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Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO Sistema Cardiovascular Doença Arterial Obstrutiva Periférica A Doença arterial obstrutiva periférica (DAOP) refere-se, em geral, a uma doença crônica na qual o fluxo sanguíneo para as extremidades inferiores ou superiores está obstruído. Mais frequentemente causada por aterosclerose, a DAP pode também resultar de trombose, embolia, vasculite, displasia fibromuscular ou aprisionamento. Ela se correlaciona fortemente com o risco de eventos cardiovasculares maiores, já que ela, em muitos casos, associa-se às ateroscleroses coronariana e cerebral. Epidemiologia A prevalência mundial da DAOP está entre 3 e 12%. A maioria (70%) dos acometidos vive em países de baixa ou média renda. É mais prevalente em indivíduos mais velhos, afro-americanos, em famílias com aterosclerose e naqueles com fatores de risco para doenças cardiovasculares. Fatores de Risco Os fatores de risco para DAOP são semelhantes aos fatores de risco para doença arterial coronária, devido à associação de ambas com a aterosclerose. As diretrizes do American College of Cardiology e American Heart Association sobre DAOP identificaram os seguintes grupos de risco associados: Tabagismo Diabetes Melito Obs - O risco de desenvolvimento de DAOP aumenta de 2 a 4x nos últimos dois fatores, por isso são os mais preocupantes. Hiperlipidemia HAS Antecedentes familiares (prediposição genética) Idade avançada (maior ou igual a 70 anos) Sexo Masculino Raça negra Fisiopatologia A fisiopatologia da DAOP está relacionada com o desequilíbrio entre o suprimento sanguíneo para o músculo esquelético e a demanda de oxigênio e nutrientes devido ao estreitamento arterial. As lesões obstrutivas limitam o fluxo de sangue para tal local de forma que as necessidades metabólicas do músculo envolvido ultrapassam a quantidade disponível do mesmo. Cerca de 20 a 50% dos pacientes com DAOP são assintomáticos mas quando a restrição do fluxo é considerável, ocorrerão sintomas. A gravidade dependerá do grau de estreitamento arterial, número de artérias afetadas e a atividade dos pacientes. A claudicação intermitente ocorre quando a demanda de oxigênio do músculo esquelético durante o esforço físico supera o fornecimento de oxigênio pelo sangue, e resulta da ativação de receptores sensoriais locais pelo acúmulo de lactato (biomarcador de má perfusão sistêmica) e de outros metabólitos. O fluxo através de vasos sanguíneos colaterais pode usualmente atender as necessidades metabólicas do tecido muscular esquelético em repouso, mas pode não ser suficiente durante o exercício. Pacientes com grave isquemia de membros inferiores tipicamente apresentam múltiplas lesões oclusivas que frequentemente envolvem as artérias proximais e distais do membro. Com isso, mesmo em estado de repouso, o suprimento de sangue diminui e não mais consegue atender as necessidades nutricionais do membro. FATORES QUE REGULAM O SUPRIMENTO SANGUÍNEO PARA O MEMBRO Lesão limitante do fluxo: depende da gravidade da estenose e de vasos colaterais insuficientes. Vasodilatação prejudicada: a capacidade vasodilatadora está reduzida nos pacientes com aterosclerose periférica devido ao NO endotelial reduzido, além da responsividade reduzida aos vasodilatadores, sobretudo nas artérias femorais e nos vasos de resistência das panturrilhas em pacientes com DAOP. Vasoconstrição acentuada: devido ao aumento de tromboxano, serotonina, angiotensina II, endotelina e norepinefrina em consequência da resposta inflamatória à lesão inicial. Pressão de perfusão distal reduzida: em razão da limitação imposta pela estenose do vaso. À medida que a gravidade da lesão aterosclerótica aumenta, o fluxo sanguíneo torna-se progressivamente menor. ESTRUTURA E FUNÇÃO METABÓLICA DO MÚSCULO ESQUELÉTICO Exames encontraram evidências de desnervação axonal parcial do músculo esquelético em pernas afetadas pela DAOP. Há preservação das fibras do tipo I oxidativas (de contração lenta) mas ocorre perda das fibras do tipo II (de contração rápida) no músculo esquelético dos pacientes com DAOP. A perda das fibras tipo II correlaciona-se com uma força muscular