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MARIANA MARQUES JARDIM – T29 INTRODUÇÃO • As dislipidemias são caracterizadas pela presença de níveis elevados de lipídios, ou seja, gorduras no sangue. ➔ Nível acima do percentil 90 de: colesterol total, LDL e/ou triglicerídeos ou nível abaixo do percentil 10 de HDL. • Quando estes níveis ficam elevados, é possível que placas de gordura se formem e se acumulem nas artérias, o que pode levar à obstrução parcial ou total do fluxo sanguíneo que chega ao coração e ao cérebro. FATORES DE RISCO • Maiores e mutáveis: HAS, diabetes mellitus e tabagismo. • Maiores e imutáveis: idade, gênero masculino e doença cardiovascular prévia ou na família. • Menores e mutáveis: obesidade, sedentarismo, fatores psicossociais, hiperfibrinogenemia, aumento de Lipoproteína (a) e de proteína C reativa. EPIDEMIOLOGIA • Possui prevalência variável, podendo chegar a 40-48%. • Cerca de 80% dos pacientes possuem DAC prematura. DEFINIÇÕES HDL: • O colesterol HDL também conhecido como colesterol bom, é uma lipoproteína de alta densidade que retira uma porcentagem do colesterol das artérias melhorando o fluxo sanguíneo, ou seja, contribui para a proteção do leito vascular contra a aterogênese. • Realiza transporte reverso do colesterol dos tecidos para o fígado, removendo lípides oxidados de LDL. • Faz inibição da fixação de moléculas de adesão e monócitos ao endotélio e estimula a liberação de óxido nítrico. LDL: • O colesterol LDL também conhecido como colesterol ruim, é uma lipoproteína de baixa densidade que pode se acumular nas artérias dificultando o fluxo de sangue para os órgãos. VLDL: • É a lipoproteína de densidade muito baixa, também sendo um tipo de mau colesterol, seus valores elevados no sangue levam ao acúmulo de gordura nas artérias e formação de placas de aterosclerose, aumentando o risco de doenças cardiovasculares. FISIOPATOLOGIA E METABOLISMO LIPÍDICO • Lípides são substâncias insolúveis no meio aquoso, sendo representadas, principalmente, por triglicérides (TG), fosfolípides, colesterol e os ácidos graxos. • Seu transporte na circulação linfática e sanguínea é realizado pelas lipoproteínas (LP). • As lipoproteínas participam de três ciclos básicos de transporte de lípides no plasma: ➔ Ciclo exógeno: gorduras e ácidos graxos são absorvidas no intestino e chegam ao plasma, sob a forma de quilomícrons (triglicérides + colesterol), e, após degradação são direcionadas ao fígado ou a tecidos periféricos; ➔ Ciclo endógeno: gorduras do fígado se direcionam aos tecidos periféricos, assim, a lipoproteína de densidade muito baixa (VLDL) é secretada pelo fígado e, por ação da lipase lipoproteica, transforma-se em lipoproteína de densidade intermediária e, posteriormente, em LDL, a qual carrega os lípides. ➔ Transporte reverso do colesterol: as gorduras dos tecidos, retornam ao fígado (HDL nascentes captam colesterol não esterificado dos tecidos periféricos). CLÍNICA MÉDICA: Dislipidemia MARIANA MARQUES JARDIM – T29 DISLIPIDEMIA E ATEROSCLEROSE • As placas ateromatosas são lesões elevadas compostas por lipídios (principalmente colesterol e ésteres de colesterol, com restos necróticos). • O depósito de lipoproteínas na parede arterial é um processo chave no início da aterogênese e ocorre de maneira proporcional à concentração dessas lipoproteínas no plasma. • Nível elevado de LDL está associado com aumento de eventos cardiovasculares e a redução do LDL é associada com redução de eventos. • Os mecanismos pelos quais a dislipidemia contribui para a aterogênese incluem: ➔ Hiperlipidemia crônica: pode