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Ana Caroline de Almeida Peçanha - UFES - 2021 GERENCIAMENTO DE ESPAÇO Qualquer tentativa de desenvolver métodos preventivos em ortodontia deve ser baseada no desenvolvimento normal das dentições e nos possíveis fatores modificadores. O gerenciamento de espaço origina as chamadas odontologia preventiva e interceptiva, nas quais o paciente é acompanhado para orientação e supervisão do crescimento e desenvolvimento da dentição. O gerenciamento de espaço pode ser por supervisão, manutenção, recuperação ou extração seriada. Odontologia preventiva: prevenção de potenciais interferências no desenvolvimento da oclusão. Ortodontia interceptiva: eliminação de interferências existentes com os principais fatores envolvidos no desenvolvimento da dentição. Supervisão de espaço: DM = positiva. EP > ER. Manutenção de espaço: DM = nula. EP = ER. Recuperação de espaço: DM = negativa. EP < ER. Extração seriada: DM = negativa. EP <<< ER. SUPERVISÃO DE ESPAÇO Discrepância de modelo positiva, > ou = 4mm. Nesse caso é utilizada a ortodontia preventiva: vigilância constante, dinâmica e disciplina do paciente, normalmente de 6/6 meses, dependendo do caso. Não intervir mantendo o desenvolvimento da dentição em observação. Odontologia preventiva. Alguma intercorrência pode acontecer (ex: trauma e avulsão de algum dente, canino ectópico) e o ortodontista deve estar vigilante para interceptar no momento correto. MANUTENÇÃO DE ESPAÇO Discrepância de modelo nula ou + < 4mm. Acompanhar o paciente para observar se ocorre perda do espaço de Nance, fundamental para manutenção do espaço. Tem como objetivo evitar a perda do comprimento, da largura e do perímetro do arco dentário. Quando ocorre perda prematura de dentes decíduo (avulsão, cáries), movimentos indesejáveis dos dentes podem acontecer, com deficiência do comprimento do arco. Isso pode produzir ou aumentar a severidade das más oclusões. Migração dos dentes para o espaço que sobrou → impactação do dente permanente. Se estiver acompanhando o paciente, pode utilizar mantenedores de espaço para o dente permanente se desenvolver adequadamente e erupcionar na época correta. Ana Caroline de Almeida Peçanha - UFES - 2021 “Mais de 70% dos pacientes com manutenção de espaço por meio de arco lingual apresentam espaço adequado para alinhamento dos incisivos”. Preservar o espaço livre de Nance pois este fornece espaço adequado para o manejo das discrepâncias negativas (alinhamento do apinhamento dentário normal) em aproximadamente 70% dos casos (no arco inferior, 3,4mm; no arco superior, 0,9mm). Ex: em pacientes Classe III, intervir o mais rápido possível para que o ortodontista resolva com mais facilidade a maloclusão no futuro. Não negligenciar o caso do paciente e deixar que ele perca espaço que poderia ser mantido. ORTODONTIA INTERCEPTIVA COM MANTENEDORES DE ESPAÇO: Banda alça: ● Dispositivo fixo, unilateral, indicado para manutenção de espaço nos segmentos posteriores (inferiores e superiores). ● Restrito para manter o espaço de um dente (resistência limitada). ● Mantenedor de escolha antes da erupção de incisivos permanentes. Arco lingual: ● Indicado quando os incisivos permanentes estiverem erupcionados. ● Previne o movimento anterior dos dentes posteriores e o movimento posterior dos dentes anteriores (em contato com os incisivos). ● Tem como objetivo manter o espaço livre de Nance. Botão de Nance: ● Mantenedor de espaço superior semelhante ao arco lingual. ● Efetivo. ● Botão pode atrapalhar no contato da língua com o palato, interferindo levemente na deglutição e na fala. ● Ancoragem dos dentes posteriores impedindo que eles migrem e fechem o espaço. ● Irritação nos tecidos moles pode ser um problema - dificuldade de higienização da mucosa. Mantenedores de espaço removíveis: ● Dependem da colaboração dos pacientes. ● Úteis, por exemplo, em casos de manutenção do espaço posterior bilateral, quando mais de um dente foi perdido por segmento e os incisivos permanentes ainda não erupcionaram. ● Substitui parte da função oclusal/impede extrusão do antagonista. ● Vantagens sociais e estéticas: quando há a presença de caninos decíduos em boca, a perda de espaço na região anterior é mínima, diferente de quando há perda precoce na parte posterior (aí sim um mantenedor deve ser feito). Contra-indicações dos mantenedores de espaço: ● Quando já houve perda de espaço (utiliza-se um recuperador, não mantenedor); ● Quando o sucessor já estiver irrompendo; Ana Caroline de Almeida Peçanha - UFES - 2021 ● Quando há agenesia do sucessor; ● Quando não puder manter o controle do paciente; ● Quando não houver colaboração dos pacientes e pais. Planejamento para os mantenedores de espaço: ● Tempo decorrido desde a perda: . Indicar o mantenedor o mais cedo possível após a remoção ou avulsão (traumatismo). . Planejar e confeccionar o mantenedor antes da remoção e instalar na mesma consulta. . Quanto maior o tempo decorrido maior a chance de fechar o espaço, pois a perda é mais acentuada nos primeiros 6 meses. . Quanto mais precoce for a extração maior será o fechamento do espaço, principalmente se antes da erupção 1ºPM. ● Idade dentária do paciente (estágios de Nolla): Quando a coroa está completamente formada, no estágio 6 de Nolla, o movimento eruptivo começa a ocorrer. ⅓ da raiz formada: estágio 7. ⅔ da raiz formada: estágio 8; não precisa de mantenedor de espaço pois o dente está erupcionando. ● Quantidade de osso que cobre o dente sucessor: Caso haja extração de um dente decíduo antes da hora (- ⅓ da raiz formada), ocorrerá atraso e dificuldade na erupção dos permanentes devido à formação óssea sobre o dente; nestes casos, imprescindível a instalação de um aparelho mantenedor de espaço. Entretanto, em casos de perda óssea (por infecção na época da perda do decíduo correspondente), a erupção do dente permanente será acelerada, podendo irromper com um mínimo de desenvolvimento radicular. RECUPERAÇÃO DE ESPAÇO Discrepância de modelo negativa (até 4 mm). Distribuída: falta de espaço ao longo do perímetro (vestibularização, expansão, distalização, desgaste). - Expansão/disjunção transversa dos arcos - Vestibularização (projeção dos incisivos) - Distalização do 1º molar permanente - Desgastes interproximais - Exodontias/extração seriada Localizada: problema localizado - envolve uma região ou um dente. Diagnóstico criterioso. Ana Caroline de Almeida Peçanha - UFES - 2021 Requer o uso de aparelhos recuperadores de espaço - recuperação da largura e do perímetro do arco e melhora na posição eruptiva do permanente. ORTODONTIA INTERCEPTIVA PARA RECUPERAÇÃO DE ESPAÇO: Mola de Benac (superior e inferior): ● Aparelho removível. ● Restrito a região posterior, superior e inferior. ● Eficaz e ideal para inclinar um molar que pode ser movido para distal até 3 mm por 3-4 meses. ● Placa de resina acrílica com grampos de retenção Adams, grampos auxiliares, arco vestibular de Hawley e como componente ativo a mola de Benac. Casos em que houve perda pontual de um dente e o ortodontista só viu o paciente depois de um tempo, ou seja, não foi colocado um mantenedor, o diâmetro mésio-distal foi perdido e quer abrir esse espaço novamente para não impactar o permanente que está sendo formado Expansão/disjunção transversa dos arcos: ● Redução na dimensão transversal maxilar (com ou sem mordida cruzado). ● Aparelhos fixos e removíveis (avaliar a maturidade/colaboração do paciente). ● Expansão = dentária. Lenta (1 ativação por semana). Aparelhos removíveis ou fixos. ● Disjunção = esquelética. Rápida (¼ de volta 2x/dia). Aparelhos fixos. ● Aparelho disjuntor realiza expansão, mas um aparelho expansor não realiza disjunção. . Parafuso expansor. . Hyrax, Hass, McNamara (mais utilizado em pacientes que precisam aumentar a sobremordida - tem a mordida muito profunda - ou precisam descruzar muitos dentes). . Aparelho quadrihélice: expansão dentária; não consegue romper a sutura palatina mediana. Barra transpalatina (BTP): ●Removível = controle ântero-posterior. Recuperação de espaço (distaliza e gira molares). ● Soldada (fixa) = controle transversal. Após uma disjunção. Aparelho extra bucal (AEB): ● Aparelho ortodôntico e ortopédico. ● Composto pelo arco facial, casquetes e tracionadores/elásticos, ● Tração cervical (baixa), occpital (média) + parietal (alta) e AEB combinado (tração alta + baixa). ● Depende da colaboração do paciente. Pacientes Classe II. Distaliza molares e proporciona o destravamento da mandíbula pela maxila. Expansão inferior (Placa/aparelho de Schwarz): Ana Caroline de Almeida Peçanha - UFES - 2021 ● Aparelho mandibular usado para melhorar a expansão dentária transversal. ● Parafuso de ativação e grampos posteriores (geralmente sem arco vestibular). ● Requer boa colaboração do paciente. Placa lábio ativa (PLA/Lip