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Patologias Pancreáticas Introdução → • Trata-se de um órgão retroperitoneal (está por trás do peritônio), disposto transversal- mente, desde a concavidade em “C” do du- odeno até o hilo do baço; • Ele mede 20 cm de comprimento, pesando cerca de 90g em homens e 85g em mulheres; • É dividido em: cabeça (cabeça propria- mente dita + processo uncinado), colo, corpo e cauda; Sistema de ductos pancreáticos: • Ducto pancreático principal/de Wir- sung: desemboca na papila maior de Vater presente no duodeno. O ducto biliar se junta com o ducto pancreático principal próximo a papila de Vater, formando a ampola de Vater que é um canal comum para drena- gem biliar e pancreática; • Ducto pancreático acessório/de Santo- rini: desemboca na papila menor do duodeno, situada 2cm acima da papila maior de Vater. → • Trata-se de uma glândula acessória do sis- tema digestório, revestida por uma cápsula de tecido conjuntivo que emite septos para o seu interior, dividindo-o em lóbulos, ou seja, é um órgão lobular; • Ele apresenta uma porção exócrina e uma endócrina: - Porção exócrina: corresponde a 80 a 85% do pâncreas, sendo composto por células acinares que produzem as enzimas neces- sárias para a digestão e por uma série de canais e ductos que conduzem as secreções para o duodeno; - Porção endócrina: correspondendo a 1 a 2% do pâncreas, é composto por, aproxi- madamente, um milhão de ilhotas de Lan- gerhans, também chamadas ilhotas pancreá- ticas. As Ilhotas de Langerhans são consi- deradas micro-órgãos endócrinos e são constituídas por aglomerados de células po- ligonais dispostas em cordões (células alfa, beta, delta, PP e épsilon) que secretam insu- lina, glucagon, somatostatina; • O pâncreas tem o ducto principal, formado pela confluência de ductos menores, libe- rando as enzimas que participam do Marianne Barone (15A) Anatomia Patológica II – Prof. Fernanda Giudice processo de digestão (produzidas pelos áci- nos). Os ácinos são compostos por células acinares, que liberam o conteúdo no espaço e, este é enviado para os ductos. Entre as porções acinares, estão as ilhotas de Lange- rhans, produtoras de insulina. Microscopicamente: • Entre as células acinares estão as ilhotas pancreáticas ou de langerhans que são res- ponsáveis pela parte endócrina do pâncreas; • As ilhotas são constituídas por células po- ligonais, dispostas em cordões. Essas célu- las produzem hormônios são liberados na abundante rede de capilares sanguíneos for- mados por células endoteliais fenestradas; • Tem-se uma fina camada de tecido con- juntivo que envolve a ilhota e a separa do tecido pancreático restante (ácinos); • Assim, os hormônios produzidos pelas ilhotas, caem no sistema vascular para se- rem distribuídos para o organismo e as se- creções produzidas pelos ácinos são libera- das nos ductos para chegarem no duodeno; • A maioria das células que compõem a ilhota pancreática é a célula beta produtora de insulina, que controla a glicose no san- gue. As células alfa das Ilhotas de Lange- rhans secretam glucagon, que é responsável por aumentar a taxa de glicose no sangue. As células delta secretam somatostatina relacionada com a liberação de outros hor- mônios; • Cada tipo celular pode ser identificado através de imuno-histo química. Por exem- plo, ao se colocar um anticorpo anti- insulina na lâmina, as células beta ficarão coradas em marrom, permitindo sua idenfi- cação; • A distribuição dos hormônios produzidos pelas células da ilhota pancreática para o or- ganismo é facilitada pela disposição dos ca- pilares que permeiam a ilhota, que per- meiam as células; • As células acinares são células epiteliais serosas (seu conteúdo enzimático não tem muita glicoproteína) de formato piramidal orientadas em torno de um lúmen central. O citoplasma destas células está envolvido na síntese e armazenamento de enzimas di- gestivas (as quais estão em grânulos de zi- mogênio) para secreção em um lúmen cen- tral. Ao serem liberadas na luz do ácino, elas são direcionadas para o ducto intercalar, ducto excretor, ducto pancreático principal, até chegar no duodeno; • O ducto intercalar é formado por um epi- télio simples, no qual as células deste epité- lio que se encontram dentro dos ácinos, são chamadas de células centroacinosas. Este ducto tem porção intra-acinar e uma porção extra-acinar (ducto excretor); • A célula acinar é uma célula serosa que produz enzimas que ficam dentro de