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DIREITO CONSTITUCIONAL PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO 1. Conceito: ➔ É a força política que se funda em si mesma, é expressão sublime da vontade do povo em estabelecer e disciplinar bases organizatórias da comunidade política. ➔ Por ser anterior a qualquer normatização jurídica, é a autoridade suprema do ordenamento jurídico. ➔ Esse poder é responsável pela elaboração da Constituição, norma jurídica superior que inicia a ordem jurídica, lhe conferindo fundamento de validade. ➔ É um poder que constitui todos os demais, correlato à própria existência do Estado, podemos afirmar que em todos os atos de fundação e estruturação de uma comunidade, tivemos a sua manifestação, o que nem sempre existiu, todavia, foi a sua teorização. ➔ A delimitação de uma teoria acerca do PCO teve por mérito transpor a fundação do Estado do Inconsciente político e social para o consciente jurídico. 2. Surgimento ➔ Precursor dos estudos sobre o referido poder foi o abade Emmanuel Joseph Sieyès, autor de um panfleto divulgado às vésperas da Revolução Francesa intitulado ‘’Que é Terceiro Estado?’’, um dos estopins deflagradores da Revolução. ➔ O abade apresentou nesse panfleto as reivindicações do Terceiro Estado, contestando as benesses dos nobres e do Alto clero e reivindicado seu papel na conformação política do País. ➔ O terceiro estado era composto pelos não integrantes da nobreza e alto clero. Assim a burguesia também fazia parte do Terceiro Estado. Ele era responsável pela formação de riquezas, não obstante era completamente alijado do processo político, sem privilégio e sem participação nas decisões. ➔ MPPR: Sieyès identificou que a formação da sociedade política passava por três fases: 1. Fase, havia somente reunião dos indivíduos. Na sequência, 2. Fase, começaram a se organizar e debater melhores formas, ainda que rudimentar, para satisfazer as necessidades básicas comuns. Como os componentes desse grupo vão se espalhando e se tornando muitos, tornar-se-ia inviável a manifestação direta de cada integrante 3. Fase, nesse contexto, seria agora necessário delegação das decisões a alguns poucos indivíduos que, representantes legítimos dos demais, decidiriam por todos. ATENÇÃO! Ao apresentar o conceito de representação política, Sieyès rompe com o ideal rousseauniano de participação popular direta para se chegar à vontade geral. Ao chegar nessa terceira fase o autor informa que é essencial a organização desse corpo de indivíduos por uma Constituição. Esta, segundo o abade francês, deveria ser criada pelo PC, de titularidade da nação (entidade que sintetiza a unidade política do povo) e que, em sua concepção, seria a origem de tudo. A nação, titular do PCO, seria soberana para ordenar o seu próprio destino e o da sociedade, expressando-se por meio da Constituição. Ademais, para o abade, a Constituição seria produto dos trabalhos do PCO e estruturaria os poderes constituídos do Estado, se diferenciando destes por sua superioridade e capacidade criadora. 3.Natureza Jurídica do Poder Constituinte Originário Natureza jurídica varia conforme a concepção que use para explicar e entender o Direito: ➔ 1C, formada pela escola jusnaturalista (Sieyes formulou a teoria geral sobre o poder com base nessa escola): entende que a natureza jurídica do PCO é de um poder de direito, haja vista admitir a existência de um direito natural (proveniente da natureza humana e dos ideais de justiça), prévio ao direito positivo. Mesmo que o PCO anteceda a própria formação do Estado, tem uma base normativa advinda do direito natural que lhe confere fundamentação jurídica e o afirma enquanto poder de direito. Em resumo: o PCO é anterior ao Estado e existe para organizá-lo, como a noção de direito existe antes mesmo do Estado surgir (jusnaturalismo), o poder criador pode ser identificado como poder jurídico; ➔ 2C: Em contraposição, temos a linha de pensamento juspositivista: sua filosofia central baseia-se na regra de que não há como pensar o direito antes de se aferir a existência de um possível Estado. Deste modo, se o poder constituinte funda o estado, que é quem cria o direito, impossível é identificarmos alguma base normativa para a fundamentação do poder, haja vista ele ser anterior ao próprio direito. Por isso, é tido como poder de fato, meta jurídico, que se funda em si mesmo, não integrando o mundo jurídico, nem possuindo natureza jurídica. É um poder político, para alguns extrajurídico, produto das forças sociais que o criam; ➔ 3C: Vê como possuidor de natureza híbrida, dotado de feições políticas e jurídicas. Na ruptura seria um poder de fato, já na elaboração do novo documento constitucional assumir e eu vier jurídico ao revogar o ordenamento anterior e constituir um novo. 2C é a mais aceita na doutrina pátria e é a que deve ser adotada em provas de concurso. 4. Titularidade O titular do poder constituinte é aquele que detém o poder, estando apto a elaborar os contornos normativos de um Estado, definindo o conteúdo e a estrutura organizacional da ordem jurídica. Durante vários séculos, na idade média, a titularidade pertenceu aos soberanos compreendidos como verdadeiras reencarnações das entidades divinas, livres de quaisquer limitações. Nas vésperas da Revolução Francesa, quando o abade publicou o que é o terceiro estado, surgiu a ideia de poder constituinte pertencente a nação. O autor rompe com a legitimação dinástica do poder, típica das monarquias absolutistas e, associando o conceito de nação ao terceiro estado, afirma ser aquela legítimo titular do poder constituinte. Uma leitura mais moderna substituiu o conceito de nação, que tem matriz sociológica, pelo conceito de povo. Poder constituinte então passa a significar poder do povo, o conceito de povo abarca uma grandeza pluralística (peter haberle). Abrange toda uma pluralidade de forças culturais, sociais e políticas, tais como os partidos políticos, as associações, as igrejas, entidades e organizações sociais, e algumas personalidades, decisivamente influenciadoras da conformação das opiniões das vontades das correntes e das sensibilidades políticas nos momentos pré- constituintes e nos próprios procedimentos constituintes. Ou seja, conceito de povo não se reduz ao corpo eleitoral. 5. Exercício do Poder Constituinte Originário Como se dá o seu exercício? Afinal não é sempre que há coincidência entre o titular do direito e o exercente. Fala- se em procedimento constituinte direto quando o projeto elaborado pela assembleia tem validade jurídica por meio da aprovação direta do povo, manifestada através de um plebiscito ou de um referendo. Ademais, também pode ocorrer usurpação do PC, como é o caso das constituições outorgadas. Em resumo, quanto ao seu exercício: a) Exercício democrático direto: neste caso o povo escolhe os seus representantes, que se tornam responsáveis pela elaboração de um novo documento constitucional, que renovará ordenamento jurídico. O poder constituinte atuará por meio de uma Assembleia Nacional Constituinte ou uma convenção constituinte, sendo que essa forma tipifica o exercício democrático desde as origens do constitucionalismo. Ex: Convenção da Filadélfia 1787, assembleia Nacional francesa 1789, no Brasil os documentos constitucionais de 1891, 1934, 1946 e 1988. b) Exercício autocrático: se manifesta por meio da outorga, de modo que a Constituição é estabelecida por um indivíduo ou grupo que alcançou um poder sem quaisquer resquícios de participação popular, constituindo o que se denomina poder constituinte usurpado. Exemplo constituições outorgadas no Brasil de 1824, 1937, 1967. Ausência de identidade entre o titular do poder constituinte e o agente que exerce o poder tem uma importante consequência, que é o reconhecimento de que o poder constituinte é permanente, pois ele não se esgota quandoda elaboração da Constituição, permanece latente permanece com o seu titular que é o Povo. Por outro lado, o agente que exerce o poder constituinte se esgota, seja assembleia ou a convenção constituinte que se dissolve, sendo que o mesmo se passa com a gente usurpador. 