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OAB XXXII EXAME DE ORDEM Crimes contra a Vida 1 CAPÍTULOS Capítulo 1 – Noções Gerais de Direito Penal Capítulo 2 – Tipicidade Penal. Tipicidade Conglobante. Capítulo 3 – Princípios aplicáveis ao Direito Penal. Capítulo 4 – Da aplicação da lei penal. Capítulo 5 – Tomo I - Teoria Geral do Crime. Tomo II - Fato típico. Tomo III - Ilicitude. Tomo IV - Culpabilidade. Capítulo 6 – Iter Criminis Capítulo 7 – Do Concurso de Pessoas Capítulo 8 – Das Medidas de Segurança Capítulo 9 – Ação Penal Capítulo 10 – Das Penas Capítulo 11 – Da Extinção da Punibilidade Capítulo 16 (você está aqui) – Dos Crimes contra a vida Capítulo 13 – Lesões Corporais Capítulo 14 – Da periclitação da vida e da saúde Capítulo 15 – Rixa Capítulo 16 – Dos crimes contra a honra Capítulo 17 – Dos crimes contra a liberdade individual. Dos crimes contra a liberdade pessoal. Capítulo 18 – Dos crimes contra a inviolabilidade do domicílio. Capítulo 19 – Dos crimes contra a inviolabilidade de correspondência. Dos crimes contra a inviolabilidade dos segredos Capítulo 20 – Dos crimes contra o patrimônio Capítulo 21 – Dos crimes contra a propriedade intelectual Capítulo 22 – Dos crimes contra a organização do trabalho Capítulo 23 – Dos crimes contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos 2 Capítulo 24 – Dos crimes contra a dignidade sexual Capítulo 25 – Dos crimes contra a família Capítulo 26 – Dos crimes contra a incolumidade pública Capítulo 27 – Dos crimes contra a paz pública Capítulo 28 – Dos crimes contra a fé pública Capítulo 29 – Dos crimes contra a administração Pública 3 SOBRE ESTE CAPÍTULO Neste capítulo, iremos tratar do tema Dos Crimes Contra a Vida. Trata-se de tema extremamente recorrente, com uma vasta legislação, que merece grande atenção. É importante sempre estudar o tema relacionando com a lei seca, jurisprudência e súmulas. O aluno vai perceber que o assunto tem grande incidência em provas objetivas e subjetivas de Carreiras Jurídicas, tais como: Promotor de Justiça, Juiz Substituto, Procuradoria, Delegado, Defensor Público e Juiz Federal. 4 SUMÁRIO DIREITO PENAL ........................................................................................................................................ 6 Capítulo 12 ................................................................................................................................................ 6 12. Dos crimes contra a vida ................................................................................................................ 6 12.1 Homicídio ................................................................................................................................................................. 6 12.1.1 Introdução ................................................................................................................................................................ 6 12.1.2 Homicídio Doloso Simples (Art. 121, caput) ............................................................................................. 6 12.1.3 Homicídio Privilegiado (Art. 121, §1.º) ...................................................................................................... 12 12.1.4 Homicídio qualificado (Art. 121, §2.º) ....................................................................................................... 17 12.1.5 Homicídio privilegiado-qualificado (homicídio híbrido) ................................................................... 33 12.1.6 Pluralidade de qualificadoras ........................................................................................................................ 34 12.1.7 Qualificadoras e dolo eventual .................................................................................................................... 34 12.1.8 Homicídio culposo (Art. 121, §3.º) .............................................................................................................. 35 12.1.9 Perdão Judicial (Art. 121, §5.º) ...................................................................................................................... 37 12.1.10 Majorante no homicídio doloso (Art. 121, §4.º, 2.ª parte) ....................................................... 38 12.1.11 Homicídio doloso majorado (Art. 121, § 6.º): milícia privada e grupo de extermínio 39 12.2 Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação .............................................. 40 12.3 Infanticídio............................................................................................................................................................. 44 12.3.1 Conceito ................................................................................................................................................................. 44 12.3.2 Objetividade jurídica e Objeto material ................................................................................................... 45 12.3.3 Sujeito ativo .......................................................................................................................................................... 45 12.3.4 Sujeito passivo ..................................................................................................................................................... 45 12.3.5 Elemento subjetivo ............................................................................................................................................ 46 12.3.6 Influência do estado puerperal: conceito e prova ............................................................................... 46 5 12.3.7 Consumação e tentativa ................................................................................................................................. 46 12.3.8 Crime impossível. A questão da anencefalia ......................................................................................... 47 12.4 Aborto ..................................................................................................................................................................... 47 12.4.1 Conceito ................................................................................................................................................................. 47 12.4.2 Espécies de aborto ............................................................................................................................................ 47 12.4.3 Espécies de Aborto criminoso ...................................................................................................................... 48 QUADRO SINÓPTICO ............................................................................................................................ 53 QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 61 GABARITO ............................................................................................................................................... 72 QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 73 GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 74 LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 76 JURISPRUDÊNCIA ...................................................................................................................................77 MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 80 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 81 6 DIREITO PENAL Capítulo 12 Neste capítulo, iremos tratar do tema Dos Crimes Contra a Vida. Trata-se de assunto recorrente em provas de Carreiras Jurídicas, que merece grande atenção. 12. Dos crimes contra a vida 12.1 Homicídio 12.1.1 Introdução A análise do art. 121 do Código Penal permite a seguinte visualização esquemática: Homicídio Doloso Culposo Simples (Caput) Privilegiado (§1.º) Qualificado (§2.º) Circunstanciado (§4.º, 2.ª parte, e §§6º e 7º). Simples (§3.º) Circunstanciado (§4.º, 1.ª parte) Perdão Judicial (§5.