral maior (síndrome de Polland): ausência do músculo peitoral - Anomalia congênita rara, de possível caráter hereditário e penetrância variável. - É uma herança ligada ao sexo e possivelmente causada por um suprimento sanguíneo embrionário deficiente (6° semana). - A síndrome de Polland também apresenta hipoplasia ou agenesia de musculatura torácica e de mama Tratamento: estético - cirurgia plástica. 3 Bianca Leal Ribeiro Turma 91 - MEDUFPI Politelia Acomete 2 a 6% das mulheres. Consiste na presença de mais de 2 papilas mamárias (mamilo acessório). Pode ocorrer em qualquer ponto da linha mamária, sendo mais comum logo abaixo da mama normal e com formato bilateral em 50% das vezes. Não há risco de transformação neoplásica. Frequentemente, associa-se a malformações renais e do trato geniturinário (23-40%). Deve ser retirada cirurgicamente apenas se causar prejuízo estético. Polimastia Ocorre em 1 a 2% da população. Consiste na presença de tecido mamário ectópico, e, mais frequentemente, a mama acessória é axilar, podendo ser uni ou bilateral, com ou sem papila acessória associada (rudimentares ou completas). O risco de transformação neoplásica é pouco significativo. A conduta pode ser conservadora, desde que não provoque desconforto estético para a paciente. As mamas acessórias podem secretar leite durante a lactação. DISTÚRBIO DO DESENVOLVIMENTO Anomalias adquiridas São divididas em: - Assimetria mamária (anisomastia) - Inversão da papila - 10% da população feminina - Hipotrofia mamária (hipomastia) - Hipertrofia mamária - Simastia: mamas que se aproximam 4 Bianca Leal Ribeiro Turma 91 - MEDUFPI Assimetria mamária Trata-se da diferença entre as mamas quanto ao tamanho, formato ou posição. Pode ser corrigido com cirurgia plástica (mastopexia ou mamoplastia) no caso de desejo estético da paciente. Tomar cuidado pois a presença de tumores pode causar a anisomastia. Papila retraída Ocorre por falha do tecido conjuntivo em exteriorizar a papila ao nascimento/na infância. Dessa forma, o tecido epitelial da papila continua no interior do complexo. Essas pacientes apresentam dificuldade para amamentar. Hipomastia A paciente apresenta mamas simétricas, porém pequenas, provavelmente devido a uma deficiência do estímulo hormonal. Há várias origens possíveis. Na hipomastia de origem central, há um distúrbio H-H que causa baixos níveis de gonadotrofinas. A paciente cursa com amenorréia primária e infantilismo sexual. A hipomastia de origem ovariana é causada por uma disgenesia gonadal a qual cursa com falência pré-menarca, com altos níveis de gonadotrofinas e baixos níveis de estrogênio. Essa mulher pode apresentar cariótipos 46,XX, 45,X ou 46,XY. Na origem adrenal, há uma deficiência enzimática (21 e 11b-hidroxilase, 3b-OH-desidrogenase). O resultado disso é ambiguidade genital, presença de cromatina sexual e cariótipo 46,XX. Pode haver aumento de S-DHEA e 17 alfa-OH-P. A origem constitucional ocorre por manipulação terapêutica ou lesão do primórdio mamário. Hipertrofia mamária Crescimento exagerado da mama. Em geral, é bilateral e pode ocorrer durante a adolescência ou na gravidez. O tratamento com melhores resultados consiste na mamoplastia redutora. Apresenta várias possíveis causas. A hipermastia puberal tem etiologia pouco conhecida, provavelmente causada por anomalias dos receptores hormonais, causando deposição de tecido 5 Bianca Leal Ribeiro Turma 91 - MEDUFPI adiposo e conjuntivo na mama. Cursa com dor lombar. Quando o quadro é unilateral, deve-se afastar a hipótese de neoplasia. A causa endócrina está muito relacionada ao hipotireoidismo. A causa iatrogênica relaciona-se ao uso de D-penicilamina, hidantoína, cimetidina, digitálicos, ACO a base de ciproterona, ansiolíticos e ciclosporina. A causa gravídica apresenta uma etiopatogenia obscura. É bilateral e regride após a gestação. Pode cursar com ulceração e necrose devido a baixa vascularização. É comum possuir recidiva. Simastia É a confluência medial das mamas. Na região entre as duas mamas forma-se uma “ponte” de tecido, dando a impressão de que as mamas estão coladas uma na outra. Pode ter origem congênita ou iatrogênica. MASTITES Processo inflamatório da mama que pode ter causa infecciosa ou não infecciosa. As mastites podem ser classificadas como: lactacionais ou não-lactacionais. As mastites não lactacionais se dividem em: - Inespecíficas: quando não há agente etiológico específico - Periareolar recidivante - Ectasia ductal - Específicas: quando há um fator etiológico - Tuberculose - Micótica 6 Bianca Leal Ribeiro Turma 91 - MEDUFPI - Sarcoidose - Parasitária - Formas especiais: costumam acontecer após cirurgias - Doença de Mondor - ocorre após cirurgias plásticas por uma inflamação da veia toracoepigástrica (tromboflebite). O tratamento é sintomático e expectante - Esteatonecrose: necrose de tecido gordurosoque possui um componente mamário. Pode ocorrer após lesão traumática. É periódica Mastites lactacionais Ocorrem entre a 2° e a 6° semana do puerpério em 10 a 30% das lactantes. Costuma ser unilateral e recidivante e acomete, principalmente, primíparas. Quanto à etiologia, normalmente é causada pelo S. aureus coagulase positivo (70% dos casos). Logo, não é necessário colher cultura para o tratamento. 