6. Espécies A) quanto ao momento de manifestação, o poder pode ser intitulado → Fundacional: ou histórico, é aquele que produz a primeira Constituição do estado. Ex: A carta constitucional de 1824. ➔ Pós- fundacional: é aquele que parte de uma ruptura institucional da ordem vigente para elaborar a nova Constituição que sucederá uma anterior revogando integralmente a precedente a partir de uma transição constitucional, atua na confecção de todas as constituições subsequentes a primeira. Poderá ocorrer: - de forma revolucionária no golpe de estado onde o poder constituinte é usurpado por um governante; - Ou numa insurreição quando feita por um grupo externo dissociado dos poderes instituídos ; - Uma transição pacífica na qual a ordem anterior subsiste enquanto a nova constituição está sendo elaborado. B) Quanto as dimensões ➔ Material: É o poder que delimita os valores que serão prestigiados pela Constituição e a ideia de direito que vai vigorar novo ordenamento. É o conjunto de forças políticas que vai gerar mudança institucional. ➔ Formal: exprime e formaliza a criação, revela-se na entidade no grupo constituinte que formalizará em normas jurídicas a ideia e a concepção de direito consentida em um dado momento histórico. O poder constituinte material precede o constituinte formal porque a ideia de direito precede a regra de direito, o valor comanda a norma, a opção política fundamental, a forma que elege para agir sobre os fatos, e precede o historicamente porque há sempre dois tempos no processo constituinte. 7 . Características do Poder Constituinte Originário 1. Inicial: porque o produto de seu trabalho é a Constituição, que é a base do ordenamento jurídico, documento que inaugura juridicamente um novo Estado e acarreta a ruptura total com ordem jurídica anterior. Conforme assevera JJ Canotilho: não existe, antes delem nem de fato nem de direito, qualquer outro poder; 2. Ilimitado: haja vista não se submeter ao regramento posto pelo direito precedente, sendo possuidor de ampla liberdade de conformação com a nova ordem jurídica. As normas anteriores não são capazes de limitar a sua atividade; 3. Incondicionado: não se submete a nenhuma outra regra ou procedimento formal pré-fixado pelo ordenamento jurídico que o antecede. Atua livremente; 4. Autônomo: para alguns é apenas uma maneira diferente de expressar o fato de ser ilimitado. A capacidade de definir o conteúdo que será implantado na nova constituição, bem como sua estruturação e os termos de seu estabelecimento. Cuidado! Mesmo que essa próxima circunstância mais se aproxime de um posicionamento jusnaturalista, nada nos impede, ainda que adotemos a perspectiva positivista, de mencioná- la: 5. Permanente: não se esgota quando da conclusão de uma Constituição. Ele permanece em situação de latência, podendo ser ativado quando um novo momento constituinte, de necessária ruptura com a ordem anterior, se apresentar. Esse poder permanece com o povo, em estado de hibernação. 8. Limites ao PCO Conforme exposto alhures, os jusnaturalistas reconhecem que o poder constituinte está limitado pelo direito natural, que o antecede e a ele se sobrepõe. Mesmo que os positivistas desconsiderem essa limitação, partilham o ideal de que a ausência de limites NÃO deve ser absoluta. Para estes últimos, PCO é o poder ilimitado no sentido de estar desvinculado e não subordinado ao regramento jurídico- positivo anterior. Nesse contexto, torna-se indiscutível alguns limites (independente da corrente): a) limites geográficos/territoriais: PCO cria normas para vigerem em uma determinada circunscrição, base territorial específica; b) circunstâncias sociais e políticas: se o PCO é expressão da vontade política soberana do povo não pode ser entendido sem observância dos valores éticos, religiosos e culturais. Eventual rompimento com a ordem constitucional com fito de instaurar outra que não obtem adesão dos cidadãos, não terá sido operacionalizado pelo PCO, senão por alguém que age como rebelde criminoso (Sieyès, O que é o terceiro estado?); c) efeito cliquet ou efeito catraca: após a constituição ter efetivado a proteção de determinado direito a partir de um indiscutível consenso, uma nova Constituição não poderia retroceder, suprimindo ou mesmo reduzindo o âmbito de incidência dos mesmos. Destarte, direitos e garantias constitucionais já firmados não poderia poderiam ser desrespeitados, nem mesmo por intermédio do PCO, numa autêntica vedação ao retrocesso. d) padrões e modelos de condutas espirituais, culturais, éticos e sociais radicados na consciência jurídica geral da comunidade, devendo observar os princípios do direito internacional e da justiça (JJ. GOMES CANOTILHO). Ainda sobre a existência de limites, vale apresentar a categorização que Jorge Miranda faz dos mesmos. Na percepção do autor existem três ordens possíveis de limites: 1. Os transcendentes: advém do direito natural e dos valores éticos superiores que originam uma consciência jurídico- coletiva que limita o poder constituinte material, impedindo de suprimir ou reduzir direitos fundamentais diretamente conexos com a noção de dignidade da pessoa humana e já solidificados na ordem jurídica a partir de largo e indiscutível consenso social, ex: art. XLVII, a da CF; 2. Os imanentes: referentes à soberania e a forma do Estado, proveem da noção de que o poder constituinte formal, que se manifesta em determinadas circunstâncias, limitado pela sua origem e finalidade; 3. Heterônomos: refere-se às regras, obrigações e princípios provenientes do direito internacional que impõe limites à conformação estatal. Podem, ainda, resultar em limites heterônomos de direito interno, quando um Estado é politicamente desenhado como possuidor de uma ordem central de poder e alguns domínios parcelares (como sucede com os Estados Federados), que resulta em obrigações entre a União e os Estados-membros. TABELA LIMITES AO PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO 1. Limites geográficos e territoriais; 2. Circunstancias sociais e políticas; 3. Efeito cliquet; 4. Padrões e modelos de condutas. Jorge Miranda: 1. Os transcendentes; 2. Os imanentes; 3. Heterônomos. 9. Direitos Adquiridos x PCO O texto constitucional garante expressamente no art. 5, XXXVI a estabilidade das relações jurídicas ao amparar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. O direito adquirido é definido pelo artigo 6º § 2º da LINDB. Vejamos: Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, posso exercer como aqueles cujo começo do exercício tenha termo prefixo, ou condição pré- estabelecida inalterável, a arbitro de outrem. As críticas em relação a esse conceito surgem, porquanto aproxima em demasia ao conceito de direito subjetivo e há diferenciação entre eles: ➔ ou o direito é realizado e passa a categoria de direito consumado; ➔ ou não é realizado, por um indivíduo que já faz jus ao seu exercício, e em virtude de normalização ulterior com ele incompatível, passa a categoria de direito adquirido. O direito se torna adquirido quando uma alteração na ordem jurídica torna inviável um direito ainda não desfrutado pelo indivíduo, mas já passível de fruição desde antes da modificação. O poder constituinte originário é inicial, fornecendo as bases jurídicas que inaugura o ordenamento; é também ilimitado sob o aspecto jurídico, não se subordinando às determinações normativas Traçadas pelo ordenamentoprecedente, como assevera Gilmar Mendes o que é repudiado pelo novo sistema constitucional não recebe status próprio de um direito, mesmo que sob a vigência da Constituição anterior o detivesse. Nesse contexto, outra não pode ser a conclusão se não a de que inexiste a alegação de direito adquirido perante a nova Constituição, perante o trabalho do poder constituinte originário. Se o direito adquirido segundo o regramento jurídico anterior não contraria a nova Constituição ele poderá normalmente ser exercido, pois o documento constitucional o reconhece e aceita, dada a sua compatibilidade. 