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Thaís Silva Batista | 6º Semestre Medicina - UniFtc Definição: A obesidade é uma doença crônica associada a múltiplas complicações, que depende não só de fatores genéticos e fisiológicos, como também de variáveis culturais, sociais e psicológicas associadas à quantidade e qualidade da alimentação. “Sobrepeso e obesidade são definidos como um acumulo de gordura anormal ou excessivo que pode ser prejudicial à saúde”. Nem todo mundo que tem obesidade vai apresentar problemas de saúde, mas eles estarão mais propensos a desenvolvê-los no futuro. Prevalência: Uma pesquisa conferiu as medidas antropométricas de jovens entre quinze e dezessete anos, selecionados em uma subamostra dos domicílios participantes. A conclusão a partir dela foi de que 19,4% dos nossos adolescentes estão com excesso de peso. Isso representa aproximadamente 1,8 milhões de indivíduos. E, entre eles 6,7 já tem obesidade. O problema é mais prevalente nas meninas (8%) em comparação com os meninos (5,4%). Diagnóstico: da obesidade Como avaliar a obesidade? A avaliação do IMC em crianças e adolescentes é feita e acompanhada pelo gráfico: Dos 5 aos 19 anos (escores-z) – a partir do percentil 2: obesidade; a partir do percentil 3: obesidade grave; a partir do percentil 1. O IMC não necessariamente é o melhor método de avaliação da criança obesa pois não avalia o percentual de massa magra nem de liquido e gordura um paciente. Por exemplo, um paciente pode estar com o IMC alto por causa da massa muscular. Alternativas que auxiliam no diagnóstico da obesidade: → DEXA (Densitometria por emissão de raios x de dupla energia); → RNM; → TC; → Pregas cutâneas (pouco reprodutível, depende do avaliador); → USG (custo elevado); → Bioimpedânciometria: usada em crianças a partir de dois anos de idade. O ideal é que o paciente esteja em 4h de jejum, com bexiga vazia e que não tenha realizado atividade física intensa nas ultimas 24h. Paciente de 21 anos com peso elevado as custas de tecido gorduroso com massa muscular no limite inferior, ele teria que perder gordura e ganhar músculo para atingir uma situação ideal. Na bioimpedância é possível avaliar a quantidade de gordura e músculo dos membros, o paciente tem massa muscular baixa em braço esquerdo e MMII e normal em abdômen e braço direito, e tem gordura elevada em todos os membros. Fisiopatologia O aumento do peso corporal é resultado do desequilíbrio entre a redução do gasto energético e aumento da ingesta calórica. É influenciada pela combinação de fatores ambientais (ingestão de alimentos hipercalóricos, ricos em gorduras e açucares, etc.) e genéticos. Endocrinologia Pediátrica Obesidade infantil Obesidade é uma doença crônica, multifatorial, de fisiopatologia complexa e redicivante, e a maioria é poligênica, muitos genes já foram identificados como contribuintes da obesidade, a partir dessa combinação o paciente pode ter alterações na digestão dos alimentos, diferenciação dos adipócitos, alteração na sinalização de insulina, no metabolismo lipídico, na microbiota, na biologia muscular. ❖ Interação de sinais homeostáticos da saciedade Para que um estímulo possa sinalizar diretamente ao SNC alguma informação a respeito da homeostase energética do organismo, é necessário que ele tenha acesso direto ao núcleo arqueado do hipotálamo. Principal local de recepção e integração dos sinais neurais e hormonais associados ao controle do apetite. No núcleo arqueado do hipotálamo, temos receptores para vários hormônios e neurotransmissores, como leptina, insulina, grelina, serotonina, dopamina, norepinefrina, epinefrina, ácido gama-aminobutírico (GABA), glutamato etc. Diversos nutrientes, dentre eles glicose, aminoácidos e ácidos graxos livres (AGL), também podem sinalizar diretamente para esse