º) 12.1.2 Homicídio Doloso Simples (Art. 121, caput) O crime de homicídio simples encontra-se definido pelo art. 121, caput: “Matar alguém”. A essa conduta – que não aloja elementos normativos ou subjetivos –, composta por um núcleo (“matar”) e um elemento objetivo (“alguém”), é cominada a pena de reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos. Art. 121. Matar alguém: 7 Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Conceito de homicídio Homicídio significa a supressão da vida humana extrauterina praticada por outra pessoa. Podemos concluir que, a eliminação da vida humana não conduz de imediato à tipificação do crime de homicídio, tendo em vista que, se a vida for intrauterina, estará caracterizado o delito de aborto. De outro turno, caso já iniciado o trabalho de parto, a morte do feto configura homicídio ou infanticídio, dependendo do caso concreto, mas não aborto. Segundo Nelson Hungria, “homicídio é o tipo central de crimes contra a vida e é o ponto culminante na orografia (montanha) dos crimes. O homicídio é o crime por excelência”. Protege-se a vida humana, a qual se inicia no nascimento com vida. Não importa a viabilidade da vida humana, basta que haja vida biológica. Obviamente, diferente do que ocorria no passado, mesmo o ser humano com características “monstruosas” (monstrum vel prodigium, para o Direito Romano), é merecedor de tutela penal. Homicídio simples e caráter hediondo Em regra, o homicídio simples não é crime hediondo. Será assim entendido, caso seja praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que por um só agente. Art. 1° São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII); (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019). O grupo de extermínio não precisa existir, basta que o homicídio seja realizado em uma atividade típica. Por exemplo, um único agente resolve matar dez moradores de rua, que estavam dormindo, a tiros. Perceba que agiu sozinho, mas sua atividade foi típica de um grupo de extermínio. 8 Salienta-se, por fim, que o Pacote Anticrime alterou a redação do art. 1º, I da Lei de Crimes Hediondos, incluindo o inciso VIII que qualificava o homicídio pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito, foi vetado pelo Presidente da República, mas não houve sua supressão. Objeto jurídico O bem jurídico protegido é a vida humana exterior ao útero materno. O momento no qual a vida passa a ser extrauterina refere-se ao início do parto. Antes é aborto; após é homicídio ou infanticídio. A vida extrauterina inicia-se com o processo respiratório autônomo do organismo da pessoa que está nascendo, que a partir de então não depende mais da mãe para viver. Esse acontecimento pode ser demonstrado por prova pericial, por meio das docimasias respiratórias. É irrelevante a viabilidade do ser nascente. Não importa se tinha ou não possibilidade de permanecer vivo. Basta o nascimento com vida para autorizar a incidência desse tipo penal. (Quinta Turma. HC 228.998-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 23/10/2012). Iniciado o trabalho de parto, não há falar mais em aborto, mas em homicídio ou infanticídio, conforme o caso, pois não se mostra necessário que o nascituro tenha respirado para configurar o crime de homicídio, notadamente quando existem nos autos outros elementos para demonstrar a vida do ser nascente. 9 Objeto material A conduta descrita no tipo recai sobre pessoa viva. Se for pessoa morta, trata-se de crime impossível, por absoluta impropriedade do objeto material do crime. Exemplo: “A” efetua disparos de arma de fogo contra “B”, matando-o. A objetividade jurídica é a vida humana sacrificada com a conduta homicida, ao passo que “B” é o objeto material. Meios de execução O homicídio é um crime de execução livre, podendo ser praticado: Por ação ou omissão, desde que presente o dever de agir, por enquadrar-se o agente em alguma das hipóteses previstas no art. 13, § 2.º, do Código Penal, como a mãe que mata o filho ao negar-lhe alimentação por diversos dias. Por meios diretos, quando o meio de execução é manuseado diretamente pelo agente, ex: golpes com uma barra de ferro; ou indiretos, quando o meio de execução é manipulado indiretamente pelo homicida, ex: ataque de animal. Por meio de relações sexuais ou atos libidinosos: É o que ocorre com a Aids (síndrome da imunodeficiência adquirida), doença fatal e incurável. Por meios físicos, psicológicos ou emocionais. Exemplo: meios mecânicos ou susto, riso, emoção violenta. O meio de execução pode caracterizar uma qualificadora, como se dá no emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum (CP, art. 121, § 2.º, inc. III). Sujeito ativo O homicídio é crime comum, podendo se praticado por qualquer pessoa, isolada ou associada a outrem, isto é, o tipo não exige qualidade ou condição especial do agente. Comporta coautoria e participação. 10 Se o crime for praticado por xifópagos (irmãos siameses ou indivíduos duplos), haverá o reconhecimento da imputabilidade criminal. Assim, se os dois praticarem um homicídio, conjuntamente ou de comum acordo, responderão ambos como sujeitos ativos, passíveis de punição. Todavia, se o fato é cometido por um, sem ou contra a vontade do outro, impor-se-á a absolvição do único sujeito ativo, se a separação cirúrgica é impraticável por qualquer motivo. Se para punir um culpado é inevitável sacrificar um inocente, a única solução sensata há de ser a impunidade. Sujeito passivo Pode ser qualquer pessoa humana, após o nascimento e desde que esteja viva. Em caso de vítimas que sejam irmãos xifópagos? Haverá duplo homicídio. Analisaremos três situações diferentes a seguir: Se com uma única conduta estiver presente à intenção de matar a ambos (dolo direto), restará caracterizado o concurso formal imperfeito, na forma do art. 70, caput, 2.ª parte, do Código Penal. Se o desejo do agente era matar apenas um deles, mas ambos morrerem, por se tratar de consequência lógica e natural da conduta inicial, existirá dolo direto quanto a um, e dolo de segundo grau ou de consequências necessárias relativamente ao outro, novamente em concurso formal imperfeito. Se o sujeito quiser matar um deles, atingindo-o, e o outro for salvo pela eficiente atuação médica, haverá também concurso formal imperfeito, agora entre um homicídio consumado e uma tentativa de homicídio. Por fim, quando o sujeito passivo for Presidente da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal, a tipificação do homicídio pode ser transferida do Código Penal para leis extravagantes em decorrência das característicasda vítima. Nesses termos, quem mata dolosamente e com motivação política, incide no crime definido pelo art. 29 da Lei 7.170/1983 – Crimes contra a Segurança Nacional. 11 Elemento subjetivo É o dolo, denominado de animus necandi ou animus occidendi. Não se reclama nenhuma finalidade específica. Admite-se o dolo eventual, quando o agente não quer o resultado morte, mas assume o risco de produzi-lo. DPE/MG/2019: De acordo com entendimento firmado no Superior Tribunal de Justiça, responde por homicídio simples aquele que pratica o delito sem motivo, NÃO se admitindo a incidência da qualificadora do motivo fútil pelo simples fato de o delito ter sido praticado com ausência de motivos. = Ausência de motivos não configura motivo fútil. Consumação e tentativa O crime é material, exigindo a produção de resultado para a consumação. Consuma-se com a morte. Dá-se a morte com cessação da atividade encefálica, conforme dispõe o art. 3º da Lei 9.434/97. A prova da materialidade realiza-se pelo exame necroscópico, que, além de atestar a morte, indica também suas causas. É possível a tentativa (conatus) de homicídio. O crime é plurissubsistente (a execução admite fracionamento). Na tentativa branca ou incruenta a vítima não é atingida, enquanto na tentativa vermelha ou cruenta a vítima é alcançada pela conduta criminosa e sofre ferimentos. 12 12.1.3 Homicídio Privilegiado (Art. 121, §1.º) É a modalidade de homicídio prevista no art. 121, § 1.º, do Código Penal: § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, LOGO EM SEGUIDA a injusta provocação da vítima, o juiz pode REDUZIR a pena de um sexto a um terço (1/6 a 1/3). É fruto de criação doutrinária e jurisprudencial. Trata-se de uma causa de diminuição da pena (minorante) devendo ser levada em conta na 3ª fase da aplicação da pena. Perceba que há três hipóteses de privilégio, quais sejam: 1. Motivo de relevante valor social; 2. Motivo de relevante valor moral; 3. Domínio de violenta emoção, logo em seguida a provocação da vítima. Incomunicabilidade do privilégio Conforme o art. 30 do CP: Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. As hipóteses legais de privilégio apresentam caráter subjetivo. Relacionam-se ao agente, que atua imbuído por relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, e não ao fato. Por fim, a causa de diminuição da pena não se comunica aos demais coautores ou partícipes, tendo em vista que não são elementares (são circunstâncias), e não são objetivas (são subjetivas). 13 Diminuição da pena Conforme o art. 121, § 1.