10. Poder Constituinte Supranacional O fenômeno da globalização é perceptível não só nas trocas econômicas, mas também na comunhão dos valores constitucionais. Este fato num cenário internacional forma um novo panorama para os conceitos de soberania e cidadania. É a partir dos ideais da cidadania universal, pluralismo, integração e soberania remodelada, que surge o conceito de poder constituinte supranacional, destinado a equacionar uma Constituição supranacional legítima, com aptidão para vincular toda comunidade de Estados sujeita à sua ação normatizadora. O poder constituinte na visão tradicional se coloca a serviço de um povo vinculado a um Estado específico, o poder supranacional tem pretensão mais ambiciosa: tenciona elaborar uma Constituição supranacional a qual os estados nacionais e suas ordens jurídicas específicas estariam sujeitos, extraindo sua legitimidade dos próprios estados integrantes do direito comunitário e de seus cidadãos. 11. Poder constituinte e a tese do patriotismo constitucional Uma releitura das tradicionais concepções do poder constituinte, à luz da teoria de Junger Habermas, pode ofertar significativa contribuição para uma mudança de perspectiva sobre o tema, especialmente no que concerne a titularidade do poder. Isso porque é a visão de Habermas acerca do patriotismo constitucional que vai nos autorizar a questionar até quando os fundamentos da identidade cívica de uma determinada coletividade permaneceram vinculados ao nacionalismo. Ou seja, essa identidade ficará eternamente dependente de símbolos nacionais, como por exemplo a língua a cultura o hino e a bandeira nacionais, ou os indivíduos serão, algum dia, capazes de se reconhecer no outro pelo simples fato de serem todos indivíduos, isto é, humanos? Segundo o autor desde antiguidade até a modernidade sempre foi necessário buscar mecanismos que possibilitassem a convivência entre os homens. Ele aposta no patriotismo constitucional como ideal capaz de unir todos os cidadãos, independentemente de suas nacionalidades, antecedentes culturais ou heranças étnicas, imprimindo nos indivíduos uma lealdade constitucional que, não podendo ser imposta juridicamente, deve estar internalizada nas motivações e convicções de cada um, o que só é possível quando cada um deles entende o estado constitucional enquanto uma realização de sua própria história. O autor ainda propõe a construção de uma cidadania democrática que não deve ser fundada na identidade nacional mais sim numa cultura política comum de integração social global, baseada em valores, normas e mútuo acordo. O pluralismo, tolerância, direito à diferença, um consenso sobre democracia, governo limitado , estado de direito e respeito sobre a melhor interpretação sobre o alcance e aplicação dos direitos fundamentais é a aposta habermasiana para um novo ethos social de caráter universal. 12. PODERES CONSTITUÍDOS → Existe uma crítica à doutrina que chama os poderes constituídos de poderes constituintes derivados. Mesmo sendo corrente majoritária, essa expressão consagrada pela doutrina e pela prática constitucional é tecnicamente problemática e cria uma contradição de termos. Conforme assevera Carlos Ayres Britto, o poder constituinte derivado, pela consideração elementar de que, se é um poder derivado é porque não é constituinte. Se o poder é exercitado por órgãos do Estado, ainda que para o fim de reformar a Constituição, é porque sua ontologia é igualmente estatal. E sendo estatal, o máximo que ele cabia retocar o Estado, mas não o criar, sem esse poder de plasmar ex novo o Estado, então de poder constituinte não se trata. → Natureza jurídica: São poderes de direito, inseridos na Constituição e por ela disciplinados. Conhecem, portanto, limitações e condicionamentos e subordinando-se de modo irrestrito ao regramento imposto pelo poder originário no texto constitucional. →Características: 1. Derivado ou de 2 grau: derivam do PCO, encontram fundamento na Constituição, dela retirando sua existência e validade; 2. Condicionado: haja vista suas atribuições estarem diretamente vinculadas ao que determina previamente a Constituição; 3. Subordinado (ou limitado): suas ações são pautadas pelas limitações, sejam expressas ou implícitas, inseridas na Constituição e, por consectário lógico, se sujeitam aos mecanismos de Controle de Constitucionalidade. ➔ Espécies: Conforme exposto alhures existe um PCO capaz de criar uma nova ordem jurídica, ele tem dupla finalidade: 1) Manter a Constituição adaptada aos novos ambientes jurídicos/políticos, evitando que a realidade o derrote. Cria-se um poder constituído reformador (ou derivado reformador) 2) Permitir a criação das coletividades estaduais, o PCO institui o poder derivado, a ele vinculado, com atribuições previamente delimitadas. Cria-se um poder constituído decorrente (ou derivado decorrente). Vejamos cada um deles. 12.1 PODER DERIVADO DECORRENTE ➔ Conceito: para assegurar harmonia e coerência da nova ordem jurídica apresentada pelo PCO, e que assim todos os documentos estejam afinados com a Carta Maior, é imprescindível que numa federação, caracterizada por diferentes entidades políticas, novos documentos estaduais sejam feitos, a fim de se adequarem. Poder DERIVADO DECORRENTE é, portanto, a capacidade conferida pelo poder originário aos Estados- membros, enquanto integrantes da federação, para elaborarem suas próprias constituições (ART. 25 DA CF). ***o poder decorrente quando cria a Constituição Estadual → é denominado poder decorrente instituidor; ***quando realiza alterações no seu texto para compatibilização com a realidade → é intitulado poder decorrente reformador. ➔ Características: a) poder de direito, institucionalizado pela Constituição, possuidor, pois de natureza jurídica; b) poder limitado (ou subordinado); c) condicionado; d) secundário ou de 2º grau. ➔ Limites impostos pela CF ao poder decorrente: Obs: estados-membros têm autonomia para se auto-organizarem por suas Constituições que, por sinal, devem obediência a CF. Não são meras reproduções da CF, todavia devem observar padrões em respeito ao princípio da simetria que é norteador do pacto federativo. Neste sentido, como limite, são impostas normas de observância obrigatória, organizadas em três grupos, a saber: a) Princípios Constitucionais sensíveis: Consagrados no art. 34, VII da CF, representam os fundamentos que organizam constitucionalmente a federação brasileira. seu descumprimento por parte dos estados membros acarreta a propositura de uma ação direta de inconstitucionalidade interventiva que, se for julgada procedente pelo STF, ensejar a decretação de intervenção federal pelo presidente da República (36, III da CF. PGR propõe, STF julga, o PR