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Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância Nutracêuticos em edocrinologia Professora Sandra Muttoni Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância Sistema endócrino e tecido adiposo: bases fisiológicas O sistema endócrino, juntamente com o sistema nervoso, regula e controla todas as funções de nosso organismo. De uma maneira geral, tem como função coordenar e integrar a atividade das células em todo o organismo por meio da regulação das funções celular e orgânica e pela manutenção da homeostasia durante toda a vida. A homeostasia, isto é, a manutenção de um meio interno constante, é de suma importância para assegurar a função apropriada das células. Tem-se como as principais funções do sistema endócrino: - Regulação do equilíbrio do sódio e da água, além de controle do volume sanguíneo e da pressão arterial; - Regulação do equilíbrio do cálcio e do fósforo para preservar as concentrações no líquido extracelular, necessárias à integridade da membrana celular e à sinalização intracelular; - Regulação do balanço energético e controle da mobilização, da utilização e do armazenamento da energia para assegurar o suprimento das demandas metabólicas celulares; - Coordenação das respostas contrarregulatórias hemodinâmicas e metabólicas do hospedeiro ao estresse; - Regulação da reprodução, do desenvolvimento, do crescimento e do processo de envelhecimento. Atualmente, o sistema endócrino é definido como uma rede integrada de múltiplos órgãos, de diferentes origens embriológicas, que liberam hormônios, sendo que esses exercem seus efeitos em células-alvo próximas ou distantes. O sistema endócrino é constituído essencialmente por três componentes básicos, a seguir: a) Glândulas endócrinas: secretam seus produtos químicos, os hormônios, no espaço intersticial, a partir do qual passam para a circulação. Pelo fato das glândulas endócrinas não terem conexão anatômica com outras estruturas, a comunicação entre os diferentes órgãos é assegurada pela liberação de hormônios ou neurotransmissores. As principais glândulas endócrinas humanas são: a pineal, a hipófise, a tireoide, as paratireoides, as suprarrenais, o Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância pâncreas, os ovários (nas mulheres) e os testículos (nos homens) e estão demonstradas na figura 1. b) Hormônios: trata-se de produtos químicos, liberados em quantidades muito pequenas, que exercem uma ação biológica sobre uma célula-alvo. Podem ser liberados pelas glândulas endócrinas (insulina, cortisol, etc.), pelo cérebro (ocitocina, hormônio antidiurético, etc.) e por outros órgãos, como o coração (peptídeo natriurético atrial), o fígado (fator de crescimento semelhante à insulina) e o tecido adiposo (leptina). c) Órgão-alvo: contém células que expressam receptores hormonais específicos e que respondem à ligação de determinado hormônio com uma ação biológica demonstrável. Na figura, a seguir, tem-se descrito o sistema endócrino e suas glândulas: Figura 1: Glândulas endócrinas Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/endocrine-system-human-anatomy- silhouette-highlighted-292036703?src=9Zb0mI_UPM2EiFNnl0e4kA-1-0. Acesso em 03/11/2017. Fisiologia e diferenciação do tecido adiposo O tecido adiposo representa o principal reservatório energético do organismo. Os adipócitos, ou células que compõem o tecido adiposo, possuem a capacidade de armazenar triglicérides em quantidades que correspondem de 80 a 95% de seu volume total. https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/endocrine-system-human-anatomy-silhouette-highlighted-292036703?src=9Zb0mI_UPM2EiFNnl0e4kA-1-0 https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/endocrine-system-human-anatomy-silhouette-highlighted-292036703?src=9Zb0mI_UPM2EiFNnl0e4kA-1-0 Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância Nesta figura, demonstra-se a estrutura celular de um adipócito: Figura 2: O adipócito e seus componentes estruturais Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/fat-cells-adipose-tissue- adipocytes-3d-400777933?src=jiDC7CS97UfxKj5-h6N2yQ-1-85. Acesso em 03/11/2017. O tecido adiposo é dividido em dois tipos, que são classificados em função da estrutura de suas células, localização, coloração, vascularização e funções: o tecido adiposo marrom (TAM) e o tecido adiposo branco (TAB). O TAM apresenta como principal característica ser termogênico (gerar calor), regulando a produção de calor e consequentemente a temperatura corporal. Os adipócitos marrons são menores que os adipócitos brancos e possuem várias gotículas de triglicerídeos de diferentes tamanhos, citoplasma relativamente abundante e numerosas mitocôndrias. A sua capacidade de produzir calor é pelo fato de que suas mitocôndrias não possuirem o complexo enzimático necessário para a síntese de ATP e utilizam a energia liberada, principalmente dos ácidos graxos, para a termogênese. Esse processo ocorre através da proteína desacopladora-1 (UCP-1, também conhecida como termogenina), localizada na membrana mitocondrial interna. A coloração escurecida (origem do nome “adipócito marrom”) é devido à alta concentração de citocromo oxidase dessas mitocôndrias. Por sua vez, o TAB tem como principal função armazenar lipídeos na forma de triacilgliceróis, tendo capacidade de armazenar 200.000 a 300.000 kcal em indivíduos adultos não obesos. Ele possui uma distribuição generalizada pelo organismo, envolvendo ou mesmo se infiltrando por quase toda a região subcutânea, por órgãos e vísceras ocas da cavidade abdominal ou do mediastino e por diversos grupamentos musculares. A função do TAB é fornecer proteção mecânica, amenizando o impacto de choques e permitindo um