comprometer a função endotelial por provocar aumento da produção local de radicais livres derivados do oxigênio, assim, as lipoproteínas acumulam-se dentro da camada íntima, local onde produzem dois derivados: LDL oxidada e cristais de colesterol. Classificação • As dislipidemias podem ser classificadas em: ➔ Hiperlipidemias: níveis elevados de lipoproteínas. ➔ Hipolipidemias níveis baixos de lipoproteínas. • Classificação etiológica: ➔ Causas primárias: são aquelas nas quais o distúrbio lipídico é de origem genética. ➔ Causas secundárias: a dislipidemia é decorrente de estilo de vida inadequado, de certas condições mórbidas ou de medicamentos. HIPERTRIGLICERIDEMIA • Consiste na hiperlipidemia causada por aumento isolado dos triglicérides: ➔ TG ≥ 150 mg/dL em jejum; ➔ TG ≥ 175 mg/dL, sem jejum. • É fator de risco para doenças cardiovasculares, principalmente para DAC. • Não está claro se a hipertrigliceridemia é causa da aterosclerose, já que o triglicérides se acumulam pouco nas paredes arteriais. • Anormalidades associadas a hipertrigliciremia que podem ser fatores de risco para a aterosclerose: ➔ HDL-c baixa., partículas LDL pequenas e densas, resistência insulínica, aumento da coagulabilidade e hiperviscosidade sanguínea. HIPERTRIGLICIREMIA PRIMÁRIA: • Causada pela diminuição da hidrólise dos triglicerídeos pela LPL ou pelo amento da síntese de VLDL, gerando assim acúmulo de quilomícrons ou de VLDL e causando a hipertrigliceridemia primária (genética). HIPERTRIGLICERIDEMIA SECUNDÁRIA: • Pode ser causada por: ➔ Medicamentos: estrógeno, tamoxifeno, inibidores de proteases e glicocorticóides; ➔ Gestação; ➔ Diabetes não controlado; ➔ Obesidade; ➔ Síndrome nefrótica e insuficiência renal; ➔ Ingesta excessiva de álcool; ➔ Hipotireoidismo. CONDUTA E TRATAMENTO PARA HIPERGLICERIDEMIA: • Tratamento da obesidade; • Tratamento da diabetes; • Cessar etilismo; • Atividade física; • Reduzir carboidratos e gorduras. Observação: A concentração de TG é muito sensível (até 20%) a variações do peso corporal e a alterações na composição da dieta. • Tratamento farmacológico: ➔ TG > 500 mg/dL: fibrato (fenofibrato, ciprofibrato ou bezafibrato), podendo adicionar ácido nicotínico e/ou ômega 3 se necessário. ➔ TG < 500 mg/dL: se necessário, priorizar o uso de estatinas para a redução do risco cardiovascular. DISLIPIDEMIA POR HDL BAIXO • É uma das dislipidemias mais comuns, principalmente em diabéticos, tabagistas e em pacientes com DAC. • Para ser considerado HDL baixo: ➔ Valor < 40mg/dL para homens. ➔ Valor < 50mg/dL para mulheres. • Possui prevalência de HDL baixo varia de 20% na população geral a até 60% em pacientes com doença coronária diagnosticada. FATORES DE RISCO PARA HDL BAIXO: ➔ Genética; ➔ Tabagismo; ➔ Sedentarismo; ➔ Alto consumo de carboidratos e gorduras; ➔ HAS e obesidade; ➔ Consumo de álcool; ➔ Estados inflamatórios agudos; ➔ Fármacos: esteróides anabolizantes, agentes imunossupressores, betabloqueador, antipsicótico atípico, terapia antirretroviral para HIV/AIDS. ➔ Doenças hepáticas (cirrose). MARIANA MARQUES JARDIM – T29 CONDUTA E TRATAMENTO: • Cessar tabagismo; • Atividade física; • Reduzir carboidratos, gorduras e álcool. Observação: exercício físico: aumenta HDL e redução do TG CONDUTA PARA O ALTO RISCO CARDIOVASCULAR: • MEV: cessar etilismo, exercícios físicos, alimentação rica em verduras e legumes e redução do stress. • Controle adequado da diabetes mellitus. • Estatina para prevenção secundária (paciente com equivalente de DAA). HIPERCOLESTEROMIA • Consiste na hiperlipidemia causada por aumento isolado do LDL ≥ 160 mg/dL. • Em