decreta). Referem-se: ➔ Forma republicana; b) Princípios constitucionais extensíveis: Preveem as normas centrais de organização da federação, válidas para a União e extensíveis às demais entidades federativas. Estas normas podem ser expressas (ex: regras atinentes ao sistema eleitoral 27, §1º da CF) ou implicitamente extensíveis (licença para ausenta-se do país, art. 83 da CF; organização do Tribunal de Contas; criaçãode CPIs; princípios basilares do processo legislativo federal; regra de acesso de advogados C) princípios constitucionais estabelecidos: Previstos de maneira esparsa pelo texto constitucional, são as normas que limitam a autonomia estadual, em obediência à regra segundo a qual aos Estados-membros se reservam os poderes que não lhe são vedados, Ex: regras de repartição de competências, normas do sistema tributário, organização dos poderes, garantias individuais, direitos políticos e etc.. ➔ Sistema representativo e regime democrático; ➔ Direitos da pessoa humana; ➔ Autonomia municipal; ➔ Prestação de contas da adm. PÚBLICA direta e indireta; ➔ Aplicação do mín. exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. e representantes do MP nos tribunais pelo quinto constitucional. **Uida Lammegos Bulos: São aqueles que integram a estrutura da federação brasileira, relacionados, por exemplo, com a forma de investidura em cargos eletivos, processo legislativo, orçamentos artigo 165 da Constituição, preceitos ligados à administração pública artigo 37 e seguintes. ➔ CUIDADO! PODER DECORRENTE E A POLÊMICA ENVOLVENDO A CRIAÇÃO DE LEI ORGÂNCA DO DF E DAS LEIS ORGÂNICAS DOS MUNICÍPIOS: Desde a primeira Constituição republicana de 1891 a organização do poder em virtude um território é realizada segundo modelo federado no Brasil. Reconhecemos a União, os Estados- membros o DF e os municípios como entes federados, estes últimos incluídos pela Constituição de 88. Por serem autônomas, estas entidades federadas possuem auto-governo, isto é, capacidade de editar em seus próprios diplomas organizatórios. Aqui surge uma divergência doutrinária: o poder decorrente atua somente na elaboração das constituições estaduais ou é igualmente responsável pela elaboração dos documentos de organização do DF e dos municípios? 1C minoritária: o poder decorrente atua também nos municípios e no DF. O argumento central é de que apesar da Constituição se valer da locução ‘‘lei orgânica’’, os documentos principais desses dois entes são efetivas constituições em sentido material já que formatam e estruturam toda a organização deles. 2C: O poder da corrente também é perceptível no DF, mas não nos municípios. As argumentações principais são construídas a partir das seguintes ponderações: a) O distrito federal possui, por força do art. 32 §1º da CF, as mesmas competências legislativas reservadas aos estados-membros, dentre as quais se situa atribuição estadual de elaborar sua própria Constituição; b) A lei orgânica do DF, assim como ocorre com as constituições estaduais, é um documento que só está submetido a Constituição da República (subordinação direta); c) na reclamação 3436 o SFT firmou entendimento de que a lei orgânica do DF seria parâmetro para o controle de constitucionalidade concentrado das leis e demais atos normativos distritais, no seus dizeres: ‘‘equiparável às constituições promulgadas pelos estados-membros’’. Como reforço o art. 30 da Lei 9.868/90 prevê expressamente. d) quanto aos Municípios, são formados por documentos condicionados simultaneamente à Constituição Estadual e à Federal, isto é, se sujeitam à dupla subordinação; e) A implicação a esses dois graus de imposição constitucional tornaria um eventual poder decorrente municipal em um poder de terceiro grau, vez que decorreria do poder decorrente estadual, que por sua vez já decorre de um poder de segundo grau. Em conclusão o poder decorrente deve estar em sua legitimidade diretamente do texto da Constituição, o que não ocorreria se vislumbrássemos um poder decorrente municipal, sujeito a duas ordens de normatização; f) Um conflito entre lei municipal e a lei orgânica do município serão solvidos a partir de um controle de legalidade e não de constitucionalidade já que o documento organizatório municipal não pode ser considerado uma verdadeira Constituição. Resumo: O poder constituído decorrente elabora as constituições estaduais e a lei orgânica do DF, não sendo, todavia, conferido aos municípios. 12. 2 PODER DERIVADO REFORMADOR Tem a função de alterar formalmente a Constituição da República, exercendo a importante tarefa de ajustar e atualizar o texto constitucional aos novos ambientes formatados pela dinâmica social. As constituições não podem ser imutáveis, ao contrário, precisam se adaptar às mudanças sociais e à evolução histórica sob pena de um texto perder sintonia com a realidade. Por outro lado, registra-se que tão indesejável quanto a Constituição imutável é um texto constitucional volúvel e frágil diante de atentados ao seu projeto ou de casuísmos políticos. Afinal, se construída com alta suscetibilidade e maleabilidade, a Constituição também não cumprirá o seu papel, pois não será capaz de amparar efetivamente os valores, os direitos e as garantias essenciais nela consagrados. Existe uma tensão entre a estabilidade e a adaptabilidade, entre a permanência e a mudança, assim na tentativa de equacionar esses valores, por vezes contraditórios, tem-se adotado, como tradição do direito pátrio, a rigidez do documento constitucional. A rigidez pressupõe possibilidade modificação, todavia, ao consentir com alteração, a Constituição exige um procedimento para feitura das emendas constitucionais substancialmente distinto daquele estabelecido para a criação da legislação infraconstitucional, pois, comparado com este último, mostra-se bem mais solene, complexo e sofisticado. Assim, as limitações do poder derivado reformador consistem nas regras estabelecidas para mudanças do texto constitucional. Eis as limitações: a) Expressas: O PCO trouxe expressamente na CF algumas regras às quais o poder reformador deve obediência irrestrita quando se dedica a tarefa de elaborar emendas. Pode ser organizado sob o título “limitações ao poder de reformar à Constituição”, deve ser estritamente acatado, sob pena de o produto do trabalho do poder reformador ser viciado pela inconstitucionalidade, tornando imprestáveis as modificações feitas. São elas: TEMPORAIS, MATERIAIS, CIRCUNSTÂNCIAIS E FORMAIS. Vejamos. TEMPORAIS São inexistentes no texto constitucional de 1988, consistem em limites construídos no intuito de impedir alterações na Constituição durante certos espaçamentos temporais, a fim de que seu regramento se consolide para que posteriormente as mudanças sejam engendradas. Ex: A Constituição do Império de 1824 é um exemplo, autorizou a reforma do texto após quatro anos do início da sua vigência, foi o único documento constitucional que estabeleceu essa limitação. Existe uma divergência doutrinária relativamente a classificação da limitação inserida no art. 60 §5º da Constituição. Para alguns, esse parágrafo se refere a uma limitação temporal. Todavia a doutrina majoritária reconhece esse limite como de natureza procedimental por duas razões: 1. O dispositivo não impede apresentação de emendas em geral durante certo período, mas somente obsta que a matéria discutida numa proposta de EC rejeitada numa sessão legislativa seja objeto de nova proposta na mesma sessão. O texto não fica intangível, pois outras propostas podem ser apreciadas e apresentadas. 