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369 F IL O SO F IA - F R E N T E U - C A P ÍT U LO 0 1 FILOSOFIA ILUMINISMO E FILOSOFIA NO SÉCULO XIX FRENTE U | CAPÍTULO 01 A CRISE DA MODERNIDADE O Iluminismo ou Século das Luzes foi um movimento que surgiu na Europa, na segunda metade do séc. XVIII. Este movimento marcou profundas transformações na produção artística, filosófica, política, literária e jurídica. Os pensadores iluministas defendiam que “todos os homens são dotados de uma espécie de luz natural, de racionalidade”. Portanto, afirmavam a possibilidade da ocorrência de um progresso racional da humanidade. Por isso, durante o iluminismo, os filósofos buscaram descobrir a verdade sobre a natureza, o conhecimento e a humanidade e assumiram esse desafio percorrendo diferentes caminhos. A religião e os iluministas Qual é o traço mais característico do século do iluminismo? Nada parece mais fácil de responder, conforme a ideia tradicional que temos do assunto: a atitude crítica e cética em relação à religião, essa é a essência mesma da filosofia do iluminismo [...]. Extirpar toda crença absolutamente, quaisquer que sejam os argumentos em que se apoie ou a forma histórica que assuma, parece ser definitivamente o único meio de libertar o homem dos preconceitos e da servidão e de abrir-lhe a via da verdadeira felicidade [...]. Uma vez que se tomou consciência deste estado de coisas, não é mais possível pensar em retorno, compromisso ou conciliação. É preciso escolher entre a liberdade e as cadeias, entre a lucidez da consciência e a obscuridade das paixões, entre ciência e fé. E a escolha, evidentemente, não é problemática para o homem dos tempos novos, o homem das luzes. Ele renunciará sem reservas ao socorro vindo do alto, encontrará ele próprio seu caminho para a verdade e não pensará possuir esta verdade que ele não obteve e experimentou em virtude de suas próprias forças. CASSIRER, E. La Philosophie des Lumières. Paris: Gallimard, 1966. p. 153-154. O Iluminismo foi um movimento contrário a toda autoridade que não estivesse submetida à razão e à experiência, que não possa justificar-se racionalmente. Desta feita, entende-se que os filósofos iluministas começaram a desafiar a tradição e o pensamento preestabelecido dos gregos antigos, o que abriu as portas para uma nova forma de questionamento filosófico baseado no conhecimento humano e na razão. Para os iluministas, o pensamento deve ser autônomo, não tutelado. Desta forma, o homem atinge o que Kant chamou de “maioridade”, isto é, a possibilidade de pensar por si mesmo, de maneira independente. Sobre isto, Kant escreveu: Esclarecimento (Aufklärung) é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude (Ouse saber)! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? IN: Textos Seletos. Petrópolis: Vozes, 1974. p. 103. Outro filósofo alemão, Arthur Schopenhauer, descreveu o Iluminismo como órganon (instrumento) que pode libertar o indivíduo e fazê-lo construtor de um mundo racional e, sobretudo, humano. Entretanto, deve-se ressaltar que o iluminismo não se refere ao racionalismo como teoria epistemológica, mas sim, a característica universal dos seres humanos a partir de sua capacidade de pensar poder se libertar dos grilhões da ignorância. A noção de progresso da humanidade é assim característica desse tipo de concepção. Em contrapartida, devem ser igualmente identificados os elementos que impedem tal progresso, que se opõem à razão. Dentre esses elementos encontra-se a religião, na medida em que subordina o homem a crenças irracionais e a uma autoridade, a Igreja, baseada na submissão e nas superstições. O pensamento iluminista é, assim, fortemente laico, secular e, até mesmo, em alguns casos, abertamente anticlerical. MARCONDES, D. Iniciação à História da filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstain. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p. 207. IMMANUEL KANT 370 FILOSOFIA - FRENTE U - CAPÍTULO 01 ILUMINISMO E FILOSOFIANO SÉCULO XIX F IL O SO F IA - F R E N T E U - C A P ÍT U LO 0 1 Kant nasceu em Königsberg, Prússia Oriental, em 1724. Foi o principal pensador do Esclarecimento. Kant foi fortemente influenciado pelo pietismo (movimento que marcou uma renovação do luteranismo). Ele estudou na universidade local, da qual se tornou professor e reitor. Homem de vida simples, não casou e apesar da fama que adquiriu por conta das ideias filosóficas, nunca deixou sua cidade natal. OBS: Esclarecimento: a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A visão política Kant acreditava que somente um Estado organizado em bases republicanas poderia realizar o ideal iluminista de progresso e aperfeiçoamento da espécie humana. Como os demais pensadores iluministas, Kant entendia que a humanidade era capaz de se aperfeiçoar moralmente e de se tornar responsável por seu próprio destino, sem a necessidade da tutela dos reis, padres ou pastores. Porém, esse ideal só poderia se tornar num regime republicano, em que houvesse separação de poderes e em que o povo fosse o único soberano. Kant, afirmou ainda, que a liberdade era a meta final da história da humanidade e que estava próxima de se realizar. Idealizou um futuro em que a violência e a guerra, que caracterizam a história humana até então, seriam substituídas por uma república mundial, da qual todos os homens seriam cidadãos. A visão moral Kant era um deontologista, ou seja, ele acreditava firmemente que uma ação seria definida como moral ou imoral com base no motivo por trás dela (em oposição aos consequencialistas, que julgam a moralidade de uma ação com base em suas consequências). OBS: A deontologia é um tratado dos deveres e da moral. É uma teoria sobre as escolhas dos indivíduos, o que é moralmente necessário e serve para nortear o que realmente deve ser feito. Para Kant, uma vez que temos a habilidade de deliberar e dar razões para uma ação, o julgamento moral deve avaliar as razões pelas quais uma ação foi tomada. Desta forma, agir erroneamente é violar as regras criadas por nossa própria razão pessoal ou criar regras que não podem ser vistas consistentemente como leis universais. Sobre isto, Kant escreveu: “O imperativo categórico é, portanto, só um único, que é este: age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal.” KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. Lisboa: Edições 70, 1995. p. 59. Conforme lido, para Kant, a moralidade não diz respeito apenas ao que fazer, mas também a por que fazer. Aqueles que fazem a coisa certa não o fazem só por causa do modo como se sentem: a decisão precisa ser baseada na razão, pois é ela que diz que é o nosso dever, independentemente de como porventura nos sentiremos. Desta forma, o nosso dever moral é o nosso dever moral, quaisquer que sejam as consequências ou circunstâncias, devemos agir segundo o nosso dever. A nova revolução copernicana Kant vivenciou um período marcado pela dicotomia entre racionalistas e empiristas, entretanto, para ele, tanto os sentidos como a razão seriam fatores determinantes no processo de conhecimento das coisas e, portanto, não adotou nenhuma das duas posições epistemológicas. Isso porque, segundo ele, ambas apresentavam acertos e erros. Desta forma, ele resolveu sintetizá-las com o intuito de obter melhores resultados, surge então o criticismo. Kant formulou a metáfora da revolução copernicana para justificar, em relação ao conhecimento, que não é o sujeito que se orienta pelo objeto (o real), como quis a tradição, mas o objetoque é determinado pelo sujeito. Com este propósito, ele escreveu Crítica da Razão Pura, pois buscava investigar o modo pelo qual, na experiência do conhecimento, sujeito e objeto se relacionam e em que condições esta relação pode ser considerada legítima. Segundo Kant, o conhecimento do objeto resulta da contribuição de duas faculdades de nossa mente, a sensibilidade e o entendimento. A sensibilidade está relacionada às intuições puras, são o tempo e o espaço. Essas formas não existem como realidades em si mesmas, não sendo possível dizer que o espaço e o tempo têm realidades fora do próprio ser humano, assim como outros objetos do mundo físico. O entendimento consiste na capacidade do intelecto humano de julgar, são as categorias. Estas ferramentas são utilizadas pelo ser humano para pensar aquilo que foi experimentado, ou seja, são as diversas formas que o ser humano tem para alcançar o conhecimento sobre o mundo. “Sem sensibilidade, nenhum objeto nos seria dado; sem o entendimento, nenhum seria pensado. Pensamentos sem conteúdo são vazios; intuições sem conceitos são cegas.” KANT, I. Críticas da razão pura. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1994. p. 89. As categorias, juntamente com as intuições puras, constituem o sujeito transcendental. Para entender o Sujeito Transcendental de Kant é preciso conhecer a distinção que ele faz entre fenômenos e noúmenos. Sendo o primeiro, as realidades e as aparências interpretadas por nossa mente e, o segundo, as coisas que existem independentemente da interpretação de nossa mente. Ver esquema abaixo: MUNDO MATERIAL NOUMENTAL MUNDO MENTAL FENOMENAL REAL INCOGNOCÍVEL COMPREENSÃO (impossível de ser conhecido) JEREMY BENTHAM Jeremy Bentham nasceu em Londres em 1748. Bentham foi fortemente influenciado pelos trabalhos dos filósofos Hume e 371 F IL O SO F IA - F R E N T E U - C A P ÍT U LO 0 1 FILOSOFIA - FRENTE U - CAPÍTULO 01 ILUMINISMO E FILOSOFIANO SÉCULO XIX Hobbes. A partir das concepções destes pensadores, Bentham escreveu o livro “Uma introdução aos princípios da moral e da legislação”. Neste texto, ele estabeleceu o princípio da utilidade, segundo o qual uma ação é aprovada quando tem a tendência de trazer e oferecer a mais felicidade. Sendo assim, o utilitarismo ou princípio da maior felicidade, estaria fundamentado na ideia de que a coisa certa a ser feita é exatamente a que iria produzir a maior felicidade. Cálculo felicífi co Bentham afi rmou que a felicidade é defi nida como presença do prazer e ausência da dor. Sendo assim, para medir prazer e dor, ele verifi ca duração, intensidade e a probabilidade de originar outros prazeres. Em seguida, ele subtraia as unidades de dor que possam ser causadas pela ação. O resultado deste cálculo é o valor de felicidade da ação. Sobre o cálculo felicífi co, Bentham escreveu: [...] o princípio da maior felicidade é aquele que aprova ou desaprova qualquer ação, segundo a tendência que tem a aumentar ou diminuir a felicidade da pessoa cujo interesse está em jogo. BENTHAM, J. Uma investigação dos princípios da moral e da legislação. São Paulo: Abril Cultural, 1974. p. 4. Para Bentham, a felicidade comunitária é a soma das felicidades individuais. Dessa forma, o princípio da utilidade determina que a obrigação moral de desempenhar uma ação baseia-se em fazer algo para produzir a maior quantidade de felicidade para o maior número de pessoas afetadas por essa ação. Sendo assim, quanto mais prazer uma ação ocasionar, mais útil ele será para a sociedade. O panóptico Bentham acreditava que as ações sociais deveriam ser avaliadas com base no bem-estar geral das pessoas afetadas e que a punição dos criminosos efetivamente desencorajava os delitos porque fazia os indivíduos compararem os benefícios de cometer um crime com a dor envolvida na punição. Bentham pertenceu à corrente fi losófi ca que defendia o pragmatismo, ou seja, corrente de ideias que prega a validade doutrinal a partir do êxito alcançado pela mesma. Por isso, algumas ideias defendidas pelo Bentham tinham aspectos práticos. Ele pensou em um projeto arquitetônico de uma prisão construída em formato circular, o panóptico. Ele o descreveu como “um moinho para transformar vagabundos em honestos”. A ideia era simples, porém efi ciente. A construção deveria ter torre de observação colocada no centro, assim os prisioneiros não saberiam o momento em que seriam observados e tenderiam a modifi car sua atitude criminosa para não sofrer novas punições. O dilema do trem O “dilema do trem” é um dos mais famosos experimentos fi losófi cos. Um trem desgovernado ameaça matar cinco pessoas. Um homem muito pesado está sentado em uma parede em uma ponte que passa sobre a pista. Você pode parar o trem empurrando-o da ponte para a pista em frente ao trem. Ele vai morrer, mas os cinco serão salvos. Você não pode optar por pular na frente do bonde porque não é grande o sufi ciente para pará-lo. De um ponto de vista utilitarista, o dilema é o mesmo – você sacrifi ca uma vida para salvar cinco? – e a resposta é sim. AULAS 01 4. FILOSOFIA MODERNA 4.4 ILUMINISMO APOSTILAS: 1 resumo + 20 questões EXERCÍCIOS ONLINE: 30 questões CAIU NO ENEM: 5 questões REVISÃO NA PLATAFORMA JOHN STUART MILL John Stuart Mill nasceu em Londres, em 1806. Aos vinte anos, tornou-se um dos pensadores mais brilhantes de sua época. 372 FILOSOFIA - FRENTE U - CAPÍTULO 01 ILUMINISMO E FILOSOFIANO SÉCULO XIX F IL O SO F IA - F R E N T E U - C A P ÍT U LO 0 1 Mill foi um ativista contra a injustiça, também se tornou um dos primeiros feministas, chegando a ser preso por fomentar o controle da natalidade. Mill recebeu uma educação utilitarista, desde criança frequentou a casa de campo de Bentham, em Surrey. Entretanto, embora concordasse com Bentham em relação ao conceito de ação correta, ele divergia no que tange ao cálculo da felicidade. Felicidade em Mill Mill achava que podemos ter diferentes tipos de prazer e alguns são muito melhores que outros, tão melhores que nenhuma quantidade do prazer inferior jamais será equiparável à menor quantidade do prazer superior. Dessa forma, ele não apresentou mecanismos visando calcular o nível de felicidade. Princípio do dano Segundo Mill, todo adulto deveria ser livre para viver como quisesse, desde que ninguém seja prejudicado no processo. Nas palavras do próprio Mill, o princípio do dano: É o princípio de que o único fim para o qual as pessoas têm justificação, individual ou coletivamente, para interferir na liberdade de ação de outro, é a autoproteção. É o princípio de que o único fim em função do qual o poder pode ser corretamente exercido sobre qualquer membro de uma comunidade civilizada, contra a sua vontade, é o de prevenir dano a outros. MILL, John Stuart. Sobre a Liberdade. Rio de Janeiro (RJ): Nova Fronteira, 2011. p. 35. Uma área na qual Mill era particularmente radical em sua época era o feminismo. Na Inglaterra do século XIX, as mulheres casadas não podiam ter propriedade e tinham pouquíssima proteção contra a violência e o estupro pelos maridos. Mill defendeu em A sujeição das mulheres (1869) que os sexos deveriam ser tratados igualmente, tanto no Direito quanto na sociedade de modo geral. Algumas pessoas que o cercavam diziam que as mulheres eram naturalmente inferiores aos homens. Ele questionava como era possível afirmar isso quando as mulheres quase sempre foram proibidas de atingir todo o seu potencial: elas eram mantidas afastadas da educação superior e de muitas profissões. Acima de tudo, Mill queria uma maior igualdade entre os sexos. O casamento deveria ser uma relação de amizade entre iguais, dizia ele. WARBURTON, N. Uma breve história da filosofia. Porto Alegre: LePM, 2015. p. 159. GEORG HEGEL Hegel nasceu em Stuttgart, na Alemanha, em 1770. Estudou filosofia e teologia na Universidade de Tübingen e, posteriormente, tornou-se professor na Universidade de Berlim.Quando morreu, Hegel era o filósofo mais conhecido e admirado de sua época. Hegel entendia que a forma de pensar do homem seria variável de acordo com o tempo. Assim, seria impossível determinar uma verdade universal que fosse válida para todos os homens em todas as gerações, ou seja, que vigorasse independentemente do tempo e do espaço. Sendo assim, para ele, “toda consciência é uma consciência do seu tempo”. Desta feita, a história constitui ponto central das ideias de Hegel. Na História, o pensamento está subordinado aos dados da realidade, que mais tarde servem como guia e base para os historiadores. Por outro lado, afirma-se que a Filosofia produz suas ideias a partir da especulação, sem levar em conta os dados fornecidos. Se a Filosofia abordasse a História com tais ideias, poder-se-ia sustentar que ela ameaçaria a História como matéria- prima, não a deixando como é, mas moldando-a conforme essas ideias, construindo-a, por assim dizer, a priori. Mas, como se supõe que a História compreenda os acontecimentos e ações apenas pelo que são e foram e que, quanto mais factual, mais verdadeira ela é, parece que o método da Filosofia estaria em contradição com a função da História. HEGEL, G. A razão na História: uma introdução geral à Filosofia