adequado deslizamento de feixes musculares, uns sobre os outros, sem comprometer a sua integridade funcional. Além disso, por possuir distribuição mais abrangente, https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/fat-cells-adipose-tissue-adipocytes-3d-400777933?src=jiDC7CS97UfxKj5-h6N2yQ-1-85 https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/fat-cells-adipose-tissue-adipocytes-3d-400777933?src=jiDC7CS97UfxKj5-h6N2yQ-1-85 Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância incluindo derme e tecido subcutâneo, também é considerado um excelente isolante térmico. Pesquisas realizadas nas últimas décadas evidenciam, igualmente, a capacidade do TAB de secretar hormônios, mostrando, portanto, o seu papel endócrino. Esses hormônios são denominados de adipocinas e revolucionaram os conceitos sobre a função biológica do tecido adiposo branco, demonstrado que sua função não é apenas de fornecer e armazenar energia, mas também de ser um órgão dinâmico e central da regulação metabólica. Além disso, o TAB pode ser classificado segundo sua distribuição em: tecido adiposo subcutâneo (TAS) e tecido adiposo visceral (TAV). O TAS se concentra no abdômen, abaixo da pele e regiões femoral e glútea, enquanto o TAV situa-se junto às vísceras, compondo a gordura visceral. O TAV e o TAS mostram certas diferenças e especificidades no que tange à função e até ao metabolismo, por exemplo, os adipócitos viscerais respondem melhor ao efeito lipolítico induzido pelas catecolaminas e são mais resistentes ao efeito antilipolítico induzido pela insulina. Isso explica por que a remoção de lipídeos é mais resistente nas porções femoral e glútea (tecido adiposo subcutâneo). Ao que parece o TAV é mais sensível às catecolaminas por apresentar maior quantidade de beta adrenoreceptores. A seguir, tem-se um apanhado das diferenças entre o TAB e o TAM: Figura 3: Adipócitos branco e marrom. À direita, células de gordurabranca e marrom. As mitocôndrias é que dão cor marrom a esta gordura e que geram calor, queimando os estoques de triglicerídeos, ou seja, a gota de gordura muito grande que ocupa a maior parte do citoplasma da célula de gordura branca. À esquerda, um exemplo do tecido adiposo de humano, branco e Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância marrom, respectivamente, à esquerda e direita. Fonte: http://www.nanocell.org.br/novas- possibilidades-para-se-perder-peso/. Acesso em 03/11/2017. O tecido adiposo como um órgão endócrino Os adipócitos, por muitos anos, foram considerados células inertes que armazenavam gordura quando o indivíduo estava saciado e a liberava em momentos de jejum. Entretanto, evidências demonstram que o tecido adiposo é um ativo e dinâmico órgão endócrino, que tem papel central no controle do metabolismo, além de interagir com outros órgãos e sistemas. Sua interação com o organismo pode ser comprovada através da grande gama de substâncias que atuam sobre esse tecido, estimulando ações tais como: adipogênese, secreção de substâncias, sítio de metabolização de hormônios esteroides sexuais e resposta frente à estimulação de hormônios e secreção de substâncias bioativas, denominadas adipocitocinas (ou adipocinas). Estas adipocinas, em sua grande maioria, estão relacionadas, direta ou indiretamente, a processos que contribuem para o desenvolvimento de: aterosclerose, hipertensão arterial, resistência insulínica (RI), diabetes tipo 2 (DM2) e dislipidemias e representam um elo entre adiposidade, síndrome metabólica e doenças cardiovasculares. As adipocinas mais comumente estudadas compreendem: a) proteínas relacionadas à resposta imunológica - interleucina 6 (IL-6); b) fatores de crescimento - fator transformador de crescimento β (TGF-β); proteínas da via alternativa do sistema complemento (adipsina). Existem ainda adipocinas envolvidas no controle da pressão arterial (angiotensionogênio); da coagulação sanguínea 1 (inibidor do ativador de plasminogênio (PAI-1); controladores da homeostase glicêmica (adiponectina, resistina, visfatina, leptina – sendo essa a primeira adipocina descoberta, no ano de 1994); substâncias envolvidas com a angiogênese - fator de 3 crescimento endotelial vascular (VEGF). A adiponectina, leptina, resistina e visfatina são consideradas as principais adipocinas relacionadas com a obesidade e a resistência à insulina, sendo que os adipócitos produzem em maior quantidade a leptina e a adiponectina. A seguir, estão descritas as principais adipocitocinas produzidas no tecido adiposo: - Leptina: É uma citocina pró-inflamatória e seus níveis sanguíneos são diretamente proporcionais às reservas energéticas acumuladas no tecido gorduroso (proporciona sinalização cerebral sobre o estoque de gordura corporal). A leptina é inibidora do apetite e contribui para o aumento do gasto energético, promovendo regulação do apetite e do gasto energético. Porém, os http://www.nanocell.org.br/novas-possibilidades-para-se-perder-peso/ http://www.nanocell.org.br/novas-possibilidades-para-se-perder-peso/ Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância indivíduos obesos parecem apresentar resistência ao seu efeito. A leptina também influencia a sensibilização insulínica. - Adiponectina: Em contraste à maioria das proteínas secretada pelos adipócitos, sua expressão diminui à medida que o tecido adiposo aumenta. Indivíduos com concentrações circulantes elevadas de adiponectina estão menos sujeitos ao desenvolvimento de diabetes tipo II, quando comparados àqueles com concentrações reduzidas (aumenta a sensibilidade periférica à insulina). Também apresenta efeito antiaterogênico e anti-inflamatório, além de proporcionar aumento no gasto energético. - Resistina: Trata-se de uma citocina pró-inflamatória e