Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR Victor Alves de Oliveira Organização Autore(a)s: Andressa Nathanna Castro Damasceno Beatriz Souza Santos Conceição Nahana Alves de Macêdo Francisca Camila Batista Lima Ianca Passos de Sousa Jaíla Maria Feitosa Karine Rodrigues Ferreira Leyla Lumara Cabral Soares Pimentel Maria Rosiany Sousa Moreira Marília Bezerra Rodrigues Thayse Wilma Nogueira de Oliveira Victor Alves de Oliveira 2020 Conselho Editorial Dr. Clívio Pimentel Júnior - UFOB (BA) Dra. Edméa Santos - UFRRJ (RJ) Dr. Valdriano Ferreira do Nascimento - UECE (CE) Drª. Ana Lúcia Gomes da Silva - UNEB (BA) Drª. Eliana de Souza Alencar Marques - UFPI (PI) Dr. Francisco Antonio Machado Araujo – UFDPar (PI) Drª. Marta Gouveia de Oliveira Rovai – UNIFAL (MG) Dr. Raimundo Dutra de Araujo – UESPI (PI) Dr. Raimundo Nonato Moura Oliveira - UEMA (MA) Dra. Antonia Almeida Silva - UEFS (BA) GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR © Victor Alves de Oliveira Editoração Acadêmica Editorial Diagramação Danilo Silva Capa Acadêmica Editorial Reprodução e Distribuição CAJU: Educação, Tecnologia e Editora DOI: 10.29327/523138 Link de acesso: https://doi.org/10.29327/523138 Ficha Catalográfica elaborada de acordo com os padrões estabelecidos no Código de Catalogação Anglo – Americano (AACR2) Bibliotecária Responsável: Nayla Kedma de Carvalho Santos – CRB 3ª Região/1188 Guia prático de terapia nutricional enteral no âmbito hospitalar e domiciliar / Victor Alves de Oliveira, organizador. – Parnaíba, PI: Acadêmica Editorial, 2020. E-book. ISBN: 978-65-88307-28-1 1. Nutrição enteral. 2. Alimentação – Necessidades especiais. 3. Suplementos nutricionais. I. Oliveira, Victor Alves de (Org.). II. Título. CDD: 612.3 G943 PREFÁCIOPREFÁCIO O presente Manual de Terapia Nutricional Enteral é um guia prático que reúne conceitos, recomendações e abordagens de orientações nutricionais, boas práticas de manipulação, composição, indicações, tipos e sugestões de dietas e preparações. Sua distribuição acontece em 7 capítulos, de forma objetiva e acessível, trazendo informações pertinentes e essenciais nesta área. Este manual pode ser utilizado nos serviços de saúde, por profissionais habilitados, com o objetivo de facilitar e direcionar a tomada de decisões na prática hospitalar, e também na assistência nutricional e clínica ao paciente em seu domicílio. Esta obra, dedica-se às pessoas que possuem necessidades especiais de alimentação, e a todos os profissionais de saúde que atuam com terapia nutricional em diferentes pontos da rede de atenção à saúde. Assim, espera- se que essa ferramenta venha apoiar e contribuir para um manejo adequado, seguro, rápido, respeitando as particularidades e garantindo integralidade na assistência aos indivíduos. ORGANIZADOR Victor Alves de Oliveira AUTORES Andressa Nathanna Castro Damasceno, Bacharelado em Nutrição – UFPI; Especialista em Nutrição Clínica, Funcional e Prescrição de Fitoterápicos – FUNESO; Mestra em Ciências e Saúde – UFPI; Beatriz Souza Santos, Bacharelado em Nutrição – UFPI; Especialista em Nutrição Clínica e Funcional – FUNESO; Residência em Saúde da Família e Comunidade - ESP/CE; Residente em Nutrição Clínica em Alta Complexidade – HU/UFPI Conceição Nahana Alves de Macêdo, Bacharelado em Nutrição - UFPI Francisca Camila Batista Lima, Bacharelado em Nutrição - UFPI Ianca Passos de Sousa, Bacharelado em Nutrição – UFPI; Pós graduanda em Nutrição Esportiva - Coimbra Academy Jaíla Maria Feitosa, Bacharelado em Nutrição – UFPI; Pós-graduanda em Nutrição clínica, funcional e fitoterápia - Faculdade Internacional do Delta Karine Rodrigues Ferreira, Bacharelado em Nutrição - UNINASSAU; Residente em Cuidados Intensivos do Hospital Universitário da UFPI/Ebserh. Leyla Lumara Cabral Soares Pimentel, Bacharelado em Nutrição-UFPI; Pós- graduanda em Nutrição Clínica e Metabolismo- NUTMED; Pós-graduanda em Nutrição Clínica, Ortomolecular, Nutrição Funcional e Fitoterapia-NUTMED. Maria Rosiany Sousa Moreira, Bacharelado em Nutrição – UFPI, Residente em Saúde da Família e Comunidade pela Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE). Marília Bezerra Rodrigues, Graduada em Serviço Social pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE); Especialização em Gestão Pública em Saúde pela Universidade Estadual do Ceará (UECE); Residente em Saúde da Família e Comunidade pela Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE). Thayse Wilma Nogueira de Oliveira, Graduação em Tecnologia de Alimentos CENTEC-CE; Bacharelado em Nutrição – UFPI; Especialista em Nutrição Clínica, Funcional e Fitoterápicos – FUNESO; Residência em Nutrição Clínica pelo Hospital dos Servidores do Estado de Pernambuco vinculado a Universidade Federal de Pernambuco (HSE/UFPE). Victor Alves de Oliveira, Bacharel em Nutrição – UFPI; Especialista em Nutrição Clínica, Funcional e Prescrição de Fitoterápicos – FUNESO; Mestre em Ciências e Saúde – UFPI; Doutorando em Alimentos e Nutrição – UFPI. REVISORES TÉCNICOS Ana Lina de Carvalho Cunha Sales, Bacharelado em Nutrição – UFPI, Especialista em Controle de Qualidade dos Alimentos - IFPI. Especialista em Nutrição Parenteral e Enteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral. Mestre e Doutora em Alimentos e Nutrição - UFPI. Unidade de Nutrição Clínica do Hospital Universitário do Piauí. Andressa Nathanna Castro Damasceno, Bacharel em Nutrição – UFPI; Especialista em Nutrição Clínica, Funcional e Prescrição de Fitoterápicos – FUNESO; Mestra em Ciências e Saúde – UFPI; COLABORADORAS Ilene Maria Pereira da Silva Fernanda Lima dos Santos Denise Bruna Silva Kaoma Suzamar Silva Lacerda Maria Leidinane Santos Gonçalves Marília Gomes de Sousa Bezerra; Marina Maria de Oliveira Marta Regina de Sá Bezerra Pinheiro Roberta Borges Costa Samandra Maria de Moura Vanici Maria Costa Sá Andressa Nathanna Castro Damasceno Agradecemos às Nutricionistas do Hospital Regional Justino Luz que apoiaram a construção deste guia prático de nutrição enteral, principalmente no tocante as dietas artesanais. SUMÁRIOSUMÁRIO PREFÁCIOPREFÁCIO ................................................................................................................. ................................................................................................................. 55 CAPÍTULO 1CAPÍTULO 1 NUTRIÇÃO ENTERAL: CONTEXTO GERALNUTRIÇÃO ENTERAL: CONTEXTO GERAL ......................................................... ......................................................... 1111 Karine Rodrigues Ferreira Beatriz Souza Santos Thayse Wilma Nogueira de Oliveira CAPÍTULO 2CAPÍTULO 2 NUTRIÇÃO ENTERAL: PRINCÍPIOS BÁSICOS NUTRIÇÃO ENTERAL: PRINCÍPIOS BÁSICOS ................................................... ...................................................1515 Maria Rosiany Sousa Moreira Conceição Nahana Alves de Macedo Victor Alves de Oliveira CAPÍTULO 3CAPÍTULO 3 DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS .......................................................... .......................................................... 2323 Beatriz Souza Santos Karine Rodrigues Ferreira Thayse Wilma Nogueira de Oliveira Victor Alves de Oliveira CAPÍTULO 4CAPÍTULO 4 DIETAS ENTERAISARTESANAISDIETAS ENTERAIS ARTESANAIS ....................................................................... .......................................................................3333 Conceição Nahana Alves de Macedo Francisca Camila Batista Lima Ianca Passos de Sousa Jaíla Maria Feitosa Leyla Lumara Cabral Soares Pimentel Maria Rosiany Sousa Moreira Victor Alves de Oliveira CAPÍTULO 5CAPÍTULO 5 SUPLEMENTOS NUTRICIONAIS EM NUTRIÇÃO ENTERALSUPLEMENTOS NUTRICIONAIS EM NUTRIÇÃO ENTERAL ............................ ............................4848 Thayse Wilma Nogueira de Oliveira Maria Rosiany Sousa Moreira Karine Rodrigues Ferreira Beatriz Souza Santos CAPÍTULO 6CAPÍTULO 6 BOAS PRÁTICAS PARA MANIPULAÇÃO DE NUTRIÇÃO ENTERAL BOAS PRÁTICAS PARA MANIPULAÇÃO DE NUTRIÇÃO ENTERAL ............... ...............6060 Conceição Nahana Alves de Macedo Francisca Camila Batista Lima Ianca Passos de Sousa Jaíla Maria Feitosa Leyla Lumara Cabral Soares Pimentel CAPÍTULO 7CAPÍTULO 7 A DIETA ENTERAL COMO UM DIREITO A DIETA ENTERAL COMO UM DIREITO ............................................................. .............................................................6464 Marília Bezerra Rodrigues Andressa Nathanna Castro Damasceno FICHAS TÉCNICASFICHAS TÉCNICAS ............................................................................................... ............................................................................................... 