grânulos de zimogênio. No centro do ácino, é encontrado uma luz que é onde as enzimas serão liberadas através da exocitose, estas que caminharão pelo ducto revestido por cé- lulas centroacinares, que não produzem en- zimas (apenas revestem os ductos que estão dentro dos ácinos); • As células centroacinosas correspondem ao revestimento do ducto intercalar. O ducto excretor é a parte do ducto intercalar que está fora dos ácinos, apresentado maior calibre por ser a junção desses ductos inter- calares e desemboca no ducto pancreático principal. Depois que as enzimas caem no ducto pancreático principal, o ducto pan- creático principal bifurca e gerar o ducto acessório, que cai na papila menor do duo- deno. Enzimas: • Os ácinos produzem e secretam as enzi- mas pancreáticas na forma inerte, ou seja, como pró-enzimas (forma inativa), a fim de proteger os ácinos da autodigestão e não danificar os ductos. Então, nos grânulos de zimogênio, tem-se pró-elastase, tripsino- gênio, calicreinogênio, quimotripsinogênio, pró-carboxipeptidase, pró-fosfolipase A e B1; • A autodigestão do tecido pancreático é im- pedida por vários mecanismos; - Enzimas são sequestradas nos grânulos de zimogênio envoltos por membrana das células acinares; - Maioria das enzimas é sintetizada como pró-enzimas que são enzimas inativas (ex- ceção da amilase e lipase); - A ativação das pró-enzimas requer a con- versão do tripsinogênio inativo em tripsina ativa através da enzima enteropeptidase du- odenal (enteroquinase). A tripsina atua so- bre as pró-enzimas para produzir produtos como: quimotripsina, elastases e fosfolipase; - Inibidores de tripsina estão presentes nas secreções acinares e ductais. SPINK1 = PSTI = inibidor de secreção pancreática de tripsina; - Células acinares são notavelmente resis- tentes à ação da tripsina, quimotripsina e fosfolipase A2. O pâncreas não é uma glân- dula auto-digerida mesmo produzindo mui- tas enzimas digestivas, porque ela tem me- canismos que a protegem; • A secreção pancreática é estimulada pelo estímulo do nervo vago e pela ação da se- cretina e colecistoquinina, que são hormô- nios produzidos por células que revestem a mucosa intestinal do duodeno e jejuno. pH ácido (menor que 4,5) é um forte estí- mulo para a secreção de secretina; • Tanto a secretina, quanto a colecistoqui- nina agem de forma integrada. Quando há diminuição do pH no duodeno e jejuno pela ação do suco gástrico, há liberação de secre- tina pelo duodeno e jejuno, as quais estimu- lam a liberação do suco pancreático rico em água e eletrólitos (bicarbonato); • Os aminoácidos, ácidos graxos e suco gás- trico estimulam a liberação de colecistoqui- nina pelo duodeno e jejuno, e a colecistoci- nina estimula a liberação do suco pancreá- tico rico em enzimas pancreáticas; • Então, as enzimas do pâncreas só serão li- beradas quando o pH, pela ação do suco gástrico, torna-se ácido no duodeno e no je- juno e quando houver aminoácido, ácidos graxos e suco gástrico, estimulando a libe- ração de secretina e colecistoquinina, estas que estimulam o pâncreas a produzir o suco pancreático; • A secreção produzida pelo estímulo da se- cretina é muito fluida e serve para neutrali- zar o pH do quimo, sendo rica em bicarbo- nato; • A secreção produzida pelo estímuloda co- lecistoquinina é essencialmente enzimática e excitada pela presença de ácidos graxos de cadeia longa, e alguns aminoácidos. Após refeições com muito ácido gástrico e ami- noácido, é necessária muita enzimas, então, a colecistoquinina pode até ser mais ativa do que a secretina. Pancreatite • A pancreatite é um dos distúrbios do pân- creas exócrino mais importante; • Trata-se de uma inflamação pancreática associada a um mal funcionamento de sua porção exócrina, a qual pode variar desde uma manifestação leve autolimitada até um processo agudo com risco de vida; • Esta pode ser dividida em pancreatite aguda e pancreatite crônica. → • A pancreatite aguda é uma inflamação pancreática aguda caracterizada por dor ab- dominal súbita e elevação das enzimas pancreáticas (é essa elevação que desenca- deia o processo inflamatório), sendo uma lesão reversível do parênquima pancreático associada à inflamação (em caso de controle da inflamação). Patogênese e causas: • Nesta patologia, ocorre uma autodigestão do tecido pancreático por enzimas pancreá- ticas ativadas inapropriadamente, sendo a principal delas, a ativação do tripsinogênio; • Se o tripsinogênio for ativado de forma