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Júlia Figueirêdo – DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: Atualmente, o manejo da ICFEr não representa somente o controle dos sintomas, mas sim a possibilidade de mudança no curso da doença, estendendo a sobrevida dos pacientes. A ICFEn, por sua vez, não apresenta, comprovadamente, tratamento que alcance esse desfecho. MEDIDAS PARA TRATAMENTO DA ICFEr: DROGAS QUE PROLONGAM A SOBREVIDA: O maior fundamento para o controle da ICFEr é o bloqueio das cascatas neuro- humorais responsáveis pelo remodelamento patológico, feito principalmente pelo uso de IECA e betabloqueadores (BB). Os inibidores da enzima conversora de angiotensina têm benefício geral como classe, ao passo que apenas 3 BB (carvedilol, metoprolol e bisoprolol) são usados no tratamento geral. Os IECAS não devem ser usadas em caso de clearence renal < 20 ml/min OU K+ > 5,5 mEq/l OU creatinina > 3,5 mg/dl. Etapas do tratamento da IC com base em sua classificação funcional Caso o indivíduo apresente intolerância aos IECAS (ex.: tosse), os BRA, bloqueadores do receptor de Angiotensina II, podem ser empregados sem prejuízo. Uma ressalva ao início do tratamento, no entanto, é a presença de congestão pulmonar intensa, sendo necessário o uso de diuréticos de alça antes da introdução dos BB, cujo efeito inotrópico negativo pode piorar o quadro. Pacientes asmáticos ou com DPOC devem fazer uso cauteloso de betabloqueadores, priorizando o bisoprolol, que é mais cardiosseletivo. Em caso de quadros sintomáticos, antagonistas da aldosterona, como a espironolactona, devem ser adicionados ao esquema terapêutico. Esse medicamento age a partir da redução da apoptose e fibrose miocárdica, porém têm como efeito colateral a hipercalcemia, contraindicando seu uso na presença de creatinina > 2,5 mg/dl ou elevação persistente de potássio. Se o esquema inicial não for bem tolerado ou houver refratariedade, a combinação hidralazina + nitrato é uma boa opção, graças à “vasodilatação balanceada”, atingindo veias e artérias. O sucubitril, derivado dos inibidores de nerlipsina, também apresenta impacto importante na redução da mortalidade mediada pelo aumento dos peptídeos A associação IECA + BB com titulação de dose, deve ser prescrita a todo paciente com FE < 40%, inclusive aqueles assintomáticos, de forma a evitar a progressão do quadro Júlia Figueirêdo – DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS natriuréticos e vasodilatadores. Normalmente é usado junto a um BRA. Essa classe farmacológica age por meio da inibição da degradação de bradicinina, ajudando a manter os vasos dilatados. Quadro de posologia para os principais fármacos modificadores do curso da IC de fração de ejeção reduzida Outra opção de adição terapêutica é a ivabradina, fármaco inibidor da corrente do nó sinusal, que age de forma seletiva no controle da frequência cardíaca, sem função inotrópica negativa. Atualmente, sua indicação se dirige a casos sintomáticos refratários com FC≥ 70 bpm em ritmo sinusal e àqueles que não toleraram os BB. DROGAS QUE MELHORAM OS SINTOMAS, MAS NÃO PROLONGAM A SOBREVIDA: Os diuréticos de alça, principalmente a furosemida, podem ser usados para o controle da hipervolemia e da congestão, sendo assim prescrita apenas a pacientes sintomáticos. Referência para a posologia de furosemida na IC Na presença de refratariedade a esse tipo de medicamento, é possível se valer de sua associação com diuréticos tiazídicos como a hidroclorotiazida, tendo como propósito “forçar” uma maior excreção de sódio, de forma a recuperar o equilíbrio hidroeletrolítico. Outra importante classe farmacológica para a ICFEr é a dos digitálicos, representada pela digoxina, um agente inotrópico positivo que também participa na redução do tônus adrenérgicos ao atenuar a atividade de barorreceptores. É importante atentar-se ao fato de que o índice terapêutico desse medicamento é baixo, facilitando a ocorrência de toxicidade, principalmente em mulheres e idosos. Por esse motivo, a escolha do uso de digoxina deve ser feita para casos refratários em terapia ótima, bem como para o controle da frequência ventricular na presença de arritmias. O uso de inibidores do SGLT2, comuns no tratamento da diabetes melitus tipo 2, apresenta resultados promissores na diminuição da mortalidade, porém ainda não se conhecem os mecanismos exatos Júlia Figueirêdo – DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS Indicação de posologia para a digoxina na ICFEr DROGAS QUE NÃO PROLONGAM SOBREVIDA NEM MELHORAM OS SINTOMAS: Os antagonistas de canais de cálcio diidropiridínicos (vasosseletivos) de longa ação, como anlodipina, são bastante úteis e seguros no controle da HAS em pacientes com ICFEr, porém não têm benefício direto no curso da doença. Os não diidropiridínicos (ex.: verapramil), por