6767 LISTA DE MEDIDAS CASEIRASLISTA DE MEDIDAS CASEIRAS ........................................................................... ...........................................................................6868 ÍNDICE REMISSIVOÍNDICE REMISSIVO ............................................................................................... ...............................................................................................9898 10 CAPÍTULO 1 - NUTRIÇÃO ENTERAL: CONTEXTO GERAL CAPÍTULO 1CAPÍTULO 1 NUTRIÇÃO ENTERAL: CONTEXTO GERAL NUTRIÇÃO ENTERAL: CONTEXTO GERAL Karine Rodrigues Ferreira Beatriz Souza Santos Thayse Wilma Nogueira de Oliveira O quadro de desnutrição está diretamente associado a maior hospitalização e menor taxa de sobrevida, além de elevados riscos de desenvolver complicações relacionadas à internação. Quanto maior for o período de permanência hospitalar, maior será o risco de agravar a desnutrição, criando um ciclo vicioso (KANG, 2018). Em pacientes que precisam restabelecer ou manter o estado nutricional e são incapazes de tolerar a ingestão por via oral deve-se avaliar outras opções de entrega de nutrientes, como a Terapia de Nutrição Enteral (TNE) com oferta via sonda nasoentérica ou ostomias. A TNE há muito tempo é considerada o padrão de atendimento para suporte nutricional entre pacientes incapazes de atingir um bom aporte calórico-proteico por via oral (FERREIRA, 2007). Conforme Waitzberg (2009), a TNE é um conjunto de procedimentos terapêuticos que visam reconstituir ou manter o estado nutricional de um indivíduo por meio da oferta de alimentos ou nutrientes para fins especiais, caracterizando-se como uma prática multiprofissional especializada seja em hospitais, ambulatório ou no domicílio. A RDC nº 21 do Ministério da Saúde traz a complementação que a TNE pode ser utilizada de forma exclusiva ou complementar na alimentação daqueles com limitações da ingestão, digestão, absorção ou metabolização de alimentos convencionais ou de pacientes que possuem necessidades nutricionais específicas determinadas por sua condição clínica, sempre sob orientação médica ou de nutricionista. O suporte nutricional enteral iniciado no momento correto e oportuno traz benefícios tanto nutricionais quanto não nutricionais, dentre os quais a prevenção da desnutrição e diminuição do processo catabólico, melhora da capacidade de cicatrização, função imunológica e na recuperação do estado funcional, associados à redução de infecção hospitalar e complicações gerais, melhora da qualidade de vida, diminuição da mortalidade, menor tempo de internação e redução dos custos hospitalares. Os efeitos benéficos da Nutrição 11 GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR Enteral (NE) precoce estão bem documentados em vários estudos que envolvem pacientes em doenças críticas, incluindo trauma, queimaduras, grandes ferimentos, grandes cirurgias, pancreatite aguda e câncer de cabeça e pescoço (MCCLAVE et al., 2016; BEZERRA, CABRAL, 2018; CECENARRO et al., 2018; VALENTINI, 2019; WEI, et al., 2020). A TNE é uma terapia complexa que exige um gerenciamento considerável para garantir a oferta segura e oportuna de nutrientes e evitar complicações. No ambiente hospitalar a limitação financeira e disponibilidade de pessoal qualificado podem ser fatores dificultadores na efetivação da terapia, já no ambiente doméstico as dificuldades podem ser acentuadas, pois, os pacientes e seus familiares são responsáveis pelo gerenciamento da terapia, incluindo a necessidade de lidar com os problemas que surgem. Pensando nisso, esse manual como um guia prático, vem disponibilizar de forma objetiva, características básicas das dietas enterais proporcionando aos profissionais de saúde habilitados, material de apoio na prática diária da TNE, maior flexibilidade, agilidade e segurança na prescrição dietoterápica e aplicabilidade das formulações, com o objetivo de ilustrar e facilitar a tomada de decisão na prática clínica diária. Este trabalho traz formulações dietéticas caseiras, nutricionalmente equilibradas, de fácil preparo, compostas de alimentos convencionais e predominantemente regionais, repercutindo em 12 CAPÍTULO 1 - NUTRIÇÃO ENTERAL: CONTEXTO GERAL baixo custo financeiro e descrição de padrões de formulações industrializadas disponíveis hoje no mercado. Ressaltamos que este manual não substitui os protocolos institucionais relativos a NE. Referências AANHOLT, D. P. J.; MATSUBA, C. S. T.; DIAS, M. C. G.; SILVA, M. L. T.; CAMPOS, A. C. L.; AGUILAR-NASCIMENTO, J. E. Diretriz Brasileira de Terapia Nutricional Domiciliar. BRASPEN J., v. 33 (Supl 1), p. 37-46, 2018. BEZERRA, G. K. A.; CABRAL, P. C. Nutrição enteral precoce em pacientes críticos e sua associação com variáveis demográficas, antropométricas e clínicas. BRASPEN J. n. 33; v.4; p. 446-50. 2018 BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Diretoria Colegiada – RDC nº 21 de 13 de maio de 2015. Dispõe sobre o regulamento técnico de fórmulas para nutrição enteral. Diário Oficial da União, Brasília, DF, Seção 1, 13 de maio de 2015. Disponível em:< http://portal.anvisa. gov.br/documents/33880/2568070/RDC_21_2015.pdf/df60e69d-974d-4204- 9fe7-74e8943a135a>. Acesso em julho de 2020. CECENARRO, R. R. et al. Nutrición enteral temprana en pacientes con pancreatitis agudas leves: estudio clínico randomizado [Effects of early enteral nutrition in patients with mild acute pancreatitis.]. Rev Fac Cien Med Univ Nac Cordoba. 75(4), p.240-247. 2018. CHEMIN, S. M.; MURA J. D. P. Tratado de Alimentação Nutrição e Dietoterapia. 2°ed. São Paulo: ed. ROCA, 2010. FERREIRA, I.K.C. Terapia nutricional em Unidade de Terapia Intensiva. Rev. Bras. Ter. Intensiva, São Paulo , v. 19, n. 1, p. 90-97, mar. 2007 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-507X2007000 100012&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 25 jul. 2020. KANG, M.C.; KIM, J.H.; RYU, S.W.; et al. Prevalence of Malnutrition in Hospitalized Patients: a Multicenter Cross-sectional Study. J Korean Med Sci. 33(2):e10. 2018. MCCLAVE, S.; TAYLOR, B.; MARTINDALE, R.G.; et al. Society of Critical Care Medicine; American Society for Parenteral and Enteral Nutrition. Guidelines for the Provision and Assessment of Nutrition Support Therapy in the Adult Critically Ill Patient: Society of Critical Care Medicine (SCCM)and American Society for Parenteral and Enteral Nutrition (A.S.P.E.N.). JPEN J Parenter Enteral Nutr. n.40, v.2, p.159-211. 2016. 13 GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR VALENTINI, M.; SEGANFREDO, F.B.; FERNANDES, S.A. Pediatric enteral nutrition therapy for burn victims: when should it be initiated?. Rev Bras Ter Intensiva.; 31(3), p.393-402. 2019. WAITZBERG, Dan. L. Nutrição oral, enteral e parenteral na pratica clínica. 5. Ed. – Rio de Janeiro : Atheneu, 2017. WEI J, WU J, MENG L, et al. Effects of early nutritional intervention on oral mucositis in patients with radiotherapy for head and neck cancer. QJM.113(1), p.37-42. 2020. 14 CAPÍTULO 2 - NUTRIÇÃO ENTERAL: PRINCÍPIOS BÁSICOS CAPÍTULO 2CAPÍTULO 2 NUTRIÇÃO ENTERAL: PRINCÍPIOS BÁSICOS NUTRIÇÃO ENTERAL: PRINCÍPIOS BÁSICOS Maria Rosiany Sousa Moreira Conceição Nahana Alves de Macedo Victor Alves de Oliveira 2.1 Introdução e Contexto de Aplicação A utilização de nutrição enteral tem demonstrado muitos benefícios para os pacientes, como: modulação imunológica, manutenção da arquitetura e microbiota intestinal, redução de complicações clínicas e aumento da sobrevida. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) propõe uma definição abrangente para TNE como segue: “alimento para fins especiais, com ingestão controlada de nutrientes, na forma isolada ou combinada, de composição definida ou estimada, especialmente formulada e elaborada para uso por sondas ou via oral, industrializadas ou não, utilizada exclusiva ou parcialmente para substituir ou complementar a alimentação oral em pacientes desnutridos ou não, conforme suas necessidades nutricionais, em regime hospitalar, ambulatorial ou domiciliar, visando a síntese ou manutenção de tecidos, órgãos e sistemas” (BRASIL, 2000). A terapia nutricional permite atingir as necessidades proteico-calóricas mínimas de um indivíduo e por isso tem se tornado essencial na prática clínica. Basicamente, uma dieta enteral deve ser um composto balanceado de proteínas, carboidratos, lipídios, fibras, eletrólitos, vitaminas e minerais. A TNE passa a ser essencial quando a ingestão oral é insuficiente, mas vale ressaltar que sua aplicação só é possível quando o Trato Gastrointestinal (TGI) estiver estrutural e funcionalmente íntegro. 2.2 Indicações e Contraindicações A TNE hospitalar ou domiciliar é indicada para pacientes com o trato digestório total ou parcialmente funcionante e uma ingestão alimentar igual ou menor que 60% diante da necessidade nutricional do paciente, sem condições de se alimentar por via oral (WAITZBERG et al., 2017). 15 GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR 2.3 Vias de Acesso e Métodos de Administração A nutrição enteral pode ser administrada por sondas nasoenterais ou por ostomias, nas posições do estômago ou intestino delgado, a escolha da melhor via ocorre de acordo com a doença do paciente e com o tempo que será necessário a alimentação por dieta enteral. 