da História. São Paulo: Centauro, 2001. p. 52. A Dialética Como Kant, Hegel era um idealista, pois acreditava que a mente tinha acesso apenas àquilo que o mundo parecia ser e que nunca perceberíamos completamente o que o mundo é. Entretanto, ao contrário de Kant, Hegel defendia que as ideias eram sociais, isto é, eram moldadas pelas ideias de outras pessoas e, esta consciência coletiva seria, para ele, o espírito do mundo. Nas palavras do próprio Hegel, o espírito do mundo seria: Mas que é o Espírito? É o único Infinito imutavelmente homogêneo – a Identidade pura – que, em sua segunda fase, se separa de si mesmo e faz desse segundo aspecto seu próprio oposto polar, ou seja, como existência por si e em si em contraste com o universal. Hegel, G. A fenomenologia do espírito. São Paulo: Abril Cultural, 1974. Segundo Hegel, o espírito se desenvolve pelo mesmo tipo de padrão que uma ideia durante uma discussão, a dialética. Primeiro, há uma ideia a respeito do mundo, que por uma falha inerente, dá oportunidade ao surgimento da antítese. Essa tese e a antítese, por fim, reconciliam-se com a criação da síntese e surge uma nova ideia composta dos elementos tanto da tese quanto da antítese. O Estado O Estado, segundo Hegel, consistia no grau máximo de agrupamento entre os diversos interesses contraditórios dos indivíduos que o compõem. Desta forma, a família e a sociedade civil estariam situadas em um patamar inferior ao do Estado. Assim sendo, Hegel caracterizava o Estado como soberano, pois seria a instituição responsável por instaurar todo o corpo de leis que regula a vida social. Outrossim, para ele, não haveria liberdade sem lei, pois onde há lei, necessariamente há liberdade. 373 F IL O SO F IA - F R E N T E U - C A P ÍT U LO 0 1 FILOSOFIA - FRENTE U - CAPÍTULO 01 ILUMINISMO E FILOSOFIANO SÉCULO XIX ARTHUR SCHOPENHAUER Schopenhauer nasceu em Dantzig, Alemanha, em 1788. Estudou na Universidade de Göttingen e de Berlim. Em 1819, tornou-se professor da Universidade de Berlim. Entretanto, os seus ataques a Hegel o tornaram impopular na Europa. Avesso ao cristianismo, ele desenvolveu um notável interesse pelas religiões orientais, como budismo e hinduísmo, agregando elementos dessas religiões à sua filosofia. Embora o trabalho filosófico de Schopenhauer aborde ampla variedade de assuntos, de modo geral, há sempre o tema do pessimismo e a presença da dor inerente à condição humana. A doutrina do pessimismo Ele criticou o otimismo nos trabalhos de Kant e Hegel, que afirmavam que a sociedade e a razão determinam a moralidade de uma pessoa. Schopenhauer evidenciou que os indivíduos são motivados pelos próprios desejos ou vontade de viver, que nunca estaria satisfeita. Sendo esta o que guiaria a humanidade e, ao mesmo tempo, a causa de todo o sofrimento da espécie humana. Isso porque, o sofrimento seria resultado do fato de sempre querermos mais. Nas palavras do próprio Schopenhauer, o mundo como vontade seria: Devemos banir a obscura impressão desse nada que discernimos atrás de toda virtude e santidade como objetivo final e que temos como as crianças temem a escuridão; não devemos nem mesmo fugir disso como fazem os índios, por meio dos mitos e palavras sem sentido, tais como reabsorção em Brama ou Nirvana dos budistas. Devemos antes reconhecer livremente o eu que fica, depois da inteira abolição da vontade, é para aqueles que estão ainda cheios de vontade, certamente nada; mas, inversamente, para aqueles em que a vontade voltou e se negou a si mesma, este nosso mundo, que é tão real, com todos os sóis e vias lácteas, não é nada. SCHOPENHAUER, A. O mundo como vontade e representação. São Paulo: Abril Cultural, 1974. Ainda segundo Schopenhauer, A vida da maioria não é nada mais que uma batalha diária pela existência, com a certeza da derrota final. Mas aquilo que os faz continuar nessa tão árdua batalha não é tanto o amor pela vida, mas o medo da morte, a qual, apesar de tudo, encontra-se inevitável no fundo, e pode a cada minuto sobrevir. A própria vida é um mar cheio de escolhas e vórtices, dos quais o homem procura escapar com a máxima prudência e cuidado; embora sabendo, que quando também conseguir, com tanto esforço e arte, deles fugir, por causa disso justamente se aproxima com cada um de seus passos e até para eles aponta em linha reta o ele, para o total, inevitável e irreparável naufrágio: a morte. ANTISERI, D.; REALE, G. História da Filosofia: do romantismo ao empiriocentrismo. São Paulo: Paulus, 2003. p. 222. A estética Segundo Schopenhauer, a estética separa o intelecto da vontade. Desta forma, se a vontade que guia os homens está baseada no desejo, a arte, por sua vez, possibilita que o individuo escape temporariamente das dores do mundo porque a contemplação estética faz com que ele pare de perceber o mundo somente como representação. A ética Schopenhauer, em sua teoria moral, identificou três incentivos primários que direcionam a moralidade das pessoas: o egoísmo (responsável por guiar as ações humanas pelo interesse próprio e fazer com que as pessoas desejem prazer e felicidade), a malícia (quando as escolhas têm como intenção prejudicar outrem) e a compaixão (quando se busca apenas o bem e não se age pelo senso de obrigação ou pelo benefício pessoal). Quando era garoto, seu pai, um comerciante, fez uma proposta ao filho, que tinha inclinações acadêmicas: ele poderia se preparar para ingressar na universidade ou viajar pela Europa com os pais e, então, ao regressar, iniciar o aprendizado para se tornar um comerciante. O garoto escolheu viajar com a família e, ao longo dessa jornada, testemunhou diretamente o sofrimento terrível dos pobres no continente. Essa experiência influenciaria fortemente a visão de mundo pessimista que ele teria mais tarde como filósofo. KLEINMAN, P. Tudo o que você precisa saber sobre a filosofia. São Paulo: Gente, 2014. p. 159. KARL MARX Marx nasceu em Trier, na Alemanha, em uma família judaica. Estudou direito na Universidade de Bonn e cursou seu doutorado na Universidade de Berlim, onde entrou em contato com as ideias dos discípulos de Hegel. Durante sua estadia em Paris, Marx trabalhou como editor dos Anuários franco-germânicos, principal órgão da esquerda, e entrou em contato com os socialistas franceses. Entretanto, a pedido do governo prussiano, foi expulso da França e estabeleceu- se provisoriamente em Bruxelas, na Bélgica. 374 FILOSOFIA - FRENTE U - CAPÍTULO 01 ILUMINISMO E FILOSOFIANO SÉCULO XIX F IL O SO F IA - F R E N T E U - C A P ÍT U LO 0 1 Materialismo Histórico SUPERESTRUTURA Estado, política, direito + Ideologia INFRAESTRUTURA Forçasprodutivas + Relações de produção (modo de produção) Para Marx, as relações sociais são determinadas, ao longo da história, pelas dinâmicas de produção, uma vez que diferentes produtos dependem de distintas relações de trabalho. Dessa forma, para ele, a cada época se desenvolveram um modo de ação especializada do trabalhador e uma maneira especifica de produzir, este fenômeno ficou conhecido como modo de produção. Marx via a história como um padrão evolutivo de uma série de sistemas econômicos que conduzia à criação de diferentes sociedades e que trazia à tona ressentimentos entre as classes. Mais-valia A mais-valia refere-se ao excedente do trabalho, isto é, à fração de trabalho apropriada pelo capitalista. Para Marx, essa troca desigual gera um sobretrabalho (parcela de trabalho que não é remunerada) que, repetido incontáveis vezes com diversos operários ao longo dos anos, torna-se o impulso do sistema de trabalho capitalista. Luta de classes Para Marx, as classes sociais da sociedade capitalista são definidas por sua relação com o mundo do trabalho, de um lado, estão os empresários (burguesia/proprietários dos meios de produção), do outro, estão os trabalhadores (proletariado/ vendem sua força de trabalho em troca de salário). Entretanto, esta relação entre essas duas classes é conflituosa, na medida em que a sobrevivência de uma depende da exploração da outra. A luta de classes marca o conflito entre a conservação e a transformação. O desejo do capitalista de preservar seus direitos de propriedade dos meios de produção e de exploração do trabalho do operário é, por definição, antagônico ao anseio do trabalhador por jornadas menos duras de trabalho, maiores salários e participação