36% das vezes é causada por bactérias anaeróbias. Também pode ser causada por bactérias gram negativas (E. coli, Pseudomonas, Serratia). Quanto à fisiopatologia, pode se dar de forma hematogênica (muito rara) ou transpapilar - que pode evoluir com inflamação intersticial (tecido conjuntivo) ou parenquimatosa (ductal). Quando a inoculação se dá por uma fissura causada pela pega incorreta do bebê, as bactérias invadem os vasos linfáticos superficiais, causando uma inflamação local -> linfangite/celulite. Consequentemente, tem-se uma mastite intersticial que pode evoluir para um abcesso. Quando a inoculação ocorre pelo orifício ductal, as bactérias migram pela via canalicular, chegando até o leite. A infecção causa uma inflamação no local gerando uma galactoforite e uma mastite parenquimatosa. A mastite pode evoluir para um abcesso. 7 Bianca Leal Ribeiro Turma 91 - MEDUFPI Fatores de risco: - Malformações das papilas - Primiparidade - Técnicas incorretas para amamentar - Fissuras papilares (mastite intersticial) - Ingurgitamento mamário (mastite parenquimatosa) - Higiene local inadequada - Escabiose Classificação topográfica do abscesso: - Retroareolar - Subcutâneo - Intramamário - Retromamário Quadro Clínico - Manifestações gerais: febre, calafrios, cefaleia, mal-estar, anorexia - Manifestações locais: turgência, dor, edema, calor, secreção purulenta - Dor intensa à mobilização da mala (abcesso profundo) - Ulceração/fístula láctea Diagnóstico - Parto recente - Dificuldade no aleitamento - Sinais inflamatórios na mama/fissuras papilares - Cultura do leite/abcesso - Leucócitos>10⁶ /ml de leite - US/mamografia (suspeita de abcesso profundo) - Biópsia Tratamento Clínico - Sintomático - Medidas gerais - compressão manual - Interrupção temporária da amamentação no caso de abcesso e saída de pus 8 Bianca Leal Ribeiro Turma 91 - MEDUFPI - Esvaziamento mamário - Antibioticoterapia (cefalexina, ceftriaxona, cefalotina) Cirúrgico - Drenagem de abcessos / punção com agulha grossa - Interromper lactação da mama com abscesso Profilaxia - Evitar fatores predisponentes - Água boricada (papila) Mastite não lactacional Periareolar recidivante - 7% das afecções benignas de mama - Inflamação periductal de origem desconhecida - Ocorre em pacientes com idade de 30 a 45 anos e em países desenvolvidos - Forte relação com o tabagismo - 91% dos casos (metabólitos tóxicos: nicotina, cotinina, epóxido) - Processo crônico e recorrente - Inversão de papila Fisiopatologia: O cigarro provoca uma irritação e uma metaplasia escamosa ductal, tornando o epitélio do ducto um epitélio colunar e criando um tampão de queratina que o obstrui. Os microorganismos (bactérias anaeróbias ou gram -) penetram o ducto e se desenvolvem no tampão de queratina (excelente meio de cultura), formando um abcesso. O abcesso é drenado na região periareolar, pelo tecido conjuntivo da papila mamária, formando uma fístula. A drenagem pode ser simples (há apenas uma fístula) ou complexa (são formadas duas ou mais fístulas). Ocorre um período de melhora dos sintomas (acalmia) por cerca de 2 9 Bianca Leal Ribeiro Turma 91 - MEDUFPI semanas a 3 meses. Após esse período ocorre a reagudização da inflamação. Tratamento - Anti-inflamatórios - Cessar tabagismo - Metronidazol 400 / cefalexina 500 (7 a 10 dias) - Cefazolina 500 IM (12/12 horas) + metronidazol/clindamicina 150 (6/6 horas)/ cloranfenicol 500 (6/6 horas) - Bromoergocriptina - Cirurgia (recidivante) Ectasia ductal Mastite de células plasmáticas periductais, varicocele mamária, comedomastite. - Endurecimento retroareolar - Inflamação crônica dos ductos lactíferos dilatados e espessados (3 a 5 ductos com 0,5 cm de diâmetro) - Pacientes multíparas >50 anos (25-30% dos casos) - Aumento da prolactina - Retração papilar, com fluxo amarelado e sebáceo - Germes aeróbios (S. aureus e gram -) +anaeróbios O tratamento conservador envolve anti-inflamatórios, bromoergocriptina e antisséptico. O tratamento pode ser cirúrgico (ressecção periareolar). Mastite específica Processo inflamatório crônico, não relacionado à lactação, provocado por etiologias especiais: tuberculose (mais frequente), actinomicose, sarcoidose, protozooses. Observam-se lesões granulomatosas: nódulos/fístulas (20 a 50 anos). Ao exame físico, pode simular neoplasia maligna. A histopatologia é o exame padrão ouro. O tratamento é ligado à etiologia. 10 Bianca Leal Ribeiro Turma 91 - MEDUFPI Mastite tuberculosa: ocorre em pacientes jovens, multíparas e que amamentaram. Pode ser primária (presente apenas na mama) ou secundária (disseminada por via linfática e hematogênica). Em 60% dos casos, observa-se um nódulo de crescimento lento. Sua forma difusa causa a mastite. Pode formar abcesso em conjunto com microrganismos piogênicos. 11