º, do Código Penal, presente o privilégio, “o juiz pode reduzir a pena". Todavia, o Juiz deve diminuir a pena, obrigatoriamente. Sua discricionariedade (“pode”) limita-se ao quantum da diminuição. Indaga-se: a expressão “pode” significa uma faculdade do juiz ou trata-se de um poder- dever? Caracterizado o privilegio o juiz deve diminuir a pena. Portanto, trata-se de uma obrigação, possuindo discricionariedade para escolher o quantum de diminuição. Isso ocorre porque o crime de homicídio é de competência do Tribunal do Júri, um dos quesitos perguntados aos jurados será sobre o reconhecimento de alguma causa de diminuição de pena alegada pela defesa (art. 483, §3º, V do CPP – ex: homicídio privilegiado). Assim, reconhecido o privilégio pelos jurados o juiz é obrigado a diminuir a pena, optando pelo quantum de diminuição. Circunstâncias que ensejam o reconhecimento do privilégio Motivo de relevante valor social Motivo de relevante valor social é o pertinente a um interesse da coletividade. Exemplo: morte do traidor da pátria, matar um traficante que prejudica a comunidade. Motivo de relevante valor moral Motivo de relevante valor moral é aquele que se relaciona a um interesse particular do responsável pela prática do homicídio, aprovado pela moralidade prática e considerado nobre e altruísta. Matar para atender interesses pessoais, porém ligados ao sentimento de compaixão, misericórdia ou piedade. Exemplo: Eutanásia; pai que mata estuprador da filha. O item 39 da Exposição de Motivos da Parte Especial do Código Penal coloca a eutanásia como exemplo de homicídio privilegiado. 14 Eutanásia A eutanásia (em sentido amplo) pode ser fracionada em duas espécies. E ambas tipificam o crime de homicídio privilegiado. Eutanásia em sentido estrito: É a antecipação comissiva da morte para evitar maiores sofrimentos, por motivo de compaixão. É também denominada de homicídio piedoso, compassivo, médico, caritativo ou consensual. Ortotanásia: é a eutanásia por omissão, também chamada de eutanásia omissiva, eutanásia moral ou eutanásia terapêutica. O médico deixa de adotar as providências necessárias para prolongar a vida de doente terminal, portador de moléstia incurável e irreversível. Obs.: O art. 41 do Código de Ética Médica prevê que o médio não pode abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal (proibição da eutanásia). Já no parágrafo único é previsto que o médico não precisa empreender ações diagnósticas ou terapêutica inúteis ou obstinadas. Contudo, não se trata de uma autorização para que seja praticada a ortotanásia, mas sim que o paciente não seja tratado como uma cobaia. Distanásia É o prolongamento artificial do processo de morte, com sofrimento do doente. Ao invés de se permitir ao paciente uma morte natural, prolonga-se sua agonia, sem que o paciente e a equipe médica tenham reais expectativas de sucesso ou de uma qualidade de vida melhor. Não é crime, por se tratar de meio capaz de arrastar a existência da vida humana, ainda que com sofrimento, até o seu fim natural. MISTANÁSIA: É a morte precoce e miserável de alguém, provocada pelo descaso e pela maldade de alguns seres humanos. Pode ocorrer em três hipóteses: 15 1ª H – Doente que não recebe tratamento médico adequado pelo SUS, seja por motivos econômicos, sociais ou políticos. Pode caracterizar FATO ATÍPICO, análise do caso concreto. 2ª H – Doente é atendido pelo SUS, mas morre em razão de erro médico. HOMICÍDIO CULPOSO. 3ª H – Doente entra no SUS com real expectativa de vida, mas morre em razão da má-fé das pessoas que lhe prestam atendimento. HOMICÍDIO DOLOSO. Domínio de violenta emoção (Homicídio Emocional) O Código Penal exige a presença de três requisitos cumulativos para autorizar a incidência da causa de diminuição da pena: 1. Domínio de violenta emoção A capacidade de autodeterminação diminuída em razão de ter sido injustamente provocado. A emoção deve ser violenta, intensa, capaz de alterar o estado de ânimo do agente a ponto de tirar-lhe a seriedade e a isenção que ordinariamente possui. Não se confunde com emoção e paixão, especialmente no tocante à duração. Emoção e paixão, NÃO excluem a imputabilidade, mas podem funcionar como causa de diminuição de pena. Ainda, o domínio de violenta emoção não se confunde com mera influência, a atenuante genérica do ART. 65, III, CP – “sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima” – pois, neste caso, não se exige o domínio de violenta emoção, bastando à mera influência de violenta emoção, não precisando do requisito temporal “logo em seguida”.1 Privilégio: art. 121, § 1.º Atenuante genérica: art. 65, inc. III, “c” Homicídio doloso Qualquer crime 1 Vide questão 5 do material 16 Domínio de violenta emoção Influência de violenta emoção Injusta provocação da vítima Ato injusto da vítima Reação de imediatidade: logo em seguida Em qualquer momento 2. Injusta provocaçãoda vítima A provocação injusta não precisa ser criminosa. É o comportamento apto a desencadear a violenta emoção e a consequente prática do crime. Não se confunde com agressão, a qual que poderia possibilitar a justificação da conduta pela legítima defesa. É possível, ainda, que o ato injusto seja dirigido a um terceiro ou contra um animal, mas na presença de quem reage. Ex: risadas com desprezo. No Tribunal do Júri, as teses benéficas ao acusado devem, obrigatoriamente ser quesitadas antes das qualificadoras e das causas de aumento de pena. Desta maneira, reconhecida pelos jurados a existência de homicídio privilegiado, estarão automaticamente prejudicados os quesitos pertinentes a eventuais qualificadoras de natureza subjetiva. 3. Reação imediata Exige-se a imediatidade da reação, entre a provocação injusta e a conduta homicida. É a reação sem intervalo temporal. É indispensável seja o fato praticado “logo em seguida”, momentos após a injusta provocação da vítima. Domínio de violenta emoção e premeditação A premeditação do homicídio é incompatível com essa hipótese de privilégio. A tarefa de arquitetar minuciosamente a execução do crime não se coaduna com o domínio da violenta emoção. Domínio de violenta emoção e dolo eventual O privilégio é compatível com a figura do dolo eventual. 17 12.1.4 Homicídio qualificado (Art. 121, §2.º) O homicídio qualificado tem previsão no Art. 121, §2º, do Código Penal. É crime hediondo, qualquer que seja a qualificadora. § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo fútil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum2; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime3: Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Feminicídio VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: VIII - (VETADO): (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Qualificadoras e concurso de pessoas As qualificadoras previstas nos incisos I, II, V, VI e VII, e também a traição (inciso IV), são de índole subjetiva. Dizem respeito ao agente, e não ao fato. 2 Vide questão 6 do material 3 Vide questão 8 do material 18 Por outro lado, as qualificadoras descritas pelos incisos III e IV (meios e modos de execução), com exceção da traição, são de natureza objetiva, por serem atinentes ao fato praticado, e não ao agente. Comunicam-se no concurso de pessoas, desde que tenham ingressado na esfera de conhecimento de todos os envolvidos. Índole subjetiva Índole objetiva Não se comunicam aos coautores e partícipes (Art. 30, CP). Comunicam-se aos coautores e partícipes, desde que conhecidas (Art. 30, CP). I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; II - por motivo fútil; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: 19 Qualificadoras do homicídio em espécie (análise do art. 121, §2º) Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe: inciso I É o chamado homicídio mercenário ou mandato remunerado. Trata-se de delito onde necessariamente há número plural de agentes (mandante e executor), ou seja, trata-se de crime plurissubjetivo (de concurso necessário). Na paga o recebimento é prévio. O executor recebe a vantagem e depois pratica o homicídio. Já na promessa de recompensa o pagamento é convencionado para momento posterior à execução do crime. Nesse caso, não é necessário que o sujeito efetivamente receba a recompensa. É suficiente a sua promessa. Aplica-se a qualificadora, imediatamente, ao executor, pois é ele quem atua movido pela paga ou pela promessa de recompensa. Para Cleber Masson, a qualificadora não é aplicada ao mandante, por se tratar de circunstância manifestamente subjetiva: "É o que se extrai do art. 30 do Código Penal. Contudo, se a situação concreta revelar que o motivo que levou o mandante a encomendar o homicídio também é torpe, incidirá a qualificadora, não em razão da paga ou promessa de recompensa, mas sim da torpeza genérica". Há duas correntes acerca do assunto: 1ª Corrente: Trata-se de circunstância subjetiva incomunicável nos termos do art. 30 do CP. (Doutrina moderna – Rogério Greco). 