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A infecção do trato urinário (ITU) pode ser definida como a presença de um microrganismo patogênico na urina e, consequentemente, nas estruturas que compõem o aparelho urinário – uretra, bexiga, rim ou na próstata. Esta infecção ocorre tanto indivíduos hospitalizados, quanto naqueles que estão na comunidade, representando o 2º sítio mais comum de infecção na população em geral e importante causa de internação hospitalar EPIDEMIOLOGIA Pela sua abrangência no que tange idade, sexo, doenças associadas e fatores de risco externos (cateterismo vesical, por exemplo), há uma grande diversidade epidemiológica das ITU a depender de cada um destes fatores. No entanto, é mais comum em mulheres devido a menor extensão da uretra feminina e sua proximidade com o ânus o que favorece a ascensão de patógenos pelo aparelho urinário, sobretudo, naquelas com vida sexual ativa, de modo que na vida adulta as mulheres têm 50 vezes mais chance de adquirir ITU do que os homens sendo 30% sintomáticas ao longo da vida. Muito mais comum em mulheres, com exceção de 2 casos: • Neonatos: por alteração anatomia. Nesse caso, sexo masculino tem prevalência. • Acima de 50 anos: homem começa ter mais por causa de doenças na próstata, chegando a igualar a incidência. MULHER: em toda a sua vida, 50 a 80% delas vão desenvolver ITU em algum momento. Como é possível identificar na imagem acima, uma parcela relevante da população pode desenvolver o quadro de bacteriúria assintomática, prevalente em grávidas e, no sexo masculino, mais frequente em idosos, cateterismo vesical. CLASSIFICAÇÃO As ITU são classificadas em diferentes categorias, o que contribui para melhor compreensão do quadro clínico, tratamento a ser oferecido, prognóstico, bem como se é necessário realizar medidas profiláticas. Podem ser classificadas quanto: SÍTIO ANATÔMICO TRATO URINÁRIO BAIXO: cistites e outros (prostatite, epididimite, prostatodínia). TRATO URINÁRIO ALTO: pielonefrites. PROVÁVEL ORIGEM DO PATÓGENO COMUNITÁRIA: patógeno adquirido na comunidade. HOSPITALAR: patógeno adquirido no ambiente hospitalar. PRESENÇA OU NÃO DE COMPLICAÇÃO ITU COMPLICADA: infecção com repercussões sistêmicas que está associada a algumas condições pré-existentes do indivíduo que podem resultar em maior dificuldade no tratamento: anormalidades I N F E C C O E S T R A T O G E N I T U R I N A R I O urológicas subjacentes (nefrolitíase, estenoses, obstruções, etc.), doenças sistêmicas (diabetes mellitus, imunossupressão, insuficiência renal crônica, transplante renal). PRESENÇA OU NÃO DE CATETER ASSOCIADA A CATETER: ocorre em pessoas em uso de cateterismo do trato urinário ou que tenha feito uso de cateter nas últimas 48h, estes pacientes podem apresentar sintomas tanto do trato urinário alto como baixo, podendo haver além disso obstrução do cateter. RECORRÊNCIA DO QUADRO RECORRENTE: aquela que acontece pelo menos 3 vezes ao ano ou 2 episódios nos últimos 6 meses. AGENTES ETIOLÓGICOS De modo geral as ITUs são causadas por bactérias gram-negativas (BGN) originárias da flora intestinal, sendo a Escherichia coli a principal causadora em todas as classificações, sendo os patógenos Klebsiella sp. e Proteus mirabilis os outros mais prevalentes, sendo seguido por microrganismos como Chlamydia trachomatis, Ureaplasma urealyticum, Neisseria gonorrhoeae e herpes vírus. Entretanto, em mulheres com vida sexual ativa, o coco gram positivo Staphylococcus saprophyticus é o segundo patógeno mais prevalente. OBS: No ambiente hospitalar, a prevalência maior é de Pseudomonas sp., Enterococcus e Staphylococcus aureus. VIA DE INFECÇÃO Os patógenos de infecções, na maioria das vezes, acabam acessando as estruturas do aparelho urinário ascendendo pela uretra, chegando até a bexiga e em alguns casos no parênquima renal. Porém em alguns casos, ocorre a infecção pela via hematogênica, quando o sangue contendo bactérias causa a infecção do trato urinário. VIRULÊNCIA DO PATÓGENO além da via de infecção é importante também a virulência do patógeno, além dos fatores predisponentes do hospedeiro. Pacientes