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AMANDA FARIA 5 º PERÍODO Diagnóstico da gravidez VISÃO GERAL O diagnóstico precoce da gravidez é importante para que a gestante tenha as recomendações necessárias e inicie seu pré-natal o quanto antes, a fim de prevenir e detectar certas doenças para que a mãe e o feto possam ter um desenvolvimento saudável durante a gestação. O diagnóstico da gravidez pode ser clínico, hormonal ou ultrassonográfico. O acesso ao profissional de saúde à tecnologia adequada para a detecção precoce da gravidez possibilita: 1. Início do pré-natal em tempo oportuno; 2. Identificação de uso de anticoncepção de emergência: relação desprotegia em até 5 dias e ocorrência de violência sexual; 3. Orientação para planejamento reprodutivo; 4. Identificação, acolhimento e atendimento a mulheres em situação de gravidez indesejada e violência sexual; 5. Detecção de situações de risco para gravidez indesejada; 6. Orientação para mulheres e casais com dificuldades conceptivas; 7. Identificação de situações de exposição ao risco de infecções por DSTs, com oferta de teste rápido. DIAGNÓSTICO CLÍNICO Em relação ao diagnóstico clínico, ele é feito de acordo com os sintomas da gravidez. Uma suspeita de gravidez deve ser feita quando uma mulher em idade reprodutiva tem um atraso menstrual principalmente maior que uma semana, sendo essa suspeita mais forte quando a mulher apresenta ciclos regulares com prática de relação desprotegida. O atraso na menstruação pode ser difícil de avaliar, pois muitas mulheres possuem ciclos irregulares e durante o início da gravidez pode haver um sangramento de pequena monta, o que pode ser confundido com a menstruação. Didaticamente, os sintomas vistos na prática clínica relacionados a gravidez são divididos em: 1. Sinais de presunção; 2. Sinais de probabilidade; 3. Sinais de certeza. SINAIS DE PRESUNÇÃO Os sinais de presunção aparecem cerca de 4 a 6 semanas de gestação, sendo eles basicamente: AMENORREIA (4 semanas) A amenorreia é o sinal mais precoce. A ausência de menstruação pressupõe gravidez principalmente em mulheres jovens, com ciclos regulares e vida sexual ativa. Amenorreia de 10 a 14 dias. NÁUSEAS (5 semanas) As náuseas ocorrem em mais de 50% das mulheres durante o 1º trimestre da gravidez. Essas náuseas geralmente são matutinas, tendo como consequência o vômito e anorexia. Por outro lado, algumas mulheres podem apresentar maior apetite, podendo ter a perversão (pica ou malacia) ou extravagância alimentar. CONGESTÃO MAMÁRIA (5 semanas) A congestão mamária é um outro sintoma que corrobora para tal diagnóstico, as modificações mamárias são vistas por mamas congestas e doloridas. Na 8ª semana, normalmente aparece o sinal de Hunter, que é caracterizado pela hiperpigmentação da aréola primária e aparecimento da aréola secundária com limites imprecisos. Além disso, ainda na 8ª semana, há o surgimento dos tubérculos de Montgomery, que são glândulas sebáceas hipertrofiadas nas aréolas. AMANDA FARIA 5 º PERÍODO Na 16ª semana, é produzida uma secreção amarela (colostro), podendo ser obtida pela expressão mamária. Além disso, o aumento da vascularização venosa é comum, sendo essa chamada de rede de Haller. Em torno de 20ª semana, surge a aréola secundária, que aumenta a pigmentação em volta do mamilo. POLACIÚRIA (6 semanas) A polaciúria é o aumento da frequência de micção. No segundo e no terceiro mês de gestação, o útero aumenta de volume e apresenta anteflexão acentuada, o que gera uma compressão na bexiga. Essa compressão causa uma micção frequente, com emissão de quantidade reduzida de urina. A polaciúria geralmente cessa no segundo trimestre, porém retorna nas duas últimas semanas, ao se insinuar a apresentação fetal. o Por que a polaciúria some no segundo trimestre? ALTERAÇÕES CUTÂNEAS Pode se ter o aparecimento de cloasma gravídico ou máscara gravídica, que são manchas provocadas pelo aumento da produção de melanina circundando parte da testa, ao redor do nariz, bochecha e lábio superior. É visto também o Sinal de Halban, que é o aumento da lanugem nos limites do couro cabeludo. Além disso, pode ser percebido o aparecimento da linha nigra, isto é, aumento da concentração de melanina na linha alba. o Por que há um aumento de produção de melanina na gravidez? FADIGA E SONOLÊNCIA A fadiga e sonolência também é comum e pode ser outro sintoma associado a gravidez, devido à vasodilatação. No