reduzida e uma capacidade reduzida de exercício. A atividade respiratória mitocondrial é prejudicada, além do tempo de recuperação da fosfocreatina e do ATP Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO também estarem diminuídos nos músculos da panturrilha dos pacientes com DAOP. OBS - Após ser consumida, a creatina se liga a uma molécula de fosfato, formando a fosfocreatina, que fica armazenada nas células musculares. Ela tem como papel o depósito de energia, apesar de que sua quantidade no músculo normalmente é pequena. Durante um exercício, a sua quebra libera energia, que é usada para regenerar o ATP. As suas reservas serão esgotadas provavelmente após apenas 10 segundos de exercício extenuante, e o tempo necessário para restaurar 100% das suas reservas é de 5-10 minutos. Lembrando que, para que isso ocorra, é necessário que nesse processo haja oxigênio disponível na circulação sanguínea. Manifestações Clínicas Dor nos membros inferiores: é o sintoma predominante em pacientes com DAOP e é devido a graus variados de isquemia. Pode ocorrer dor na panturrilha, coxa ou nádega provocada por esforço físico e aliviada com repouso, dor atípica nas pernas ou dor constante (no repouso). Pode se apresentar uni ou bilateralmente, e a localização do sintoma muitas vezes se relaciona com o sítio da estenose mais proximal: Dor em nádegas/quadris: Acometimento da aorta e das artérias ilíacas. Pulso femoral está diminuído uni ou bilateralmente. Pode haver disfunção erétil em homens. Dor em coxas: Acometimento de artéria femoral. Dor em panturrilhas: É a queixa mais comum. Dor nos 2/3 superiores da panturrilha ocorre devido à estenose da artéria femoral superficial, enquanto a dor no 1/3 inferior ocorre devido à estenose da artéria poplítea. Dor nos pés ou tornozelo: Acometimento das artérias tibial e fibular. É pouco comum. OBS - O músculo gastrocnêmio consome mais oxigênio durante a caminhada do que os outros grupos musculares na perna e, portanto, causa o sintoma mais frequentemente relatado pelos pacientes. Claudicação intermitente: é definida como dor, sofrimento, sensação de fadiga ou outros desconfortos que ocorrem no grupo muscular afetado pelo exercício (sobretudo em caminhadas) e que cessam com o repouso. É comum o relato do paciente que a dor por esforço começa após uma certa distância a pé (fazendo com que ele pare de andar) e se resolve dentro de 10 minutos, permitindo que ele retome a caminhada. OBS - Na história obtida das pessoas que relatam claudicação, devem ser registradas a distância, a velocidade e a inclinação da caminhada que precipitam a claudicação. Esta avaliação é utilizada para avaliar a incapacitação e proporciona avaliar se o paciente apresentou melhora ou deterioração durante as visitas subsequentes. Dor atípica em extremidades: os sintomas atípicos são mais comuns em pacientes com comorbidades, inatividade física e percepção aletrada da dor. Dor isquêmica em repouso: Uma isquemia crítica do membro pode resultar em dor isquêmica de repouso. Esta é tipicamente localizada no antepé e nos dedos dos pés e não é facilmente controlada por analgésicos. Este desconforto piora com a elevação da perna e melhora com a perna para baixo, como pode ser antecipado pelos efeitos respectivos da gravidade sobre a pressão de perfusão. A dor pode ser intensa, sobretudo em locais de fissura da pele, ulceração ou necrose. Geralmente, a pele é sensível demais e até mesmo o peso das roupas de cama ou dos lençóis desencadeia dor. Os pacientes podem sentar-se na borda da cama e deixar as pernas pendentes para aliviar o desconforto. Dor difusa grave: a isquemia aguda difusa dos membros é caracterizada pelo início repentino de dor nas extremidades, progredindo para dormência e, finalmente, paralisia da extremidade, acompanhada de palidez, parestesias e ausência de pulsos palpáveis. Ferida/úlcera semcicatrização: As úlceras isquêmicas geralmente começam como pequenas feridas traumáticas e depois não icatrizam porque o suprimento de sangue é insuficiente para atender às crescentes demandas do tecido cicatrizante. As úlceras causadas por DAOP tipicamente têm uma base pálida com bordas irregulares e costumam envolver as pontas dos dedos dos pés ou o calcanhar, ou desenvolvem-se nos locais de pressão. Essas úlceras variam em tamanho e podem ter de 3 a 5 mm. Descoloração da pele/gandrena: a isquemia extrema altera a aparência da pele. Podem surgir áreas focais de descoloração da pele que podem evoluir para necrose cutânea. Diminuição ou ausência de pulsos periféricos. OBS - Os pulsos palpáveis em indivíduos saudáveis incluem as artérias braquiais, radiais e ulnares nas extremidades superiores e as artérias femorais, poplíteas, pediosas dorsais e tibiais posteriores das extremidades inferiores. Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO Ausculta de sopros são muitas vezes um sinal de distúrbios do fluxo em locais de estenose. OBS - Deve ser usado um estetoscópio para auscultar as fossas supraclavicular e infraclavicular na procura de evidência de estenose da artéria subclávia; o abdome, flanco e pelve para evidência de estenose da aorta ou de seus ramos; e a região inguinal para evidência de estenoses da artéria femoral. Sinais adicionais de isquemia crônica de baixo grau: pele fina, seca, brilhante e sem pelos, unhas dos dedos dos pés espessadas e quebradiças, pele lisa e brilhante e atrofia da gordura subcutânea das polpas digitais. Os pacientes com isquemia grave dos membros têm pele fria e também podem apresentar petéquias, cianose persistente ou palidez, rubor dependente, edema do pé resultante de uma posição prolongada com as pernas para baixo, fissuras cutâneas, além das ulcerações ou gangrena. Diagnóstico O diagnóstico é clínico e na investigação da DAOP algumas perguntas na anamnese são importantes para a caracterização do quadro, entre elas: 1. O paciente sente dor com a deambulação? 2. Até onde pode caminhar antes que a dor ocorra? 3. A dor o leva a parar de andar? Depois de quanto tempo consegue retomar a caminhada? 4. O paciente sente alguma dor nas extremidades que o acorda do sono? 5. Onde está localizada a dor? 6. O paciente notou feridas ou úlceras de difícil cicatrização nos dedos dos pés? No exame físico realiza-se uma manobra na qual os pés são elevados acima do nível do coração e os músculos das panturrilhas são exercitados pela dorsiflexão e pela flexão plantar repetidas dos tornozelos, desencadeando palidez sobre as solas dos pés de alguns pacientes com DAP. As pernas, então, são colocadas na posição para baixo e se mede o tempo até o início da hiperemia e a distensão venosa. Cada uma dessas variáveis depende da velocidade do fluxo sanguíneo que, por sua vez, reflete a gravidade da estenose e a adequação dos vasos colaterais. → Medidas da Pressão Segmentar A medição da pressão sistólica nos segmentos selecionados de cada extremidade é uma das avaliações não invasivas mais simples e úteis para determinar a presença e gravidade de estenoses nas artérias periféricas. Nas extremidades inferiores, os manguitos pneumáticos são colocados nas porções superiores e inferiores da coxa, da panturrilha, acima do tornozelo e, muitas vezes, sobre a área do metatarso do pé. Um gradiente de pressão arterial que exceda 20 mmHg entre os manguitos sucessivos em geral é usado como uma evidência de estenose arterial na extremidade inferior, enquanto um gradiente de 10 mmHg é indicativo de estenose entre manguitos sequenciais na extremidade superior. A imagem abaixo dá exemplos de medidas da pressão segmentar na perna em um paciente com claudicação esquerda das panturrilhas. Na perna esquerda, ocorrem gradientes pressóricos entre a parte superior e inferior da coxa, entre a parte inferior da coxa e da panturrilha e entre a panturrilha e o tornozelo. Eles são indicativos de estenoses nas artérias femorais superficiais e poplíteas e nas artérias tibiofibulares. OBS - A pressão arterial sistólica pode ser maior nos vasos mais distais do que na aorta e nos vasos proximais em virtude da reflexão das ondas de pulso. → Índice Tornozelo-Braquial (ITB) Esse é um teste simples que pode ser realizado à beira do leito e deve ser realizado em paciente com um ou mais achados sugestivos de DAOP. O ITB é a razão entre a pressão arterial sistólica do tornozelo e a pressão arterial sistólica braquial. Um manguito pneumático