que fazem uso de corticoides, quimioterapia ou que possuem patologias que deprimem o sistema imunológico fazem parte do grupo de risco de desenvolvimento de ITU. Em relação a virulência, a mucosa vesical é rica em mucina, substância que visa dificultar a aderência das bactérias na região, porém algumas bactérias têm a capacidade de adesão aumentada, pois conseguem romper essa camada de mucina, aderindo a mucosa do trato urinário. Além disso, as bactérias têm também estruturas que melhoram sua motilidade, como o flagelo, que servem de proteção a fagocitose, como a cápsula, e estruturas que fazer a adesão irreversível a célula epitelial, as fímbrias. FATORES DE RISCO São divididos em três fatores gerais, sendo eles: SEXO FEMININO Por conta da anatomia feminina, em que a uretra é mais próxima ao ânus e mais curta, o sexo feminino é considerado um fator de risco, pois a ascensão das bactérias ocorre de forma facilitada, permitindo que bactérias que estão na região retal, como a E. coli, ascendam facilmente. Além disso, sexo também pode favorecer a entrada das bactérias. O uso de espermicidas por alteração de pH que alteram a flora do introito vaginal, está associado ao aumento das infecções por E. coli. Em relação a gestantes, alguns fatores são predisponentes para ITU, pois ocorre modificação da posição da bexiga, além de um aumento da capacidade vesical por redução do tônus muscular da bexiga, que relaxa o ureter também, causando uma dilatação que facilita a motilidade das bactérias por conta de um favorecimento do refluxo vesicoureteral, que é o retorno da urina da bexiga para os ureteres e em alguns casos para os rins. OBS: Homens tem predisposição a ITU quando ocorre prostatite e obstrução ureteral por hipertrofia prostática. Porém é um fator de risco para homens, quando ocorre atos sexuais de penetração anal sem proteção, favorecendo o desenvolvimento de cistite no sexo masculino. OBSTRUÇÃO DO TRATO URINÁRIA Por interferir no fluxo urinário, pode ocorrer estase da urina, o que favorece a proliferação de bactérias e a distensão vesical. Os fatores que causam essa obstrução podem variar, mas os mais comuns são a estenose uretral, hipertrofia prostática ou litíase e tumores do trato urinário. BEXIGA NEUROGÊNICA Ocorre em pacientes que tem lesão da medula espinhal, esclerose múltipla e diabetes mellitus, onde costumam apresentar uma prevalência maior de ITU por conta da disfunção motora da bexiga, que gera estase urinária. Nesses casos, muitas vezes é necessário o uso de cateter, o que favorece ainda mais a proliferação e infecção de bactérias. DIAGNÓSTICO É feito por meio do exame físico e da anamnese, na maioria das vezes, sem necessidade de ser realizado exames complementares, sendo necessário exames apenas em pacientes que apresentam sinais e sintomas para ITU complicada. Em algumas situações, é necessário realizar o exame de urocultura, pois é ele quem define o diagnóstico de ITU, sendo sempre solicitado com antibiograma para avaliação do perfil de sensibilidade. As situações em que é necessário a solicitação para urocultura são: • Febre • Sintomas a mais de 7 dias • Sintomas sugestivos de vaginite • Dor abdominal, náuseas e vômitos • Hematúria franca em pacientes 50 anos ou mais • Imunossupressão • ITU sintomática recente • Tratamento há 2 semanas sem melhora • Diabete mellitus • Gestação • Internação hospitalar há 2 semanas • Alterações urológicas, doença renal crônica ou litíase renal. OBS: em pacientes que usam cateter vesical, a coleta da urina nunca deve ser feita a partir da bolsa de armazenamento. PACIENTESASSINTOMÁTICOS O diagnóstico só pode ser concluído por meio da microbiologia, sendo necessário a urocultura. Porém o tratamento da bacteriúria assintomática deve ser feito apenas para gestantes, neutropênicos, transplantados de órgãos sólidos ou pré-operatório de cirurgias urológicas ou colocação de próteses, pois em outros casos o corpo consegue se defender de forma adequada, sem a necessidade do uso de drogas biológicas. Além do exame de urocultura, pode ser realizado também uma análise da urina, por meio do sumário