Buscar

resumo constitucional PCO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO 
 
1. Conceito: 
 
➔ É a força política que se funda em si mesma, é expressão sublime da vontade do povo em 
estabelecer e disciplinar bases organizatórias da comunidade política. 
➔ Por ser anterior a qualquer normatização jurídica, é a autoridade suprema do ordenamento 
jurídico. 
➔ Esse poder é responsável pela elaboração da Constituição, norma jurídica superior que inicia 
a ordem jurídica, lhe conferindo fundamento de validade. 
➔ É um poder que constitui todos os demais, correlato à própria existência do Estado, podemos 
afirmar que em todos os atos de fundação e estruturação de uma comunidade, tivemos a sua 
manifestação, o que nem sempre existiu, todavia, foi a sua teorização. 
➔ A delimitação de uma teoria acerca do PCO teve por mérito transpor a fundação do Estado 
do Inconsciente político e social para o consciente jurídico. 
 
 
2. Surgimento 
 
➔ Precursor dos estudos sobre o referido poder foi o abade Emmanuel Joseph Sieyès, autor de 
um panfleto divulgado às vésperas da Revolução Francesa intitulado ‘’Que é Terceiro 
Estado?’’, um dos estopins deflagradores da Revolução. 
➔ O abade apresentou nesse panfleto as reivindicações do Terceiro Estado, contestando as 
benesses dos nobres e do Alto clero e reivindicado seu papel na conformação política do 
País. 
➔ O terceiro estado era composto pelos não integrantes da nobreza e alto clero. Assim a 
burguesia também fazia parte do Terceiro Estado. Ele era responsável pela formação de 
riquezas, não obstante era completamente alijado do processo político, sem privilégio e sem 
participação nas decisões. 
➔ MPPR: 
Sieyès identificou que a formação da sociedade política passava por três fases: 
 
1. Fase, havia somente reunião dos indivíduos. Na sequência, 
2. Fase, começaram a se organizar e debater melhores formas, ainda que rudimentar, para 
satisfazer as necessidades básicas comuns. Como os componentes desse grupo vão se 
espalhando e se tornando muitos, tornar-se-ia inviável a manifestação direta de cada 
integrante 
3. Fase, nesse contexto, seria agora necessário delegação das decisões a alguns poucos 
indivíduos que, representantes legítimos dos demais, decidiriam por todos. 
ATENÇÃO! Ao apresentar o conceito de representação política, Sieyès rompe com o 
ideal rousseauniano de participação popular direta para se chegar à vontade geral. 
 
 Ao chegar nessa terceira fase o autor informa que é essencial a organização desse corpo 
de indivíduos por uma Constituição. Esta, segundo o abade francês, deveria ser criada pelo 
PC, de titularidade da nação (entidade que sintetiza a unidade política do povo) e que, em 
sua concepção, seria a origem de tudo. A nação, titular do PCO, seria soberana para ordenar 
o seu próprio destino e o da sociedade, expressando-se por meio da Constituição. 
 
Ademais, para o abade, a Constituição seria produto dos trabalhos do PCO e estruturaria os 
poderes constituídos do Estado, se diferenciando destes por sua superioridade e capacidade 
criadora. 
 
3.Natureza Jurídica do Poder Constituinte Originário 
Natureza jurídica varia conforme a concepção que use para explicar e entender o Direito: 
➔ 1C, formada pela escola jusnaturalista (Sieyes formulou a teoria geral sobre o poder com 
base nessa escola): entende que a natureza jurídica do PCO é de um poder de direito, haja 
vista admitir a existência de um direito natural (proveniente da natureza humana e dos ideais 
de justiça), prévio ao direito positivo. Mesmo que o PCO anteceda a própria formação do 
Estado, tem uma base normativa advinda do direito natural que lhe confere fundamentação 
jurídica e o afirma enquanto poder de direito. Em resumo: o PCO é anterior ao Estado e existe 
para organizá-lo, como a noção de direito existe antes mesmo do Estado surgir 
(jusnaturalismo), o poder criador pode ser identificado como poder jurídico; 
 
➔ 2C: Em contraposição, temos a linha de pensamento juspositivista: sua filosofia central 
baseia-se na regra de que não há como pensar o direito antes de se aferir a existência de um 
possível Estado. Deste modo, se o poder constituinte funda o estado, que é quem cria o 
direito, impossível é identificarmos alguma base normativa para a fundamentação do poder, 
haja vista ele ser anterior ao próprio direito. Por isso, é tido como poder de fato, meta jurídico, 
que se funda em si mesmo, não integrando o mundo jurídico, nem possuindo natureza 
jurídica. É um poder político, para alguns extrajurídico, produto das forças sociais que o criam; 
 
➔ 3C: Vê como possuidor de natureza híbrida, dotado de feições políticas e jurídicas. Na ruptura 
seria um poder de fato, já na elaboração do novo documento constitucional assumir e eu vier 
jurídico ao revogar o ordenamento anterior e constituir um novo. 
 
2C é a mais aceita na doutrina pátria e é a que deve ser adotada em provas de concurso. 
 
4. Titularidade 
 
O titular do poder constituinte é aquele que detém o poder, estando apto a elaborar os contornos 
normativos de um Estado, definindo o conteúdo e a estrutura organizacional da ordem jurídica. 
Durante vários séculos, na idade média, a titularidade pertenceu aos soberanos compreendidos 
como verdadeiras reencarnações das entidades divinas, livres de quaisquer limitações. 
Nas vésperas da Revolução Francesa, quando o abade publicou o que é o terceiro estado, surgiu a 
ideia de poder constituinte pertencente a nação. O autor rompe com a legitimação dinástica do poder, 
típica das monarquias absolutistas e, associando o conceito de nação ao terceiro estado, afirma ser 
aquela legítimo titular do poder constituinte. Uma leitura mais moderna substituiu o conceito de 
nação, que tem matriz sociológica, pelo conceito de povo. 
Poder constituinte então passa a significar poder do povo, o conceito de povo abarca uma grandeza 
pluralística (peter haberle). Abrange toda uma pluralidade de forças culturais, sociais e políticas, tais 
como os partidos políticos, as associações, as igrejas, entidades e organizações sociais, e algumas 
personalidades, decisivamente influenciadoras da conformação das opiniões das vontades das 
correntes e das sensibilidades políticas nos momentos pré- constituintes e nos próprios 
procedimentos constituintes. Ou seja, conceito de povo não se reduz ao corpo eleitoral. 
 
 
5. Exercício do Poder Constituinte Originário 
Como se dá o seu exercício? Afinal não é sempre que há coincidência entre o titular do direito e o 
exercente. Fala- se em procedimento constituinte direto quando o projeto elaborado pela assembleia 
tem validade jurídica por meio da aprovação direta do povo, manifestada através de um plebiscito ou 
de um referendo. Ademais, também pode ocorrer usurpação do PC, como é o caso das constituições 
outorgadas. 
Em resumo, quanto ao seu exercício: 
a) Exercício democrático direto: neste caso o povo escolhe os seus representantes, que se 
tornam responsáveis pela elaboração de um novo documento constitucional, que renovará 
ordenamento jurídico. O poder constituinte atuará por meio de uma Assembleia Nacional 
Constituinte ou uma convenção constituinte, sendo que essa forma tipifica o exercício 
democrático desde as origens do constitucionalismo. Ex: Convenção da Filadélfia 1787, 
assembleia Nacional francesa 1789, no Brasil os documentos constitucionais de 1891, 1934, 
1946 e 1988. 
 
b) Exercício autocrático: se manifesta por meio da outorga, de modo que a Constituição é 
estabelecida por um indivíduo ou grupo que alcançou um poder sem quaisquer resquícios de 
participação popular, constituindo o que se denomina poder constituinte usurpado. Exemplo 
constituições outorgadas no Brasil de 1824, 1937, 1967. 
Ausência de identidade entre o titular do poder constituinte e o agente que exerce o poder tem uma 
importante consequência, que é o reconhecimento de que o poder constituinte é permanente, pois 
ele não se esgota quandoda elaboração da Constituição, permanece latente permanece com o seu 
titular que é o Povo. 
Por outro lado, o agente que exerce o poder constituinte se esgota, seja assembleia ou a convenção 
constituinte que se dissolve, sendo que o mesmo se passa com a gente usurpador. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6. Espécies 
 
 
A) quanto ao 
momento de 
manifestação, 
o poder pode 
ser intitulado 
 
→ Fundacional: ou histórico, é aquele que produz a primeira Constituição do 
estado. Ex: A carta constitucional de 1824. 
 