16 CAPÍTULO 2 - NUTRIÇÃO ENTERAL: PRINCÍPIOS BÁSICOS Sempre que possível à posição gástrica deve ser utilizada, entre suas vantagens podemos citar que o estômago suporta melhor que o intestino delgado uma variedade de fórmulas, as sondas nasogástricas são mais fáceis de posicionar, normalmente aceita grandes sobrecargas osmóticas, tem uma enorme capacidade de armazenamento e geralmente aceita as refeições intermitentes. A localização da extremidade distal da sonda na posição do jejuno é escolhida principalmente quando há o risco de aspiração. De acordo com a Diretriz Brasileira de Terapia Nutricional no Paciente Grave, a recomendação da TNE utilizando a posição pós-pilórica, está indicada apenas para pacientes com alto risco de aspiração, e para os intolerantes a administração da dieta no estômago. O risco de aspiração deve ser avaliado considerando a doença de base e as condições clínicas de cada paciente. O posicionamento gástrico ou pós-pilórico não interfere na broncoaspiração, mortalidade hospitalar e impacto no tempo de internação. Em relação aos métodos de administração, podem ser feitos por administração intermitente ou contínua dependendo do caso e necessidades do paciente. Segundo as recomendações da Diretriz Brasileira de Terapia Nutricional no Paciente Grave é sugerido que pacientes com risco elevado de aspiração a oferta da nutrição enteral deve ser realizada por difusão contínua. 17 GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR 18 CAPÍTULO 2 - NUTRIÇÃO ENTERAL: PRINCÍPIOS BÁSICOS 2.4 Vantagens da Nutrição Enteral Precoce Em pacientes com impossibilidade de alimentação por via oral, é sugerido o início da TNE precocemente, dentro de 24 a 48 horas. Segundo as diretrizes da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN) o início precoce da Terapia de Nutrição Enteral visa: • Prevenir contra o impacto da desnutrição em pacientes hospitalizados (piora na cicatrização, maior tempo de hospitalização, aumento das complicações infecciosas, mortalidade e aumento nos custos com a saúde); • Manutenção da integridade funcional e trofismo do trato gastrointestinal; • Manutenção do fluxo sanguíneo local e a liberação de hormônios e agentes endógenos (colecistocinina, gastrina, ácidos biliares, etc.); • Impedir a quebra de barreira e o aumento da permeabilidade das células epiteliais; • Manutenção do funcionamento do tecido linfoide intestinal e a liberação de IgA; • Redução do hipermetabolismo e catabolismo associados à resposta inflamatória sistêmica; • Atenuar a gravidade da doença crítica. 2.5 Complicações em TNE A nutrição enteral é relativamente segura e suas complicações podem ser evitadas ou corrigidas. As complicações da terapia enteral podem ser classificadas como: gastrointestinais (diarreia, constipação, náuseas, flatulência e distensão abdominal), metabólicas (distúrbios hidroeletrolíticos e síndrome de realimentação), mecânicas (oclusão, deslocamento, sangramento e ruptura da sonda), infeciosas (infecção do estoma da ostomia), respiratórias (refluxo/ aspiração) e psicológicas. 19 GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR 2.6 Cuidados Básicos da Equipe Multiprofissional em TNE A atuação da equipe multiprofissional é essencial para o sucesso da TNE. A tomada de decisões e o acompanhamento de um paciente que necessita de nutrição enteral deve ser feita pelo médico, fonoaudiólogo, nutricionista, enfermeiro e fisioterapeuta que atendem o mesmo. Assim, a atuação das equipes multiprofissionais de assistência à saúde, seja no âmbito hospitalar ou domiciliar, é uma estratégia que tem ganhado força nos últimos anos no Brasil. Os resultados são sempre positivos quando se tem empenho da equipe e insumos/condições de trabalho suficientes para execução das estratégias de terapia traçadas. Cada profissional desta equipe tem funções básicas que são essenciais para o sucesso desta terapia. Nutricionista O profissional de nutrição deve planejar e orientar todos os cuidados relativos a preparação das refeições ofertadas. Além do planejamento básico em relação a valores calóricos, seja no âmbito hospitalar ou domiciliar, este profissional deve cuidar para que todo o processo siga as boas práticas recomendadas (ver capitulo 6). Orientar sobre a preparação e conservação das dietas ofertadas é essencial para os colaboradores ou familiares que manipulam aquele alimento. Tal ação reduz intercorrências indesejáveis que possam afetar o paciente e reduzir o sucesso da terapia. Fonoaudiólogo É função do fonoaudiólogo realizar avaliação da biomecânica de deglutição, diagnóstico e tratamento fonoaudiológico, bem como o gerenciamento das disfagias orofaríngeas. Este profissional é responsável pela prescrição quanto à segurança da deglutição e à consistência de dieta por via oral. Com base em seu parecer, pode ser preparado um planejamentopara desmame e retirada da sonda quando possível. Cabe ainda estabelecer o plano terapêutico e realizar o tratamento das desordens da deglutição/disfagia orofaríngea. Enfermeiro Cabe ao enfermeiro orientar sobre a necessidade de elevar a cabeceira (30 e 45 graus) ou manter o paciente sentado durante a administração da dieta, além de conservar o paciente nesta posição de 20 a 30 minutos após a infusão da dieta. É responsabilidade do enfermeiro, realizar e/ou orientar a família sobre a administração da dieta. Todos os cuidados e procedimentos básicos para administração devem ser realizados para garantir o sucesso da administração, evitando qualquer intercorrência. Vale ressaltar que verificar o posicionamento da sonda antes de iniciar o procedimento é essencial para que se tome as medidas cabíveis para o reposicionamento da mesma. 20 CAPÍTULO 2 - NUTRIÇÃO ENTERAL: PRINCÍPIOS BÁSICOS Médico ou Farmacêutico Todas as administrações de prescrições farmacológicas devem ser orientadas pelo médico ou farmacêutico que acompanha o paciente. Sempre que possível, é essencial dar preferência aos medicamentos líquidos, porém, caso o medicamento se apresente na forma de comprimidos/drágeas, o mesmo deve ser triturado ao ponto de pó e adicionado um pouco de água para que seja aspirado e administrado via com o auxílio de uma seringa. Os medicamentos devem ser infundidos lentamente e a sonda deve ser lavada com água antes e depois da administração. Cabe ao médico avaliar as condições clínicas do paciente para definir a localização da extremidade distal do cateter (gástrico ou entérico), bem como estimar o tempo que o paciente fará uso de terapia nutricional enteral. Com base nestas informações a decisão para uso de cateteres ou ostomias é realizada. Referências AANHOLT, D. P. J.; MATSUBA, C. S. T.; DIAS, M. C. G.; SILVA, M. L. T.; CAMPOS, A. C. L.; AGUILAR-NASCIMENTO, J. E. Diretriz Brasileira de Terapia Nutricional Domiciliar. BRASPEN J., v. 33 (Supl 1), p. 37-46, 2018. ARAÚJO, I. S.; SANTOS, H. V. D. Colaboração de Fabrício Rodrigo Pires Cagliari...[et al]. Guia multiprofissional de orientação para pacientes em uso de nutrição enteral domiciliar. Petrolina: HEWAB, 2017. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária, Resolução nº 63, de 06 de julho de 2000. Aprova o regulamento técnico para fixar os requisitos mínimos exigidos para terapia nutricional enteral. Diário Oficial da União da República Federativa do Brasil Brasília, 07 jul. 2000. CASTRO, M. G.; RIBEIRO, P. C.; SOUZA, I. A. O.; CUNHA, H. F. R.; SILVA, M. H. N.; ROCHA, E. E. M.; CORREIA, F. G.; LOSS, S. H.; FRANCO-FILHO, J. W.; NUNES, D. S. L.; GONÇALVES, R. C.; MATOS, L. B. N.; CENICCOLA, G. D.; DIOGO OLIVEIRA TOLEDO, D. O. Diretriz Brasileira de Terapia Nutricional no Paciente Grave. BRASPEN J., v. 33 (Supl 1), p. 02-36, 2018. CONSELHO FEDERAL DE FONOAUDIOLOGIA Parecer CFFa nº 40, de 18 de fevereiro de 2016. ”Dispõe sobre a participação do Fonoaudiólogo na Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional”. CUPPARI, L. Guia de nutrição: clínica no adulto. 3. ed. Barueri. São Paulo: Manole, 2014. 21 GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. HDT-UFT. Protocolo de Indicação e Desmame de Terapia Nutricional Enteral / EQUIPE MULTIPROFISSIONAL DE TERAPIA NUTRICIONAL . 001 / 2017 – Versão 1.0 WAITZBERG, Dan. L. Nutrição oral, enteral e parenteral na pratica clínica. 5. Ed. – Rio de Janeiro : Atheneu, 2017. 22 CAPÍTULO 3 - DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS CAPÍTULO 3CAPÍTULO 3 DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS Beatriz Souza Santos Karine Rodrigues Ferreira Thayse Wilma Nogueira de Oliveira Victor Alves de Oliveira Para pacientes que necessitam de nutrição enteral, as dietas industrializadas exigem o mínimo de manipulação prévia à administração, assegurando maior segurança microbiológica quando comparada às dietas artesanais. São classificadas de acordo com a forma de apresentação, a saber: 23 GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR Um aspecto importante a ser considerado é que as dietas industrializadas possuem a consistência ideal para administração na sonda, o que reduz os riscos de obstrução. Se necessário, essas formulações permitem a inserção de módulos de proteína, carboidrato, fibras ou outros nutrientes necessários para atingir as metas estabelecidas para o paciente. Entretanto, no caso das dietas com sistema fechado, uma vez violado o sistema, o mesmo passará a ter as mesmas características que o sistema aberto, com os mesmos riscos de contaminação. Existem diversas formulações para uso em nutrição enteral, a maioria das dietas disponíveis no mercado objetivam manter ou melhorando o estado nutricional dos indivíduos, para tanto as com formulações nutricionalmente completas, ditas “dietas padrão” suprem essa necessidade. Entretanto, alguns pacientes têm necessidades nutricionais mais específicas e, dessa forma, se beneficiam de alterações na composição estabelecida para fórmula padrão, que provoque ausência, redução ou otimização dos nutrientes, adição ou retirada de algumas substâncias específicas (Exemplo: dietas ricas ou isentas de fibras, lácteas ou isentas de lactose, hidrolisadas ou imunomoduladoras) esse objetivo mais específico é atingido através de dietas especializadas ou modificadas. 