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Estética Aula 4: Registros no campo da expressão artística Apresentação Estudaremos a pré-história, uma época do desenvolvimento primário do ser humano. Foram necessários o domínio do fogo e a criação de instrumentos para afugentar, dominar e caçar os animais. Compreenderemos os registros no campo da expressão artística. Primeiramente, teremos o contato com a técnica da fotogra�a. Exploraremos também a arte como fenômeno histórico-social. Conheceremos a linguagem artística (forma e estilo) – importante na medida em que contempla pesquisa e re�exão da relação construída socialmente e da relação estabelecida entre indivíduo, grupo e o mundo social. Objetivos Apoiar a percepção dos registros da linguagem artística; Identi�car a arte como fenômeno histórico-social; Explicar as formas e os estilos da linguagem artística. Arte na origem Sociedades antigas (476 a.C.) como as dos egípcios, gregos e romanos já eram consideradas sociedades altamente desenvolvidas. O estudo da expressão artística é sinônimo de estudo da história da civilização. O desenvolvimento tecnológico, a arquitetura, os sistemas jurídicos, os rituais, casas confortáveis e com estrutura de encanamentos internos não teriam sido possíveis sem a expressão da arte. Desde o início dos tempos, o homem busca garantir a sua sobrevivência. Na Idade da Pedra, foram necessários o domínio do fogo e a criação de instrumentos para afugentar, dominar e caçar os animais. O homem criou e aperfeiçoou as ferramentas por meio da técnica que tem à sua disposição, gerando tecnologia para registrar e melhorar assim suas condições de vida, sobrevivência, defesa e conforto. "É possível que, se os registros nunca tivessem existido, a história do mundo poderia ser condensada na relevância do que um ser humano pudesse memorizar.” - HORCADES, 2004, p. 16 Temos que contar com a interpretação de quem relata um fato. Já diz o dito popular: “quem conta um conto aumenta um ponto”. Isso porque dependia da memória dos indivíduos o armazenamento das informações. Com os registros da arte, reduziu-se a chance de interpretações errôneas e de exclusão de informações. Os relatos artísticos seriam então mais verídicos e, principalmente, mais duráveis. Uma das maiores realizações do homem é o registro da expressão artística. O homem permaneceu tão primitivo em termos de comunicação até cerca de dez mil anos atrás. Pinturas do homem primitivo da caverna "Os agrupamentos humanos começaram a crescer mais e mais e, com tanta gente nas vilas, foi preciso organizar a sociedade. Só a palavra falada não era suficiente. Então o homem inventou a escrita, a arte.” - CLAIR; BUSIC-SNAIDER, 2009, p. 9 Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online A partir do registro da expressão, o conhecimento passou a se acumular e os novos integrantes da sociedade tinham a seu dispor história e experiências de seus antecedentes registradas. O registro mais antigo que se tem da expressão são as placas de Uruk, pequenas placas de argila escritas com osso, metal ou mar�m. Arte como fenômeno histórico-social À medida que as relações se ampliavam e se tornavam mais complexas, surgia a necessidade cada vez maior de também ampliar os meios para podermos nos comunicar com nossos pares. Com o desenvolvimento da comunicação verbal, os seres humanos puderam: • Interagir; • Ajudar uns aos outros; • Comunicar seus pensamentos, sentimentos; • Trocar técnicas; • Atingir um conforto maior em suas vidas e na vida em sociedade. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Inicialmente, o homem sentiu necessidade de: • Registrar em forma de signos e símbolos a sua vida cotidiana; • Descrever seu mundo (foram em cavernas os seus primeiros registros). Gruta de Chauvet Os pictogramas, como eram chamados, consistiam em desenhos simpli�cados para representação de objetos e animais. Os desenhos foram os primeiros passos da humanidade rumo à comunicação escrita. A partir disso, as linguagens se desenvolveram. Gruta de Chauvet A linguagem, baseada em pictogramas, evoluiu para ideogramas: • Imagens que não representavam apenas objetos e animais, mas sim pensamentos. • Combinavam-se alguns pictogramas para representar uma ideia, um conceito. Os ideogramas contêm elementos de abstração e, por isso, podem não ser compreendidos de imediato. "Cada