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História da Língua Portuguesa

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HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA 
Dra. Sylvia Bittencourt 
GUIA DA 
DISCIPLINA 
 2021 
 
 
1 História da Língua Portuguesa 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
Pinterest – https://br.pinterest.com/pin/728738783437595837/ - acesso em 11/12/2020 
 
 
 
 
 
 
https://br.pinterest.com/pin/728738783437595837/
 
 
2 História da Língua Portuguesa 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
1. AS ORIGENS DA LÍNGUA PORTUGUESA 
 
 Última flor do Lácio, inculta e bela, 
 És, a um tempo, esplendor e sepultura: 
 Olavo Bilac 
 
Objetivo 
Informar os caminhos da transformação ou evolução das línguas que garantiram ao 
humano a comunicação com fins utilitários, sagrados, lúdicos e estéticos. E da escrita que 
permitiu a comunicação à distância - tanto no tempo como no espaço - ligando a História 
da Civilização no planeta. Estes conhecimentos para um docente de língua Portuguesa 
ajudam a entender nosso sistema ortográfico, auxilia o reconhecimento de mecanismos 
linguísticos (fonéticos, morfológicos, sintáticos, semânticos) que regem as transformações 
da Língua Portuguesa e a permanente interação global com outros idiomas. Afinal, a Língua 
Portuguesa é uma língua viva que vem se transformando ao longo dos séculos e nos cinco 
continentes da Terra. 
 
Introdução 
1.1. A romanização da Península Ibérica 
Os romanos desembarcam na Península no ano 218 a.C. Todos os povos da 
Península, com exceção dos bascos 1, adotam o latim como língua e, mais tarde, todos 
abraçarão o cristianismo. A área linguística do que virá a ser o galego e o português 
delineia-se, desde a época romana, no mapa administrativo do Ocidente peninsular. A 
região da Galícia espanhola e de Portugal corresponde, aproximadamente, a quatro desses 
territórios: de Lucus Augustus (Lugo), de Bracara (Braga), de Scalabis (Santarem) e de Pax 
Augusta (Beja). Delineia-se pois a área linguística do que virá a ser o galego e o português. 
 
 
 
1 O basco já era falado muito antes de os romanos introduzirem o latim na Península Ibérica. Por não 
ter línguas aparentadas conhecidas, o basco é claramente diferente das outras línguas europeias, 
particularmente aquelas (que são a grande maioria) que têm relações de prentesco entre si no interior da 
família indo-europeia 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Latim
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pen%C3%ADnsula_Ib%C3%A9rica
https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_indo-europeias
 
 
3 História da Língua Portuguesa 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
 
 
 
1.2. Os suevos e os visigodos (séculos VI e VII) 
 Em 409, invasores germânicos — vândalos, suevos e alanos — afluem ao sul dos 
Pireneus, seguidos, mais tarde, pelos visigodos Esses instalam o Reino Visigótico cristão 
ao sudoeste da Península ibérica entre os séculos V-VIII Assim começa um período 
retratado por Alexandre Herculano no romance histórico Eurico, o Presbítero, E o período 
visigótico terminará em 711, com a invasão muçulmana. Mas durante esse período, os 
alanos foram rapidamente aniquilados. Os vândalos passaram para a África do Norte. Os 
suevos, em compensação, conseguiram implantar-se e resistiram aos visigodos mas em 
585, esse território foi conquistado pelos visigodos e incorporado ao seu Estado cristão. 
 
1.3. A invasão muçulmana e a Reconquista 
Em 711 os muçulmanos invadem a Península e em pouco tempo conquistam mais 
territórios, com inclusão da Lusitânia e da Gallaecia. Estes muçulmanos eram árabes e 
berberes do Maghreb2. Tinham o Islão como religião e o árabe como língua de cultura, 
 
2 O Magreb é uma área da África Setentrional (África Branca), que corresponde à região ocidental do 
norte do continente africano. Países do Magreb: Marrocos, Tunísia, Argélia, Mauritânia, Saara Ocidental 
(território controlado pelo Marrocos). 
 
 
4 História da Língua Portuguesa 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
mesmo aqueles que falavam o bérbere. Os povos ibéricos chamaram-nos “mouros”. A 
Reconquista cristã partiu do Norte, vai expulsando os mouros para o sul. É durante esta 
Reconquista que nascerá, no século XII, o reino independente de Portugal. 
 
Até por volta do ano 1000 a Espanha muçulmana domina os inimigos cristãos. É a 
época áurea do califado de Córdoba. Em 997, Compostela na Galícia é destruída. Mas no 
início do século XI, os reinos cristãos iniciam um movimento ofensivo. Na região ocidental 
(a que nos interessa, pois lá estão os limites de Portugal), Coimbra é reconquistada em 
1064, Santarém e Lisboa em 1147, Évora em 1165, Faro em 1249. Com a tomada de Faro, 
o território de Portugal está completamente formado. O resto da Península só seria 
definitivamente reconquistado bem mais tarde, em 1492, quando os Reis Católicos – 
Fernando e Isabel se apoderam do reino de Granada e gradativamente promovem a 
unificação dos reinos cristãos em Espanha. 
 
A invasão muçulmana e a Reconquista são acontecimentos determinantes na 
formação de três línguas peninsulares — o galego-português a oeste, o castelhano no 
centro e o catalão a leste. Estas línguas, todas três nascidas no Norte, foram levadas para 
o Sul pela Reconquista. Nas regiões setentrionais, onde se formaram os reinos cristãos, a 
influência linguística e cultural dos muçulmanos tinha sido, evidentemente, mais fraca que 
nas demais regiões. No Oeste, a marca árabe-islâmica é muito superficial ao norte do 
Douro, ou seja, na região que corresponde hoje à Galícia e ao extremo norte de Portugal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 História da Língua Portuguesa 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Indo para o sul, as marcas árabes-islâmicas vão se tornando mais nítidas, e tornou-se 
duradoura na área que vai desde o Mondego até Algarve. Foi na primeira destas regiões, 
ao norte do Douro —que se formou a língua galego-portuguesa, cujos primeiros textos 
escritos aparecem no século XIII. 
 
 Além das “cantigas de amigo”, de amor e de escárnio, o galaico- português está 
documentado nos livros de Linhagem ou Nobiliários que registravam em forma de 
narrativas, fatos da vida de sucessivas gerações de nobres. 
 
E dom Fernam Fernandez foi casado com dona 
Maria Alvarez, filha do conde dom Álvaro de Fita, e fez 
em ela ûu filho e ûa filha. E o filho houve nome Martim 
Fernandez e foi mui boo mancebo e morreu cedo, de 
idade de XXVI annos; E a filha houve nome dona 
Sancha, e demandou-a o emperador, e ela, com medo 
de seu irmão, nom. se atreveo. E como aquela que 
queria fazer mal, deu peçonha a seu irmão e matou-o, 
e depois foi-se para o emperador e foi sa barregãa. 
 
Livro de Linhagem (LL21G11) Biblioteca da Torre do Tombo 
 
 Para fechar esse tema, registra-se que a Língua Portuguesa com o passar dos 
séculos diferencia-se do galego e constitui-se como uma das línguas românicas, ou seja: 
que apresenta características dos idiomas românicos. Porém nem todas as línguas 
Novilatinas apresentam as mesmas estruturas, isto é, algumas contêm vocabulário latino, 
outros não; alguns mostram uma sintaxe latina, outras nem tanto. O que as unem é um 
conjunto de similaridades, seja da forma, função ou origem. O filólogo3 Ismael de Lima 
Coutinho ressalta: “Há dez línguas românicas: o português, o espanhol, o catalão, o 
francês, o provençal, o italiano, o reto-romano [rético ou ladino], o dalmático, o romeno (ou 
valáquio) e o sardo” (COUTINHO, 1962, p. 46,). 
 
 
3 Filólogo, o que se dedica ao estudo de uma língua em todos os seus aspectos e dos escritos que 
a documentam, e ao estudo científico da evolução de uma língua ou de famílias de línguas; o mesmo que 
Filologia, Gramática Histórica. Linguística românica ou História da Língua. 
 
 
6 História da Língua Portuguesa 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Outro filólogo Said Ali (1921, p. 02) diz que: “Todas estas línguas e dialetos 
originaram-sedo latim; não do latim literário, que em muitos pontos era linguagem artificial, 
e sim do latim vulgar, isto é, da linguagem viva, do latim falado”. Portanto, o caminho que 
estamos seguindo nos levará a aceitar uma hipótese: a de que a língua escrita culta não 
passa de um idioma artificial que em nada reflete o uso e é o latim vulgar, a verdadeira fonte 
inesgotável para estudos. 
Línguas Românicas ou Novilatinas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Latim 
 
Português 
Castelhano 
Francês 
Galego 
Romeno 
Italiano 
Catalão 
Dalmático 
Sardo 
Rético ou ladino 
 
 
7 História da Língua Portuguesa 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
2. SOBRE CONTATOS LINGUÍSTICOS 
 
Vício na fala 
 
Para dizerem milho dizem mio 
Para melhor dizem mió 
Para pior pió 
Para telha dizem teia 
Para telhado dizem teiado 
E vão fazendo telhados. 
 
Oswald de Andrade 
 
 Objetivo 
Tratar das diferentes formas de contatos entre duas ou mais línguas emprego fontes 
teóricas diferentes: Faraco (2006), Garcia e Castro (2010), Bagno (2007), Mattoso Câmara 
(2011). 
 
 Introdução 
Uma língua nem sempre é constituída exclusivamente por elementos presentes em 
seu próprio material linguístico. A maioria das línguas apresenta, em sua estrutura interna, 
um conjunto de componentes lexicais originários de línguas com as quais manteve (ou 
ainda mantém) contato. 
 
