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Carreira Jur1dica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aula 17 
 
PC-SP (Delegado) Direito Processual 
 
Penal - 2022 (Pós-Edital) 
 
 
 
 
 
 
 
Autor: 
Leonardo Ribas Tavares, Equipe 
Materiais Carreiras Jurídicas 
 
 
 
 
13 de Março de 2022
Leonardo Ribas Tavares, Equipe Materiais Carreiras Jurídicas 
Aula 17 
PC-SP (Delegado) Direito Processual Penal - 2022 (Pós-Edital) 
www.estrategiaconcursos.com.br 
 
 
 
 
Sumário 
1. Teoria Geral dos Recursos.............................................................................................................................. 4 
1.1 Conceito e características gerais .............................................................................................................. 4 
1.2 Fundamentos............................................................................................................................................ 6 
1.3 Natureza jurídica ...................................................................................................................................... 8 
Doutrina Complementar ................................................................................................................................. 9 
2. Princípios ...................................................................................................................................................... 10 
2.1 Duplo grau de jurisdição ........................................................................................................................ 10 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................... 13 
Jurisprudência pertinente ............................................................................................................................. 15 
2.2 Unirrecorribilidade ................................................................................................................................. 16 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................... 18 
2.3 Taxatividade ........................................................................................................................................... 19 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................... 20 
Jurisprudência pertinente ............................................................................................................................. 21 
2.4 Fungibilidade recursal ............................................................................................................................ 21 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................... 23 
Jurisprudência pertinente ............................................................................................................................. 24 
2.5 Convolação ............................................................................................................................................. 25 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................... 25 
2.6 Disponibilidade ....................................................................................................................................... 26 
2.7 Voluntariedade ....................................................................................................................................... 28 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................... 31 
Jurisprudência pertinente ............................................................................................................................. 32 
2.8 Vedação à ‘reformatio in pejus’ ............................................................................................................. 33 
2.8.1 ‘Reformatio in pejus’ indireta ................................................................................................................ 38 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................... 46 
Jurisprudência pertinente ............................................................................................................................. 49 
2.8.2 ‘Reformatio in mellius’.......................................................................................................................... 52 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................... 54 
Jurisprudência pertinente ............................................................................................................................. 54 
2.9 Dialeticidade........................................................................................................................................... 55 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................... 57 
Jurisprudência pertinente ............................................................................................................................. 58 
2.10 Colegialidade ........................................................................................................................................ 59 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................... 59 
3. Fases procedimentais dos recursos ............................................................................................................. 60 
3.1 Juízo de admissibilidade ......................................................................................................................... 60 
3.2 Juízo de mérito ....................................................................................................................................... 62 
4. Pressupostos recursais ................................................................................................................................. 63 
4.1 Pressupostos objetivos ou extrínsecos ................................................................................................... 64 
4.1.1 Cabimento .......................................................................................................................................... 64 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................... 65 
4.1.2 Regularidade formal ............................................................................................................................. 67 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................... 68 
4.1.3 Tempestividade ................................................................................................................................... 69 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................... 74
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Jurisprudência pertinente .............................................................................................................................76 
4.1.4 Ausência de fatos impeditivos ou extintivos ............................................................................................ 80 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................... 85 
Jurisprudência pertinente ............................................................................................................................. 85 
4.2 Pressupostos subjetivos ou intrínsecos .................................................................................................. 87 
4.2.1 Legitimidade........................................................................................................................................ 87 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................... 90 
4.2.2 Interesse recursal................................................................................................................................. 92 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................... 95 
5. Efeitos dos recursos ..................................................................................................................................... 96 
5.1 Efeito obstativo ...................................................................................................................................... 97 
5.2 Efeito devolutivo..................................................................................................................................... 97 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................... 99 
Jurisprudência pertinente ........................................................................................................................... 100 
5.3 Efeito suspensivo .................................................................................................................................. 102 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................. 103 
5.4 Efeito regressivo, iterativo ou diferido ................................................................................................. 104 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................. 105 
5.5 Efeito extensivo ou expansivo .............................................................................................................. 106 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................. 107 
Jurisprudência pertinente ........................................................................................................................... 108 
5.6 Efeito translativo .................................................................................................................................. 110 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................. 111 
Jurisprudência pertinente ........................................................................................................................... 111 
5.7 Efeito substitutivo ................................................................................................................................ 111 
Doutrina Complementar ............................................................................................................................. 112 
Jurisprudência pertinente ........................................................................................................................... 112 
6. Classificação dos recursos .......................................................................................................................... 113 
6.1 Quanto ao objeto ................................................................................................................................. 113 
6.2 Quanto à obrigatoriedade ................................................................................................................... 114 
6.3 Quanto à fundamentação .................................................................................................................... 114 
6.4 Quanto à extensão ou âmbito de devolutividade ................................................................................ 115 
6.5 Quanto ao grau hierárquico ................................................................................................................. 115 
7. Referências bibliográficas .......................................................................................................................... 116 
8. Questões .................................................................................................................................................... 120 
8.1 Questões com comentários .................................................................................................................. 120 
8.2 Questões sem comentários .................................................................................................................. 141 
8.3 Gabarito ............................................................................................................................................... 147 
9. Resumo....................................................................................................................................................... 149 
9.1 Teoria geral dos recursos ..................................................................................................................... 149 
9.2 Princípios .............................................................................................................................................. 149 
9.3 Pressupostos recursais ......................................................................................................................... 151 
9.4 Efeitos dos recursos .............................................................................................................................. 153 
9.5 Classificação dos recursos .................................................................................................................... 154
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1. TEORIA GERAL DOS RECURSOS 
 
 
1.1 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS GERAIS 
 
 
Estabelecer conceitos nos mais variados institutos jurídicos nunca é tarefa simples; principalmente porque 
se corre o risco de trazer definição que não seja completa o suficiente. 
 
De qualquer modo, um dos conceitos que achamos mais apropriados e conhecidos vem da renomada obra 
de professores da USP, “Recursos no Processo Penal”: meio voluntário de impugnação de decisão, utilizado 
antes da preclusão e na mesma relação jurídica processual, apto a propiciar a reforma, a invalidação, o 
esclarecimento ou a integração da decisão (Grinover, et al., 2005). 
 
Em linhas gerais, considerando o extenso rol de espécies que o compõem, pode-se conceituar recurso como 
“um meio processual de impugnação, voluntário ou obrigatório1, utilizado antes dapreclusão, apto a 
propiciar um resultado mais vantajoso na mesma relação jurídica processual, decorrente de reforma, 
invalidação, esclarecimento ou confirmação” (Gonçalves, et al., 2017). 
 
 
A etimologia da palavra “recurso” decorre do latim re currere, cujo significado representa a ideia 
de retrocesso, volta, isto é, tornar ao curso, voltar ao caminho percorrido. Nesse sentido, 
processualmente falando, quando se recorre de uma decisão, o que se busca é o retorno ao ponto 
gerador do conflito, para que seja reavaliado e o órgão reexaminador se pronuncie, dando novo 
curso à questão (Bonfim, 2013). 
 
 
Aliás, no que se refere à definição com base na etimologia, ninguém melhor que DE PLÁCIDO E SILVA, inclusive 
ponderando sobre os dois sentidos do vocábulo (amplo e restrito): 
 
 
Do latim recursos, possui o vocábulo, na terminologia jurídica, um sentido amplo e um sentido 
estrito. 
Em sentido amplo, recurso é todo remédio, ação ou medida ou todo socorro, indicados por lei, 
para que se proteja ou se defenda o direito ameaçado ou violentado. É a proteção legal 
assegurada para garantia e integridade dos direitos. Desse modo, ação judicial e recurso, 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 Muita gente defende que todo recurso tem de ser voluntário; se não for, não se trata de recurso. 
Falaremos mais sobre isso.
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remédios jurídicos que são contra as 
turbações ou as violações às relações de 
direito, trazem sentido equivalente. As 
ações, as medidas preventivas e 
acauteladoras, as exceções, a 
contestação integram-se no sentido do 
vocábulo, indicando-se recursos ou 
 
 
 
 
 
 
sentido amplo 
'remédio' ou proteção 
legal qualquer que seja 
 
 
meio específico de
remédios judiciais. 
[...] em sentido restrito, naquele em que 
é tido na linguagem forense, recurso 
corresponde a provocatio dos romanos: é 
a provocação a novo exame dos autos 
sentido estrito impugnação de decisão
para emenda ou modificação da primeira sentença, segundo bem define João Monteiro. Nesta 
razão, o recurso mostra-se o ato pelo qual se encaminha ao próprio juiz, a outro juiz ou ao tribunal 
o conhecimento da questão já decidida, para novo exame, e alteração ou anulação da decisão já 
tomada. Sem fugir, pois, ao sentido genérico de remédio jurídico (remedium juris), é 
propriamente o meio pelo qual a parte, prejudicada por uma decisão judiciária, se dirige à 
autoridade que a prolatou ou à autoridade superior, a fim de obter uma reforma ou anulação da 
decisão, que reputa ofensiva a seus direitos (Silva, 2005). 
 