nos lucros, em caráter imediatista. Ideologia De acordo com Marx, a ideologia é uma falsa consciência do mundo. Nas palavras do próprio Marx, a ideologia seria: A produção de ideias, de representações e da consciência está em primeiro lugar direta e intimamente ligada à atividade material e ao comércio material dos homens; é a linguagem da vida real. As representações, o pensamento, o comércio intelectual dos homens surge aqui como emanação direta do seu comportamento material. O mesmo acontece com a produção intelectual quando esta se apresenta na linguagem das leis, política, moral, religião, metafísica etc., de um povo. São os homens que produzem as suas representações, as suas ideias etc., mas os homens reais, atuantes e tais como foram condicionados por um determinado desenvolvimento das suas forças produtivas e do modo de relações que lhe corresponde, incluindo até as formas mais amplas que estas possam tomar. A consciência nunca pode ser mais do que o Ser consciente e o Ser dos homens é o seu processo da vida real. MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia Alemã. A revolução dos bichos Então, camaradas, qual é a natureza desta nossa vida? Enfrentemos a realidade: nossa vida é miserável, trabalhosa e curta. Nascemos, recebemos o mínimo alimento necessário para continuar respirando, e aos que podem trabalhar são exigidos até a última parcela de suas forças; no instante em que nossa utilidade acaba, trucidam-nos com hedionda crueldade. Nenhum animal, na Inglaterra, sabe o que é felicidade ou lazer após completar um ano de vida. Nenhum animal, na Inglaterra, é livre. A vida do animal é feita de miséria e escravidão: essa é a verdade, nua e crua. Será isso, apenas, a ordem natural das coisas? Será esta nossa terra tão pobre que não ofereça condições de vida decente aos seus habitantes? Não, camaradas, mil vezes não! O solo da Inglaterra é fértil, o clima é bom, ela pode dar alimento em abundância a um número de animais muitíssimo maior do que o existente. Só esta nossa fazenda comportaria uma dúzia de cavalos, umas vinte vacas, centenas de ovelhas --vivendo todos num conforto e com uma dignidade que, agora, estão além de nossa imaginação. Por que, então, permanecemos nesta miséria? Porque quase todo o produto do nosso esforço nos é roubado pelos seres humanos. Eis aí, camaradas, a resposta a todos os nossos problemas. Resume-se em uma só palavra --Homem. O Homem é o nosso verdadeiro e único inimigo. Retire-se da cena o Homem e a causa principal da fome e da sobrecarga de trabalho desaparecerá para sempre. E lembrai-vos, camaradas, jamais deixai fraquejar vossa decisão. Nenhum argumento vos poderá desviar. Fechai os ouvidos quando vos disserem que o Homem e os animais têm interesses comuns, que a prosperidade de um é a prosperidade dos outros. É tudo mentira. O Homem não busca interesses que não os dele próprio. Que haja entre nós, animais, uma perfeita unidade, uma perfeita camaradagem na luta. Todos os homens são inimigos, todos os animais são camaradas. Lembrai-vos também de que na luta contra o Homem não devemos ser como ele. Mesmo quando o tenhais derrotado, evitai-lhe os vícios. Animal nenhum deve morar em casas, nem dormir em camas, nem usar roupas, nem beber álcool, nem fumar, nem tocar em dinheiro, nem comerciar. Todos os hábitos do Homem são maus. E, principalmente, jamais um animal deverá tiranizar outros animais. Fortes ou fracos, espertos ou simplórios, somos todos irmãos. Todos os animais são iguais. ORWELL, G. A revolução dos bichos. São Paulo: Publifolha, 2003 (Adaptado). 375 F IL O SO F IA - F R E N T E U - C A P ÍT U LO 0 1 FILOSOFIA - FRENTE U - CAPÍTULO 01 ILUMINISMO E FILOSOFIANO SÉCULO XIX FRIEDRICH NIETZSCHE Nietzsche nasceu em Röcken, Alemanha, em 1844. Quando tinha 4 anos seu pai, um pastor luterano, faleceu. Nietzsche frequentou um dos melhores internatos da Alemanha. Na juventude, foi bastante infl uenciado pelo romantismo. Cursou fi lologia em Bonn e tornou-se professor de fi lologia grega na Universidade da Basileia, Suíça. Espírito apolíneo x Espírito dionisíaco Segundo Nietzsche, existem dois elementos fundamentais e antagônicos: o espírito apolíneo, que representa a ordem, a harmonia e a razão e o espírito dionisíaco, que representa o sentimento, a ação e a emoção. Para Nietzsche, a tragédia grega teria surgido como síntese de tendências artísticas que expressavam as duas forças presentes no mundo, na vida e na sociedade grega: a apolínea e a dionisíaca. De acordo com ele, enquanto houve equilíbrio entre as duas forças, a arte prosperou e estabeleceu o ponto mais alto da cultura grega. No entanto, quando o apolíneo passou a preponderar, quando a razão e a ordem subjulgaram os instintos e a paixão, quando a compreensão do mundo tornou-se unilateral, a sociedade grega teria entrado em decadência. O niilismo Nietzsche afi rmou que o papel da fi losofi a seria o de libertar o homem da tradição e, desta forma, contribuir para que ele se encontrasse com o niilismo, ou seja, encontrar-se com valores que visassem a “afi rmação da vida” e, assim, escapasse dos valores fundados na religião e/ou tradição fi losófi ca apolínea. A moral de rebanho Em A genealogia da moral, Nietzsche estabeleceu a gênese dos conceitos éticos tradicionais, revelando assim, sua fraqueza e arbitrariedade, a moral de rebanho. Pois, para ele, seria um erro imperdoável submeter-se a esta moral, anulando, assim, sua vontade e reprimindo seus desejos. Segundo Nietzsche, a moral cristã nada mais era do que a pregação da renuncia à vida e do ascetismo. O cristianismo iria contra tudo o que é vital e digno no homem, opondo e reprimindo sua natureza. Nas palavras do próprio Nietzsche: O cristianismo tomou o partido de tudo o que é fraco, baixo, incapaz, e transformou em ideal a oposição aos instintos de conservação da vida saudável; e até corrompeu a faculdade daquelas naturezas intelectualmente poderosas, ensinando que os valores superiores não passam de pecados, desvios e tentações. NIETZSCHE, F. O Anticristo. São Paulo: Martin Claret, 2004. p. 40. O eterno retorno O eterno retorno pode ser considerado a fórmula que sintetiza o pensamento de Nietzsche. Nele, ofi lósofo coloca-se em oposição ao platonismo e ao cristianismo. Além disso, ele rejeita o inteligível, afi rmando que só este mundo é real. Outrossim, para ele, não existem verdades necessárias e, muito menos, universais. Ainda segundo Nietzsche, devemos aceitar a vida como ela é, e o eterno retorno consistiria num verdadeiro teste pelo qual o homem deveria passar: a vida, revivida inúmeras vezes, não trazendo nada de novo, tudo ocorrendo na mesma ordem e na mesma sucessão. O super-homem O homem é uma corda estendida entre o animal e o Super- homem; uma corda sobre o abismo; perigosa travessia, perigoso caminhar, perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar. NIETZSCHE, F. Assim Falou Zaratustra. São Paulo: Hemus, 1979. O racionalismo, com seus sistemas idealistas e metafísicos, e o cristianismo, com sua moral de resignação, haviam levado, segundo Nietzsche, à negação da vida e dos princípios vitais. Nietzsche, ao exaltar a vida, resgata o que para ele seria a tendência ou o elemento fundamental na natureza humana: a vontade de potência. O fi lósofo considerava o super-homem como a própria expressão da vontade de poder, determinando a nova ordem de valores. Um líder guerreiro, altamente disciplinado, capaz de ser cruel quando suas conquistas o exigirem; este é o perfi l do super- homem de Nietzsche. Nas palavras do próprio Nietzsche: Somente agora dará à luz a montanha do futuro humano. Deus morreu: agora nós queremos que viva o super-homem. NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra. São Paulo: Hemus, 1979. p. 218. 