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AMANDA FARIA 5º PERÍODO Abortamento VISÃO GERAL Abortamento é uma das síndromes hemorrágicas do 1º trimestre de gravidez. Segundo a OMS, abortamento tem como definição a interrupção da gravidez antes de 22 semanas e/ou com um feto pesando <500 gramas e 16,5cm. Geralmente, o peso é utilizado para classificar o abortamento quando não se sabe exatamente a IG (idade gestacional). O aborto é o produto eliminado no abortamento. O abortamento pode ser classificado de acordo com alguns parâmetros, sendo um abortamento antes de 4ª semanas chamado de subclínico; entre 4ª a 12ª semanas ele é precoce; e após 12ª semanas, ele é tardio. TIPOS O abortamento pode ser classificado conforme a idade gestacional, conforme a presença de intervenção externa e conforme a segurança. Os tipos de abortamento são: 1. Abortamento precoce: com menos de 12ª semanas, corresponde a 80% dos casos de abortamento; 2. Abortamento tardio: após 12ª semanas; 3. Abortamento espontâneo: sem nenhuma intervenção externa, podendo ser causado por doenças da mãe ou por anormalidades do embrião ou feto; 4. Abortamento provocado: interrupção da gravidez causada por intervenção externa e intencional; 5. Abortamento seguro: termo utilizado em documentos internacionais, refere-se ao aborto realizado por um médico bem treinado, com os meios necessários e ambiente adequado; 6. Abortamento inseguro: procedimento de risco, realizado por pessoas que não têm habilidades necessárias ou em ambiente sem padrões médicos mínimos, ou ambos; 7. Abortamento habitual: quando ocorre três ou Alguns abortamentos precoces podem ser confundidos com um atraso menstrual seguido de menstruação profusa. ETIOPATOGENIA Os fatores de risco mais comuns identificados em mulheres com abortamento são: 1. Idade materna avançada; 2. História anterior de abortamento; Além disso, qualquer doença materna grave, traumatismo, intoxicação e inúmeras infecções, podem levar ao abortamento. A etiopatogenia do abortamento está relacionada com anormalidades cromossômicas, desordens anatômicas, doenças endócrinas, mecanismos imunológicos, aloimunidade, infecções, fatores ambientais e fatores emocionais. ANORMALIDADES CROMOSSÔMICAS As anormalidades cromossômicas são responsáveis por 50% dos abortamentos espontâneos subclínicos. A principal causa de anormalidade cromossômica é por trissomias, cerca de 70%, sendo a mais frequente a trissomia do 16. Em relação às monossomias, elas correspondem a 15 a 25% dos casos e as poliploidias correspondem a 5%. DESORDENS ANATÔMICAS As desordens anatômicas também contribuem para o abortamento, sendo as principais: 1. Incompetência istmocervical: é a incapacidade do colo do útero em reter o produto da concepção no 2º trimestre da gravidez, na ausência de sinas e sintomas de contrações e/ou parto. Determina tipicamente, abortamentos do 2º trimestre e o diagnóstico é feito pela história clínica de ruptura espontânea das membranas e dilatação sem dor; 2. Miomas uterinos: podem impedir o desenvolvimento da gravidez, uma vez que distorcem a cavidade intrauterina, podendo levar ao abortamento; 3. Malformações uterinas: o útero setado é a malformação uterina mais frequente (35% dos casos), devido à má vascularização do septo. Os úteros didelfo, bicorno e septado apresentam as maiores taxas de parto pré- AMANDA FARIA 5º PERÍODO termo, 2 a 3 vezes mais elevadas do que na população geral; 4. Sinequias uterinas (Síndrome de Asherman): a sinéqueia é quando há um colabamento do útero, o que também impede a progressão da gravidez. DOENÇAS ENDÓCRINAS Algumas doenças endócrinas causam