 Segundo Faraco (2006) há três diferentes situações em que o contato linguístico 
pode ocorrer: substrato, superstrato e adstrato. 
 
Em relação ao primeiro termo, assinala que, substrato torna-se uma mera marca de 
língua. Tal idioma é completamente suplantado, restando somente, alguns resquícios, ou 
pequenas marcas, vocábulos. Isto pode ser atestado nos seguintes argumentos retirados 
do Dicionário gramatical de latim: nível básico: 
 
É a língua que, falada numa determinada região, por vários motivos, foi substituída 
por outra (por exemplo, no caso das invasões). A substituída acaba por influenciar, de 
alguma maneira, a língua que a substituiu. Os romanos, na Gália, implantaram o seu idioma, 
 
 
8 História da Língua Portuguesa 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
mas o celta ainda deixou vestígios no latim, como, por exemplo, a palavra carrus (GARCIA; 
CASTRO, 2010). 
 
 
Observamos que Faraco (2006) aponta a língua celta como exemplo de substrato. 
Pouco se sabe sobre os celtas, mas é certo de que se trata de um antigo povo indo-
germânico que viveu na região da Gália por volta do século III a. C. Do celta restaram 
elementos lexicais, isto é, somente algumas palavras podem ser percebidas no latim, tais 
como bucca, - ae (boca) e caballus, - i (cavalo). 
 
O Português do Brasil (ou Angola ou Moçambique) adotou inúmeros vocábulos de 
origem indígena e das línguas africanas conservaram palavras de tribos locais. Apesar do 
Brasil ter tido mais de mil e quinhentas línguas e atualmente restarem somente cerca de 
cento e cinquenta línguas indígenas, notamos traços que distinguem a produção sonora de 
certas palavras que se afastam das formas e construções do português europeu. 
 
Os traços característicos do idioma do Brasil podem ser de variadas naturezas: 
fonético-fonológicos, morfológicos, semânticos e lexicais. São essas diferenças que 
percebemos ao ouvirmos um falante do Brasil, de um lado, e um falante do português 
europeu, do outro, ressaltam sobretudo diferenças fonéticas. 
 
A definição apresentada por Mattoso Câmara (2011) em seu Dicionário de 
Linguística e Gramática aponta que será no léxico onde as mudanças serão mais 
perceptíveis. 
 
 
 
substrato 
substantivo masculino, essência, natureza íntima. 
O que restou de uma transformação; resíduo, resto 
Em linguística, substrato é o resultado da integração de uma língua nativa, que 
foi aos poucos sendo abandonada em favor de outra, porém, deixando 
vestígios de sua influência. 
 
 
 
 
 
9 História da Língua Portuguesa 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
O superstrato tem maior resistência e pode coexistir ao lado de outro idioma por um 
longo tempo, recebendo influência da língua já falada naquela região (FARACO, 2006) 
 
O bloco de línguas que compõem o tronco germânico é formado pelas línguas 
escandinavas, o alemão, o inglês, o holandês, entre outras. A maior parte desses idiomas 
germânicos perdura até o presente momento. Mas também é certo que as características 
de cada uma dessas línguas fazem com que tenhamos idiomas aparentemente (ou até 
mesmo completamente) distintos. Ao comparamos o alemão com o latim, na atualidade 
pouco ou quase nada veremos de comum entre as duas, mas o tronco que serviu de família 
era o mesmo. As diferenças entre as línguas evidenciam que as mudanças linguísticas que 
ocorreram internamente ao sistema foram significativas e distintivas. 
 
Entendemos que o superstrato era a língua de maior prestígio, no entanto esse 
prestígio não foi determinante para sua manutenção (CÂMARA JR., 2011). Esse 
desaparecimento de que fala o linguista brasileiro, reforça a hipótese de que uma língua só 
permanece como língua-padrão à medida que é empregada como língua de uso. Ao 
passo que um novo idioma passa a servir de veículo de comunicação entre as pessoas de 
uma determinada região, e a língua que antes gozava de prestígio cede lugar à nova língua. 
Todavia, algumas marcas ainda podem ser detectadas nesse 
 
A principal diferença entre o substrato e superstrato é que o primeiro é totalmente 
suplantado enquanto o segundo (superstrato) pode resistir e permanecer sendo falado 
até hoje. 
 
 
su·pers·tra·to substantivo masculino 
conjunto dos fatos que caracterizam uma língua que foi falada num dado 
território linguístico, e que, depois de ter desaparecido, deixou traços mais ou 
menos importantes na língua existente: 
https://dicionario.priberam.org/superstrato [consultado em 27-10-2019. 
 
 
 
 
O terceiro termo: o adstrato. De acordo com Faraco (2006) é diferente dos outros 
dois termos anteriores exatamente pelo fato de serem línguas que coexistem em um 
https://dicionario.priberam.org/superstrato
 
 
10 História da Língua Portuguesa 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
mesmo lugar, sendo que uma não afeta a outra. Exemplos disso, temos a situação vivida 
entre o grego e o latim durante um longo período na região da Grécia e Roma. 
 
Outra situação peculiar ocorre entre o latim e o árabe na região da Península Ibérica 
durante o período da Invasão Mulçumana no século VIII d. C. 
 
Faraco (2006), define o árabe como adstrato; para Bagno (2007) trata-se de um 
superstrato. Podemos porém de forma conciliatória, dizer que os dois conceitos se 
harmonizam, haja vista que em ambos os casos vemos que as línguas permanecem em 
contato linguístico direto. Nos dois casos também notamos que a influência entre os idiomas 
se reduz a troca de itens lexicais. E por último, sabemos que tanto na situação de 
bilinguismo que se efetuou entre a Grécia e Roma e na Península Ibérica favoreceu o 
enriquecimento do léxico de um dos idiomas: o latim. 
 
Considerações Finais: Nossa intenção foi a de mostrar a utilidade desse tipo de 
estudo formação de línguas românicas ( linguística românica) e como isso, de fato, 
propiciar uma formação mais sólida no que diz respeito ao acadêmico do curso de Letras, 
que sentirá - uma vez em sala de aula - a necessidade de explicar e exemplificar 
mecanismos linguísticos que ilustrem a evolução da escrita da língua portuguesa. 
 
O desconhecimento das questões históricas da língua impede, evidentemente, que 
um professor/pesquisador possa fazer qualquer tipo de julgamento sobre a estrutura, léxico, 
sintaxe ou qualquer outra parte de um sistema linguístico e ter à sua disposição argumentos 
teóricos para contrapor a modificações “ modernosas” que se esquecem do grande universo 
de lusófonosno planeta e as Leis que regem as modificações do léxico, da sintaxe e da 
semântica. 
 
 Enfim, pense que a Língua Portuguesa é uma instituição viva e tem um DNA próprio 
que evolui de acordo com sua programação POTENCIALIDADE genética da sua evolução. 
 
 
BAGNO, Marcos, Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação 
linguística. São Paulo: Parábola, 2007, p.27, 119. 
CÂMARA Jr, Joaquim Mattoso, 7ª ed. História da Linguística. Petrópolis, RJ: 
Vozes, 2011 
 
 
11 História da Língua Portuguesa 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
FARACO, Carlos Alberto. Linguística Histórica: uma introdução ao estudo da 
história das línguas. São Paulo: Parábola Editorial, 2006. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 História da Língua Portuguesa 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
3. A ESCRITA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE 
 
Objetivo 
Introduzir para os futuros docentes da Língua Portuguesa, alguns valores da 
permanência de saberes e culturas que cresceram com a diversidade étnica, geográfica, 
histórica e linguística e fazer um contraponto à fugacidade de fazeres que se substituem 
vertiginosamente, sempre em busca da frágil e sazonal modernidade que vem sendo 
substituída de 10 em 10 anos ou até em prazos menores. 
 
Introdução 
Estudar a escrita de uma língua significa fazer um relacionamento da própria escrita 
com as seguintes áreas do conhecimento humano: as ciências e literatura originárias da 
Mesopotâmia, as escritas sagradas do Egito, as origens do alfabeto, da escrita e do 
comércio realizados pelos fenícios, a inovação das vogais no alfabeto grego, a formação 
da língua portuguesa com o domínio romano da Península ibérica, até a formação da 
Língua Portuguesa no Brasil. A escrita de uma língua é sem dúvida uma invenção antiga e 
muito bem estruturada a ponto de favorecer permanente adaptações. Talvez uma das mais 
engenhosas invenções humanas após a descoberta do fogo. 
 
Uma breve História: O registro pictográfico surge antes mesmo da comunicação 
verbal. Chegaram até nós, as pinturas rupestres e por esses registros carregados de 
significado, pudemos reconstruir a história humana desde o Paleolítico ao contemporâneo. 
 
Estudos modernos sobre a Psicogênese da Linguagem Escrita4 demonstram que 
todas as crianças fazem hipóteses que seguem de forma analógica a evolução da 
humanidade. Repetindo: a criança mantém seus primeiros contatos com os impressos 
rabiscando, desenhando e reconhecendo figuras, a raça humana em sua fase “criança” (o 
 
4 O termo psicogênese pode ser compreendido como origem, gênese ou história da aquisição de 
conhecimentos e funções psicológicas de cada pessoa, processo que ocorre ao longo de todo o 
desenvolvimento, desde os anos iniciais da infância, e aplica-se a qualquer objeto ou campo de conhecimento. 
No campo da aquisição da escrita, esta concepção se associa aos estudos psicogenéticos de Emília Ferreiro, 
Ana Teberosky in http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/psicogenese-da-aquisicao-
da-escrita acesso em 29-10-2019 
http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/psicogenese-da-aquisicao-da-escrita
http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/psicogenese-da-aquisicao-da-escrita
 
 
13 História da Língua Portuguesa 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
homem das cavernas) começou a registrar sua história através de desenhos-rabiscos. São 
os pictogramas5. 
 