 
➔ Pós- fundacional: é aquele que parte de uma ruptura institucional da 
ordem vigente para elaborar a nova Constituição que sucederá uma anterior 
revogando integralmente a precedente a partir de uma transição 
constitucional, atua na confecção de todas as constituições subsequentes a 
primeira. Poderá ocorrer: 
 
- de forma revolucionária no golpe de estado onde o poder 
constituinte é usurpado por um governante; 
- Ou numa insurreição quando feita por um grupo externo 
dissociado dos poderes instituídos ; 
- Uma transição pacífica na qual a ordem anterior subsiste 
enquanto a nova constituição está sendo elaborado. 
 
 
B) Quanto as 
dimensões 
 
➔ Material: É o poder que delimita os valores que serão prestigiados pela 
Constituição e a ideia de direito que vai vigorar novo ordenamento. É o 
conjunto de forças políticas que vai gerar mudança institucional. 
 
➔ Formal: exprime e formaliza a criação, revela-se na entidade no grupo 
constituinte que formalizará em normas jurídicas a ideia e a concepção de 
direito consentida em um dado momento histórico. O poder constituinte 
material precede o constituinte formal porque a ideia de direito precede a 
regra de direito, o valor comanda a norma, a opção política fundamental, a 
forma que elege para agir sobre os fatos, e precede o historicamente porque 
há sempre dois tempos no processo constituinte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 . Características do Poder Constituinte Originário 
 
1. Inicial: porque o produto de seu trabalho é a Constituição, que é a base do ordenamento 
jurídico, documento que inaugura juridicamente um novo Estado e acarreta a ruptura total 
com ordem jurídica anterior. Conforme assevera JJ Canotilho: não existe, antes delem nem 
de fato nem de direito, qualquer outro poder; 
 
2. Ilimitado: haja vista não se submeter ao regramento posto pelo direito precedente, sendo 
possuidor de ampla liberdade de conformação com a nova ordem jurídica. As normas 
anteriores não são capazes de limitar a sua atividade; 
 
 
3. Incondicionado: não se submete a nenhuma outra regra ou procedimento formal pré-fixado 
pelo ordenamento jurídico que o antecede. Atua livremente; 
 
4. Autônomo: para alguns é apenas uma maneira diferente de expressar o fato de ser ilimitado. 
A capacidade de definir o conteúdo que será implantado na nova constituição, bem como sua 
estruturação e os termos de seu estabelecimento. 
 
Cuidado! Mesmo que essa próxima circunstância mais se aproxime de um posicionamento 
jusnaturalista, nada nos impede, ainda que adotemos a perspectiva positivista, de mencioná-
la: 
 
5. Permanente: não se esgota quando da conclusão de uma Constituição. Ele permanece em 
situação de latência, podendo ser ativado quando um novo momento constituinte, de 
necessária ruptura com a ordem anterior, se apresentar. Esse poder permanece com o povo, 
em estado de hibernação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8. Limites ao PCO 
Conforme exposto alhures, os jusnaturalistas reconhecem que o poder constituinte está limitado pelo 
direito natural, que o antecede e a ele se sobrepõe. Mesmo que os positivistas desconsiderem essa 
limitação, partilham o ideal de que a ausência de limites NÃO deve ser absoluta. Para estes últimos, 
PCO é o poder ilimitado no sentido de estar desvinculado e não subordinado ao regramento jurídico-
positivo anterior. 
Nesse contexto, torna-se indiscutível alguns limites (independente da corrente): 
a) limites geográficos/territoriais: PCO cria normas para vigerem em uma determinada circunscrição, base 
territorial específica; 
 
b) circunstâncias sociais e políticas: se o PCO é expressão da vontade política soberana do povo não pode ser 
entendido sem observância dos valores éticos, religiosos e culturais. Eventual rompimento com a ordem 
constitucional com fito de instaurar outra que não obtem adesão dos cidadãos, não terá sido operacionalizado pelo 
PCO, senão por alguém que age como rebelde criminoso (Sieyès, O que é o terceiro estado?); 
 
c) efeito cliquet ou efeito catraca: após a constituição ter efetivado a proteção de determinado direito a partir de 
um indiscutível consenso, uma nova Constituição não poderia retroceder, suprimindo ou mesmo reduzindo o âmbito 
de incidência dos mesmos. Destarte, direitos e garantias constitucionais já firmados não poderia poderiam ser 
desrespeitados, nem mesmo por intermédio do PCO, numa autêntica vedação ao retrocesso. 
 
d) padrões e modelos de condutas espirituais, culturais, éticos e sociais radicados na consciência jurídica 
geral da comunidade, devendo observar os princípios do direito internacional e da justiça (JJ. GOMES 
CANOTILHO). 
 
Ainda sobre a existência de limites, vale apresentar a categorização que Jorge Miranda faz 
dos mesmos. Na percepção do autor existem três ordens possíveis de limites: 
 
1. Os transcendentes: advém do direito natural e dos valores éticos superiores que originam uma consciência 
jurídico- coletiva que limita o poder constituinte material, impedindo de suprimir ou reduzir direitos 
fundamentais diretamente conexos com a noção de dignidade da pessoa humana e já solidificados na 
ordem jurídica a partir de largo e indiscutível consenso social, ex: art. XLVII, a da CF; 
 
2. Os imanentes: referentes à soberania e a forma do Estado, proveem da noção de que o poder constituinte 
formal, que se manifesta em determinadas circunstâncias, limitado pela sua origem e finalidade; 
 
3. Heterônomos: refere-se às regras, obrigações e princípios provenientes do direito internacional que impõe 
limites à conformação estatal. Podem, ainda, resultar em limites heterônomos de direito interno, quando um 
Estado é politicamente desenhado como possuidor de uma ordem central de poder e alguns domínios 
parcelares (como sucede com os Estados Federados), que resulta em obrigações entre a União e os 
Estados-membros. 
 
 
TABELA LIMITES AO PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO 
 
1. Limites geográficos e territoriais; 
2. Circunstancias sociais e políticas; 
3. Efeito cliquet; 
4. Padrões e modelos de condutas. 
Jorge Miranda: 
 
1. Os transcendentes; 
2. Os imanentes; 
3. Heterônomos. 
 
 
9. Direitos Adquiridos x PCO 
 
O texto constitucional garante expressamente no art. 5, XXXVI a estabilidade das relações jurídicas 
ao amparar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. O direito adquirido é definido 
pelo artigo 6º § 2º da LINDB. Vejamos: 
Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, posso 
exercer como aqueles cujo começo do exercício tenha termo prefixo, ou condição pré-
estabelecida inalterável, a arbitro de outrem. 
As críticas em relação a esse conceito surgem, porquanto aproxima em demasia ao conceito de 
direito subjetivo e há diferenciação entre eles: 
 
➔ ou o direito é realizado e passa a categoria de direito consumado; 
➔ ou não é realizado, por um indivíduo que já faz jus ao seu exercício, e em virtude de 
normalização ulterior com ele incompatível, passa a categoria de direito adquirido. 
 