inapropriada, muitas enzimas passam a ser ativadas em locais onde elas não deveriam ser ativadas, que provoca uma autodigestão do tecido pancreático; • Então, a elevação das enzimas ocorre por- que o tripsinogênio ativado de forma ina- propriada começa a ativar pró-enzimas em locais onde isso não deveria acontecer, como na região de ácino e ducto (as enzimas devem ser ativadas no duodeno); • Se as enzimas começam a ser ativadas no pâncreas, isso causa uma autodigestão do tecido pancreático provocando a pancreatite aguda; • Se a tripsina for inapropriadamente ati- vada (deveria ser ativada no duodeno), ela pode ativar outras pró-enzimas como pró- fosfolipase e a pró-elastase, que depois de ativadas degradam células adiposas e dani- ficam as fibras elásticas dos vasos sanguí- neos; • A tripsina pode ainda, converter a pré-ca- licreína na sua forma ativada, que ativa in- trinsecamente o sistema complemento. O sistema complemento, quando ativado de forma inapropriada, está relacionado a ele- vação da inflamação e formação de trombos em pequenos vasos, que, nos vasos do pân- creas pode levar à congestão e ruptura dos vasos fragilizado; • Os mecanismos pelos quais a ativação das enzimas pancreáticas é iniciada não estão totalmente esclarecidos, mas há evidências de três eventos possíveis, podendo estes se- rem: obstrução dos ductos pancreáticos, le- são primária das células acinares ou trans- porte intracelular defeituoso de pró-enzimas dentro das células acinares; • Obstrução dos ductos pancreáticos: a obstrução ocorre por cálculos (mais denso) ou lamas biliares (menos denso), resultando em acúmulo de enzimas pancreáticas na re- gião da ampola de Vater, elevando a pressão nos ductos intra-pancreáticos e consequente acúmulo intersticial de fluidos ricos em en- zimas (suco pancreático); - Tanto a amilase quanto a lipase são libe- radas de forma ativa, então, se acumula suco pancreático no ducto, acumula-se muita en- zima ativa na região; - As lipases secretadas na forma ativa, po- dem gerar destruição de tecido gorduroso (necrose de gordura), visto que, no pâncreas, entre as células, são encontrados tecido gor- duroso, além de miofibroblastos ao redor dos vasos; - Os tecidos lesados pela necrose somados aos miofibroblastos periacinares que per- meiam as células acinares e aos leucócitos, liberam citocinas pró-inflamatórias, como a IL-1β, IL-6, fator de necrose tumoral, fator ativador plaquetário e substância P; - Dessa forma, inicia-se uma inflamação local com desenvolvimento de um edema intersticial através do extravasamento da microvasculatura; - Além disso, este edema pode ainda com- prometer o fluxo sanguíneo local, causando insuficiência vascular e lesões isquêmicas nas células acinares. Nesse caso, a célula acinar foi lesada secundariamente a pre- sença do cálculo; • Lesão primária das células acinares: as células acinares podem ser lesionadas dire- tamente por vírus (o vírus da caxumba tem tropismo pelas células acinares do pân- creas), drogas, isquemia, álcool, trauma di- reto no pâncreas, entre outros; - Esta lesão provoca a liberação de pró-en- zimas e hidrolases lisossomais, lesando ainda mais as células acinares. Quando as células acinares que produzem as enzimas pancreáticas são diretamente lesadas, elas liberam muitas enzimas, inclusive a lipase e a amilase (que já estão ativadas); - Se ocorrer por lesão nos lisossomos, que possuem enzimas em seu interior, podem romper dentro das células acinares e libera- rem hidrolases lisossomais que tem capaci- dade de ativar pró-enzimas pancreáticas, e com isso aumentam a lesão das células aci- nares; • Transporte intracelular defeituoso de pró-enzimas dentro das células acinares: em células acinares normais, as enzimas di- gestivas e as hidrolases lisossomais são transportadas em diferentes percursos; - Devido a lesões metabólicas, álcool ou obstrução ductal (principalmente por cálcu- los biliares), as enzimas pancreáticas são in- devidamente liberadas no compartimento intracelular contendo hidrolases lisosso- mais. Assim, os lisossomos são rompidos, as pró-enzimas são ativadas e as enzimas ativas são liberadas, lesando as células aci- nares; - Além disso, as enzimas lisossomais são transportadas em vacúolos diferentes dos das enzimas pancreáticas. E, se for reali- zado um transporte intracelular indevido, as enzimas lisossomais podem se encontrar com as enzimas digestivas e o que acaba ati- vando-as; • Se o grânulos de zimogênio