núcleo. Dentro do núcleo arqueado situam-se os neurônios de primeira ordem – (próopiomelanocortina) POMC e (transcrito regulado pela cocaína e anfetamina) CART – que vão receber o primeiro estímulo, e encaminhá-lo adiante, fazendo sinapse com outro grupo de neurônios, chamados de neurônios de segunda ordem – AGRP e NPY. POMC / CART: responsáveis por ativar a via anorexígena (reduz o apetite); produzido após alimentação e em situações de aporte energético, melhoram a saciedade e diminuem da fome. AGRP / NPY: responsáveis por ativar via orexigênica (estimulam o apetite); produzidos em casos de jejum ou privação de energia, provocando o aumento da fome. ▪ Leptina: tem ação anorexígena; produzida pelo tecido adiposo, age nos neurônios anorexígenos estimulando POMC/CART levando à redução da alimentação. Uma pessoa obesa possui uma resistência a ação da leptina no SNC, embora ela tenha muita leptina ela não consegue atuar de forma adequada nesse núcleo fazendo o efeito de reduzir o apetite. ▪ Insulina: tem ação anorexígena; é produzida pelo pâncreas em situação pós-prandial e atua estimulando os neurônios POMC e inibindo NPY. ▪ Grelina: tem ação orexigênica; produzida pelo estômago, vai atuar nos neurônios AGRP levando ao aumento da ingesta de alimentos. Existem também hormônios (incretinas) produzidos pelo trato grastrointestinal, os mais importantes são GLP1 e CCK ▪ GLP1: no SNC: 1) estimula POMC; age de forma direta no trato solitário reduzindo a alimentação. No estômago: retarda o esvaziamento gástrico. ▪ CCK: estimula a secreção de enzimas digestivas pancreáticas e a secreção biliar, inibindo o esvaziamento gástrico e o apetite diretamente via ação hipotalâmica e indiretamente pelo nervo vago. Além do mecanismo fisiológico com as interações homeostáticas abordadas anteriormente tem-se o sistema hedônico: Sistema hedônico “Ingestão alimentar baseada no valor de recompensa do alimento relacionada com emoção estrese, excitação e estado metabólico”. Nós mantemos sempre um “set point” adequado do peso, (caso tenha um aumento ou perda de peso o corpo inicia mecanismos para que a pessoa volte ao peso anterior), mas uma vez inserido em contextos estressantes + alimentação inadequada acaba estabelecendo o aumento progressivo desse “set point”. ❖ Contribuição da dieta dos pais na obesidade infantil Obesidade infantil está relacionada com: a) Baixo peso a nascer; b) Alto peso a nascer; ▪ A exposição gestacional precoce à desnutrição, seguida por uma oferta abundante de alimentos no período pós- natal, está associada de maneira confiável a um aumento de risco de obesidade. ▪ Enquanto a exposição tardia na gestação ou a persistência de disponibilidade limitada de nutrientes após o nascimento é frequentemente protetora contra a obesidade. ▪ O feto desnutrido experimenta mudanças no sistema de homeostase energética que são adaptativas quando a disponibilidade limitada de nutrientes persistente, mas se tornaram desadaptativas em um ambiente rico em nutrientes. ❖ Contribuição do peso da mãe na obesidade infantil ▪ O mais forte preditor de obesidade infantil é o IMC materno pré-gestacional; ▪ Estudos apoiam a ideia de que um ambiente gestacional obeso programa a suscetibilidade à obesidade; ❖ EDCs (Endocrine-disrupting chemical) disrruptores endócrinos ▪ Disruptores endócrinos são substancias exógenas que agem como hormônios no sistema endócrino e causam alterações na função fisiológicas; ▪ Abundantes no meio ambiente ebioacumulam. Estes incluem bifenilos policlorados; organoestânicos, tais como tributilestanho; pesticidas organoclorados, diclorodifeniltricloretano; e produtos químicos perfluorados (PFCs) ▪ Muitos produtos químicos são classificados como EDCs com base em sua capacidade de imitar ou alterar a sinalização de receptores por hormônios