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2022/1 Isabella Rocha Baihense @isabellabaihense.psi Neuropsicologia Resumo 1 bim Texto 1: Avaliação da inteligência e seus desafios. Cap. 6 A inteligência geral é compreendida atualmente como um sistema organizado de habilidades cognitivas que compartilham variância em comum, sendo classificadas em níveis (habilidades amplas – níveis superiores; habilidades específicas – níveis inferiores). Modelo Cattell-Horn-Carroll: modelo de inteligência, que envolve a organização de diversas habilidades em três níveis (estratos) distintos, em função da generalidade das habilidades. Pertence à abordagem psicológica destinada a medir diferenças individuais em relação a habilidades cognitivas. Estrato III: nesse estrato, encontra-se o fator g, refletindo uma associação geral entre todas as capacidades cognitivas dos três estratos e que passou a ser identificado no modelo CHC como o mais próximo à inteligência fluida no estrato II. Estrato II: são organizados 10 fatores amplos o Inteligência flúida (Gf) o Inteligência cristalizada (Gc) o Conhecimento quantitativo (Gq) o Leitura e escrita (Grw) o Memória de curto prazo imediata (Gsm) o Processamento visual (Gv) o Processamento auditivo (Ga) o Capacidade de armazenamento e recuperação de memória de longo prazo (Glr) o Velocidade cognitiva geral (Gs) o Velocidade de processamento e rapidez de decisão (Gt) Estrato I: é composto por pouco mais de 70 fatores relacionados às capacidades específicas avaliadas pelos testes de inteligência (especificando a subdivisão dos fatores amplos do estrato II – raciocínio indutivo e quantitativo; compreensão verbal e desenvolvimento de linguagem, entre outros). A complexidade de diversas abordagens possíveis para entender o construto e suas implicações, resulta em uma gama ampla de instrumentos padronizados para sua mensuração. 2022/1 Isabella Rocha Baihense @isabellabaihense.psi No Brasil, a Comissão Nacional de Avaliação Psicológica é a comissão que engloba o Sistema de Avaliação de Instrumentos Psicológicos, que divulga e analisa os requisitos mínimos e obrigatórios que os instrumentos psicológicos devem ter para o uso profissional adequado do Psicólogo, sendo vedado a eles o emprego de instrumentos padronizado não avaliados. Apesar de haver uma lista extensa de instrumentos que se propõem a avaliar a inteligência, há também poucas baterias compreensivas para tal, especialmente para a avaliação de adultos com normas atualizadas e derivadas de amostras representativas da população brasileira, que permitam generalizar os resultados de forma confiável. Apenas avaliações mais pormenorizadas dos diferentes componentes da cognição, por meio do uso de diversas ferramentas e de instrumentos padronizados para a coleta de dados de forma sistematizada, proporcionam a formulação de entendimentos mais amplos sobre as pessoas. Abordagem nomotética de interpretação dos escores: se derivam regras gerais que se aplicam a todas as pessoas, o que permite a comparação do indivíduo com um grupo normativo. Abordagem ideográfica: foca o desempenho do próprio indivíduo, sendo ele mesmo a base para comparação. Problemáticas dos aspectos a serem avaliados por meio dos testes de inteligência: a) Construtos primários acessados estão inter-relacionados entre si, em maior ou menor grau. b) Construtos secundários podem estar envolvidos na avaliação, pois as tarefas examinam diversas habilidades cognitivas. (Em outras palavras, é importante observar a existência de habilidades secundárias que são avaliadas indiretamente pelo teste, pois essas podem impactar o desempenho do examinando na tarefa – ex: para um teste de compreensão verbal, o raciocínio de conteúdo verbal e formação de conceitos verbais é necessária, portanto, conhecimentos prévios de memória semântica também são necessários para fazer aquele teste). c) Os comportamentos manifestados pelos indivíduos durante a testagem, são produtos da interação entre habilidades cognitivas. (É importante ressaltar que seu desenvolvimento e os desempenhos diferenciais das pessoas em tarefas que exijam essas habilidades, dependem tanto de aspectos biológicos, quanto de aspectos de organização externa – idade, qualidade de escolarização, níveis socioeconômicos, etc) 2022/1 Isabella Rocha Baihense @isabellabaihense.psi d) A natureza das tarefas do testando pode impulsionar ou limitar a expressão do comportamento inteligente. (é importante considerar a modalidade de apresentação dos estímulos e da instrução [input], bem como a modalidade da resposta requerida [output], pois exercem grande impacto sobre a expressão do comportamento inteligente). - Input auditivo; output verbal - Input visual; output motor (apontar, pegar) Testes compreensivos de inteligência são compostos por várias tarefas que avaliam diversas habilidades cognitivas, por diferentes modalidades de estímulo e resposta, portanto, é fundamental que o psicólogo