entanto, essa sintomatologia cursa com outras doenças. ALTERAÇÕES DO MUCO CERVICAL Há também alteração no muco cervical durante a gravidez, geralmente ele torna-se viscoso, mais espesso e não se cristaliza. SINAIS DE PROBABILIDADE Os sinais de probabilidade aparecem entre 6 a 16 semanas. AMENORREIA (6 semanas) Amenorreia após 10 a 14 dias de atraso menstrual, o que pode indicar a gravidez, mas não são em todos os casos, uma vez que esse sintoma acontece em outras circunstâncias fisiológicas e patológicas. Embora seja mais escassa, a perda sanguínea semelhante à menstruação não exclui gravidez, pois isso pode ocorrer nos primeiros meses (hemorragia de implantação ovular). AUMENTO DO VOLUME UTERINO (6 semanas) Durante o exame do toque, algumas alterações vistas no útero podem indicar uma provável gravidez, como o aumento de seu volume. Há uma média de aumento do volume uterino de 1cm por semana após 4 semanas de gestação. • 6 semanas: volume tangerina; • 10 semanas: volume laranja; • 12 semanas: tamanho de uma cabeça fetal a termo, sendo palpável logo acima da sínfise púbica. O útero permanece um órgão pélvico até aproximadamente 12 semanas de gestação. Após essas 12 semanas, é possível palpá-lo através do abdome, logo acima da sínfise púbica, a menos que a paciente seja obesa. AMANDA FARIA 5 º PERÍODO ALTERAÇÕES NA CONSISTÊNCIA UTERINA (8 semanas) O útero vazio é firme, porém na gravidez de 8 semanas, ele adquire uma consistência cística, elástico-pastosa. Ele adquire um amolecimento semelhante à consistência labial. Tal amolecimento é visto principalmente no istmo durante o toque bimanual, sendo esse o sinal de Hegar. O amolecimento intenso dessa região faz parecer que o corpo está se separando do colo. ALTERAÇÃO DO FORMATO UTERINO (8 semanas) A alteração do formato uterino pode ser outro sinal de probabilidade, uma vez que na gravidez o útero cresce assimetricamente no início, desenvolvendo-se mais na área de implantação. O sinal de Piskacek é a assimetria uterina à palpação, uma vez que é possível notar na palpação uma sensação de abaulamento e amolecimento no local. A partir das 8 semanas, também pode ser notado o fundo de saco, o qual geralmente se encontra vazio, preenchido pelo útero gravídico, uma vez que o útero se tona globoso. Essa percepção do fundo de saco preenchido é o sinal de Nobile-Budin, que é feita pelo toque. Também pode ser percebido o sinal de Osiander, que é a percepção dos batimentos do pulso vaginal nos fundos de saco. O toque para evidenciar a alteração no formato uterino é completado pelo exame especular. No momento do exame especular, avalia-se também a região externa, na gravidez, a vulva e o meato urinário podem adquirir uma coloração violácea entre 8 a 12 semanas, esse é o sinal de Jacquemier ou Chadwick. Já a coloração violácea da vagina, também vista entre 8 a 12 semanas, é o sinal de Kluge. o Por que a vulva, o meato urinário e a vagina se tornam violáceos? AUMENTO DO VOLUME ABDOMINAL (16 semanas) O volumeabdominal aumenta, uma vez que a partir de 12 semanas o útero deixa de ser um órgão pélvico. Esse aumento é progressivo e com 16 semanas, há um aumento do volume abdominal. SINAIS DE CERTEZA Os sinais de certeza são dados pela existência do concepto, anunciada pelos batimentos cardiofetais e pela sua movimentação ativa, a ultrassonografia é capaz de rastreá-los com 7 a 8 semanas. SINAL DE PUZOS (14 semanas) O sinal de Puzos é o rechaço fetal intrauterino, é visto ao impulsionar o feto com os dedos dispostos no fundo de saco anterior, ao fazer isso, o feto no líquido amniótico se deslocará para longe do dedo examinador, a tendência de retorno do feto faz com que ele seja novamente palpável. PERCEPÇÃO E PALPAÇÃO DOS MOVIMENTOS ATIVOS DO FETO (14 semanas) Os movimentos do feto inicialmente são discretos e se tornam vigorosos com a evolução da gestação. Por meio da palpação abdominal, é possível perceber os movimentos do feto a partir da 18ª a 20ª semana. Além disso, é possível palpar alguns segmentos fetais, uma vez que nesse período de 18 semanas, o volume do feto é maior e começa a ser possível palpar a cabeça e membros. AMANDA FARIA 5 º PERÍODO AUSCULTA (20 semanas) A ausculta dos batimentos cardíacos fetais (BCF) pode ser realizada a partir da 20ª semana de gestação. É o sinal de gravidez mais fidedigno. Pelo sonar doppler, esses batimentos podem ser auscultados com 10ª a 12ª semanas; já com o Pinard, o BCF é