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Oclusão Arterial Aguda (OAA) Definição - OAA é a oclusão súbita de uma artéria, levando a um desequilíbrio do território por ela irrigado, resultando em isquemia. - A gravidade da isquemia depende do fator etiológico (embólica ou trombótica) Classificação - OAA Embólica: • O trombo se origina a distância do local da oclusão • Não há lesão na parede da artéria • O fator primário está à distância (êmbolo) • A isquemia embólica é muito mais grave do que a trombótica, pela inexistência de circulação colateral - OAA Trombótica: • O trombo se origina no local da oclusão • Há lesão da parede da artéria no local da oclusão • O fator primário está na parede Etiologia das OAA Embólicas - Causa cardíaca: • 90-95% dos casos de OAA, sendo que 70% destas são por fibrilação atrial • Outras causas cardíacas são IAM, vegetações valvulares (endocardite), mixoma atrial (tumor), ICC (coração aumentado de volume, sem forças, gerando estase), doença de Chagas (leva a IC), próteses valvares, entre outras. - Causa arterial: • São proximais ao local obstruído • Aneurisma, placas ateromatosas, placa ulcerada, entre outras. - Causa venosa: • Mais raras • Embolia paradoxal, trombose das veias pulmonares, entre outras Etiologia das OAA Trombóticas - Causas por doenças degenerativas: • Mais comum • A doença degenerativa mais comum é a aterosclerose, mas pode ocorrer por aneurismas (causada mais comumente pela aterosclerose), dissecção arterial e outras • Pode ser causada também por doenças inflamatórias, como arterites (tromboangeíte obliterante) - Causas mecânicas: • Frequentes pela quantidade de procedimentos diagnósticos e/ou terapêuticos (arteriografias) - Causas hematológicas: • Policitemia vera e trombocitose - Miscelâneas: • Neoplasias, infecções e ergotismo (envenenamento pela ergotina) Localização das OAA Embólicas - Geralmente em bifurcações - Membros inferiores: bifurcação aorto-ilíaca, artéria femoral, artéria poplítea - Membros superiores: bifurcação da artéria braquial Localização das OAA Trombóticas - Membros inferiores: aorta terminal, ilíacas, femoro-poplitea (conduto de Hunter) - Membros superiores: subclávia e bifurcação carótidea Fisiopatologia - Fatores que influenciam na evolução das oclusões arteriais agudas: • local da oclusão (quanto mais periférica, menor a circulação colateral) • circulação colateral (nas embólicas não desenvolve) • espasmo arterial • extensão da trombose - Resistência dos tecidos a isquemia: • Nervos: • Primeiro a sofrer (imediatamente após a oclusão o indivíduo relata parestesia) • 30 minutos depois tem alteração de sensibilidade • 2 horas depois tem lesão irreversível (se não chegar nada de sangue) • Músculos: • 30 minutos a 2 horas depois tem perda de função motora • Após 2 horas temos alteração histológica • Após 6 horas tem degeneração da fibra muscular • Após 24 horas tem necrose • Vasos: • Após 6 horas tem lesão endotelial • Após 24 horas tem lesão muscular irreversível • Pele, ossos e cartilagem: • Últimos elementos a sofrerem Quadro Clínico - OAA Embólica: • Indivíduo jovem, sem história de claudicação intermitente • Quadro agudo de dor ao repouso e/ou sintomas neurológicos intensos (parestesia, anestesia), frialdade, palidez/cianose, diminuição ou perda de motricidade, ausência de pulsos, lesão trófica reversível ou irreversível - OAA Trombótica: • Indivíduo mais idoso, com claudicação intermitente. • Quadro agudo de dor ao repouso e sintomas neurológicos (mais fracos pela circulação colateral - parestesia), frialdade, palidez/cianose, diminuição ou perda da motricidade, ausência de pulsos, lesão tróficas geralmente reversíveis Diagnóstico - É principalmente clínico - Exames complementares auxiliares: • Não invasivos —> Doppler e Ecocardiograma (verifica se o coração está gerando o êmbolo — fibrilação atrial, arritmia, trombos nas câmaras cardíacas) • Invasivos —> Arteriografia (utilizada apenas para fins terapêuticos) • Semi-Invasivos —> angioressonância (não usado na emergência) e angiotomografia Diagnóstico Diferencial - O principal é diferenciar se é embólica ou trombótica - Outros diagnósticos diferenciais são: Embolia arterial, trombose arterial, dissecção de aorta e arterioespasmo. Tratamento - Generalidades: • Deve-se evitar: • Protelar a cirurgia se estiver indicada • Retardar o início do tratamento clínico • Elevação das extremidades • Aplicação de calor local • Pressões sobre os tecidos (massagem) - o sangue acidótico que estava na estase vai para a circulação sistêmica - Medidas Gerais: • Remoção para o hospital • Colocar a extremidade em declive • Iniciar o tratamento clínico o mais precoce possível - Tratamento Clínico: • Envolver a extremidade com algodão ortopédico —> diminui a frialdade • Analgésicos (dolantina) —> a dor piora a vasoconstrição • Anticoagulante (heparina EV) —> impede a formação do trombo secundário • Soro vasodilatador (cloridrato de papaverina) - Tratamento Cirúrgico das OAA Embólicas: • Embolectomia: • Retirada do êmbolo de dentro da artéria e tratar a fonte emboligênica (anticoagulante) • Feito com cateter de Fogarty • Tem um bom prognóstico se feita até 12 horas de oclusão • Nos indivíduos com oclusões tardias (mais de 12 horas) o prognóstico imediato é bom, mas o prognóstico a médio e longo prazo é a nova trombose (isquemia de endotélio gerando um novo trombo local) • Microembolizações distais: • Normalmente se opta por tratamento conservador nesses casos (artérias de pequeno calibre). • Geralmente causa Síndrome do Dedo Azul (palidez ou cianose de pododáctilo com pulsos distais presentes) • Sempre identificar a fonte emboligênica. • Uso de fibrinolíticos: • Manter por 72 horas e depois refazer o exame para ver se recanalizou • Tem muitos riscos portanto não é o método utilizado de rotina. - Tratamento Cirúrgico das OAA Trombóticas: • Opções: • Tratar o trombo com cateter de Fogarty • Derivações arteriais (bypass) - preferência pela safena (reversa, in situ) • Angioplastia transluminal percutânea e/ou stent • Endarterectomia e arterioplastia (mais comum em carótida que ainda não ocluir 100%) • Simpatectomia: • Última alternativa • Indica em OAA trombótica grave, com circulação divergente, em risco de amputação • Essa cirurgia abole o tônus simpático das artérias de pequeno calibre e arteríolas (ricas em fibra muscular lisa). • Amputação Complicações Pós-Operatórias - Reoclusão arterial: • Evolui para necrose - Síndrome compartimental: • Geralmente ocorre em indivíduos com isquemia prolongada (esses indivíduos vão vasodilatar tudo o que conseguirem para manter as células vivas) • Faz edema, perda de sensibilidade, motricidade e rigidez muscular • Tratar com fasciotomia. - Síndrome metabólica mionefrótica: • Ocorre em indivíduos com isquemia prolongada atingindo grandes massas musculares (aorta) • Ao reperfundir, o sangue venoso em estase vai para a circulação sistêmica. • Caracterizada por hiperpotassemia, hipo ou hipercalemia, aumento de CPK e transaminase, acidose metabólica, mioglobinúria e insuficiência renal • Deve ser feito a prevenção (fazer a cirurgia devagar, anestesista precisa ficar de olho na gasometria) • Quando a complicação está instalada, geralmente evolui para óbito.