 
“Assim, sempre que o interessado puder insistir no reexame da decisão, seja por um órgão superior ou pelo 
próprio órgão que prolatou a decisão, haverá recurso no sentido estrito da palavra. Pois, em um sentido 
amplo, recurso é todo meio de defesa” (Rangel, 2018). 
 
Desse conceito é possível extrair-se algumas características básicas atinentes aos recursos no processo penal. 
RENATO BRASILEIRO elenca quatro aspectos: voluntariedade, previsão legal, anterioridade à preclusão ou coisa 
julgada e não instituição de nova relação jurídica. Vejamos cada uma: 
 
➢ voluntariedade: recorrer é um ato voluntário da parte; é dizer, cabe a ela ponderar acerca da 
necessidade/oportunidade de assim proceder. Recorre somente se assim o desejar. Não há, pois, 
qualquer obrigação imposta às partes em recorrer de determinado pronunciamento judicial. O art. 
574, caput do CPP deixa isso evidente: 
 
 
Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser 
interpostos, de ofício, pelo juiz: 
 
I - da sentença que conceder habeas corpus; 
 
II - da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstância que exclua 
o crime ou isente o réu de pena, nos termos do art. 411. 
 
Quando da análise dos princípios mais adiante, algumas considerações serão feitas em relação às figuras 
excepcionais descritas nesses incisos; 
 
➢ previsão legal: a existência e cabimento do recurso devem estar previstos expressamente em lei. 
“Portanto, se a lei não prevê recurso contra determinada decisão, significa dizer que tal decisão é
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irrecorrível, o que, no entanto, não impede que a parte volte a questionar a matéria em preliminar 
de futura e eventual apelação, por meio de habeas corpus ou mandado de segurança” (Lima, 2017); 
➢ anterioridade à preclusão ou coisa julgada: preclusa a decisão judicial, não mais caberá recurso 
contra ela; o recurso necessariamente antecede o trânsito em julgado; 
➢ mesma relação jurídica processual de que se originou a decisão recorrida: o recurso é interposto, 
desenvolvido e apreciado dentro da mesma relação jurídica processual; não é criada outra relação 
apenas para este fim. “Nessa acepção, a ação de impugnação, seja qual for (v.g., habeas corpus e 
revisão criminal), não pode ser tida como recurso, embora também configure meio para impugnar 
uma decisão” (Bonfim, 2013). 
 
 
1.2 FUNDAMENTOS 
 
 
Vários são os ‘fundamentos’ de existência dos recursos. A começar pela Constituição Federal, o art. 5º, inciso 
LV assim estabelece: 
 
 
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são 
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; 
 
Os recursos também podem ser tidos como decorrência do duplo grau de jurisdição, princípio previsto 
implicitamente na Constituição Federal. “O duplo grau, em última análise, objetiva assegurar a efetiva 
prestação jurisdicional, traduzindo-se como um pressuposto necessário à justa composição da lide. Afinal, é 
evidente que uma segunda análise do contexto fático-jurídico que conduziu à decisão recorrida minimiza os 
riscos de uma eventual injustiça” (Avena, 2017). 
 
 
Não se ignora que há decisões irrecorríveis, por exemplo, a denegação da suspensão do processo 
em razão de questão prejudicial (art. 93, § 2.º, do CPP), a admissão ou inadmissão do assistente 
de acusação (art. 273 do CPP), a improcedência das exceções de incompetência, litispendência, 
coisa julgada e ilegitimidade de parte (contrario sensu ao art. 581, III, do CPP) e, mais 
recentemente, o reconhecimento da inexistência de repercussão geral no recurso extraordinário 
(art. 326 do Regimento Interno do STF). Isto, porém, ocorre apenas como exceção no 
ordenamento pátrio, e, mesmo assim, não impede, em alguns casos, em razão do grave ônus 
causado à parte pela decisão judicial, a dedução de ações como o habeas corpus e o mandado 
de segurança como forma de insurgência (Avena, 2017). 
 
 
A Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), no art. 8º (que trata das 
garantias judiciais) concebe o direito de recorrer: 
 
 
Art. 8º (Garantias Judiciais) 
 
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se 
comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena 
igualdade, às seguintes garantias mínimas: 
 
h) direito de recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior.
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A tudo isso se soma a previsão estrutural que se estabelece para o Poder Judiciário na Constituição Federal, 
dividindo-o em órgão hierarquizado,com possibilidade de revisão de decisões em instâncias e tribunais 
sobrepostos. 
 
 
De regra, a interposição de um recurso pressupõe a duplicidade de instâncias, ou seja, uma 
inferior (que prolatou a decisão) e outra superior (revisora da decisão impugnada). A primeira é 
chamada de juízo a quo e, a segunda, de juízo ad quem (Rangel, 2018). 
 
 
A possibilidade de erro ou, melhor dizendo, a falibilidade humana é o principal argumento para justificar a 
existência do recurso, na visão do MARQUÊS DE SÃO VICENTE retratada por PAULO RANGEL. 
 
 
Os juízes, pessoas humanas que são, não estão longe de cometer erros. São falíveis como toda e 
qualquer pessoa normal. Assim, sabendo-se de que uma decisão poderá acarretar graves 
prejuízos a qualquer uma das partes e, ainda, tornar-se imutável, estabelece-se a possibilidade 
de se reexaminar uma decisão. 
De regra, o recurso, como dissemos, é levado ao conhecimento de uma instância superior que, 
verificando o erro cometido, poderá reformar a decisão impugnada. Pois, diante do princípio da 
legalidade, nenhum ato estatal pode fugir de controle. 
Assim, torna-se o recurso uma necessidade psicológica de levar a decisão à apreciação de pessoas 
mais experientes e de maior conhecimento jurídico, não significando dizer que estas também 
não possam errar. Podem, porém com uma margem de erro menor, pois, quanto mais pessoas 
puderem ter acesso à decisão para reexaminá-la, melhor para a sociedade, que se sente mais 
segura, mais protegida e livre do arbítrio de uma só pessoa. Trata-se da adoção do princípio da 
certeza jurídica. 
Imagine, em nossa vida pessoal, fazermos uma consulta ao médico e nos submetermos a 
determinados exames e, ao recebermos o resultado, descobrirmos que estamos contaminados 
por determinada doença incurável! Com certeza, não vamos acreditar e, diante da possibilidade 
de erro, vamos fazer outro exame com outro médico, pois vários são os casos de pacientes que 
recebem exames trocados em um hospital ou clínica. Assim é nosso comportamento diante da 
decisão judicial. Há um total inconformismo (Rangel, 2018). 
 
MADEIRA destaca que a irresignação é da natureza humana; diante desse 
pressuposto, basicamente dois mecanismos de impugnação de decisão 
judiciais foram criados: os recursos e as ações autônomas. “A diferença 
básica entre ambos os mecanismos está na formação de nova relação 
jurídico processual ou não. Enquanto os recursos não dão origem a nova 
relação jurídico processual, as ações autônomas impugnativas sim”. 
 