Escrita pictográfica in - https://biblioam.wordpress.com/2014/08/22/a-historia-da-escrita/ acesso em 
31/10/2019 
 
Mais tarde algumas crianças iniciam sua comunicação verbal com sons desenhados, 
não identificáveis facilmente. Estas são as garatujas feitas pelas crianças que tentam 
inventar um alfabeto que registre o som que elas ouvem. Só elas são capazes de ler pois 
ainda não descobriram a função social da escrita. 
 
 Os pictogramas pré-históricos também se modificaram para se tornarem 
Ideogramas. 6 Entende-se ideograma como sinal que exprime a ideia e não os sons da 
palavra que representa essa ideia: os caracteres egípcios eram ideogramas, os chineses e 
os nossos os desenhos das placas de trânsito. 
 
Portanto, desde as figuras rupestres temos o exemplo da prevalência do registro 
impresso sobre a oralidade quando se leva em conta a permanência da mensagem original 
por mais tempo e a garantia de que essa mensagem será entendida por humanos de 
diferentes culturas, transmitindo informações sobre uma civilização remota, mesmo depois 
do surgimento da escrita como um marco da História. 
 
 
5 Pictograma O conjunto de desenhos-escrita, passíveis de serem compreendidos por todos os 
membros de um mesmo grupo, tomam a designação de pictogramas. Pertencem, pois, ao conjunto das 
escritas pictográficas, que no grego significam descrição da imagem, para servir de símbolo. 
6 Ideograma Símbolo gráfico ou desenho que representa um objeto ou uma ideia [Em certas línguas 
pode ser lido como denotando o próprio objeto ou as respectivas conotações]. 
https://biblioam.wordpress.com/2014/08/22/a-historia-da-escrita/
 
 
14 História da Língua Portuguesa 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
A escrita é tão importante para a Humanidade que o encerramento da Pré-História e 
o nascimento da História deu- se no período em que o homem começou a escrever. Essa 
passagem foi feita lentamente ao longo de cinco milênios, e foi acontecendo em momentos 
diferentes por todo planeta. Ou seja: o fim da Pré-História ocorreu primeiramente no Oriente 
Próximo, entre os rios Tigres e Eufrates, na Mesopotâmia, cerca de 40 séculos antes da 
Era Cristã. Com o passar dos séculos, a escrita adquiriu autonomia e independência, 
tornando-se essencial no âmbito mundial. 
 
 Nesse longo processo evolutivo houve os primeiros registros escritos, os chamados 
cuneiformes7, desenvolvidos pelos sumérios na Mesopotâmia, por volta de 4.000 a.C., 
segundo alguns historiadores. 
 
 
 
Um fragmento da “Epopeia de Gilgamesh” de Nínive, século 7 a.C. 
Primeiro livro de mundo https://www.epochtimes.com.br/licoes-duradouras-do-poema-a-epopeia-de-
gilgamesh/ acesso 31/10/19 
 
A existência da escrita distingue-se como um marco das formas de expressão, não 
apenas por sua capacidade de registrar a História, representar a fala ou ideias, ser 
apreendida e decodificada pelo entendimento humano, mas também por ultrapassar limites 
geográficos, sobreviver épocas, ajudar a construir ou destruir culturas, universalizar 
religiões, ideias, pensamentos, sofrer mutações pelas mais diversas causas, entre elas as 
traduções, e, ainda, ter a possibilidade de permanecer como originalmente foi produzida. 
 
7 A escrita cuneiforme foi criada pelos sumérios, e sua definição pode ser dada como uma escrita que 
é produzida com o auxílio de objetos em formato de cunha. 
https://www.epochtimes.com.br/licoes-duradouras-do-poema-a-epopeia-de-gilgamesh/
https://www.epochtimes.com.br/licoes-duradouras-do-poema-a-epopeia-de-gilgamesh/
 
 
15 História da Língua Portuguesa 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Os egípcios, por sua vez, possivelmente foram responsáveis por introduzir o novo 
suporte e formas da escrita em relação ao processo cuneiforme. Diferentemente dos 
sumérios que cunhavam suas inscrições de formas triangulares em tábuas de argila, os 
egípcios usavam a forma material do livro, com o uso do papiro em forma de rolo, o emprego 
da tinta e a utilização das ilustrações como complemento explicativo do texto. Eles 
possuíam duas formas de escrita: os hieróglifos8 (figuras entalhadas sagradas), e a 
escrita hierática9, de uso mais fácil e mais corrente, que permitia fazer anotações rápidas. 
 
 
Hieróglifos egípcios Escrita hierática 
 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hier%C3%B3glifos_eg%C3%ADpciosacesso em 31/10/2019 
 
Os hieróglifos eram sinais sagrados gravados (que os egípcios consideravam ser a 
fala dos deuses (...) essa era uma escrita de palavras. 
 
O sistema egípcio de escrita já reproduzia quase que totalmente a língua falada, pois 
alguns dos seus pictogramas já representavam sílabas. Além dos pictogramas, ela era 
formada por fonogramas (representação de sons). Podemos dizer que a escrita egípcia já 
constituía uma ideia mais ou menos aproximada de um alfabeto, pois já trazia uma 
característica de representações silábicas. (sons das sílabas) inscrições antigas. 
 
 A escrita se especializa e chega ao alfabeto que é um sistema de sinais que 
exprimem os sons elementares da linguagem”. Este sistema resulta da decomposição da 
palavra em sons simples e cada um deles é representado por um só signo que representam 
 
8 Os hieróglifos eram sinais sagrados gravados (que os egípcios consideravam ser a fala dos deuses 
(...) essa era uma escrita de palavras. 
9 A escrita hierática no Antigo Egito permitia aos escribas escrever rapidamente, simplificando os 
hieróglifos quando o faziam em papiros, e estava intimamente relacionada com a escrita hieroglífica 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hier%C3%B3glifos_eg%C3%ADpcios
 
 
16 História da Língua Portuguesa 
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diretamente os sons da fala. Observe o alfabeto grego de onde surgiu o nome de 
empregamos para nomeá-lo: alpha+beta= alfabeto 
 
 
O “a” era a representação da cabeça de um boi na escrita egípcia. 
No grego, o alfa se escreve α. 
O “b” era a representação de uma casa egípcia.β 
O “d “era a figura de uma porta. Δ 
O “m” era o desenho das ondas da água µ 
 
É preciso lembrar que no princípio não havia uma relação do desenho da letra com 
o objeto concreto que se assemelhava. Mas com a praticidade dos interesses comerciais e 
de navegação dos fenícios, a escrita se torna mais prática, as letras registram os sons, os 
fonemas das palavras que passam a ser escritas a partir da segmentação das palavras em 
sílabas. Sistema ainda vigente em língua portuguesa 
 
 
17 História da Língua Portuguesa 
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4. LEIS FONÉTICAS, METAPLASMOS E ALOMORFIAS 
 
_Vopapaia!!! 
_ Cevai??? 
Falar de jovens santistas apressados 
 
Objetivo 
Conhecer os processos pelos quais se regem as transformações havidas do latim às 
línguas românicas. 
 
Introdução 
A partir dos conceitos de leis fonéticas, metaplasmos e alomorfias observar como se 
deram as variações linguísticas, acompanhar o processo de transformação que envolve as 
línguas românicas. 
 
 As leis fonéticas descrevem os processos de mudança regulares e sistemáticos que 
ocorrem na passagem de um estágio mais antigo para um mais recente. As línguas 
modificam-se por seus próprios mecanismos e por influência de outras línguas. As 
mudanças linguísticas são readaptações contínuas de um estado de equilíbrio, ou quase, 
a outro estado de equilíbrio pela lei do menor esforço e por necessidade de mais clareza. 
Vejamos: 
 
Latim Português Alemão Inglês Grego 
Pes, pedis Pé Fuss Foot Podus 
Pater, patri Pai Vater Father Pater 
 
Os casos que não seguem as regras são formados por mutações explicadas por 
analogia. Um exemplo de analogia na mudança fonética é o caso da palavra latina foresta 
(derivada da mesma raiz da palavra fora , forest em inglês) que passou para floresta, por 
analogia com a palavra flor. Pode haver até, de forma velada, uma analogia por motivação 
específica como no caso de vagalume (que vem de caga-lume).mas que sofreu um 
eufemismo para evitar algo grosseiro. 
 
Alguns linguistas atenuam a força das leis, pois há muitos casos inexplicáveis. Uns 
destacam que as modificações fonéticas são individuais e se generalizam por via imitativa. 
 
 
18 História da Língua Portuguesa 
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No entanto, Coutinho (1976) não compartilha desta opinião, uma vez que não se apoia na 
realidade dos fatos. O que se observa é que, quando uma pronúncia desvia ou afasta do 
que é comumente usada em determinado meio, as pessoas tendem a repudiá-la e não a 
imitar10. Para ele, as modificações são sempre coletivas. A ação contínua do sistema 
linguístico e a identidade do meio físico e social explicam a simultaneidade com que as 
modificações se apresentam em todas as crianças na mesma época. 
*** 
 Os Metaplasmos reúnem em classificação de forma categorizada, as palavras 
segundo o processo de transformação pelos quais passaram ao longo da História da 
Língua, até que se chegue a formas mais evoluídas, com feições próprias, mas guardando 
traços comuns com as origens. Para Coutinho metaplasmos são modificações fonéticas 
que as palavras sofreram durante a sua evolução, do Latim para o Português; e essas 
alterações, são apenas fonéticas, conservando, as palavras, a mesma significação. 
(Coutinho, 1976, p.142) 
 
Os metaplasmos são classificados em cinco classes: 
 Por permuta: São os consistem na substituição ou troca de um fonema pelo 
outro. São os ele: Sonorização, Vocalização, Consonantização, Assimilação, 
Dissimilação, Nasalização, Desnasalação, Apofonia e Metafonia. 
 Por aumento: São os que adicionam fonemas à palavra. Pertencem a essa 
classe: Prótese, ou Próstese, Epêntese, Paragoge ou Epítese. 
 Por subtração: São os que tiram ou diminuem fonemas à palavra. São eles: 
Aférese, Síncope, Apócope, Crase, Sinalefa ou Elisão. 
 Por transposição: São os que consistem na deslocação de fonema ou de 
acento tônico da palavra. Transposição de um fonema toma o nome de 
Metátese. Dessa forma a Metátese pode ocorrer na mesma sílaba ou entre 
sílabas. 
 Por transformação: eles ocorrem quando um fonema de um vocábulo se 
transforma, passando a ser outro fonema distinto em lugar do primeiro. 
Pertencem a essa classe a degeneração, rotacismo, lambdacismo, 
ditongação, monotongação, palatização e despalatização 
 
10 Essa antiga resistência das populações ao que era diferente, dava-se antes de haver a 
comunicação de massas e a ideologia que valoriza o moderno ou o estrangeiro. 
 