colocado ao redor do tornozelo é inflado até a pressão suprassistólica e subsequentemente desinflado enquanto o início do fluxo é detectado com um transdutor de ultrassom Doppler colocado sobre as artérias pediosas dorsais e tibiais posteriores, denotando, deste modo, a pressão arterial sistólica no tornozelo. A pressão arterial sistólica braquial pode ser avaliada de maneira rotineira com o uso de um estetoscópio. De acordo com a última atualização das diretrizes de DAOP, o valor de ITB normal é de 1,00-1,40. Um valor de ITB de 0,91 a 0,99 é limítrofe e um ITB de 0,90 ou menos é anormal. O ITB é muitas vezes usado para aferir a gravidade da DAP. Os pacientes com sintomas de claudicação do membro inferior têm muitas vezes ITBs que variam de 0,5 a 0,8 e os pacientes com isquemia crítica do membro têm geralmente um ITB inferior a 0,5. Um ITB mais baixo associa-se a menor distância de caminhada e menor velocidade. Menos de 40% dos pacientes cujo ITB é inferior a 0,40 conseguem completar uma caminhada de seis minutos. Em pacientes com úlceras de pele, pressão no tornozelo inferior a 55 mmHg prediz má cicatrização. → Teste Ergométrico O teste ergométrico pode avaliar a significância clínica das estenoses arteriais periféricas e fornece evidências objetivas da Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO capacidade de caminhada do paciente. O teste ergométrico é realizado em um laboratório vascular, usando protocolo padronizado de exercícios e esteira para garantir a reprodutibilidade das medidas de distância livre de dor e distância máxima caminhada. O tempo do início de claudicação é definido como o tempo no qual os sintomas de claudicação se desenvolvem inicialmente e o tempo de pico de caminhada é quando o paciente não é mais capaz de continuar caminhando devido ao intenso desconforto na perna. Esta medida padronizada e mais objetiva da capacidade de caminhada suplementa a história do paciente e fornece uma avaliação quantitativa da incapacidade do paciente, assim como uma variável que pode ser monitorada após intervenções terapêuticas. → Exames de imagem Geralmente a imagem vascular não é necessária para estabelecer o diagnóstico de DAOP, no entanto, pode ser indicada para diferenciá-la de outras doenças vasculares e para identificar o local do vaso acometido em caso de indicação de intervenção. A Arteriografia é o exame padrão ouro, ele consegue fazer o diagnóstico e pode-se usá-lo também como uma forma de tratamento (para guiar a angioplastia). Mas hoje dois exames estão sendo muito utilizados devido ao menor risco de complicações em relação ao contraste: a Angio TC e a Angio RM. São exames que consegue-se fazer a reconstrução em 3D do vaso e identificar com muita precisão o ponto de obstrução, e dessa forma planejar a cirurgia de forma bastante adequada. Outro exame usado é a Ultrassonografia arterial com Doppler, o qual também consegue-se identificar o ponto de obstrução, alteração do fluxo sanguíneo, mas as imagens não são tão boas como nos dois últimos. Classificação Os sintomas apresentados pelos pacientes foram agrupados em sistemas de classificação da DAOP, amplamente conhecidos atualmente. Os sistemas Rutherford e Fontaine foram os mais usados por décadas: Tratamento Uma abordagem racional do tratamento leva em consideração a idade do paciente e as comorbidades médicas, atividades e limitações diárias, gravidade dos sintomas e localização e extensão da doença. Modificação dos fatores de risco (HAS, hiperlipidemia, tabagismo) Prática de exercícios físicosEm geral o exercício físico deve ser realizado por um período mínimo de 45 a 60 minutos, pelo menos 3x na semana, durante pelo menos 12 semanas. Durante cada sessão, um nível de exercício com intensidade suficiente para provocar claudicação deve ser alcançado. Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO Terapia farmacológica O uso de AAS e estatinas é recomendado por diversas diretrizes por reduzir a mortalidade cardiovascular nos pacientes com DAOP (profilático). O AAS tem uso profilático, para evitar que naquela placa de ateroma apareçam trombos que possam causar a agudização da doença. A terapia farmacológica específica da claudicação visa melhorar os sintomas e aumentar a distância caminhada sem dor em pacientes com claudicação, principalmente se a modificação dos fatores de risco e exercícios físicos não forem eficazes e a revascularização não puder ser oferecida. Para pacientes com claudicação que limita o estilo de vida, pode ser realizado um tratamento de 3 a 6 meses de Cilostazol (antiagregante plaquetário e vasodilatador arterial direto). Com ele, é possível o aumento da distância antes do início da claudicação. A Pentoxifilina é outra droga que pode ser utilizada no tratamento dos pacientes com DAOP , reduzindo o sintoma da claudicação. Intervenção Cirúrgica A intervenção cirúrgica é uma opção para pacientes significativamente incapacitados pela claudicação, naqueles refratários ao tratamento clínico, ou com dor em repouso, gangrenas ou úlceras. O objetivo é revascularizar o membro mal perfundido. As opções incluem: - Angioplastia com sent * - Aterectomia (intervenção mais agressiva para retirada da placa de ateroma) - Revascularização por cirurgia aberta: dissecção, isolamento do vaso, interposição de enxerto de veia, prótese ou bypass (desvio cirúrgico para segmentos com fluxo adequado). Obstrução Arterial Aguda A obstrução arterial aguda corresponde a uma das emergências vasculares mais comuns, e devido a grande morbimortalidade associada a esta condição, exige um diagnóstico precoce e tratamento adequado. A doença é causada pela interrupção súbita do fluxo arterial devido a oclusão do vaso sanguíneo por trombose ou embolias, resultando em uma série de alterações locais e sistêmicas. 1. A obstrução arterial aguda leva ao comprometimento da microcirculação – arteríolas e vênulas -, devido a diminuição do fluxo sanguíneo e fornecimento de oxigênio. 2. Como resultado, temos o surgimento de quadros isquêmicos. O endotélio passa a sofrer de forma significativa após cerca de 6 horas de isquemia. 3. A isquemia, por sua vez, induz um processo inflamatório, com formação de edema, agravando ainda mais o quadro. 4. Progressão da obstrução distal e proximal, podendo alcançar áreas de bifurcação ou vasos de maior calibre. 5. Progressão para trombose venosa - fase mais tardia da obstrução arterial - terminando de ocluir toda a circulação daquele membro. As duas principais causas de obstrução arterial aguda são a trombose e a embolia. A trombose corresponde a uma doença da parede arterial, que leva a um comprometimento do calibre dos vasos, podendo resultar em quadros de obstrução e isquemia. Os trombos são formados principalmente nas regiões acometidas por aterosclerose. Nesses casos, como o paciente já apresenta uma doença prévia no vaso, as manifestações clínicas costumam ser menos intensas quando comparadas à uma embolia aguda.. Essa diferença se dá devido ao desenvolvimento de uma circulação colateral, que ocorre ao longo do tempo nos pacientes com estenose crônica. Assim, com a ocorrência do evento agudo, essa circulação colateral consegue compensar o fluxo reduzido relacionado à obstrução. Como ela geralmente está associada à doença aterosclerótica, suas manifestações costumam surgir de forma crônica se assemelhando a uma DAOP incluindo, contudo, uma piora súbita dos sintomas após o evento agudo. A embolia arterial, por sua vez, não está relacionada a uma doença da parede do vaso. A obstrução aguda se dá a partir de um êmbolo, ou seja, um trombo que se desprendeu do seu local de origem, alojando-se em um vaso mais distal, de menor calibre. Assim, ao contrário da trombose, os sinais e sintomas da embolia arterial são mais intensos devido à ausência de uma circulação colateral. Em relação ao quadro clínico, é de início súbito e bem marcado. Manifestações Clínicas O quadro clínico de um paciente com obstrução arterial aguda costuma ser marcado pela presença de seis sinais e sintomas clássicos, conhecidos por “6 Ps”. São eles: Pain (Dor): é fundamental caracterizarmos a dor quanto ao seu início, local, intensidade, migração, fatores de melhora e fatores de piora. Cecília Gabrielle Lima Matos - 3º PERÍODO Pulseless (Ausência de pulso): Pacientes com embolia tendem a apresentar pulsos reduzidos abaixo da oclusão e pulsos cheios acima da