 
 
recursos 
ações 
autônomas
 
A irresignação é da natureza humana. Não se conformar com 
determinada decisão é natural da alma humana. Bem por isso foram 
desenvolvidos mecanismos para a impugnação das decisões. Há, 
basicamente, dois mecanismos de impugnação das decisões judiciais, os recursos e as ações 
autônomas impugnativas.
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Os recursos são meios voluntários de impugnação das decisões, utilizados antes da preclusão e 
na mesma relação jurídica, aptos a propiciar a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a 
integração da decisão. 
Já as ações autônomas de impugnação, que também funcionam como meio para impugnação de 
decisões judiciais, dão origem a uma nova relação jurídica, com processo e procedimento 
próprio. Podem ser utilizadas antes da formação da coisa julgada, como os recursos, mas também 
podem ser utilizadas após o trânsito em julgado, o que ocorre, por exemplo, na revisão criminal 
(Dezem, 2018). 
 
 
“Os recursos se distinguem das ações autônomas de impugnação que, segundo os critérios do direito posto, 
servem à impugnação de decisões judiciais, mas dão causa a um novo processo, com procedimento e relação 
jurídica processual próprios” (Gomes Filho, et al., 2018). 
 
 
1.3 NATUREZA JURÍDICA 
 
 
São três as correntes doutrinárias que se prestam a definir a natureza jurídica dos recursos: 
 
➢ recurso como desdobramento do direito de ação ou de defesa: sendo um desdobramento, o recurso 
representa a continuação da relação jurídica processual (dentro do mesmo processo) em razão do 
inconformismo de uma das partes quanto ao teor do provimento jurisdicional obtido. Segundo a 
doutrina, é a visão majoritária, embora seja alvo de críticas. 
 
 
As críticas a essa posição são as mais amplas, ao argumento de que ela incorre em mais de um 
desvio de perspectiva: 
o primeiro seria o de confundir o direito de obter tutela jurisdicional com o exercício da ação 
penal, que, por sua vez, não seria assimilado pelo conceito de direito subjetivo. Isso porque a 
ação penal em si não seria um direito, mas simplesmente um agir, não obstante exista o direito 
subjacente de obtenção de pronunciamento judicial válido; 
o segundo desvio de perspectiva é que esse “desdobramento do direito de ação” não é bem 
ajustado quando o recurso é manejado pelo acusado que restou vencido na ação penal 
condenatória, ainda que se utilize do artifício de que ele, ao prolongar a “reação” à ação penal, 
está a prosseguir com o seu “direito” de ação com sinal negativo. 
Sem embargo, a trajetória do recurso perpetua no tempo e no espaço o direito que foi deflagrado 
com a apresentação da inicial acusatória ou, de outro lado, manifesta o exercício defensivo, em 
segundo grau de jurisdição, através da resistência oposta pelo sucumbente contra o conteúdo 
da decisão guerreada (Távora, 2017). 
 
 
Adepto dessa visão, juntamente a outros renomados juristas como Ada Pellegrini Grinover e José Frederico 
Marques, PAULO RANGEL assevera: 
 
 
Entendemos que a natureza jurídica do recurso é ser ele um novo procedimento dentro da 
mesma relação jurídica processual, porém, agora, em fase recursal. Não há novo processo, pois 
não confundimos este com procedimento. Há, sim, um prolongamento da instância, com o
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exercício ao duplo grau de jurisdição. Trata-se do mesmo processo, porém com um novo 
procedimento. O inesquecível Florêncio de Abreu, na obra citada acima, dizia: O direito ao recurso 
não é um direito autônomo, mas um desdobramento, uma continuação do direito exercido 
ou exercitável na ação já posta em movimento no juízo penal (Rangel, 2018). 
 
 
➢ recurso como nova ação dentro do processo: segundo essa visão, o recurso não representaria um 
desdobramento da relação jurídica já instaurada, mas uma nova ação no mesmo processo. “Assim, 
para os que defendem esta corrente, as pretensões são diversas: na ação, o direito com base num 
fato; no recurso, com fundamento numa sentença que se ataca” (Rangel, 2018). 
 
Por outro lado, TÁVORA pontua: “No entanto, afirmar que se trata de ação um ato processual que se interpõe 
em ação já em curso, encobre a essência do recurso em si, que é o desdobramento de relação preexistente, 
e não a deflagração de uma nova ação” (Távora, 2017). 
 
➢ recurso como meio destinado a obter reforma de uma decisão: essa corrente adota uma visão ampla 
de recurso. Para ela, qualquer meio eficaz para buscar a reforma de uma decisão constituiria um 
recurso. Uma revisão criminal ou mesmo um hábeas corpus poderiam ser compreendidos como 
recursos (por essa maneira de pensar). 
 
 
Apesar destas três posições, prevalece a que vê nos recursos manifestação do direito de ação (ou 
de defesa) exercido dentro do próprio processo. Além de Ada Pellegrini Grinover, Antonio 
Scarance Fernandes e Antonio Magalhães Gomes Filho, também seguem esta posição José 
Frederico Marques, Giovanni Leone e Aury Lopes Jr. Na doutrina estrangeira esta também é a 
posição prevalente. Assim, por exemplo, na doutrina espanholaesta é a posição de José María 
Rifá Soler, Manuel Richard González e Iñaki Riaño Bruno (Dezem, 2018). 
 
 
Doutrina Complementar 
 
 
FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018). “Recurso é a providência legal 
imposta ao juiz ou concedida à parte interessada, consistente em um meio de se obter nova apreciação 
da decisão ou situação processual, com o fim de corrigi-la, modificá-la ou confirmá-la. Trata-se do meio 
pelo qual se obtém o reexame de uma decisão. [...] Em consonância com esta origem etimológica, 
podemos afirmar que: assim como o processo indica movimento para a frente, o recurso denota 
movimento para trás. O juiz, para decidir, acompanha pari passu o andamento da causa desde o seu início 
até sua conclusão, examinando, do começo para o fim, todos os atos e termos do processo. Quando a 
parte vencida não se conforma com a decisão, pede à instância superior um novo exame da causa, e esse 
pedido constitui o recurso, assim denominado porque o julgador a que se recorre como que deve 
retroceder no exame do processo, voltando para trás a fim de fazer um novo estudo do processo e proferir 
uma nova decisão”. 
 
ALEXANDRE CEBRIAN ARAÚJO REIS et al. (Direito processual penal esquematizado, 6ª ed., São Paulo: Saraiva, 
2017). “Em razão do grande número de recursos existentes na legislação nacional, torna-se tarefa árdua 
estabelecer um conceito capaz de abranger todas as nuances dessa pluralidade de instrumentos 
jurídicos. Dentre os vários conceitos existentes, o que nos parece mais adequado é o seguinte: o recurso 
é um meio processual de impugnação, voluntário ou obrigatório, utilizado antes da preclusão, apto a 
propiciar um resultado mais vantajoso na mesma relação jurídica processual, decorrente de reforma, 
invalidação, esclarecimento ou confirmação. A finalidade dos recursos é o reexame de uma decisão por 
órgão jurisdicional superior ou, em alguns casos, pelo mesmo órgão que a prolatou, em face da 
argumentação trazida à baila pelo recorrente”.
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NORBERTO AVENA (Processo Penal, 9ª edição, Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017). “Conforme 
ensina E. Magalhães Noronha, por recurso compreende-se “a providência legal imposta ao juiz ou 
concedida à parte interessada, objetivando nova apreciação da decisão ou situação processual, com o 
objetivo de Corrigi-la, modi-ficá-la ou confirmá-la”. Nada mais é, enfim, do que o reexame de uma decisão”. 
 
AURY LOPES JR. (Direito processual penal, 15ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018). “A partir do momento em que 
se estabelece o processo como um sistema heterônomo de reparto, com um terceiro imparcial como 
poderes decisórios, supraordenado às partes e, portanto, ocupando uma posição fundante da estrutura 
dialética (actum trium personarum – Búlgaro), nasce, como consequência lógica, a necessidade de 
permitir-se o reexame daquela decisão. [...]o conceito de recurso vincula-se à ideia de ser um meio 
processual através do qual a parte que sofreu o gravame solicita a modificação, no todo ou em parte, ou 
a anulação de uma decisão judicial ainda não transitada em julgado, no mesmo processo em que ela foi 
proferida. Excepcionalmente, o recurso pode não ser um ato de parte, senão do ofendido, que venha ao 
processo como assistente não habilitado, exclusivamente para recorrer. O que não se pode admitir é tratar 
como recurso – em sentido próprio – os chamados reexames necessários (no nosso sistema, ainda 
denominados recurso de ofício), previstos no art. 574 do CPP”. 
 
RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017). “Tecnicamente, recurso é o 
meio ou instrumento jurídico de impugnação formal das decisões judiciais. Trata-se de faculdade 
conferida à parte, com o objetivo de permitir que, atendidos os requisitos legais, seja determinada decisão 
submetida, total ou parcialmente, à reapreciação de outro órgão judicial de hierarquia superior. Em 
determinados tipos de recursos, o próprio órgão prolator da decisão será instado a reexaminá-la, quando 
então poderá, ele mesmo, mantê-la ou modificá-la. A possibilidade de interpor recurso surge com a 
prolação da decisão impugnável e configura desdobramento jurídico, lógico e natural do direito de ação; 
do direito de postular em juízo com o objetivo de obter a satisfação de um direito lesado ou ameaçado de 
lesão”. 
 
FERNANDO CAPEZ (Curso de processo penal, 24ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018). “Os recursos estão 
fundamentados na necessidade psicológica do vencido, na falibilidade humana e no combate ao arbítrio. 
João Monteiro anota que “todo recurso para juiz superior (provocatio dos romanos) corresponde e satisfaz 
a uma tendência irresistível da natureza humana; é a expressão legal do instinto que leva todo homem a 
não se sujeitar, sem reação, ao conceito ou sentença do primeiro censor ou juiz”. Observa também 
Tourinho Filho que, “sabendo os Juízes que suas decisões poderão ser reexaminadas, procurarão eles ser 
mais diligentes, mais estudiosos, procurando fugir do erro e da má-fé. Somente tal circunstância seria 
suficiente para se justificar o recurso. Não houvesse a possibilidade do reexame, os Juízes, muitas e muitas 
vezes, se descuidariam, decidiriam sem maior meticulosidade, pois estariam seguros de que seu erro, sua 
displicência, sua má-fé não seriam objeto de censura pelos órgãos superiores”. – Base constitucional: a 
existência dos recursos tem sua base jurídica no próprio Texto Constitucional, quando este organiza o 
Poder Judiciário em graus diferentes de jurisdição (Título IV – “Da Organização dos Poderes” –, Capítulo III 
– “Do Poder Judiciário” –, arts. 92, 93, III, e 125, § 3º), bem como quando estabelece atribuição 
primordialmente recursal para os tribunais (arts. 102, II e III, 105, II e III, e 108, II). Portanto, se os tribunais se 
destinam a julgar recursos, e se existem instâncias superiores revisoras de decisões, a Constituição 
pressupõe claramente a existência dos recursos”. 
 
 
2. PRINCÍPIOS 
 
 
2.1 DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO 
 
 
O duplo grau de jurisdição costuma ser visto como uma decorrência do devido processo legal, disposto no 
art. 5º, LV da Constituição Federal:
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LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são 
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; 
 
Trata-se da possibilidade/garantia da parte de ver rediscutida a matéria fática e de direito por órgão do Poder 
Judiciário hierarquicamente superior àquele que proferiu o pronunciamento jurisdicional vergastado. 
 
 
A par da ponderação dos valores da justiça e da segurança jurídica, a doutrina tende a buscar 
argumentos que fundamentem a existência de um sistema recursal. São, assim, citados como 
“fundamentos dos recursos”: 
a) a própria natureza falível do ser humano, e do juiz enquanto tal, não estando isento de 
equívocos; 
b) a necessidade psicológica do homem de ver reapreciada uma decisão desfavorável. Em 
qualquer ramo da atividade humana, a pessoa é vulnerável às dúvidas, sobretudo quando se trata 
do desenvolvimento dos atos judiciais, restando necessário o reexame da questão, através do 
recurso, para suprir as desconfianças naturais do indivíduo; 
c) certa coação psicológica sobre o juiz de grau inferior, que o levaria a “julgar melhor”, sabedor 
da possibilidadede sua decisão ser reexaminada por um órgão superior. Esse fator faz com que 
o julgador seja mais diligente na hora de proferir sua decisão, levando-o a se afastar do erro e do 
arbítrio, bem como o impulsionando à pesquisa e constante aperfeiçoamento para evitar a 
censura do órgão jurisdicional superior; 
d) a possibilidade de a causa ser julgada por um órgão colegiado, formado por juízes de maior 
experiência e saber jurídico. Embora esse fundamento não represente a certeza de melhor 
prestação jurisdicional, não é menos verdade que a vivência alcançada pelos anos oferece uma 
confortável garantia ao recorrente de que a decisão pronunciada na instância superior se 
adequará aos verdadeiros ditames da justiça; 
e) razões históricas (Bonfim, 2013). 
 
 
O princípio do duplo grau de jurisdição não é previsto expressamente na Carta Magna, 
fato esse que enseja dissenso doutrinário a respeito de seu fundamento existencial. Para 
TÁVORA, “por tal razão, a afirmação desse princípio é de ser compreendida como de cunho 
histórico, tradição de uma política legislativa que encontra sua raiz nos ideais da Revolução 
Francesa e que se espraiaram na cultura forense brasileira” (Távora, 2017). 
 
Por outro enfoque, o autor reconhece: 
 
 
Parte da doutrina, contudo, entende que o duplo grau de jurisdição é princípio constitucional 
implícito, levando em consideração o sistema como um todo, a partir de sua previsão na 
Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica), ratificada pelo 
Brasil em 1992. 
Nesse sentido, Grinover, Scarance e Gomes Filho – embora reconhecendo que o princípio do 
duplo grau, previsto explicitamente na Constituição do Império (art. 158, da Carta de 1824), não 
vem mais expresso na Constituição vigente –, sustentam que se cuida “de regra imanente na Lei 
Maior, que, como as anteriores, prevê não apenas a dualidade de graus de jurisdição, mas até 
um sistema de pluralidade deles”. Desse modo, concluem os autores, é possível afirmar “que a 
garantia do duplo grau, embora só implicitamente assegurada pela Constituição brasileira, é
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princípio constitucional autônomo, decorrente da própria Lei Maior, que estrutura os órgãos da 
chamada jurisdição superior” (Távora, 2017). 
 
 
Nesse mesmo sentido pondera BRASILEIRO, que complementa: 
 
 
Para além do fato de ser o recurso um aspecto, elemento, ou modalidade do próprio direito de 
ação e de defesa, parte considerável da doutrina entende que a palavra “recursos” inserida no 
inciso LV do art. 5º da Constituição Federal foi utilizada pelo constituinte originário em seu 
sentido técnico-jurídico. Ademais, a própria previsão constitucional que estabelece que os 
tribunais são dotados de competência originária e em grau de recurso seria uma demonstração 
evidente da constitucionalidade do duplo grau de jurisdição. 
De todo modo, mesmo que não se empreste dignidade constitucional ao duplo grau de jurisdição, 
certo é que a Convenção Americana sobre Direitos Humanos o assegura de maneira expressa 
em seu art. 8º, § 2º, ‘h’, segundo o qual toda pessoa acusada de delito tem direito de recorrer da 
sentença para juiz ou tribunal superior. É bem verdade que o duplo grau de jurisdição também 
está previsto no Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (art. 9º, § 5º). Ocorre que, 
diferentemente da restrição aí concebida (‘em conformidade com a lei’), o Pacto de São José da 
Costa Rica (art. 8º, § 2º, ‘h’) garante o mesmo direito de forma ampla e irrestrita. Logo, por força 
do princípio pro homine, segundo o qual, em matéria de direitos humanos, deve sempre 
prevalecer a norma mais favorável, é a Convenção Americana que deve ter incidência, por se 
tratar de norma mais benéfica (Lima, 2017). 
 
 
Imperioso registrar que, não obstante haja essa previsão em convenções 
internacionais, o princípio do duplo grau de jurisdição possui limitações ou 
exceções. Um claro exemplo de mitigação desse princípio diz respeito aos 
processos julgados em sede de foro por prerrogativa de função, como já foi decidido 
pelo STF no RHC 79.785/RJ, cuja leitura (do julgado), aliás, é de todo oportuna. 
 
 
Tal conclusão não ressoa incongruente, na medida em que, se a prerrogativa de função tem o 
condão de qualificar o julgamento daquelas pessoas que ocupam cargos públicos relevantes 
(julgadas que são por magistrados com maior conhecimento técnico e experiência, em 
composição colegiada mais ampla), não haveria sentido exigir-se duplo grau de jurisdição, cuja 
essência, além da possibilidade de revisão da decisão proferida por órgão jurisdicional distinto, 
é exatamente a mesma que subjaz ao foro especial, qual seja, o exame do caso por magistrados 
de hierarquia funcional superior, em tese mais qualificados e experientes (Lima, 2017). 
 