2. O obstáculo que se cria com o parágrafo 5º é formal, procedimental, a possibilidade de re apreciação depende só do respeito de uma regra formal de mudança de sessão legislativa e não temporal, já que não se leva em consideração o tempo transcorrido da rejeição até a nova apreciação. Discute-se, além disso, se a natureza do limite imposto ao poder de revisão no art. 3 do ADCT Seria temporal, em virtude de este formalizar a impraticabilidade da revisão antes de completados 5 anos da promulgação da Constituição Federal. Existe autores que entendem de maneira oposta, todavia, pensamos queneste caso se está frente a uma condicionante temporal de alteração. Isso porque a revisão somente pode ser feita após cinco anos contados da promulgação da Constituição, havendo então um outro temporal definido a ser superado para que a revisão pudesse ser efetivada. MATERIAIS Não pode ser objeto de deliberação a proposta de emenda constitucional tendente a abolir a forma federativa de estado, o voto direto, secreto, universal e periódico, separação dos poderes e os direitos e garantias individuais. Essas matérias, elencadas no art. 60 § 4°, intituladas cláusulas pétreas, estão fora do alcance do poder constituído derivado reformador, formando um núcleo intangível da Constituição Federal, imunizado contra possíveis alterações que reduzam o seu núcleo essencial debilitem o duradouro projeto que ela tencionou construir. Esses limites visam preservar a identidade básica do texto constitucional assegurando a essência da Constituição e as decisões políticas que legitimaram sua criação. Vale ressaltar, ainda que a superior proteção confira status político diferenciado e sobreleve a carga valorativa que possuem, não há se falar em hierarquia normativa e jurídica entre eles e o restante dos dispositivos da Constituição. Não há hierarquia entre normas constitucionais originárias, porque são todas constitucionais, elaboradas pelo poder constituinte originário e possuidoras de idêntico status normativo. A hierarquia designa que uma norma retira seu fundamento de validade de outra que ele é superior. Não por outra razão princípio da unidade impede que reconheçamos conflitos reais e afetivos entre elas. Pacificou-se na doutrina que a locução ‘‘tendente abolir’’ constante do art. 60 §4º da CF, só ampara o núcleo essencial do tema que o constituinte quis proteger, não garantindo sua absoluta intangibilidade. As formulações linguísticas das cláusulas são cabíveis, já que não alteram em nada a substância do que se procuram preservar. Do mesmo modo, reforma superficiais, que não atinjam o núcleo central do tema são viáveis. Nesse sentido, a nossa Corte Suprema decidiu que o que os limites materiais intitulados nas cláusulas pétreas não torna os temas ali elencados imutáveis, tampouco proíbem que seja um objeto de qualquer tipo de emenda, pois não significa intangibilidade literal da respectiva disciplina na Constituição originária, mas apenas proteção do núcleo essencial dos princípios e institutos cuja preservação nela se protege. O que se veda é a desfiguração por completo da obra do poder constituinte originário, descaracterizando o projeto axiológico. Se o núcleo essencial permanece intocado, não há por que rechaçar a emenda. Deste modo, se o a essência do princípio permanece intocada, os elementos circunstâncias ligados ao bem erigido à condição de cláusula pétrea poderiam ser modificados ou até mesmo suprimidos. As cláusulas pétreas poderão, obviamente, ser objeto válido de emenda à CF, quando possuírem intuito de ampliar ou sofisticar os assuntos relacionados no §4º art. 60, como por exemplo, a inserção pela EC 45 de 2004 no inciso 78 do artigo 5º que consagra o direito à razoável duração ao processo. →Eventuais violações aos limites impostos pelo poder constituinte originário à reforma poderão ser desafiadas perante o poder judiciário, inclusive no excepcional controle judicial preventivo de constitucionalidade, evitando que a lesão a Constituição se concretize.. Tal possibilidade do poder Judiciário exercer o controle antes mesmo da emenda ser promulgada, ainda na fase de tramitação legislativa, deriva do fato de a cláusula pétrea não existir somente para remediar a situação de destruição da carta, mas com a missão de inibir a mera tentativa de abolir o seu projeto básico. É dessa perspectiva que se extrai o direito líquido e certo dos parlamentares a não participar de um processo legislativo viciado, adulterado. Neste caso, detectado a tramitação da proposta de emenda o texto condicional que distorça o devido processo legislativo, poderá o parlamentar Federal, integrante da casa legislativa na qual a proposta estiver em discussão/votação, impetrar mandado de segurança perante o STF, para questionar a inobservância do seu direito ao devido processo legislativo constitucional. A legitimidade é exclusiva do parlamentar Federal, por isso, em havendo perda superveniente do mandato Parlamentar pelo impetrando, consequência será extinção do MS por ausência superveniente de legitimidade ad causam , nada obsta um posterior controle repressivo, concentrado ou mesmo difuso. →Análise das cláusulas pétreas: *forma federativa de estado: forma de estado é o modo como se engendra, em razão de um determinado território, a distribuição no exercício do poder político. Quando é federada, a forma de estado pressupõe descentralização, inviabilizando a existência de um poder central único, o que gera uma pluralidade de domínios parcelares. São características essenciais de uma federação: 1) descentralização (os entes políticos são dotados de autonomia e não são subordinados entre si); 2) indissolubilidade do vínculo federativo (inexistência do direito à secessão, sob pena de a entidade que deu origem ao movimento separatista ser submetido ao processo interventivo); 3) a repartição constitucional de competências para dividir as tarefas e manter uma convivência harmônica que garanta o pacto federativo; 4) existência de um tribunal constitucional apto a dirimir os confrontos das relações entre os entes federados; 5) Previsão de um órgão legislativo que representa os poderes regionais que faz as vontades parciais participarem da formação da vontade nacional. Para que a EC seja válida por afrontar esta cláusula pétrea, deve vulnerar o núcleo essencial de quaisquer características do princípio federativo, exemplo uma EC que suprimisse a forma federada e institucionalizasse um estado unitário, como era a do Brasil durante o Império. Por outro lado, modificações feitas no texto que não impliquem desacato ao núcleo essencial são adequadas, o sistema de repartição de competência pode ser reequacionado. Ex: EC 69 de 2012 que transferiu a competência para organizar e manter a Defensoria pública do DF para este ente federado retirando-a da União. É preciso considerar que o princípio da imunidade tributária recíproca previsto no art. 150, VI, a da CF por compor o cerne do pacto federativo e decorrer da própria natureza do federalismo é garantia da Federação, sendo pois, uma cláusula pétrea decorrente, MARSHALL dizia que no poder de tributar está o poder de destruir. *Voto direto, secreto, universal e periódico: sua inserção no núcleo constitucional essencial decorre da circunstância de, no direito pátrio, o voto direto ter se tornado um símbolo fundamental da democracia. O voto direto é aquele no qual a escolha certa ativa sem que haja intermediários entre o povo e os que serão eleitos. Veda-se eleições indiretas. A sigilosidade do voto é garantida pelo escrutínio secreto, que resguarda a manifestação do eleitor. A universalidade decorre do direito ao sufrágio abrange a todos os cidadãos sem qualquer distinção