oclusão. Além disso, os pulsos no membro contralateral costumam estar normais, sugerindo que não há uma DAOP. Já nos casos de obstrução aguda por etiologia trombótica, tanto os pulsos acima da obstrução, quanto os pulsos do membro oposto podem estar diminuídos, devido à presença de uma doença crônica associada. Palidez: é fundamental avaliarmos o tempo de enchimento capilar, principalmente nos dedos do membro afetado. Um tempo maior que 2 segundos já indica que há um comprometimento da perfusão tecidual. Parestesia: alterações sensitivas podem ser encontradas no membro acometido, indicando um comprometimento do nervo periférico. Paralisia: a presença de déficit motor é outro importante achado de acometimento neurológico. Geralmente, na fase inicial há uma fraqueza do membro acometido, que pode evoluir para uma paralisia completa. A presença de rigidez muscular associada é um indicativo de mau prognóstico, geralmente resultando em amputação do membro. Nos casos de obstrução arterial por etiologia embólica, o paciente habitualmente apresenta uma paralisia súbita, sem histórico de fraqueza precedendo o quadro. Poiquilotermia: corresponde a diminuição da temperatura do membro acometido, que tipicamente se encontra mais frio quando comparado ao membro contralateral. Diagnóstico O diagnóstico da obstrução arterial aguda pode ser feito a partir da história clínica e dos achados do exame físico. Na anamnese, devemos investigar os fatores de riscos associados a embolia, como história de fibrilação atrial, defeitos cardíacos estruturais, doenças aneurismáticas e realização recente de algum procedimento vascular invasivo. Da mesma forma, devemos questionar quanto aos fatores de risco associados a trombose, principalmente se o paciente tem histórico de DAOP. Quanto aos exames diagnósticos, são os mesmos realizados nos pacientes com DAOP. Tratamento O tratamento da obstrução arterial tem como objetivos evitar a progressão do trombo, proteger a microcirculação e revascularizar a extremidade para evitar a amputação. Assim que o diagnóstico de obstrução arterial foi feito, está indicada a anticoagulação sistêmica, com heparina intravenosa. Essa terapia impede a propagação do trombo impactado, além de diminuir o risco de trombose devido a estase e diminuição do fluxo sanguíneo após o local da oclusão. Os pacientes que são submetidos a heparização precoce apresentam uma melhora clínica importante, com diminuição do risco de inviabilidade do membro à medida que ocorre o surgimento de uma circulação colateral, possibilitando um tempo maior para programar uma possível intervenção cirúrgica. Para os pacientes que apresentam o membro viável ou baixo risco de uma inviabilidade imediata, podemos optar pela trombólise. Os agentes trombolíticos (Alteplase e Reteplase) podem ser administrados localmente, através de uma injeção intra-arterial, ou de forma sistêmica, por meio de cateteres. Antes de instituir a terapia trombolítica, devemos investigar o paciente quanto a presença de fatores que contraindiquem o procedimento. Esses fatores incluem: sangramento ativo, sangramento gastrointestinal recente, evento cerebrovascular recente, neurocirurgia recenteou traumatismo cranioencefálico recente. Os pacientes que apresentarem contraindicações à trombólise ou evidências de ameaça imediata do membro, devem ser submetidos a revascularização de emergência: - Pode ser feita por uma Tromboembolectomia aberta com cateter de Fogarty (semelhante ao stent). - Pode ser feita por uma Tromboembolectomia com arteriotomia, na qual é feita uma incisão direta na parede da artéria, ao nível da obstrução, e o trombo ou êmbolo é removido manualmente. - Ou pode ser realizada a técnica do Bypass. No caso de pacientes que já possui evolução para uma trombose venosa, o membro já está inviável e é recomendada a amputação. Referência: MANN, Douglas L. et al. BRAUNWALD - Tratado de Doenças Cardiovasculares. Sociedade Brasileira de Cardiologia. 10 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018. SILVA, Silvio Alves da. Emergência e urgência em cirurgia vascular: um guia prático. 1 ed. São Paulo: Manole, 2018.
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