o abortamento, tais como: 1. Insuficiência luteínica: leva ao abortamento pela produção deficiente de progesterona; 2. Síndrome do ovário policístico (SOP): está relacionada com a disfunção ovariana, androginismo e resistência à insulina, incidindo em 5 a 7% das mulheres em idade reprodutiva; 3. Doenças da tireóide: o hipotireoidismo é uma causa para abortamento devido a uma diminuição de produção de T4; enquanto o hipertireoidismo na sua forma grave também pode causar abortamento; 4. Diabetes melito: principalmente a DM tipo 1. MECANISMOS IMUNOLÓGICOS O feto é um corpo estranho no organismo da mãe e quando há esse reconhecimento pelo corpo, pode haver uma rejeição, é a auto-imunidade. Algumas doenças, como o lúpus eritematoso, auxiliam nesse mecanismo imunológico. Há uma associação com anticorpos anticardiolipina e antifosfolipídeos, esses anticorpos provocam reação inflamatória. A síndrome antifosfolipídio (SAF) talvez seja a causa mais importante de abortamento habitual. A SAF refere-se à associação entre anticorpos antifosfolipídio – lúpus anticoagulante (LAC) e anticardiolipina (aCL) – e trombose vascular ou prognóstico adverso na gravidez. Muitas investigações têm relatado anticorpos antifosfolipídios em 5 a 20% das mulheres com abortamento recorrente. ALOIMUNIDADE A aloimunidade é outro mecanismo que pode levar ao abortamento. Uma falha no mecanismo normal da gravidez de produção de anticorpos contra os antígenos de histocompatibilidade parternos (HLA), pode causar o abortamento. Aloenxerto fetal. As células T regulatórias (Treg), as quais são um subtipo de célula T auxiliar CD4+, funcionam inibindo a resposta imunológica decorrente de uma infecção, inflamação e autoimunidade. Essa função supressora se dá pelo FOXP3, que é um fator de transcrição expresso pelas Treg. Recentemente foi identificado o CNS1, que é um elemento genético móvel que exalta o FOXP3, esse CNS1 está presente nas pTreg. Existem dois tipos de Treg: tímico (tTreg) e periférico (pTreg). Sendo assim, apenas as pTreg são capazes de refrear a resposta imunológica decorrente da gravidez, de reconhecer antígenos paternos. Elas suprem as células T efetoras maternas e mitigam o conflito materno-fetal causado pelos aloantígenos paternos. Uma deficiência de CNS1 gera uma inabilidade de induzir a pTreg na mãe, o que resulta em infiltração da célula T ativada na placenta e consequente abortamento. INFECÇÕES As infecções maternas também cursam com a etiopatogenia do abortamento, como a rubéola, herpes genital, sífilis, toxoplasmose, citomegalovírus etc. FATORES AMBIENTAIS Fatores ambientais como exposição à radiação ionizante e o uso de drogas lícitas (tabaco e álcool) e ilícitas também podem causar abortamento. FATORES EMOCIONAIS E FÍSICOS Sabe-se que fatores emocionais podem interferir no curso da gravidez, resultando no abortamento, bem como traumas físicos. FORMAS CLÍNICAS O abortamento apresenta-se de diferentes formas clínicas, tais como ameaça de abortamento, abortamento inevitável, abortamento completo, abortamento incompleto, abortamento infectado, abortamento retido e abortamento habitual. O abortamento inevitável tem algumas similaridades com o abortamento incompleto. AMANDA FARIA 5º PERÍODO AMEAÇA DE ABORTAMENTO A ameaça de abortamento é o abortamento em que há chances de reversão do quadro, ou seja, ainda há perspectiva de evolução da gravidez. Esse quadro se apresenta como um sangramento discreto, acompanhado com uma dor lombar e desconforto pélvico. Essa dor ocorre devido à contratilidade do útero, que gera cólicas leves, sendo incapaz de induzir modificações cervicais. 