 
19 História da Língua Portuguesa 
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*** 
Alomorfia tem como princípio básico trazer à tona o que podemos tirar do interior 
das palavras, ou seja, expressar outras maneiras de dizer a palavra com base em sua 
origem. Elas podem ter sido provocadas por mudanças fonéticas ou por outros fatores 
(jamais especificados) como se tal ocorresse sem qualquer relação visível com algo 
anterior. O ainda é necessário é que se reconheça que a maioria dos falantes não tem 
qualquer dificuldade de empregar diferentes formas, que se tem como é exemplo a palavra 
provável para probabilidade e chuva para fluvial etc. Melhor explicando, deu-se um 
retorno à forma original latina ( ch voltou a sua origem fl) e o v retornou ao B . 
 
 Observe a palavra “peito” que veio do latim “pectore” não mais empregado no 
Português. Mas nas palavras expectorar e expectorante houve o resgate da forma latina. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prezado (a) leitor (a), 
Nas videoaulas 4 e 5 você 
encontrará o detalhamento dos 
cinco tipos diferentes de 
metaplasmos. Complete seus 
estudos lendo os slides e 
assistindo às vidroaulas. 
 
 
 
20 História da Língua Portuguesa 
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5. CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA O ESTUDO DA HISTÓRIA DA 
LÍNGUA PORTUGUESA 
 
A língua é um sistema vivo e pode ser modificada por seus falantes de acordo com a situação linguística 
Luana Castro Alves Perez 
 
Objetivo 
Para o estudo da Língua Portuguesa com objetivo de aprovaçãoem concursos 
públicos, a fim de lecionar na Educação Básica, deve-se ter no horizonte, que os conteúdos 
e conceitos estão ao alcance de nossos dedos e que para se ter uma visão inicial de 
vocábulos é fundamental para desencadear as buscas das informações necessárias em 
rede. 
 
Introdução 
Imagine você a seguinte situação em sala de aula. Um aluno fala em voz alta: 
— Vou tirá a mortandela da parteleria da geladera. 
 
Qual seria a reação da classe? Olhares de interrogação à espera de sua reação ou 
motivo para desencadear brincadeiras de mau gosto. O que você faria? Você repetiria a 
frase corretamente e ficaria tudo como antes? Ou seja: um aluno se sentindo excluído e 
todos sairão da sala, como entraram: sabendo a mesma coisa. Mesmo que você não saiba 
a resposta, mas tendo noções de Etimologia e de Metaplasmos poderá fazer uma rápida 
pesquisa no celular sobre os metaplasmos e na aula seguinte, contextualizar a produção 
estranha do aluno e explicar o processo evolutivo das palavras ao longo dos séculos. Todos 
ganhariam ao perceber que a produção do aluno seguiu adequadamente as seculares Leis 
Fonéticas e que se não houvesse os meios de comunicação de massa e escola em 10 anos 
todos estaríamos dizendo “pERciso ir de moto” .... hoje, Moto já é aceita e ninguém ri, mas 
no meio do século XX, todos conheciam a motocicleta, “iam ao Cinema Roxy” e não “no 
Cine Roxy”. 
 
Ao se conviver em sala de aula, surgem temas motivadores a partir da curiosidade 
que induz os alunos à reflexão sobre a linguagem. Eles perguntam o porquê dos nomes e 
das palavras. Veja que essa curiosidade foi tema do livro da Literatura Infantil “Marcelo, 
martelo, marmelo” de Ruth Rocha. Inventar novas palavras e descobrir palavras estranhas 
no dia a dia é uma atividade lúdica que pode alimentar o interesse pela língua materna. O 
 
 
21 História da Língua Portuguesa 
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fato de a falarmos desde pequeninos, muitas vezes subestimamos a sua riqueza e assim 
surgem o desinteresse e o desprezo (o não prezar). 
 
 É importante provocar a classe para brincar, montar e desmontar palavras. Isso é 
muito mais que uma bobagem, é aproximar os jovens desse material tão rico da 
humanidade e tirar da invisibilidade um instrumento valioso de convívio, de interação e 
entendimento entre os Homens: as palavras, muitas palavras, tesouro de palavras... 
 
 E esse conteúdo para que serve? Perguntarão alguns: serve para que a 
aprendizagem da Língua Portuguesa abandone a didática do CERTO X ERRADO, que vem 
condicionando a atual postura de exclusão. 
 
 Aqui apresento um pequeno glossário11. 
 
O que é um étimo? 
Etimologia (do grego antigo ἐτυμολογία, composto de ἔτυμος "étimo" e -λογία "-
logia") é a parte da gramática que trata da história ou origem das palavras e da explicação 
do significado de palavras através da análise dos elementos que as constituem. Significa 
o verdadeiro significado de uma palavra, de acordo com sua origem (étumos, -ê, -
on,) verdadeiro 
 
 E Etimologia? 
 É a parte da gramática que estuda a história ou origem das palavras revela a 
explicação do significado das palavras através de seus elementos estruturantes 
(morfemas)12.Estuda a composição dos vocábulos e a sua evolução. Veja o estudo 
etimológico da palavra Coração e seu desdobramento no seio da Língua Portuguesa 
 
11 As palavras que aparecem no glossário são geralmente pouco conhecidas, principalmente por 
representarem conceitos técnicos e complexos, de conhecimento majoritário dos indivíduos familiarizados 
com determinada ciência ou área. Nos glossários também podem aparecer os significados contemporâneos 
de expressões ou palavras extintas, mas que serviam para definir corretamente determinados conceitos ou 
situações em tempos antigos. 
 
12 os morfemas são as unidades significativas mínimas que, ao se unirem, compõem cada palavra, 
formando um todo semântico. Há diferentes processos relativos à construção de um novo vocábulo. Para o 
 
 
22 História da Língua Portuguesa 
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O que são palavras divergentes? 
Diz-se quando um único étimo gera mais de uma palavra numa língua derivada. 
 Assim, a palavra latina umeru deu em português as formas divergentes ombro, e o 
termo técnico umeru; clave e chave, de clave(m). Confira na tabela a seguir: 
 
Étimo latino Via Popular Via Erudita 
Duplo (m) Dobro Duplo 
Lipidu (m) Limpo Límpido 
Arena (m) Areia Arena 
Pater ( m) Pai Padre 
 
http://www.japassei.pt/artigo.aspx?lang=pt&caso=solucao&id_object=4431 acesso em 13?11/19 
 
O que são palavras convergentes? 
Diz-se quando mais de um étimo (= palavra que dá origem a outra) se torna uma 
palavra homônima numa língua derivada. Assim, latim sunt mudou para são (em eles são), 
 
início de nossos estudos, sugere-se a leitura do poema Lição de Gramática, de David Chericián. Cunha e 
Cintra (2008, p.90), 
Origem da palavra coração 
Do latim cor, cordis, que significa “coração” ou “órgão que bombeia o sangue para 
o corpo”. Outros etimologistas afirmam que o princípio desta palavra tenha surgido a partir 
de uma raiz indo-europeia krd ou kered, que deriva a palavra kardia, em grego. 
A partir desta raiz etimológica teriam surgidos os termos cardíaco e cardiograma, 
por exemplo. Uma curiosidade bastante interessante é que a raiz etimológica da palavra 
“coração”, ou seja, cor ou cordis, deu origem a várias palavras da língua portuguesa. 
Por exemplo, “concordar” é palavra formada do latim con + cordis, isto é, com 
coração. Quando duas pessoas concordam é porque seus corações estão juntos ou 
unidos. “Discordar”, por outro lado, é o oposto. Vem do latim dis (separar) + cordis. Quem 
discorda, portanto, afasta-se do coração do outro. “Recordar”, por sua vez, quer dizer 
"trazer de novo ao coração". A expressão "saber de cor" também vem diretamente do 
latim: “saber de coração”, isto é, de memória. E, por último, vamos destacar a palavra 
coragem, que também deriva do latim cor. Para os antigos romanos, o coração era a fonte 
da coragem. 
https://www.dicionarioetimologico.com.br/coracao/ acesso em 17/11/19 
http://www.japassei.pt/artigo.aspx?lang=pt&caso=solucao&id_object=4431
https://www.dicionarioetimologico.com.br/coracao/
 
 
23 História da Língua Portuguesa 
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tornando-se homônimo de sanu > são (em homem são). Dizemos então que são (verbo) e 
são (adjetivo) são formas convergentes, pois agora são idênticas. A forma verbal rio, do 
latim rideo, e o verbo ridere "rir", convergiram para o substantivo rio, do latim rivus "curso 
de água", por isso são palavras convergentes. 
 