O direito se torna adquirido quando uma alteração na ordem jurídica torna inviável um direito ainda 
não desfrutado pelo indivíduo, mas já passível de fruição desde antes da modificação. 
O poder constituinte originário é inicial, fornecendo as bases jurídicas que inaugura o ordenamento; 
é também ilimitado sob o aspecto jurídico, não se subordinando às determinações normativas 
Traçadas pelo ordenamentoprecedente, como assevera Gilmar Mendes o que é repudiado pelo novo 
sistema constitucional não recebe status próprio de um direito, mesmo que sob a vigência da 
Constituição anterior o detivesse. 
Nesse contexto, outra não pode ser a conclusão se não a de que inexiste a alegação de direito 
adquirido perante a nova Constituição, perante o trabalho do poder constituinte originário. 
Se o direito adquirido segundo o regramento jurídico anterior não contraria a nova Constituição ele 
poderá normalmente ser exercido, pois o documento constitucional o reconhece e aceita, dada a sua 
compatibilidade. 
 
 
 
 
10. Poder Constituinte Supranacional 
O fenômeno da globalização é perceptível não só nas trocas econômicas, mas também na comunhão 
dos valores constitucionais. Este fato num cenário internacional forma um novo panorama para os 
conceitos de soberania e cidadania. É a partir dos ideais da cidadania universal, pluralismo, 
integração e soberania remodelada, que surge o conceito de poder constituinte supranacional, 
destinado a equacionar uma Constituição supranacional legítima, com aptidão para vincular toda 
comunidade de Estados sujeita à sua ação normatizadora. 
O poder constituinte na visão tradicional se coloca a serviço de um povo vinculado a um Estado 
específico, o poder supranacional tem pretensão mais ambiciosa: tenciona elaborar uma 
Constituição supranacional a qual os estados nacionais e suas ordens jurídicas específicas estariam 
sujeitos, extraindo sua legitimidade dos próprios estados integrantes do direito comunitário e de seus 
cidadãos. 
 
 
 
 
 
 
11. Poder constituinte e a tese do patriotismo constitucional 
Uma releitura das tradicionais concepções do poder constituinte, à luz da teoria de Junger 
Habermas, pode ofertar significativa contribuição para uma mudança de perspectiva sobre o tema, 
especialmente no que concerne a titularidade do poder. 
Isso porque é a visão de Habermas acerca do patriotismo constitucional que vai nos autorizar 
a questionar até quando os fundamentos da identidade cívica de uma determinada coletividade 
permaneceram vinculados ao nacionalismo. Ou seja, essa identidade ficará eternamente dependente 
de símbolos nacionais, como por exemplo a língua a cultura o hino e a bandeira nacionais, ou os 
indivíduos serão, algum dia, capazes de se reconhecer no outro pelo simples fato de serem todos 
indivíduos, isto é, humanos? 
Segundo o autor desde antiguidade até a modernidade sempre foi necessário buscar 
mecanismos que possibilitassem a convivência entre os homens. Ele aposta no patriotismo 
constitucional como ideal capaz de unir todos os cidadãos, independentemente de suas 
nacionalidades, antecedentes culturais ou heranças étnicas, imprimindo nos indivíduos uma lealdade 
constitucional que, não podendo ser imposta juridicamente, deve estar internalizada nas motivações 
e convicções de cada um, o que só é possível quando cada um deles entende o estado constitucional 
enquanto uma realização de sua própria história. 
O autor ainda propõe a construção de uma cidadania democrática que não deve ser fundada 
na identidade nacional mais sim numa cultura política comum de integração social global, baseada 
em valores, normas e mútuo acordo. O pluralismo, tolerância, direito à diferença, um consenso sobre 
democracia, governo limitado , estado de direito e respeito sobre a melhor interpretação sobre o 
alcance e aplicação dos direitos fundamentais é a aposta habermasiana para um novo ethos social 
de caráter universal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12. PODERES CONSTITUÍDOS 
→ Existe uma crítica à doutrina que chama os poderes constituídos de poderes constituintes 
derivados. Mesmo sendo corrente majoritária, essa expressão consagrada pela doutrina e pela 
prática constitucional é tecnicamente problemática e cria uma contradição de termos. Conforme 
assevera Carlos Ayres Britto, o poder constituinte derivado, pela consideração elementar de que, se 
é um poder derivado é porque não é constituinte. Se o poder é exercitado por órgãos do Estado, 
ainda que para o fim de reformar a Constituição, é porque sua ontologia é igualmente estatal. E 
sendo estatal, o máximo que ele cabia retocar o Estado, mas não o criar, sem esse poder de plasmar 
ex novo o Estado, então de poder constituinte não se trata. 
→ Natureza jurídica: São poderes de direito, inseridos na Constituição e por ela disciplinados. 
Conhecem, portanto, limitações e condicionamentos e subordinando-se de modo irrestrito ao 
regramento imposto pelo poder originário no texto constitucional. 
→Características: 
1. Derivado ou de 2 grau: derivam do PCO, encontram fundamento na Constituição, dela 
retirando sua existência e validade; 
2. Condicionado: haja vista suas atribuições estarem diretamente vinculadas ao que 
determina previamente a Constituição; 
 
3. Subordinado (ou limitado): suas ações são pautadas pelas limitações, sejam expressas 
ou implícitas, inseridas na Constituição e, por consectário lógico, se sujeitam aos 
mecanismos de Controle de Constitucionalidade. 
 
 
➔ Espécies: Conforme exposto alhures existe um PCO capaz de criar uma nova ordem 
jurídica, ele tem dupla finalidade: 
 
1) Manter a Constituição adaptada aos novos ambientes jurídicos/políticos, evitando que a 
realidade o derrote. Cria-se um poder constituído reformador (ou derivado reformador) 
 
2) Permitir a criação das coletividades estaduais, o PCO institui o poder derivado, a ele 
vinculado, com atribuições previamente delimitadas. Cria-se um poder constituído 
decorrente (ou derivado decorrente). 
Vejamos cada um deles. 
 
 
 
 
 
 
 
 
12.1 PODER DERIVADO DECORRENTE 
 
➔ Conceito: para assegurar harmonia e coerência da nova ordem jurídica apresentada pelo 
PCO, e que assim todos os documentos estejam afinados com a Carta Maior, é 
imprescindível que numa federação, caracterizada por diferentes entidades políticas, novos 
documentos estaduais sejam feitos, a fim de se adequarem. Poder DERIVADO 
DECORRENTE é, portanto, a capacidade conferida pelo poder originário aos Estados-
membros, enquanto integrantes da federação, para elaborarem suas próprias constituições 
(ART. 25 DA CF). 
 
***o poder decorrente quando cria a Constituição Estadual → é denominado poder decorrente 
instituidor; 
***quando realiza alterações no seu texto para compatibilização com a realidade 
→ é intitulado poder decorrente reformador. 
 
➔ Características: 
a) poder de direito, institucionalizado pela Constituição, possuidor, pois de natureza 
jurídica; 
b) poder limitado (ou subordinado); 
c) condicionado; 
d) secundário ou de 2º grau. 
 