2ª Corrente: Trata-se de elementar subjetiva do homicídio qualificado, logo, comunicável aos concorrentes, nos termos do art. 30 do CP. Ou seja, para essa corrente, o homicídio qualificado configura um tipo penal autônomo. Entretanto, as turmas do STJ também têm entendimentos distintos: (HC 403.263/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 13/11/2018, DJe 22/11/2018) - A Quinta Turma do Superior 20 Tribunal de Justiça, no julgamento do REsp 1.415.502/MG (Rel. Ministro FELIX FISCHER, DJe 17/2/2017), firmou compreensão no sentido de que a qualificadora da paga ou promessa de recompensa não é elementar do crime de homicídio e, em consequência, possuindo caráter pessoal, não se comunica aos mandantes. Ressalva de entendimento pessoal do Relator. (AgInt no REsp 1681816/GO, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 03/05/2018, DJe 15/05/2018) - No homicídio mercenário, a qualificadora da paga ou promessa de recompensa é elementar do tipo qualificado, comunicando-se ao mandante do delito. Com relação ao motivo torpe, é o vil, repugnante, abjeto, moralmente reprovável. Ofende o sentimento ético e moral da sociedade. Exemplo: matar um parente para ficar com sua herança. Importa dizer que, a vingança não caracteriza automaticamente a torpeza. Em algumas situações, todavia, a vingança pode ser considerada como motivo torpe, dependendo da causa que originou. Exemplos: Não é torpe a conduta do marido que mata o estuprador de sua esposa. É torpe o ato de um traficante consistente em matar outro vendedor de drogas que havia, no passado, dominado o controle do tráfico na favela então controlada pelo assassino. Por fim, o ciúme, por si só, NÃO configura motivo torpe. Motivo fútil: inciso II É insignificante, desproporcional, desarrazoado. Existe uma desproporção do crime com a sua causa moral. Fundamenta-se a elevação da pena na resposta estatal em razão do egoísmo, da atitude mesquinha que alimenta a atuação do responsável pela infração penal. A ausência de motivo não deve ser equiparada ao motivo fútil. A prova da DPE/MG/2019 trouxe a seguinteassertiva como verdadeira: De acordo com entendimento firmado no Superior Tribunal de Justiça, responde por homicídio simples aquele que pratica o delito sem motivo, NÃO se admitindo a incidência da qualificadora do motivo fútil pelo simples fato de o delito ter sido praticado com ausência de motivos. = Ausência de motivos não configura motivo fútil. 21 Não se caracteriza motivo fútil se a futilidade for indireta ou mediata, ou seja, se a desavença começou por uma razão banal, mas evoluiu para troca de ofensas e agressões entre o agente e a vítima. A embriaguez, por sua vez, é incompatível com o motivo fútil. O motivo fútil e motivo injusto não se confundem: todo crime é injusto, pois o sujeito passivo não é obrigado a suportá- lo, embora nem sempre seja fútil. Um motivo não pode ser simultaneamente fútil e torpe. Uma motivação exclui a outra. É fútil ou torpe, obrigatoriamente. O STJ em 2016 entendeu que NÃO incide a qualificadora de motivo fútil na hipótese de homicídio supostamente praticado por agente que disputava “racha”, quando o veículo por ele conduzido tenha atingido o veículo da vítima, terceiro estranho à disputa automobilística. Finalmente, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu pela tanto pela incompatibilidade entre o motivo fútil e o dolo eventual, quanto pela compatibilidade: STJ/2017: O dolo eventual e o motivo fútil são figuras penais diversas e, em tese, compatíveis, ou seja, elas não se excluem: uma é elemento subjetivo do tipo, enquanto a outra, circunstância que se relaciona com a ação nuclear de matar alguém, tornando o tipo qualificado. STJ/2016: A qualificadora de motivo fútil é incompatível com o dolo eventual, tendo em vista a ausência do elemento volitivo. Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum: inciso III Meio insidioso é o meio falso, pérfido, desleal. Consiste no uso de estratagema, de perfídia, de uma fraude para cometer um crime sem que a vítima o perceba. Exemplo: Veneno. O homicídio com emprego de veneno é chamado de venefício. Meio cruel é o meio doloroso, desumano, despiedoso, como ocorre na hipótese de emprego de fogo, de asfixia, tortura. 22 Há diferença entre homicídio qualificado pela tortura e tortura qualificada pela morte (Lei n.º 9.455/97). No homicídio qualificado, a intenção do agente é eliminar a vítima por meio da tortura. Ou seja, o agente quer matar a vítima, mas deseja que ela passe por um intenso sofrimento antes de morrer. Já na hipótese da Lei 9.455/1997, a intenção do agente é torturar a vítima (por exemplo, para obter a sua confissão), vindo a lhe causar culposamente a morte (crime preterdoloso). Não incide a qualificadora quando o meio cruel é empregado após a morte da vítima, pois a crueldade que caracteriza a qualificadora é somente aquela utilizada para matar. Meio de que possa resultar perigo comum é o que expõe a coletividade a perigo de dano, a exemplo de diversos tiros certeiros contra a vítima quando se encontrava em movimentada via pública. Em regra, basta à possibilidade de o meio de execução utilizado pelo agente provocar perigo a um número indeterminado de pessoas. Em suma, não se reclama prova da situação de perigo a outras pessoas. Contudo, se restar provado que o meio de execução, além de dirigir- se à morte da vítima, também causou perigo a um número indeterminado de pessoas, ao agente serão imputados os crimes de homicídio qualificado e de perigo comum (CP, arts. 250 a 259), em concurso formal, nos termos do art. 70 do Código Penal. À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido: inciso IV Traição é a agressão súbita e sorrateira. É ataque desleal que contraria as expectativas da vítima. O ofendido não deve ter motivo para desconfiar do ataque. Pode ser física (exemplo: atirar pelas costas) ou moral (atrair a vítima para um precipício). Difere da surpresa, eis que na traição deve haver relação de confiança e lealdade entre o agente e a vítima. Na surpresa, a agressão é súbita e inesperada, mas não há relação de confiança. Emboscada é a espreita, a tocaia. O agente espera a vítima às escondidas para atacar. 23 Dissimulação é a ocultação da intenção hostil para que a vítima seja atingida quando estiver desprevenida. Pode ser moral (falsa mostra de amizade) ou material (utilização de disfarce). Por fim, outro recurso que dificulte ou torne impossível à defesa da vítima, destaca- se, como exemplo, a conduta de matar a vítima com surpresa, enquanto dorme, quando se encontra em estado de embriaguez, em manifesta superioridade numérica de agentes (linchamentos) etc. É necessário que a vítima tenha alguma possibilidade de defesa numa situação normal. Exemplo onde não se configura: Vítima em coma. Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime: inciso V Assegurar a execução de outro crime corresponde à conexão teleológica. Mesmo que o segundo crime não se consume, ou mesmo seja impossível, é qualificado o primeiro, pois basta que a finalidade do homicídio tenha sido a garantia da execução. Exemplo: Matar o segurança da Gisele para estuprá-la. Não tem cabimento a qualificadora quando o homicida desejava assegurar a execução de uma contravenção penal, pois o dispositivo legal fala apenas em crime. Conexão consequencial, por sua vez, é a qualificadora em que o homicídio é cometido para assegurar a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outro crime. O sujeito comete um crime e só depois o homicídio. Na ocultação o agente pretende impedir que se descubra a prática de outro crime. Na impunidade, por sua vez, o agente deseja evitar a punibilidade do crime anterior. A vantagem é tudo o que se auferiu com o outro crime, aí se compreendendo seu produto, seu preço e também seu proveito, que pode ser material ou moral. Finalmente, a conexão ocasional não qualifica o crime. Estaria configurada quando um crime é cometido em face da ocasião proporcionada pela prática de outro delito. Ex: o agente, após subtrair o dinheiro do caixa, decide matar o atendente. 24 Contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: inc. VI (FEMINICÍDIO) Feminicídio é o homicídio doloso cometido contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, ou seja, desprezando, menosprezando, desconsiderando a dignidade da vítima enquanto mulher, como se as pessoas do sexo feminino tivessem menos direitos do que as do sexo masculino. Foi incluído no art. 121, § 2.