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Sâmia Cidreira Sufi Objetivos: 1. Revisar a morfofisiologia das vias urinárias 2. Compreender epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, fatores de risco, manifestações clínicas, complicações, diagnóstico e tratamento da infecção urinaria Infecção urinária ➞ Termo genérico que diz que alguma área do TU está infectada, que pode ser de etiologia bacteriana, viral ou fúngica. ITU BAIXA ➞ Acomete da uretra, próstata, testículo e bexiga. ➞ Infecções da bexiga (cistite, uretrite, prostatite e epididimite – todos abaixo do ureter); Cistite Significa literalmente inflamação da bexiga, mas esse termo é utilizado para definir um diagnóstico sindrômico – todos os indivíduos que desenvolvem sintomas típicos de disúria e polaciúria. ITU ALTA ➞ Infecção do parênquima renal, cálices ou ureteres. ➞ É denominada pielonefrite aguda. EPIDEMIOLOGIA ➞ Acomete 40% das mulheres de 12% dos homens durante a vida. ➞ 25% das mulheres afetas sofrerão recorrência. ➞ Até os 24 anos, 1 a cada 3 mulheres vão necessitar de antimicrobianos para o tratamento. FISIOPATOLOGIA ➞ 4 possíveis vias para atingir o TU: 1. Via ascendente: ⇾ Principal via de infecção. ⇾ A pele em volta do meato uretral é colonizada por diversas bactérias comensais. ⇾ Enterobactérias Gram-negativas quando estão presentes causam a maioria das ITU, uma vez que predispõem a perda da flora normal, abrindo espaço para microrganismos do intestino. ITU BAIXA CISTITE Infecção na mucosa da bexiga; na maioria das vezes causada por enterobactérias; manifestando-se como disúria e polaciúria. URETRITE Infecção da uretra causada por germes sexualmente transmissíveis. PROSTATITE e EPIDIMITE Os agentes infecciosos refluem dos ductos urinários e ejaculatórios. ITU ALTA PIELONEFRITE AGUDA Inflamação do parênquima renal; é uma forma de nefrite intersticial aguda; invasão tecidual de leucócitos polimorfonucleares. APG 15 “Pedindo ajuda as fluoroquinolonas” Sâmia Cidreira Sufi PIELONEFRITE CRONICA Nefrite intersticial crônica – associado a fibrose e à atrofia do parênquima. Colonização do períneo » introito vaginal (prepúcio nos homens) » uretra distal » ascensão bexiga. ⇾ É comum durante o sexo para as mulheres, uma vez que ocorre “massagem uretral” e sua uretra tem menor comprimento. ⇾ Sexo anal ativo é um fator de risco para a colonização uretral em homens. OBS.: Apenas as bactérias com capacidade de adesão conseguem “subir” por conta própria até os rins, mas qualquer bactéria pode atingir os rins quando ocorre o refluxo de vesicureteral. 2. Via hematogênica ⇾ O parênquima renal pode ser invadido durante a bacteremia (não é comum). Corrente sanguínea » rins. 3. Via linfática ⇾ Evidências experimentais demonstraram conexões linfáticas entre os ureteres e os rins; fazendo com que o fluxo de linfa se dirija à pelve renal na vigência de aumento na pressão intravesical. 4. Fístula vesicoenteral ⇾ Bacteriúria por germes anaeróbios – sugerem uma conexão entre o TU e o TGI (pacientes com TU reconstruído. Com segmentos intestinais). DETERMINANTES DA INFECCÇÃO ➞ Fatores que favorecem o crescimento de bactérias: • Uso de antibióticos; • Atrofia do epitélio vaginal pós-menopausa; • Uso de espermicidas (principalmente no diafragma). ➞ Esses fatores contribuem para redução do nº de lactobacilos produtores de H2O2 – facilita a adesão das enterobactérias. (E. coli uropatogênica). 