➔ Limites impostos pela CF ao poder decorrente: 
 
Obs: estados-membros têm autonomia para se auto-organizarem por suas Constituições 
que, por sinal, devem obediência a CF. Não são meras reproduções da CF, todavia devem 
observar padrões em respeito ao princípio da simetria que é norteador do pacto federativo. 
Neste sentido, como limite, são impostas normas de observância obrigatória, organizadas em 
três grupos, a saber: 
 
a) Princípios Constitucionais 
sensíveis: 
 
Consagrados no art. 34, VII da CF, 
representam os fundamentos que organizam 
constitucionalmente a federação brasileira. 
seu descumprimento por parte dos estados 
membros acarreta a propositura de uma ação 
direta de inconstitucionalidade interventiva 
que, se for julgada procedente pelo STF, 
ensejar a decretação de intervenção federal 
pelo presidente da República (36, III da CF. 
PGR propõe, STF julga, o PR decreta). 
Referem-se: 
➔ Forma republicana; 
b) Princípios constitucionais 
extensíveis: 
 
Preveem as normas centrais de 
organização da federação, válidas para 
a União e extensíveis às demais 
entidades federativas. Estas normas 
podem ser expressas (ex: regras 
atinentes ao sistema eleitoral 27, §1º da 
CF) ou implicitamente extensíveis 
(licença para ausenta-se do país, art. 
83 da CF; organização do Tribunal de 
Contas; criaçãode CPIs; princípios 
basilares do processo legislativo 
federal; regra de acesso de advogados 
C) princípios constitucionais 
estabelecidos: 
 
Previstos de maneira esparsa pelo 
texto constitucional, são as normas 
que limitam a autonomia estadual, 
em obediência à regra segundo a 
qual aos Estados-membros se 
reservam os poderes que não lhe 
são vedados, Ex: regras de 
repartição de competências, normas 
do sistema tributário, organização 
dos poderes, garantias individuais, 
direitos políticos e etc.. 
➔ Sistema representativo e regime 
democrático; 
➔ Direitos da pessoa humana; 
➔ Autonomia municipal; 
➔ Prestação de contas da adm. 
PÚBLICA direta e indireta; 
➔ Aplicação do mín. exigido da receita 
resultante de impostos estaduais, 
compreendida a proveniente de 
transferências, na manutenção e 
desenvolvimento do ensino e nas 
ações e serviços públicos de saúde. 
e representantes do MP nos tribunais 
pelo quinto constitucional. 
 
**Uida Lammegos Bulos: São aqueles 
que integram a estrutura da federação 
brasileira, relacionados, por exemplo, 
com a forma de investidura em cargos 
eletivos, processo legislativo, 
orçamentos artigo 165 da Constituição, 
preceitos ligados à administração 
pública artigo 37 e seguintes. 
 
➔ CUIDADO! PODER DECORRENTE E A POLÊMICA ENVOLVENDO A CRIAÇÃO DE LEI 
ORGÂNCA DO DF E DAS LEIS ORGÂNICAS DOS MUNICÍPIOS: 
Desde a primeira Constituição republicana de 1891 a organização do poder em virtude um território 
é realizada segundo modelo federado no Brasil. Reconhecemos a União, os Estados- membros o 
DF e os municípios como entes federados, estes últimos incluídos pela Constituição de 88. Por 
serem autônomas, estas entidades federadas possuem auto-governo, isto é, capacidade de editar 
em seus próprios diplomas organizatórios. Aqui surge uma divergência doutrinária: o poder 
decorrente atua somente na elaboração das constituições estaduais ou é igualmente responsável 
pela elaboração dos documentos de organização do DF e dos municípios? 
1C minoritária: o poder decorrente atua também nos municípios e no DF. O argumento central é de 
que apesar da Constituição se valer da locução ‘‘lei orgânica’’, os documentos principais desses dois 
entes são efetivas constituições em sentido material já que formatam e estruturam toda a 
organização deles. 
2C: O poder da corrente também é perceptível no DF, mas não nos municípios. As argumentações 
principais são construídas a partir das seguintes ponderações: 
a) O distrito federal possui, por força do art. 32 §1º da CF, as mesmas competências legislativas reservadas 
aos estados-membros, dentre as quais se situa atribuição estadual de elaborar sua própria Constituição; 
b) A lei orgânica do DF, assim como ocorre com as constituições estaduais, é um documento que só está 
submetido a Constituição da República (subordinação direta); 
c) na reclamação 3436 o SFT firmou entendimento de que a lei orgânica do DF seria parâmetro para o 
controle de constitucionalidade concentrado das leis e demais atos normativos distritais, no seus dizeres: 
‘‘equiparável às constituições promulgadas pelos estados-membros’’. Como reforço o art. 30 da Lei 9.868/90 
prevê expressamente. 
d) quanto aos Municípios, são formados por documentos condicionados simultaneamente à Constituição 
Estadual e à Federal, isto é, se sujeitam à dupla subordinação; 
e) A implicação a esses dois graus de imposição constitucional tornaria um eventual poder decorrente municipal 
em um poder de terceiro grau, vez que decorreria do poder decorrente estadual, que por sua vez já decorre de 
um poder de segundo grau. Em conclusão o poder decorrente deve estar em sua legitimidade diretamente do 
texto da Constituição, o que não ocorreria se vislumbrássemos um poder decorrente municipal, sujeito a duas 
ordens de normatização; 
f) Um conflito entre lei municipal e a lei orgânica do município serão solvidos a partir de um controle de 
legalidade e não de constitucionalidade já que o documento organizatório municipal não pode ser considerado 
uma verdadeira Constituição. 
Resumo: O poder constituído decorrente elabora as constituições estaduais e a lei orgânica do DF, não 
sendo, todavia, conferido aos municípios. 
 
 
12. 2 PODER DERIVADO REFORMADOR 
Tem a função de alterar formalmente a Constituição da República, exercendo a importante tarefa de 
ajustar e atualizar o texto constitucional aos novos ambientes formatados pela dinâmica social. As 
constituições não podem ser imutáveis, ao contrário, precisam se adaptar às mudanças sociais e à 
evolução histórica sob pena de um texto perder sintonia com a realidade. 
Por outro lado, registra-se que tão indesejável quanto a Constituição imutável é um texto 
constitucional volúvel e frágil diante de atentados ao seu projeto ou de casuísmos políticos. 
Afinal, se construída com alta suscetibilidade e maleabilidade, a Constituição também não cumprirá 
o seu papel, pois não será capaz de amparar efetivamente os valores, os direitos e as garantias 
essenciais nela consagrados. 
Existe uma tensão entre a estabilidade e a adaptabilidade, entre a permanência e a mudança, assim 
na tentativa de equacionar esses valores, por vezes contraditórios, tem-se adotado, como tradição 
do direito pátrio, a rigidez do documento constitucional. 
A rigidez pressupõe possibilidade modificação, todavia, ao consentir com alteração, a Constituição 
exige um procedimento para feitura das emendas constitucionais substancialmente distinto daquele 
estabelecido para a criação da legislação infraconstitucional, pois, comparado com este último, 
mostra-se bem mais solene, complexo e sofisticado. 
Assim, as limitações do poder derivado reformador consistem nas regras estabelecidas para 
mudanças do texto constitucional. 
Eis as limitações: 
a) Expressas: 
O PCO trouxe expressamente na CF algumas regras às quais o poder reformador deve obediência irrestrita 
quando se dedica a tarefa de elaborar emendas. 
 Pode ser organizado sob o título “limitações ao poder de reformar à Constituição”, deve ser estritamente 
acatado, sob pena de o produto do trabalho do poder reformador ser viciado pela inconstitucionalidade, 
tornando imprestáveis as modificações feitas. São elas: TEMPORAIS, MATERIAIS, CIRCUNSTÂNCIAIS 
E FORMAIS. Vejamos. 
 