376 FILOSOFIA - FRENTE U - CAPÍTULO 01 ILUMINISMO E FILOSOFIANO SÉCULO XIX F IL O SO F IA - F R E N T E U - C A P ÍT U LO 0 1 Esse super-homem, sobretudo, ama a vida e construirá o sentido de sua existência na sua natureza, na sua vontade de potência, apoiado não em um mundo celeste inexistente, mas na Terra e nas coisas terrenas, em seu corpo e em seus instintos. AULAS 04 5. FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA 5.1 FILOSOFIA NO SÉCULO XIX APOSTILAS: 1 resumo + 20 questões EXERCÍCIOS ONLINE: 30 questões CAIU NO ENEM: 6 questões REVISÃO NA PLATAFORMA SEÇÃO VESTIBULARES QUESTÃO 01 (UEMA) No texto Que é “Esclarecimento”? (1783), o que signifi ca, conforme Kant, a saída do homem da menoridade da qual ele mesmo é culpado? A. O uso da razão crítica, exceto quando se tratar de doutrinas religiosas. B. A capacidade de aceitar passivamente a autoridade científi ca ou política. C. A liberdade para executar desejos e impulsos conforme a natureza instintiva do homem. D. A coragem de ser autônomo, rejeitando, portanto, qualquer condição tutelar. E. O alcance da idade apropriada para uso da racionalidade subjetiva. QUESTÃO 02 (UEMA) Na perspectiva do conhecimento, Immanuel Kant pretende superar a dicotomia racionalismo-empirismo. Entre as alternativas abaixo, a única que contém informações corretas sobre o criticismo kantiano é: A. A razão estabelece as condições de possibilidade do conhecimento; por isso independe da matéria do conhecimento. B. O conhecimento é constituído de matéria e forma. Para termos conhecimento das coisas, temos de organizá-las a partir da forma a priori do espaço e do tempo. C. O conhecimento é constituído de matéria, forma e pensamento. Para termos conhecimento das coisas temos de pensá-las a partir do tempo cronológico. D. A razão enquanto determinante nos conhecimentos fenomênicos e noumênicos (transcendentais) atesta a capacidade do ser humano. E. O homem conhece pela razão a realidade fenomênica porque Deus é quem afi nal determina este processo. QUESTÃO 03 (UEL) Leia o texto a seguir. Na Primeira Secção da Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Kant analisa dois conceitos fundamentais de sua teoria moral: o conceito de vontade boa e o de imperativo categórico. Esses dois conceitos traduzem as duas condições básicas do dever: o seu aspecto objetivo, a lei moral, e o seu aspecto subjetivo, o acatamento da lei pela subjetividade livre, como condição necessária e sufi ciente da ação. DUTRA, D. V. Kant e Habermas: a reformulação discursiva da moral kantiana. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. p. 29. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria moral kantiana, é correto afi rmar: A. A vontade boa, enquanto condição do dever, consiste em respeitar a lei moral, tendo como motivo da ação a simples conformidade à lei. B. O imperativo categórico incorre na contingência de um querer arbitrário cuja intencionalidade determina subjetivamente o valor moral da ação. C. Para que possa ser qualifi cada do ponto de vista moral, uma ação deve ter como condição necessária e sufi ciente uma vontade condicionada por interesses e inclinações sensíveis. D. A razão é capaz de guiar a vontade como meio para a satisfação de todas as necessidades e assim realizar seu verdadeiro destino prático: a felicidade. E. A razão, quando se torna livre das condições subjetivas que a coagem, é, em si, necessariamente conforme a vontade e somente por ela sufi cientemente determinada. QUESTÃO 04 (UEL) O desenvolvimento não é um mecanismo cego que age por si. O padrão de progresso dominante descreve a trajetória da sociedade contemporânea em busca dos fi ns tidos como desejáveis, fi ns que os modelos de produção e de consumo expressam. É preciso, portanto, rediscutir os sentidos. Nos marcos do que se entende predominantemente por desenvolvimento, aceita-se rever as quantidades (menos energia, menos água, mais efi ciência, mais tecnologia), mas pouco as qualidades: que desenvolvimento, para que e para quem? LEROY, Jean Pierre. Encruzilhadas do Desenvolvimento. O Impacto sobre o meio ambiente. Le Monde Diplomatique Brasil. jul. 2008, p.9. Tendo como referência a relação entre desenvolvimento e progresso presente no texto, é correto afi rmar que, em Kant, tal relação, contida no conceito de Aufklärung (Esclarecimento), expressa: A. A tematização do desenvolvimento sob a égide da lógica de produção capitalista. B. A segmentação do desenvolvimento tecnocientífi co nas diversas especialidades. C. A ampliação do uso público da razão para que se desenvolvam sujeitos autônomos. D. O desenvolvimento que se alcança no âmbito técnico e material das sociedades. E. O desenvolvimento dos pressupostos científi cos na resolução dos problemas da fi losofi a prática. QUESTÃO 05 (UEL) Leia o texto a seguir. Kant, mesmo que restrito à cidade de Königsberg, acompanhou EXERCÍCIOSFILOSOFIA - FRENTE U - CAPÍTULO 01 377 os desdobramentos das Revoluções Americana e Francesa e foi levado a refletir sobre as convulsões da história mundial. Às incertezas da Europa plebeia, individualista e provinciana, contrapôs algumas certezas da razão capazes de restabelecer, ao menos no pensamento, a sociabilidade e a paz entre as nações com vista à constituição de uma federação de povos – sociedade cosmopolita. Adaptado de: ANDRADE, R. C. “Kant: a liberdade, o indivíduo e a república”. In: WEFORT, F. C. (Org.). Clássicos da política. v.2. São Paulo: Ática, 2003. p.49-50. Com base nos conhecimentos sobre a Filosofia Política de Kant, assinale a alternativa correta: A. A incapacidade dos súditos de distinguir o útil do prejudicial torna imperativo um governo paternal para indicar a felicidade. B. É chamado cidadão aquele que habita a cidade, sendo considerados cidadãos ativos também as mulheres e os empregados. C. No Estado, há uma igualdade irrestrita entre os membros da comunidade e o chefe de Estado. D. Os súditos de um Estado Civil devem possuir igualdade de ação em conformidade com a lei universal da liberdade. E. Os súditos estão autorizados a transformar em violência o descontentamento e a oposição ao poder legislativo supremo. QUESTÃO 06 (UEL) Leia o texto a seguir. As leis morais juntamente com seus princípios não só se distinguem essencialmente, em todo o conhecimento prático, de tudo o mais onde haja um elemento empírico qualquer, mas todaa Filosofia moral repousa inteiramente sobre a sua parte pura e, aplicada ao homem, não toma emprestado o mínimo que seja ao conhecimento do mesmo (Antropologia). KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Trad. de Guido A. de Almeida. São Paulo: Discurso Editorial, 2009. p.73. Com base no texto e na questão da liberdade e autonomia em Immanuel Kant, assinale a alternativa correta: A. A fonte das ações morais pode ser encontrada através da análise psicológica da consciência moral, na qual se pesquisa mais o que o homem é, do que o que ele deveria ser. B. O elemento determinante do caráter moral de uma ação está na inclinação da qual se origina, sendo as inclinações serenas moralmente mais perfeitas do que as passionais. C. O sentimento é o elemento determinante para a ação moral, e a razão, por sua vez, somente pode dar uma direção à presente inclinação, na medida em que fornece o meio para alcançar o que é desejado. D. O ponto de partida dos juízos morais encontra-se nos “propulsores” humanos naturais, os quais se direcionam ao bem próprio e ao bem do outro. E. O princípio supremo da moralidade deve assentar-se na razão prática pura, e as leis morais devem ser independentes de qualquer condição subjetiva da natureza humana. QUESTÃO 07 (UNESP) A fonte do conceito de autonomia da arte é o pensamento estético de Kant. Praticamente tudo o que fazemos na vida é o oposto da apreciação estética, pois praticamente tudo o que fazemos serve para alguma coisa, ainda que apenas para satisfazer um desejo. Enquanto objeto de apreciação estética, uma coisa não obedece a essa razão instrumental: enquanto tal, ela não serve para nada, ela vale por si. As hierarquias que entram em jogo nas coisas que obedecem à razão instrumental, isto é, nas coisas de que nos servimos, não entram em jogo nas obras de arte tomadas enquanto tais. Sendo assim, a luta contra a autonomia da arte tem por fim submeter também a arte à razão instrumental, isto é, tem por fim recusar também à arte a dimensão em virtude da qual, sem servir para nada, ela vale por si. Trata-se, em suma, da luta pelo empobrecimento do mundo. Antônio Cícero. “A autonomia da arte”. Folha de São Paulo, 13.12.2008. Adaptado.) De acordo com a análise do autor, A. a racionalidade instrumental, sob o ponto de vista da filosofia de Kant, fornece os fundamentos para a apreciação estética. B. um mundo empobrecido seria aquele em que ocorre o esvaziamento do campo estético de suas qualidades intrínsecas. C. a transformação da arte em espetáculo