sua secreção está fortemente relacionada à resistência à insulina, reduzindo a capacidade de metabolização adequada da glicose e promovendo a hiperglicemia. - Visfatina: É uma adipocina recentemente descrita, que parece reduzir a resistência periférica à insulina, cujos mecanismos envolvidos em tal condição ainda não foram esclarecidos. - Interleucina 6 (IL-6): O tecido adiposo humano produz quantidades elevadas de interleucina-6. Os níveis plasmáticos de IL-6 apresentam-se correlacionados ao aumento da massa corporal e à menor sensibilidade à insulina. - Fator de Necrose Tumoral (TNF-alfa): Seu efeito biológico é lipolítico, promovendo aumento do consumo energético e redução da sensibilidade à insulina. - Apelina: Suas ações biológicas no controle dos estoques energéticos corporais ainda não estão muito bem esclarecidas. Nesta figura, evidencia-se o tecido adiposo como um potente órgão endócrino: Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância Figura 4: as diversas substâncias secretadas pelo tecido adiposo, com destaque para: leptina, adiponectina, resistina, interleucinas, fator de necrose tumoral e visfatina. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/adipose-tissue-endocrine-organ-that-secretes- 316924646?src=jiDC7CS97UfxKj5-h6N2yQ-1-49. Acesso em 03/11/2017. Regulação do apetite e do metabolismo energético O balanço positivo entre o consumo alimentar e o gasto energético determina o acúmulo de tecido adiposo e o ganho de peso. Tanto o consumo quanto o gasto energético apresentam determinantes individuais e isso precisa ser considerado. Em algumas situações, a ingestão alimentar pode estar relacionada com a fome ou com a necessidade de energia e, em outros casos, com a grande quantidade de reserva adiposa e sinalização hormonal. Também se sabe que o consumo excessivo de alimentos pode acontecer simplesmente por prazer, humor ou questões sociais. Entretanto, essas motivações individuais podem ser geradas por um mecanismo cerebral, através da ação de substâncias que são francamente produzidas pelo tecido adiposo e demais órgãos envolvidos no processo de alimentação (consumo alimentar). Sabe-se que o tecido adiposo secretor atua de maneira efetiva na regulação, tanto central como periférica do balanço energético, sendo que na obesidade ocorre a redução na produção de adipocinas benéficas, como adiponectina e leptina, que podem exacerbar suas características e estimular o apetite. Entre os mecanismos biológicos de regulação do apetite encontra-se o fator hormonal. Existem alguns hormônios endógenos relacionados ao controle do apetite e que atuam na regulação do apetite, do metabolismo e do gasto energético. Dois desses hormônios, a saber, leptina e grelina, são bastante estudados pela literatura científica, principalmente com o intuito de desvendar as principais funções de cada um deles e a relação com o apetite e metabolismo energético e as possíveis associações com o excesso de peso e obesidade. O hormônio leptina é uma proteína produzida no tecido adiposo, sendo que quanto maior a massa adiposa corporal, maior será a quantidade de leptina produzida. Sua liberação ocorre durante a noite, principalmente nas primeiras horas da manhã. Tal hormônio reduz o apetite e aumenta o gasto energético, além de estar relacionada ao metabolismo de glicose. Altos níveis de leptina reduzem a ingestão alimentar enquanto baixos níveis induzem a hiperfagia (ingestão https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/adipose-tissue-endocrine-organ-that-secretes-316924646?src=jiDC7CS97UfxKj5-h6N2yQ-1-49 https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/adipose-tissue-endocrine-organ-that-secretes-316924646?src=jiDC7CS97UfxKj5-h6N2yQ-1-49 Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância excessiva de alimentos). Em indivíduos obesos há uma concentração elevada deste hormônio, porém, tais indivíduos apresentam apetite voraz. Uma das justificativas mais utilizadaspara tal situação seria a resistência das células à entrada da leptina. Assim as células do hipotálamo, que controla o apetite, não recebem o sinal da leptina de reduzir a alimentação fazendo, com que desta forma, o indivíduo obeso seria “resistente” à leptina, não controlando seu apetite. Neste sentido, outro hormônio que também está relacionado com o controle do apetite é a grelina. Trata-se de um hormônio proteico, estimulador da liberação do hormônio do crescimento (GH), porém, sua principal função é orexígeno, ou seja, induz o apetite, além de controlar o balaço energético. Portanto, apresenta efeitos contrários à leptina. Esse hormônio é encontrado e produzido no estômago, na mucosa oxíntica, e também possui outras funções importantes como estimular a secreção ácida, promover a motilidade estomacal e atuar no metabolismo da glicose. Sobre sua ação no controle do apetite, a grelina parece estar ligada ao estimulo no inicio de uma refeição, ou seja, ao apetite, aumentando a ingestão alimentar. Nesta esquematização, percebe-se que a leptina relaciona-se com a saciedade, enquanto a grelina com o apetite. Quanto maior os níveis de leptina, menos fome o indivíduo sente. Por outro lado, concentrações elevadas de grelina aumentam consideravelmente o apetite. Figura 5: os hormônios leptina e grelina e sua relação com a fome e a saciedade. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/hormones-regulating-appetite-leptin-satiety- hormone-316922606?src=e19-_oTDdJ8OSIPq8NqPWA-1-2. Acesso em: 03/11/2017. Na figura, a seguir, tem-se a demonstrado a ação da leptina, que informa o cérebro (hipotálamo) da presença de excesso de tecido adiposo, induzindo bloqueio do neuropeptídeo Y https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/hormones-regulating-appetite-leptin-satiety-hormone-316922606?src=e19-_oTDdJ8OSIPq8NqPWA-1-2 https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/hormones-regulating-appetite-leptin-satiety-hormone-316922606?src=e19-_oTDdJ8OSIPq8NqPWA-1-2 Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância (NPY), um potente orexígeno e suprimindo o apetite. Quando as reservas de gordura estão baixas, a diminuição de leptina estimula a produção de NPY com aumento de apetite e redução do gasto energético. A grelina, por sua vez, estimula os neurônios produtores de NPY, que formam um peptídeo orexígeno, funcionando como um inibidor de apetite. Figura 6: Controle hormonal do consumo alimentar. Disponível em: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/control-food-intake-human-hormones-leptin- 311817806?src=lA44KbRBCDjbOrQ4A_7pmQ-5-3. Acesso em 03/11/2017. Outro hormônio que também está envolvido no controle do apetite é a insulina. Além de promover a captação da glicose e controle da glicemia, atua no metabolismo das gorduras, pois quando ocorre uma hiperglicemia os níveis de insulina são aumentados e, consequentemente, há captação da glicose sérica para o interior do tecido adiposo, gerando maior acúmulo de gorduras. Por outro lado, estudos experimentais demonstraram que a insulina tem uma função essencial no sistema nervoso central para incitar a saciedade, aumentar o gasto energético e regular a ação da leptina. A insulina ainda interfere na secreção de entero-hormônios como glucagon-like- peptide (GLP 1), que atua inibindo o esvaziamento gástrico e, assim, promovendo uma sensação de saciedade prolongada, lembrando que indivíduos obesos têm elevadas concentrações de insulina e leptina. Ainda, ressalta-se que a insulina tem o efeito periférico de aumentar a captação de glicose e lipídeos, levando à queda da glicemia e à consequente fome rebote, além de favorecer o aumento dos estoques de gordura, respectivamente. Existe também o mecanismo metabólico de regulação do apetite, que irá depender das necessidades energéticas de cada indivíduo, sendo tal mecanismo regulado pelo sistema nervoso https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/control-food-intake-human-hormones-leptin-311817806?src=lA44KbRBCDjbOrQ4A_7pmQ-5-3 https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/control-food-intake-human-hormones-leptin-311817806?src=lA44KbRBCDjbOrQ4A_7pmQ-5-3 Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância central (SNC). No que diz respeito à recepção dos sinais, toma-se como exemplo a observação do alimento, bem como o seu odor, aspeto e paladar, sendo estas características fundamentais para a ingestão dos alimentos. No processo de integração, os estímulos acima referidos são transmitidos por meio de receptores, que por sua vez são enviados ao cérebro. Desta forma, os estímulos são integrados ocorrendo o sinal para o posterior consumo alimentar. Mais especificamente, poderemos dizer que a informação é transmitida por diferentes órgãos através de hormônios que se ligam aos receptores dos neurônios estimuladores ou inibidores do apetite, de modo a obter um equilíbrio energético. Diante destes aspetos, o controle do apetite envolve uma comunicação entre os órgãos periféricos e o SNC. Esta comunicação compreende duas grandes categorias, na qual uma interpreta os sinais gerados durante as refeições que causam saciedade, sendo que a colecistoquinina (hormônio que provoca saciedade) representa um papel importante. A colecistoquinina é produzida pelo estômago e pelo duodeno na presença de gorduras e proteínas da alimentação, que por sua vez, ativa os nervos sensitivos ao nível do estômago e do duodeno, enviando um sinal de saciedade que é transmitido pelo nervo vago. Por outro lado, esta comunicação citada também poderá ocorrer por via hormonal. Tal via envolve os hormônios insulina e a leptina, que são produzidas num órgão específico, transportadas através da corrente sanguínea onde se ligam posteriormente a receptores específicos do órgão-alvo, de forma a criar um equilíbrio energético. Neste sentido, o hipotálamo tem um papel central na integração de sinais que regulam o apetite, pois recebe informações provenientes de órgãos periféricos, mediadas por esses hormônios, assim como por vias neurais procedentes do tronco cerebral. Assim, há a indução de efeitos orexígenos, estimuladores do apetite e efeitos anorexígenos, que são inibidores do apetite. Fisiopatologia da obesidade e da síndrome metabólica – Inter-relações A obesidade é um grande problema de Saúde Pública, sendo considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a epidemia silenciosa do século XXI. Trata-se de uma doença crônica, com enorme prevalência nos países desenvolvidos, que afeta homens e mulheres de todas as raças e idades, e está associada a taxas elevadas de morbimortalidade, tanto pelas suas repercussões metabólicas e cardiovasculares, como pela sua importância e Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância prevalência como causa de outras enfermidades, onde se destacam o diabetes e a hipertensão arterial. Conceitualmente, a obesidade é definida como doença multifatorial onde ocorre acúmulo anormal de gordura corporal, capaz de afetar a saúde, que é resultante de um desequilíbrio permanente e prolongado entre a ingestão calórica e o gasto energético, onde o acúmulo de calorias se armazena como tecido adiposo. Esta equação simples depende, no entanto, de uma enorme complexidade de mecanismos reguladores, que em cada indivíduo e em cada momento asseguram a homeostasia energética. Estes mecanismos envolvem vários núcleos no Sistema Nervoso Central (especificamente o hipotálamo), mas também o tubo digestivo e o tecido adiposo, ambos com