TEMPORAIS São inexistentes no texto constitucional de 1988, consistem em limites construídos no intuito de impedir 
alterações na Constituição durante certos espaçamentos temporais, a fim de que seu regramento se 
consolide para que posteriormente as mudanças sejam engendradas. Ex: A Constituição do Império 
de 1824 é um exemplo, autorizou a reforma do texto após quatro anos do início da sua vigência, foi o 
único documento constitucional que estabeleceu essa limitação. 
Existe uma divergência doutrinária relativamente a classificação da limitação inserida no art. 60 §5º da 
Constituição. Para alguns, esse parágrafo se refere a uma limitação temporal. Todavia a doutrina 
majoritária reconhece esse limite como de natureza procedimental por duas razões: 
1. O dispositivo não impede apresentação de emendas em geral durante certo período, mas somente 
obsta que a matéria discutida numa proposta de EC rejeitada numa sessão legislativa seja objeto de 
nova proposta na mesma sessão. O texto não fica intangível, pois outras propostas podem ser 
apreciadas e apresentadas. 
2. O obstáculo que se cria com o parágrafo 5º é formal, procedimental, a possibilidade de re apreciação 
depende só do respeito de uma regra formal de mudança de sessão legislativa e não temporal, já que 
não se leva em consideração o tempo transcorrido da rejeição até a nova apreciação. 
Discute-se, além disso, se a natureza do limite imposto ao poder de revisão no art. 3 do ADCT Seria 
temporal, em virtude de este formalizar a impraticabilidade da revisão antes de completados 5 anos da 
promulgação da Constituição Federal. 
Existe autores que entendem de maneira oposta, todavia, pensamos queneste caso se está frente a 
uma condicionante temporal de alteração. Isso porque a revisão somente pode ser feita após cinco 
anos contados da promulgação da Constituição, havendo então um outro temporal definido a ser 
superado para que a revisão pudesse ser efetivada. 
MATERIAIS Não pode ser objeto de deliberação a proposta de emenda constitucional tendente a abolir a forma 
federativa de estado, o voto direto, secreto, universal e periódico, separação dos poderes e os direitos 
e garantias individuais. Essas matérias, elencadas no art. 60 § 4°, intituladas cláusulas pétreas, estão 
fora do alcance do poder constituído derivado reformador, formando um núcleo intangível da 
Constituição Federal, imunizado contra possíveis alterações que reduzam o seu núcleo essencial 
debilitem o duradouro projeto que ela tencionou construir. Esses limites visam preservar a identidade 
básica do texto constitucional assegurando a essência da Constituição e as decisões políticas que 
legitimaram sua criação. 
Vale ressaltar, ainda que a superior proteção confira status político diferenciado e sobreleve a carga 
valorativa que possuem, não há se falar em hierarquia normativa e jurídica entre eles e o restante dos 
dispositivos da Constituição. Não há hierarquia entre normas constitucionais originárias, porque são 
todas constitucionais, elaboradas pelo poder constituinte originário e possuidoras de idêntico status 
normativo. A hierarquia designa que uma norma retira seu fundamento de validade de outra que ele é 
superior. Não por outra razão princípio da unidade impede que reconheçamos conflitos reais e afetivos 
entre elas. 
Pacificou-se na doutrina que a locução ‘‘tendente abolir’’ constante do art. 60 §4º da CF, só ampara o 
núcleo essencial do tema que o constituinte quis proteger, não garantindo sua absoluta intangibilidade. 
As formulações linguísticas das cláusulas são cabíveis, já que não alteram em nada a substância do 
que se procuram preservar. Do mesmo modo, reforma superficiais, que não atinjam o núcleo central do 
tema são viáveis. Nesse sentido, a nossa Corte Suprema decidiu que o que os limites materiais 
intitulados nas cláusulas pétreas não torna os temas ali elencados imutáveis, tampouco proíbem que 
seja um objeto de qualquer tipo de emenda, pois não significa intangibilidade literal da respectiva 
disciplina na Constituição originária, mas apenas proteção do núcleo essencial dos princípios e 
institutos cuja preservação nela se protege. O que se veda é a desfiguração por completo da obra do 
poder constituinte originário, descaracterizando o projeto axiológico. Se o núcleo essencial permanece 
intocado, não há por que rechaçar a emenda. Deste modo, se o a essência do princípio permanece 
intocada, os elementos circunstâncias ligados ao bem erigido à condição de cláusula pétrea poderiam 
ser modificados ou até mesmo suprimidos. 
As cláusulas pétreas poderão, obviamente, ser objeto válido de emenda à CF, quando possuírem 
intuito de ampliar ou sofisticar os assuntos relacionados no §4º art. 60, como por exemplo, a inserção 
pela EC 45 de 2004 no inciso 78 do artigo 5º que consagra o direito à razoável duração ao processo. 
 
→Eventuais violações aos limites impostos pelo poder constituinte originário à reforma poderão 
ser desafiadas perante o poder judiciário, inclusive no excepcional controle judicial preventivo 
de constitucionalidade, evitando que a lesão a Constituição se concretize.. Tal possibilidade do 
poder Judiciário exercer o controle antes mesmo da emenda ser promulgada, ainda na fase de 
tramitação legislativa, deriva do fato de a cláusula pétrea não existir somente para remediar a situação 
de destruição da carta, mas com a missão de inibir a mera tentativa de abolir o seu projeto básico. É 
dessa perspectiva que se extrai o direito líquido e certo dos parlamentares a não participar de um 
processo legislativo viciado, adulterado. Neste caso, detectado a tramitação da proposta de emenda o 
texto condicional que distorça o devido processo legislativo, poderá o parlamentar Federal, integrante 
da casa legislativa na qual a proposta estiver em discussão/votação, impetrar mandado de segurança 
perante o STF, para questionar a inobservância do seu direito ao devido processo legislativo 
constitucional. A legitimidade é exclusiva do parlamentar Federal, por isso, em havendo perda 
superveniente do mandato Parlamentar pelo impetrando, consequência será extinção do MS por 
ausência superveniente de legitimidade ad causam , nada obsta um posterior controle repressivo, 
concentrado ou mesmo difuso. 
 
→Análise das cláusulas pétreas: 
 
*forma federativa de estado: forma de estado é o modo como se engendra, em razão de um 
determinado território, a distribuição no exercício do poder político. Quando é federada, a forma de 
estado pressupõe descentralização, inviabilizando a existência de um poder central único, o que gera 
uma pluralidade de domínios parcelares. São características essenciais de uma federação: 
1) descentralização (os entes políticos são dotados de autonomia e não são subordinados entre si); 
2) indissolubilidade do vínculo federativo (inexistência do direito à secessão, sob pena de a entidade 
que deu origem ao movimento separatista ser submetido ao processo interventivo); 
3) a repartição constitucional de competências para dividir as tarefas e manter uma convivência 
harmônica que garanta o pacto federativo; 
4) existência de um tribunal constitucional apto a dirimir os confrontos das relações entre os entes 
federados; 
5) Previsão de um órgão legislativo que representa os poderes regionais que faz as vontades parciais 
participarem da formação da vontade nacional. 
 
Para que a EC seja válida por afrontar esta cláusula pétrea, deve vulnerar o núcleo essencial de 
quaisquer características do princípio federativo, exemplo uma EC que suprimisse a forma federada e 
institucionalizasse um estado unitário, como era a do Brasil durante o Império. Por outro lado, 
modificações feitas no texto que não impliquem desacato ao núcleo essencial são adequadas, o 
sistema de repartição de competência pode ser reequacionado. Ex: EC 69 de 2012 que transferiu a 
competência para organizar e manter a Defensoria pública do DF para este ente federado retirando-a 
da União. É preciso considerar que o princípio da imunidade tributária recíproca previsto no art. 150, 
VI, a da CF por compor o cerne do pacto federativo e decorrer da própria natureza do federalismo é 
garantia da Federação, sendo pois, uma cláusula pétrea decorrente, MARSHALL dizia que no poder 
de tributar está o poder de destruir. 
 