cultura desenvolveu seus próprios ideogramas, refletindo suas crenças, política, economia e sociedade." - CLAIR; BUSIC-SNAIDER, 2009 A evolução de suporte seguiu para os papiros, que os egípcios utilizavam para registrar os fatos ocorridos naquela época: • Os nascimentos; • A administração; • As leis; • Os documentos literários; • Os funerais. Papiro Saiba mais 1. O papiro era o precursor do papel e foi disseminado na Idade Média quando monges faziam cópias de documentos. A maioria dos textos escritos nos papiros já não existem mais, pois o clima mediterrâneo úmido ajudou na sua deterioração. Em seguida, com os pergaminhos, feitos de peles de animais, os documentos e registros tornaram-se mais duráveis, mais resistentes ao clima e às temperaturas. 2. Sugerimos que assista ao �lme: LE NOM de la rose = O NOME da rosa. Direção: Jean-Jacques Annaud. França; Itália; Alemanha: 20th Century Fox Film Corporation, 1986. 126 min, son., color. A história se passa em 1327. Os monges da Idade Média em atividades diárias faziam cópias documentos, de livros, e de outros materiais que deveriam ser reproduzidos dentro dos monastérios. É possível ver o tipo de papel, tintas e canetas utilizados na época. Os monges, então, exerciam a atividade de copistas. Antes do invento dos tipos móveis e da prensa, essa era a forma de fazer cópias. Fotogra�a como espelho da sociedade, do mundo A fotogra�a pode capturar um momento fugaz ou marcar a passagem lenta do tempo. "A tentativa de reviver o real por meio da fotografia foi tema de dois filmes clássicos no século passado. O primeiro - Laura, de 1945, em que um detetive se apaixona pelo retrato na parede de uma garota supostamente assassinada e, a seguir, consegue encontrá-la viva no mundo real. No outro, de 1980 - Em algum lugar no passado (Somewhere in Time), o herói se apaixona pelo retrato de uma jovem atriz e volta ao passado para poder tê-la em seus braços" - ABREU; MOURA; VIEIRA, 2019, p. 9-10 O detetive McPherson (Dana Andrews) e o retrato de Laura (Gene Tierney) Richard Collier (Christopher Reeve) e o retrato de Elis Mckenna (Jane Seymour) "O mundo jamais se assemelha, de forma alguma, a um quadro, ao passo que um quadro pode assumir a aparência do mundo.” - GOMBRICH, 1974 "A imagem modula o mundo, a realidade, apresenta-nos ângulos, ensina-nos ver e a enxergar coisas que talvez por nós mesmos, não enxergaríamos. E os diferentes graus com que foram produzidas as histórias do mundo nos permitiram atingir um nível de semelhança mais ou menos perfeita, que sempre tiveram um caráter simbólico, vinculado à linguagem.” - ABREU; MOURA; VIEIRA, 2019, p. 45 Duas imagens do Planeta Terra Planeta Terra: visão parcial noturna Terra, o planeta azul "Um único objeto podendo gerar várias imagens diferentes, sejam elas pinturas ou fotografias. Na fotografia - Um único referente pode ser retratado em diversos ângulos ou perspectivas. Na pintura - Eventos e cenas que marcaram a história são retratados em estilos diferentes podendo, inclusive, codificar traços de um estilo ou ideologia dominante em um determinado período socio-histórico.” - ABREU; MOURA; VIEIRA, 2019, p. 45 Para entendermos melhor a arte como re�etor e re�exo da nossa sociedade, precisamos nos ater um pouco sobre os conceitos de arte, artista e objeto artístico. Arte É a representação da realidade. "A arte possui uma autonomia, ou seja, não está vinculada a nenhuma finalidade específica a não ser ela mesma. A arte deixa de ser apenas um instrumento mediador do conhecimento do real, para se tornaruma experiência primária, a partir da qual desaparece o conceito clássico de que a arte seria apenas como mimese.” - ARGAN, 2013, p. 11 O que é a arte mimese? “É a imitação das coisas do mundo concreto, que na concepção de Platão, já eram a representação ideal e perfeita da realidade. Assim, uma pintura ou escultura, segundo Platão, seriam uma cópia da cópia, estando, assim, três pontos afastada da verdade.” ABREU; MOURA; VIEIRA, 2019, p. 42 Exemplo de arte mimese Artista Aquele que cria, produz uma obra de arte, em determinado tempo e momento do mundo concreto em que vive, a partir de “um tipo de postura (predominantemente racional ou passional) que [...] assume em relação à história e à realidade natural e social” (ARGAN, 2013, p. 12). Objeto artístico É o resultado da arte, com signi�cado para uma determinada cultura. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Forma e estilo, linguagens artísticas Segundo Abreu; Moura; Vieira (2019, p. 42), o conceito de referência diz respeito à linguagem: • Verbal (códigos linguísticos); • Não verbal (imagens, gestos, cores, sons, expressões corporais ou faciais, entre outros); • Relação a alguma coisa do mundo real ou conceitual. A linguagem faz uso de um sistema de signos para que a comunicação aconteça. Esse sistema de signos é convencional. Todas as pessoas que fazem uso de um determinado sistema de signos devem saber que os signos signi�cam e produzem uma mensagem. Os signos, de acordo com a maneira como representam as coisas, dividem-se em: ÍNDICES Têm uma relação direta com o elemento representado (referente). Exemplos: Pegadas na areia (Indicam diretamente que alguém passou por ali); nuvens negras (proximidade da chuva). ÍCONES Têm uma relação analógica com o elemento representado. A foto de uma pessoa é uma analogia a essa pessoa. Um mapa de um território é uma analogia a esse território. SÍMBOLOS Têm uma relação arbitrária com o elemento representado, como no caso da linguagem. Aquilo que denominamos mesa, em português, denominamos table, em inglês; O que chamamos de coração em português, é heart em inglês. Poça-d’água A poça de água no chão indica que acabou de chover. Fumaça A presença de fumaça indica que há fogo, representando bem o ditado “Onde há fumaça, há fogo”. As imagens anteriores são signos não linguísticos. Os referentes desses signos são os objetos no mundo aos quais eles se referem, mas os referentes são representados de duas formas diferentes. Esses signos indicam uma relação de causa e efeito – chuva/ poça, fogo/fumaça – são denominados índices. Esboço de uma casa Planta de uma casa Ainda de acordo com Abreu; Moura; Vieira (2019, p. 42-43), “o esboço de uma casa e a planta de um apartamento remetem-se a seus referentes pela similaridade de suas qualidades. São ícones, da mesma forma que uma pintura ou a fotogra�a de uma casa o seriam. A relação entre os símbolos e seus respectivos referentes é convencional, isto é, seu signi�cado �cou estabelecido por convenção dentro de uma determinada comunidade. Quem faz uso de um determinado símbolo conhece seu signi�cado, como no caso da cruz, que para os cristãos, é um símbolo da paixão e morte de Cristo”. Esboço de uma casa Casa em vários idiomas "Signos linguísticos - o referente é simbolicamente denominado casa pelos falantes da língua portuguesa: • House pelos falantes da língua inglesa; • Haus pelos falantes da língua alemã; • Maison pelos falantes da língua francesa; • Domus no latim, e assim por diante; • Não há nenhuma razão para que qualquer forma linguística particular seja associada a qualquer significado particular. Os signos são arbitrários e não motivados.” - ABREU; MOURA; VIEIRA, 2019, p. 44 Atividade 1. Observe a imagem a seguir e identi�que: a) Artista b) Obra c) Apreciador d) Linguagem e) Interpretação 2) Por que o estudo da expressão artística é sinônimo de estudo da história da civilização? 3) O que é referência na Estética? Referências ABREU, A. S.; MOURA, M. F. de; VIEIRA, S. L. A. B. R. Estética da imagem. Rio de Janeiro: SESES, 2019. ARGAN, Giulio Carlo. Arte moderna: do Iluminismo aos movimentos contemporâneos. 2.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. BENJAMIN, Walter. Estética e sociologia da arte. Belo Horizonte: Autêntica, 2017. CAVALCANTI Luciano Marcos Dias MÚSICA E POESIA EM MANUEL BANDEIRA: Estação Literária Vagão volume 3 (2009) 1 CAVALCANTI, Luciano Marcos Dias. MÚSICA E POESIA EM MANUEL BANDEIRA: Estação Literária. Vagão-volume 3 (2009) – 1- 93. Disponível em: //www.uel.br/pos/letras/EL/vagao/EL3Art3.pdf. Acesso em: 17 jun. 2019. CLAIR, Kate; BUSIC-SNAIDER, Cynthia. Manual de tipogra�a: a história, a técnica e a arte. 2. Ed. Trad. Joaquim da Fonseca. Porto Alegre: Bookman, 2009. GOMBRICH, E. H. (1974). Mirror and map: theories of pictorial representation. In: GOMBRICH, E. H. The image and the eye: further studies in the Psychology of pictorial representation. Oxford: Phaidon Press, 1982. HAUSER, Arnold. História social da literatura e da arte. São Paulo: Martins Fontes, 2003. HORCADES, Carlos M. A evolução da escrita: história ilustrada. Rio de Janeiro: Senac, 2004. LAGO, Clenio. 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