1. Exame físico: o útero está amolecido e compatível com amenorréia. O colo está impérvio (fechado); 2. Exame complementar: a curva de beta HCG se apresenta normal.No USG há a presença de saco gestacional íntegro. O BCE está regular e superior a 100bpm; 3. Conduta: repouso físico (conduta expectante), repouso sexual, repouso emocional e antiespasmódicos; BCF = batimentos cardíacos embrionais. Sangramentos precoces, de longa duração, escuros e do tipo “borra de café” são considerados mais sérios. ABORTAMENTO INEVITÁVEL O abortamento inevitável é aquele em que não há possibilidade de prosseguimento da gestação. Esse episódio, na maioria das vezes é precedido pela ameaça de abortamento, sendo as hemorragias nesse caso mais abundante. O quadro clínico mostra o colo uterino dilatado (cerca de 2cm), sendo possível permear pelo dedo, detectando na maioria das vezes as membranas ovulares ou o próprio embrião. Há um sangramento profuso e de cor viva nesse tipo de abortamento e uma dor que não corresponde à medicação, podendo comprometer a hemodinâmica da paciente. Além disso, a bolsa está herniada pelo colo uterino. 1. Exame físico: útero sem o amolecimento normal da gravidez e o colo com dilatação de mais de 2cm, membranas herniadas pelo orifício externo na cavidade uterina. 2. Exame complementar: curva de beta HCG achatada. No USG mostra ausência de vitalidade embrionária e descolamento ovular; 3. Conduta: no abortamento precoce, pode adotar o tratamento expectante, já que em cerca de 70% dos casos com IG de até 8 semanas, há uma evolução espontânea; tratamento clínico, com o uso de misoprostol vaginal (quando o casal não quer o tratamento expectante e nem o cirúrgico) e tratamento cirúrgico feito pelo esvaziamento uterino (AMIU e curetagem). Já no abortamento tardio, quando o ovo está muito desenvolvido e a cavidade uterina volumosa com paredes finas e moles, tornando o esvaziamento perigoso, adota-se uso de ocitocina em grandes doses. AMIU = aspiração manual intrauterina. Além das condutas mencionadas, pode também ser adotada a internação com antiobioticoprofilaxia, correção da perda sanguínea, dependendo do caso. Além disso, uma outra conduta seria a prevenção da aloimunização, mulheres Rh negativas não sensibilizadas deverão receber a imunoglobulina Rh (300mg) imediatamente após o tratamento cirúrgico do abortamento e dentro de 72h do tratamento expectante ou do clínico (uso de misoprostol ou esvaziamento uterino). Algumas recomendações são abstenção sexual por 1 a 2 semanas após a expulsão completa do ovo, a fim de evitar infeção; anticoncepção hormonal e dispositivo intrauterino (DIU), podem ser utilizados imediatamente, desde que não haja suspeita de abortamento séptico. ABORTAMENTO COMPLETO O abortamento completo é aquele em que há eliminação integral do ovo, sendo o de mais simples manejo. Caraterizado pela expulsão do concepto e de seus anexos fetais, não havendo restos placentários, além de ser mais frequente até 8 semanas de gestação. O quadro clínico pode ser caracterizado por uma diminuição repentina do sangramento e a dor desaparece. A evolução do quadro confirma o diagnóstico. 1. Exame físico: o útero se encontra endurecido e diminuído (perda do volume decorrente da gravidez). O colo uterino se encontra fechado (já houve a expulsão); 2. Exame complementar: USG apenas com coágulos, mostra o “útero vazio”; 3. Conduta: ter certeza de que não se trata de gestação ectópica. AMANDA FARIA 5º PERÍODO ABORTAMENTO INCOMPLETO O abortamento incompleto é aquele em que o concepto é expulso, porém permanece a placenta e os restos placentários. Esse tipo de abortamento é mais frequente após a 8ª semana gestacional, sendo ele a forma clínica mais frequente. Seu quadro é caracterizado por um sangramento vaginal intenso e incessante e pela presença de cólicas persistentes, as quais têm a intenção de expulsar o conteúdo restante. 