referente a classe social econômica ou sexo. No mais, ao elevar o voto universal a condição de cláusula pétrea, o poder constituinte limitou o universo dos indivíduos aptos a participar do processo eleitoral. Sufrágio é um direito, escrutínio é a maneira como o exercício desse direito se desenvolve e o voto é o próprio direito. A periodicidade para os mandatos visa assegurar a alternância no poder, um dos aspectos nevrálgicos do ideal republicano democrático. Torna impraticável uma emenda monarquista. *Separação dos poderes: enquanto princípio organizador estrutural, preconiza que as funções estatais sejam repartidas e distribuídas a diferentes órgãos, de modo a evitar árbitros e abusos que a concentração de poder potencializa. Cada poder tem suas funções típicas que lhe são próprias e atribuições secundárias, sendoindependente perante os demais. Essa repartição é arquitetada de modo equilibrado, impedindo que um poder avance sobre as atribuições dos demais e extrapole os limites postos pela Constituição. Há, pois, um controle recíproco entre os diferentes poderes, baseado no sistema de freios e contrapesos. A divisão de atribuições entre os poderes não está engessada, não são absolutamente intangíveis, sendo certo que a validade da atividade da reforma incidente sobre ele estará condicionada a demonstração de que não se atinge um núcleo essencial do princípio da separação dos poderes. “Impede uma instância hegemônica de poder (STF)”. *Direitos e garantias individuais: o art. 5º é seu principal repositório. Em que pese a enunciação do artigo ser minucioso e amplo, não esgota o elenco de direitos e garantias individuais. O STF já se posicionou quando determinou que o princípio da anterioridade tributária é uma garantia individual do contribuinte imunizada contra o poder supressivo de reforma constitucional. Esse julgamento foi histórico porque nele o STF firmou primeiro precedente de declaração de inconstitucionalidade de dispositivo de emenda condicional e, numa louvável decisão, reconheceu que há dispositivos esparsos no texto constitucional que consagram direitos e garantias individuais. Outra decisão que reafirmou essa percepção foi o princípio da anterioridade eleitoral firmado como garantia individual do eleitor. ATENÇÃO! Pergunta: se o poder reformador pode através de emendas constitucionais instituir novos direitos e garantias individuais no documento constitucional esses direitos também serão considerados cláusulas pétreas? Resposta: Segundo Gilmar Mendes, devemos ter em mente que cláusulas pétreas se fundamentam na superioridade do poder constituinte originário sobre o de reforma, de maneira que somente o primeiro pode criar obstáculos de conteúdo à atuação do segundo. Portanto, não faz sentido, do ponto de vista lógico, permitir que o poder reformador crie limites invencíveis a si mesmo. É da natureza do poder originário, criador que é, estipular referidos limites, não sendo possível ao poder de reforma, mero derivação daquele outro, se arvorar nesta condição de criação. Não é cabível que o poder de reforma crie cláusulas pétreas, apenas o poder constituinte originário pode fazê-lo. Assim, novo direito, que por emenda foi integrado ao ordenamento, não se verá livre de uma possível supressão por emenda posterior. Um alerta, todavia, deve ser feito. É perfeitamente possível que a emenda constitucional incremente dispositivos ao rol dos direitos individuais sem que com isso crie direitos efetivamente novos, compreende-se factível que o direito introduzido por emendas seja especificação de outro direito já existente no catálogo anunciado pelo poder constituinte originário. Nesse caso, ainda que introduzido por emenda é considerado cláusula pétrea, pois já encontrava-se abrangido pelo direito previamente existente no rol firmado pelo poder constituinte originário. CIRCUNSTÂNCIAIS A vedação à alteração do documento constitucional no curso de circunstâncias anormais e excepcionais visa preservar a autonomia e a livre manifestação do poder reformador, evitando que maiorias ocasionais, que surgem situações extraordinárias, destruam o projeto constitucional diante de contingências da crise, com transformações precipitadas impensadas da Constituição. Desta forma, impossível é o acionamento do mecanismo de modificação da Constituição na vigência do estado de sítio, de defesa e da intervenção federal. É o que dispõe o art. 60 parágrafo único da Constituição Federal. É certo que atos de discussão e votação da proposta, em curso, ficam suspensas. O mesmo não se dá, todavia, com os atos finais que são a promulgação e a publicação. Como o texto já está pronto e não mais pode sofrer modificações casuísticas, a opinião da prof. Natália Masson é de que não se pode recusar promulgação e publicação. FORMAIS ou procedimentais A opção pela rigidez constitucional exige um procedimento especial, mais solene e dificultoso que aquele observado na elaboração das leis ordinárias, para a feitura e aprovação das emendas constitucionais. Destarte, a reforma do texto condicional somente será válida quando as normas especiais do processo legislativo forem cumpridas com exatidão. O poder reformador, nesse sentido, deverá observar os seguintes limites formais: A) Limitação formal subjetiva: a iniciativa para apresentação de uma proposta de emenda está organizada no rol art. 60 caput da Constituição, significativamente mais restrito do que aquele que prevê a iniciativa do projeto de lei (previsto no art. 61, CF). Conforme o texto constitucional, são legitimados apresentar uma proposta de emenda constitucional apenas: 1) presidente da república; 2) 1/3 no mínimo dos membros da Câmara ou do Senado; 3)mais da metade das assembleias legislativas das unidades da Federação, manifestando-se cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. Ressalta-se que municípios não possuem legitimidade para apresentar proposta de emenda, não havendo também previsão de iniciativa popular para esta espécie normativa. Convém, no entanto, apontar posicionamento doutrinário minoritário que entende haver legitimidade popular implícita (por analogia ao previsto no art. 61 parágrafo 2º da Constituição que prevê iniciativa popular para apresentação de projeto de lei), baseando-se na ponderação de que o povo, sendo titular do poder constituinte originário, pode se dar uma nova Constituição, podendo, da mesma maneira, deflagrar a atuação do poder de reforma por meio da apresentação de uma proposta de modificação do texto constitucional. O argumento estrutura-se assim na regra basilar de que o poder emana do povo. No entanto, para a professora Natália, esse posicionamento não merece prosperar, isso porque, ao contrário do que se passa com as espécies normativas em geral, que veiculam a vontade da maioria, nas constituições rígidas procura-se proteger os direitos ali consagrado mesmo contra a vontade dessas maiorias. São realidades díspares, que não toleram qualquer comunhão quanto à regra de iniciativa. B) Limitação formal objetiva: 1) A deliberação e votação da PEC ocorrerão em cada casa do Congresso Nacional (Sessão bicameral), em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, 3/5 dos votos dos respectivos membros (art. 60, 2°). Disto decorre ser a EC um ato complexo, pois resultado de vontades que estão postas num mesmo plano – a da câmera e a do Senado Federal. Ressalta-se que a participação presidencial no processo legislativo de emenda resume-se a apresentação da proposta, sendo impraticável a deliberação executiva, isto é, análise presidencial após aprovação com fim de sancionar ou vetá-la. Apresentada a proposta, todo o mais se desenrola no poder legislativo, PR não participa da fase constitutiva das ECs. 2) A emenda constitucional é promulgada pelas mesas da câmera dos deputados e do Senado, conjuntamente, com o respectivo número de ordem (art. 60 §3º). A publicação é determinada pelo Congresso Nacional. Veja que é ausente a participação do presidente da república, que nem promulga, nem determina publicação das emendas. 