de urina/urina tipo 1, em que alguns sinais sugerem infecção, como por exemplo a leucocitúria, nitrito positivo e hematúria. Quando a contagem de leucócitos está maior que 10/mL ocorre a piúria, que é um achado universal para cistite e pielonefrite, sendo, portanto, necessário para diagnóstico. EXAMES DE IMAGEM Devem ser solicitados apenas em ausência de melhora da febre após 72h, ITU recorrente ou quando houver suspeita de complicações, como abscessos. Nesses casos, pode ser utilizado: • Ultrassonografia, que permite visualizar cálculos e cistos, além de abcessos. • Tomografia, que pode auxiliar na visualização de processos patológicos, porém sendo menos usada. TRATAMENTO Em paciente em que ocorra suspeita de ITU por quadro clínico, é preciso iniciar rapidamente o tratamento empírico até que se tenha o resultado da urocultura e do antibiograma. Para realizar esse tratamento empírico é necessário avaliar se o quadro clínico é sugestivo para cistite ou pielonefrite, tendo ou não presença de sonda vesical, que caso presente, deve ser retirada. OBS: Pacientes com pielonefrite que não serão internados, deve se fazer a 1a dose do antibiótico por via endovenosa, ainda no serviço de atendimento. OBS: Em mulheres que possuem sintomas de ITU, é interessante realizar o teste do beta HCG para confirmação de gravidez, pois o tratamento para gestantes é diferente. Para realizar o tratamento, é preciso escolher um antimicrobiano que concentre em via urinária, sendo específico para nefrite ou pielonefrite. MEDIDAS PREVENTIVAS São usadas como profilaxia de ITU, principalmente em pacientes com recorrência de infecção com 3 episódios ou mais por ano. Nesses casos é recomendado que: • Seja feita ingestão oral de fluidos com frequência • Aumentar a frequencia de micções, sendo feita a cada 2 – 3h • Evitar o uso de espermicidas como método anticoncepcional • Uso de creme vaginal com estrogênio para mulheres na menopausa com ITU recorrente Porém, além disso é possível realizar profilaxia medicamentosa após o coito, sendo usado: • SMZ-TMP 200 mg 1 vez ao dia OU 40mg 3 vezes na semana • Nitrofurantoína 50/mg por dia • Cefalexina 250mg/dia Já em gestantes, é possível fazer a profilaxia com: • Uso de nitrofurantoína 50-100 mg ou Cefalexina 250-500mg pós-coito ou antes de dormir A cistite aguda é uma infecção da bexiga, na maioria das vezes causada por bactéria coliforme (em especial Escherichia coli) e, ocasionalmente, por bactérias gram-positivas (enterococos). A via de infecção é caracteristicamente ascendente a partir da uretra. CRIANÇAS: algumas vezes encontra-se cistite viral causada por adenovírus, mas raramente em adultos. SEXO MASCULINO: a cistite é rara e sua presença implica algum processo patológico, como cálculo infectado, prostatite ou retenção urinária crônica, e requer investigação complementar. SINAIS E SINTOMAS Sintomas de irritação urinária (frequência, urgência, disúria) e desconforto supra púbico são queixas comuns. As mulheres podem apresentar hematúria franca e os sintomas com frequência surgem após relação sexual. Ao exame físico, é possível encontrar sensibilidade à palpação da região supra púbica, mas o exame muitas vezes não é conclusivo. Não há toxicidade sistêmica. ACHADOS LABORATORIAIS O EAS revela piúria (presença de dez ou mais células brancas por mm² de amostra de urina) e bacteriúria (bactérias na urina) com graus variáveis de hematúria (sangue na urina). O grau de piúria e de bacteriúria não se correlaciona necessariamente com a intensidade dos sintomas. A urocultura é positiva para o microrganismo causador, mas contagem de colônias acima de 105/mL não é essencial para o diagnóstico. EXAMES DE IMAGEM Considerando que a cistite não complicada é rara no sexo masculino, há indicação de investigação das causas subjacentes com exames apropriados, como ultrassonografia abdominal ou cistoscopia (ou ambas). Nos casos com pielonefrite, infecções recorrentes ou suspeita de anormalidades anatômicas, há indicação para imageamento de acompanhamento com TC. DIAGNÓSTICO • Sintomas de irritação urinária • Paciente geralmente apirético (sem