 
Sobre o ponto, AURY LOPES JUNIOR complementa: 
 
 
Há, nesses casos, um completo esvaziamento da garantia do duplo grau de jurisdição em 
benefício da prerrogativa funcional e do julgamento originário por um órgão colegiado. Mas isso 
é constitucional? Prevalece o entendimento de que a Constituição não consagra expressamente 
o duplo grau de jurisdição, mas sim os casos em que haverá julgamento originário pelos tribunais, 
podendo haver, portanto, uma restrição à garantia que decorre da CADH (cujo caráter
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“supralegal” a coloca abaixo da Constituição). Ademais, ainda que o duplo grau fosse consagrado 
no texto constitucional, poderia haver a supressão ou limitação pelo próprio sistema 
constitucional. FERREIRA MENDES explica que o próprio modelo jurisdicional positivado na 
Constituição afasta a possibilidade de aplicação geral do princípio do duplo grau de jurisdição. 
Prossegue o autor, esclarecendo que “se a Constituição consagra a competência originária de 
determinado órgão judicial e não define o cabimento de recurso ordinário, não se pode cogitar 
de um direito ao duplo grau de jurisdição, seja por força de lei, seja por força do disposto em 
tratados e convenções internacionais”. Importante esclarecer, na lição acima, que quando o 
autor se refere ao não cabimento de recurso ordinário, está fazendo alusão à categoria 
doutrinária de recurso ordinário, ou seja, àqueles meios de impugnação que têm por objeto 
provocar um novo exame (total ou parcial) do caso penal, alcançando tanto as matérias de direito 
como também fáticas. Logo, quando o imputado é julgado originariamente por um tribunal, 
 even tu al recu rso ser á “ext rao rd in ário” , na medida em que os tribunais superiores 
somente podem entrar no exame da aplicação da norma jurídica efetuada pelo órgão inferior, ou 
seja, um juízo limitado ao aspecto jurídico da decisão impugnada (Júnior, 2018). 
 
 
De todo modo, é certo que, recentemente, o foro por prerrogativa de função foi fortemente limitado pelo 
Supremo Tribunal Federal2, mas ainda subsiste e evidencia uma clara limitação ao princípio em voga. 
 
Na lição de MADEIRA, o “duplo grau de jurisdição acaba por contrapor dois outros princípios: o princípio da 
justiça e o princípio da certeza jurídica”. 
 
 
De acordo com o princípio da justiça, quanto mais se examinar uma decisão, mais próximos 
estaremos da distribuição da justiça. Assim, haveria estímulo a um contínuo aprimoramento da 
decisão, pela sua revisão constante. Já quanto ao princípio da certeza jurídica, impõe-se a 
brevidade do processo, a exigir que a decisão seja proferida sem procrastinações inúteis. 
Contudo é de se observar que não necessariamente haverá maior justiça pela maior quantidadede reanálises da decisão e não necessariamente quanto mais rápido durar o feito mais justa será 
a decisão. Deve-se buscar equilíbrio entre tais princípios, visando-se sempre a melhor decisão 
sem prolongar demasiadamente o andamento processual (Dezem, 2018). 
 
 
Doutrina Complementar 
 
 
AURY LOPES JR. (Direito processual penal, 15ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018) “O princípio do duplo grau de 
jurisdição traz, na sua essência, o direito fundamental de o prejudicado pela decisão poder submeter o 
caso penal a outro órgão jurisdicional, hierarquicamente superior na estrutura da administração da 
justiça. Além de garantir a revisão da decisão de primeiro grau, também compreende a proibição de que 
o tribunal ad quem conheça além daquilo que foi discutido em primeiro grau, ou seja, é um impedimento 
 
 
 
 
 
 
 
2 Por maioria de votos, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o foro por prerrogativa 
de função conferido aos deputados federais e senadores se aplica apenas a crimes cometidos no exercício 
do cargo e em razão das funções a ele relacionadas.
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à supressão de instância. [...]O fundamento do sistema recursal gira em torno de dois argumentos: 
falibilidade humana e inconformidade do prejudicado (até porque consciente da falibilidade do julgador). 
A possibilidade de revisão das decisões surge, explica ZANOIDE DE MORAES, numa primeira aproximação, 
como forma de se melhorarem os provimentos jurisdicionais através de nova apreciação do problema 
inicialmente discutido. Logo, o fundamento dos recursos passa, sintetiza HINOJOSA SEGOVIA, pelo 
reconhecimento da falibilidade humana, pois se considera que os juízes podem errar ao aplicar ou 
interpretar a lei – processual ou material –, sendo conveniente (se não imprescindível) que as partes 
tenham a possibilidade de solicitar, no próprio processo, que a decisão proferida seja modificada, ou pelo 
mesmo órgão jurisdicional que a elaborou, ou por um órgão superior, colegiado e mais experiente, como 
garantia de uma melhor ponderação das questões. Outro argumento importante é o da “ampliação da 
visibilidade” sobre o processo. Os recursos permitem uma visibilidade compartilhada, uma multiplicidade 
de olhares ao julgar, como bem destaca POZZEBON. Essa ampliação de visibilidade também contribui 
para uma ampliação da legitimidade e reforça a confiabilidade das decisões. E, principalmente, a 
existência dos recursos obedece a razões não de política legislativa, senão de índole constitucional, na 
medida em que representam desdobramentos do devido processo e do direito de defesa”. 
 
RENATO MARCÃO (Curso de processo penal, 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2017). “O exercício da ampla defesa 
traz consigo a possibilidade de recorrer a órgãos de superior instância judiciária visando nova apreciação 
da matéria decidida, tal como se extrai da Constituição Federal vigente e está disciplinado no regramento 
inferior. Muito embora atenda à necessidade de satisfação da parte perdedora, naturalmente irresignada, 
o duplo grau de jurisdição não se presta à eternização de demandas judiciais, de modo a violar, inclusive, 
os princípios da duração razoável do processo e da segurança jurídica, de fundamental importância na 
estabilização do sistema judiciário e na pacificação social. Nada obstante o inconformismo da alma e do 
espírito – destino cruel de tantos infelizes – possa não ser superado em tempo algum, o duplo grau sofre 
limitações jurídicas, na medida em que o sistema recursal não permite a infinita reapreciação do meritum 
causae. Haverá um momento em que, embora cabível algum tipo de recurso, o mérito do processo não 
poderá ser rediscutido, conforme veremos ao analisar as espécies recursais, um pouco mais adiante. Há 
ainda limitação jurídica ao duplo grau de jurisdição imposta pela existência de foro privilegiado por 
prerrogativa de função. É o que ocorre, por exemplo, na situação em que um membro do Congresso 
Nacional é julgado e condenado por crime praticado no exercício do mandato, tendo em vista a 
competência originária do Supremo Tribunal Federal (CF, art. 102, I) e a impossibilidade de recurso 
ordinário a outro órgão superior dotado de competência jurisdicional na estrutura judiciária brasileira, 
porquanto inexistente. O fundamento político do duplo grau de jurisdição está no fato de que, no Estado 
de Direito, todo e qualquer ato estatal se encontra subordinado a controle jurisdicional, e não poderia ser 
de modo diverso em relação às decisões proferidas por determinado órgão judiciário, mesmo que em 
sede de controle interna corporis”. 
 
NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016). “A doutrina 
processual aduz, quase que de maneira unânime, que os recursos têm por fundamentos “a necessidade 
psicológica do vencido, a falibilidade humana do julgador e as razões históricas do próprio direito”, 
salientando que “a existência dos recursos tem sua base jurídica no próprio texto constitucional, quando 
este organiza o Poder Judiciário em duplo grau de jurisdição com a atribuição primordialmente recursal 
dos tribunais”. Na senda racionalista e iluminista, o “princípio do duplo grau dá maior certeza à aplicação 
do direito, com a proteção ou restauração do direito porventura violado e é por isso que se encontra 
assente nas legislações”. Uma correção de rumo se faz preciso: o duplo grau de jurisdição não é princípio 
sufragado na Constituição de 1988. Há processos penais onde esse duplo grau inexiste, tais como aqueles 
de competência originária do Supremo Tribunal Federal. A garantia do devido processo legal (art. 5º, LIV, 
CF/1988) e a enunciação que preconiza que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos 
acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela 
inerentes” (art. 5º, LV, CF/1998), não induzem a existência do princípio do duplo grau de jurisdição a nível 
constitucional. Por tal razão, a afirmação desse princípio é de ser compreendida como de cunho histórico, 
tradição de uma política legislativa que encontra sua raiz nos ideais da Revolução Francesa e que se 
espraiaram na cultura forense brasileira. É o reconhecimento de que a revolução francesa efetivamente 
estabeleceu que uma decisão só transita em julgado quando possível o seu exame em dois juízos 
sucessivos. Como no Brasil temos a possibilidade de julgamento de recurso extraordinário pelo STF, bem 
como a apreciação de embargos infringentes de alguns julgados, pode-se entender pela multiplicidade 
ou pluralidade de graus de jurisdição, não apenas duplicidade. Parte da doutrina, contudo, entende que
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o duplo grau de jurisdição é princípio constitucional implícito, levando em consideração o sistema como 
um todo, a partir de sua previsão na Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da 
Costa Rica), ratificada pelo Brasil em 1992. Nesse sentido, Grinover, Scarance e Gomes Filho – embora 
reconhecendo que o princípio do duplo grau, previsto explicitamente na Constituição do Império (art. 158, 
da Carta de 1824), não vem mais expresso na Constituição vigente”. 
 
Jurisprudência pertinente 
 
Supremo Tribunal Federal - STF 
 
[...] 1. A soberania dos veredictos é garantia constitucional do Tribunal do Júri, órgão competente para o 
julgamento dos crimes dolosos contra a vida; sendo a única instânciaexauriente na apreciação dos fatos 
e provas do processo. Impossibilidade de suas decisões serem materialmente substituídas por decisões 
proferidas por juízes ou Tribunais togados. Exclusividade na análise do mérito. 2. Em nosso ordenamento 
jurídico, embora soberana enquanto decisão emanada do Juízo Natural constitucionalmente 
previsto para os crimes dolosos contra a vida, o específico pronunciamento do Tribunal do Júri não 
é inatacável, incontrastável ou ilimitado, devendo respeito ao duplo grau de jurisdição. Precedentes. 
3. A apelação não substitui a previsão constitucional de exclusividade do Tribunal do Júri na análise de 
mérito dos crimes dolosos contra a vida, pois, ao afastar a primeira decisão do Conselho de Sentença, 
simplesmente, determina novo e definitivo julgamento de mérito pelo próprio Júri. (STF - RHC 192579 / SP 
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO. Julgamento: 09/03/2021). 
 
[...] 1. A extensão do alcance do foro por prerrogativa de função a cargos que não foram contemplados 
na Constituição contraria normas convencionais que asseguram o duplo grau de jurisdição em 
matéria penal. 2. No exercício do poder que lhe outorga o art. 125 , § 1º, da CRFB, os Estados só podem 
conferir foro por prerrogativa de função para autoridades cujos similares na esfera federal também o 
detenham, em respeito ao princípio da simetria. 3. Evolução jurisprudencial em torno de uma 
compreensão restritiva da prerrogativa de foro. Precedentes. 4.Ação Direta de Inconstitucionalidade 
julgada procedente declarando-se a inconstitucionalidade das expressões “procuradores do Estado e da 
Assembleia Legislativa e os defensores públicos”, contidas no art. 46, VIII, e, da Constituição do Estado de 
Goias. (STF - ADI: 6512 GO, Relator: EDSON FACHIN, Data de Julgamento: 21/12/2020). 
 
[...] O foro por prerrogativa de foro constitui exceção à garantia ao duplo grau de jurisdição. [...] (STF - 
ADI: 5175 DF. Relator: GILMAR MENDES, Data de Julgamento: 22/06/2020). 
 
[...] O acesso à instância recursal superior consubstancia direito que se encontra incorporado ao sistema 
pátrio de direitos e garantias fundamentais. V - Ainda que não se empreste dignidade constitucional ao 
duplo grau de jurisdição, trata-se de garantia prevista na Convenção Interamericana de Direitos Humanos, 
cuja ratificação pelo Brasil deu-se em 1992, data posterior à promulgação Código de Processo Penal. VI - 
A incorporação posterior ao ordenamento brasileiro de regra prevista em tratado internacional tem o 
condão de modificar a legislação ordinária que lhe é anterior. VII - Ordem concedida. (HC 88420, 
Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 17/04/2007). 
 
SuperiorTribunal de Justiça - STJ 
 
[...] 2. Nos processos de competência do Tribunal do Júri, o princípio do duplo grau de jurisdição é 
limitado pelo princípio da soberania dos veredictos, daí porque a anulação do julgamento, quando a 
decisão dos jurados contrariar a prova dos autos, restringir-se aos casos em que Conselho de 
Sentença decide absolutamente divorciado dos fatos e provas colhidos nos autos, e não quando dá 
às provas interpretação divergente. 3. A teor do entendimento desta Corte, não é manifestamente 
contrária à prova dos autos a decisão dos jurados que acolhe uma das versões respaldadas no conjunto 
probatório produzido. 4. O acórdão recorrido está devidamente fundamentado, tendo o Tribunal de 
origem decidido que a condenação pelo delito previsto no art. 129, § 3º, do CP não destoa dos elementos 
probatórios colhidos nos autos, os quais demonstraram que as lesões provocadas pelo agravante foram 
responsáveis pela morte da vítima. 5. A alteração das conclusões do julgado, com a análise acerca da 
possibilidade de desclassificação do delito, demandaria o necessário confronto do veredicto do Conselho 
de Sentença com os fatos e provas dos autos, análise essa incompatível com a via do recurso especial, a 
atrair a incidência da Súmula 7/STJ 6. Agravo regimental de fls 1.314-1.319 não conhecido e agravo de fls.
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1.3081.313 improvido. (STJ - AgRg no AREsp: 1707804 MS, Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de 
Julgamento: 15/12/2020, T6 - SEXTA TURMA). 
 
[...] 1.1. Na hipótese, verifica-se omissão no acórdão embargado em relação a alegada violação ao 
princípio do duplo grau de jurisdição em razão do julgamento monocrático do agravo em recurso 
especial. 2. O julgamento monocrático da causa pelo relator, utilizando-se dos poderes processuais 
do art. 932 do CPC/15, não ofende o princípio do duplo grau de jurisdição se o recurso é 
manifestamente inadmissível ou improcedente, sendo certo que eventual mácula fica superada com 
o julgamento colegiado do recurso pelo órgão competente. 3. Embargos de declaração parcialmente 
acolhidos, sem efeitos infringentes, tão somente para sanar a omissão apontada. (STJ - EDcl no AgInt no 
AREsp: 1190092 SC 2017/0269753-2, Relator: Ministro MARCO BUZZI, Data de Julgamento: 17/12/2019, T4 - 
QUARTA TURMA). 
 
[...] 1. Por meio da presente impetração, a defesa pretende que o pleito de progressão de regime e 
livramento condicional seja apreciado, dispensado o exame criminológico. O mérito da tese aqui 
formulada não foi enfrentado pelo Tribunal de origem - prescindibilidade do exame criminológico 
para obtenção de benefícios -, o que impede esta Corte de analisar o tema, sob pena de incorrer em 
indevida supressão de instância e em violação ao princípio do duplo grau de jurisdição. Diante desse 
contexto, não se configura hipótese de provimento do agravo regimental em análise. Contudo, vislumbra- 
se a possibilidade de concessão de ordem de ofício. [...] 3. Agravo a que se nega provimento. Ordem 
concedida de ofício, tão somente para determinar que o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo 
aprecie o mérito do habeas corpus originário como entender de direito. (STJ - AgRg no HC: 561747 SP 
2020/0036275-2, Relator: Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, Data de Julgamento: 30/06/2020, T6 
- SEXTA TURMA). 
 