3) Art. 60§ 5º da CF: a matéria constante de PEC rejeitada (Expressa ou tacitamente - perda de eficácia por decurso de prazo) ou havida por prejudicada, não poderá ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa. Só a partir de uma próxima sessão legislativa é que essa PEC, rejeitada, considerada prejudicada, poderá tramitar novamente, jamais na mesma sessão, o mesmo ocorre com as MP’s. Atenção matéria constante em projeto de lei pode sim ser objeto de novo projeto na mesma sessão legislativa, desde que haja proposta da maioria absoluta dos membros de uma das casas do Congresso Nacional. <Maioria absoluta: 257 deputados e 41 senadores>. b) Implícitas A doutrina se posiciona no sentidode existir limites tácitos ao poder de reforma por meio da interpretação e integração constitucional que protegem o projeto constitucional em sua permanência e essência. 1. A titularidade do Poder constituinte originário e do poder derivado de reforma É impraticável que por intermédio de uma emenda constitucional o poder reformador estabeleça nova titularidade ao poder que ele deu origem, afinal poder originário é superior ao derivado e não pode ter seu titular substituído por determinação de um poder que ele mesmo concebeu. Também não pode o poder reformador estabelecer um novo titular para o exercício do poder derivado reformador, pois também estaria usurpando a competência do poder originário, que ele criou e entregou a atribuição da reforma, sem possibilidade de repasse a outrem. Reparem nesse exemplo: uma EC que determinasse que a partir de uma data tal a reforma constitucional seria realizada pelo presidente da república afigura-se como inconstitucional ao alterar o detentor da prerrogativa de engendrar as modificações na Constituição que é o P. Legislativo. 2.Impossibilidade de suprimir os fundamentos da República Federativa do Brasil, descritos no art. 1° da Constituição Federal Por serem valores supremos sob os quais a ordem constitucional se assenta, a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político, são insuperáveis porquanto, cláusulas pétreas implícitas por conferirem autenticidade material da nossa Constituição. 3. ATENÇÃO! Quanto aos Direitos fundamentais NÃO individuais? Uma vez que o inciso IV do art. 60, §4º expressou proteção somente aos direitos e garantias individuais, a doutrina segue em dissenso acerca da petrificação de outros direitos que não os individuais, em especial no que toca aos sociais. 1C: defende uma interpretação extensiva do mencionado inciso e tem três argumento centrais: 1. a expressão utilizada pelo legislador constituinte não foi repetida em nenhum outro preceito, ao contrário da expressão que verdadeiramente era desejada, esta sim, veiculadoras de um conjunto normativo protetivo essencial à identidade da Constituição e reproduzida em mais de um momento constitucional. Então houve um equívoco técnico na construção do artigo, pois a real intenção do constituinte era preservar todo sistema de direitos fundamentais não somente os direitos e garantias individuais, mas sim os direitos e garantias fundamentais; 2. De nada adianta a Constituição autorizar um regime diferenciado de tratamento entre direitos individuais e sociais. A Constituição brasileira não traça uma genérica expressa diferença entre esses direitos; 3. Não há como negligenciar o fato de que somos um Estado Democrático social de direito, fica claro a partir da leitura dos princípios fundamentais previstos no art. 1º ao 4º da CF. Todos aptos a demonstrar uma íntima ligação que existe entre os direitos sociais e a nossa concepção de Estado, esses direitos compõem o rol de elementos essenciais à nossa Constituição e as cláusulas pétreas buscam proteger os preceitos essenciais à ordem constitucional, é automática a conclusão de que esses direitos, embora não prevista expressamente, seriam verdadeiros limites materiais implícitos à reforma constitucional. 2C: Os que não aceitam os demais direitos fundamentais: 1. Se o legislador quisesse ter aplicado a petrificação dos direitos, o teria feito expressamente, a não inclusão é um silêncio pensado e ponderado. 2. As subdivisões que organizam o título II da Constituição (existem capítulos diferenciados para os direitos e deveres individuais e coletivos, direitos sociais, direitos de nacionalidade, políticos e dos partidos políticos) mostram que o texto constitucional diferencia estruturalmente vários direitos fundamentais, de modo que sua opção foi petrificar somente os individuais. 3. Desqualificar os direitos sociais enquanto limites materiais não significa desconsiderá-los enquanto destinatários de proteção jurídica significativa, especialmente quando forem direitos integrantes do intitulado mínimo existencial. Isso significa que os direitos sociais não são cláusulas pétreas expressas, não são abrangidos pela expressão direitos e garantias individuais, mas estão sob custódia de um cuidado jurídico tão qualificado quanto às normas petrificadas, sendo plausível defender que os direitos sociais integrantes do mínimo existencial sejam considerados cláusulas pétreas implícitas. → Em conclusão, mesmo que a expressão direitos e garantias individuais seja interpretada em sua literalidade e não permita a leitura ampliativa de modo a abraçar direitos sociais, por exemplo, é certo que a doutrina pátria inclina-se pelo reconhecimento da eficácia mínima para os direitos sociais, resguardando, como cláusula pétria implícita, o mínimo existencial. Marcelo Novelino aduz que não se pode deixar de reconhecer, por exemplo, uma proteção qualificada aos direitos sociais que integram o chamado mínimo existencial, formado pelos bens e utilidades básicas imprescindíveis a uma vida humana com dignidade. Assim como a proteção assegurada aos direitos e garantias individuais decorre de sua íntima ligação com a dignidade da pessoa humana, direitos sociais decorrentes diretamente deste valor também devem ter o seu núcleo essencial preservado. 4. Quanto ao sistema de governo? Não há consenso acerca do sistema de governo adotado pela Constituição da República. É que os constituintes permitiram, no artigo 2º do ADCT, que a questão fosse tempos depois resolvida por um plebiscito. Houve, portanto, a adoção do sistema presidencialista no texto originário, seguindo a tradição pátria que reconhece o presidencialismo desde nossa primeira Constituição republicana em 1891. Mas não em definitivo: a população poderia transmudar o sistema para o parlamentar. A opção dos cidadãos no plebiscito foi no sentido de continuísmo do sistema presidencialista. Criou-se, no entanto, uma dúvida: com a opção do constituinte reforçada pela manifestação popular, teria um sistema de governo se convertido em cláusula pétria implícita? Ou seria passível de uma nova alteração que consagrasse o sistema Parlamento? Duas correntes: 1C: entende pela possibilidade, desde que convalidada por nova consulta popular, para que os que representam o povo indiretamente não alterem sozinhos aquilo que o povo diretamente já decidiu. 2C: haveria violação da separação dos poderes que é cláusula pétria do art. 60 §4º,III. Atenção! lembramos que a única vedação instituída pela Constituição refere-se a abolição ou restrição do princípio e não a releitura que se faça da maneira como os distintos poderes irão se relacionar. 