da indústria cultural é um critério adequado para a avaliação de sua condição autônoma. D. o critério mais adequado para a apreciação estética consiste em sua validação pelo gosto médio do público consumidor. E. a autonomia dos diversos tipos de obra de arte está prioritariamente subordinada à sua valorização como produto no mercado. QUESTÃO 08 (UEL) Analise a figura a seguir. A figura ilustra, por meio da ironia, parte da crítica que a perspectiva sociológica baseada nas reflexões teóricas de Karl Marx (1818-1883) faz ao caráter ideológico de certas noções de Estado. Sobre a relação entre Estado e sociedade segundo Karl Marx, é correto afirmar: A. A finalidade do Estado é o exercício da justiça entre os homens e, portanto, é um bem indispensável à sociedade. B. O Estado é um instrumento de dominação e representa, prioritariamente, os interesses dos setores hegemônicos das classes dominantes. C. O Estado tem por finalidade assegurar a felicidade dos cidadãos e garantir, também, a liberdade individual dos homens. D. O Estado visa atender, por meio da legislação, a vontade geral dos cidadãos, garantindo, assim, a harmonia social. E. Os regimes totalitários são condição essencial para que o Estado represente, igualmente, os interesses das diversas classes sociais. QUESTÃO 09 (UEL) “Cascavel – Uma pequena cidade no interior do Paraná está provando que machismo é coisa do passado. Com 15 mil habitantes, conforme o IBGE, Ampére (a 150 quilômetros EXERCÍCIOSFILOSOFIA - FRENTE U - CAPÍTULO 01 378 de Cascavel), no Sudoeste, tem fartura de emprego para as mulheres. Ex-donas de casa partiram para o trabalho fixo, enquanto os homens, desempregados ou não, passaram a assumir os serviços domésticos. Assim, elas estão garantindo mais uma fonte de renda para a família, além de eliminar antigos preconceitos. A situação torna-se ainda mais evidente quando os homens estão desempregados e são as mulheres que pagam as contas básicas da família. Conforme levantamento informal, em Ampére, o número de homens sem vínculo empregatício é maior do que o de mulheres. Para driblar as dificuldades, eles fazem bicos temporários e quando não há serviço, tornam-se donos de casa. O motivo para essa mudança de comportamento é a [...] Industrial Ltda., uma potência no setor de confecções que dá emprego a 1200 pessoas, das quais 80% são mulheres. Com a fábrica, famílias migraram do interior para a cidade. As mulheres abandonaram o posto de donas de casa ou de empregadas domésticas, aprendendo a apostar na capacidade de competição”. Costa, Ilza Costa. Papéis trocados. Gazeta do Povo, Curitiba, 01 out. 1999. p. 14.) O fenômeno da troca de papéis sociais, relatado no texto, ilustra a base da tese usada por Karl Marx (1818-1883) na explicação geral que formula sobre a relação entre a infraestrutura e a supraestrutura na sociedade capitalista. Com base no texto e nos conhecimentos sobre essa tese de Karl Marx, é correto afirmar: A. Na explicação das mudanças ocorridas no comportamento coletivo, deve-se privilegiar o papel ativo do indivíduo na escolha das ações, ou seja, o que importa é a motivação que inspira suas opções. B. É a imitação que constitui a sociedade, enquanto a invenção abre o caminho das mudanças e de seu progresso. A invenção, produtora das transformações sociais, é individual, dependendo de poucos; enquanto a imitação, coletiva, necessita sempre de mais de uma pessoa. C. A família é a verdadeira unidade social; é a célula social que, em seu conjunto, compõe a sociedade. Portanto, a sociedade não pode ser decomposta em indivíduos, mas em famílias. É a família a fonte espontânea da educação moral, bem como a base natural da organização política. D. Há uma relação de determinação entre a maneira como um grupo concreto estrutura suas condições materiais de existência – chamada de modo de produção – e o formato e conteúdo das demais organizações, instituições sociais e ideias gerais presentes nas relações sociais. E. A organização social deve fundar-se na separação dos ofícios, inerente à divisão do trabalho social e na combinação dos esforços individuais. Sem divisão do trabalho social, não há cooperação e, portanto, a coesão social entre as classes torna- se impossível. QUESTÃO 10 (UEL) A ópera-balé Os Sete Pecados Capitais da Pequena Burguesia, de Kurt Weill e Bertold Brecht, composta em 1933, retrata as condições dessa classe social na derrocada da ordem democrática com a ascensão do nazismo na Alemanha, por meio da personagem Anna, que em sete anos vê todos os seus sonhos de ascensão social ruírem. A obra expressa a visão marxista na chamada doutrina das classes. Em relação à doutrina social marxista, assinale a alternativa correta: A. A alta burguesia é uma classe considerada revolucionária, pois foi capaz de resistir à ideologia totalitária através do controle dos meios de comunicação. B. A classe média, integrante da camada burguesa, foi identificada com os ideais do nacional-socialismo por defender a socialização dos meios de produção. C. A pequena burguesia ou camada lúmpen é revolucionária, identificando a alta burguesia como sua inimiga natural a ser destruída pela revolução. D. A pequena burguesia ou classe média é uma classe antirrevolucionária, pois, embora esteja mais próxima das condições materiais do proletariado, apoia a alta burguesia. E. O proletariado e a classemédia formam as classes revolucionárias, cuja missão é a derrubada da aristocracia e a instauração do comunismo. QUESTÃO 11 (IFRN) Na fenomenologia do espírito, Hegel entendia a chamada sociedade civil como uma instância distinta da vida ética da família e do universo político dos Estados nacionais. A sociedade civil seria dessa forma, uma etapa intermediária entre o mundo puramente econômico da vida familiar e as instâncias legais, administrativas e políticas que assegurariam o funcionamento corrente do Estado Nacional. Assumindo o pressuposto de que Hegel distinguiu, de modo claro e abrangente, sociedade civil e Estado, é correto pensar que A. só é possível compreender mais claramente a distinção entre Sociedade Civil e Estado, na época de Hegel, tendo em vista o advento de Estados revolucionários centralizados, cujo funcionamento era claramente distinto da vida de seus súditos. B. já se entendia, mesmo na Grécia antiga, a vida econômica como claramente distinta da vida familiar, como já preconizava Aristóteles, o que impedia uma leitura mais clara das separações entre os aspectos econômicos e sociais. C. muitos teóricos anteriores a Hegel, como os contratualistas, não conseguiram entender as distinções entre o econômico, o político e o social, justamente porque não defendiam, como Hegel, que a finalidade do Estado fosse apenas o de facilitar as relações comerciais. D. não haveria distinção, para Hegel, entre o econômico e o político, mas sim entre o social e o econômico, tendo em vista que as esferas da vida familiar (essencialmente econômica) estariam amplamente conectadas com a sociedade civil, formando as bases da sociedade burguesa do século XIX. QUESTÃO 12 (IFRN) Kant estabelece três princípios da constituição republicana que fundamentariam os regimes calcados em uma ordem democrática. Esses três princípios são: A. Liberdade para todos os membros da sociedade; construção de legislações específicas para classes sociais diferentes; igualdade, como cidadãos, perante a lei. B. Liberdade para todos os membros da sociedade; dependência de todos e de cada um a uma legislação comum; igualdade, como cidadãos, perante a lei. C. Construção de legislações específicas para classes sociais diferentes; separação dos poderes; devido processo legal. D. Construção de legislações específicas para sujeitos que sejam hipossuficientes; liberdade para todos os membros da sociedade; proteção das minorias étnicas contra legislações discriminatórias. QUESTÃO 13 (UFU) O botão desaparece no desabrochar da flor, e poderia dizer-se que a flor o refuta; do mesmo modo que o fruto faz a flor EXERCÍCIOSFILOSOFIA - FRENTE U - CAPÍTULO 01 379 parecer um falso ser-aí da planta, pondo-se como sua verdade em lugar da flor: essas formas não só se distinguem, mas também se repelem como incompatíveis entre si [...]