1. Exame físico: o útero encontra-se endurecido e incompatível com amenorreia, fica menor do que o esperado para a idade gestacional. O colo apresenta-se entreaberto; 2. Exame complementar: USG com ecos endometriais amorfos e o beta HCG negativo; 3. Conduta: a mesma do abortamento inevitável, sendo o melhor tratamento o esvaziamento cirúrgico e, nesse caso, a AMIU a vácuo. ABORTAMENTO RETIDO O abortamento retido é caracterizado por quando o feto morre, porém continua no interior da cavidade uterina, isto é, refere-se à retenção do ovo morto por dias ou semanas. Nas retenções prolongadas (maiores que 4 semanas), os distúrbios de hemocoagulação são a complicação mais temida. O quadro clínico mostra sinais gravídicos em regressão, tais como: coração inerte, diminuição da AFU, míngua a circunferência abdominal, a turgência mamária desaparece. Ademais, pode ou não haver sangramento vaginal. O diagnóstico é confirmado com duas USG espaçadas de 7 a 10 dias. 1. Exame físico: o útero involui; 2. Exame complementar: USG confirma o diagnóstico. A USG não exibe BCF após o embrião ter atingido ≥ 7 mm ou o SG for ≥ 25 mm e embrião estiver ausente; 3. Conduta: tratamento expectante, visto que na maioria dos casos há expulsão em um período de 3 semanas que se seguem ao decesso do ovo; tratamento clínico, com o uso de misoprostol (200mg de 12/12h) e tratamento cirúrgico, com a AMIU ou curetagem. A conduta expectante pode ser um método de não escolha da paciente, por ser um processo exaustivo mentalmente, uma vez que em alguns casos pode levar até 2 semanas até a expulsão do concepto morto. No ovo anembrionado, a mulher é assintomática. Considera-se ovo anembrionado o tipo de abortamento retido no qual a USG não identifica o embrião, estando o saco gestacional (SG) ≥ 7mm ou quando o SG for ≥ 25mm e o embrião estiver ausente. ABORTAMENTO INFECTADO O abortamento infectado consiste na forma clínica em que há uma tentativa de esvaziar o útero para dar fim à gestação, é gerado uma infecção. Isso é feito através de técnicas inadequadas e inseguras, como a introdução de talo de mamona, agulha de tricô, introdução de sondas é importante o profissional identificar a história do episódio provocador. Isto é, o abortamento infectado é a forma clínica mais vista no abortamento provocado. O quadro clínico se caracteriza pela presença de sangramento aguado, escuro, tipo “lavado de carne” e com odor fétido e dor é variável. Além dos sintomas de abortamento incompleto, detectasse sintomas de infecção, como febre em torno de 38ºC e bom estado geral. Caso a infecção progrida para casos mais AMANDA FARIA 5º PERÍODO avançados, injuriando o peritônio pélvico, há elevação de temperatura para 39ºC, dor mais intensa e estado geral comprometido com taquicardia, grau de desidratação e com pele e mucosa descoradas. Se a sepse se instala, a gravidade aumenta e o estado geral é fortemente deteriorado, com sinais tóxicos evidentes, altas temperaturas refratárias à medicação, calafrios, cianose, desidratação, hipotensão, taquicardia, pulso filiforme com distensão abdominal e vômitos. Na sequência o quadro pode evoluir para uma insuficiência renal aguda e formação de abcesso intraperitoneal. 