endógenos, incluindo estrogênio, testosterona e hormônio da tireoide. ▪ Evidencias ligama exposição ao EDC ao acúmulo e manutenção do excesso de massa gorda corporal. ▪ A exposição aos EDCs e o risco de obesidade foi extensivamente revisada, incluindo duas declarações científicas publicadas pela Endocrine Society. ❖ Bisfenol A (BPA) ▪ O BPA é usado na produção de plásticos de policarbonato e resinas epóxi, a principal rota de exposição em humanos é através de garrafas, latas e embalagens de alimentos; ▪ Não é indicado ingerir bebida quente ou aquecida em plástico porque o Bisfenol do recipiente pode passar para o liquido (recipientes de plástico com produtos quentes acabam perdendo o BPA para o produto quente). O mesmo vale para condições de resfriamento. ▪ O BPA materno (“ingerido pela mãe”) é transportado através da placenta, com concentrações significativas maiores em fetos do sexo masculino; ▪ Atualmente é preferível usar mamadeira livre de BPA (com o selo verde sinalizando “BPA FREE”) em vista dos riscos que o BPA oferece à saúde (puberdade precoce, doenças cardiovasculares, diminuição da fertilidade, disfunção sexual. Avaliação do paciente obeso O primeiro passo é avaliar se é uma obesidade endógena/ genética ou exógena. Diagnóstico diferencial. Parâmetros importantes para diferenciar e avaliar a obesidade endógena e exógena. ❖ Avaliar: ▪ Momento do início do ganho de peso e seu curso clínico; ▪ Quantos Kg; ▪ Fatores desencadeantes e de manutenção; ▪ Hábitos nutricionais; ▪ Atividade física e estilo de vida; ▪ Aspectos psicológicos (mudanças na vida nesse período); ▪ Investigação de tratamentos anteriores e seus resultados; ▪ Sintomas sugestivos de doença endócrina e outras patologias; ▪ Uso de medicamentos; ▪ Presença de Fatores de Risco associado. ❖ História e exame físico: *cortisol aumentado (estresse) mobiliza as reservas de glicogênio - síndrome de Crush. Dados que auxiliam no diagnóstico clínico Síndrome de Prader-Willi (Critérios diagnósticos maiores) → Hipotonia central; → Obesidade rápida (entre 1 e 6 anos); Endócrina/ genética Exógena Família Obesidade incomum Obesidade comum Altura Baixa estatura Alta estatura (>50%) QI Frequentemente baixa Normal Idade óssea Retardada Normal → Hiperfagia; → Facies característica; → Hipogonadismo; → Retardo mental Síndrome de Bard et-Biedl → Obesidade; → Hipogonadismo; → Distrofia retiniana; → Polidactilia. Comorbidades Obesidade levando a Doenças Crônicas: Obesidade é um processo inflamatório crônico que pode levar a uma idade adulta cheia de compleições decorrentes de uma infância marcada pela obesidade. - Aumento da adiposidade, leva a doenças crônicas por vários mecanismos: ▪ Aumentando a síntese de adipocinas e citocinas que são patológicas; ▪ Aumento da produção de lipídios, gordura; ▪ Aumento da atividade do SN simpático; ▪ Aumento do risco de neoplasia; ▪ Aumenta a alteração do SRAA; ▪ Mecanismos de estresse mecânico devido ao excesso de gordura; ▪ O aumento da síntese de adipocinas aumenta a síntese de citocinas inflamatórias que atuam no pâncreas, isso pode levar à resistência à ação da insulina, levando a DM2 que pode evoluir com ICC, AVC, insuficiência renal crônica, pelos excessos de lipídeos; -Diabetes: - ICC, AVC e doença renal crônica: avaliar com ECG, ECO, e avaliação renal; ▪ Ocorre aumento de ácidos livres levando a dislipidemia (avaliar pelo colesterol total e frações, triglicerídeos) que favorece a formação de placas de ateroma, aumentando a lipotoxidade que pode levar a um acúmulo de gordura ectópica, a esteatose hepática (gordura ectópica); ▪ Apneia obstrutiva do sono (avaliar com polissonografia); ▪ Osteoartrite (exame de imagem); ▪ Doença gordurosa não alcoólica do Fígado, esteatohepatite, cirrose (avaliar com enzimas hepáticas (transaminases), USG e provas de função