1. Adesão bacteriana e sangue tipo “P” – As E. coli. e os Proteus uropatogênicos possuem fimbrias que se aderem a mucosa urinaria. ⇾ Os indivíduos que não pertencem a esse grupo sanguíneo têm menos chance de desenvolver pielonefrite. 2. Presença de corpos estranhos – algumas bactérias são capazes de secretar o biofilme (camada de polissacarídeos que reveste corpos estanhos). ⇾ O cateter vesical de demora e os cálculos são os principais exemplos de corpo estranho. 3. Gravidez – alterações fisiológicas – redução do tônus e da peristalse na musculatura lisa urinária (hidronefrose fisiológica), compressão da bexiga pelo útero aumentado e dextroversão uterina. (+ hidronefrose a direita) – pior para o feto do que para a mãe (chances de prematuridade). 4. Tamanho do inóculo – importante nas infecções hematogênicas – necessária uma grande quantidade de bactérias para iniciar o quadro. ETIOLOGIA ➞ Condicionada a presença ou ausência de certos dados clínicos. ITU esporádica não complicada; SEM história de cálculo, alteração anatomofuncional ou manipulação urológica E. coli -85% dos casos; Staphylococcus saprophyticus – 15% (mulheres sexualmente ativas); Klebsiella, Proteus e Enterobacter (menos comuns) ITU complicada COM alteração anatomofuncional, cálculo ou manipulação urológica Enterococcus, Pseudomonas e Serratia; além de outros Gram- negaticos. Sâmia Cidreira Sufi ITU nosocomial Acinetobacter e Stenotrophomonas maltophilia. OBS.: E. coli – resistente a antibióticos (nessa condição) Fungos (ex.: Candida spp) – impostantes em pacientes diabéticos e que estão em uso de antibióticos de amplo espectro. Cateterismo vesical contínuo por mais de 30 dias – maior chance de infecção polimicrobiana. SITUACÇÕES COMUNS 1. Bacteriúria em crianças ⇾ 1-2% é acometida pela ITU; ⇾ Comum em meninos nos primeiros 12 meses – elevada incidência da válvula da uretra posterior – anomalia congênita do sexo masculino. ⇾ A partir disso começa a predominar em meninas. 2. Bacteriúria em adultos ⇾ O início da atividade sexual promove aumento de incidência em mulheres até os 60 anos. ⇾ 25% evolui para resolução do quadro. ⇾ Maior fator de risco – INFECCAO URINARIA PREVIA. ⇾ Em homens a prevalência e de 0,1% aumentando com a idade (doença prostática e manipulação do TU). ⇾ A ocorrência de ITU em homens se relaciona com a presença de anormalidades anatomofuncionais (complicada). 3. Bacteriúria em idosos ⇾ Com o avançar da idade a diferença entre homens e mulheres se reduz. FATORES IMPLICADORES • Homem – doença prostática, com perda da atividade bactericida de suas secreções e obstrução do TU e disfunção vesicular associada. • Mulher – esvaziamento incompleto da bexiga colonização do epitélio vaginal atrófico. 4. Bacteriúria hospitalar ⇾ Causa frequente de infecção nosocomial, pouca morbidade. ⇾ A gravidade da doença e cateterismo vesical são fatores que elevam a frequência de ITU no hospital. ⇾ No BRASIL há uma aplicação exagerada desse procedimento – frequência em torno de 20% maior que os EUA (geralmente usado para medida higiênica). (não pode!) 5. Bacteriúria em outras situações ⇾ Gestantes em níveis sociais mais baixos – maiores chances. ⇾ Receptor de transplante renal – 80% dos pacientes. ⇾ Portadores da síndrome de imunodeficiência adquirida – incidência aumentada e tende a ser mais grave. Sâmia Cidreira Sufi FATORES DE RISCO • Sexo feminino • Anormalidade congênita • Obstrução urinaria • História previa de infecção • DM • Incontinência urinária • Intercurso sexual • Uso de diafragma • Cirurgia urogenital • Cateteres vesicais ou uretrais • Uso prévio de antimicrobiano e deficiência de estrógeno. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Disúria • Desconforto abdominal • Febre alta e queda do estado geral é infecção urinaria alta • Maior dificuldade são pessoas que não conseguem relatar sintomas, como crianças e pessoas de coma. Além de idosos que não manifestam febre ITU BAIXA CISTITE AGUDA • Disúria associada a polaciúria • Dor suprapúbica em alguns casos (associado a infecção de bexiga) • Cistite aguda evoluir para hematúria • Normalmente se instala em <24 horas OBS.: Dor abdominal mais importante nos homens e sintomas obstrutivos• Exame físico: dor a palpação no hipogástrio. • Diagnostico diferencial: vaginite URETRITE • Acomete poucas mulheres • Disúria e polaciúria • Duração longa dos sintomas (>7 dias) • Investigar presença de fatores de risco pra DST OBS.: Em homens a uretrite vai ter disúria e corrimento uretral, geralmente ausente em mulheres PROSTATITE • 50% apresentam, mas apenas 5% bacteriana • Dividida em 3: 1- Prostatite bacteriana aguda → Geralmente dramático, febre alta e calafrios, irritação e obstrução urinaria intensa. O → Toque retal extremamente cuidadoso → Próstata sensível, aumentada e tensa → Pode haver abscesso na área de flutuação OBS.: Massagem prostática pode desencadear bacteremia e sepse grave. 2- Prostatite bacteriana crônica → Semelhante a aguda, mas menos intenso → Homens mais velhos com quadro de infecção urinaria recorrente 3- Síndrome da dor pélvica crônica → Dor perineal que pode irradiar para região lombar e hipogástrica → Disuria e polaciúria → Dor durante ejaculação .1 Inflamatória (prostatite crônica não bacteriana) – presença de leucócitos nas secreções prostáticas .2 Não inflamatória (prostatodinia) – ausência de leucócitos no material prostática, dor neuropática, mialgia tensional de origem psicogênica EPIDIDIMITE • Dor e edema no epidídimo e testículo • Pode ter uretrite associada • Testiculo do lado afetado encontra-se aumentado • Dor melhora com elevação testicular – sinal de Prehn ITU ALTA PIELONEFRITE • Infecção renal aguda Sâmia Cidreira Sufi • Tríade: febre alta, calafrios e dor lombar • Geralmente pacientes toxêmicos, com queda do estado geral e sintomas inespecíficos (cefaleia, náuseas, vômitos e diarreia) • A dor é causada pela distensão da capsula renal e ela pode irradiar para o abdome e dificultar o diagnóstico. • Irradiação para virilha = sugere obstrução ureteral (nefrolitíase) • 30% desenvolvem itu baixa contaminante • Alguns pacientes podem desenvolver oligosintomática (infrequente) – normalmente idosos, diabéticos, urêmicos e imunodeprimidos • Exame Físico – Sinal de Giordano – dor a percussão da região lombar; IMPORTANTE PALPAR ESSA REGIAO ANTES DE PERCUTI-LA. ⇾ Não fazer a punho percussão se a palpação tiver dolorida. • Se a febre persistir após 3 dias de antibioticoterapia, suspeitas de abcesso intraparenquimatosos ou perinefréticos • Quando não tratados corretamente a pielonefrite pode evoluir para sepse ITU EM CRIANÇAS ➞ Neonatos e lactentes não apresentam sinais clássicos. ➞ Observa-se déficit de ganho ponderal, irritabilidade, anorexia, vômitos, diarreia, icterícia, convulsão, letargia. Pode ter hipo ou hipertermia e urina fedida. ➞ Pré escolares e escolares sintomas parecidos com o de