encontrarem com os grânulos de lisossomos no retículo endoplasmático rugoso, ocorre ativação das pro-enzimas; - As hidrolases lisossomais, enzimas dos lisossomos, têm a capacidade de ativar pro- enzimas; - Os grânulos de zimogênio são produzi- dos no REG e finalizados no complexo de Golgi. Esses grânulos ficam na superfície da célula para serem excretados e se, ao in- vés da superfície da célula forem para os li- sossomos, tem-se a ativação de pro-enzimas (os lisossomos têm hidrolases que conse- guem ativar as pro-enzimas); - Quando eles são finalizados no complexo de Golgi eles devem ser excretados, se eles não forem excretados e forem para o lisos- somo, tem o encontro com as hidrolases que ativam intracelularmente as enzimas pan- creáticas que lesam a célula acinar; - A ativação das enzimas no pâncreas leva a lesão do vaso, podendo gerar hemorragia, lesar adipócitos (necrose gordurosa), pro- teólise, caracterizando a pancreatite. • As doenças dos tratos biliares (cálculos) e o alcoolismo são responsáveis por aproxi- madamente 80% dos casos de pancreatite nos países ocidentais, tendo o pior prognós- tico quando a causa é o alcoolismo. As cau- sas menos comuns de pancreatite aguda in- cluem as: - Obstrução do sistema de ductos pan- creáticos: além dos cálculos, outras razões para a obstrução incluem: neoplasias peri- ampolar (como o câncer pancreático), cole- dococeles (dilatação cística congênita do ducto biliar comum), “lama” biliar e parasi- tas (especialmente organismos como Asca- ris lumbricoides e Clonorchis sinensis); - Medicações: como a furosemida e os es- trogênios; - Infecções: como a caxumba; - Distúrbios metabólicos: hipertrigliceri- demia, hiperparatireoidismo e outras condi- ções hipercalcêmicas; - Lesões isquêmicas: ocasionadas por choque, embolia, vasculite e trombose vas- cular; - Trauma: como traumas abdominais fe- chados, lesões iatrogênicas durante cirur- gias e colangiopancreatografia endoscópica retrógrada; - Alterações herdadas nos genes que codi- ficamenzimas pancreáticas e seus inibido- res, incluindo mutações genéticas germina- tivas no: PRSS1 (tripsina se torna resistente à inativação e se uma pequena quantidade desta tripsina for inapropriadamente ativada no pâncreas, ela pode ativar outras pró-en- zimas digestivas, resultando no desenvolvi- mento da pancreatite) e SPINK1 (este é um inibidor de tripsina que quando mutado não a inibe). Tanto as mutações SPINK 1 quanto PRSS1 envolvem um risco significativa- mente aumentado para o câncer pancreático; • Uma das principais causas da pancreatite aguda são os microcálculos biliares, os quais migram pelos canais que comunicam a vesícula com o colédoco (que é o ducto biliar comum). Se um desses cálculos ficar preso na porção terminal do colédoco junto ao ducto pancreático e provocar uma obstrução, o pâncreas inflama porque não consegue dar vazão às secreções exócrinas que deveriam ser lançadas no intestino; • O consumo de álcool pode causar pancre- atite por vários mecanismos, e apresenta um pior prognóstico do que quando causada por obstrução por cálculos. Dentre eles, tem-se: - Ingestão crônica de álcool: resulta na se- creção de um fluido pancreático rico em proteínas, levando à deposição de cálculos protéicos dentro dos ductos pancreáticos, promovendo obstrução destes; - Aumento transitório da secreção pan- creática exócrina e a contração do esfíncter de Oddi (músculo que fica ao redor da am- pola de Vater), exercendo ainda efeitos tó- xicos diretos sobre as células acinares. Ao contrair o esfíncter de Oddi, a secreção pan- creática fica retida no ducto. Morfologia: • A morfologia da pancreatite aguda varia desde uma inflamação trivial e edema a uma grave e extensa necrose com hemorragia. Assim, pode se apresentar nas formas aguda intersticial, necrosante aguda e hemorrágica; • Pancreatite aguda intersticial ou branda: é uma forma branda, caracterizada por uma leve inflamação, edema intersticial e áreas focais de necrose gordurosa na por- ção central do pâncreas e no tecido adiposo peripancreático (que envolve o pâncreas), ou seja, caracteriza-se por inflamação e ne- crose gordurosa; • Pancreatite necrosante aguda é uma forma grave: tecidos acinares e ductais, bem como as ilhotas de Langerhans se en- contram necróticos. As lesões vasculares provocam hemorragia no parênquima do pâncreas e os focos de necrose gordurosa também podem ser encontrados em cole- ções adiposas extrapancreáticas (omento, mesentério