hepática); ▪ Doença do refluxo, esôfago de barrett, adenocarcinoma de esôfago (avaliar com EDA). Tratamento ❖ Dietoterápico 1. Esclarecimento sobre o que está sendo feito e “desmitificação” de conceitos prévios; 2. Orientação do comportamento durante as refeições: mastigação, não comer na frente da TV, etc; 3. Reajuste da quantidade ingerida: redução gradativa; 4. Ajuste da quantidade da dieta: estímulo ao consumo de frutas, verduras etc; 5. Manutenção e reforço das orientações. ❖ Atividade física 1. AF diária moderada ou vigorosa durante 60 minutos (no mínimo); 2. Criança: AF deve ser lúdica; 3. Adolescentes: exercícios de resistência (10 a 15 repetições), intensidade moderada, combinados com atividades aeróbicas; 4. Diminuir o tempo com atividades sedentárias (TV, computador etc.) para no máximo duas diárias. ❖ Medicamentoso Medicamentos aprovados no Brasil para obesidade. Orlistate e Liraglutida podem ser indicados para crianças acima de 12 anos. O orlistate inibe a lipase pancreática e deve ser associado a polivitamínicos, devido à menor absorção de vitaminas lipossolúveis; A liraglutida é um agonista de GLP-1, e atua inibindo AgRP/NPY, reduzindo a alimentação. Sibutramina só pode ser usado acima de 18 anos. Dicas saudáveis para crianças ▪ A criança deve realizar a refeição em tempo e local adequado, sem TV e computador; ▪ Escolher alimentos com menos açúcar, sal e gordura faz parte da educação alimentar; ▪ Frutas e vegetais, cereais, leites e derivados, carne magra (ou ovos, peixe, frango, soja ou feijão) compõem uma alimentação saudável; ▪ As frutas fornecem energia, fibras, minerais e vitaminas, podendo ser uma opção para lanches entre as refeições principais; ▪ Alimentos com ferro, como carne, peixe, verduras verde- escuro, grãos e castanhas devem ser consumidos com regularidade; ▪ O leite é fonte de proteína e cálcio e deve fazer parte de uma alimentação balanceada; ▪ Iogurte e queijo também podem ser opções de lanches entre as refeições, sobretudo aqueles com menor teor de açúcar/ sal e gorduras; ▪ Evitar alimentos e bebidas açucaradas entre as refeições ajuda na prevenção de excessos de peso e de cáries; ▪ A ingestão regular de água também faz parte de um hábito de vida saudável; ▪ Os hábitos alimentares dos pais servem de exemplo para os filhos. A alimentação da família tem que ser saudável e não apenas imposta a crianças e adolescentes; ▪ Para completar um estilo de vida saudável, a prática de atividade física regular é essencial. Definições importantes: → Alimento in natura: diretamente de plantas ou de animais (como folhas e frutos ou ovos e leite) e adquiridos para consumo sem que tenham sofrido qualquer alteração após deixarem a natureza → Minimamente processados: in natura que, antes de sua aquisição, foram submetidos a alterações mínimas. Grãos secos, polidos e empacotados ou moídos na forma de farinhas, raízes e tubérculos lavados, cortes de carne resfriados ou congelados e leite pasteurizado. → Processados: fabricados pela indústria com adição de sal ou açúcar ou outra substância de uso culinário a alimentos in natura para tornálos duráveis e mais agradáveis ao paladar. → Ultraprocessados: formulações industriais feitas inteiramente ou majoritariamente de substâncias extraídas de alimentos (óleos, gorduras, açúcar, amido, proteínas) derivados de constituintes de alimentos (gorduras hidrogenadas, amido modificado) ou sintetizadas em laboratório com base em matérias orgânicas como petróleo e carvão (corantes, aromatizantes, realçadores de sabor). Literatura recomendada/fontes: ✓ Diretrizes brasileiras de obesidade – 2021 ✓ Tratado de obesidade ✓ Manual de diretrizes para o enfrentamento da obesidade na saúde suplementar brasileira ✓ Documentário: muito além do peso
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