º, inciso VI, do Código Penal pela Lei 13.104/2015. Cuida-se de figura qualificada do homicídio doloso, de competência do Tribunal do Júri e expressamente rotulado como crime hediondo, a teor da regra contida no art. 1.º, inciso I, da Lei 8.072/1990. VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino; Feminicídio e femicídio não se confundem. Ambos caracterizam homicídio, mas, enquanto o feminicídio se baseia em razões da condição de sexo feminino, o femicídio consiste em qualquer homicídio contra a mulher. As “razões da condição de sexo feminino" estão previstas no § 2.º-A do art. 121 do Código Penal, uma norma penal explicativa, assim redigida: § 2.º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:4 I – violência doméstica e familiar; O feminicídio não era abrangido pela Lei 11.340/2006 – Lei Maria da Penha, apesar de a Sra. Maria da Penha Maia Fernandes, que deu nome à Lei, ter sido vítima de feminicídio duas vezes (tentado). De fato, a Lei 11.340/2006 não criou novos delitos. No campo penal, limitou-se a definir um tratamento mais rigoroso à lesão corporal leve (CP, art. 129, §§ 9.º e 11). Vale ressaltar que as medidas protetivas da Lei Maria da Penha poderão ser aplicadas à vítima do feminicídio (obviamente,desde que na modalidade tentada). 4 Vide questão 10 do material 25 A violência doméstica e familiar contra a mulher, indiscutivelmente uma violação dos direitos humanos, encontra-se definida no art. 5.º da Lei 11.340/2006: Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. Art. 6º A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos humanos. Para Cleber Masson, a Lei 13.104/2015, ao prever o feminicídio, poderia ter sanado uma falha técnica da Lei Maria da Penha. Com efeito, não se exige a violência doméstica e familiar. Basta a violência doméstica ou familiar. Haverá feminicídio quando o homicídio for praticado contra a mulher em situação de violência doméstica e familiar. Entretanto, o reconhecimento da violência doméstica ou familiar contra a mulher não é suficiente para a configuração do feminicídio. O inciso I do § 2.º-A deve ser interpretado em sintonia com o inciso VI do § 2.º, ambos do art. 121 do Código Penal. Em outras palavras, o feminicídio reclama que a motivação do homicídio tenha sido as “razões da condição do sexo feminino”, e daí resulte a violência doméstica ou familiar. Assim, ainda que a violência aconteça no ambiente doméstico ou familiar e mesmo que tenha a mulher 26 como vítima, não haverá feminicídio se não existir, no caso concreto, uma motivação baseada no gênero (“razões de condição de sexo feminino”). II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Para ser enquadrado neste inciso, é necessário que, além de a vítima ser mulher, fique caracterizado que o crime foi motivado ou está relacionado com o menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Aqui não se exige a violência doméstica ou familiar. Natureza da qualificadora O feminicídio constitui-se em qualificadora de natureza OBJETIVA, e pode coexistir com a qualificadora de torpeza (SUBJETIVA). De acordo com o STJ, a qualificadora do feminicídio pode coexistir com a qualificadora do motivo torpe, pois o feminicídio tem natureza objetiva, o que dispensa a análise do animus do agente, enquanto o motivo torpe tem natureza subjetiva, já que de caráter pessoal. STJ/2018: Não caracteriza bis in idem o reconhecimento das qualificadoras de motivo torpe e de feminicídio no crime de homicídio praticado contra mulher em situação de violência doméstica e familiar.5 STJ/2018: enquanto o motivo torpe está relacionado à razão do delito, ao que levou o réu a praticar o crime, o reconhecimento do feminicídio decorreu da ocorrência de violência doméstica e familiar. Assim, presentes uma qualificadora de cunho subjetivo (motivo torpe) e outra de cunho objetivo (feminicídio), circunstâncias de naturezas diversas que coexistem em perfeita harmonia, não há nulidade a ser declarada. 5 Vide questão 1 do material 27 DPE/MG/2019: De acordo com o STJ, a qualificadora do feminicídio pode coexistir com a qualificadora do motivo torpe, pois o feminicídio tem natureza objetiva, o que dispensa a análise do animus do agente, enquanto o motivo torpe tem natureza subjetiva, já que de caráter pessoal. Sujeitos do delito Trata-se de crime comum, podendo ser cometido por qualquer pessoa. Em regra, o sujeito ativo é homem, mas nada impede seja também uma mulher, desde que o delito seja cometido por razões de condições de sexo feminino. O sujeito passivo, por seu turno, deve ser uma mulher, independentemente da sua idade e da sua orientação sexual. Não é possível que o transexual seja vítima de feminicídio, ainda que tenha feito à retificação do gênero no registro civil. Não há falar em feminicídio na morte do transexual, pois a vítima biologicamente não ostenta o sexo feminino, tanto que jamais poderá reproduzir-se, pela ausência dos órgãos internos. Assim, a transexual que realizou a cirurgia e passou a ter identidade sexual feminina é equiparada à mulher para todos os fins de direito, menos para agravar a situação do réu. Causas de aumento da pena O § 7º do art. 121 do CP prevê causas de aumento de pena exclusivas para o feminicídio. A Lei nº 13.771/2018 altera essas causas de aumento de pena. § 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado: 28 I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; (Redação dada pela Lei nº 13.771, de 2018) III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima; (Redação dada pela Lei nº 13.771, de 2018) IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. (Incluído pela Lei nº 13.771, de 2018);6 Para a incidência das majorantes enunciadas, faz-se imprescindível que o agressor tenha ciência das circunstâncias, evitando-se, assim, a responsabilidade penal objetiva. São causas de aumento de pena exclusivas para o feminicídio: Inc. I – Crime praticado durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto O aumento da pena pode ocorrer em duas hipóteses: 1. Crime praticado durante a gestação: partindo da premissa de que o indivíduo conhece a gravidez, a ele serão imputados dois crimes: feminicídio circunstanciado (CP, art. 121, §§ 2.º, inc. VI, e 7.º, inc. I) e aborto sem o consentimento da gestante (CP, art. 125), com dolo direto ou eventual, em concurso formal impróprio ou imperfeito (CP, art. 70, caput, parte final), pois a pluralidade de resultados emana de desígnios autônomos. Todavia, se a gestação era ignorada pelo agente, não poderão ser reconhecidos nem o crime de aborto nem a majorante, em respeito à inadmissibilidade da responsabilidade penal objetiva. 2. Crime praticado nos 3 (três) meses posteriores ao parto: Nos três meses após o parto o recém-nascido é extremamente dependente dos cuidados maternos: amamentação, segurança, afeto e conforto, entre tantos outros fatores. Com a morte da mãe, o normal desenvolvimento da criança torna-se muito mais complexo. 6 Vide questão 2 do material 29 II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; Na mudança no inciso II, foi acrescentada a seguinte hipótese: A pena imposta ao feminicídio será aumentada de 1/3 a 1/2 se, no momento do crime, a mulher (vítima) era portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental. Como exemplo, podemos citar a esclerose lateral amiotrófica. A vítima, nesse caso, apresenta uma fragilidade (debilidade) maior, de forma que a conduta do agente se revela com altograu de covardia. III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima; A pena imposta ao feminicídio será aumentada se o delito foi praticado na presença (física ou virtual) de descendente ou de ascendente da vítima. Com a mudança do inciso III, foi acrescentada no dispositivo a presença "virtual". Assim, haverá a causa de aumento mesmo que o ascendente ou descendente não esteja fisicamente no mesmo ambiente onde ocorre o homicídio. É o caso, por exemplo, em que o filho da vítima presencia, por meio de webcam, o agente matar sua mãe. IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.” A pena do feminicídio é aumentada caso o agente descumpra as seguintes medidas protetivas de urgência: Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.826.htm 30 a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida; Cumpre observa que a própria Lei Maria da Penha prevê uma punição para o descumprimento dessas medidas, qual seja, o crime do art. 24-A da Lei Maria da Penha: Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência previstas nesta Lei: (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos. Todavia, se o sujeito praticar o feminicídio com base nessa causa de aumento de pena, o delito do art. 24-A do CP será absorvido pela conduta mais grave, qual seja, a prática do art. 121, § 7º, IV, do CP. Fazer incidir o art. 24-A da Lei nº 11.340/2006 e também pelo inciso IV do § 7º do art. 121 do CP representaria punir duas vezes o agente pelo mesmo fato (bis in idem), o que é vedado. VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição - Homicídio FUNCIONAL Esta qualificadora foi incluída no CP pela Lei 13.142/2015, com intuito de tornar mais severa a pena do homicídio, consumado ou tentado, praticado contra integrantes dos órgãos de segurança pública ou pessoas a estes ligadas pelo casamento, pela união estável ou pelo parentesco. O homicídio contra integrantes dos órgãos de segurança pública é de competência do Tribunal do Júri e possui natureza hedionda. 