intestinal e tecido adiposo sub- cutâneo); • Pancreatite hemorrágica: é uma forma mais grave caracterizada por extensa ne- crose parenquimatosa acompanhada por uma hemorragia abundante dentro da glân- dula pancreática; • A maioria das vezes a pancreatite aguda tem curso leve; • As alterações que podem ser encontradas são: inflamação aguda, necrose de tecido adiposo por enzimas lipolíticas, destruição proteolítica do parênquima pancreático, ex- travasamentos microvasculares causando edema e destruição dos vasos sanguíneos e subsequente hemorragia intersticial. A cor- relação entre elas que caracteriza a pancre- atite aguda em branda, grave ou mais grave; • A ruptura dos ácinos seguida de liberação de enzimas pancreáticas e ativação dessas enzimas, acarreta numa reação inflamatória, caracterizada por vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular, causa edema, haverá exsudato inflamatório. Além disso, essas enzimas provocam autodigestão do parênquima, dos adipócitos e da parede vas- cular; • A pancreatite aguda necrohemorrágica (grave), se tem reação inflamatória, necrose de tecido adiposo e do parênquima pancreá- tico e hemorragia. Na pancreatite intersti- cial (leve) ocorre inflamação e necrose do tecido adiposo; • A elastase é a enzima relacionada com a necrose da parede vascular, a lipase é a en- zimas relacionada com a necrose adiposa; tripsina, quimiotripsina, fosfolipase A e li- solecitina estão relacionadas com a necrose parenquimatosa. • Esteatonecrose: trata-se da necrose do te- cido adiposo e, no pâncreas, há tecido adi- poso dentro e ao redor dele; - Quando as células acinares são lesadas, liberam enzimas que são posteriormente ati- vadas, havendo degradação do tecido adi- poso pancreático (esteatonecrose); - A liberação de lipases pancreáticas no pâncreas e na cavidade peritoneal (quando o volume é muito grande), vai destruir adi- pócitos; - A destruição dos adipócitos promove li- beração de ácidos graxos dos triglicerídeos, os quais reagem com os íons cálcio dos lí- quidos intersticiais, formando sabões inso- lúveis de cálcio, que têm aspecto seme- lhante a cera de vela (reação de saponifica- ção); • Na imagem, as células adipócitas deve- riam estar onde estão os ***, mas nessas re- giões chegaram lipases que destruíram os adipócito, formando regiões com os chama- dos “fantasma do adipócito" (não consegue ver o núcleo na periferia. Na lâmina, fica mais opaco), indicando a morte do adipó- cito que libera ácidos graxos resultando na formação dos sabões insolúveis. Os sabões insolúveis deixam as células fantasmas com aparência mais basofílicas (mais roxinha, com granulações); • Na pancreatite branda/intersticial, é ob- servada necrose gordurosa no pâncreas ou ao redor do pâncreas, com a presença de fo- cos de esteatonecrose pelo aspecto de cera de vela ao redor. Na pancreatite necrosante aguda (grave), além da necrose, há área de hemorragia. Na necrose hemorrágica, não consegue se ver o pâncreas, apenas massas de sangue; Manifestações clínicas da pancreatite aguda: • A dor abdominal é a principal manifesta- ção, sendo constante, intensa, muitas vezes referida na parte superior das costas e po- dendo variar de leve e desconfortável a grave e incapacitante; • A suspeita de pancreatite aguda é primari- amente diagnosticada tanto pela presença de níveis plasmáticos elevados de amilase e lipase, como pela exclusão de outras causas de dor abdominal; • O desenvolvimento de pancreatite aguda muitas vezes é abordado como uma emer- gência médica; • Muitas das características sistêmicas da pancreatite aguda grave podem ser atribuí- das à liberação de substâncias no interior da circulação, como enzimas tóxicas e citoci- nas e a explosiva ativação da resposta infla- matória sistêmica, acarretando hemólise, leucocitose, retenção de fluidos, necrose gordurosa difusa, colapso vascular perifé- rico, coagulação intravascular disseminada, síndrome da angústia respiratória aguda e choque com necrose tubular renal aguda; • O paciente acometido pela pancreatite pode vir a apresentar alguns sinais, como: - Sinal de Grey-Turner e Cullen: carac- terizado por pancreatite aguda que gera uma hemorragia retroperitonial a qual acarreta equimose (área roxa) em flanco (grey-tur- ner) e periumbilical (cullen). Este sinal leva de 24 a 48 horas para aparecer após a rup- tura do parênquima pancreático. Além disso, este sinal prediz um ataque grave de pancreatite aguda, com um pior