24 CAPÍTULO 3 - DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS Ao escolher o tipo de dieta a ser ofertada é interessante considerar também a osmolaridade da fórmula a ser ofertada, conforme a tabela 1, principalmente quando a sonda tem posição pós-pilórica, pois soluções hiperosmolares podem resultar em diarreia. Os componentes nutricionais têm influência direta na osmolaridade da solução, a exemplo, os monossacarídeos e os aminoácidos cristalinos aumentam, e os peptídeos e o cloreto de sódio NaCl tendem a diminuir. Os lipídeos não influenciam a osmolaridade, pois não formam solução. Fórmulas contendo glicose tem efeito osmótico maior que aquelas que contem amido. Tabela 1 - Classificação das dietas industrializadas de acordo com a osmolaridade. Fonte: Adaptada de Waitzberg, 2017; Chemin, 2010. Com relação ao aporte e tipo de substrato calórico, a condição clínica é que deverá nortear a escolha, por exemplo, no caso de necessidade de controle do volume oferecido, uma fórmula com maior densidade energética (2,0kcal/mL) poderá ser utilizada, entretanto, fórmulas com maiores densidades calóricas podem diminuir a taxa de esvaziamento gástrico. As dietas industrializadas são classificadas de acordo com a densidade calórica (DC) conforme a tabela 2, podendo estes valores de DC variar de <0,6 a 5 kcal/ml. Tabela 2 – Classificação das dietas industrializadas de acordo com a Densidade Calórica (DC) Fonte: Adaptada de Waitzberg, 2017; Chemin, 2010. Classificação Valores de referência Hipotônica 280-300 Isotônica 300-350 Levemente hipertônica 350-550 Hipertônica 550-750 Acentuadamente hipertônica >750 Categorização da DC Valores de DC (kcal/ml) Categorização das fórmulas Muita baixa <0,6 Acentuadamente hipocalórica Baixa 0,6 - 0,8 Hipocalórica Padrão 0,9 – 1,2 Normocalórica Alta 1,3 – 1,5 Hipercalórica Muito alta >1,5 Acentuadamente hipercalórica 25 GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR 3.1 Recomendação Hídrica O acompanhamento da oferta hídrica é essencial, principalmente em situações que aumentam a perda hídrica, como febre, diarreia, fístulas e queimaduras que necessitam de reposição. Cabe lembrar que a quantidade de água veiculada nas formulações enterais varia em torno de 690 a 860 ml/ litro de dieta. Dietas com maiores densidades calóricas apresentam menores volumes de água como mostra a tabela 3. Tabela 3 - Conteúdo de água das fórmulas enterais Fonte: Adaptado de Waitzberg, 2017. A água presentenas formulações deve ser considerada, relacionando- se com a recomendação do total de líquidos que deve ser administrado. As recomendações podem variar entre 25 e 40ml por quilo de peso por dia considerando um indivíduo saudável. O Quadro 1 mostra algumas das bases de cálculos utilizados para calcular a necessidade hídrica. Decidido o volume final de dieta enteral a ser infundida, bem como o volume de líquido conforme a necessidade hídrica, a água filtrada deve ser acrescentada por sonda, em intervalos iguais aos da administração da dieta, para limpeza da sonda e, se necessário, para atingir as necessidades hídricas. Quadro 1 – Diferentes bases de cálculos de necessidades hídricas Fonte: Adaptado de Waitzberg, 2017. Densidade calórica (Kcal/ml da fórmula) Conteúdo de água (ml/litro da fórmula) Conteúdo de água (%) 0,9 – 1,2 800-860 80-86 1,5 760-780 76-78 2,0 690-710 69-71 1500ml para os primeiros 20kg + 20ml/kg acima 30-35 ml/kg (média para adultos) 30-35 ml/kg (18-64 anos) 30 ml/kg (55-65 anos) 25 ml/kg (>65 anos) RDA: 1 ml/kcal 1 ml/kcal + 100ml/g de nitrogênio ofertado 26 CAPÍTULO 3 - DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS 3.2 Escolha da Fórmula A partir da determinação das recomendações de energia e proteínas, determina-se qual a formulação, considerando a densidade energética, concentração proteica e consequentemente o volume diário. A escolha da fórmula enteral mais adequada deve ser considerar também a via de administração: gástrica ou pós-pilórica, o posicionamento gástrico permite maior flexibilidade com relação a osmolaridade, enquanto que no posicionamento pós- pilórico as isotônicas são mais bem toleradas. Para a seleção adequada de uma dieta enteral alguns aspectos devem ser considerados: 1. Capacidade absortiva e digestiva; 2. Condições fisiopatológicas; 3. Capacidade da fórmula para satisfazer as necessidades nutricionais; 4. Composição da fórmula considerando percentual de proteínas, lipídeos, carboidratos e fibras, nutrientes específicos, bem como a qualidade e forma dos nutrientes ofertados; 5. Densidade energética e osmolaridade (especialmente quando o paciente apresentar disfunção do trato gastrointestinal); 6. Teor de sódio, potássio, magnésio e fósforo da fórmula; 7. Aceitação e tolerabilidade; 8. Rentabilidade da fórmula, relação custo-benefício e condição socioeconômica do paciente e da família. A tabela 4 descreve a composição de algumas dietas enterais industrializadas disponíveis no mercado. 27 GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR D IE TA / L A B O R A TÓ R IO / M A R C A A PR ES EN TA Ç Ã O / C A R A C TE R ÍS TI C A D EN S ID A D E C A LÓ R IC A E O S M O LA R ID A D E FO N TE D E C H PR O TE ÍN A S IN D IC A Ç Ã O Q N T FO N TE G lu ce rn a 1. 0/ A B B O TT S is te m a fe ch ad o 10 00 m L H ip er ca ló ric a e hi pe rp ro te ic a 1.0 kc al /m L 61 4 m O sm /L M al to de xt rin a (6 3% ), Po lis sa ca ríd eo s de so ja (1 7% ) e F ru to se (2 0% ). C ar bo id ra to d e le nt a ab so rç ão e b ai xo ín di ce g lic êm ic o 42 ,5 g/ L C as ei na to d e C a/ N a (1 00 % ) Pa ci en te c om d ia be te s tip o 1 e 2 . T am bé m po de s er a dm in is tr ad o em p ac ie nt es c om to le râ nc ia a no rm al à gl ic os e, re su lt an te d e es tr es se m et ab ól ic o, co m o tr au m a e in fe cç õe s e no a ux íli o da c ic at riz aç ão d e fe rid as . Pe ra ti ve / A B B O TT S is te m a fe ch ad o 10 00 m L H ip er pr ot eí ca e en riq ue ci da c om L - ar gi ni na 1.3 k ca l/m L 30 4 m O sm /L 10 0% m al to de xt rin a 67 g/ L 65 % c as ei na to de N a pa rc ia lm en te hi dr ol is ad o 25 % hi dr ol is ad o de la ct oa lb um in a e 10 % L - ar gi ni na Pa ci en te s gr av es , c om ne ce ss id ad e de im un on ut riç ão e ci ca tr iz aç ão . N ut ri E nt er al 1. 5 / A B B O TT Te tr a pa rk 1L H ip er ca ló ric a, N or m op ro te ic a, N or m ol ip íd ic a 1.5 K ca l/m L 33 0 m O sm /L 10 0% m al to de xt rin a 64 g/ L 60 % p ro te ín a do s or o do le ite + 4 0% ca se in at o de cá lc io e s ód io D es nu tr iç ão , a no re xi a ne rv os a, n eo pl as ia s, ca rd io pa tia s, d oe nç as ne ur ol óg ic as e re st riç ão d e vo lu m es Ta be la 4 – C om po si çã o de a lg um as d ie ta s en te ra is in du st ria liz ad as . 28 CAPÍTULO 3 - DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS N ut ri so n A dv an ce d C ub is on / D A N O N E Te tr a pa rk 1L N or m oc al ór ic a e hi pe rp ro te ic a, co nt en do a rg in in a, zi nc o, s el ên io e vi ta m in a C , A e E . 1.0 K ca l/m L 31 5m O sm /L 10 0% m al to de xt rin a 51 g/ L 84 ,5 % d e ca se in at o de cá lc io e s ód io + 15 ,5 % d e ar gi ni na (8 ,5 g/ L) Pa ra s it ua çã o m et ab ól ic a es pe ci al de d is tú rb io s do pr oc es so d e ci ca tr iz aç ão d e úl ce ra s po r p re ss ão e ou tr as a fe cç õe s te ci du ai s. N ut ri so n S oy a/ D A N O N E La ta – 8 00 g de p ó N or m oc al ór ic a e no rm op ro te ic a na di lu iç ão p ad rã o, hi po ss ód ic a, à b as e de pr ot eí na is ol ad a de so ja , r ic a em is of la vo na s. 1,0 K ca l/m l: 9 co lh er es m ed id a + ág ua = 2 00 m l 1,1 5K ca l/m l - 9 co lh er es m ed id a + ág ua = 17 5m l 1,3 4K ca l/m l - 9 co lh er es m ed id a + ág ua = 15 0m l 28 2 m O sm /L 10 0% m al to dr ex tr in a 36 g/ L 79 % P ro te ín a is ol ad a de s oj a + 21 % d e pr ot eí na d o so ro d o le it e Pa ci en te s ho sp ita liz ad os o u do m ic ili ar es e m ri sc o nu tr ic io na l o u de sn ut riç ão le ve . D ib en 1. 5 / F R ES EN IU S K A B I B ol sa fe ch ad a 50 0m L ou 10 00 m L H ip er ca ló ric o e H ip er pr ot ei co 1.5 k ca l/m L 45 0 m O sm /L 41 % m al to de xt rin as + 34 % a m id o de ta pi oc a + 25 % fr ut os e 75 g/ L 92 % C as ei na to + 8% p ro te ín a do s or o do le ite In di ca do p ar a pe ss oa s co m D ia be te s M el lit us tip o 1 e 2 c om ne ce ss id ad e el ev ad as , to le râ nc ia à g lic os e al te ra da , hi pe rg lic em ia in du zi da po r e st re ss e a va ria bi lid ad e gl ic êm ic a. 29 GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR Fr es ub in 2 .0 H P/ FR ES EN IU S K A B I Ea sy B ag 5 00 m l H ip er ca ló ric a e hi pe rp ro te ic a 2. 