O que são variantes? 
A variação linguística é um fenômeno que acontece com as línguas vivas e pode ser 
compreendida por intermédio das variações históricas e regionais. Em um mesmo país, 
com um único idioma oficial, a língua pode sofrer diversas alterações feitas por seus 
falantes. Como não é um sistema fechado e imutável, a língua portuguesa ganha diferentes 
nuances. O português que é falado no Nordeste do Brasil pode ser diferente do português 
falado no Sul do país. Claro que um idioma nos une, mas as variantes podem ser 
consideráveis e justificadas de acordo com a comunidade na qual se manifesta. 
 
As variações acontecem porque o princípio fundamental da língua é a interação 
social, então é compreensível que seus falantes façam rearranjos de acordo com suas 
necessidades comunicativas. Os diferentes falares devem ser considerados como 
variações, e não como erros. Quando tratamos as variações como erro, incorremos no 
preconceito linguístico que associa, erroneamente, a língua ao status. O português falado 
em algumas cidades do interior do estado de São Paulo, por exemplo, pode ganhar o 
estigma pejorativo de incorreto ou inculto, mas, na verdade, essas diferenças enriquecemesse patrimônio cultural que é a nossa língua portuguesa. Leia a letra da música “Samba 
do Arnesto”, de Adoniran Barbosa, e observe como a variação linguística pode ocorrer: 
 
Samba do Arnesto 
 
O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás 
 Nós fumos não encontremos ninguém 
 Nós voltermos com uma baita de uma reiva 
 Da outra vez nós num vai mais 
 Nós não semos tatu! 
 No outro dia encontremos com o Arnesto 
 Que pediu desculpas mais nós não aceitemos 
 Isso não se faz, Arnesto, nós não se importamos 
 Mas você devia ter ponhado um recado na porta 
https://dicionario.priberam.org/rir
https://dicionario.priberam.org/rio
 
 
24 História da Língua Portuguesa 
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 Um recado assim ói: "Ói, turma, num deu pra esperá 
 Aduvido que isso, num faz mar, num tem importância, 
 Assinado em cruz porque não sei escrever. 
 
Ouça a música cantada por Adoniram Barbosa: 
https://www.youtube.com/watch?v=TH5zxAiq0k8 acesso 13/11/19 
 
Dou aqui uma orientação com base na Linguística que sustenta o ensino de língua 
nas concepções do que é adequado ou inadequado, pois tudo depende do contexto 
histórico, social e de interlocução. Lembre-se de que é a escola, o lugar em que os alunos 
terão a oportunidade de empregar os diferentes contextos, de forma consciente, 
aprendendo assim usar o idioma conscientemente e não automaticamente, numa repetição 
de modismos caricatos: COMCERTEZA! TIPO ASSIM!!!!!! Ki NÉM !!!!! numa sala de aula, 
pensando que está falando sua língua materna. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://www.youtube.com/watch?v=TH5zxAiq0k8
 
 
25 História da Língua Portuguesa 
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6. FORMAÇÃO DE PALAVRAS 
 
Neologismo 
 
Beijo pouco, falo menos ainda. 
Mas invento palavras 
Que traduzem a ternura mais funda 
E mais cotidiana. 
Inventei, por exemplo, a verbo teadorar. 
Intransitivo: 
Teadoro, Teodora. 
 
Manuel Bandeira 
 
Objetivo 
Quanto nos debruçamos sobre o significado da palavra História, temos a impressão 
de que falaremos do passado. Mas de fato, tratamos do tempo no “seu vir a ser”, portanto 
tratamos do presente e do futuro e suas possibilidades, sem precisar usar “bola de cristal”. 
Conhecer os mecanismos de formação das palavras, ajuda o falante da língua inferir o 
significado de uma palavra a partir dos radicais e sufixos mais frequentes da língua. Trata-
se do mecanismo de transferência de conhecimento. 
 
Introdução 
Com frequência a publicidade nos presenteia com palavras novas. No entanto, não 
são palavras de formação aleatória e sim seguem os mecanismos já registrados e descritos 
há séculos. A publicidade tem um interlocutor que precisa ser convencido por meio da 
sedução, do emocional e não pela lógica. A aderência do leitor/ consumidor ao produto se 
faz pelo “estranhamento” diante de algo novo e isso desperta a atenção que alcança o seu 
registro na memória. Inventar palavras decifráveis e não enigmas indecifráveis. O 
publicitário cria palavras que apresentem certa transparência ao falante da língua. Vejamos 
de neologismos: 
 
 
26 História da Língua Portuguesa 
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Faço a seguir uma paráfrase do fragmento do artigo “Desvelando os processos de 
formação de palavras no texto” de Ilana da Silva Rebello 13 em que analisa neologismos 
criados em champanhas publicitárias. 
 
“Vai levar a garantidona, a garantidaça ou a garantidésima? 
Linha de TVs Lumina. 
O máximo em tecnologia, o mínimo em consumo de energia.” 
 
 Nessa propaganda, publicada na Revista Veja do dia 01/08/2002, o publicitário 
afirma que os aparelhos de televisão da SEMP TOSHIBA oferecem o máximo em 
tecnologia, com o mínimo de consumo de energia. 
 
 A anunciante parte do pressuposto de que o leitor se lembra da crise no setor de 
energia elétrica ocorrida em alguns estados brasileiros e as pessoas devem economizar. 
Como o contrato de comunicação feito pelo publicitário dá-se pela credibilidade conferida 
pelo conhecimento de mundo do leitor. 
 
Assim, nesse período de crise, para atrair o comprador, uma das características 
positivas do produto deveria ser a de pouco consumo de energia elétrica. Além disso, o 
publicitário utiliza três vezes o radical “garanti-” com sufixos aumentativos. Ou seja: o 
Máximo com o mínimo de energia. O aparente paradoxo provoca o leitor, com o 
estranhamento 
 
 O aumentativo é também utilizado no texto publicitário para tornar-se um evento 
mais sedutor aos olhos do leitor. Os sufixos aumentativos (dona e daça), tem valor 
pejorativo, acrescentando ou reforçando um sentido de depreciação, porque aquilo que é 
de tamanho excessivo é geralmente visto como feio, ridículo. 
 
 Isso confere ao texto publicitário o tom grotesco, desagradável. Mas como a 
linguagem afetiva foge a toda lógica, o mesmo sufixo aumentativo pode ser também 
valorizador, salientando a solidez, a força, o valor, a conveniência e sobretudo a intimidade 
 
13 Cadernos de Letras da UFF – PIBIC – GLC, nos 30-31, 2004-2005 in 
http://www.cadernosdeletras.uff.br/joomla/images/stories/edicoes/30-31/artigo5.pdf acesso em 17/11/19 
http://www.cadernosdeletras.uff.br/joomla/images/stories/edicoes/30-31/artigo5.pdf
 
 
27 História da Língua Portuguesa 
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do produto com o humor do leitor capaz de sorrir cm cumplicidade diante da “invencionice”. 
Fez-se assim a ponte com o consumidor. 
 
Este é um atributo admirável para uma boa campanha. Vamos ao conteúdo da aula 
para que você possa mostrar a seus alunos que a Língua Portuguesa pode ser aprendida 
por meio da didática lúdica e contextualizada no presente. 
 
 Comecemos pelos conceitos básicos relativos à formação de palavras. 
 
Palavras primitivas: são palavras que servem como base para a formação de outra 
e que não foram formadas a partir de outro radical da língua. 
Exemplos: pedra, flor, casa. 
 
Palavras derivadas: são palavras formadas a partir de outros radicais. 
Exemplos: pedreiro, floricultura, casebre. 
 
No português, os principais processos para formar palavras novas são dois: derivação. 
 
 
 
Diferença entre Raiz e Radical de uma Palavra. 
 
GEOGRAFIA 
Os radicais são GEO (terra) e GRAFOS (descrição) são os elementos básicos e 
significativos das palavras, consideradas sob o aspecto gramatical e prático. É 
encontrado através do abandono dos elementos secundários (quando houver) 
da palavra. 
 
INFELICIDADE 
 A raiz é o elemento originário e irredutível em que se concentra a significação 
das palavras consideradas sob o ângulo histórico. A raiz encerra o sentido geral 
das palavras e não inclui possíveis prefixos. 
 FELI é a raiz originada de Felix FELICITAS (latim) 
 O seu oposto, “infeliz” recebeu o prefixo negativo IN. Também seu oposto, 
“infeliz”, pela agregação do prefixo negativo IN. 
 
 
 
 
 
28 História da Língua Portuguesa 
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Há dois processos de Derivação: 
 
Na derivação, a formação de uma nova palavra ocorre a partir de uma única palavra 
simples ou radical, ao qual se juntam afixos14, formando uma nova palavra com significação 
própria.Existem cinco tipos de derivação: 
 
Derivação prefixal - acrescenta-se um prefixo a uma palavra já existente. 
Ex:desnecessário (des- + necessário) , contramão (contra- + mão) 
 
 
 
 
 
 
 
Derivação sufixal -Na derivação sufixal acrescenta-se um sufixo a uma palavra já 
existente Ex: casarão, ruazinha, sapateiro, punição, boiada 
 
 
 
 
 
 
Derivação parassintética: Na derivação parassintética acrescenta-se 
simultaneamente um sufixo e um prefixo a uma palavra já existente. Ex: esquentar (es - 
+ quente + -ar) entediar (en- + tédio + -ar) 
 
Derivação regressiva: Na derivação regressiva, também chamada de formaçãodeverbal, ocorre redução da palavra primitiva e não acréscimo. 
Ex: boteco < botequim cinematógrafo< cine metropolitano < metro 
 
Na derivação imprópria, não há alteração da palavra primitiva, que permanece igual. 
Há, contudo, mudança de classe gramatical com consequente mudança de significado: 
 
14 Afixos são os sufixos e prefixos 
 Sufixos 
Prefixos 
 
 
 
29 História da Língua Portuguesa 
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verbos passam a substantivos, adjetivos passam a advérbios, substantivos passam a 
adjetivos,... 
 