prognóstico e maior taxa de mortalidade; - Paniculite: é a inflamação do tecido adi- poso subcutâneo pela ação das enzimas pan- creáticas, sendo caracterizada por caroços sensíveis e vermelhos debaixo da pele. A etiologia da paniculite é desconhecida, mas presume-se que a liberação de enzimas pan- creáticas, tais como a tripsina, pode aumen- tar a permeabilidade da microcirculação e, então, a lipase e a amilase causariam a ne- crose de gordura subcutânea observada nas lesões; - Icterícia: os cálculos biliares podem in- terromper tanto a drenagem da bile, quanto a drenagem do suco pancreático e aí começa a acumular bile no fígado. o acúmulo de bile no fígado causa icterícia. Além disso, a ic- terícia pode ser causada pela contração do esfíncter de Oddi devido ao álcool que tam- bém vaidificultar a drenagem da bile; - Xantomas: a destruição de adipócitos faz com haja a liberação de e ácidos graxos livres em quantidade tóxica, capaz de lesar as células acinares. Muito ácido graxo livre pode ser fagocitado por macrófagos e esses macrófagos que fagocitam os ácidos graxos se depositam na pele e nos tendões for- mando os xantomas. Diagnóstico: • Para fazer o diagnóstico de pancreatite se- gue-se 3 critérios: - Clínica compatível: dor epigástrica de forte intensidade que irradia para o dorso em faixa, associada a muitos vômitos; - Enzimas pancreáticas: amilase ou li- pase acima de 3 a 5 vezes da normalidade. A lipase é mais específica e sobe mais tar- diamente que a amilase; - Tomografia de abdome: mostra infla- mação do pâncreas e é utilizada no diagnós- tico quando não há clínica ou enzima; • Dentre os achados laboratoriais da pancre- atite aguda, tem-se a elevação acentuada nos níveis séricos da amilase durante as pri- meiras 24 horas, seguido por um crescente aumento nos níveis séricos da lipase dentro das próximas 72 a 96 horas seguintes; - Elevação acentuada dos níveis séricos da amilase durante as 24 horas, seguidos por um crescente aumento nos níveis séricos da lipase dentro das próximas 72 a 96 horas se- guintes. Tem-se primeiro um aumento da amilase, por esta ser mais abundante nos ácinos que a lipase, então, no rompimento da célula, ocorre um maior aumento nas pri- meiras 24h, decaindo rapidamente por ter uma meia-vida curta, sendo notado o au- mento da lipase, que tem maior meia-vida. Assim, como a amilase também a lipase sé- rica precisa estar triplicada para que se te- nha valor diagnóstico. No entanto, o nível de elevação das enzimas pancreáticas não se correlaciona com a gravidade da doença; - Glicosúria ocorre em 10% dos casos; - Hipocalcemia pode resultar da precipita- ção de sabões de cálcio no tecido de necrose gordurosa e, se persistente, indica um mau sinal prognóstico; • Dentre os achados de imagem da pancre- atite aguda, tem-se a visualização direta do pâncreas aumentado e inflamado através da radiografia. Critérios de gravidade: • Após o diagnóstico, é necessário estratifi- car a gravidade da pancreatite, podendo ser pelo: - Critérios de Atlanta modificados: em 3 graus (leve, moderada e grave); - Critérios de Petrov: em graus 4 graus (leve, moderada, grave e crítica); • Independente da classificação, deve-se sempre avaliar a presença de complicações locais e de complicações sistêmicas com in- suficiências orgânicas; • De acordo com os critérios de atlanta para diagnóstico de pancreatite aguda grave ob- serva-se se há complicações sistêmicas e/ou complicações locais; • Para avaliar as complicações locais, utili- zamos a tomografia de abdome e o valor da PCR em 48 horas do início da dor (quando acima de 150mg/dL, traz um alto risco de necrose do pâncreas); • Para avaliar as complicações sistêmicas, vários critérios são utilizados, como SOFA, Marshall, Glasgow e APACHE II, mas o mais conhecido de todos é o critério de Ran- son; • A tomografia indica se há necrose, ela não faz uma correlação da extensão da necrose com a falência do órgão total ou a mortali- dade. Então, a tomografia só indica que no local se tem um ataque severo, mas não se haverá falência de órgão ou aumento de mortalidade. Tratamento: • A principal abordagem para o tratamento da pancreatite aguda é o “descanso” do pân- creas através da restrição total da ingestão oral e suporte terapêutico com analgésicos e fluidos intravenosos. Complicações: • Algumas complicações sistêmicas podem ocorrer, como por exemplo as enzimas que acabam sendo disseminadas pela circulação, vão para o rim, pulmão, podendo