alguns casos, a hipercolesterolemia é causada por outras doenças (hipercolesterolemia secundária), como o hipotireoidismo, ou mesmo por uso de determinadas medicações. No entanto a maioria dos casos se deve à hipercolesterolemia primária, havendo participação de fatores ambientais e hereditários. HIPERCOLESTEROLEMIA PRIMÁRIA OU FAMILIAR: • Causada por um defeito no gene do LDLR ou por defeito no gene APOB10012hhc3. • É uma das doenças monogênicas mais comuns,possui herança autossômica dominante e é caracterizada pela elevação do colesterol total e do LDL-c. • Possui alto risco cardiovascular em jovens, sendo necessário obter diagnóstico precoce. • Quando há mutação do LDLR (gene receptor do LDL) pode haver alteração estrutural ou funcional, assim, o nível de remoção de LDL do plasma diminui, e o nível plasmático de LDL aumenta. • Heterozigotos, a ausência de um alelo funcional pode causar um aumento no nível de LDL para cerca de duas vezes o normal já na infância. • Homozigotos herdam dois alelos mutados, assim, os LDLR não têm funcionalidade e os pacientes são portadores de uma hipercolesterolemia grave (650 a 1000 mg/dL). • Deve-se suspeitar em casos de aparição de xantelasmas, xantomas tendíneos e arco corneal precoce (<50 anos). • Colesterol total ≥ 310 mg/dL (para adultos) ou ≥ 230 mg/dL (crianças e adolescentes) podem ser indicativos de causas primárias, se excluídas as dislipidemias secundárias. DEVE-SE SOLICITAR AVALIAÇÃO LABORATORIAL: • Em indivíduos cima de 10 anos. • Em indivíduos a partir dos 2 anos de idade se: ➔ Histórico familiar de colesterol elevado e/ou de DAC prematura; ➔ Se a criança apresentar xantomas, arco corneano; ➔ Se a criança apresentar fatores de risco (HAS, DM, fumo ou obesidade) ou doença aterosclerótica. • No adulto, a primeira dosagem de lípides é recomendada entre os 17 e os 21 anos. • Casos de hipercolesterolemia secundária. Observação: se não houver dislipidemia, a próxima avaliação laboratorial será aos 25 anos no homem e aos 35 anos na mulher se o paciente tiver fatores de risco cardiovascular ou 35 anos para o homem e 45 anos para a mulher, se não houver outros fatores de risco (repetindo a cada 5 anos até os 65 anos). HIPERCOLESTEROLEMIA SECINDÁRIA: • Causada por outras doenças secundárias, geralmente associada a pacientes com doença arterial aterosclerótica manifesta ou equivalente de risco aterosclerótico. PRINCIPAL CAUSA DA HIPERCOLESTEROLEMIA: • Herança Poligênica + dieta “ocidental” e estilo de vida. ➔ Herança poligênica: consiste nas mutações em múltiplos genes envolvidos no metabolismo lipídico. ➔ Dieta ocidental: rica em gorduras, carboidratos e açúcares e pobre em fibras, legumes e verduras. ➔ Estilo de vida sedentário. CONDUTA E TRATAMENTO DA HIPERCOLESTEROLEMIA: DIETA: • Perda de peso se acima do peso ideal; • Dieta pobre em gorduras saturadas (elevam o colesterol plasmático e tem ação pró-inflamatória); • Eliminar ácidos graxos trans (gordura vegetal que passa por um processo de hidrogenação natural ou industrial, são responsáveis por aumentar o LDL e induzir intensa aterosclerose); • Priorizar a ingestão de gorduras poliinsaturados (peixes) e monoinsaturados (azeite e oleoginosas). • Reduzir a ingestão de açúcares; • Incluir frutas, verduras, legumes, grãos, fitoesteróis (reduzem a absorção de colesterol: grãos, óleos vegetais, abacate, verduras e legumes) e fibras solúveis na dieta. Observação: a dieta de modo isolado associa-se a reduções de 5 a 7% no colesterol total e no LDL. MARIANA MARQUES JARDIM – T29 EXERCÍCIOS FÍSICOS: • São responsáveis pelo aumento da cinética do LDL