capacidade de receber e fornecer informação reguladora, sob a forma de hormônios, neurotransmissores ou outras substâncias de ação autócrina ou parácrina. A complexidade e redundância destes mecanismos reguladores, ainda não completamente esclarecidos, tem constituído uma barreiraao estabelecimento de terapias eficazes para a obesidade, fato que está, necessariamente, ligado à severa progressão desta doença. Segundo o IMC, a obesidade é classificada em três tipos: tipo I (IMC entre 30 e 34,9 kg/m²), tipo II (IMC entre 35 e 39,9 kg/m²) e a tipo III, dita extrema ou mórbida, cujo IMC é maior ou igual a 40 kg/m². O IMC normal é considerado de 18,5 até 24,9; de 25 até 29,9 considera-se sobrepeso. Pessoas com o IMC menor de 18,5 estão abaixo do peso. O IMC superior a 30, designado como obesidade, indica a maior susceptibilidade da pessoa desenvolver comorbidades e o tratamento indicado que pode ser por farmacoterapia, cirúrgico ou apenas por orientação clínica depende do IMC, do lugar e/ou médico que o paciente está sendo tratado. Outro método para diagnosticar obesidade é pela medição da gordura corpórea; homens com mais de 25% e mulheres com mais de 30% de gordura são considerados obesos. A fisiologia da obesidade deve ser estudada, porque além de ser considerado um problema estético, a obesidade pode acarretar em várias doenças e deve ser tratado com seriedade pela saúde pública. A gordura corporal é uma massa composta por ácidos graxos e glicerol, formando tecidos gordurosos, que têm por função o armazenamento de energia e isolamento térmico. No corpo humano existem dois tipos de tecidos gordurosos: a gordura branca e a marrom. A gordura branca se concentra principalmente no tecido intramuscular, tecido subcutâneo e na cavidade abdominal. O tecido marrom é bem menor e se encontra na região interescapular e cervical posterior. Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância Existem três tipos de obesidade segundo as células de gordura: a hipertrófica, que ocorre pelo aumento do tamanho das células e não pela quantidade; a hiperplásica que ocorre pelo aumento da quantidade de células; e a mista que é a forma associada das duas anteriores. Durante o primeiro ano de vida ocorre um aumento no tamanho e na quantidade das células de gordura (adipócitos). Mais tarde esse aumento continua, principalmente entre os nove e 13 anos de idade, sendo que as mulheres possuem um número maior de células adiposas que os homens. Estudos atuais mostram que novas células podem se originar dos pré adipócitos em qualquer estágio da vida, portanto, a obesidade desenvolvida na vida adulta apresenta, além do aumento do tamanho, o aumento do número de células armazenadoras de gorduras do tecido subcutâneo. Relativo à gênese, a obesidade é uma doença que resulta da interação entre vários fatores, como o genótipo e as exposições do indivíduo ao ambiente em que vive. O mecanismo de controle genético, que influencia em 40% na prevalência da obesidade, é expresso na transcrição, tradução e expressão de hormônios envolvidos na regulação do apetite, nas variações do metabolismo basal, no efeito termogênico dos alimentos e na utilização metabólica dos nutrientes energéticos. Existem hormônios que indicam sinais de curto prazo, como a colecistoquinina (CCK), o peptídeo semelhante ao glucagon 1 (GLP-1) e a grelina, todos produzidos pelo trato gastrointestinal (TGI). Os dois primeiros atuam promovendo a sensação de saciedade após uma refeição e o último aumenta o apetite logo antes de se alimentar. Há também aqueles de sinais em longo prazo, os quais estão relacionados com a manutenção da quantidade normal de estoque energético no corpo, como a insulina, secretada pelo pâncreas, e a leptina, produzida pelos adipócitos. A leptina é secretada de acordo com a quantidade de gordura presente dentro do adipócito. Assim, se a pessoa ingere muitas calorias, ocorre o armazenamento de lipídeos e a liberação de leptina, indicando ao hipotálamo que a pessoa não precisa se alimentar mais. Caso ocorra ausência de leptina, a pessoa tende a se tornar obesa por comer muito, já que a redução do apetite não ocorre com o aumento dos adipócitos, conforme deveria. Por sua vez, a insulina interfere no metabolismo dos nutrientes que o corpo recebe. É ela quem promove a entrada de glicose nos músculos e adipócitos. Ao se ligar aos receptores tirosinacinase, a insulina desencadeia uma cascata de reações, entre elas a mobilização das vesículas intracelulares que contém o transportador de glicose GLUT4, fazendo-o se ligar à membrana plasmática e permitindo que a glicose seja captada pela célula. Atua também na regulação do metabolismo ao promover a ativação de enzimas envolvidas na glicólise, na síntese de glicogênio e de triacilglicerol. A herança da obesidade também pode ser devido a alterações Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância cromossômicas, como a trissomia do 21, conhecida como Síndrome de Down, e a monossomia do X, que é a Síndrome de Turner, as quais predispõem maior acúmulo de gordura. Entretanto, é importante ressaltar que a obesidade é causada pela interação desses genes com o meio ambiente e com os hábitos de vida do indivíduo. Assim, mesmo que a pessoa tenha uma genética favorável a um corpo magro, sua rotina e hábitos alimentares podem leva-la à obesidade, da mesma forma que alguém com tendências genéticas ao sobrepeso pode evitar ou atenuar o acúmulo de gorduras com alimentação adequada e atividade física. Referente à síndrome metabólica (SM), o estudo relacionado a essa condição tem sido dificultado pela ausência de consenso na sua definição e nos pontos de corte dos seus componentes, que repercutem diretamente na prática clínica e nas políticas públicas de saúde. Neste contexto, são considerados fatores de risco metabólicos: dislipidemia aterogênica (hipertrigliceridemia, níveis elevados de apolipoproteína B, partículas de LDL-colesterol pequenas e densas e níveis baixos de HDL-colesterol), hipertensão arterial, hiperglicemia e um estado pró- inflamatório e pró-trombótico. Ainda não está estabelecido se há uma causa única ou múltiplas causas para o desenvolvimento da SM, entretanto, sabe-se que a obesidade abdominal e a resistência à insulina parecem ter um papel fundamental na origem desta síndrome. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o National Cholesterol Education Program’s Adult Treatment Panel III (NCEP-ATP III) elaboraram definições para a SM, sendo que a definição da OMS estipula como ponto de partida a avaliação da resistência à insulina ou do distúrbio do metabolismo da glicose, o que dificulta a sua utilização. Por sua vez, a definição do NCEP-ATP III foi desenvolvida para uso clínico e não exige a comprovação de resistência à insulina, facilitando a sua utilização. Segundo o NCEP-ATP III, a SM representa a combinação de pelo menos três componentes que serão apresentados, a seguir, sendo que pela sua praticidade e simplicidade é a definição recomendada pela I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica. Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância Quadro 1 – Componentes da Síndrome Metabólica, conforme o NCEP-ATP III Fonte: BRANDÃO, A. P. et al. I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq. Bras. Cardiol. Vol 84, Suplemento I, Abril 2005. Pág 8. Destes critérios, a circunferência abdominal representa condição fundamental para compor o diagnóstico da SM, associada a dois outros componentes. A circunferência abdominal, medida no meio da distância entre a crista ilíaca e o rebordo costal inferior, por ser o índice antropométrico mais representativo da gordura intra-abdominal e de aferição mais simples e reprodutível, é a medida recomendada. Porém, o ponto de corte estabelecido para a circunferência abdominal, 102 cm para homens e 88 cm para mulheres, tem sido questionado por não se adequar a populações de diferentes etnias. Igualmente, a American Diabetes Association (ADA)propôs um novo ponto de corte para o diagnóstico de glicemia de jejum alterada, passando de 110mg/dL para 100mg/dL. Com essas considerações mais recentes, foram publicadas atualizações nesses componentes da SM, que passaram a ser considerados da seguinte forma: Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância Quadro 2 – Novos critérios diagnósticos da Síndrome Metabólica Fonte: XAVIER, H. T., et al. V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. Arq. Bras. Cardiol., vol.101, no.4, supl.1, 2013. Pág 3. Mesmo com tais atualizações, a medida de circunferência abdominal acima dos valores propostos é a condição fundamental para o diagnóstico de SM, associado a mais dois critérios. Ou seja, a presença de adiposidade central (ou visceral) é o ponto chave para a definição de SM, justamente por ser esse o tipo de distribuição de gordura corporal que representa fator de risco cardiometabólico. Repercussões metabólicas da obesidade A obesidade está associada a diversas condições metabólicas e a distribuição da gordura corporal influencia diretamente no desenvolvimento da resistência à insulina, inflamação crônica, das dislipidemias e da hipertensão arterial. Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância Indivíduos obesos apresentam grande quantidade de ácidos graxos livres circulantes, e isso é diretamente proporcional ao grau de obesidade, fazendo com que haja uma preferência na utilização de ácidos graxos para a produção de energia, em detrimento à glicose. Isso acaba gerando resistência periférica à ação da insulina e intolerância à glicose, sendo que tal fato parece explicar a relação existente entre o acúmulo de gordura visceral (abdominal) e intolerância à glicose, característica da SM, que é tão comum em indivíduos que apresentam obesidade central. Outro aspecto importante a ser considerado é a alteração dos níveis dos lipídios sanguíneos. O acúmulo de gordura no fígado, oriunda do excesso de ácidos graxos circulantes, proporciona o desenvolvimento da dislipidemia aterogênica (que também pode estar presente na SM). A obesidade também pode originar hipertensão arterial, principalmente quando a distribuição da gordura que é predominantemente abdominal. A gordura visceral pode aumentar a pressão intra-abdominal, gerando efeitos compressivos nos rins, que ativam o sistema renina- angiotensina-aldosterona e contribuem para a elevação dos níveis pressóricos. Além disso, a própria resistência à insulina (estado de hiperinsulinemia) tem efeito vasoconstritor, além de causar reabsorção de sódio pelos túbulos renais, contribuindo para o desenvolvimento da hipertensão. Estado de inflamação crônica Nos dias atuais, a obesidade é uma enfermidade caracterizada por um baixo grau de inflamação crônica no TAB, detectada, especialmente, por duas evidências científicas: a) elevação de marcadores e citocinas inflamatórias e b) presença de macrófagos infiltrados no TAB. Mesmo assim, apesar de nem todos os mecanismos estarem esclarecidos, há evidências que esse estado inflamatório (local ou sistêmico) esteja relacionado, como causa ou consequência, a desordens como resistência insulínica, diabetes mellitus, hiperlipidemia, hipertensão arterial, aterogênese e, consequentemente, à síndrome metabólica. Quando ocorre uma expansão do tecido adiposo, especialmente o do tipo visceral, acontece um aumento na produção de citocinas pró-inflamatórias e redução de citocinas anti- inflamatórias. Tais alterações nas ações do tecido adiposo secretor