1. Exame físico: o útero está amolecido e doloroso (reação peritoneal). O colo está dilatado e com secreção purulenta; 2. Exame complementar: leucocitose (>15.000mm3) e USG com imagem de restos; 3. Conduta: internação com antibioticoprofilaxia, fazendo uso de ciprofloxacina (400g/ EV/12h em 12h) e uso de metronizadol (500g/EV/ 8 em 8h). É feito a profilaxia antitetânica, ocitocina venosa em altas doses, correçãoda volemia (sangue), prevenção da aloimunização. Em relação à conduta cirúrgica, pode ser feita a AMIU ou curetagem, drenagem de abscessos e histerectomia. O diagnóstico é facilitado pelo quadro clínico, tendo auxílio do leucograma infeccioso e pela ecografia pélvica, o que evidencia coleções purulentas, as quais podm se acumular no fundo de saco ou até no restante do abdome. Nesse tipo de abortamento, a infecção tem predominância de bactérias cocos gram negativos e de uma flora anaeróbia, cocos anaeróbios (peptococos, peptoestreptococos), E. coli, bacteroides, Clostridium perfringens. A classificação clínica mais utilizada é feita em três formas: I, II e III. 1. Endo(mio)metrite; 2. Pelviperitonite; 3. Peritonite. ENDOMIOMETRITE A endo(mio)metrite é quando a infecção é limitada à cavidade uterina, à decídua e, provavelmente, ao miométrio. É o tipo mais comum, com sintomatologia semelhante ao abortamento completo e incompleto. Esses sintomas são a pequena elevação térmica (38°C), estado geral bom, dores discretas, sem sinais de irritação peritoneal e hemorragia escassa. PELVIPERITONITE A pelviperitonite é caracterizado pela progressão da infecção, devido a virulência do microrganismo. A infecção se instala no miométrio, nos paramétrios e anexos, comprometendo o peritônio pélvico. Em relação à sintomatologia, a temperatura está em torno de 39°C, estado geral afetado, taquicardia, desidratação, paresia intestinal, anemia. As dores são constantes e espontâneas. A defesa abdominal está limitada ao hipogástrio e não se estende ao andar superior do abdome. O exame pélvico é praticamente impossível, tal a dor despertada. Feito muito delicadamente, nota-se útero amolecido, mobilidade reduzida e paramétrios empastados. O colo costuma estar entreaberto. PERITONITE A peritonite é a forma extremamente grave da infecção generalizada. As condições da genitália repetem as da forma anterior. Há peritonite, septicemia e choque séptico, decorrentes em geral do acometimento por gram-negativos (E. coli), mas também de bacteroides e Clostridium. A infecção por Clostridium piora o prognóstico, pela liberação da exotoxina que pode levar à síndrome do choque tóxico com insuficiência generalizada dos órgãos decorrente do vazamento capilar massivo. ABORTAMENTO HABITUAL O abortamento habitual ou recorrente é a perda de duas ou mais gestações, porém há autores antigos que define como três ou mais gestações. AMANDA FARIA 5º PERÍODO TÉCNICAS DE ESVAZIAMENTO UTERINO O esvaziamento uterino é a remoção do conteúdo uterino, sendo um procedimento indicado no abortamento inevitável, incompleto, retido ou infectado, gestação anembrionada, mola hidatiforme e interrupção legal da gravidez. Os efeitos colaterais mais comumente observados após procedimentos de esvaziamento intrauterino são: 1. Cólicas abdominais; 2. Náuseas leves a moderadas; 3. Vômitos; 4. Dor; 5. Sangramento semelhante à menstruação. Outras complicações ocorrem raramente e incluem reação vagal em função da dor e do medo, esvaziamento incompleto, lesão cervical, perfuração uterina, embolia gasosa, infecção pélvica, sepse e hemorragia. O esvaziamento pode ser feito de forma farmacológica (misoprostol) ou mecânica (aspiração manual intrauterina ou curetagem). FARMACOLÓGICO – MISOPROSTOL A técnica farmacológica é feita como uso de misoprostol, o qual, além da via vaginal pode ser utilizado pela via