31 A qualificadora prevista no art. 121, § 2.º, inc. VII do Código Penal tem natureza pessoal ou subjetiva, pois diz respeito à motivação do agente. Consequentemente, essa figura é incompatível com o privilégio (CP, art. 121, § 1.º), excluindo o homicídio híbrido (privilegiado- qualificado). Para Cleber Masson, o legislador incorreu em grave falha ao deixar de lado os membros do Poder Judiciário (juízes, desembargadores e ministros) e do Ministério Público (promotores e procuradores de Justiça, na esfera estadual, e procuradores da República, no âmbito federal). O inciso VII do § 2.º do art. 121 do Código Penal contempla: Autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal: é norma penal em branco de fundo constitucional. A descrição típica depende da complementação de dispositivos da Constituição Federal. O art. 142 da Lei Suprema engloba os integrantes das Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica. No art. 144 da Constituição Federal encontram-se os membros da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Ferroviária Federal, das Polícias Civis e das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares7. Para os integrantes das guardas municipais também deverá incidir a qualificadora em análise. A qualificadora não se aplica aos agentes de polícia da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Integrantes do sistema prisional: todos aqueles que atuam na esfera administrativa da execução da pena privativa de liberdade e da medida de segurança detentiva. Integrantes da Força Nacional de Segurança Pública: formada por policiais e bombeiros dos grupos de elite dos Estados, que se submetem a treinamento especial na Academia Nacional da Polícia Federal, em Brasília, com o propósito de atender às necessidades emergenciais dos Estados. 7 Vide questão 7 do material 32 A caracterização da qualificadora reclama seja o homicídio (consumado ou tentado) cometido no exercício da função ou em decorrência dela. O tipo penal infelizmente não abarca a situação em que um policial civil recentemente aposentado, morto por criminosos como retaliação a uma investigação de que ele participou quando estava em serviço. Cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: O tipo penal também protege o cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, da autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, dos integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública. O delito deve vincular-se à função pública desempenhada pelo cônjuge, companheiro ou parente da vítima, pois o legislador utilizou a frase “em razão dessa condição. A qualificadora não alcança o parentesco por afinidade. Por fim, o legislador ao limitar a qualificadora ao parentesco natural, decorrente do vínculo biológico (pessoas do mesmo sangue), o Código Penal excluiu da especial proteção as relações oriundas do parentesco civil, notadamente os filhos adotivos. DPE/MG/2019: A qualificadora do chamado homicídio funcional, de acordo com o texto legal, só abrange o vínculo consanguíneo, de forma que ela NÃO incide se a vítima for o filho adotivo do agente de segurança. 33 Importante ter em mente que o crime de homicídio admite interpretação analógica no que diz respeito à qualificadora que indica meios e modos de execução desse crime.8 Masson explica: interpretação analógica é a que se verifica quando a lei traz uma fórmula casuística, isto é, fechada, seguida de uma fórmula genérica, isto é, de uma válvula de escape, aberta. Por que o legislador usa isso? Porque é impossível prever todas as situações que possam ocorrer no caso concreto. E ainda que ele pudesse prever, ele teria que mudar isso constantemente, e o tipo penal ficaria gigantesco. Então, o CP emprega a interpretação analógica, por exemplo, no art. 121, §2º, inciso I: "Se o homicídio é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe." A interpretação analógica não se confunde a com a analogia. A analogia não é uma forma de interpretação do Direito Penal. É uma forma de integração do Direito Penal, ou seja, na analogia há uma lacuna na lei. E para resolver essa lacuna, aplicamos no caso omisso uma norma que regula um caso semelhante. A analogia só pode ser utilizada para beneficiar o réu (analogia in bonam partem). A regra é a da vedação do emprego da analogia no âmbito penal em respeito ao princípio da reserva legal.12.1.5 Homicídio privilegiado-qualificado (homicídio híbrido) Há compatibilidade entre circunstâncias privilegiadoras e circunstâncias qualificadoras, desde que estas sejam de natureza OBJETIVA. Privilegiadoras (§1º do art. 121) Qualificadoras (§2º do art. 121) Relevante valor social (subjetiva) Relevante valor moral (subjetiva) Emoção (subjetiva) Motivo torpe (subjetiva) Motivo fútil (subjetiva) Meio cruel (objetiva) Modo surpresa (objetiva) 8 Vide questão 3 do material 34 Finalidade especial (subjetiva) Feminicídio (subjetiva) Agentes de segurança (subjetiva) O homicídio pode ser qualificado e privilegiado, mas somente quando a qualificadora for referente a circunstâncias objetivas (inciso III e IV). As circunstâncias subjetivas são aquelas ligadas ao motivo ou ao estado anímico do agente. Já as circunstâncias objetivas são aquelas ligadas ao meio ou modo de execução. Por fim, o homicídio pode ser qualificado e privilegiado não é hediondo. 12.1.6 Pluralidade de qualificadoras Caso exista mais de uma circunstância qualificadora do crime (por exemplo, furto qualificado pelo rompimento de obstáculo e concurso de pessoas, art. 155, § 4º, I, e IV, do CP), somente uma delas deverá ser aplicada como ponto de partida, ficando a outra relegada (A) à segunda fase de aplicação da pena, caso encontre previsão legal em uma das circunstâncias agravantes dos artigos 61 ou 62 do Código Penal, ou (B) à análise em sede de circunstâncias judiciais, ainda na primeira fase. Assim, se um homicídio foi cometido por motivo torpe e com emprego de tortura, o motivo pode fundamentar a qualificadora e a tortura servirá como circunstância agravante (art. 61, inc. II, d, do CP), a incidir na segunda fase de aplicação da pena qualificada: (AgRg no AREsp 830.554/SP, j. 20/09/2018). Havendo mais de uma qualificadora do delito, é possível que uma delas seja utilizada como tal e as demais sejam consideradas como circunstâncias desfavoráveis, seja para agravar a pena na segunda etapa da dosimetria, seja para elevar a pena-base na primeira fase do cálculo.” 12.1.7 Qualificadoras e dolo eventual São compatíveis, em princípio, o dolo eventual e as qualificadoras do homicídio. O STJ, em 2017, entendeu que não há incompatibilidade na coexistência da qualificadora do motivo 35 fútil com o dolo eventual em caso de homicídio causado após pequeno desentendimento entre agressor e agredido. 12.1.8 Homicídio culposo (Art. 121, §3.º) Ocorre o homicídio culposo quando o agente, com manifesta negligência, imprudência ou imperícia, deixa de empregar a atenção ou diligência de que era capaz, provocando o resultado morte, previsto (culpa consciente) ou previsível (culpa inconsciente), jamais querido ou aceito. § 3º Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de um a três anos. Imprudência, ou culpa positiva, consiste na prática de um ato perigoso. Negligência, ou culpa negativa, é deixar de fazer aquilo que a cautela recomendava. Imperícia, ou culpa profissional, é a falta de aptidão para o exercício de arte, profissão ou ofício para a qual o agente, em que pese autorizado a exercê-la, não possui conhecimentos teóricos ou práticos para tanto. A culpa constitui-se em elemento normativo do tipo. Lembrando que o crime culposo (salvo em relação à culpa imprópria) é incompatível com a tentativa. Finalmente, é importante destacar que para o homicídio culposo praticado na direção de veículo automotor aplica-se o crime definido pelo art. 302 da Lei 9.503/1997 – Código de Trânsito Brasileiro. Cuida-se de regra especial que, no conflito aparente de normas, afasta a regra geral (princípio da especialidade). Causas de aumento de pena no homicídio culposo: art. 121, § 4.