acabam por perpetuar a Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância associação entre obesidade, estado de inflamação crônica e, por sua vez, colaborando com o surgimento de outras doenças crônicas não transmissíveis. Em geral, tem-se que a inflamação é um estado consequente à obesidade, apesar de alguns pesquisadores sugerirem que a obesidade é o resultado de uma doença inflamatória. Na verdade, a obesidade e a inflamação estão associadas e apresentam contribuição cíclica no agravamento de ambas. Como explicação para tal, acredita-se que com o ganho de peso e hipertrofia dos adipócitos ocorra compressão dos vasos sanguíneos no TAB, impedindo um suprimento adequado de oxigênio. Como consequência, ocorreria, então, hipóxia local e morte de alguns adipócitos. Esse quadro provocaria a cascata da resposta inflamatória e também o processo de angiogênese, para formação de novos vasos. Portanto, a condição de hipóxia por si só já seria suficiente para estimular a quimiotaxia de macrófagos e induzir a expressão de genes pró-inflamatórios, lembrando, ainda, que a inflamação tecidual aparece como resposta não só a hipóxia, mas também ao estresse oxidativo. Finalmente, conforme já foi citado, o tecido adiposo secreta diversas substâncias, entre as quais merecem destaque as pró-inflamatórias. O principal hormônio anti-inflamatório produzido pelo tecido adiposo é a adiponectina, que se encontra reduzido em indivíduos obesos. Por outro lado, dentre os principais fatores pró-inflamatórios produzidos pelo tecido adiposo e que aparecem aumentados em obesos, são: a resistina, a interleucina 6 (IL-6), o fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa), e o PAI-1 (antígeno inibidor do plasminogênio). Tudo indica que o excesso de tecido adiposo induz uma desregulação na produção de adipocinas, substâncias metabolicamente ativas produzidas pelo adipócito. Assim, ocorre um excesso na produção de adipocinas inflamatórias, como IL-6 e TNF-alfa, resultando em um estado inflamatório crônico do organismo, bem como a resistência à insulina e disfunção endotelial. FIQUE ATENTO: Apesar de já estar comprovado que o excesso de peso/obesidade é um fator de risco isolado para o desenvolvimento de outras enfermidades, inúmeros estudos têm demonstrado a importância das formas de distribuição da gordura corporal. Dentre os diferentes compartimentos do tecido adiposo, o tecido visceral parece ser o mais ativo, liberando maiores quantidades de ácidos graxos livres e secretando maiores concentrações de adipocitocinas, quando comparado à adiposidade periférica. Assim, a obesidade central (ou visceral, ou abdominal), que é um dos um Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância dos componentes da síndrome metabólica, representa um importante fator de risco cardiometabólico. Prevenção primária da obesidade e da Síndrome Metabólica Conforme a OMS, os fatores de risco mais importantes para a morbimortalidade relacionada às doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são: hipertensão arterial sistêmica, hipercolesterolemia, ingestão insuficiente de frutas, verduras e legumes, sobrepeso ou obesidade, sedentarismo e tabagismo. Destes fatores, cinco estão relacionados à alimentação e à atividade física e três deles têm grande impacto no surgimento da obesidade e da síndrome metabólica. A predisposição genética, a alimentação inadequada e o sedentarismo estão entre os principais fatores que contribuem para o surgimento dessas entidades, cuja prevenção primária é um desafio mundial contemporâneo, com importante repercussão para a saúde. Neste sentido, a adoção precoce por toda a população de estilos de vida relacionados à manutenção da saúde, como alimentação adequada e prática regular de atividade física, preferencialmente desde a infância, é componente básico da prevenção de ambas as enfermidades. A alimentação adequada, como forma de prevenção primária, deve: • permitir a manutenção do balanço energético e do peso saudável; • reduzir a ingestão de calorias sob a forma de gorduras; mudar o consumo de gorduras saturadas para gorduras insaturadas; reduzir o consumo de gorduras trans; • aumentar a ingestão de frutas, verduras elegumes, assim como de cereais integrais; • reduzir a ingestão de açúcar livre; reduzir a ingestão de sal (sódio) sob todas as formas. A atividade física é determinante do gasto de calorias e fundamental para o balanço energético e controle do peso. A atividade física regular ou o exercício físico diminuem o risco relacionado a cada componente da SM e trazem benefícios substanciais também para outras doenças (câncer de cólon e câncer de mama). Baixo condicionamento cardiorrespiratório, pouca força muscular e sedentarismo aumentam a prevalência da obesidade e da SM. Além disso, o exercício físico reduz a pressão arterial, eleva o HDL-colesterol e melhora o controle glicêmico. Com duração mínima de 30 minutos, preferencialmente diário, incluindo exercícios aeróbicos e de fortalecimento muscular, o exercício físico previne a SM. A melhora de hábitos de vida deve contemplar a redução do tempo de lazer passivo (televisão, jogos eletrônicos, atividades em computadores, etc.). O tabagismo deve ser Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância agressivamente combatido e eliminado, pois eleva o risco cardiovascular. Também é recomendada a utilização de programas educativos que abordem as medidas preventivas em escolas, clubes, empresas e comunidades, pois os mesmos atingem um grande número de pessoas e podem contribuir para a prevenção da obesidade e da síndrome metabólica. SAIBA MAIS: Apesar de não fazerem parte dos critérios diagnósticos da síndrome metabólica, diversas condições clínicas e fisiopatológicas estão