febre) • Urocultura positiva; hemoculturas também podem ser positivas. DIAGNOSTICO DIFERENCIAL Nas mulheres, os processos infecciosos, como vulvovaginite e doença inflamatória pélvica, geralmente podem ser afastados com exame da pelve e EAS. Nos pacientes do sexo masculino, o diagnóstico diferencial com uretrite e prostatite pode ser feito com exame físico (descarga uretral ou dor à palpação da próstata). Entre as causas não infecciosas de sintomas, como a cistite, estão: irradiação da pelve, quimioterapia (ciclofosfamida), carcinoma da bexiga, cistite intersticial, disfunção miccional e distúrbios psicossomáticos. PREVENÇÃO As mulheres que tenham tido mais de três episódios de cistite em um ano são consideradas candidatas à antibioticoterapia profilática para prevenção de recorrência após o tratamento de um episódio de infecção urinária. Antes de iniciar a terapia, deve-se proceder à investigação urológica completa para excluir qualquer anormalidade anatômica (p. ex., cálculo, refluxo, fístula). Os três agentes mais utilizados para profilaxia por via oral são trimetoprima-sulfametoxazol (40 mg/200 mg), nitrofurantoína (100 mg) e cefalexina (250 mg). O esquema recomendado é uma dose única na hora de dormir ou antes de manter relação sexual. O risco de infecção urinária adquirida associada a um cateter em pacientes hospitalizados pode ser reduzido utilizando cateteres de permanência apenas quando necessário, implementando sistemas que assegurem a remoção do cateter quando não for mais necessário, utilizando cateter antimicrobiano nos pacientes de alto risco, utilizando dispositivos coletores externos em pacientes do sexo masculino selecionados, identificando a presença de resíduo pós-miccional significativo com exame ultrassonográfico, utilizando técnica de instalação apropriada e métodos alternativos como cateterização intermitente. TRATAMENTO Em mulheres, a cistite não complicada pode ser tratada com antibioticoterapia em curto prazo, que consiste em tratamento com dose única ou durante 1 a 9 dias. A cefalexina, a nitrofurantoína e as fluoroquinolonas são os fármacos preferenciais para cistite não complicada. A associação trimetoprima-sulfametoxazol talvez tenha perdido a efetividade em razão do surgimento de microrganismos resistentes. Em pacientes masculinos, é rara a infecção urinária não complicada e, portanto, a duração da antibioticoterapia depende da etiologia subjacente. É possível obter alívio sintomático com banhos quentes de assento ou com analgésicos urinários (fenazopiridina, 200 mg por via oral, três vezes ao dia). PROGNÓSTICO As infecções normalmente respondem rapidamente ao tratamento. A ausência de resposta sugere resistência ao fármaco escolhido ou anormalidades anatômicas que implicam em investigação complementar. QUANDO ENCAMINHAR • Suspeita ou evidência radiográfica de anormalidade anatômica. • Evidência de litíase urinária. • Cistite recorrente em razão de bactéria persistente. A pielonefrite aguda é uma doença inflamatóriainfecciosa que envolve o parênquima e a pelve renais. Os agentes causadores mais comuns são bactérias gram-negativas, incluindo E. coli, Proteus, Klebsiella, Enterobacter e Pseudomonas. Bactérias gram-positivas são raramente encontradas e incluem Enterococcus faecalis e Staphylococcus aureus. A infecção costuma ser é ascendente a partir do trato urinário inferior, com exceção do S. aureus, que tem disseminação hematogênica. SINAIS E SINTOMAS Entre os sintomas encontrados estão febre, dor no flanco, calafrios e sintomas de irritação das vias urinárias (urgência, frequência, disúria). É comum que haja náusea, vômitos e diarreia associados. Os sinais incluem febre e taquicardia. Geralmente, há intensa sensibilidade dolorosa no ângulo costovertebral. ACHADOS LABORATORIAIS O hemograma revela leucocitose com desvio à esquerda. O EAS mostra piúria, bacteriúria e graus variáveis de hematúria. É possível encontrar cilindros leucocitários. A urocultura demonstra crescimento significativo do germe causador e a hemocultura pode ser positiva. EXAMES DE IMAGEM Quando a pielonefrite é uma complicação, a ultrassonografia