*Voto direto, secreto, universal e periódico: sua inserção no núcleo constitucional essencial decorre 
da circunstância de, no direito pátrio, o voto direto ter se tornado um símbolo fundamental da 
democracia. O voto direto é aquele no qual a escolha certa ativa sem que haja intermediários entre o 
povo e os que serão eleitos. Veda-se eleições indiretas. A sigilosidade do voto é garantida pelo 
escrutínio secreto, que resguarda a manifestação do eleitor. A universalidade decorre do direito ao 
sufrágio abrange a todos os cidadãos sem qualquer distinção referente a classe social econômica ou 
sexo. No mais, ao elevar o voto universal a condição de cláusula pétrea, o poder constituinte limitou o 
universo dos indivíduos aptos a participar do processo eleitoral. Sufrágio é um direito, escrutínio é a 
maneira como o exercício desse direito se desenvolve e o voto é o próprio direito. A periodicidade para 
os mandatos visa assegurar a alternância no poder, um dos aspectos nevrálgicos do ideal republicano 
democrático. Torna impraticável uma emenda monarquista. 
 
*Separação dos poderes: enquanto princípio organizador estrutural, preconiza que as funções estatais 
sejam repartidas e distribuídas a diferentes órgãos, de modo a evitar árbitros e abusos que a 
concentração de poder potencializa. Cada poder tem suas funções típicas que lhe são próprias e 
atribuições secundárias, sendoindependente perante os demais. Essa repartição é arquitetada de 
modo equilibrado, impedindo que um poder avance sobre as atribuições dos demais e extrapole os 
limites postos pela Constituição. Há, pois, um controle recíproco entre os diferentes poderes, baseado 
no sistema de freios e contrapesos. 
A divisão de atribuições entre os poderes não está engessada, não são absolutamente intangíveis, 
sendo certo que a validade da atividade da reforma incidente sobre ele estará condicionada a 
demonstração de que não se atinge um núcleo essencial do princípio da separação dos poderes. 
“Impede uma instância hegemônica de poder (STF)”. 
 
*Direitos e garantias individuais: o art. 5º é seu principal repositório. Em que pese a enunciação do 
artigo ser minucioso e amplo, não esgota o elenco de direitos e garantias individuais. O STF já se 
posicionou quando determinou que o princípio da anterioridade tributária é uma garantia individual do 
contribuinte imunizada contra o poder supressivo de reforma constitucional. Esse julgamento foi 
histórico porque nele o STF firmou primeiro precedente de declaração de inconstitucionalidade de 
dispositivo de emenda condicional e, numa louvável decisão, reconheceu que há dispositivos esparsos 
no texto constitucional que consagram direitos e garantias individuais. Outra decisão que reafirmou 
essa percepção foi o princípio da anterioridade eleitoral firmado como garantia individual do eleitor. 
 
ATENÇÃO! Pergunta: se o poder reformador pode através de emendas constitucionais instituir novos 
direitos e garantias individuais no documento constitucional esses direitos também serão considerados 
cláusulas pétreas? 
Resposta: Segundo Gilmar Mendes, devemos ter em mente que cláusulas pétreas se fundamentam 
na superioridade do poder constituinte originário sobre o de reforma, de maneira que somente o 
primeiro pode criar obstáculos de conteúdo à atuação do segundo. Portanto, não faz sentido, do ponto 
de vista lógico, permitir que o poder reformador crie limites invencíveis a si mesmo. É da natureza do 
poder originário, criador que é, estipular referidos limites, não sendo possível ao poder de reforma, 
mero derivação daquele outro, se arvorar nesta condição de criação. Não é cabível que o poder de 
reforma crie cláusulas pétreas, apenas o poder constituinte originário pode fazê-lo. Assim, novo direito, 
que por emenda foi integrado ao ordenamento, não se verá livre de uma possível supressão por 
emenda posterior. 
Um alerta, todavia, deve ser feito. É perfeitamente possível que a emenda constitucional 
incremente dispositivos ao rol dos direitos individuais sem que com isso crie direitos 
efetivamente novos, compreende-se factível que o direito introduzido por emendas seja 
especificação de outro direito já existente no catálogo anunciado pelo poder constituinte 
originário. Nesse caso, ainda que introduzido por emenda é considerado cláusula pétrea, pois 
já encontrava-se abrangido pelo direito previamente existente no rol firmado pelo poder 
constituinte originário. 
CIRCUNSTÂNCIAIS A vedação à alteração do documento constitucional no curso de circunstâncias anormais e 
excepcionais visa preservar a autonomia e a livre manifestação do poder reformador, evitando que 
maiorias ocasionais, que surgem situações extraordinárias, destruam o projeto constitucional diante de 
contingências da crise, com transformações precipitadas impensadas da Constituição. Desta forma, 
impossível é o acionamento do mecanismo de modificação da Constituição na vigência do estado de 
sítio, de defesa e da intervenção federal. É o que dispõe o art. 60 parágrafo único da Constituição 
Federal. É certo que atos de discussão e votação da proposta, em curso, ficam suspensas. O mesmo 
não se dá, todavia, com os atos finais que são a promulgação e a publicação. Como o texto já está 
pronto e não mais pode sofrer modificações casuísticas, a opinião da prof. Natália Masson é de que 
não se pode recusar promulgação e publicação. 
FORMAIS ou 
procedimentais 
A opção pela rigidez constitucional exige um procedimento especial, mais solene e dificultoso que 
aquele observado na elaboração das leis ordinárias, para a feitura e aprovação das emendas 
constitucionais. Destarte, a reforma do texto condicional somente será válida quando as normas 
especiais do processo legislativo forem cumpridas com exatidão. O poder reformador, nesse sentido, 
deverá observar os seguintes limites formais: 
 
A) Limitação formal subjetiva: a iniciativa para apresentação de uma proposta de emenda está 
organizada no rol art. 60 caput da Constituição, significativamente mais restrito do que aquele que prevê 
a iniciativa do projeto de lei (previsto no art. 61, CF). Conforme o texto constitucional, são legitimados 
apresentar uma proposta de emenda constitucional apenas: 
1) presidente da república; 
2) 1/3 no mínimo dos membros da Câmara ou do Senado; 
3)mais da metade das assembleias legislativas das unidades da Federação, manifestando-se cada 
uma delas, pela maioria relativa de seus membros. 
 
Ressalta-se que municípios não possuem legitimidade para apresentar proposta de emenda, não havendo também previsão de 
iniciativa popular para esta espécie normativa. Convém, no entanto, apontar posicionamento doutrinário minoritário que entende 
haver legitimidade popular implícita (por analogia ao previsto no art. 61 parágrafo 2º da Constituição que prevê iniciativa popular 
para apresentação de projeto de lei), baseando-se na ponderação de que o povo, sendo titular do poder constituinte originário, 
pode se dar uma nova Constituição, podendo, da mesma maneira, deflagrar a atuação do poder de reforma por meio da 
apresentação de uma proposta de modificação do texto constitucional. O argumento estrutura-se assim na regra basilar de que 
o poder emana do povo. No entanto, para a professora Natália, esse posicionamento não merece prosperar, isso porque, ao 
contrário do que se passa com as espécies normativas em geral, que veiculam a vontade da maioria, nas constituições rígidas 
procura-se proteger os direitos ali consagrado mesmo contra a vontade dessas maiorias. São realidades díspares, que não 
toleram qualquer comunhão quanto à regra de iniciativa. 
 