0k ca l/m L 39 5 m O sm /L X ar op e de g lic os e (8 5% o lig o e po lis sa ca ríd eo ) 10 0g /L 80 % c as ei na to + 20 % p ro te ín a do s or o do le ite Pa ci en te s gr av es d e U TI a ss oc ia do à re st riç ão h íd ric a se ve ra e n ec es si da de el ev ad a de p ro te ín a (T ra um a, s ep se , In su fi ci ên ci a ca rd ía ca co ng es tiv a,o be so cr íti co , D PO C , p ós op er at ór io , I R A ). S ur vi m ed O PD / FR ES EN IU S K A B I Ea sy B ag 5 00 m l N or m oc al ór ic a, H ip er pr ot ei ca , H ip ol ip íd ic a co m ad iç ão d e TC M 1.0 kc al /m L 30 0 m O sm /L 10 0% m al to de xt rin a 45 g/ L 10 0% p ro te ín a so ro d o le it e hi dr ol is ad a D is tú rb io s di sa bs or tiv os (P an cr ea ti te , S ín dr om e de In te st in o C ur to , D oe nç a de C ro hn , S ín dr om e de M á A bs or çã o e Fí st ul as ). Fr es ub in H ep a/ FR ES EN IU S K A B I Ea sy B ag 5 00 m l H ip er ca ló ric a, N or m op ro te ic a co m ad iç ão d e A A C R e fi br as . 1,3 K ca l/m L 33 0 m O sm /L 10 0% m al to de xt rin a 40 g/ L 34 % d e pr ot eí na is ol ad a de s oj a + 31 % d e A A C R + 2 7% de c as ei na to de s oj a + 8% de a rg in in a In su fi ci ên ci a co m ri sc o ou p re se nç a de en ce fa lo pa tia (c irr os e he pá tic a, p ré - tr an sp la nt e de fí ga do ). Fr es ub in H P E ne rg y/ FR E S E N IU S K A B I E as yB ag 1 00 0m l H ip er ca ló ri ca e H ip er pr ot ei ca . 1. 5 K ca l/ m L 3 00 m O sm /L 10 0% m al to dr ex tr in a 75 g /L 8 0% d e ca se in at o + 20 % d e pr ot eí na d o so ro d o le it e P es so as c om de sn ut ri çã o pr ot ei co - ca ló ri ca c om ne ce ss id ad e el ev ad a de p ro te ín a: p ac ie nt es g ra ve s de U TI (S ep se , Tr au m a, Q ue im ad os e C ir úr g ic os ). N ov as ou rc e S en io r/ N E S TL É B ol sa f ec ha da 1 00 0m L N or m oc al ór ic o, hi pe rp ro te ic o, c om a lt o te or d e vi ta m in a D , vi ta m in a C e f on te d e cá lc io e f er ro . 1. 2k ca l/ m L 3 9 1 m O sm /L 10 0% m al to de xt ri na 6 5 g /L 8 8 % c as ei na to de C a e N a ob ti do le it e de va ca + 1 2% d e pr ot eí na d e so ja P ar a au xi lia r n a m an ut en çã o e/ ou re cu pe ra çã o do es ta do n ut ri ci on al , de sn ut ri çã o, d oe nç a cr ít ic a qu e ex ija a lt o ap or te p ro te ic o. Tr op hi c/ P R O D IE T P ot e 8 00 g 6 14 m O sm /L 1. 0 kc al /m l = 7 m ed id as + 2 00 m l de á g ua ) 1. 2 kc al /m l = 9 m ed id as + 1 9 0m l de á g ua ) 1. 5 k ca l/ m l = 11 m ed id as + 1 75 m l de á g ua 10 0% M al to de xt ri na 3 7g /L 5 3 % P ro te ín a Is ol ad a de S oj a, 3 2% C as ei na to d e C ál ci o e 15 % P ro te ín a Is ol ad a do S or o do L ei te P ac ie nt es c om r is co nu tr ic io na l o u si tu aç õe s de n ut ri çã o en te ra l p ro lo ng ad a, di st úr bi os d ig es ti vo s e ab so rt iv os e d es m am e de n ut ri çã o pa re nt er al . 30 CAPÍTULO 3 - DIETAS ENTERAIS INDUSTRIALIZADAS A s in fo rm aç õe s aq ui c on ti da s (a ná lis e de c om po si çã o qu ím ic a e pr op rie da de s es pe cí fi ca s sã o pr ov en ie nt es d e ca tá lo go s de fo rn ec ed or es e ró tu lo s do s pr od ut os . Fr es ub in H P En er gy / FR ES EN IU S K A B I Ea sy B ag 10 00 m l H ip er ca ló ric a e H ip er pr ot ei ca . 1.5 K ca l/m L 30 0m O sm /L 10 0% m al to dr ex tr in a 75 g/ L 80 % d e ca se in at o + 20 % d e pr ot eí na d o so ro d o le it e Pe ss oa s co m de sn ut riç ão p ro te ic o- ca ló ric a co m ne ce ss id ad e el ev ad a de p ro te ín a: p ac ie nt es gr av es d e U TI (S ep se , Tr au m a, Q ue im ad os e C irú rg ic os ). N ov as ou rc e S en io r/ N ES TL É B ol sa fe ch ad a 10 00 m L N or m oc al ór ic o, hi pe rp ro te ic o, c om a lt o te or d e vi ta m in a D , vi ta m in a C e fo nt e de cá lc io e fe rr o. 1.2 kc al /m L 39 1 m O sm /L 10 0% m al to de xt rin a 65 g/ L 88 % c as ei na to de C a e N a ob tid o le it e de va ca + 12 % d e pr ot eí na d e so ja Pa ra a ux ili ar n a m an ut en çã o e/ ou re cu pe ra çã o do es ta do n ut ric io na l, de sn ut riç ão , d oe nç a cr íti ca q ue e xi ja a lt o ap or te p ro te ic o. Tr op hi c/ P R O D IE T Po te 8 00 g 61 4 m O sm /L 1.0 k ca l/m l = 7 m ed id as + 2 00 m l de á gu a) 1.2 k ca l/m l = 9 m ed id as + 19 0m l de á gu a) 1.5 k ca l/m l = 11 m ed id as + 17 5m l de á gu a 10 0% M al to de xt rin a 37 g/ L 53 % P ro te ín a Is ol ad a de S oj a, 3 2% C as ei na to d e C ál ci o e 15 % Pr ot eí na Is ol ad a do S or o do L ei te Pa ci en te s co m ri sc o nu tr ic io na l o u si tu aç õe s de n ut riç ão en te ra l p ro lo ng ad a, di st úr bi os d ig es tiv os e ab so rt iv os e d es m am e de n ut riç ão p ar en te ra l. Pe pt im ax / N U TR IM ED /D A N O N E La ta 4 00 g – pó N or m oc al ór ic a e no rm op ro te ic a de rá pi da a bs or çã o co m L -G lu ta m in a, pr ot eí na s hi dr ol is ad as e T C M . 1,0 k ca l/m l = 7 m ed id as + 2 10 m l ág ua 32 6 m O sm /L 10 0% m al to dr ex tr in a 42 g/ L 10 0% d e pr ot eí na hi dr ol is ad a do so ro d o le it e, ac re sc id a de L- gl ut am in a. D is tú rb io s di ge st iv os e ab so rt iv os e d es m am e de n ut riç ão p ar en te ra l. N ut ri R en al 2 .0 / N U TR IM ED /D A N O N E Te tr a Pa k 20 0m l H ip er ca ló ric o e no rm op ro te ic o 2. 0 kc al /m l 56 7 m O sm /L 10 0% d e m al to dr ex tr in a 3, 3g / 10 0m l 60 % d e pr ot eí na d o so ro d o le it e + 40 % d e ca se in at o de cá lc io In di ca do p ar a pa ci en te s co m in su fi ci ên ci a re na l ag ud a ou c rô ni ca , e m tr at am en to co ns er va do r 31 GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR Referências AANHOLT, D. P. J.; MATSUBA, C. S. T.; DIAS, M. C. G.; SILVA, M. L. T.; CAMPOS, A. C. L.; AGUILAR-NASCIMENTO, J. E. Diretriz Brasileira de Terapia Nutricional Domiciliar. BRASPEN J., v. 33 (Supl 1), p. 37-46, 2018. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância Sanitária, Resolução nº 63, de 06 de julho de 2000. Aprova o regulamento técnico para fixar os requisitos mínimos exigidos para terapia nutricional enteral. Diário Oficial da União da República Federativa do Brasil Brasília, 07 jul. 2000. CASTRO, M. G.; RIBEIRO, P. C.; SOUZA, I. A. O.; CUNHA, H. F. R.; SILVA, M. H. N.; ROCHA, E. E. M.; CORREIA, F. G.; LOSS, S. H.; FRANCO-FILHO, J. W.; NUNES, D. S. L.; GONÇALVES, R. C.; MATOS, L. B. N.; CENICCOLA, G. D.; DIOGO OLIVEIRA TOLEDO,D. O. Diretriz Brasileira de Terapia Nutricional no Paciente Grave. BRASPEN J., v. 33 (Supl 1), p. 02-36, 2018. CASTRO E CARDOSO, M.G. et al. Fórmulas para nutrição enteral padrão e modificada disponíveis no Brasil: Levantamento e classificação. BRASPEN J., v. 33 (Supl 4), p. 402-17, 2018. CHEMIN, S. M.; MURA J. D. P. Tratado de Alimentação Nutrição e Dietoterapia. 2°ed. São Paulo: ed. ROCA, 2010. CUPPARI, L. Guia de nutrição: clínica no adulto. 3. ed. Barueri. São Paulo: Manole, 2014. WAITZBERG, D.L. Nutrição oral, enteral e parenteral na pratica clínica. São Paulo: Ed Atheneu, 2009. WAITZBERG, Dan. L. Nutrição oral, enteral e parenteral na pratica clínica. 5. Ed. – Rio de Janeiro : Atheneu, 2017. 32 CAPÍTULO 4 - DIETAS ENTERAIS ARTESANAIS CAPÍTULO 4CAPÍTULO 4 DIETAS ENTERAIS ARTESANAISDIETAS ENTERAIS ARTESANAIS Conceição Nahana Alves de Macedo Francisca Camila Batista Lima Ianca Passos de Sousa Jaíla Maria Feitosa Leyla Lumara Cabral Soares Pimentel Maria Rosiany Sousa Moreira Victor Alves de Oliveira 4.1 Contexto de aplicação O suporte com a nutrição enteral possibilita ao paciente o adequado aporte calórico, minimiza as complicações infecciosas e promove uma melhora do prognóstico (SCHENEIDER e MENDONÇA, 2015). As dietas artesanais são muito utilizadas em países em desenvolvimento em virtude de seu baixo custo quando comparada as dietas industrializadas, permitindo a escolha de alimentos nutricionalmente adequados, preservação do conteúdo de fibra, além de flexibilidade e preservação de características químicas e físicas (FRANCA et al., 2017). A fim de garantir a qualidade nutricional e microbiológica, a legislação brasileira atual exige que os pacientes hospitalizados recebam apenas dietas enterais industrializadas. Entretanto, o uso de dietas enterais artesanais ainda é uma prática comum em muitos hospitais brasileiros de pequeno e médio porte. Além disso, vale ressaltar que a prescrição de uso destas dietas artesanais por pacientes em cuidados domiciliar também é uma prática comum na atuação de equipes de serviços de assistência domiciliar. Tal prática é amparada pela Portaria 120/09 na qual define que “As dietas artesanais e/ou semiartesanais deverão ser incentivadas naqueles pacientes sob cuidados e/ou internação domiciliar”. O contexto domiciliar de utilização destas dietas artesanais demanda a necessidade de um acompanhamento assíduo e orientação ampla da equipe para que o sucesso da terapia seja total, bem como sua aplicação seja segura (AANHOLT et al, 2017; WAITZBERG et al 2017). 33 GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR 4.2 Recomendações básicas para registro/evolução do planejamento dietético e dietoterápico O planejamento dietoterápico de um paciente tem início logo que o mesmo é admitido pelo serviço ou recebido para acompanhamento por uma equipe multiprofissional no âmbito domiciliar. A triagem nutricional deve ser realizada de imediato utilizando algum dos inúmeros protocolos de triagem nutricional já validados e que são escolhidos por cada equipe a depender do seu contexto/realidade de trabalho (FIDELIX, 2014). O planejamento e a intervenção nutricional devem ser individualizados, incluindo modificações na composição, consistência, e fracionamento das dietas orais. Deve ser considerado também a adição de suplementos nutricionais e a aplicação de nutrição enteral e parenteral parcial ou total. 