auscultado somente a partir das 20ª semanas. DIAGNÓSTICO HORMONAL Na rotina em obstétrica, esse é o mais utilizado, pois é o melhor parâmetro para o diagnóstico de gravidez incipiente, de acordo com sua precocidade e exatidão. O diagnóstico hormonal é dado através da identificação do hCG. O hCG é secretado na circulação materna após a implantação, que ocorre cerca de 6 a 12 dias após a ovulação, sendo esse é o primeiro momento em que se pode detectar o hCG com um teste ultrassensível, valores acima de 25 mUI/ml sugerem gravidez em curso. CONCENTRAÇÃO DE hCG A concentração de hCG duplica a cada 29 a 53h durante os primeiros 30 dias após a implantação de gravidez intrauterina viável, um aumento mais lento sugere uma gravidez anormal. A concentração máxima de hCG ocorre em 8 a 10 semanas de gestação, com média de 60.000 a 90.000 mUI/mL, mas novamente o intervalo de normalidade é bastante amplo (5.000 a 150.000 mUI/mL ou mais). Depois da 10ª semana, os níveis de hCG diminuem, atingindo concentração média de 12.000 mUI/mL na vigésima semana, novamente com ampla gama de normalidade (2.000 a 50.000 mUI/mL ou mais). A concentração de hCG permanece relativamente constante de 20 semanas até o termo. TIPOS DE TESTES DE GRAVIDEZ Há basicamente três tipos de testes para a identificação de hCG: imunológico, radioimunológico (RIA) e enzima-imunoensaio (ELISA). TESTES IMUNOLÓGICOS Os testes imunológicos são feitos utilizando antissoro (anticorpo produzido por outros animais para o hCG, que é uma proteína). Busca visualizar a reação do antissoro com o hCG, essa reação é possível ser vista com hemácias ou partículas de látex, isto é, as hemácias ou partículas de látex tem o hCG ligado a elas. 1. Prova de inibição da aglutinação do látex: teste de lâmina, é de leitura rápida, com duração de poucos minutos. Contudo, a imagem do resultado é discutível e a sensibilidade é menor (1.500 a 3.500 UI/L); 2. Prova de inibição da hemaglutinação: teste do tubo, oferece leituras em 2h, raramente interpretação duvidosa e tem mais sensibilidade (750 a 1.000 UI/L). Na prática, para que o exame seja realizado, aconselha- se que o atraso menstrual seja maior que 10 a 14 dias. Além disso, psicotrópicos, proteinúria e mulheres no climatério podem determinar falso-positivos. Os falso- negativos ocorrem em urinas de baixa densidade, uma vez que a urina precisa estar concentrada para melhorar a sensibilidade do teste. TESTES RADIOIMUNOLÓGICOS Os testes radioimunológicos consistem na dosagem de hCG por método radioimunológico (RIA), com base na competição do hormônio em questão com o traçador adequado. A dificuldade nesse teste é a reação cruzada com LH hipofisário, uma vez que ele apresenta a subunidade alfa do hCG, por isso essa dificuldade é corrigida ao se fazer a dosagem da subunidade beta do hCG. A dosagem de b-hCG tem sensibilidade de 5 mUI/ml. Os resultados são obtidos em torno de 4h, o que torna possível que os laboratórios forneçam duas séries por dia. TESTE ELISA O enzima-imunoensaio (ELISA) apresenta a mesma base teórica do RIA, porém substitui o hormônio marcado com radioisótopo por enzima, que é capaz de atuar sobre um substrato incolor e originar um produto colorido. A intensidade da cor obtida é proporcional à quantidade de hormônio. A principal vantagem desse método é o tempo de vda útil. Para dosar alfa-hCG, sua sensibilidade é de 25mUI/ml. SANGUE VERSUS URINA Com o teste de urina (farmácia) é esperado um resultado positivo por pelo menos 1 dia antes da amenorreia; já com o sangue, pelo menos 7. AMANDA FARIA 5 º PERÍODO A dosagem de hCG na urina é apenas qualitativa. Aconselha-se que o teste de farmácia seja realizado utilizando-se a primeira urina da manhã. DIAGNÓSTICO ULTRASSONOGRÁFICO O diagnóstico ultrassonográfico é feito através da abordagem transvaginal. Com 4 a 5 semanas, é possível evidenciar na parte superior do útero, início do aparecimento de uma formação arredondada anelar, de contornos nítidos, que corresponde à estrutura ovular, que é o saco gestacional (SG). A partir de 5 semanas, é possível visualizar a vesícula vitelina (VV) e com 6 semanas, pode se visualizar o eco embrionário (E) e a sua pulsação cardíaca (BCF). Com 10 a 12 semanas, nota-se um espessamento no SG, que representa a placenta em desenvolvimento e seu local de implantação no útero. Com 12 semanas, a placenta pode ser facilmente identificada e apresenta estrutura definida com 16 semanas.