[...] 4. Na espécie, não observo violação ao duplo grau de jurisdição, como pretende a defesa, pois o 
Tribunal de Justiça limitou-se a atribuir definição jurídica diversa aos fatos delineados na peça 
acusatória, ao desclassificar o delito, sem, contudo, malferir as provas com a pecha da ilicitude. 
Assim, não houve surpresa ou desrespeito ao princípio do contraditório, pois o Julgador limitou-se a 
atribuir definição jurídica diversa aos fatos delineados na incoativa, sendo caso de aplicação do 
disposto no art. 383 do Código de Processo Penal. 5. Conforme consignou o Parquet Federal, "não se 
verifica em qualquer dos acórdãos proferidos Tribunal a quo, declaração de ilicitude de prova. Conforme 
acima já relatado, o Tribunal apenas consignou que não levou em consideração as provas colhidas na fase 
inquisitorial para a condenação, contudo não afirmou, em momento algum, que estas provas seriam 
ilícitas". 6. Agravo regimental a que se nega provimento. (STJ - AgRg nos EDcl no HC: 193621 RS 
2011/0000469-3, Relator: Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, Data de Julgamento: 13/08/2019). 
 
[...] 3. O legislador constituinte, ao prever ações de competência originária dos Tribunais, limitou a 
aplicação do princípio do duplo grau de jurisdição, cogitando, nestas hipóteses, apenas de recursos 
sem devolução plena. 4. Razões de agravo interno que não alteram a convicção acerca do não 
conhecimento do recurso ordinário constitucional. 5. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. (STJ - AgInt na 
Pet: 12190 SC 2018/0016616-5, Relator: MinistroPAULO DE TARSO SANSEVERINO, Data de Julgamento: 
12/06/2018, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 15/06/2018). 
 
 
2.2 UNIRRECORRIBILIDADE 
 
 
Também denominado de princípio da singularidade ou unicidade, traduz a ideia de que para cada específica 
decisão cabe apenas um recurso, não sendo admissível a interposição de dois (ou mais) recursos da mesma 
parte da decisão. Regra geral, para cada decisão (recorrível) admite-se a interposição de um único recurso. 
 
Para a doutrina, esse princípio é evidenciado pelo art. 593, § 4º do CPP, ao dispor sobre a não possibilidade 
de manejo do recurso em sentido estrito quando cabível apelação:
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§ 4º Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que 
somente de parte da decisão se recorra. 
 
 
Exemplo claro deste princípio se dá na hipótese prevista no art. 593, § 4.º, do CPP: quando cabível 
a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que somente de parte da 
decisão se recorra. Assim, se dentro de uma sentença absolutória ou condenatória, o juiz proferir 
decisão da qual caiba recurso em sentido estrito, o recurso cabível será a apelação, ainda que 
somente desta parte da decisão se deseje recorrer. Há, entretanto, exceções: 
a) a primeira delas refere-se ao recurso extraordinário e recurso especial. Desde que cabíveis, um 
deverá ser interposto para a parte constitucional e outro para a parte infraconstitucional. Desta 
forma seria admissível neste caso dois recursos contra uma única decisão, qual seja, o acórdão. 
b) Embargos infringentes para a parte não unânime e recursos extraordinários para a parte 
unânime da decisão recorrida. Comumente citada como tranquila exceção ao princípio da 
unirrecorribilidade, ocorreria quando a decisão do tribunal tem uma parte não unânime e uma 
parte unânime, sendo então cabível interpor simultaneamente os embargos infringentes contra 
a não unânime e o recurso extraordinário contra a parte unânime (parte constitucional). Porém, 
tal exceção é duvidosa, por força do art. 498 do CPC/1973, que prevê o sobrestamento do prazo 
para recurso extraordinário se forem interpostos embargos infringentes (Dezem, 2018). 
 
 
Os recursos especial (ao STJ) e extraordinário (ao STF) representam situação pontual dentro do princípio da 
singularidade, porquanto é admitida a interposição de ambos em face de uma mesma decisão, caso ela 
contrarie, concomitantemente, lei federal/tratado (art. 105, III, “a” da CF) e dispositivo da Constituição 
Federal (art. 102, III, “a” da CF), respectivamente. 
 
Para BONFIM, esse caso retrata verdadeira exceção ao princípio, juntamente à hipótese de desistência de um 
recurso para interposição de outro: 
 
 
Esse princípio, contudo, é excepcionado em duas circunstâncias: 
a) pela própria legislação. É exemplo em que há previsão da interposição concomitante de mais 
de um recurso: a interposição simultânea de recurso extraordinário e de recurso especial, caso o 
acórdão contrarie, a um só tempo, preceito constitucional e lei federal; 
b) pelo princípio da variabilidade dos recursos, que faculta à parte a desistência de um recurso 
para a interposição de outro (Bonfim, 2013). 
 
 
Não enxergando propriamente uma exceção, muitos defendem que a singularidade prega um único recurso 
para cada parte (ou capítulo) da decisão. Assim, na parte que viola a lei federal caberia o recurso especial; 
na parte que viola norma constitucional caberia o extraordinário. 
 
 
Parcela da doutrina afirma que não se trata de exceção à unirrecorribilidade na medida em que 
o recurso é cabível de capítulos distintos da sentença ou do acórdão. Neste sentido é a posição 
de Ada Pelegrini Grinover, Antonio Scarance Fernandes e Antonio Magalhães Gomes Filho bem 
como de Badaró. Assim, no caso de recurso extraordinário e de recurso especial haverá dois
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recursos sobre partes distintas da decisão, de forma que não se falar em violação à unicidade 
para esta parcela da doutrina. 
É importante notar que não se fala em exceção quando mais de uma parte recorre da sentença. 
Assim, caso haja recurso tanto pela acusação quanto pela defesa não haverá exceção à 
unirrecorribilidade, pois esta se refere à mesma parte apresentando mais de um recurso contra 
uma mesma decisão (Dezem, 2018). 
 
 
Questão interessante seria a seguinte: o princípio da singularidade permite um único recurso para impugnar 
mais de uma decisão judicial❓ 
 
Permite. O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou no sentido de que isso não é comum, mas não 
haveria qualquer impedimento legal a essa prática no ordenamento jurídico. 
 
 
PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. INTERPOSIÇÃO DE UM 
ÚNICO RECURSO PARA ATACAR DUAS DECISÕES DISTINTAS. POSSIBILIDADE. [...] 2. O princípio da 
singularidade, também denominado da unicidade do recurso, ou unirrecorribilidade consagra a 
premissa de que, para cada decisão a ser atacada, há um único recurso próprio e adequado 
previsto no ordenamento jurídico. 3. O recorrente utilizou-se do recurso correto (respeito à 
forma) para impugnar as decisões interlocutórias, qual seja o agravo de instrumento. 4. O 
princípio da unirrecorribilidade não veda a interposição de um único recurso para impugnar 
mais de uma decisão. E não há, na legislação processual, qualquer impedimento a essa prática, 
não obstante seja incomum. 5. Recurso especial provido. (REsp 1112599/TO, Rel. Ministra 
NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 28/08/2012, DJe 05/09/2012) 
 
Doutrina Complementar 
 
 
NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016). “(Também 
denominado de princípio da singularidade ou princípio da unicidade): cada espécie de decisão judicial, 
em regra, comporta um único recurso, sendo ônus da parte escolher o recurso adequado para que haja 
seu reexame. O princípio da unirrecorribilidade ou da singularidade recursal expressa que a parte não 
pode manejar mais de um recurso para vergastar a mesma decisão. A concomitância de recurso pode ser 
possível quando a sentença aprecie ao mesmo tempo questões distintas. Com efeito, excepcionalmente 
uma mesma decisão pode comportar mais de um recurso. É o que ocorre, por exemplo, com a 
possibilidade do manejo simultâneo do recurso especial ao STJ e do extraordinário ao STF, quando uma 
mesma decisão ofenda a Constituição Federal e a legislação infraconstitucional. [...]A título de registro 
histórico, temos o exemplo da possibilidade que havia de interposição de protesto por novo júri (revogado 
pela Lei nº 11.689/2008) e de apelação para combater uma mesma sentença que condenasse o réu a mais 
de um crime, sendo apenado por um deles, isoladamente, a vinte anos ou mais de reclusão. No entanto, 
manejado o protesto por novo júri, a apelação que tivesse por objeto a porção abrangida pelo protesto 
restaria prejudicada, pelo que também aqui a exceção a unirrecorribilidade é aparente, eis que a 
concomitância recursal requer impugnações de capítulos diversos da mesma decisão”. 
 