Bumper): ● Realiza tanto a expansão transversal como ântero-posterior (sagital). ● Aparelho removível miofuncional (bochecha, lábios e língua). Ao manter a musculatura do lábio inferior e bochechas longe dos dentes inferiores, o equilíbrio entre a pressão da musculatura externa e interna é quebrada e a língua é capaz de expandir o arco mandibular. A pressão do lábio inferior contra o PLA durante a deglutição é transmitida diretamente aos molares inferiores, resultando em uma ligeira distalização e inclinação distal dos molares (efeito colateral; o grande efeito do PLA é tirar os lábios sobre os dentes e deixar a musculatura equilibrada para ela funcionar normalmente). EXTRAÇÃO SERIADA Procedimento terapêutico destinado a harmonizar o volume dos dentes com o dos maxilares, mediante a eliminação de alguns dentes decíduos (C e 1ºM) e permanentes (1º PM) na dentição mista. Objetivo de conciliar as diferenças entre a quantidade conhecida do material dental e a deficiência permanente do osso de suporte. Discrepância de modelo negativa alta/severa (8 - 10mm). Procedimento longo - requer paciência e compreensão do paciente e dos familiares. Ortodontia interceptiva. Idealizado com o propósito de diluir o apinhamento sem mecanoterapia. Evita tratamentos ortodônticos prolongados e movimentos dentais exagerados. Precisa de um diagnóstico muito preciso, através de anamnese, exame físico extra-oral e intra-oral, exames complementares e radiográficos no início da dentição mista. Um verdadeiro desafio para o ortodontista é distinguir as crianças com deficiências insuperáveis no comprimento do arco daquelas para as quais há uma esperança de se obter um tratamento sem extrações. Para um diagnóstico correto, o paciente deve ser: - Classe I esquelética; - Classe I facial (perfil reto); - Discrepância de modelo > 7 ou 10 mm. Ana Caroline de Almeida Peçanha - UFES - 2021 Desvantagens: ● Aumento da sobremordida (a mordida tende a ficar mais profunda). ● Inclinação lingual dos incisivos (para fechar espaços remanescentes). ● Tecido cicatricial nos espaços das extrações. ● Diastemas (pequenos). ● Aumento da curva de Spee (principalmente inferior). Estágios terapêuticos: ● 1ª fase: Coincide com o 1º período transitório da dentição mista - troca dos IS e II e erupção dos 1º MP. Diagnóstico de apinhamento primário definitivo genético - apinhamento inferior ou superior deve ser bem considerável. Extração dos CD com o intuito de promover o alinhamento dos IP. Por envolver extração apenas de alguns dentes decíduos, é considerada “reversível” em termos de integridade futura do arco dentário. ● 2ª fase: Coincide com o 2º período transitório da dentição mista (quando começa a troca dos posteriores). Constitui a fase crítica pois ocorre extração dos 1º PMP. Por envolver extração de dentes decíduos e permanentes é considerada “irreversível”. Como regra, o PM só é extraído após sua irrupção na cavidade da boca. Acelera o processo de erupção do PM para este ser extraído e aí o C e o 2ºPM vem no lugar. Resumindo: - Extrair os CD para permitir auto alinhamento fisiológico dos I. - Extrair os 1ºMD para acelerar a irrupção dos 1ºPM. - Extrair os 1ºPM em irrupção para permitir uma irrupção distal mais favorável dos C. - Permitir a irrupção dos C e 2ºPM. NO ARCO INFERIOR: Ana Caroline de Almeida Peçanha - UFES - 2021 É necessário inverter a ordem de erupção dos C e PM (erupção do PM antes do C). Atenção para⅔ de raiz formada do 1º PM, para ele poder erupcionar sem o C. Às vezes isso pode não acontecer, e o que se lança mão é colocar um arco lingual, ou seja: extrai o 1ºMD para o PM erupcionar. É muito importante avaliar o RX panorâmico (raiz do 1ºPM e C). Na maioria dos casos, quando se tem um apinhamento severo do arco inferior, o CD já foi perdido e os I estão alinhados; isso indica muita falta de espaço. O que fazer? Extrair o 1ºMD para estimular que o PM erupcione antes do C; para ajudar, instalar um arco lingual no 36 e 46 e extrair também o 2ºMD. Ideal: extrair o CD, MD com o 1ºPMP em ⅔ de raiz formada, extrai o 1ºPMP e mantém 2ºPMP e CP. Isso acontece no arco superior. No arco inferior, o ideal é inverter a ordem de erupção do PM e C, mas as vezes não conseguimos isso, o C vem antes; coloca o arco lingual para não perder a ancoragem (Espaço livre de Nance) e extrair também o 2ºMD para o 1ºPM erupcionar, extrai ele e depois o 2ºPM erupciona melhorando a posição do C.