sublingual, oral e bucal (na bochecha). No segundo trimestre de gestação, o abortamento farmacológico é o método de escolha. As vantagens vista no uso de tal medicamento são: 1. Custo acessível; 2. Ausência da possibilidade de perfuração uterina e formação sinequial; 3. Redução de riscos de sequelas inerentes à dilatação do colo uterino; 4. Eliminação do risco anestésico. Já em relação às desvantagens do uso do misoprostol, temos: 1. Tempo de resolução, uma vez que pode levar até 7 dias; 2. Efeitos colaterais até a expulsão do conteúdo, efeitos como cólica, sangramento, náusea, calafrios; 3. Necessidade eventual de complementação cirúrgica; 4. Ansiedade pela espera. MECÂNICO – ASPIRAÇÃO INTRAUTERINA E CURETAGEM Os dois métodos mais utilizados para a remoção do conteúdo uterino são aspiração intrauterina (manual ou elétrica) e curetagem. De acordo com a OMS, a AMIU é o método preferido no primeiro trimestre, sendo uma estratégia para reduzir morte materna. Contudo, no Brasil, em muitos lugares não se utilizam a AMIU como primeira escolha, utilizando a curetagem. • Até 12ª semanas, o indicado é dilatação seguida de aspiração a vácuo ou de curetagem, sendo a aspiração superior à curetagem; • Após 12ª semanas, o ovo está muito desenvolvido e a cavidade uterina se encontra volumosa, isto é, suas paredes estão finas e moles, tornando o esvaziamento instrumental perigoso. Nesse caso, aplica-se ocitocina. A ocitocina é aplicada em grandes doses: perfusão venosa de solução de 10 unidades em 500 mℓ de Ringer com lactato ou misoprostol, por via vaginal, 400 mg a cada 4 h. Eliminado o ovo, e se a expulsão não foi completa, o remanescente é extraído com pinça adequada. Para a realização do esvaziamento mecânico, a fim de amolecer e dilatar o colo uterino, pode ser utilizado 400 µg de misoprostol via vaginal algumas horas (em média 3 horas) antes do esvaziamento mecânico. ASPIRAÇÃO MANUAL INTRAUTERINA – AMIU A aspiração manual intrauterina (AMIU) é uma opção mais segura e tão efetiva quanto a curetagem uterina durante o primeiro trimestre da gestação. A AMIU tem as seguintes vantagens: 1. Troca da anestesia geral por anestésicos locais ou, ainda, por bloqueio paracervical; 2. Encurtamento da permanência hospitalar pela maior agilidade no atendimento; 3. Precocidade da alta, o que reduz custos hospitalares e custo social para a paciente, que muitas vezes tem pressa em retornar a sua casa; A AMIU utiliza um instrumento de fácil manuseio, ela pode ser realizada tanto com uma bomba elétrica (aspiração a vácuo elétrica ou AVE) ou com um vácuo AMANDA FARIA 5º PERÍODO manual produzido por uma seringa (AMIU). Ambos os métodos apresentam o mesmo nível de sucção, sendo equivalentes na eficácia e segurança. Deve-se utilizar uma cânula do tamanho apropriado para o tamanho do útero e dilatação cervical. CURETAGEM A indicação da curetagem uterina encontra-se nos casos de abortamento incompletos do 2º trimestre. Já nas gestações com feto intrauterino após 1 semanas, deve-se promover a indução farmacológica com misoprostol e, após a expulsão fetal, faz-se a curetagem uterina. A curetagem é um procedimento em que se realiza a dilatação da cérvix por meio das velas de Hegar e, em seguida, há o uso de curetas metálicas para raspar as paredes do útero. Essa técnica é passível de provocar perfuração do útero, pois se utiliza um material rígido (aço). A curetagem não deve ser utilizada no primeiro trimestre, a nãos ser que a AMIU não possa ser utilizada. A dilatação da cérvice pode ser feita também pelo misoprostol, ao invés das velas de Hegar.
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