saiba quais são as habilidades que estão sendo avaliadas e como estão sendo avaliadas, em determinada tarefa, pois a interpretação de uma pontuação depende desse conhecimento prévio, para saber qual habilidade está rebaixando o desempenho, ou vice-versa. Para auxiliar esse processo, podemos usar a análise qualitativa dos erros cometidos, como no subteste Cubos da WISC-IV, onde uma mesma pontuação baixa pode ser explicada por déficits diferentes, de acordo com o desempenho. Ex: uma criança pode ter desempenho rebaixado por não conseguir montar o modelo de cubos apresentado (habilidade visioconstrutiva) e outra por não conseguir concluir os itens dentro do tempo (velocidade de processamento). e) A abrangência do construto medida pelo teste deve ser observada. (Se o nível de habilidade no construto medido pelo teste, envolve o nível de habilidade da pessoa que está sendo avaliada). - Continuum: ir de um extremo inferior (menor nível de habilidade) a um superior (maior nível de habilidade). Por fim, deve também ser levado em consideração a motivação do examinando para realizar o teste, uma vez que os escores de testes de inteligência sofrem influência maciça da motivação do avaliando. O nível de engajamento para realizaras tarefas deve sempre ser levado em conta ao se interpretar um escore de quociente de inteligência (QI), principalmente quando aponta para um rebaixamento cognitivo, ressaltando que as informações qualitativas são sempre complementares às quantitativas em uma avaliação cognitiva adequada. 2022/1 Isabella Rocha Baihense @isabellabaihense.psi Texto 2: Atenção. Cap 3 A atenção é a capacidade de selecionar e manter controle sobre a entrada de informações externas necessárias em um dado momento, para a realização de um processo mental e também diz respeito ao controle de informações geradas internamente. Sem essa seleção, a quantidade de informações externas e internas seria muito grande e não daríamos conta de realizar qualquer atividade mental. Em outras palavras, a atenção envolve uma gama enorme de processos mentais que se resumem a um foco ou direcionamento dado a uma informação de interesse, sendo então uma habilidade cognitiva indissociável de um conjunto mais amplo de funções denominadas de executivas (funções superiores e complexas que capacitam o indivíduo ao desempenho de ações orientadas a metas). Temos várias modalidades que estão envolvidas na capacidade atentiva: - Vigilância: estado de prontidão para detectar e responder a certas alterações específicas na situação de estímulos. Ex: Responder automaticamente quando alguém nos chama pelo nome. Para que a resposta seja rápida, organizada e adequada, é necessário estar preparado para reagir a um estímulo aguardado, para que não haja comprometimento de atividades paralelas que estejam sendo desenvolvidasno campo de atenção ativa. Essa resposta será uma execução eficiente dos atos memorizados, sem a necessidade de um raciocínio diante do estímulo. - Atenção passiva: refere-se a atividades mentais ou psicomotoras que estejam sendo desenvolvidas de forma automatizada, sem que a gente se dê conta ativamente delas, mas, ao mesmo tempo, estando consciente de sua execução para que ajustes possam ser feitos em caso de desvios no planejamento original. Neste caso, os estímulos e objetivos estão presentes, diferente da situação de vigilância). Ex: Dirigir, escrever resumindo uma explicação oral, etc. A atenção é passiva a medida que não gastamos uma energia ativa nela (no caso do ato gráfico, estaremos escrevendo automaticamente, a não ser que o nosso sistema de vigilância detecte um rompimento do plano, como por ex. uma quebra da ponta do lápis). Na energia passiva, gastamos a nossa energia nos objetivos e/ou no próprio prazer de desempenhar as tarefas. - Atenção sustentada: deve ser mantida durante um longo período e direcionada a um foco (concentração). - Atenção seletiva: a capacidade de direcionar a atenção para determinado foco do ambiente quando outros estímulos à sua volta são ignorados. Ex: Ler um texto em um ambiente barulhento 2022/1 Isabella Rocha Baihense @isabellabaihense.psi O estímulo auditivo do barulho está sendo ignorado e a atenção está no foco que é o estímulo visual da leitura. - Atenção dividida ou alternância: capacidade de atender a duas ou mais fontes de informação simultaneamente, alternando entre um estímulo e outro, com igual interesse e eficiência. Ex: seguir uma coreografia ao vivo e cantar uma música. A atenção está sendo dividida entre a imitação da coreografia e o canto da música. Fatores que podem interferir na capacidade do indivíduo de desempenhar modalidades que exigem os diversos tipos de atenção: o Interesse; o Complexidade da tarefa; o Número de estímulos simultâneos; o Método pedagógico utilizado; o Maturidade neurológica; o Integridade das vias sensoriais; o Integridade das demais funções executivas (memória, habilidades linguísticas, visório-perceptivas e