sua vez, devem ser evitados nesses pacientes, pois sua ação cardiosseletiva pode piorar a função ventricular em quadros estáveis. Ao contrário do que é observado no manejo da SCA, as estatinas não exercem qualquer benefício no que se refere à mortalidade ou à qualidade de vida em pacientes com ICFEr. Assim, sua prescrição deve ser feita somente frente a indicações específicas, como síndrome metabólica ou doença coronariana. Aplicação de estratégias modificadoras do curso da doença e de alívio sintomático no manejo de descompensações na ICFEr EXERCÍCIO FÍSICO E ESTRATÉGIAS NÃO- FARMACOLÓGICAS: Nas situações em que a IC é controlada adequadamente, a prática de exercício físico supervisionado deve ser incentivada, pois melhora a percepção individual de bem-estar, ainda que não sejam descritos impactos sobre a mortalidade. Na ICFEr refratária, por sua vez, o repouso é indicado, sendo uma forma de preservar o débito cardíaco para uso em órgãos mais nobres, o que pode até mesmo aumentar a resposta ao tratamento. A dieta destes pacientes deve ter ingesta limitada de sódio, ao passo que a restrição no consumo de líquidos é recomendada só na presença de hiponatremia ou em quadros avançados e Irresponsivos ao tratamento. Indica-se também a abstenção ao tabagismo e etilismo, bem como a imunização contra influenza e a anti- pneumocócica. TERAPIA DE RESSINCRONIZAÇÃO CARDÍACA: A presença de contrações assíncronas, sejam elas apenas de VE ou intraventriculares, leva a uma redução do débito sistólico, comprometendo ainda mais a eficiência mecânica do coração. Assim, a implantação de um cabo marca- passo nas paredes ventriculares permite que a movimentação seja ressincronizada, apresentando efeito benéfico tanto nos sintomas quanto no prognóstico da ICFEr. Representação dos componentes do marca-passo Júlia Figueirêdo – DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS A principal indicação para esse processo é a presença de comprometimento funcional ≥ NYHA II, refratário à conduta otimizada, em ritmo sinusal e FE ≤ 35%, acompanhada por complexo QRS alongado e sinais de bloqueio de ramo esquerdo. Caso o tamanho do QRS supere 160 ms, na ausência de bloqueio de ramo, também há resultados favoráveis com essa técnica. TRATAMENTO CIRÚRGICO: De forma geral, a restauração ventricular, realizada para o remodelamento artificial de cicatrizes ventriculares isquêmicas, não apresenta benefício para o curso da doença. DISPOSITIVOS DE ASSISTÊNCIA CIRCULATÓRIA MECÂNICA (DACM): Como portadores de ICFEr de estágio D normalmente não apresentam resposta ao tratamento farmacológico, e mantém-se com sintomas incapacitantes e hospitalizações recorrentes, está indicado o uso de DACM ou até mesmo o transplante cardíaco. Os dispositivos de longa permanência com fluxo contínuo são inseridos cirurgicamente para auxiliaro coração a bombear o sangue, seja como forma de “ganhar tempo” até o transplante ou como terapia de destino. Contraindicações absolutas e relativas ao uso de DACM em pacientes com IC grave Notam-se, no entanto, como principais complicações associadas aos DACM: o Disfunção de ventrículo direito; o Hemorragias; o Acidente vascular encefálico; o Infecções; o Falhas do dispositivo; o Hemólise intravascular (maceração mecânica de hemácias); o Doença de Von-Willebrand adquirida. Em quadros de insuficiência cardíaca avançada, a orientação para encaminhamento a centros de referência pode ser estabelecida pelo mnemônico I- NEED-HELP, a saber: Ionotrópicos intravenosos OU intolerância terapêutica; NHYA de classe III/IV; Edema persistente, mesmo com diurético em altas doses; Ejeção diminuída (≤ 20%); Desfibrilação recorrente; Hospitalizações ou visitas à emergência recorrentes no último ano; BNP persistentemente alterado; Lesão de órgãos-alvo; PAS persistentemente < 90 mmHg. Júlia Figueirêdo – DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS Fluxograma terapêutico para a ICFEr sintomática ESTRATÉGIAS NO TRATAMENTO DA ICFEn: Os principais pilares para o manejo da IC com fração de ejeção normal são o controle da congestão pulmonar e da pressão arterial, a manutenção do ritmo sinusal, prevenindo taquicardias, e o tratamento de comorbidades. A regulação pressórica pode por si só solucionar a congestão, direcionando o uso de diuréticos de alça (furosemida) somente para quadros sintomáticos. Novamente, é necessário dizer que não há drogas que reduzem, especificamente, o risco de morte na ICFEp, ao contrário do que é visto na ICFEr. Destaca-se que o uso de digitálicos não é indicado nesse tipo de IC, pois não há distúrbios de contração, mas sim de relaxamento miocárdico. Júlia Figueirêdo – DISPNEIA, DOR TORÁCICA E EDEMAS Possíveis indicações terapêuticas na ICFEp, vinculadas principalmente à presença de comorbidades
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