renal pode revelar hidronefrose causada por cálculo ou outra fonte de obstrução. DIAGNÓSTICO • Febre • Dor no flanco • Sintomas de irritação urinária • Urocultura positiva DIAGNOSTICO DIFERENCIAL Doenças intra-abdominais agudas, como apendicite, colecistite, pancreatite ou diverticulite devem fazer parte do diagnóstico diferencial da pielonefrite. Nos distúrbios gastrintestinais, o exame de urina geralmente é normal; contudo, ocasionalmente a inflamação intestinal adjacente (apendicite ou diverticulite) pode resultar em hematúria ou piúria estéril. Alteração nas provas de função hepática ou elevação da amilase ajudam na diferenciação. A possibilidade de pneumonia de lobo inferior é afastada por radiografia de tórax normal. Nos pacientes masculinos, o diagnóstico diferencial para pielonefrite aguda deve incluir epididimite aguda, prostatite aguda e cistite aguda. O exame físico e a localização da dor devem permitir a distinção. COMPLICAÇÕES Na pielonefrite aguda, é possível haver sepse com choque. Nos pacientes diabéticos, a pielonefrite enfisematosa causada por microrganismos produtores de gás representa ameaça à vida se não for adequadamente tratada. Adultos saudáveis em geral recuperam a função renal, mas se houver doença renal concomitante, é possível haver evolução com fibrose cicatricial renal ou pielonefrite crônica. O tratamento inadequado pode resultar em formação de abscesso. TRATAMENTO Devem ser colhidas amostras de urina e de sangue para cultura, a fim de identificar o agente causador e determinar a sensibilidade aos antibióticos. Antes de serem obtidos os resultados do antibiograma nos pacientes internados, inicia-se o tratamento intravenoso com ampicilina e um aminoglicosídeo. Em ambiente ambulatorial, pode-se iniciar o tratamento com uma quinolona. A antibioticoterapia é ajustada conforme os testes de sensibilidade. A febre pode persistir por até 72 horas; a ausência de resposta determina imageamento (TC ou ultrassonografia) para excluir fatores complicadores que impliquem intervenção. Quando houver retenção urinária, é possível que se tenha que proceder à drenagem por cateter ou drenagem por nefrostomia, se houver obstrução ureteral. Nos pacientes internados, mantém-se antibioticoterapia intravenosa por mais 24 horas após a resolução da febre, prosseguindo-se com antibióticos por via oral até completar 14 dias de tratamento. O controle de cura com urocultura é obrigatório. PROGNÓSTICO Com diagnóstico rápido e tratamento apropriado, a pielonefrite aguda é uma doença com bom prognóstico. Fatores complicadores, doença renal subjacente e idade crescente podem levar a resultados menos favoráveis. QUANDO EMCAMINHAR • Evidência de fatores complicadores (urolitíase, obstrução). • Ausência de melhora clínica em 48 horas. QUANDO INTERNAR • Infecções graves ou fatores complicadores, evidências de sepse e necessidade de antibioticoterapia parenteral. • Necessidade de imageamento radiográfico ou de drenagem em razão de obstrução do trato urinário. A prostatite bacteriana aguda geralmente é causada por bastonetes gram-negativos, em particular E. coli e espécies de Pseudomonas e, mais raramente, por microrganismos gram- positivos (p. ex., enterococos). As vias mais comuns de infecção são a ascendente até a uretra e o refluxo de urina infectada pelos ductos prostáticos. As vias linfática e hematogênica provavelmente são raras. SINAIS E SINTOMAS Dor perineal, sacra ou suprapúbica, febre e sintomas de irritação urinária são as queixas mais comuns. Podem ocorrer graus variáveis de sintomas obstrutivos à medida que a próstata inflamada aumenta de volume, o que chega a provocar retenção urinária. Ao exame, observa-se febre alta e próstata muito dolorosa à palpação. Deve-se ter o cuidado de realizar toque retal suave, uma vez que a manipulação muito vigorosa pode causar septicemia. A massagem prostática está contraindicada. ACHADOS LABORATORIAIS O hemograma mostra leucocitose e desvio à esquerda. O EAS revela piúria, bacteriúria e graus variáveis de hematúria. A urocultura revelará o agente patogênico. DIAGNÓTICO • Febre • Sintomas de