 
Diversas possibilidades de mudança de classe gramatical. As mudanças principais são: 
 
 Verbos que se convertem em substantivos 
O saber não ocupa lugar. 
Você já reparou no falar daquele senhor? 
 
 Adjetivos que se convertem em substantivos 
Os bons serão bem-vindos. 
Estou contemplando o azul do céu. 
 
 Adjetivos que se convertem em advérbios 
Fala sério! 
 
 Advérbios que se convertem em substantivos 
Estou esperando o sim da direção 
 
 Substantivos que se convertem em adjetivos 
Meu filho sempre foi um menino prodígio. 
Esta cidade fantasma é assustadora! 
 
 Numerais que se convertem em adjetivos 
Estou num estado de tolerância zero em relação a meus filhos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O processo de formação 
por COMPOSIÇÂO será 
tratado na Videaula 6 
 
 
 
30 História da Língua Portuguesa 
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7. AS LÍNGUAS INDÍGENAS DO TRONCO TUPI E GUARANI E A 
INFLUÊNCIA LEXICAL NA LÍNGUA PORTUGUESA 
 
Meu xará, carioca da Tijuca, 
foi ao Pará surfar a pororoca, 
em um rio infestado de piranhas e jacarés. 
Nas margens, viu jaguares, quatis e capivaras. 
No céu, sobrevoavam araras, tucanos e urubus. 
Vito Abdala in 
http://agenciabrasil.ebc.com.br/cultura/noticia/2014-12/ 
 
Objetivo 
No Brasil há duas líguas oficiais: Português e Libras15. Mas existem línguas 
minoritárias e o censo de 2010 contabilizou 305 etnias indígenas no Brasil, que falam 
274 línguas diferentes. A proximidade entre as línguas indígenas e a Língua Portuguesa 
remonta à época dos descobrimentos. Há uma longa história que está viva em nosso 
cotidiano. Veja: o filme da TV pode ser americano, mas a pipoca é tupi. Cantamos o Hino 
Nacional e lembramos das margens do Ipiranga. Comprove: desde a nossa Independência, 
trazemos na língua oficial Português do Brasil as profundas marcas da línguas indígenas 
que nasceram do Tupi-guarani. Desconstruir o preconceito linguístico e a intolerância 
étnica, é parte da formação básica, pois ao se ensinar a presença tão forte da cultura 
indígena na identidade do país, pratica-se o multiculturalismo, uma das metas da 
Educação Básica 
 
Introdução 
O tupi antigo foi, durante as primeiras décadas de ocupação portuguesa, a principal 
língua de comunicação entre índios, europeus e uma geração de brasileiros mestiços que 
começava a povoar o território nacional.Com o passar do tempo, o tupi antigo evoluiu para 
outras línguas, como o nheengatu (ou língua geral amazônica, falada até hoje), mas 
acabou perdendo importância a partir de meados do século XVIII, quando o então primeiro-
ministro português, Marquês de Pombal, proibiu o uso e o ensino do tupi no Brasil, como 
 
15 A Libras foi reconhecida como a segunda língua oficial do Brasil pela lei Nº 10.436, de 24 de abril 
de 2002, ela reconhece como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras 
e outros recursos de expressão a ela associados. 
http://agenciabrasil.ebc.com.br/cultura/noticia/2014-12/
 
 
31 História da Língua Portuguesa 
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vinha sendo realizado por padres jesuítas com publicações e escolas de catequeze e por 
decreto oficializou o Português como língua oficial. 
 
O objetivo de Pombal era enfraquecer a Igreja Católica e os jesuítas, que utilizavam 
a língua indígena para se aproximarem dos nativos e os catequizarem .Com a proibição, o 
tupi desapareceu como idioma funcional (sobrevivendo apenas como a variação 
nheengatu na Amazônia). 
 
Apesar disso, a língua se manteve viva, principalmente, por meio de palavras do 
português falado no Brasil. Segundo o filólogo Evanildo Bechara, difícil dizer quantas 
palavras do português são originárias do tupi. “Nos dicionários, há palavras que não são 
mais usadas e há algumas até que só têm um uso em determinada região”, diz. 
 
De acordo com Bechara, a contribuição do tupi se deu principalmente no vocabulário, 
já que não houve influências importantes na gramática do português (na pronúncia, na 
fonética ou na sintaxe). “Desde cedo, a língua portuguesa entrou em contato com essas 
línguas [indígenas]. Então é natural que, do ponto de vista do vocabulário, os portugueses 
tenham encontrado nomes de plantas e animais que não eram conhecidos [até então]. O 
vocabulário da língua portuguesa está repleto de palavras indígenas, porque os 
portugueses encontraram aqui um novo mundo da fauna e da flora”, explica. 
 
Além dos nomes de plantas, animais e gastronomia, houve uma grande contribuição 
do tupi para os nomes de lugares no Brasil. Topônimos como Iguaçu, Pindamonhangaba, 
Ipiranga, Ipanema, Itaipu e Mantiqueira são palavras ou expressões indígenas. Há 
heranças do tupi também em verbos, como cutucar, e em expressões populares como 
estar na pindaíba ou ficar jururu. 
 
A contribuição do tupi não ficou restrita ao Brasil. Entre os casos da influência tupi 
no mundo está a palavra akaîu, que se transformou em caju na língua portuguesa. A fruta 
tipicamente brasileira ganhou espaço na culinária mundial, tanto por sua polpa quanto pela 
castanha. Várias línguas hoje conhecem a fruta por palavras derivadas do akaîu. Entre os 
exemplos de vocábulos derivados do original indígena estão cashew (inglês, sueco, 
alemão,holandês, dinamarquês), acagiú (italiano), kaju (turco), cajou (francês), 
kásious(grego), kashu (búlgaro e japonês) e kašu (estoniano). 
 
 
32 História da Língua Portuguesa 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
7.1. As Línguas Gerais no processo de colonização. 
Nos primeiros tempos da colonização portuguesa no Brasil, a língua dos índios 
Tupinambá (tronco Tupi) era falada em uma enorme extensão ao longo da costa atlântica. 
Já no século XVI, ela passou a ser aprendida pelos portugueses, que de início eram minoria 
diante da população indígena. Aos poucos, o uso dessa língua, chamada de Brasílica, 
intensificou-se e generalizou-se de tal forma que passou a ser falada por quase toda a 
população que integrava o sistema colonial brasileiro. 
 
Grande parte dos colonos vinha da Europa sem mulheres e acabavam tendo filhos 
com índias, assim a Língua Brasílica era a língua materna dos seus filhos. Além disso, as 
missões jesuítas incorporaram essa língua como instrumento de catequização indígena. O 
padre José de Anchieta publicou uma gramática, em 1595, intitulada Arte de Gramática da 
Língua mais usada na Costa do Brasil. Em 1618, publicou-se o primeiro Catecismo na 
Língua Brasílica. Um manuscrito de 1621 contém o dicionário dos jesuítas, Vocabulário na 
Língua Brasílica. Com um certo acervo de estudos da linguagem, surgiu indicios de 
surgimento de um novo idioma. 
 
A partir da segunda metade do século XVII, essa língua, já bastante modificada pelo 
uso corrente de índios missionados e não-índios, passou a ser conhecida pelo nome 
Língua Geral16. Mas é preciso distinguir duas Línguas Gerais no Brasil-Colônia: a paulista 
e a amazônica. Foi a primeira delas que deixou fortes marcas no vocabulário popular 
brasileiro ainda hoje usado (nomes de coisas, lugares, animais, alimentos etc.) e que leva 
muita gente a imaginar que "a língua dos índios é apenas o Tupi". 
 
 Esta é a Língua Geral paulista que se originou da língua dos índios Tupi de São 
Vicente e do alto rio Tietê. No século XVII, já era faladapelos exploradores dos sertões 
conhecidos como bandeirantes. Por intermédio deles, a Língua Geral paulista penetrou em 
áreas jamais alcançadas pelos índios tupi-guarani, influenciando a linguagem corriqueira 
de brasileiros. 
 
 
16 A língua geral é uma língua franca: é a língua que um grupo multilíngue de seres humanos 
intencionalmente adota ou desenvolve para que todos consigam sistematicamente comunicar-se uns com os 
outros. https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_franca acesso em 21/11/2019 
 
https://www.labeurb.unicamp.br/elb/portugues/lingua_franca.htm
https://pt.wikipedia.org/wiki/Comunica%C3%A7%C3%A3o
https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_franca
 
 
33 História da Língua Portuguesa 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
Língua geral amazônica desenvolveu-se inicialmente no Maranhão e no Pará, a 
partir do Tupinambá, nos séculos XVII e XVIII. Até o século XIX, ela foi veículo da catequese 
e da ação social e política portuguesa e luso-brasileira. Desde o final do século XIX, a 
Língua Geral amazônica passou a ser conhecida, também, pelo nome Nheengatu 
(ie’engatú = “língua boa”). 
 
 O Nheengatu ainda é falado especialmente na bacia do rio Negro (rios Uaupés e 
Içana). É a língua materna da população cabocla, mantém o caráter de língua de 
comunicação entre índios e não-índios, ou entre índios de diferentes línguas. É instrumento 
de afirmação étnica dos povos que perderam suas línguas, como os Baré, os Arapaço e 
outros. 
 
 Estudiosos apontam ainda uma terceira Lingua Geral , falada no sul do país, ela 
surgiu do convívio do guarani e o espanhol decorrente das Missões, durante o domínio 
espanhol. 
 