34 CAPÍTULO 4 - DIETAS ENTERAIS ARTESANAIS O registro do atendimento nutricional em prontuário ou controle domiciliar também deve ser realizado. Recomenda-se que para um acompanhamento adequado e cuidados, o profissional de saúde possa anotar com certa frequência algumas informações (definidas pela equipe no contexto da sua realidade) que possam gerar um acompanhamento em relação ao sucesso da terapia planejada. A periodicidade destes registros é variável a depender do suporte nutricional e do contexto de uso (hospitalar ou domiciliar), entretanto para pacientes em suporte nutricional por via de alimentação exclusiva oral ou enteral (sondas ou ostomias), bem como pacientes com alimentação mista (oral+enteral / enteral+parenteral /parenteral+oral / oral+enteral+parenteral), recomenda-se um registro diário para melhor o acompanhamento. No contexto da primeira avaliação ou evolução, deve-se registrar no prontuário/ficha de acompanhamento do paciente os resultados da avaliação nutricional, investigação dietética, exame físico e capacidade funcional (por pelo menos um método), antropometria, dados da avaliação bioquímica e diagnóstico nutricional. O profissional deve registrar também as necessidades nutricionais, metas/objetivos do cuidado nutricional e conduta nutricional elaborada, para possibilitar a comunicação entre membros da equipe multiprofissional e a continuidade da assistência prestada ao indivíduo (Resolução nº 1.638/2002). As evoluções subsequentes devem conter um registro do período de terapia nutricional, avaliação clínica nutricional ampla (TGI, diurese e ingestão hídrica) e dados da reavaliação nutricional (antropométrica, exame físico e avaliação bioquímica). Recomenda-se utilizar instrumentos validados como Avaliação Subjetiva Global/Mini Avaliação Nutricional (ASG/MAN) ou Avaliação Subjetiva Global – produzida pelo paciente (ASG-PPP) durante os procedimentos de triagem e acompanhamento. É importante registrar qualquer alteração na conduta ou prescrição dietética, conforme evolução ou decisão da equipe multiprofissional. 4.3 Prescrição Dietética A prescrição dietética é ato privativo do nutricionista. Sua elaboração tem como base as diretrizes estabelecidas no diagnóstico nutricional, formulado a partir de dados clínicos, bioquímicos, antropométricos e dietéticos (CFN, 2003). Os cálculos de necessidades do paciente que darão suporte para a prescrição dietética devem ser feitos por fórmulas/métodos validados a escolha do profissional ou da equipe multiprofissional que acompanha o paciente. Deve- se levar em consideração todas as particularidades de cada paciente para que o profissional possa fazer um cálculo correto das necessidades do indivíduo, ofertando assim uma dieta adequada para manter ou recuperar o estado de saúde do paciente. 35 GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR O registro da prescrição dietética deve ser feito em formulário de evolução padronizado pela equipe/instituição e deverá ser descrita no corpo do texto da evolução, preferencialmente na conduta nutricional. O registro da prescrição dietética deve conter o Valor Energético Total (VET) requerido, recomendações/ planejamento de macro e micronutrientes importantes para o caso clínico, consistência da dieta ou tipo de fórmula/modulo complementar, fracionamento das refeições, método de técnica de administração e gotejamento. 4.4 Dieta Enteral Artesanal na Prática: sugestões para montagem de plano alimentar com base na necessidade de seu paciente. Considerando a necessidade de uso prolongado ou indefinido da nutrição enteral, o baixo poder aquisitivo dos pacientes da rede pública e o custo elevado das dietas industrializadas, vários serviços têm utilizado fórmulas caseiras ou semiartesanais. Muito se discute sobre a empregabilidade do Preparo caseiro ou artesanal de dietas enterais, com a utilização de alimentos in natura combinados ou não com produtos industrializados. Os hospitais devem fornecer de forma sistemática e padronizada, refeições de qualidade nutricional e higiênico- sanitária. Esta recomendação também é válida para as equipes que prescrevem a TNED, devendo os profissionais orientarem os manipuladores/familiares e planejar de forma adequada a intervenção dietoterápica do seu paciente. Existe uma carência de informações sobre estabilidade, composição química e efeito osmótico das dietas artesanais e semiartesanais. Tal fato se deve muito a infinidade de opções de ingredientes, a composiçãonutricional dos alimentos e até a falta de padronização nos procedimentos e técnicas de preparo. A maioria das opções de dietas artesanais apresenta composição estimada a partir de tabelas de composição de alimentos que podem resultar em um fator de erro, contudo esta é uma metodologia útil para a prática clínica. Para 36 CAPÍTULO 4 - DIETAS ENTERAIS ARTESANAIS reduzir o erro desta metodologia a utilização de Fichas Técnicas de Preparação (FTPs) se torna essencial, na prática. Esta é uma estratégia eficiente para a padronização e controle de qualidade das preparações prescritas (ADJAFRE et al., 2013; WAITZBERG et al., 2017). Uma elaboração precisa e bem redigida das mesmas, é parte importante do trabalho do Nutricionista em todo e qualquer cenário de Serviço de Alimentação. A atividade inclui a apresentação do valor nutricional e a imagem do prato para garantir uma apresentação uniforme (SOUZA E MARSI, 2015). O detalhamento das FTPs ajuda a assegurar a qualidade, e permite ao nutricionista monitorar a eficiência de seu trabalho e de sua equipe, reduzindo custos e eliminando perdas (ADJAFRE et al., 2013). Com base nisso, o presente capítulo traz sugestões de preparações (café da manhã, lanches, refeições principais e ceias) que foram elaboradas conforme a metodologia supracitada (Tabela de Análise de Composição de Alimentos - TACO e a Tabela de Medicas Caseiras). As preparações foram pensadas para um VET médio de 2000kcal/dia, sendo este dividido proporcionalmente entre as refeições (café da manhã - 300kcal (15%), ceia – 100kcal (5%), lanches - 200kcal (10%) e principais refeições (almoço e jantar) - 600kcal (30%)). A proposta busca incorporar o valor total de cada refeição em um volume final de 200 a 300ml. Por conta do planejamento individual destas refeições, sugerimos alguns planos dietéticos com valores energéticos totais pré-estabelecidos (1.600kcal, 1.800kcal, 2.100kcal e 2.500kcal) como exemplo (Tabela 1). Todas as preparações para as diferentes refeições sugeridas neste capítulo estão descritas na tabela 2 com seu respectivo valor calórico e composição em gramas de carboidratos, lipídios e proteínas. As preparações da tabela 2 permitem o profissional montar diferentes planos dietéticos que possam atender as necessidades dos seus pacientes. Para padronizar todas as preparações, no anexo A deste livro, encontram- se todas as fichas técnicas das 29 preparações citadas na tabela 1 e 2. As preparações estão organizadas em um sumário para facilitar a extração de 37 GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR informações necessárias. Vale ressaltar que todas as preparações aqui sugeridas são passíveis de adequação e modificação pelo profissional prescritor, podendo ser adicionado módulos ou suplementos nutricionais da sua preferência, bem como outros ingredientes. Contudo, qualquer alteração deve ser feita com base em novos cálculos pelo nutricionista prescritor. As FTPs produzidas contêm dados como: ingredientes, peso bruto, fator de correção, fator de cocção, peso líquido, medida caseira, calorias, macro e micronutrientes (Ca, Fe, Zn, Mg, K, Na, Vitamina A, C e E). A divisão das preparações foi proposta de duas formas: 1 – dietas completas para o dia de acordo com a necessidade do paciente (1.600kcal, 1.800kcal, 2.100kcal e 2.500kcal); 2 – dietas calculadas por refeições, divididas em café da manhã com 300kcal, lanches com 200kcal e principais refeições (almoço e jantar) com 600kcal, dando autonomia e variedade ao nutricionista na hora de prescrever a dieta. 