º, 1.ª parte; Aumento de pena 36 § 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. O art. 121, § 4.º, 1.ª parte, do Código Penal arrola quatro causas de aumento de pena aplicáveis somente ao homicídio culposo. Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício Essa inobservância regulamentar não se confunde com a imperícia, eis que na majorante o agente domina a técnica, mas deixa de observá-la. Já na imperícia o sujeito não reúne conhecimentos teóricos ou práticos para o exercício de arte, profissão ou ofício. Para o STF é perfeitamente possível, pois não há bis in idem, a incidência conjunta da causa de aumento da pena definida pelo art. 121, § 4.º, do Código Penal, relativa à inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, no homicídio culposo cometido com imperícia médica. Essa causa de aumento da pena somente se aplica ao profissional que deva ter maior diligência na atividade. Deixar de prestar imediato socorro à vítima Esta causa de aumento da pena, fundada na solidariedade humana, relaciona-se unicamente às pessoas que por culpa contribuíram para a produção do resultado naturalístico, e não tenham prestado imediato socorro à vítima. A incidência da majorante afasta a caracterização da omissão de socorro como crime autônomo. Não tem cabimento a causa de aumento de pena na hipótese de morte instantânea incontestável, desde que seja evidente, isto é, perceptível por qualquer pessoa. Contudo, se houver dúvida quanto à morte, a solidariedade impõe a prestação de socorro. 37 De igual modo, não incide o aumento da pena quando o sujeito deixou de prestar socorro porque não tinha condições de fazê-lo, seja por questões físicas, seja porque o comportamento exigido em lei a ele representava risco pessoal. Inadmissível a causa de aumento de pena na hipótese de socorro prestado por terceiros, quando estes, possuíam mais capacidade para tanto. Diferentemente ocorre quando vítima só foi socorrida por terceiros porque o responsável pela conduta deixou voluntariamente de fazê- lo. Por fim, quando o responsável pelo homicídio culposo presta socorro à vítima, não se aplica a atenuante genérica definida pelo art. 65, inciso III, b, do Código Penal, tendo em vista que configura um dever legal do agente causador do delito. Não procurar diminuir as consequências do seu ato. Trata-se de desdobramento normal da causa de aumento de pena anterior. O aumento imposto à pena decorre do total desinteresse pela sorte da vítima. Fugir para evitar prisão em flagrante Essa causa agrava a pena do agente que demonstra insensibilidade de espírito e moral, ausência de escrúpulo, além de prejudicar as investigações. No entanto, não há que se falar em agravante quando o agente foge do local como forma de autodefesa, como no caso de correr o risco de ser linchado por populares. 12.1.9 Perdão Judicial (Art. 121, §5.º) O art. 121, § 5.º, do Código Penal, prevê o perdão judicial somente para os crimes culposos. Trata-se de causa de extinção da punibilidade, em que o próprio resultado naturalístico já exerceu a função retributiva da sanção penal. A gravidade e a extensão das consequências da infração devem ser analisadas na situação concreta, levando em conta as condições pessoais do agente e da vítima. 38 § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. O perdão judicial somente pode ser concedido na sentença. Depende da análise do mérito. Essa sentença é declaratória da extinção da punibilidade, em consonância coma Súmula 18 do Superior Tribunal de Justiça, não subsistindo qualquer efeito condenatório. Destarte, não gera reincidência, não autoriza o lançamento do nome do réu no rol dos culpados e não configura a obrigação de reparar o dano provocado pelo crime. Súmula n.º 18, STJ. A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório. Cuida-se de direito subjetivo do réu. Assim, presentes os requisitos legais, o Juiz deve conceder o benefício. É ato unilateral, isto é, não precisa ser aceito pelo réu para surtir efeitos. 12.1.10 Majorante no homicídio doloso (Art. 121, §4.º, 2.ª parte) O art. 121, § 4.º, 2.ª parte, do Código Penal prevê duas causas de aumento de pena aplicáveis exclusivamente ao homicídio doloso, em qualquer de suas modalidades: simples, privilegiado ou qualificado, consumado ou tentado. § 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. São circunstâncias legais, especiais, de natureza objetiva e de aplicação obrigatória. Ensejam o surgimento do denominado homicídio doloso circunstanciado. 39 Dizem respeito à idade da vítima ao tempo do crime: menor de 14 ou maior de 60 anos de idade. Esse raciocínio decorre da adoção da teoria da atividade pelo art. 4.º do Código Penal. A causa de aumento de pena deve ser compreendida pelo dolo do agente. Logo, o desconhecimento da idade ou o erro de tipo sobre tal circunstância impedem sua aplicação. 12.1.11 Homicídio doloso majorado (Art. 121, §§ 6.º): milícia privada e grupo de extermínio Cuida-se de causa especial de aumento da pena, incidente na terceira e última fase da dosimetria da pena privativa de liberdade, aplicável exclusivamente ao homicídio doloso, simples ou qualificado, de competência do Tribunal do Júri. § 6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. Milícia privada é o agrupamento armado e estruturado de civis – inclusive com a participação de militares fora das suas funções – com a pretensa finalidade de restaurar a segurança em locais controlados pela criminalidade, em face da inoperância e desídia do Poder Público. Para tanto, seus integrantes apresentam-se como verdadeiros “heróis” de uma comunidade carente e fragilizada, e como recompensa são remunerados por empresários e pelas pessoas em geral. Em regra, não é hediondo. Cleber Masson afirma que embora não exista disposição expressa nesse sentido, é evidente que o homicídio cometido por milícia privada será classificado como crime hediondo. Grupo de extermínio é a associação de matadores, composta de particulares e muitas vezes também por policiais autointitulados de “justiceiros”, que buscam eliminar pessoas deliberadamente rotuladas como perigosas ou inconvenientes aos anseios da coletividade. É crime hediondo, com previsão no Art. 1.º, I, da Lei n.º 8.072/90: 40 I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII); (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019). 12.2 Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a automutilação O Art. 122 do Código Penal foi recentemente alterado pela Lei n.º 13.968/19. Essa lei foi publicada no dia 26 de Dezembro de 2019. Embora seja lei posterior a Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), a Lei n.º 13.968/19 entrou em vigor na data da sua publicação. Já a lei do pacote anticrime, teve o prazo de vacation de 30 dias, apenas entrando em vigor no dia 23 de Janeiro de 2020. Esse artigo sempre tratou do induzimento, instigação e auxílio ao "Suicídio". Ora, o suicídio, por si só, não é considerado crime, tendo em vista que não se pune condutas autolesivas. Suicídio é a eliminação voluntária e direta da própria vida. Também é chamado de autocídio ou autoquiria. No Brasil, a conduta suicida não é criminosa. Nem poderia sê-la, pois, como corolário do princípio da alteridade, o Direito Penal só está autorizado a punir os comportamentos que transcendem a figura do seu autor. Para a configuração do suicídio: a destruição da vida humana por seu titular deve ser voluntária. Logo, se alguém elimina sua própria vida inconscientemente, por ter sido manipulado por outra pessoa (fraude), ou em decorrência de violência ou grave ameaça, estará tipificado o crime de homicídio. 41 O consentimento da vítima é irrelevante, em face da indisponibilidade do bem jurídico penalmente tutelado. Tutela-se a vida humana, direito fundamental constitucionalmente consagrado (art. 5.º, caput). Induzir significa incutir na mente alheia a ideia do suicídio, até então inexistente. Instigar é reforçar o propósito suicida preexistente (vontade suicida, que já habitava a mente da vítima, é estimulada pelo agente). Auxiliar, por sua vez, é concorrer materialmente para a prática do suicídio. Esse auxílio, porém, deve constituir-se em atividade acessória, secundária. O sujeito não pode, em hipótese alguma, realizar uma conduta apta a eliminar a vida da vítima. Com a mudança trazida pela Lei n.