Um pequeno vocabulário de palavras indígenas presentes em nosso cotidiano: 
 
 Animais 
arara (do tupi arára) 
capivara (do tupi kapii-wára) 
cupim (do tupi kupií) 
cutia (do tupi akutí) 
gambá (do tupi wa-ambá) 
jabuti (do tupi iawotí) 
jacaré (do tupi iakaré) 
maracanã (do tupi maraka'na) 
perereca (do tupi pereréka) 
 
 Nomes de flora indígena 
açaí (do tupi ywa-saí) 
aipim (do tupi aipĩ) 
bacuri (do tupi ywa-kurí) 
caatinga (do tupi kaa-tínga) 
cajá (do tupi akaiá) 
 
 
34 História da Língua Portuguesa 
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caju (do tupi akaiú) 
capim (do tupi kapíi) 
 Nomes de localidades (topônimos) 
Copacabana 
Curitiba 
Goiás 
Grajaú 
Guarujá 
Iguaçu 
Ipanema 
 
 Mário de Andrade - grande expressão da Literatura Brasileira do Modernismo - é o 
autor de Macunaíma, o herói sem nenhum caráter. É sua obra-prima publicada em 1928, 
narra a história do herói índio Macunaíma desde seu nascimento na selva até ua morte. 
Sua missão era encontrar uma pedra mágica, o muiraquitã17, mas que fora perdida e 
acabara em posse de Piaimã, um gigante comedor de gente que era um abastado burguês 
em São Paulo. Aproveite para ler o primeiro capítulo da rapsódia Macunaíma em que Mário 
de Andrade registra a herança indígena em nosso idioma, além de outros traços da 
identidade brasileira, tais como a miscigenação das raças negra, branca e indígena. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 Muiraquitã é uma palavra indígena que em tupi-guarani significa literalmente ¨nó das árvores¨ ou ¨ 
nó das madeiras¨. Define um objeto talhado em pedra ou madeira, representando pessoas ou animais, ao 
qual são atribuídos poderes sobrenaturais. 
 
 
35 História da Língua Portuguesa 
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18 Água de chocalho - “Diziam, lá no meu sertão, que quando a criança demorava a falar davam água 
para ela beber num chocalho. Era remédio santo, ela destravava a língua. 
https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/6193438 acesso em 14/11/2019 
 
I – Macunaíma 
No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto 
retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande 
escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia, tapanhumas pariu uma criança feia. 
Essa criança é que chamaram de Macunaíma. Já na meninice fez coisas de sarapantar. 
De primeiro: passou mais de seis anos não falando. Sio incitavam a falar exclamava: If — 
Ai! que preguiça! . . . e não dizia mais nada." Ficava no canto da maloca, trepado no jirau 
de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, 
Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento dele era decepar cabeça 
de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra 
ganhar vintém. E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos 
e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados 
por causa dos guaimuns diz-que habitando a água-doce por lá. No mucambo si alguma 
cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela, 
cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos, e 
frequentava com aplicação a murua a poracê o torê o bacorocô a cucuicogue, todas essas 
danças religiosas da tribo. Quando era pra dormir trepava no macuru pequeninho sempre 
se esquecendo de mijar. Como a rede da mãe estava por debaixo do berço, o herói mijava 
quente na velha, espantando os mosquitos bem. Então adormecia sonhando palavras-
feias, imoralidades estrambólicas e dava patadas no ar. Nas conversas das mulheres no 
pino do dia o assunto eram sempre as peraltagens do herói. As mulheres se riam muito 
simpatizadas, falando que "espinho que pinica, de pequeno já traz ponta", e numa 
pajelança Rei Nagô fez um discurso e avisou que o herói era inteligente. Nem bem teve 
seis anos deram água num chocalho18 pra ele e Macunaíma principiou falando como todos. 
https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/6193438
 
 
36 História da Língua Portuguesa 
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8. A PRESENÇA DAS LÍNGUAS AFRICANAS NO LÉXICO DA LÍNGUA 
PORTUGUESA 
 
 
Objetivo 
Responder uma pergunta: por que não existe o Crioulo Brasileiro se em Cabo Verde 
há o crioulo caboverdiano? 
 
 Introdução 
A primeira informação a ser dada é explicar o que é crioulo: segundo o “site” 
CONCEITO.DE (https://conceito.de/crioulo acesso em 24/11/2029): Para a Linguística, o 
crioulo é a língua natural resultante da mistura da língua autóctone com uma outra língua e 
que com o passar o tempo, mesmo não sendo a língua oficial do país, passa a ser língua 
materna de um povo que passou pela colonização europeia. 
 
Para aprofundar , vejamos o termo “crioulo” para se referir à língua do ponto de vista 
de Lázaro Carreter: “os crioulos são formados a partir de línguas da Europa como o 
espanhol, o francês ou o inglês e o de base lexical portuguesa, isto é, aqueles que resultam 
do contato linguístico entre falantes portugueses e falantes de línguas não europeias, 
durante a época dos Descobrimentos”. 
 
Chama-se crioulo ao dialeto falado em Cabo Verde. E tem recebido maior atenção 
por parte de linguistas, escritores e artistas. Ele já é sistematizado e estudado além de ser 
um património cultural, que define a identidade do povo cabo-verdiano. Com tal emprego, 
é um equívoco atribuir de forma apressada o peso de ser “politicamente incorreto”. Ler e 
interpretar exige a leitura do contexto em que a palavra está sendo usada. Não se apresse 
em julgar. O crioulo cabo-verdiano é uma língua que teve sua origem no Arquipélago de 
Cabo Verde. Vejamos a letra de uma morna de Cesária Évora:19 para você refletir sobre o 
futuro das línguas nesse milênio. 
 
 
19Conheça esta morna caboverdiana no site: https://www.youtube.com/watch?v=4fmTWrvW6q8 em 
24/11/2019 
https://conceito.de/crioulo%20acesso%20em%2024/11/2029
https://www.youtube.com/watch?v=4fmTWrvW6q8
 
 
37 História da Língua Portuguesa 
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Para se ajustarem à língua dominante, algumaspalavras africanas modificaram sua 
fonética ao perder o som inicial de consonantes isoladas como m e n. Por exemplo, 
ndengue se torna dengue, nzambi se torna zambi (ou zumbi), mbunda se toma bunda e 
mbanguela se torna banguela. 
 
A influência de uma língua sobre a outra tem, pois, caminho duplo. A língua do "mais 
fraco" parece procurar permanecer de algum modo. Às vezes, o que parece estar morto 
pode somente ter sido transformado. Muitas das outras palavras encontradas 
correspondem a nomes de línguas e tribos africanas, nomes de miscelâneas, enquanto 
outras são usadas para designar espíritos maus, lugares sinistros, artigos de caça, nomes 
de chefes, e itens de casa. 
 
São exemplos de algumas palavras africanas: caruru, manguzá, bancar, mangar, 
zombar, bocó, dengoso, tanga, quenga, muganga, carcunda, capeta, coringa e 
atabaque. 
 
Um problema interessante a ser investigado é o campo de aplicação dessas 
palavras. É conhecida a influência das palavras africanas no mundo da religião, música, 
comidas e utensílios, no entanto, muitos adjetivos e verbos africanos conotam significados 
de ridículo, escárnio e humor. Pode-se imaginar se estão relacionados à condição de 
escravidão e às tentativas do povo africano de resistir à essa situação usando de humor ou 
Paraiso di atlantico 
 
Cabo Verde e um arv' frondoso 
Sumnho'd na mei d'Atlantico 
Ses rama espaiode 
Na mund inter 
Cada folha e um fidjo querid' 
Parti pa longe pa ventura' 
Pa'um futur mas feliz e dignidade 
Nos gent e um povo unid 
Na paz e morabeza 
Cabo Verde nos cantinho querido 
Berco de amor e sodade 
Paraiso do Atlântico 
 
Cabo Verde é uma árvore frondosa 
Sonho de meu Atlântico 
Seus ramos se espalham 
No mundo inteiro 
Cada folha é um filho querido 
Que partiu para longe para aventura 
Nossa gente é um povo unido 
 Na paz e na cordialidade 
Cabol Verde nosso cantinho querido 
Berço do amor e da saudade. 
 
 
38 História da Língua Portuguesa 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
escárnio social como armas da mesma forma que empregaram a capoeira na forma de 
jogo para dissimular a luta de ataque e defesa. 
 
Desde os anos 90, segundo Lucchesi (2000) há mudança em relação à bipolaridade 
do português brasileiro, a qual se configura desde a época colonial. De um lado, os estratos 
socioeconômicos alto e médio da sociedade brasileira apresentam comportamento 
linguístico conservador, pautado nos padrões linguísticos e culturais da Metrópole; ao 
passo que os estratos populares apresentam usos marcados pela interferência das línguas 
indígenas e africanas. 
 
 Nos últimos anos, com a ascensão social de falantes de variedades não-padrão, 
verificou-se a maior aceitação destas; simultaneamente, o acesso mais amplo ao sistema 
formal de ensino, somado ao amplo alcance da mídia, sobretudo da televisão, promoveu 
uma aproximação de variedades não-padrão ao padrão (LUCCHESI, 2000). 
 
 Mais recentemente, os estudiosos do contato de línguas no Brasil são unânimes 
quanto ao maior impacto que as línguas africanas exerceram em nosso idioma comparado 
àquele das línguas indígenas. Aponta serem mais facilmente perceptíveis estes fenômenos 
de interferência na língua portuguesa de comunidades rurais afro-brasileiras isoladas, 
lembrando a importância da pesquisa sobre a constituição do seu falar, com vistas à sua 
legitimação, uma vez que resulta do caráter pluriétnico dos seus falantes. Não se trata, 
portanto, de “português errado”, “deturpado” “simplificado”, como pensam aqueles sem 
noções de linguística e da história linguística brasileira. 
 