4.5 Fatores que podem interferir no sucesso da terapia. Até o momento há uma escassez de dados referentes a composição centesimal das dietas enterais artesanais ou semiartesanais, que geram incertezas quanto a sua qualidade nutricional, as propriedades físicas que alteram sua fluidez e a insegurança microbiológica. A indicação da nutrição enteral domiciliar segue os mesmos preceitos dessa modalidade terapêutica no ambiente hospitalar. Deve-se, portanto, considerar a patologia base, o estado clínico geral do paciente, a condição financeira da família, o tempo necessário para treinamento e adaptação dos procedimentos relacionados ao preparo das dietas enterais, além da capacidade de suprir todos os cuidados específicos necessários para o sucesso da terapia. No domicílio, essas dietas enterais citadas anteriormente, podem ser preferidas por razões econômicas e culturais, ou pela flexibilidade de ajustar os ingredientes e o conteúdo nutricional. Independente de qualquer consideração, é essencial que a composição da dieta enteral seja adequada às recomendações, tenha baixa viscosidade, não resulte em manifestações gastrointestinais, seja economicamente viável, seja composta por produtos ou alimentos acessíveis e seu preparo, seja relativamente fácil. Idealmente, uma fórmula padrão normocalórica contém de 0,9 a 1,2 kcal/ ml. Algumas propostas de dietas enterais artesanais não atingem a densidade energética mínima, mas outras, podem ser classificadas como normocalóricas ou mesmo hipercalóricas. Quanto a composição nutricional, a fonte proteica pode ser obtida a partir da soja, carne bovina ou de frango, farinha de peixe ou de misturas de carne bovina, leite e pó de dietas enterais industrializadas. Ainda com relação à composição, deve-se priorizar boas fontes de lipídios, assim como a composição de carboidratos deve ser planejada e avaliada de forma criteriosa 38 CAPÍTULO 4 - DIETAS ENTERAIS ARTESANAIS para cada preparação. Tal fato se deve ao acréscimo de viscosidade que os carboidratos podem proporcionar a preparação final, bem como a importância energética deste macronutriente para se atingir o VET planejado. Quanto à qualidade microbiológica das dietas enterais artesanais, para garantir a segurança das mesmas, deve-se orientar práticas adequadas de higiene dos manipuladores, utensílios e locais de preparação. Em ambientes institucionais a elaboração e implantação do sistema de Análise de Pontos Críticos de Controle (APPCC) reduz a possibilidade de contaminação. Já em ambientes domiciliares os Pontos Críticos de Controle (PCC) devem ser informados para os responsáveis pela manipulação. Vale ressaltar que maior atenção deve ser dada aos utensílios empregados no preparo, como liquidificador e peneiras, sendo importantíssimo a correta higienização dos mesmos para minimizar os riscos de contaminação, uma vez que estes itens são os mais comumente associados a contaminação microbiológica. Além dos cuidados já citados, outros mais devem ser tomados na hora do preparo, armazenamento e manipulação como será explorado no capítulo 6. Por fim, ressaltamos que há vantagens no uso da dieta artesanal, como a facilidade da individualização da fórmula quando a composição nutricional e o volume, além do custo aparente menor que aquele da dieta similar industrializada. Como desvantagens, as dietas artesanais e semiartesanais apresentam instabilidade bromatológica, microbiológica e organoléptica do produto final, que pode acarretar um custo real maior que a da dieta industrializada. 39 GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR Tabela 1 - Sugestões para a montagem do plano alimentar REFEIÇÕES 1600 Kcal Opção 1 Opção 2 Café da manhã Vitamina de banana com mamão e maça (250ml) Obs.: 5,79g de proteína Vitamina de banana (250ml) Obs.: 6,45g de proteína Lanche Suco de abacaxi (250ml) Obs.: 6,44g de proteína Suco de beterraba com laranja (250ml) Obs.: 9,69g de proteína Almoço Sopa de frango + feijão + cenoura + batata doce (300ml) Obs.: 36,97g de proteína Sopa de frango + arroz + feijão + abóbora (300ml) Obs.: 32,38g de proteína Lanche Suco de melão (250ml) Obs.: 8,3g de proteína Suco de goiaba (250ml) Obs.: 6,44g de proteína Jantar Sopa de carne moída + macarrão + abobrinha + cenoura + beterraba (300ml)Obs.: 32,94g de proteína Sopa de peixe + batata doce + beterraba + abóbora (250ml) Obs.: 25,3g de proteína Kcal 1686,1 1626,5 Carboidratos (g-%) 207,35g - 49,3% 216,24g - 53,7% Proteínas (g-%) 90,44g - 21% 80,26 - 19,9% Lipídios (g-%) 55,5g - 29,7% 47,18g - 26,4% REFEIÇÕES 1800 Kcal Opção 1 Opção 2 Café da manhã Vitamina de banana com mamão e maçã (250ml) Obs.: 5,79g de proteína Mingau de farinha de arroz (250ml) Obs.: 9,15g de proteína Lanche Suco de melão (250ml) Obs.: 8,3g de proteína Suco de laranja com couve (250ml) Obs.: 9,96g de proteína Almoço Sopa de frango +feijão + batata doce + cenoura (300ml) Obs.: 36,97gg de proteína Sopa de carne moída + macarrão + abobrinha + cenoura + beterraba (300ml) Obs.: 32,94g de proteína Lanche Suco de abacaxi (250ml) Obs.: 6,44g de proteína Vitamina de banana com aveia (200ml) Obs.: 8,11g de proteína Jantar Sopa de peixe + batata doce + beterraba + abóbora (300ml) Obs.: 30,41g de proteína Sopa de peixe + mandioca + beterraba + cenoura (300ml) Obs.: 30,25g de proteína Ceia Mingau de aveia (100ml) Obs.: 5,9g de proteína - Kcal 1858,9 1859,6 Carboidratos (g-%) 255,93g - 55% 237,55g - 51,1% Proteínas (g-%) 93,81g - 20,1% 90,41g - 19,4% Lipídios (g-%) 51,68g - 24,9% 60,97 - 29,5% 40 CAPÍTULO 4 - DIETAS ENTERAIS ARTESANAIS REFEIÇÕES 1800 Kcal Opção 1 Opção 2 Café da manhã Vitamina de banana com mamão e maçã (250ml) Obs.: 5,79g de proteína Mingau de farinha de arroz (250ml) Obs.: 9,15g de proteína Lanche Suco de melão (250ml) Obs.: 8,3g de proteína Suco de laranja com couve (250ml) Obs.: 9,96g de proteína Almoço Sopa de frango +feijão + batata doce + cenoura (300ml) Obs.: 36,97gg de proteína Sopa de carne moída + macarrão + abobrinha + cenoura + beterraba (300ml) Obs.: 32,94g de proteína Lanche Suco de abacaxi (250ml) Obs.: 6,44g de proteína Vitamina de banana com aveia (200ml) Obs.: 8,11g de proteína Jantar Sopa de peixe + batata doce + beterraba + abóbora (300ml) Obs.: 30,41g de proteína Sopa de peixe + mandioca + beterraba + cenoura (300ml) Obs.: 30,25g de proteína Ceia Mingau de aveia (100ml) Obs.: 5,9g de proteína - Kcal 1858,9 1859,6 Carboidratos (g-%) 255,93g - 55% 237,55g - 51,1% Proteínas (g-%) 93,81g - 20,1% 90,41g - 19,4% Lipídios (g-%) 51,68g - 24,9% 60,97 - 29,5% 41 GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR REFEIÇÕES 2100 Kcal Opção 1 Opção 2 Café da manhã Mingau de aveia (200ml) Obs.: 11,81g de proteína Vitamina de abacate (300ml) Obs.: 10,26g de proteína Lanche Suco de laranja com cenoura (250ml) Obs.: 2,53g de proteína Suco de goiaba (250ml) Obs.: 3,75g de proteína Almoço Sopa de carne moída + macarrão + abobrinha + cenoura + beterraba (300ml) Obs.: 32,94g de proteína Sopa de peixe + mandioca + beterraba + cenoura (300ml) Obs.: 30,25g de proteína Lanche Vitamina de goiaba (200ml) Obs.: 8,61g de proteína Vitamina de mamão com ameixa (250ml) Obs.: 9,58g de proteína Jantar Sopa de peixe + batata doce + beterraba + abóbora (300ml) Obs.: 30,25g de proteína Sopa de frango + batata doce + feijão + beterraba (300ml) Obs.: 36,97g de proteína Ceia Leite com sustagem (250ml) Obs.: 16,94g de proteína Mingau de farinha de arroz (250ml) Obs.: 9,15g de proteína Kcal 2142,79 2152,0 Carboidratos (g-%) 314,67g - 54% 280,97g - 52% Proteínas (g-%) 103, 08g - 17,6% 99,96g - 18,5% Lipídios (g-%) 73,52g - 28,4% 70,9g - 29,5% 42 CAPÍTULO 4 - DIETAS ENTERAIS ARTESANAIS REFEIÇÕES 2500 Kcal Opção 1 Opção 2 Café da manhã Mingau de farinha de arroz (300ml) Obs.: 10,98 de proteína Mingau de aveia (300ml) Obs.: 17,5g de proteína Lanche Suco de laranja com couve (300ml) Obs.: 11,6g de proteína Suco de goiaba (300ml) Obs.: 4,5g de proteína Almoço Sopa de peixe + mandioca + beterraba + cenoura (300ml) Obs.: 30,25g de proteína Sopa de frango + arroz + feijão + abóbora (300ml) Obs.: 32,38g de proteína Lanche Suco de abacaxi (300ml) Obs.: 7,7g de proteína Suco de beterraba com laranja (300ml) Obs.: 6,3g de proteína Lanche Vitamina de manga com laranja (300ml) Obs.: 5,87g de proteína Vitamina de mamão com ameixa (300ml) Obs.: 11,5g de proteína Jantar Sopa de legumes (Batata doce, beterraba, chuchu, tomate) + ovo (300ml) Obs.: 26,87g de proteína Sopa de legumes (abóbora, batata inglesa, cenoura, tomate e pimentão) + sustagem (300ml) Obs.: 40,82g de proteína Ceia Leite com sustagem (300ml) Obs.: 20,33g de proteína Mingau de farinha de arroz (300ml) Obs.: 9,15g de proteína Kcal 2521,07 2556,78 Carboidratos (g-%) 331,6g - 53,3% 342,84g - 55,8% Proteínas (g-%) 113,6g - 18,3% 122,15g - 19,9% Lipídios (g-%) 78,41g - 28,4% 66,39g - 24,3% 43 GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR Tabela 2 - Informação nutricional das preparações. Café da manhã, lanches e ceias PREPARAÇÃO VALOR CALÓRICO (Kcal) Carboidratos (gramas) Proteínas (gramas) Lipídios (gramas) Mingau de aveia (200ml) 286,6 36,72 11,81 10,62 Mingau de farinha de arroz (250ml) 304,2 46,36 9,15 8,53 Leite com sustagem (250ml) 289,6 34,14 16,94 9,61 Vitamina de banana (250ml) 198,87 32,72 6,45 4,65 Vitamina de abacate (300ml) 277,6 24,93 10,26 15,89 Vitamina de manga com laranja (250ml) 178,62 26,66 5,87 4,53 Vitamina de goiaba (200ml) 197,7 23,46 8,61 8,43 Vitamina de banana com aveia (200ml) 201,7 28,13 8,11 7,46 Vitamina de banana com mamão e maçã (250ml) 207,4 39,97 5,79 4,33 Vitamina de mamão com ameixa (250ml) 195 29,10 9,58 5,14 Suco de goiaba (250ml) 195,2 47,20 3,75 0,34 Suco de abacaxi (250ml) 184 37,07 6,44 0,33 Suco de Melão (250ml) 167 32,50 8,3 0,90 Suco de laranja com cenoura (250ml) 201,49 49,43 2,53 0,38 Suco de beterraba com laranja (250ml) 184,4 44,45 5,24 0,51 Suco de laranja com couve (250ml) 186,3 37,68 9,69 0,50 Somatório 3455,68 570,52 128,52 82,15 44 CAPÍTULO 4 - DIETAS ENTERAIS ARTESANAIS Refeições principais PREPARAÇÃO