. HEGEL, G.W.F. Fenomenologia do Espírito. Petrópolis: Vozes, 1988. Com base em seus conhecimentos e na leitura do texto acima, assinale a alternativa correta segundo a filosofia de Hegel. A. A essência do real é a contradição sem interrupção ou o choque permanente dos contrários. B. As contradições são momentos da unidade orgânica, na qual, longe de se contradizerem, todos são igualmente necessários. C. O universo social é o dos conflitos e das guerras sem fim, não havendo, por isso, a possibilidade de uma vida ética. D. Hegel combateu a concepção cristã da história ao destituí-la de qualquer finalidade benevolente. QUESTÃO 14 (IFRN) Este método é aplicado não só na lógica, mas também em todas as obras sistemáticas de Hegel. Em Fenomenologia do Espírito, por exemplo, procede de modo semelhante, passando da família à sociedade civil e desta para o Estado. Mas a dialética não é apenas uma característica de conceitos; é também de coisas e processos reais. Um ácido e um álcali, por exemplo, (1) estão inicialmente separados e são distintos; (2) dissolvem-se um no outro e perdem suas propriedades individuais quando são reunidos; e (3) resultam num sal neutro, com novas propriedades. O texto acima sobre a Dialética de Hegel indica que A. a dialética de Hegel, como a dialética de Platão, envolve sempre uma estrutura progressiva de diálogo entre dois ou mais pensadores, de modo a permitir que os sujeitos do conhecimento evoluam em direção às formas puras do pensamento. B. a dialética em seus aspectos lógicos são suficientes para dar conta do método proposto por Hegel na fenomenologia do espírito. C. a dialética hegeliana consiste em um método de verificação ontológica do valor de verdade de proposições que dizem respeito ao mundo, ao pensamento e ao próprio sujeito do conhecimento. D. a dialética não é apenas um método, no sentido de um procedimento que um determinado pensador aplica a seu próprio objeto de conhecimento, mas, fundamentalmente, a estrutura e o desenvolvimento intrínsecos do próprio objeto. QUESTÃO 15 (UNESP) A República Islâmica do Irã abençoa e incentiva operações de troca de sexo, em nome de uma política que considera todo cidadão não heterossexual como espírito nascido no corpo errado. Com ao menos 50 cirurgias por ano, o país é recordista mundial em mudança de sexo, após a Tailândia. Oficialmente, gays não existem no país. Ficou famosa a frase do presidente Mahmoud Ahmadinejad dita a uma plateia de estudantes nos EUA em 2007, de que “não há homossexuais no Irã”. A homossexualidade nem consta da lei. Mas sodomia é passível de execução. […] Uma transexual operada confidenciou um sentimento amplamente compartilhado em silêncio: “Não teria mutilado meu corpo se a sociedade tivesse me aceitado do jeito que eu nasci”. Samy Adghirny. Operação antigay. Folha de S.Paulo, 13.01.2013. O incentivo a cirurgias de troca de sexo no Irã é motivado por A. tabus sexuais decorrentes do fundamentalismo religioso hegemônico naquele país. B. critérios de natureza científica que definem o que é uma “sexualidade normal”. C. uma política governamental fundamentada em princípios liberais de cidadania. D. influências ocidentais ocasionadas pelo processo de globalização cultural pela internet. E. pressões exercidas pelos movimentos sociais homossexuais pelo direito à cirurgia. QUESTÃO 16 (UEG) No século XIX, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche vislumbrou o advento do “super-homem” em reação ao que para ele era a crise cultural da época. Na década de 1930, foi criado nos Estados Unidos o Super-Homem, um dos mais conhecidos personagens das histórias em quadrinhos. A diferença entre os dois “super-homens” está no fato de Nietzsche defender que o super-homem: A. agiria de modo coerente com os valores pacifistas, repudiando o uso da força física e da violência na consecução de seus objetivos. B. expressaria os princípios morais do protestantismo, em contraposição ao materialismo presente no herói dos quadrinhos. C. abdicar-se-ia das regras morais vigentes, desprezando as noções de “bem”, “mal”, “certo” e “errado”, típicas do cristianismo. D. representaria os valores políticos e morais alemães, e não o individualismo pequeno burguês norte-americano. QUESTÃO 17 (CESPE) De acordo com Karl Marx, fetiche consiste A. no domínio de uma classe social sobre outra. B. na projeção de supostas características e propriedades a um objeto que aparentemente conferem a ele vida própria. C. na negação do caráter instrumental dos objetos para a vida social. D. na preocupação que a sociedade tem de vincular-se com o poder. QUESTÃO 18 (FCC) No que se refere ao espaço urbano, segundo o paradigma estrutural-funcional marxista, é correto afirmar: A. Os loteamentos periféricos das cidades respondem às necessidades sistêmicas de reprodução da força de trabalho, de descapitalização da renda crescente do capital financeiro e de desorganização da mobilização da classe trabalhadora. B. Os movimentos sociais urbanos contribuem estruturalmente para a valorização sistêmicados loteamentos centrais, pois reduzem os custos de reprodução da força de trabalho e legitimam a dominação simbólica do capital. C. O cenário da cidade é moldado pelo processo de acumulação do capital e envolve os conflitos pelo consumo do ambiente construído, no qual tomam parte três usuários fundamentais: o capital fundiário, o Estado e o Trabalho. D. A atuação do Estado no espaço urbano cumpre funções sistêmicas para o modo de produção capitalista, quais sejam, a de prover os bens de consumo coletivo, promover o circuito de valorização do capital e legitimar a dominação capitalista. E. O modo de apropriação capitalista do espaço urbano implica na redistribuição equitativa dos bens de consumo coletivo, EXERCÍCIOSFILOSOFIA - FRENTE U - CAPÍTULO 01 380 dos meios de mobilidade nas periferias e subúrbios e das formas coletivas de desorganização. QUESTÃO 19 (FESP) Na terceira dissertação da Genealogia da moral, tem lugar uma análise da arte, na qual Nietzsche ataca a compreensão ascética que dela tem certa tradição estética dentro da filosofia. Neste momento, Nietzsche condena, sobretudo, a concepção estética de origem: A. platônica. B. aristotélica. C. kantiana. D. schilleriana. E. hegeliana. QUESTÃO 20 (FGV) A concepção de Ideologia em Karl Marx contempla as dimensões expressas nas alternativas a seguir, à exceção de uma. Assinale-a. A. Representa as ideias de uma classe dominante. B. Está subordinada às condições materiais de existência. C. É concebida como uma falsa consciência da realidade. D. Pertence ao campo da superestrutura. E. Desenvolve-se de forma independente das relações sociais. SEÇÃO ENEM QUESTÃO 01 Até hoje admitia-se que nosso conhecimento se devia regular pelos objetos; porém, todas as tentativas para descobrir, mediante conceitos, algo que ampliasse nosso conhecimento malogravam- se com esse pressuposto. Tentemos, pois, uma vez, experimentar se não se resolverão melhor as tarefas da metafísica, admitindo que os objetos se deveriam regular pelo nosso conhecimento. KANT, I. Crítica da razão pura. Lisboa: Calouste-Guibenkian, 1994 (adaptado). O trecho em questão é uma referência ao que ficou conhecido como revolução copernicana da filosofia. Nele, confrontam-se duas posições filosóficas que A. assumem pontos de vista opostos acerca da natureza do conhecimento. B. defendem que o conhecimento é impossível, restando-nos somente o ceticismo. C. revelam a relação de interdependência entre os dados da experiência e a reflexão filosófica. D. apostam, no que diz respeito às tarefas da filosofia, na primazia das ideias em relação aos objetos. E. refutam-se mutuamente quanto à natureza do nosso conhecimento e são ambas recusadas por Kant. QUESTÃO 02 Uma pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir dinheiro emprestado. Sabe muito bem que não poderá pagar, mas vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer firmemente pagar em prazo determinado. Sente a tentação de fazer a promessa; mas tem ainda consciência bastante para perguntar a si mesma: não é proibido e contrário ao dever livrar- se de apuros desta maneira? Admitindo que se decida a fazê-lo, a sua máxima de ação seria: quando julgo estar em apuros de dinheiro, vou pedi-lo emprestado e prometo pagá-lo, embora saiba que tal nunca sucederá. KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril Cultural, 1980. De acordo com a moral kantiana, a “falsa promessa de