psicomotoras) e nível intelectual; o Nível de consciência (o estado de vigília pode ser influenciado pelo cansaço, jejum prolongado, etc); o Aspectos afetivos (depressão, ansiedade, conflitos familiares e escolares, etc). Matriz Atencional Vigilância Atenção passiva Atenção ativa Alerta Atenção sustentada Atenção seletiva Atenção dividida ou alternância 2022/1 Isabella Rocha Baihense @isabellabaihense.psi Texto 3: Funções Executivas. Cap. 4 As funções executivas são um conjunto de habilidades cognitivas que permitem ao indivíduo iniciar e desenvolver uma atividade com objetivo final determinado. Essas funções servem como um sistema de gerenciamento dos recursos cognitivos e emocionais, cuja tarefa é a resolução de problemas, ou seja, a execução de tarefas, sejam elas simples ou complexas, otimizando seu desempenho. A aprendizagem é um processo de aquisição de novas informações provenientes do meio, que envolvem habilidades como recepção, processamento e consolidação, bem como a recuperação dessa informação e aplicação em momentos apropriados. As funções executivas são determinantes da capacidade de aprendizagem, pois essa capacidade exige a participação orquestrada de uma série de funções executivas para que ela aconteça. Por esse motivo, crianças portadoras de inteligência normal porém com problemas com funções executivas, podem apresentar baixo rendimento acadêmico (TDAH, TEA, deficiência intelectual, transtornos de aprendizagem ou até mesmo indivíduos em condição de depressão e ansiedade). Nessas condições, podemos identificar déficits neuropsicológicos básicos como atenção e funções executivas, e/ou déficits na inteligência e funções cognitivas específicas. 1) Volição ou determinação: capacidade de gerar comportamentos intencionais, dependendo da motivação e autoconsciência (desejo, vontade, intenção). Toda tarefa mental ou psicomotora começa nesse campo e é ele que propõe um objetivo para que a ação ocorra. 2) Planejamento: esboço mental da tarefa a ser realizada, que inclui possibilidades de sucesso e fracasso, bem como uma previsão de atitudes alternativas a serem tomadas para que o objetivo aconteça (tomada de decisões). 3) Ação propositiva: é a realização de etapas (processamento), a tradução do planejamento em ações, sendo dependente da atenção e esforços sustentados, atraso na gratificação (controle inibitório), controle de estímulos distratores e flexibilidade cognitiva. 4) Verificação do desempenho – monitoramento perfuncional, correlação e monitoramento pós-funcional: comparação de resultados parciais com o plano original, de forma a se automonitorar e autodirigir passo a passo. 2022/1 Isabella Rocha Baihense @isabellabaihense.psi Texto 4: Memória. Cap. 8 A memória é uma das mais complexas e importantes funções cognitivas. Ela determina a capacidade de modificar o comportamento em função de experiências anteriores, sendo dependente de diferentes estruturas do sistema nervoso central. Seus processos são conduzidos por circuitarias neurais, pelos quais o indivíduos codifica, armazena e recupera informações. - Codificação: processamento de uma informação a ser armazenada. - Armazenamento: retenção ou conservação, é o processo que envolve o fortalecimento das representações, enquanto elas estão sendo registradas, a reconstrução ao longo de sua utilização e da entrada de novas informações. - Recuperação: processo de lembrança da informação anteriormente armazenada, através de dois processos – resgate e reconhecimento. O resgate diz respeito a uma busca ativa das informações armazenadas e o reconhecimento envolve a comparação de estímulos anteriormente registrado, com novos estímulos, sendo um mecanismo útil de descarte de falsas lembranças. Modelos de memória o Atkinson e Shiffrin (1968): A informação entra a partir do ambiente e é processada primeiramente pela memória sensorial, passando para o sistema de memória de curto prazo, depois para a memória de longo prazo, com capacidade limitada. o Lezak, Howieson, Loring, Hannay e Fisher (2004) indicam que já foram listados 134 tipos diferentes de memória, porém para fins didáticos e de avaliação neuropsicológica, essa classificação dinâmica é pouco útil. o Strauss e colaboradores (2006): Memória Memória de longo prazo Memória operacional Explícita Implícita Episódica (eventos) Semântica (fatos) Pré-ativação Procedimento Emocional Aprendizado motor condicionado 2022/1 Isabella Rocha Baihense @isabellabaihense.psi Memória de curto prazo e memória operacional Responsável por manter a informação disponível para recordação por um período breve, depende de estruturas cerebrais distintas daquelas envolvidas na memória operacional e memória de longo prazo. Do ponto de vista funcional, a memória de curto prazo foi assimilada ao conceito de MO, onde os sistemas de memória responsáveis pela memória de curto prazo, são parte de MO. A memória operacional é a habilidade de armazenar e manipular informações por um