irritação urinária • Dor perineal ou suprapúbica; é comum que haja sensibilidade extrema ao toque retal • Urocultura positiva DIAGNÓTICO DIFERENCIAL O diagnóstico diferencial com pielonefrite aguda e com epididimite aguda é feito pela localização da dor, assim como pelo exame físico. Ocasionalmente, pode haver confusão com diverticulite; entretanto, a história clínica e o EAS permitem a diferenciação. A retenção urinária causada por aumento benigno ou maligno da próstata é distinguível pelo toque retal inicial ou de seguimento. TRATAMENTO Talvez haja a necessidade de hospitalização com antibioticoterapia parenteral (ampicilina e aminoglicosídeo) até que se tenha o resultado do antibiograma. Após apirexia (sem febre) por 24-48 horas, utiliza-se antibioticoterapia por via oral (p. ex., quinolonas) até que se completem 4 a 6 semanas de tratamento. Se o paciente evoluir com retenção urinária, a cateterização uretral ou a instrumentação estão contraindicadas, sendo necessária punção suprapúbica. Após o tratamento, deve-se solicitar urocultura e exame das secreções prostáticas para confirmar a erradicação. PROGNOSTICO Com tratamento efetivo, a prostatite bacteriana crônica é rara. QUANDO ENCAMINHAR • Evidência de retenção urinária • Evidência de prostatite crônica QUANDO ENCAMINHAR • Sinais de sepse • Necessidade de drenagem cirúrgica de abcesso vesical ou prostático. Embora a prostatite bacteriana crônica possa ser uma evolução da prostatite bacteriana aguda, em muitos pacientes não há antecedente de infecção aguda. Os agentes etiológicos mais comuns são os bastonetes gram-negativos, e apenas um microrganismo gram-positivo (Enterococcus) foi associado à infecção crônica. As vias de infecção são as mesmas descritas para a infecção aguda. SINAIS E SINTOMAS As manifestações clínicas são variáveis. Alguns pacientes são assintomáticos, mas a maioria apresenta sintomas variáveis de irritação urinária. Dor lombar e perineal não são raras. Muitos pacientes relatam história de infecção urinária. O exame físico com frequência não apresenta nada de notável, embora, ao toque, a próstata possa estar normal, pastosa ou endurecida. ACHADOS LABORATORIAIS O EAS deve estar normal, a não ser que haja cistite secundária. A secreção obtida com expressão da próstata revela aumento no número de leucócitos (≥ 10 por campo de grande aumento), em particular macrófagos repletos de lipídeos.Contudo, esses achados são consistentes com o processo inflamatório e não são diagnósticos de prostatite bacteriana. As contagens de leucócitos e bactérias na secreção prostática não se correlacionam diretamente com a intensidade dos sintomas. Para firmar o diagnóstico, há necessidade de cultura positiva da secreção ou da amostra de urina obtida após massagem da próstata. EXAMES DE IMAGEM Não há necessidade de realizar exames de imagem, embora a radiografia da pelve e a ultrassonografia transretal possam demonstrar a presença de cálculos prostáticos. DIAGNÓSTICO • Sintomas de irritação urinária • Desconforto perineal ou suprapúbico, frequentemente vago e mal localizado • Presença de secreção à expressão da próstata com cultura positiva. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL A uretrite crônica pode ser confundida com prostatite crônica, embora as culturas de amostras fracionadas de urina possam localizar a origem da infecção, sendo que a cultura positiva do jato inicial indica origem uretral. A cistite pode ser secundária à prostatite, mas amostras de urina colhidas após a massagem da próstata relacionam a infecção à glândula. Uma doença anal pode ter alguns sintomas em comum com a prostatite, mas o exame físico deve permitir realizar o diagnóstico diferencial. TRATAMENTO Poucos agentes antimicrobianos atingem níveis terapêuticos dentro da próstata na ausência de inflamação aguda. A trimetoprima concentra-se bem na próstata e sua associação ao sulfametoxazol está relacionada com as melhores taxas de cura. Porém, há resistência crescente em até 20% dos casos. Outros agentes efetivos são quinolonas, cefalexina, eritromicina e carbenicilina. A duração ideal do tratamento