Pequeno vocabulário de palavras africanas que substituíram outras da Língua 
Portuguesa 
 
 AFRICANAS > PORTUGUESAS 
 
Cachaça > caninha 
Caçula > benjamim, ( filho amado) influência das amas de leite 
Cochilar > dormitar 
Sinete > carimbo, corcunda 
Dengoso > carinhoso 
Mangação> deboche 
 
 
39 História da Língua Portuguesa 
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Marimbondo > vespa 
Molambo> trapo 
Moleque > menino 
Moringa > bilha 
Sambista > músico 
Xingamento, xingar > Insultar 
 
 
 E como chegamos ao final da aula voltamos à pergunta inicial: : por que não existe 
o Crioulo Brasileiro se em Cabo Verde há o crioulo caboverdiano? 
 
 Temos que partir da relação colonizador e os nativos das Américas : Foram várias 
as tribos indigenas que se relacionaram com o colonizador tanto no litoral norte como no 
sul, além disso a população indigena foi sendo exteminada , tanto que no século XVI passou 
a ser a minoria da população brasileria e além disso a decisão do Marques de Pombal 
proibir o emprego da Língua Geral que poderia ter originado uma lingua crioula. 
 
 Em relação ao contato com as línguas africanas, um fato importante precisa ser 
lembrado: para evitar revoltas e fugas, os navios negreiros traziam os cativos de nações 
diferentes que para se comunicarem adotaram entre eles formas rudimentares de 
comunicação, uma lingua franca não escrita. Portanto a Lingua Portuguesa não partilhou 
de forma constante o convivio comum com outra lingua que pudesse vir a ser adotada nas 
escolas ou outra instituição da colônia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 História da Língua Portuguesa 
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9. O FUTURO DA LÍNGUA PORTUGUESA 
 
 Será esse? 
 
 
 Objetivo 
Refletir sobre o lugar do professor de Língua Portuguesa que precisa ser o ponto de 
encontro de duas forças contárias: a força natural das línguas vivas e por serem vivas elas 
se transformam e se tornam outras , como pudemos testemunhar em nossa disciplina e o 
papel de ensinar Língua Materna em variantes socialmente prestigiada, para que em 
poucas gerações não passemos pela experiência - já esboçada – de uma nova versão da 
Torre de Babel e para que seus alunos encontrem lugar no mercado de trabalho. 
 
 
 
 
 Introdução 
A programação pedagógica da Educação Básica está registrada em documentos 
que vêm sendo construídos desde a década de 90, e discutido em consultas populares com 
 
 
41 História da Língua Portuguesa 
Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 
espaços para manifestação de instituições e educadores. Se por um lado devemos tratar 
e observar as normas da lingua padrão, devemos respeitar as variantes sociolinguísticas, 
pois é possível a adoação dos dois registros pelos falantes, o que revelaria a competência 
de saber a diferença entre diferentes usos da linguagem. 
 
Muitos consideram o português do Brasil (PB) uma língua distinta do português 
Europeu ( PE). Registramos , no entanto, do ponto de vista da ciência Linguística, que a 
diferença o português do Brasil do português Europeu são aspectos relacionados à fonética 
e fonologia (pronúncia, sotaque), à organização sintática de frases, bem como colocações 
pronominais e ao léxico. Veja alguns exemplos: 
 
O que se pode chamar de reduções vocálicas no PE e ausente no PB dá ao ouvinte 
estrangeiro a impressão auditiva de o português da Europa ser mais consonântico e o 
brasileiro mais vocálico. Lembre-se de que na variante europeia ouve-se DI- FREN- TE no 
lugar de DIFERENTE. Essa impressão é reforçada pelo fato de o PB enfraquecer as 
consoantes em posição final da palavra, posição em que o PE apresenta articulação forte; 
 
 O PE caracteriza-se pelo enfraquecimento das sílabas pretônicas, pela pronúncia 
do /R/ vibrante, pelo fato de o /l/, em posição final de sílaba, tem pronúncia velarizada, não 
sendo substituído pela vogal /w/; O PB vocaliza o /l/ final em /w/: animal > animaw, aspira 
o/r/ final ou reduz a zero: ama/h/> am/a/; 
 
 Maior frequência do emprego de você e do a gente como pronomes pessoais, no 
PB (em algumas regiões) “a gente costuma sair pela manhã” PB e “costuma-se sair pela 
manhã” PE 
 
Predominância da colocação proclítica20 dos pronomes oblíquosno PB; 
 
 No PB, desaparece na fala o objeto direto pronominal clítico21, como em Eu vi ela 
ano cinema. > vi-a ou eu a vi 
 
20 Próclise: é a colocação do pronome antes do verbo. “Nós nunca nos encontramos no 
supermercado “ 
21 Os termos átono e clítico são sinónimos na descrição gramatical do português, embora possam 
corresponder a realidades linguísticas diferentes noutras línguas. Aplicam-se aos pronomes pessoais 
 
 
42 História da Língua Portuguesa 
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No PB, extenso vocabulário de origem tupi: capim, mingau, guri, taquara, piranha, 
capivara, mandioca, jacarandá, caatinga, mandacaru etc., e de origem africana: moleque, 
cafuné, samba, maxixe, caçula, acarajé, vatapá, bunda, cambada, candango, camundongo 
e outras. Como podemos observar, as mudanças que ocorreram no português para a 
versão brasileira não são tão significativas a ponto de se identificar uma “nova língua”. 
 
As transformações foram também inevitáveis, em decorrência do fluxo natural de 
uma língua. A língua portuguesa do Brasil não perdeu nada ao desencadear uma nova 
organização em seu sistema pronominal e criar pronúncias específicas. As contribuições 
dos diferentes povos proporcionaram, em relação ao Brasil, a fixação da língua portuguesa 
com uma nova roupagem em relação ao português europeu, visto que enquanto sistema 
linguístico, elas são praticamente iguais. 
 
Mesmo com a normatização do português falado no Brasil, não se pode negar a 
diversidade que ele apresenta e a visível diferença entre as classes sociais, ou seja as 
dotadas de prestígio e as estigmatizadas e desprestigiadas no âmbito profissional. Fator de 
difícil dissolução, já que o domínio da língua padrão ainda não alcança todos os falantes da 
comunidade linguística do país. A situação linguística do Brasil hoje não é tão diferente de 
alguns tempos atrás. Ao lado de uma variedade padrão, como já dissemos, privilégio de 
poucos e esperada no desempenho profissional, cresce um número incalculável de 
expressões populares, conjugações verbais que não empregam o modo subjuntivo. Por 
exemplo: Você quer que eu fecho a porta? No lugar de: Você quer que eu feche a porta? 
 
 E o futuro da Língua Portuguesa? 
 
Essa evolução da língua, em suas duas modalidades principais, vem desde sempre, 
e tudo indica que vai continuar. Pelo que sabemos do passado, e pelo que esperamos do 
futuro, no Brasil o povo vai continuar usando a mesma língua que hoje chamamos 
simplesmente “português”. (Mário Alberto Perini, 2004) 
 
 
sem função de sujeito e cuja acentuação se sujeita à da forma verbal a que se ligam: «vi-a», «não o pus na 
mesa», «dei-lhe a chave», «já lhe falei», «enganou-se», «não se impôs». Assim, são pronomes átonos 
porque o valor da sua acentuação depende de outra palavra (um pronome átono não tem acento próprio; por 
isso, é impossível *«ajuda-"mé"», com acento tônico no pronome me). 
 
 
43 História da Língua Portuguesa 
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A grande diversidade que hoje apresenta a língua portuguesa do Brasil abrange, 
além das formas populares, os empréstimos e os estrangeirismos que se infiltram em nosso 
vocabulário, daí as hipóteses sobre a probabilidade do desaparecimento parcial ou 
apagamento da língua. É oportuno saber que as palavras estrangeiras acabam por 
assimilar-se à nossa língua, adaptando-se às características estruturais do nosso 
vernáculo. Algumas delas já são bastante conhecidas como por exemplo: balé, pingue-
pongue, avalanche, surfar, deletar, estresse, sinuca e outras. 
 
Nós professores precisamos oferecer argumentos científicos e sociolinguísticos para 
afastar tal conjectura que é impossível de se tornar verdadeira. A língua portuguesa não 
está passível de deterioração, muito menos de se misturar a uma potência econômica/ 
linguística, seja ela o inglês /chinês) por ter uma estrutura linguística totalmente 
sistematizada, com características próprias como qualquer outra língua. 
 
 Não se pode entretanto negar a significante influência que a língua inglesa tem 
exercido nas pessoas. E, muitas vezes, observamos jovens desvalorizando a língua 
materna em detrimento da estrangeira. Acredito que isso seja um perigo para o 
reconhecimento da nossa nação enquanto caracterização étnica, visto que a língua é um 
elemento de suma importância para a identificação das pessoas e da nossa diversidade 
histórica/ cultural. 
 
 Por fim, a questão das diferenças da língua portuguesa do Brasil em relação à de 
Portugal reside apenas em fenômenos linguísticos que não foram capazes de excluir uma 
da outra, já que compreendem uma mesma hegemonia estrutural. Quanto à variação 
linguística do Brasil e às influências estrangeiras, é certo que elas continuam ocorrendo e 
ocorrerão futuramente. No entanto, é necessário que se comece uma conscientização 
sobre a necessidade de se aplicar, nas escolas e instituições de ensino em geral, o ensino 
da norma padrão, de maneira a contribuir para que o falante possa adequar o uso da língua 
em diferentes situações de comunicação, não excluindo, é claro, a variedade linguística 
corrente. Mesmo a cultura da globalização que inaugurou o atual milênio, não exclui as 
diversidades linguísticas.

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