B) Limitação formal objetiva: 
 1) A deliberação e votação da PEC ocorrerão em cada casa do Congresso Nacional (Sessão 
bicameral), em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, 3/5 dos votos dos 
respectivos membros (art. 60, 2°). Disto decorre ser a EC um ato complexo, pois resultado de vontades 
que estão postas num mesmo plano – a da câmera e a do Senado Federal. Ressalta-se que a participação 
presidencial no processo legislativo de emenda resume-se a apresentação da proposta, sendo 
impraticável a deliberação executiva, isto é, análise presidencial após aprovação com fim de sancionar 
ou vetá-la. Apresentada a proposta, todo o mais se desenrola no poder legislativo, PR não participa da 
fase constitutiva das ECs. 
2) A emenda constitucional é promulgada pelas mesas da câmera dos deputados e do Senado, 
conjuntamente, com o respectivo número de ordem (art. 60 §3º). A publicação é determinada pelo 
Congresso Nacional. Veja que é ausente a participação do presidente da república, que nem promulga, 
nem determina publicação das emendas. 
3) Art. 60§ 5º da CF: a matéria constante de PEC rejeitada (Expressa ou tacitamente - perda de eficácia 
por decurso de prazo) ou havida por prejudicada, não poderá ser objeto de nova proposta na mesma 
sessão legislativa. Só a partir de uma próxima sessão legislativa é que essa PEC, rejeitada, considerada 
prejudicada, poderá tramitar novamente, jamais na mesma sessão, o mesmo ocorre com as MP’s. 
Atenção matéria constante em projeto de lei pode sim ser objeto de novo projeto na mesma sessão 
legislativa, desde que haja proposta da maioria absoluta dos membros de uma das casas do Congresso 
Nacional. <Maioria absoluta: 257 deputados e 41 senadores>. 
 
 
b) Implícitas 
A doutrina se posiciona no sentidode existir limites tácitos ao poder de reforma por meio da 
interpretação e integração constitucional que protegem o projeto constitucional em sua permanência 
e essência. 
 
1. A titularidade do 
Poder constituinte 
originário e do poder 
derivado de reforma 
É impraticável que por intermédio de uma emenda constitucional o poder reformador 
estabeleça nova titularidade ao poder que ele deu origem, afinal poder originário é 
superior ao derivado e não pode ter seu titular substituído por determinação de um 
poder que ele mesmo concebeu. Também não pode o poder reformador estabelecer 
um novo titular para o exercício do poder derivado reformador, pois também estaria 
usurpando a competência do poder originário, que ele criou e entregou a atribuição 
da reforma, sem possibilidade de repasse a outrem. Reparem nesse exemplo: uma 
EC que determinasse que a partir de uma data tal a reforma constitucional seria 
realizada pelo presidente da república afigura-se como inconstitucional ao alterar o 
detentor da prerrogativa de engendrar as modificações na Constituição que é o P. 
Legislativo. 
2.Impossibilidade de 
suprimir os fundamentos 
da República Federativa 
do Brasil, descritos no art. 
1° da Constituição Federal 
Por serem valores supremos sob os quais a ordem constitucional se assenta, a 
soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do 
trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político, são insuperáveis porquanto, 
cláusulas pétreas implícitas por conferirem autenticidade material da nossa 
Constituição. 
3. ATENÇÃO! Quanto aos 
Direitos fundamentais 
NÃO individuais? 
Uma vez que o inciso IV do art. 60, §4º expressou proteção somente aos direitos e 
garantias individuais, a doutrina segue em dissenso acerca da petrificação de outros 
direitos que não os individuais, em especial no que toca aos sociais. 
1C: defende uma interpretação extensiva do mencionado inciso e tem três 
argumento centrais: 
1. a expressão utilizada pelo legislador constituinte não foi repetida em 
nenhum outro preceito, ao contrário da expressão que verdadeiramente era 
desejada, esta sim, veiculadoras de um conjunto normativo protetivo 
essencial à identidade da Constituição e reproduzida em mais de um 
momento constitucional. Então houve um equívoco técnico na construção do 
artigo, pois a real intenção do constituinte era preservar todo sistema de 
direitos fundamentais não somente os direitos e garantias individuais, mas 
sim os direitos e garantias fundamentais; 
2. De nada adianta a Constituição autorizar um regime diferenciado de 
tratamento entre direitos individuais e sociais. A Constituição brasileira não 
traça uma genérica expressa diferença entre esses direitos; 
3. Não há como negligenciar o fato de que somos um Estado Democrático 
social de direito, fica claro a partir da leitura dos princípios fundamentais 
previstos no art. 1º ao 4º da CF. Todos aptos a demonstrar uma íntima 
ligação que existe entre os direitos sociais e a nossa concepção de Estado, 
esses direitos compõem o rol de elementos essenciais à nossa Constituição 
e as cláusulas pétreas buscam proteger os preceitos essenciais à ordem 
constitucional, é automática a conclusão de que esses direitos, embora não 
prevista expressamente, seriam verdadeiros limites materiais implícitos à 
reforma constitucional. 
 
 
2C: Os que não aceitam os demais direitos fundamentais: 
 1. Se o legislador quisesse ter aplicado a petrificação dos 
direitos, o teria feito expressamente, a não inclusão é um silêncio pensado e 
ponderado. 
 2. As subdivisões que organizam o título II da Constituição 
(existem capítulos diferenciados para os direitos e deveres individuais e 
coletivos, direitos sociais, direitos de nacionalidade, políticos e dos partidos 
políticos) mostram que o texto constitucional diferencia estruturalmente 
vários direitos fundamentais, de modo que sua opção foi petrificar somente 
os individuais. 
 3. Desqualificar os direitos sociais enquanto limites materiais não 
significa desconsiderá-los enquanto destinatários de proteção jurídica 
significativa, especialmente quando forem direitos integrantes do intitulado 
mínimo existencial. Isso significa que os direitos sociais não são cláusulas 
pétreas expressas, não são abrangidos pela expressão direitos e garantias 
individuais, mas estão sob custódia de um cuidado jurídico tão qualificado 
quanto às normas petrificadas, sendo plausível defender que os direitos 
sociais integrantes do mínimo existencial sejam considerados cláusulas 
pétreas implícitas. 
→ Em conclusão, mesmo que a expressão direitos e garantias individuais seja 
interpretada em sua literalidade e não permita a leitura ampliativa de modo a abraçar 
direitos sociais, por exemplo, é certo que a doutrina pátria inclina-se pelo 
reconhecimento da eficácia mínima para os direitos sociais, resguardando, 
como cláusula pétria implícita, o mínimo existencial. Marcelo Novelino aduz que 
não se pode deixar de reconhecer, por exemplo, uma proteção qualificada aos 
direitos sociais que integram o chamado mínimo existencial, formado pelos bens e 
utilidades básicas imprescindíveis a uma vida humana com dignidade. Assim como 
a proteção assegurada aos direitos e garantias individuais decorre de sua íntima 
ligação com a dignidade da pessoa humana, direitos sociais decorrentes 
diretamente deste valor também devem ter o seu núcleo essencial preservado. 
4. Quanto ao sistema 
de governo? 
Não há consenso acerca do sistema de governo adotado pela Constituição da 
República. É que os constituintes permitiram, no artigo 2º do ADCT, que a questão 
fosse tempos depois resolvida por um plebiscito. Houve, portanto, a adoção do 
sistema presidencialista no texto originário, seguindo a tradição pátria que 
reconhece o presidencialismo desde nossa primeira Constituição republicana em 
1891. 
Mas não em definitivo: a população poderia transmudar o sistema para o 
parlamentar. A opção dos cidadãos no plebiscito foi no sentido de continuísmo do 
sistema presidencialista. Criou-se, no entanto, uma dúvida: com a opção do 
constituinte reforçada pela manifestação popular, teria um sistema de governo se 
convertido em cláusula pétria implícita? Ou seria passível de uma nova alteração 
que consagrasse o sistema Parlamento? 
Duas correntes: 
1C: entende pela possibilidade, desde que convalidada por nova consulta 
popular, para que os que representam o povo indiretamente não alterem 
sozinhos aquilo que o povo diretamente já decidiu. 
2C: haveria violação da separação dos poderes que é cláusula pétria do art. 
60 §4º,III. 
 Atenção! lembramos que a única vedação instituída pela Constituição 
refere-se a abolição ou restrição do princípio e não a releitura que se faça da 
maneira como os distintos poderes irão se relacionar. 
 