continua sendo motivo de controvérsia, variando entre 6 e 12 semanas. Pode-se obter alívio sintomático com agentes anti-inflamatórios (indometacina, ibuprofeno) e banhos de assento em água quente. PROGNÓSTICO A prostatite bacteriana crônica é difícil de ser curada, mas seus sintomas e a tendência a causar infecções recorrentes das vias urinárias podem ser controlados com antibioticoterapia supressiva. QUANDO ENCAMINHAR • Sintomas persistentes • Possibilidade de inclusão em ensaios clínicos A prostatite não bacteriana é a mais comum das síndromes de prostatite e sua causa é desconhecida. Há especulações relacionando-a com clamídia, micoplasmas, ureaplasmas e vírus, mas sem provas substantivas. Em alguns casos, a prostatite não bacteriana pode ser um distúrbio inflamatório não infeccioso ou autoimune. Considerando que sua causa permanece desconhecida, o diagnóstico é feito por exclusão. SINAIS E SINTOMAS A apresentação clínica é idêntica àquela da prostatite bacteriana crônica; contudo, não há história clínica de infecção do trato urinário. ACHADOS LABORATORIAIS Observa-se aumento do número de leucócitos na secreção obtida com expressão da próstata, mas as culturas são negativas. DIAGNOSTICO • Sintomas de irritação urinária • Desconforto perineal ou suprapúbico semelhante ao observado nos casos com prostatite bacteriana crônica • Presença de secreção à expressão da próstata, porém com cultura negativa. DIAGNOSTICO DIFERENCIAL O diagnóstico diferencial tem que ser feito principalmente com prostatite bacteriana crônica. A distinção é feita pelas ausências de história de infecção urinária e de culturas positivas. Nos pacientes do sexo masculino e de idade avançada que se apresentem com sintomas de irritação urinária e culturas negativas, a possibilidade de câncer de bexiga deve ser investigada. Há indicação para citologia urinária e cistoscopia. TRATAMENTO Considerando a incerteza quanto à etiologia da prostatite não bacteriana, há indicação para a prova terapêutica, usando antimicrobianos direcionados a Ureaplasma, Micoplasma e Chlamydia. Pode-se prescrever eritromicina (250 mg por via oral, quatro vezes ao dia), inicialmente durante 14 dias, podendo ser mantida por 3 a 6 semanas, caso se observe resposta clínica favorável. Pode-se obter algum alívio de sintomas com agentes anti-inflamatórios e banhos de assento. Não há necessidade de indicar dieta restritiva, a não ser que o paciente manifeste piora dos sintomas com o consumo de algumas substâncias como bebidas alcoólicas, cafeína e alguns alimentos. PROGNÓSTICO É comum que os sintomas sejam recorrentes e desconfortáveis, mas não foram identificadas sequelas graves. A prostatodínia é um distúrbio não inflamatório que afeta homens jovens e de meia-idade, com causas variáveis, incluindo disfunção miccional e da musculatura do soalho pélvico. O termo “prostatodínia” é equivocado, uma vez que a próstata não se encontra alterada. SINAIS E SINTOMAS Os sintomas são os mesmos observados nos pacientes com prostatite crônica, mas não há história clínica de infecção urinária. Entre os possíveis sintomas adicionais estão hesitância e interrupção do fluxo miccional. Os pacientes podem relatar história de dificuldades miccionais ao longo de toda a vida. O exame físico não apresenta alterações dignas de nota, mas podem ser observados aumento do tônus do esfincter anal e sensibilidade dolorosa periprostática. ACHADOS LABORATORIAIS O EAS é normal. A secreção obtida com expressão da próstata revela contagem normal de leucócitos. O exame de urodinâmica pode mostrar sinais de disfunção miccional (contração do detrusor sem relaxamento uretral, aumento da pressão uretral, espasmo do esfíncter urinário) e está indicado nos pacientes que não respondam ao tratamento empírico com α-bloqueadores ou anticolinérgicos. DIAGNOSTICO DIFERENCIAL O exame de urina normal faz a distinção com os processos infecciosos agudos. O exame da secreção obtida, com expressão da próstata, faz o diagnóstico diferencial com as síndromes de prostatite. TRATAMENTO Os espasmos no colo vesical e uretrais podem ser tratados com agentes