VALOR CALÓRICO (Kcal) Carboidratos (gramas) Proteínas (gramas) Lipídios (gramas) Sopa de carne moída + Batata doce + Beterraba + Chuchu + Tomate (300ml) 541,9 49,8 38,5g 20,1 Carne moída com feijão, ovo, batata inglesa e beterraba (300ml) 568,71 45,15 32,58 27,45 Sopa de carne moída + macarrão + abobrinha + cenoura + beterraba (300ml) 557,7 44,9 32,94 26,71 Sopa de frango, arroz, feijão, abóbora (300ml) 556,7 46,17 32,38 27,55 Sopa de frango com feijão, cenoura, e batata doce (300ml) 570 52,90 36,97 23,23 Sopa de frango + Mandioca + Chuchu + Cenoura (300ml) 569,3 52,6 31,9 25,3 Sopa de frango com arroz, ovo e legumes (300ml) 557,7 46,1 34,5 25,2 Sopa de peixe + batata doce + beterraba + abóbora (300ml) 587,29 75,13 30,41 17,58 Sopa de peixe + Mandioca + Beterraba + Cenoura (300ml) 609,7 80,48 30,25 17,77 Café da manhã, lanches e ceias PREPARAÇÃO VALOR CALÓRICO (Kcal) Carboidratos (gramas) Proteínas (gramas) Lipídios (gramas) Mingau de aveia (200ml) 286,6 36,72 11,81 10,62 Mingau de farinha de arroz (250ml) 304,2 46,36 9,15 8,53 Leite com sustagem (250ml) 289,6 34,14 16,94 9,61 Vitamina de banana (250ml) 198,87 32,72 6,45 4,65 Vitamina de abacate (300ml) 277,6 24,93 10,26 15,89 Vitamina de manga com laranja (250ml) 178,62 26,66 5,87 4,53 Vitamina de goiaba (200ml) 197,7 23,46 8,61 8,43 Vitamina de bananacom aveia (200ml) 201,7 28,13 8,11 7,46 Vitamina de banana com mamão e maçã (250ml) 207,4 39,97 5,79 4,33 Vitamina de mamão com ameixa (250ml) 195 29,10 9,58 5,14 Suco de goiaba (250ml) 195,2 47,20 3,75 0,34 Suco de abacaxi (250ml) 184 37,07 6,44 0,33 Suco de Melão (250ml) 167 32,50 8,3 0,90 Suco de laranja com cenoura (250ml) 201,49 49,43 2,53 0,38 Suco de beterraba com laranja (250ml) 184,4 44,45 5,24 0,51 Suco de laranja com couve (250ml) 186,3 37,68 9,69 0,50 Somatório 3455,68 570,52 128,52 82,15 45 GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR Referências AANHOLT, D. P. J.; MATSUBA, C. S. T.; DIAS, M. C. G.; SILVA, M. L. T.; CAMPOS, A. C. L.; AGUILAR-NASCIMENTO, J. E. Diretriz Brasileira de Terapia Nutricional Domiciliar. BRASPEN J., v. 33 (Supl 1), p. 37-46, 2018. ADJAFRE, R. Implementação e elaboração de fichas técnicas de preparo em uma unidade de alimentação e nutrição institucional: uma proposta de redução de sódio e gordura. Nutrire. 2013 BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária de Alimentos (ANVISA). Ministério da Saúde: Portaria n° 120, de 14 de abril de 2009. Assistência de Alta Complexidade de Terapia Nutricional. Diário Oficial da União. CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Define prontuário médico e torna obrigatória a criação da Comissão de Revisão de Prontuários nas instituições de Saúde. Resolução CFM 1.638, de 10 de julho de 2002. Brasília: CFM, 2002. CONSELHO FEDERAL DE NUTRIÇÃO. Dispõe sobre critérios para Prescrição Dietética na área de Nutrição Clínica e dá outras providências. RESOLUÇÃO CFN Nº 304, DE 26 DE DEZEMBRO DE 2003. Brasília: CFN, 2003. FIDELIX, M. S. P. Manual orientativo: Sistematização do cuidado de nutrição. Associação Brasileira de Nutrição, São Paulo, p. 1-66, 2014. Sopa de sardinha + Arroz + Couve-folha + Chuchu + Cenoura (300ml) 535,68 37,6 22,73 29,15 Sopa de peixe com feijão + Batata inglesa + Cenoura + Chuchu (300ml) 581,5 57,3 28,4 26,2 Sopa de legumes (abóbora, batata inglesa, cenoura, tomate e pimentão) + sustagem (300ml) 576,5 50,43 40,82 7,21 Sopa de legumes (Batata doce, Beterraba, Chuchu, Tomate) com ovo (300ml) 575,79 41,83 26,87 33,36 Somatório 7388,47 680,39 380,75 306,81 46 CAPÍTULO 4 - DIETAS ENTERAIS ARTESANAIS FRANCA, S. C.; PAIVA, S. A. R.; BORGATO, M. H.; FONTES, C. M. B.; SIMONETTI, J. P.;LIMA, S. A. M..;PAPINI, S. J. Homemade diet versus diet industrialized for patients using alternative feeding tube at home-An integrative review. Nutrición Hospitalaria, 34(6), 1281-1287, 2017. SCHNEIDER, A. P. G. C.; MENDONÇA, S. S. Indicadores de qualidade em terapia nutricional em terapia intensiva. Comunicação em Ciências da Saúde, v. 26, n. 03/04, 2015. SOUZA, L. V; MARSI, T. C. O; Importância da ficha técnica em UANs: produção e custos de preparações/refeições. J Health Sci Inst. 33(3):248-53, São Paulo, 2015. WAITZBERG, Dan. L. Nutrição oral, enteral e parenteral na pratica clínica. 5. Ed. – Rio de Janeiro : Atheneu, 2017. 47 GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR CAPÍTULO 5CAPÍTULO 5 SUPLEMENTOS NUTRICIONAIS EM SUPLEMENTOS NUTRICIONAIS EM NUTRIÇÃO ENTERALNUTRIÇÃO ENTERAL Thayse Wilma Nogueira de Oliveira Maria Rosiany Sousa Moreira Karine Rodrigues Ferreira Beatriz Souza Santos Quando o uso de fórmulas enterais industrializadas não é possível, a dieta artesanal se torna uma alternativa viável e econômica para alimentar pacientes estáveis clinicamente e nutricionalmente. Neste tipo de formulação, muitas vezes, são necessários o emprego de suplementos ou módulos nutricionais afim de aumentar oferta de nutrientes em geral ou específicos (carboidratos, lipídios, proteínas, fibras alimentares ou micronutrientes). De maneira geral, são suplementos para uso oral ou enteral, com características similares as fórmulas enterais, que visam complementar as necessidades nutricionais de indivíduos quando a ingestão é insuficiente e/ ou em situações clínicas específicas (CUNHA et al., 2008; MAHAN; ESCOTT- STUMP; RAYMOND, 2012). 48 CAPÍTULO 5 - SUPLEMENTOS NUTRICIONAIS EM NUTRIÇÃO ENTERAL Estão disponíveis comercialmente na forma em pó, para ser reconstituído em leite ou água (ou algum líquido), ou na forma líquida, pronto para consumo. Assim como as fórmulas enterais, os suplementos podem ser classificados como padrão ou especializados, onde o primeiro é destinado a indivíduos que necessitam suprir as necessidades nutricionais, de forma a manter ou melhorar o seu estado nutricional e o segundo, que além de otimizarem o estado nutricional do indivíduo, também atuam como coadjuvante no tratamento clínico (por exemplo: oncologia, cirurgia, cicatrização, etc.). Em relação a densidade calórica e osmolalidade, os suplementos também seguem a mesma classificação das fórmulas enterais (ver capítulo 3) (FERREIRA et al., 2017; WAITZBERG et al., 2017). As fontes de nutrientes da composição variam conforme formulações e fabricantes. Com frequência são empregados triglicerídeos de cadeia longa (TCL) e ácidos graxos poli-insaturados (óleos vegetais e de peixe), embora alguns contenham triglicerídeos de cadeia média (TCM). Os carboidratos mais encontrados nestas formulações estão na forma de amido (amido de milho), polímeros de glicose (maltodextrina), dissacarídeos (sacarose, lactose) e monossacarídeos (glicose, frutose). Para melhorar aceitação via oral, alguns suplementos apresentam quantidades consideráveis de carboidratos simples, o que o torna mais doce e com osmolalidade elevada, podendo causar intolerância gastrointestinal (MAHAN; ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2012; CUPPARI et al., 2019). Com relação a proteína, este pode se encontrar na forma intacta, hidrolisada ou aminoácidos livres, como aqueles desenvolvidos para indivíduos com distúrbios disabsortivos. As principais fontes são proteínas do leite (caseína, lactoalbumina), soja e ovo. A presença de fibras nos suplementos visa colaborar para uma melhor oferta deste nutriente na dieta e, geralmente é formado por mistura de fibras solúveis (pectina, mucilagem e gomas) e insolúveis (celulose, 49 GUIA PRÁTICO DE TERAPIA NUTRICIONAL ENTERAL NO ÂMBITO HOSPITALAR E DOMICILIAR hemicelulose e lignina). Alguns produtos fornecem uma dieta nutricionalmente completa quando o paciente ingere em volume suficiente, porém outras formulações deixam a desejar, principalmente nos teores de vitaminas e minerais, sendo necessário a suplementação destes nutrientes (MAHAN; ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2012). Normalmente formulações prontas para o consumo são isentas de lactose e glúten, diferentemente do suplemento em pó, devendo a prescrição considerar a presença de intolerância à lactose, doença celíaca, alergias, desconforto digestivo após ingestão ou outras doenças gastrointestinais. Na presença de sacarose, deve-se atentar para situações clínicas que contraindiquem este nutriente e buscar outra opção que se ajuste ao plano de cuidado nutricional. Outra observação importante é em relação a condições que restringem a ingestão de gorduras ou proteínas intactas (CUNHA et al., 2008; CARVALHO, 2016; WAITZBERG et al., 2017). Tendo em vista a condição clínica, os suplementos especializados podem ser considerados, auxiliando no manejo nutricional. Este é o caso de pacientes com Lesão Por Pressão (LPP), que podem fazer uso de formulações contendo nutrientes essenciais no processo de cicatrização; pacientes no pré-operatório de cirurgias eletivas de grande porte, que necessitam de preparo imunológico; diabéticos descompensados, com formulações restritas em carboidratos; hepatopatas, com formulações contendo aminoácidos de cadeia ramificada; indivíduos com doença renal crônica, que necessitam de fórmula hipercalóricas, mas restritas em proteína e eletrólitos; entre outros. Além disso, outros nutrientes em específico podem ser suplementados, na forma de módulos nutricionais
Compartilhar