adulto. DIAGNÓSTICO Exames inespecíficos • PCR e leucograma só se alteram na pielonefrite • Exame de urina faz parte do diagnostico, mas não deve ser feito de maneira isolada Teste de nitrito ⇾ Dado importante, se tiver a presença das bactérias gram negativas entéricas, ocorre o aumento do nitrito uma vez que ela possui a enzima nitrito-redutase. Confirmação diagnóstica Urinocultura quantitativa ⇾ Padrão ouro; ⇾ A urocultura do aspirado suprapúbico (necessário em crianças pequenas) ⇾ Existe a possibilidade de contaminação dos comensais que participam da flora periuretral >> Para diferenciar deve-se quantificar o nº de unidades por ml de urina. • Transporte e armazenamento – deve ser levada até 1h da coleta. • Bacteriúria assintomática – Depende da contagem bactecteriana. ITU SINTOMÁTICA DIAGNOSTICO DE ITU BAIXA ⇾ No caso de mulheres hígidas, o diagnóstico pode ser feito apenas pela clínica; e, em seguida, deve-se iniciar um tratamento empírico. ⇾ Em pacientes do sexo masculino, com sintomas cistite, obrigatória urocultura. ⇾ Caso o tratamento empírico não resolva, deve-se realizar uma urocultura e avaliar: 1. Bactéria resistente ao antibiótico 2. “Cistite” se deve a uretrite (apesar de ambas se caracterizarem por resposta rápida a terapia, são causadas por germes diferentes). DIAGNOSTICO DE ITU ALTA ⇾ Paciente com suspeita de pielonefrite deve ter seu diagnostico confirmado SEMPRE pela urocultura. Bacterioscopia Sâmia Cidreira Sufi ⇾ O “Gram de urina” pode ser útil no diagnóstico e na orientação terapêutica, uma vez que tem sensibilidade e especificidade de 90%. ⇾ Resultado rápido, fácil e o resultado pode modificar na terapia. COMPLICACOES TRATAMENTO ➞ Iniciar tratamento empírico até resultado da urocultura e antibiograma ➞ Analisar o estado geral do paciente e se o quadro é mais sugestivo de cistite ou pielonefrite, além da presença de sonda vesical ➞ Paciente que não foi indicado internamento, deve receber a primeira dose de antibiótico endovenoso ainda no serviço de emergência ➞ É preciso escolher um antimicrobiano que concentre bem em via urinaria. ➞ Importante saber o perfil de resistência ao sulfametoxazol + trimetropim (SMX-TMP), pois apresenta em alguns locais alta resistência bacteriana ➞ Se a mulher apresentar sintomas de ITU, deve realizar BETA HCG (tratamento pra gestantes é diferente) Paciente com uso de cateter ⇾ Para paciente com uso de cateter, deve ser retirado antes do início do tratamento e avaliar se tem persistência de bacteriúria após 48 horas (se houver, o tratamento deve ser iniciado com duração de 10 – 14 dias com base na urocultura) ⇾ Se a infecção NÃO FOR POR GRAM-POSITIVO pode ser feito com Ceftriaxone 2g dia ou Ciprofloxacina 400 mg endovenoso 10/10h ⇾ Suspeita de Pseudomonas utilizar Ceftadizina 2g 8/8h ⇾ Suspeita de Enterococus – Vancomicina ⇾ Caso não seja possível retirar a sonda, o tratamento deve ser iniciado imediatamente – de forma empírica. PREVENÇÃO Mulheres com ITU recorrente • Ingestão de fluidos • Aumentar a frequência de micção a cada 2- 3h • Evitar o uso de espermicida como anticoncepcional Profilaxia medicamentosa - Em gestantes, pós- coito e geral. 1. MEDCURSO – Infectologia, v.03. 2. SANAR – Infecções urinárias. 3. Salomão, Reinaldo Infectologia: Bases clínicas e tratamento / Reinaldo Salomão - 1. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. Sâmia Cidreira Sufi
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