período de tempo. Em termos de funcionalidade, pode ser definida como espaço mental para a manipulação ativa da representação da memória de longo prazo e como espaço de armazenamento temporário da informação para o desempenho em tarefas cognitivas mais complexas. A MO tem a função de selecionar, analisar, conectar, sintetizar e resgatar as informações já aprendidas, fazendo conexão com as informações novas. Por esse motivo, prejuízos nesse componente pode acarretar em diversos impactos na aprendizagem, já que essa habilidade estáligada a atividades complexas como raciocínio e compreensão, além do próprio aprendizado. O modelo mais citado para explicar o MO é o modelo Multicomponente de Allan Baddeley: - Executivo central: principal componente do modelo, funciona como um susbsistema atencional, coordenando as atividades no sistema de MO. - Alça fonológica: apresenta a função de gravar as sequências acústicas ou itens fundamentados na fala. - Esboço visioespacial: subsistema funcional para itens e arranjos codificados visual e/ou espacialmente. - Retentor episódico: subsistema de armazenamento que consegue reter em torno de quatro segmentos de informação em código multidimensional. Tambpem consegue conectar as informações da memória de longo prazo, tornando-as conscientes durante o processo de lembrança, integrando a lembrança de episódios. Executivo central Esboço visioespacial Retentor episódico Alça fonológica Memória declarativa visual Memória declarativa episódica Linguagem 2022/1 Isabella Rocha Baihense @isabellabaihense.psi A investigação da MO e seus componentes contribui de maneira direta para o diagnóstico diferencial em neuropsicologia, na identificação dos fenótipos cognitivos e nas possíveis relação com a aprendizagem. As escalas de Wechsler de Inteligência (WISC-IV e WAIS-III) tem um índice de MO, que diz respeito aos pontos compostos dos subtestes de Dígitos, Sequência de Números e Letras e Aritimética. Memória de longo prazo o Memória declarativa: Também chamada de memória explícita, consiste no armazenamento e na recuperação consciente de conhecimentos sobre informações adquiridas, bem como de experiências vividas pelo indivíduo. É dividida em dois subsistemas – memória episódica e memória semântica. Também é estudada a partir de níveis moleculares e celulares, uma vez que o neurotransmissor acetilcolina é importante para a memória declarativa e para as funções do hipocampo. - Memória episódica: refere-se à recuperação de informações relacionadas a eventos pessoais e autobiográficos (quando e onde). Depende do uso de diferentes estratégias, como categorização e agrupamento. Pode ser avaliada por meio do Teste de Aprendizagem Auditivo- Verbal de Rey (RAVLT) e Figuras Complexas de Rey. - Memória semântica: pode ser comparada a uma enciclopédia, onde há o armazenamento dos conhecimentos de conceitos (o que), sendo importante para a linguagem. Os conceitos são distribuídos em redes a partir da familiaridade do significado (ex: o conceito da palavra “água” representa proximidade ao conceito da palavra “chuva” e tem menor associação ao conceito da palavra “fogo”). Pode ser avaliado por meio do teste de Fluência Verbal, como por exemplo o NEPSY-II. o Memória não declarativa (ou memória implícita): envolve a capacidade de evocar e realizar atos ou comportamentos que anteriormente exigiam esforço cognitivo consciente, mas que, com a exposição repetida da atividade, já não requerem mais resgate consciente e intencional. Déficits nessa memória podem afetar o aprendizado de atividades da vida diária, como cozinhar ou dirigir um carro. - Memória de procedimento: ligada a habilidades adquiridas com a repetição e o treino (ex: jogar futebol, andar de bicicleta). - Pré-ativação: conhecimentos prévios automatizados (dicas prévias). - Condicionamento clássico: respostas emocionais ao medo, onde é ativada a amígdala. - Aprendizagem não associativa: habituação e sensibilização. 2022/1 Isabella Rocha Baihense @isabellabaihense.psi Memória prospectiva A MP corresponde à capacidade de se lembrar de realizar uma ação pretendida em algum momento futuro, sendo na presença ou na ausência de um lembrete específico. - MP baseada no tempo: envolve a realização da ação em um momento específico. - MP baseada em eventos: consiste na intenção de realizar determinada ação na presença de certas circunstâncias. A teoria Multiprocessual explica a memória processual, propondo que há uma detecção espontânea dos estímulos da tarefa que dá suporte à MP, porém, de acordo com a natureza da tarefa e do próprio indivíduo, diferentes processos (incluindo os atencionais) são utilizados na recuperação e na execução da tarefa prospectiva. Os instrumentos mais utilizados na avaliação neuropsicológica para avaliar essa função são questionários autoaplicáveis como Questionário de Memória Prospectiva e Retrospectiva (PRMQ), o Teste de Memória Prospectiva de Cambridge (CAMPROMPT) e o NEUPSILIN.