VICENTE GRECO FILHO (Manual de processo penal, 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012). “A unirrecorribilidade. A 
cada decisão corresponde um recurso. Atendendo o princípio, o art. 593, § 4º, exclui a possibilidade de 
interposição do recurso no sentido estrito se da decisão cabe apelação. Esta absorve aquele, porque nela 
a matéria será integralmente examinada. O fundamento, aliás, é a economia e a simplificação da forma. 
Assim,por exemplo, se o juiz, na sentença, cassa a fiança, a apelação abrangerá toda a matéria, a de mérito 
e a relativa à fiança. Se a cassação da fiança for decidida fora da sentença, o recurso cabível é o recurso no 
sentido estrito. Há exceções, porém, no caso de decisões complexas, com mais de um dispositivo, previstos 
expressamente em lei, porque a regra é a unirrecorribilidade. Os casos de recursos diferentes
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concomitantes são os seguintes: 1. apelação e protesto por novo júri se, na decisão do júri, um crime 
comporta o protesto, e outro não. A apelação aguardará a nova decisão decorrente do protesto; 2. o 
recurso ordinário constitucional, por parte da defesa, da decisão denegatória de habeas corpus, o recurso 
especial e o recurso extraordinário, por parte da acusação, se a denegação for parcial e houver 
fundamento nas hipóteses constitucionais; 3. o recurso de embargos infringentes, o especial e o 
extraordinário, se a decisão do tribunal, desfavorável ao réu, contiver parte não unânime e parte unânime 
que, em tese, possibilite os recursos aos Tribunais Superiores. Os embargos infringentes serão julgados 
em primeiro lugar, ficando os outros dois recursos aguardando essa decisão. Julgados os embargos, 
caberá outro recurso especial e outro extraordinário quanto à parte decidida nos embargos, se houver 
fundamento constitucional para isso”. 
 
EDILSON MOUGENOT BONFIM (Curso de processo penal, 7ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012). “Como regra geral, a 
lei prevê um único recurso adequado para a impugnação de uma decisão, não permitindo à parte interpor 
mais de um recurso da mesma decisão. Nesse sentido, dispõe o art. 593, § 4º, do CPP que não poderá ser 
usado o recurso em sentido estrito, ainda que somente de parte da decisão se recorra, quando cabível a 
apelação. Assim, de sentença condenatória em que tenha sido negada a suspensão condicional da pena 
caberá apenas a apelação, ainda que da decisão denegatória do sursis caiba recurso em sentido estrito 
(art. 581, XI, do CPP)”. 
 
 
2.3 TAXATIVIDADE 
 
 
Os recursos devem estar expressamente previstos em lei. Dito de outra forma, não cabe às partes 
manifestarem seu inconformismo senão pelos meios expressamente admitidos. Isso é fundamental para a 
regularidade do procedimento e por segurança jurídica. Se não há recurso previsto não se exerce duplo grau; 
se existir, deverá a parte utilizar aquele que a lei aponta (princípio da correspondência). 
 
 
Exemplo: somente cabe recurso em sentido estrito das decisões previstas no art. 581 do CPP, ou 
seja, a lei possibilita às partes utilizar desse recurso somente naquelas hipóteses, taxativamente, 
previstas. Não podem as partes utilizar esse recurso para impugnar uma sentença condenatória 
(cf. art. 581 c/c 593, ambos do CPP) (Rangel, 2017). 
 
 
A lei, portanto, deve prever a existência do instrumento de impugnação e especificar as hipóteses de seu 
cabimento. Não obstante, BONFIM registra: 
 
 
Esse princípio não impede a aplicação analógica nem a interpretação extensiva das normas 
processuais penais, como prevê o art. 3º do CPP. Assim, por exemplo, apesar de não haver 
previsão expressa, admite-se a interposição de recurso em sentido estrito da decisão que rejeita 
o pedido de aditamento da denúncia, embora essa hipótese não esteja incluída no rol do art. 581 
do CPP (Bonfim, 2013). 
 
 
Por outro lado, “somente lei federal pode dispor sobre recursos. A lei estadual não pode criar, no âmbito dos 
juizados especiais, recursos não previstos na lei federal. Do mesmo modo os regimentos internos dos 
Tribunais também não podem criar recursos não previstos em lei federal, conforme já decidiu o STF”. 
 
 
Não deixa de ser curioso, contudo, que o próprio STF atenue esta regra como, por exemplo, 
quando admite a manutenção dos embargos infringentes previsto apenas no Regimento Interno
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do STF e em nenhuma outra lei. No julgamento da Ação Penal 470/MG [´Mensalão´] o STF teve 
que analisar se os embargos infringentes previstos no regimento interno do STF, mas não na Lei 
8038/90 ainda teriam validade e concluiu, por maioria de votos, pela sua admissibilidade: 
“1. O art. 333, inciso I, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, que prevê o 
cabimento de embargos infringentes na hipótese, jamais foi revogado de modo expresso pela Lei 
8.038/1990. Tampouco existe incompatibilidade, no particular, entre os dois diplomas 
normativos. 2. Embora se pudesse, em tese, cogitar da revogação do dispositivo – em razão de a 
Lei 8.038/1990 haver instituído normas sobre o processamento da ação penal originária –, este 
nunca foi o entendimento do Supremo Tribunal Federal. Ao contrário, há mais de uma dezena 
de pronunciamentos do Tribunal – em decisões monocráticas e acórdãos, de Turma e do Plenário 
– no sentido de que o art. 333 se encontra em vigor, inclusive no que diz respeito à ação penal 
originária. Tais pronunciamentos correspondem à razão de decidir expressamente adotada pela 
Corte e não podem ser simplesmente desconsiderados, como se nunca tivessem existido. 3. 
Ademais, Projeto de Lei enviado pelo Executivo ao Congresso Nacional, em 1998, com o fim 
específico de suprimir os embargos infringentes, foi expressamente rejeitado pela Casa 
Legislativa. Vale dizer: não só o STF, mas também os Poderes Executivo e Legislativo 
manifestaram o entendimento de que os embargos infringentes não foram revogados pela Lei 
8.038/1990. Em deliberação específica e realizada sem a pressão de um processo rumoroso, o 
Congresso Nacional tomou a decisão expressa de manter esse recurso na ordem jurídica. 4. 
Embora se possa cogitar da revogação dos embargos infringentes para o futuro, não seria 
juridicamente consistente a pretensão de fazê-lo na reta final de um processo relevante e 
emblemático como a Ação Penal 470. 5. Incidência dos princípios do Estado de Direito, da 
segurança jurídica, da legalidade e do devido processo legal, que impedem o Tribunal de ignorar 
dispositivo que sempre se considerou vigente a fim de abreviar o desfecho de processo penal 
determinado.” (STF, AP 470 AgR – vigésimo sexto/MG, Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe 
17.02.2014) (Dezem, 2018). 
 
 
Doutrina Complementar 
 
 
NESTOR TÁVORA (Curso de direito processual penal, 11ª ed., Salvador: JusPodivm, 2016). “Para que seja 
possível o manejo de um recurso, é preciso que o ordenamento jurídico o preveja expressamente: o rol 
não é exemplificativo, porém numerus clausus; no processo penal, não se admite recurso inominado ou 
recurso de improviso. A previsão legal é condição necessária para que a decisão seja recorrível, e para que 
o recurso exista. Como adverte Mougenot, o princípio da taxatividade recursal não é óbice à aplicação 
analógica nem à interpretação extensiva das normas processuais penais, na esteira do que dispõe o art. 
3º, do Código. Daí ser admissível a interposição de recurso em sentido estrito contra decisão que rejeita o 
pedido de aditamento da denúncia, malgrado a hipótese não esteja incluída expressamente no rol do art. 
581, CPP, mas é depreendida a partir do enunciado que prevê o manejo desse meio recursal contra a 
decisão que rejeita a denúncia. Também, com base em interpretação sistemática extensiva, é que se 
admite a interposição de embargos infringentes e/ou de nulidade pela defesa contra decisões não 
unânimes proferidas por órgão colegiado de tribunal em sede de agravo em execução. Para tanto, leva-

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