gerar com- plicações ameaçadoras como síndrome da angústia respiratória aguda e insuficiência renal; • Cerca de 5% dos pacientes que apresen- tam pancreatite aguda grave morrem por choque durante a primeira semana da do- ença; • Síndrome da angústia respiratória aguda e a insuficiência renal aguda também são complicações ameaçadoras; • Abscesso pancreático: destruição extensa de lóbulos e ductos, com infiltrado inflama- tório polimorfonuclear exuberante; • Durante a pancreatite aguda, a extensão da necrose pode ser tão severa a ponto de uma área liquefeita com suco pancreático ficar circundada por tecido de granulação, for- mando a massa cística. Como não há reves- timento epitelial no cisto, ele é mais conhe- cido como pseudocisto; • Complicações locais: - Pseudocisto: a extensão da necrose no pâncreas pode ser tão severa a ponto de for- mar uma área liquefeita com suco pancreá- tico circundada por tecido de granulação (tecido que surge no processo de reparo de tecido), formando a massa cística e, como não há revestimento epitelial no cisto, ele é chamado pseudocisto. Ou seja, é basica- mente um cisto revestido por tecido de gra- nulação; - Abscesso pancreático: área de necrose com intenso infiltrado inflamatório de poli- morfonucleares, formando uma cavidade dentro do pâncreas. → • A pancreatite crônica é caracterizada por inflamação do pâncreas com uma destrui- ção irreversível do parênquima exócrino, presença de fibrose, e, na fase tardia, a des- truição do parênquima endócrino; • A principal distinção entre a pancreatite aguda e a crônica é o comprometimento ir- reversível na função pancreática, que é característico da pancreatite crônica; • A patogenia da pancreatite crônica ainda não é bem compreendida e quase todos os indivíduos com repetidos episódios de pan- creatite aguda acabam desenvolvendo pos- teriormente a pancreatite crônica. Atual- mente, tem sido proposto que a pancreatite aguda inicia uma sequência de fibrose peri- lobular, distorções ductais e alterações nas secreções pancreáticas, sendo que, essa fi- brose se forma devido a episódios repetidos de pancreatite aguda e esse estímulo cons- tante ao longo do tempo podem provocar fi- brose e levar à perda do parênquima pan- creático; • Os eventos que têm sido propostos para a explicação do desenvolvimento da pancrea- tite crônica incluem: - Obstrução ductal por concreções: o au- mento das concentrações de proteínas no suco pancreático forma cálculos proteicos aderidos aos ductos. Estes cálculos protei- cos são particularmente proeminentes na pancreatite crônica por alcoolismo e podem se calcificar, formando cálculos compostos de carbonato de cálcio precipitado, podendo obstruir ainda mais os ductos pancreáticos. Então, a obstrução ductal por concreções, isto é, calculos proteicos, surge do suco pan- creático rico em proteína, principalmente no caso dos pacientes alcoólatras, pois o álcool causa aumento da concentração de proteína no suco pancreático; - Efeitos tóxicos: algumas toxinas podem exercer efeito tóxico direto sobre as células acinares, incluindo o álcool e seus metabó- litos; - Estresse oxidativo: o álcool induz es- tresse oxidativo, podendo gerar radicais li- vres nas células acinares levando a uma oxi- dação lipídica da membrana e a ativação de fatores de transcrição, incluindo AP1 e NF- kB relacionados com inflamação. Além disso, o estresse oxidativo pode promover a fusão de lisossomos e grânulos de zimogê- nio, causando necrose celular acinar, infla- mação e fibrose; • Foi observado que na pancreatite crônica há uma variedade de quimiocinas, incluindo a IL-8, TGF-β, PDGF e a proteína quimio- atrativa de monócito. De modo geral, as qui- miocinas produzidas durante a pancreatite crônica são semelhantes às produzidas na pancreatite aguda, contudo as quimiocinas pró fibrogênicas (TGF-β e PDGF) tendem a predominar na pancreatite crônica. As qui- miocinas prófibrogênicas induzem a ativa- ção e a proliferação de miofibroblastos ao redor das célulasperiacinares (células pan- creáticas estreladas), resultando no aumento da deposição de colágeno e na formação de fibrose; • Na pancreatite aguda a lesão acinar resulta na liberação de enzimas proteolíticas, le- vando a uma cascata de eventos, incluindo ativação da cascata da coagulação, inflama- ção aguda e crônica, lesão vascular e edema. Na maioria dos pacientes a resolução com- pleta da lesão aguda ocorre com a restaura- ção do conjunto de células