α-bloqueadores (terazosina, 1-10 mg por via oral, uma vez ao dia, ou doxazosina, 1-8 mg por via oral, uma vez ao dia). A disfunção da musculatura do soalho pélvico talvez responda ao tratamento com diazepam e com técnicas de biofeedback. Banhos de assento podem contribuir para o alívio dos sintomas. PROGNÓSTICO O prognóstico é variável, dependendo da causa específica. Em sua maioria, os casos de epididimite aguda têm causa infecciosa e podem ser divididos em duas categorias com distribuição por faixa etária e agentes etiológicos distintos. As formas sexualmente transmissíveis ocorrem caracteristicamente em homens ≤ 40 anos de idade, estão associadas à uretrite e são causadas por Chlamydia trachomatis ou Neisseria gonorrhoeae. As formas de transmissão não sexual ocorrem caracteristicamente em homens mais velhos, estão associadas a infecções do trato urinário e prostatite e são causadas por bastonetes gram- negativos. A via de infecção provavelmente vai da uretra ao ducto ejaculatório, descendo até os ductos deferentes e ao epidídimo. A amiodarona foi associada à epididimite autolimitada, um fenômeno dose dependente. SINAIS E SINTOMAS Os sintomas podem ocorrer após esforço físico (levantar peso), traumatismo ou atividade sexual. É possível haver sintomas de uretrite associados (dor na ponta do pênis e descarga uretral) ou cistite (sintomas de irritação urinária). É possível a evolução com dor escrotal que pode se irradiar ao longo dos cordões espermáticos ou para o flanco. Geralmente há febre e edema escrotal. No início da evolução, é possível identificar o epidídimo nos testículos; entretanto, mais tarde ambos podem aparecer como uma massa única dolorosa à palpação. A próstata talvez esteja dolorida ao toque retal. ACHADOS LABORATORIAIS O hemograma mostra leucocitose e desvio à esquerda.Na variedade sexualmente transmissível, a coloração pelo Gram do esfregaço da secreção uretral pode ser diagnóstica para diplococos gram- negativos intracelulares (N. gonorrhoeae). A presença de leucócitos sem microrganismos visíveis no esfregaço uretral indica uretrite não gonocócica e o patógeno mais provável é C. trachomatis. Na variedade não transmissível sexualmente, o EAS mostra piúria, bacteriúria e graus variáveis de hematúria. A urocultura demonstra o patógeno responsável. EXAMES DE IMAGEM A ultrassonografia escrotal pode ajudar no diagnóstico, caso o exame esteja sendo dificultado pela presença de hidrocele ou quando há dúvida sobre o diagnóstico. DIAGNÓSTICO • Febre • Sintomas de irritação urinária • Aumento doloroso do epidídimo DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Os tumores geralmente causam aumento indolor dos testículos. O EAS é negativo e o exame físico revela epidídimo normal. A ultrassonografia escrotal ajuda a definir a patologia. A torção testicular costuma ocorrer em pacientes pré-púberes, mas ocasionalmente é vista em adultos jovens. A instalação súbita de sintomas com exame de urina negativo favorece o diagnóstico de torção testicular ou de torção de um dos apêndices do testículo ou do epidídimo. O sinal de Prehn (a elevação do escroto acima da sínfise pubiana produz aumento da dor de origem no epidídimo) pode ser útil, mas não é confiável. TRATAMENTO Repouso no leito e elevação do saco escrotal são importantes na fase aguda. O tratamento deve ser direcionado contra o patógeno identificado. A variedade sexualmente transmissível deve ser tratada com antibióticos por 10-21 dias, e o parceiro sexual também deve ser tratado. As formas não transmissíveis sexualmente são tratadas por 21-28 dias com antibióticos apropriados e, ao final do tratamento, há indicação para investigação do trato urinário, a fim de identificar qualquer doença subjacente. PROGNÓSTICO O tratamento imediato geralmente resulta em resultados favoráveis. O tratamento tardio ou inadequado pode resultar em epidídimo-orquite, redução da fertilidade ou formação de abscesso. QUANDO ENCAMINHAR • Sintomas e infecção persistentes, a despeito da antibioticoterapia. • Sinais de sepse ou de formação de abcesso.
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