5.Quanto à Possibilidade de superação da forma de governo Republicana Parece-nos impossível harmonizar a forma monárquica com as cláusulas pétreas referentes a separação de poderes, o voto periódico e a isonomia. Nesse sentido, seria hoje a forma republicana de governo definitiva. A atual Constituição não incluiu a república expressamente entre as matérias modificáveis por emenda. Não o fez, porque previu um plebiscito para que o povo decidisse sobre a forma de governo: republicana ou monarquia constitucional. O povo, em votação direta, optou pela república, legitimando-a de uma vez por todas. É de se perguntar, não estando ela expressamente no rol das cláusulas intangíveis, pode ser objeto de emenda a sua abolição com a instauração da forma monárquica? Se a forma republicana constitui um princípio constitucional que tem que ser assegurado, como admitir que uma emenda constitucional possa aboli-lo? os fundamentos que justificam a inclusão da república entre as cláusulas intangíveis continuam presentes na Constituição, que só os afastou por um momento, a fim de que o povo decidisse sobre ela. Como o povo fez no sentido de preservação, todos aqueles direitos readquiriram plenaeficácia de cláusulas intocáveis. Não se trata, no caso, de simples limitação implícita, mas de limitação que encontra no contexto constitucional seus fundamentos, tanto quanto o encontraria se a limitação fosse expressa. 6. Imutabilidade do art. 60 da Constituição Federal consagrador do método ordenado de modificação constitucional (a dupla revisão e o poder constituinte evolutivo) Impossível qualquer alteração que recaia sobre o próprio art. 60 da Constituição. Em que pese nada nesse sentido ter sido explicitado, é certo que esse artigo é intocável, não podendo sofrer qualquer alteração substancial que o restrinja, promova abolição ou mesmo ampliação. Justifica-se em razão de que as cláusulas do dispositivo supramencionado traduzem arquitetura pensada e escolhida pelo próprio poder originário para efetivar as mudanças formais da Constituição, por isso inaceitável que o poder de reforma possa alterar regras as quais ele mesmo deve estrita e inquestionável obediência. Vale informar que é essa limitação implícita, que proíbe qualquer reestruturação do art. 60, que culmina na inadmissibilidade do procedimento conhecido como dupla revisão. Segundo este procedimento, seria válido alterar, num primeiro momento, a cláusula pétrea protetora, com intuito de suprimi-la ou restringi-la, e, na etapa seguinte, modificar a cláusula protegida. Não custa lembrar que há doutrina que defende o procedimento da dupla revisão isto é, a não imunidade à revogação/supressão das disposições consagradas das cláusulas pétreas de modo que estas possam ser objeto de emenda restritiva ou supressiva e, na ocasião seguinte, já desmanteladas as cláusulas protetoras, os dispositivos petrificados é que seriam vítimas do ataque abolitivo. Na visão desses autores, o sentido e funcionalidade das cláusulas pétreas seria o de, tão somente, tornar mais dificultoso e demorado possível o processo de sua superação, caso este seja deflagrado. Estar-se-ia, com isso conferindo maior estabilidade a certos conteúdos sem, contudo, torná-los insuperáveis. Assim, para os defensores da tese da dupla revisão, com fundamento no chamado poder constituinte evolutivo, as cláusulas pétreas nada mais seriam do que normas passíveis de modificação e até mesmo abolição, desde que um procedimento mais gravoso fosse respeitado. Prever essas cláusulas significaria estabelecer um agravamento da rigidez em favor de algumas normas. Na percepção de Natália Masson, o procedimento da dupla revisão parece ser o mesmo que aceitar um sistema constitucional ameaçado por uma desestruturação, com óbvia perda de identidade básica. Em suma, para evitar que o regramento estabelecido no art. 60 seja letra morta, e que a manobra golpista da dupla revisão seja efetivada, deve se reconhecer a limitação implícita aqui apresentada. 13. OUTROS MECANISMOS DE MODIFICAÇÃO DA CF DE 88 REVISÃO CONSTITUCIONAL Tal como o poder reformador, também o poder derivado revisor foi instituído pelo poder originário, lhe sendo subordinado e estando, pois, restrito e condicionado às regras por ele impostas. Destarte, da mesma maneira que a reforma (via regular e perene de modificação da Constituição) executada de modo vinculado e conectado aos ditamos constitucionais, o mesmo se diga da revisão, um meio excepcional e precário de alteração da Constituição que somente é legítimo se ajustado aos critérios estipulados no documento constitucional. O art. 3 do ADCT determinou que a revisão Constitucional somente poderia ser efetivada depois de passados 5 anos da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos integrantes do Congresso, em sessão unicameral. Realizada a revisão a norma constitucional que previa se exauriu, ficou com sua aplicabilidade esgotada nesse sentido, não há que se falar na convocação de um novo procedimento revisional: dispositivo condicional foi claro ao mencionar a revisão, isto é, uma única revisão agora já feita e encerrada. Há na doutrina, em contrapartida, quem defenda a viabilidade de EC que altere o art. 3 do ADCT, propiciando a nova revisão. Essa alteração, porém, só se legitimaria se grandiosas e substâncias mudanças fossem percebidas na sociedade, de modo que necessário se tornaria uma revisão global do texto, com o fito de adequar a CF à nova realidade assim normatizada. Natália Masson se posiciona em sentido oposto: ‘‘parece o poder originário somente consentiu com uma única convocação do procedimento revisional, se este foi iniciado de modo precipitado e esse resultado foi inexpressivo, não há nada mais que possa fazer. Em conclusão, qualquer eventual EC que permita nova revisão nos parecerá uma absurda e fraudulenta tentativa de ferir a vontade do poder constituinte. MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL/PODER CONSTITUTINTE DIFUSO Diferentemente da reforma e da revisão constitucional, temos um mecanismo informal de mudança, que não origina quaisquer alterações no texto da Constituição, que permanece íntegro. As modificações perpetradas por este procedimento são de ordem interpretativa: o texto segue intacto, mais o que se extrai dele é algo novo, que sofre os impactos renovadores da releitura; o texto é o mesmo, mas o sentido que ele possui se altera. Realizadas pelo poder difuso (e a doutrina prefere a expressão poder constituinte difuso). Um poder também derivado, mas não escrito, as mutações operam um verdadeiro renascimento de alguns dispositivos ao permitirem que este sejam relidos. O poder é intitulado difuso porque nunca se sabe de modo preciso quando e como se iniciou o processo de reestruturação e implementação das informais transformações hermenêuticas que vão rejuvenescer a Constituição, adaptando as mudanças sociais que o dinamismo da vida fato que ocasionou. Nos dizeres de José Afonso da Silva: ‘‘a mutação consiste no processo não formal de mudança das constituições rígidas, por via da tradição, dos costumes, de alterações empíricas e sociológicas, pela interpretação judicial e pelo ordenamento de estatutos que afetem a estrutura orgânica do estado.’’ Como exemplo podemos citar a passagem do STF: art. 5 inciso 46 da Constituição, no sentido da vedação a progressão de regime dos crimes hediondos, para acatar a inconstitucionalidade dessa proibição.
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