acinares; • Na pancreatite crônica, episódios repeti- dos de lesões nas células acinares levam à produção de citocinas profibrogênicas como TGF-β e o PDGF, resultando na pro- liferação de miofibroblastos, na secreção de colágeno e no remodelamento da MEC. Le- sões recorrentes produzem fibrose, perda ir- reversível da maioria das células acinares e insuficiência pancreática • A causa mais comum de pancreatite crô- nica é o abuso de álcool a longo prazo. As causas menos comuns de pancreatite crô- nica, incluem: - Obstruções a longo prazo nos ductos pancreáticos: as quais podem ser causadas por cálculos, neoplasias, pseudocistos, trau- matismos e pâncreas divisum. O pâncreas divisum é uma estenose relativa causada pela passagem da maior parte das secreções pancreáticas pela papila menor (dessa forma o ducto acessório acaba funcionando como ducto principal). Além disso, a obs- truções a longo prazo nos ductos pancreáti- cos, muitas vezes pode provocar a dilatação destes ductos; - Pancreatite hereditária: causada por mutações germinativas no PRSS1 ou no SPINK1, presentes no desenvolvimento de ambos os tipos de pancreatite; - Mutações no gene CFTR: relacionada com a fibrose cística. Essas mutações dimi- nuem a secreção de bicarbonato pelas célu- las dos ductos pancreáticos, facilitando a adesão de proteínas no ducto, formação de concreções, e por conseguinte o desenvolvi- mento de pancreatite crônica. Morfologia: • A pancreatite crônica é caracterizada: - Por fibrose parenquimatosa; - Pelo reduzido número e tamanho dos áci- nos. A destruição acinar é uma caracterís- tica constante; - Relativo acometimento das ilhotas de Langerhans, sendo que, as ilhotas de Lange- rhans remanescentes são incorporadas no tecido esclerótico e podem se fundir pare- cendo ampliadas, e, eventualmente, elas também desaparecem; - Pela variável dilatação dos ductos pan- creáticos; • Estas alterações são normalmente acom- panhadas por um infiltrado inflamatório crônico em torno dos lóbulos e dos ductos • Imagem característica de uma pancrea- tite crônica: após extensa fibrose e atrofia sobraram apenas algumas ilhotas residuais (à esquerda) e ductos (à direita), com pre- sença de algumas células inflamatórias crô- nicas e tecido acinar; • Os ductos interlobulares e intralobulares se encontram frequentemente dilatados, com proteínas aderidas em seu lúmen e com contração ductal possivelmente evidente; • Uma visualização mais precisa demonstrar uma dilatação ductal com eosinofílicas e so- lidificadas concreções ductais em um indi- víduo com pancreatite crônica por alcoo- lismo. O alcoolismo, ao longo do tempo, provoca uma secreção pancreática rica em proteína, havendo um acúmulo dessas pro- teínas dentro dos ductos e calcificam, impe- dindo a passagem da secreção pancreática, favorecendo a pancreatite; • Concreção: secreção pancreática rica em proteínas que se concentram no ducto, se solidificam e isso dificulta a drenagem do suco pancreático; • Os lóbulos pancreáticos ficam atrofiados porque entre eles há muita fibrose. Manifestações clínicas: • Pode estar associada a ataques repetidos de dores abdominais com intensidade de moderada a grave, ataques recorrentes de dor leve, dores abdominais persistentes e dores nas costas; • Além disso, pode se desenvolver total- mente silenciosa até que haja insuficiência pancreática e diabetes mellitus devido a destruição das ilhotas de Langerhans; • O paciente pode também ter ataques recor- rentes de icterícia ou esporádicos ataques de indigestão desencadeados pelo abuso de ál- cool, por excessos alimentares (por aumen- tar a demanda no pâncreas) e pelo uso de opiáceos e outras drogas que aumentam o tônus do esfíncter de Oddi; • Durante um ataque de dor abdominal, pode haver de leve a moderada elevação nos níveis séricos de amilase. Porém, quando a doença está presente por muito tempo, a destruição das células acinares pode excluir tais pistas diagnósticas; • Perda de peso e edema hipoalbuminêmico de má absorção (o paciente já está com in- suficiência pancreática exócrina, já está de- senvolvendo diabetes). Complicações: • Dentre as complicações da pancreatite crô- nica, tem-se os pseudocistos pancreáticos e a pancreatite hereditária. Esta última predis- põe em 40% o risco de desenvolver câncer pancreático; • O grau em que outras formas de pancrea- tite crônica predispõe ao desenvolvimento de câncer pancreático é incerto.
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