na circulação e aumenta o tempo em que o LDL permanece na sua forma reduzida. • Em pacientes com doença coronária aterosclerótica, o exercício físico promove estabilização ou mesmo regressão da aterosclerose. • Apesar do exercício proporcionar desfechos clínicos altamente favoráveis à elevação de HDL e as quedas de CT, LDL e TG decorrentes de sua ação são modestas, acredita-se que as mudanças são funcionais: ➔ ↓ das partículas de LDL-c pequenas e densas; ➔ ↑ de subclasse de HDL2 relacionados inversamente com o risco de DAC; ➔ ↓ das subclasses de HDL3, que são positivamente relacionadas com a DAC. OUTRAS CONSUTAS: • Avaliar hepatopatia, hipotireoidismo, síndrome nefrótica, Cushing, bulimia e drogas que aumentam o colesterol. • Tratar diabetes e obesidade. • Cessar tabagismo e etilismo. FARMACOLOGIA: • Estatinas (reduzem o LDL em até 50%): redução do LDL por inibidores da HMG-CoA redutase (a depleção intracelular de colesterol estimula a expressão na membrana celular de receptores para captação do colesterol circulante). ALTO / MUITO ALTO RISCO CV RISCO INTERMEDIÁRIO CV ESTATINA De alta intensidade (reduz LDL em 50%) Atorvastatina 40-80 mg Rosuvastatina 20-40 mg Sinvastatina 40/ezetimiba 10 mg De moderada intensidade (reduz LDL entre 30- 50%) Sinvastatina 20-40 Atorvastatina 10-20 Rosuvastatina 5-10 • Em caso de intolerância a estatina, prescreve-se Ezetimibe (reduzem de 10-25% o LDL por inibir a absorção de colesterol na borda em escova do intestino delgado, atuando seletivamente nos receptores NPC1- L1 e inibindo o transporte intestinal de colesterol) ou Colestiramina (reduz de 2-30% a redução de LDL - atuam reduzindo a absorção enteral de ácidos biliares. Como resultado, ocorre depleção do colesterol celular hepático, estimulando a síntese de LDLR e de colesterol endógeno). • Para gestantes também se receita colestiramina. • Ainda pode ser usado o fármaco inibidor de PCSK9 (reduz o LDL em50-60% - Bloqueia a degradação do LDLR, com maior capacidade de clearance da LDL). METAS A SEREM ATINGIDAS NO TRATAMENTO: • Depende do risco cardiovascular do paciente. • A meta para o não HDL-c deve ser 30 mg/dL acima da meta para o LDL. • Para o LDL, existem duas opções: o cálculo ou a dosagem direta. ➔ O principal problema da dosagem direta do LDL é a grande variação existente entre os ensaios disponíveis no mercado (até 30%) ⇒ a maior parte dos laboratórios pelo mundo utiliza para o cálculo a fórmula de Friedewald LDL = CT - HDL - TG/5 - sendo o valor de TG/5 uma estimativa da VLDL. • A concentração dos triglicerídeos deve ser < 400 mg/dL • Não-HDL = CT - HDL ⇒ Estima a quantidade de lipoproteínas aterogênicas presentes no plasma RISCO LDL NÃO HDL TG BAIXO <130 <160 <160 INTERMED <100 <130 <130 ALTO <70 <100 <100 MUITO ALTO <50 <80 <80 CLASSIFICAÇÃO DE RISCO MUITO ALTO RISCO: • Doença aterosclerótica manifesta: DAC, DCV e DAP. • Hipercolesterolemia familiar. • Principais: multiarteriais, multi procedimentos vasculares, síndrome coronariana aguda no último ano e diabetes ou DRC estágio 3, 4 e 5. ALTO RISCO: • Aneurisma de aorta abdominal. • LDL-c 190 mg/dL. • ERG > 20% e nas mulheres > 10% + LDL > 70 mg/dL. • Aterosclerose subclínica: espessamento carótidas placa > 1,5 mm, ITB < 0,9 e escore de Cálcio > 100 ou a presença de placas ateroscleróticas na angio-TC de coronárias. • DRC (TFG < 60 mL/min) • DM com fator de risco + LDL > 70. RISCO INTERMEDIÁRIO: • ERG entre 5 e 20% no sexo masculino e ERG entre 5 e 10% no sexo feminino. • Diabéticos sem os critérios de risco. BAIXO RISCO: • ERG < 5%.
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