º 13.968/19, passou a prever também o moderno tema social da "automutilação". Agora, é crime o induzimento, instigação e auxílio a automutilação. Traremos aqui, as explicações do mestre e doutor Fábio Roque.9 O crime passou a ser crime formal, ou seja, basta que haja o induzimento, a instigação ou auxílio ao suicídio ou a automutilação, que já haverá o crime consumado. Antes dessa lei, se houvesse essas condutas, sem que houvesse pelo menos a tentativa do suicídio o da automutilação, não haveria punição. Ainda que houvesse tentativa, mas resultasse apenas lesão leve, também não haveria punição. Somente haveria punição, se da tentativa resultasse no mínimo lesão corporal grave. O Art. 122, caput, do Código Penal, trás hipótese de infração de menor potencial ofensivo, cabendo à transação penal e a suspensão condicional do processo. Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça: (Redação dada pela Lei nº 13.968, de 2019) Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.968, de 2019) 9 https://www.youtube.com/watch?v=hj0AnaVFz5c 42 Se da tentativa do sujeito, resultar em lesão grave ou gravíssima, a pena passa a ser de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. § 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019). Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019). Caso o suicídio se consuma, ou da automutilação, ocasiona a morte, a pena passa a ser de reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. § 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019). Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019). A lei já punia com a pena em dobro a hipótese em que o crime era praticado contra menor de idade, motivo egoístico ou quando o sujeito tinha diminuída sua capacidade de resistência. Foram acrescentadas mais duas hipóteses: a) crime praticado por motivo torpe ou fútil.Motivo torpe é o vil, repugnante, abjeto, moralmente reprovável. Ofende o sentimento ético e moral da sociedade. Exemplo: matar um parente para ficar com sua herança. Já o motivo fútil, é o insignificante, desproporcional, desarrazoado. Existe uma desproporção do crime com a sua causa moral. Fundamenta-se a elevação da pena na resposta estatal em razão do egoísmo, da atitude mesquinha que alimenta a atuação do responsável pela infração penal. Vítima menor é a pessoa humana com idade entre 14 anos e 18 anos. Possui capacidade de discernimento, embora reduzida em face do incompleto desenvolvimento mental. A causa de aumento de pena fundamenta-se na maior facilidade que pessoas nessa faixa etária apresentam para serem convencidas por outrem a suicidarem-se. Vítima que, por qualquer causa, tem diminuída a capacidade de resistência é a pessoa mais propensa a ser influenciada pela participação em suicídio. Deve ser maior de 18 anos de idade, pois, se ainda não atingiu essa idade, e desde que possua 14 anos de idade ou mais, a 43 causa de aumento de pena será a anterior. Essa menor resistência pode ser provocada por enfermidade física ou mental, e também por efeitos do álcool ou de drogas. Deve, todavia, ser de conhecimento do agente, para afastar a responsabilidade penal objetiva. § 3º A pena é duplicada: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil; (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019). Haverá também a aplicação da pena em dobro quando o crime é praticado por meio da rede de computadores, de rede social ou quando o suicídio ou automutilação é transmitida em tempo real. § 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida em tempo real. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019). Temos ainda, a última causa de aumento de pena, trazida nas alterações dessa lei. Haverá o aumento da metade da pena quando o agente for líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual. § 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019). Importante dizer que, o menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, NÃO podem ser vítima do crime do Art. 122 do CP. Será vítima do crime do Art. 129, CP (Lesão Corporal) ou do Art. 121, CP (Homicídio). § 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão corporal de natureza gravíssima e é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste Código. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019). 44 § 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. 121 deste Código. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019). Assim, por exemplo, se alguém induz um adolescente de 13 anos ao suicídio, e esse adolescente efetivamente se mata, aquele que induziu, responderá por homicídio, e não pelo Art. 122, CP. Caso o agente induza o adolescente de 13 anos à automutilação, responderá por Lesões corporais (Art. 129, CP), não pelo Art. 122, CP. Por fim, a Fábio Roque fala sobre uma possível polêmica acerca da questão atinente a competência, tendo em vista que já há autores que defendem a ideia de que, quando o crime for o induzimento, instigação e auxílio à automutilação, não deve ser levado ao Tribunal do Júri. Afirma que em sua visão, esse crime não deveria sequer estar catalogado nos crimes contra a vida, eis que não é um crime contra o bem jurídico "vida", mas contra a "integridade física". Entretanto, como foi opção do legislador incluir essa alteração no catálogo dos crimes contra a vida, e sendo um crime doloso, não restam alternativas, a não ser entender que o julgamento é de competência do Tribunal do Júri. Por tudo isso, entende que a jurisprudência irá se consolidar no sentido de que o crime de induzimento, instigação e auxílio à automutilação é competência do Júri. Em relação ao induzimento, instigação e auxílio do suicídio, não resta a menor dúvida, já era e continua sendo competência do Júri. 12.3 Infanticídio 12.3.1 Conceito O infanticídio é uma forma privilegiada de homicídio, praticado pela mãe contra o próprio filho, nascente ou neonato, durante ou logo após o parto, sob influência do estado puerperal (critério fisiopsíquico). 45 Previsto no Art. 123, do Código Penal: Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos. O infanticídio não se confunde com o aborto, eis que acontece durante o parto ou logo após. O aborto acontece antes do parto. O parto tem início com a dilatação, instante em que se evidenciam as características das dores e da dilatação do colo do útero. Em seguida, passa- se à expulsão, na qual o nascente é impelido para fora do útero. Finalmente, há a expulsão da placenta, e o parto está terminado. A morte do ofendido, em qualquer dessas fases, tipifica o crime de infanticídio. 12.3.2 Objetividade jurídica e Objeto material O objeto jurídico é a vida humana. Já o objeto material é criança, nascente ou recém- nascida, contra quem se dirige a conduta criminosa. 12.3.3 Sujeito ativo Cuida-se de crime próprio, pois somente pode ser praticado pela mãe, parturiente sob influência do estado puerperal. Admite, todavia, concurso de pessoas, pois nos termos do art. 30 do CP não existe condição personalíssima, mas sim condição pessoal, comunicável quando elementar, como é o caso do estado puerperal. 12.3.4 Sujeito passivo É o nascente ou recém-nascido (neonato). Em decorrência da inadmissibilidade do bis in idem, não incidem as agravantes genéricas previstas no art. 61, inciso II, e (crime contra descendente) e h (crime contra criança), do Código Penal, pois tais circunstâncias já funcionam como elementares da descrição típica. 46 Se a mãe, influenciada pelo estado puerperal e logo após o parto, mata outra criança, que acreditava ser seu filho, responde por infanticídio. É o chamado infanticídio putativo. Se, contudo, a mãe matar um adulto, ainda que presentes as demais elementares previstas no art. 123 do Código Penal, o crime será de homicídio. 12.3.5 Elemento subjetivo É o dolo, direto ou eventual. Não se admite a modalidade culposa. E por qual crime responde a mãe que, durante o parto ou logo após, e sob a influência do estado puerperal, mata culposamente o filho nascente ou recém-nascido? Há duas correntes sobre o assunto: 1ª Corrente: O fato é atípico, pois se mostra inviável, na hipótese, atestar a ausência de prudência normal em mulher desequilibrada psiquicamente (Damásio e Cleber Masson). 2ª Corrente: O estado puerperal não elimina a capacidade de diligência normal e esperada do ser humano, configurando homicídio culposo. O estado puerperal é uma circunstância de pena e não excludente de crime (Hungria, Bitencourt, Noronha). 12.3.6 Influência do estado puerperal: conceito e prova Estado puerperal é o conjunto de alterações físicas e psíquicas que acometem a mulher em decorrência das circunstâncias relacionadas ao parto, tais como convulsões e emoções provocadas