5.Quanto à Possibilidade 
de superação da forma de 
governo Republicana 
Parece-nos impossível harmonizar a forma monárquica com as cláusulas pétreas 
referentes a separação de poderes, o voto periódico e a isonomia. Nesse sentido, 
seria hoje a forma republicana de governo definitiva. A atual Constituição não incluiu 
a república expressamente entre as matérias modificáveis por emenda. Não o fez, 
porque previu um plebiscito para que o povo decidisse sobre a forma de governo: 
republicana ou monarquia constitucional. O povo, em votação direta, optou pela 
república, legitimando-a de uma vez por todas. É de se perguntar, não estando 
ela expressamente no rol das cláusulas intangíveis, pode ser objeto de 
emenda a sua abolição com a instauração da forma monárquica? 
Se a forma republicana constitui um princípio constitucional que tem que ser 
assegurado, como admitir que uma emenda constitucional possa aboli-lo? os 
fundamentos que justificam a inclusão da república entre as cláusulas intangíveis 
continuam presentes na Constituição, que só os afastou por um momento, a fim de 
que o povo decidisse sobre ela. Como o povo fez no sentido de preservação, todos 
aqueles direitos readquiriram plenaeficácia de cláusulas intocáveis. Não se trata, no 
caso, de simples limitação implícita, mas de limitação que encontra no contexto 
constitucional seus fundamentos, tanto quanto o encontraria se a limitação fosse 
expressa. 
 
6. Imutabilidade do art. 60 
da Constituição Federal 
consagrador do método 
ordenado de modificação 
constitucional (a dupla 
revisão e o poder 
constituinte evolutivo) 
 
Impossível qualquer alteração que recaia sobre o próprio art. 60 da Constituição. Em 
que pese nada nesse sentido ter sido explicitado, é certo que esse artigo é intocável, 
não podendo sofrer qualquer alteração substancial que o restrinja, promova abolição 
ou mesmo ampliação. Justifica-se em razão de que as cláusulas do dispositivo 
supramencionado traduzem arquitetura pensada e escolhida pelo próprio poder 
originário para efetivar as mudanças formais da Constituição, por isso inaceitável 
que o poder de reforma possa alterar regras as quais ele mesmo deve estrita e 
inquestionável obediência. Vale informar que é essa limitação implícita, que proíbe 
qualquer reestruturação do art. 60, que culmina na inadmissibilidade do 
procedimento conhecido como dupla revisão. Segundo este procedimento, seria 
válido alterar, num primeiro momento, a cláusula pétrea protetora, com intuito de 
suprimi-la ou restringi-la, e, na etapa seguinte, modificar a cláusula protegida. 
Não custa lembrar que há doutrina que defende o procedimento da dupla revisão 
isto é, a não imunidade à revogação/supressão das disposições consagradas das 
cláusulas pétreas de modo que estas possam ser objeto de emenda restritiva ou 
supressiva e, na ocasião seguinte, já desmanteladas as cláusulas protetoras, os 
dispositivos petrificados é que seriam vítimas do ataque abolitivo. Na visão desses 
autores, o sentido e funcionalidade das cláusulas pétreas seria o de, tão somente, 
tornar mais dificultoso e demorado possível o processo de sua superação, caso este 
seja deflagrado. Estar-se-ia, com isso conferindo maior estabilidade a certos 
conteúdos sem, contudo, torná-los insuperáveis. Assim, para os defensores da tese 
da dupla revisão, com fundamento no chamado poder constituinte evolutivo, as 
cláusulas pétreas nada mais seriam do que normas passíveis de modificação e até 
mesmo abolição, desde que um procedimento mais gravoso fosse respeitado. 
Prever essas cláusulas significaria estabelecer um agravamento da rigidez em favor 
de algumas normas. 
Na percepção de Natália Masson, o procedimento da dupla revisão parece ser o 
mesmo que aceitar um sistema constitucional ameaçado por uma desestruturação, 
com óbvia perda de identidade básica. Em suma, para evitar que o regramento 
estabelecido no art. 60 seja letra morta, e que a manobra golpista da dupla revisão 
seja efetivada, deve se reconhecer a limitação implícita aqui apresentada. 
 
 
 
 
 
 
13. OUTROS MECANISMOS DE MODIFICAÇÃO DA CF DE 88 
REVISÃO 
CONSTITUCIONAL 
Tal como o poder reformador, também o poder derivado revisor foi instituído pelo 
poder originário, lhe sendo subordinado e estando, pois, restrito e condicionado 
às regras por ele impostas. Destarte, da mesma maneira que a reforma (via regular 
e perene de modificação da Constituição) executada de modo vinculado e 
conectado aos ditamos constitucionais, o mesmo se diga da revisão, um meio 
excepcional e precário de alteração da Constituição que somente é legítimo se 
ajustado aos critérios estipulados no documento constitucional. 
O art. 3 do ADCT determinou que a revisão Constitucional somente poderia ser 
efetivada depois de passados 5 anos da promulgação da Constituição, pelo voto 
da maioria absoluta dos integrantes do Congresso, em sessão unicameral. 
Realizada a revisão a norma constitucional que previa se exauriu, ficou com sua 
aplicabilidade esgotada nesse sentido, não há que se falar na convocação de um 
novo procedimento revisional: dispositivo condicional foi claro ao mencionar a 
revisão, isto é, uma única revisão agora já feita e encerrada. Há na doutrina, em 
contrapartida, quem defenda a viabilidade de EC que altere o art. 3 do ADCT, 
propiciando a nova revisão. Essa alteração, porém, só se legitimaria se grandiosas 
e substâncias mudanças fossem percebidas na sociedade, de modo que 
necessário se tornaria uma revisão global do texto, com o fito de adequar a CF à 
nova realidade assim normatizada. Natália Masson se posiciona em sentido 
oposto: ‘‘parece o poder originário somente consentiu com uma única convocação 
do procedimento revisional, se este foi iniciado de modo precipitado e esse 
resultado foi inexpressivo, não há nada mais que possa fazer. Em conclusão, 
qualquer eventual EC que permita nova revisão nos parecerá uma absurda e 
fraudulenta tentativa de ferir a vontade do poder constituinte. 
 
 
MUTAÇÃO 
CONSTITUCIONAL/PODER 
CONSTITUTINTE DIFUSO 
 
Diferentemente da reforma e da revisão constitucional, temos um mecanismo 
informal de mudança, que não origina quaisquer alterações no texto da 
Constituição, que permanece íntegro. As modificações perpetradas por este 
procedimento são de ordem interpretativa: o texto segue intacto, mais o que se 
extrai dele é algo novo, que sofre os impactos renovadores da releitura; o texto é 
o mesmo, mas o sentido que ele possui se altera. Realizadas pelo poder difuso 
(e a doutrina prefere a expressão poder constituinte difuso). Um poder também 
derivado, mas não escrito, as mutações operam um verdadeiro renascimento de 
alguns dispositivos ao permitirem que este sejam relidos. O poder é intitulado 
difuso porque nunca se sabe de modo preciso quando e como se iniciou o 
processo de reestruturação e implementação das informais transformações 
hermenêuticas que vão rejuvenescer a Constituição, adaptando as mudanças 
sociais que o dinamismo da vida fato que ocasionou. Nos dizeres de José Afonso 
da Silva: ‘‘a mutação consiste no processo não formal de mudança das 
constituições rígidas, por via da tradição, dos costumes, de alterações 
empíricas e sociológicas, pela interpretação judicial e pelo ordenamento de 
estatutos que afetem a estrutura orgânica do estado.’’ 
Como exemplo podemos citar a passagem do STF: art. 5 inciso 46 da 
Constituição, no sentido da vedação a progressão de regime dos crimes 
hediondos, para acatar a inconstitucionalidade dessa proibição.

Continue navegando