pagamento” representada no texto A. assegura que a ação seja aceita por todos a partir da livre discussão participativa. B. garante que os efeitos das ações não destruam a possibilidade da vida futura na terra. C. opõe-se ao princípio de que toda ação do homem possa valer como norma universal. D. materializa-se no entendimento de que os fins da ação humana podem justificar os meios. E. permite que a ação individual produza a mais ampla felicidade para as pessoas envolvidas. QUESTÃO 03 Os ricos adquiriram uma obrigação relativamente à coisa pública, uma vez que devem sua existência ao ato de submissão à sua proteção e zelo, o que necessitam para viver; o Estado então fundamenta o seu direito de contribuição do que é deles nessa obrigação, visando a manutenção de seus concidadãos. Isso pode ser realizado pela imposição de um imposto sobre a propriedade ou a atividade comercial dos cidadãos, ou pelo estabelecimento de fundos e de uso dos juros obtidos a partir deles, não para suprir as necessidades do Estado (uma vez que este é rico), mas para suprir as necessidades do povo. KANT, I. A metafísica dos costumes. Bauru: Edipro, 2003. Segundo esse texto de Kant, o Estado A. deve sustentar todas as pessoas que vivem sob seu poder, a fim de que a distribuição seja paritária. B. está autorizado a cobrar impostos dos cidadãos ricos para suprir as necessidades dos cidadãos pobres. C. dispõe de poucos recursos e, por esse motivo, é obrigado a cobrar impostos idênticos dos seus membros. D. delega aos cidadãos o dever de suprir as necessidades do Estado, por causa do seu elevado custo de manutenção. E. tem a incumbência de proteger os ricos das imposições pecuniárias dos pobres, pois os ricos pagam mais tributos. QUESTÃO 04 Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma condição estranha, continuem, no entanto, de bom grado menores durante toda a vida. KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado). Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento, fundamental para a compreensão do contexto filosófico da Modernidade. Esclarecimento, no sentido empregado por Kant, representa EXERCÍCIOSFILOSOFIA - FRENTE U - CAPÍTULO 01 381 A. a reivindicação de autonomia da capacidade racional como expressão da maioridade. B. o exercício da racionalidade como pressuposto menor diante das verdades eternas. C. a imposição de verdades matemáticas, com caráter objetivo, de forma heterônoma. D. a compreensão de verdades religiosas que libertam o homem da falta de entendimento. E. a emancipação da subjetividade humana de ideologias produzidas pela própria razão. QUESTÃO 05 Um Estado é uma multidão de seres humanos submetida a leis de direito. Todo Estado encerra três poderes dentro de si, isto é, a vontade unida em geral consiste de três pessoas: o poder soberano (soberania) na pessoa do legislador; o poder executivo na pessoa do governante (em consonância com a lei) e o poder judiciário (para outorgar a cada um o que é seu de acordo com a lei) na pessoa do juiz. KANT, I. A metafísica dos costumes. Bauru: Edipro, 2003. De acordo com o texto, em um Estado de direito A. a vontade do governante deve ser obedecida, pois é ele que tem o verdadeiro poder. B. a lei do legislador deve ser obedecida, pois ela é a representação da vontade geral. C. o Poder Judiciário, na pessoa do juiz, é soberano, pois é ele que outorga a cada um o que é seu. D. o Poder Executivo deve submeter-se ao Judiciário, pois depende dele para validar suas determinações. E. e) o Poder Legislativo deve submeter-se ao Executivo, na pessoa do governante, pois ele que é soberano. QUESTÃO 06 A pura lealdade na amizade, embora até o presente não tenha existido nenhum amigo leal, é imposta a todo homem, essencialmente, pelo fato de tal dever estar implicado como dever em geral, anteriormente a toda experiência, na ideia de uma razão que determina a vontade segundo princípios apriori. KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Barcarolla, 2009. A passagem citada expõe um pensamento caracterizado pela: A. eficácia prática da razão empírica. B. transvaloração dos valores judaico-cristãos. C. recusa em fundamentar a moral pela experiência. D. comparação da ética a uma ciência de rigor matemático. E. importância dos valores democráticos nas relações de amizade. QUESTÃO 07 Na produção social que os homens realizam, eles entram em determinadas relações indispensáveis e independentes de sua vontade; tais relações de produção correspondem a um estágio definido de desenvolvimento das suas forças materiais de produção. A totalidade dessas relações constitui a estrutura econômica da sociedade – fundamento real, sobre o qual se erguem as superestruturas política e jurídica, e ao qual correspondem determinadas formas de consciência social. MARX, K. Prefácio à Crítica da economia política. In. MARX, K. ENGELS F. Textos 3. São Paulo. Edições Sociais, 1977 (adaptado). Para o autor, a relação entre economia e política estabelecida no sistema capitalista faz com que A. o proletariado seja contemplado pelo processo de mais-valia. B. o trabalho se constitua como o fundamento real da produção material. C. a consolidação das forças produtivas seja compatível com o progresso humano. D. a autonomia da sociedade civil seja proporcional ao desenvolvimento econômico. E. a burguesia revolucione o processo social de formação da consciência de classe. QUESTÃO 08 Sentimos que toda satisfação de nossos desejos advinda do mundo assemelha-se à esmola que mantém hoje o mendigo vivo, porém prolonga amanhã a sua fome. A resignação, ao contrário, assemelha-se à fortuna herdada: livra o herdeiro para sempre de todas as preocupações. SCHOPENHAUER, A. Aforismo para a sabedoria da vida. São Paulo: Martins Fontes, 2005. O trecho destaca uma ideia remanescente de uma tradição filosófica ocidental, segundo a qual a felicidade se mostra indissociavelmente ligada à A. consagração de relacionamentos afetivos. B. administração da independência interior. C. fugacidade do conhecimento empírico. D. liberdade de expressão religiosa. E. busca de prazeres efêmeros. QUESTÃO 09 A moralidade, Bentham exortava, não é uma questão de agradar a Deus, muito menos de fidelidade a regras abstratas. A moralidade é a tentativa de criar a maior quantidade de felicidade possível neste mundo. Ao decidir o que fazer, deveríamos portanto, perguntar qual curso de conduta promoveria a maior quantidade de felicidade para todos aqueles que serão afetados. RACHELS, J. Os elementos da filosofia moral Barueri-SP, Manole, 2005 Os parâmetros da ação indicados no texto estão em conformidade com uma A. fundamentação científica de viés positivista. B. convenção social de orientação normativa C. transgressão Comportamental religiosa D. racionalidade de caráter pragmático. E. inclinação de natureza passional QUESTÃO 10 O edifício é circular. Os apartamentos dos prisioneiros ocupam a circunferência. Você pode chamá-los, se quiser, de celas. O apartamento do inspetor ocupa o centro; você pode chamá-lo, se quiser de alojamento do inspetor. A moral reformada; a saúde preservada; a indústria revigorada; a instrução difundida; os encargos públicos aliviados; a economia assentada, como deve ser, sobre uma rocha; o nó górdio da Lei sobre os Pobres não cortado, mas desfeito – tudo por uma simples ideia de arquitetura! BENTHAM, J. O panóptico. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. Essa é a proposta de um sistema conhecido como panóptico, um modelo que mostra o poder da disciplina nas sociedades contemporâneas, exercido preferencialmente por mecanismos A. religiosos, que se constituem como um olho divino controlador que tudo vê. B. ideológicos, que estabelecem limites pela alienação, impedindo a visão da dominação sofrida. EXERCÍCIOSFILOSOFIA - FRENTE U - CAPÍTULO 01 382 C. repressivos, que perpetuam as relações de dominação entre os homens por meio da tortura física. D. sutis, que adestram os corpos no espaço-tempo por meio do olhar como instrumento de controle. E. consensuais, que pactuam acordos com base na compreensão dos benefícios gerais de se ter as próprias ações controladas. GABARITO VESTIBULARES ENEM 1 D 11 A 1 A 2 B 12 B 2 C 3 A 13 B 3 B 4 C 14 D 4 A 5 D 15 A 5 B 6 E 16 C 6 C 7 B 17 B 7 B 8 B 18 D 8 B 9 D 19 C 9 D 10 D 20 E 10 D
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