frequentemente a ela associadas, como por exemplo: síndrome de ovários policísticos (SOP), acanthosis nigricans, doença hepática gordurosa não alcoólica, microalbuminúria, estados pró-trombóticos, estados pró-inflamatórios e de disfunção endotelial e hiperuricemia. Isso ratifica o quanto a SM provoca alterações importantes na homeostase do organismo e pode desencadear inúmeros agravos à condição de saúde e, portanto, deve ser prevenida. Abordagem nutricional na obesidade e síndrome metabólica Obesidade A maioria dos indivíduos com obesidade acredita ser possível controlar o peso corporal e moldar o corpo, desconsiderando sua fisiologia ou genética. Apesar de ser difícil motivar os pacientes obesos a abandonar o foco de redução ponderal por motivos estéticos, os profissionais devem dar ênfase na melhora da condição de saúde através da perda de peso, que seja factível e possível de ser sustentada. Neste contexto, o tratamento da obesidade objetiva a interrupção do ganho de peso, a obtenção e a estabilização do peso que seja capaz de trazer benefícios à saúde de maneira geral, além do controle e da prevenção das comorbidades. Para isso, torna-se necessário fazer modificações no estilo de vida que sejam toleráveis, agradáveis e permanentes. Pelo caráter multifatorial da etiologia da obesidade, o seu tratamento também deve englobar diferentes áreas de atuação. Embora os exercícios físicos não contribuam de maneira significativa para a redução de peso na fase inicial da abordagem, quando associados à alimentação hipocalórica eles são essenciais para manter a perda de peso em longo prazo. Da mesma forma, o acompanhamento psicológico desses pacientes é fundamental, a fim de permitir o sucesso terapêutico. Conforme a International Obesity Task Force (IOTF), a seleção das estratégias para a abordagem no tratamento da obesidade devem considerar os pontos de corte do Índice de Massa Corporal (IMC) e a presença ou não de fatores de risco associados, conforme segue: Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância Tabela 1 – Critérios para seleção das estratégias de tratamento da obesidade conforme o IMC e a presença ou não de fatores de risco associados: Pontos de corte do IMC (kg/m²) 25,0 a 29,9 30,0 a 34,9 35,0 a 39,9 > 40,0 Sem fator de risco Manter o peso, alimentação saudável, exercício físico Redução de 5 – 10% do peso corporal Redução > 10% do peso corporal. Em geral é necessário o uso de medicamentos Redução de 20 – 30%do peso corporal Com fator de risco Enfoque na alimentação, exercício físico e mudança de comportamento. Após 3 meses sem sucesso, déficit energético leve, objetivando redução ponderal de 5- 10kg em 6 meses. Enfoque na alimentação, exercício físico e mudança de comportamento. Após 12 semanas sem sucesso, considerar a necessidade de tratamento medicamentoso. Redução de 20-30% do peso corporal. Se insucesso, encaminhar ao especialista ou considerar a possibilidade de tratamento cirúrgico. Se insucesso, encaminhar ao especialista ou considerar a possibilidade do tratamento cirúrgico. Fonte: Adaptado de The Internacional Obesity Task Force. Disponível em: http://www.ioft.org, 2006. Assim, percebe-se que o tratamento da obesidade envolve necessariamente a reeducação alimentar, o aumento da atividade física e, eventualmente, o uso de algumas medicações auxiliares. Dependendo da situação de cada paciente, pode estar indicado o tratamento http://www.ioft.org/ Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância comportamental envolvendo o psiquiatra. Nos casos de obesidade secundária a outras doenças, o tratamento deve inicialmente ser dirigido para a causa do distúrbio. Independentemente das estratégias utilizadas, é fundamental adotar uma alimentação nutricionalmente saudável, que tenha valor energético inferior ao gasto energético total, porém, superior ao gasto energético basal. O uso de dietas com conteúdo energético muito baixo facilita a recuperação do peso eliminado, ocasionando o famoso “efeito sanfona”. Assim, o principal objetivo da intervenção nutricional é reduzir a gordura corporal para um nível que seja acompanhado de melhora no estado de saúde ou consistente com a redução dos riscos e complicações. Espera-se, como resultado, que os indivíduos alcancem o peso adequado, com IMC dentro dos limites da normalidade. Também é fundamental conhecer o perfil de consumo alimentar dos indivíduos para valorizar os pontos positivos da sua dieta e estabelecer mudanças e metas. Após a investigação do consumo alimentar, é possível propor, de acordo com o diagnóstico e pactuação de metas com o paciente, o estabelecimento de ações que oportunizem a redução do peso no curto, médio e longo prazos. Neste sentido, as modificações propostas no padrão alimentar devem ser gradativas e individualizadas, sendo recomendado o fracionamento da alimentação em 5 a 7 refeições ao dia, a ingestão adequada de todos os grupos de alimentos e dar maior ênfase na redução da quantidade de gorduras, açúcares e produtos ultraprocessados, com maior consumo de fontes de fibras alimentares. Potencialmente, os alimentos ricos em fibras podem influenciar a velocidade da redução ponderal pelo fato de terem menor densidade calórica, além da necessidade de mastigação, permanência na cavidade oral por um tempo maior e pela maior distensão volumétrica do estômago, fatores estes que determinam sinais aferentes de saciedade e diminuem a ingestão excessiva de alimentos. O maior consumo de fibras também apresenta a propriedade de aumentar o volume fecal e o peristaltismo, prevenindo o surgimento de constipação, que é comum na obesidade. Conforme as Diretrizes Brasileiras de Obesidade, de 2016, em termos de valor energético, uma dieta planejada individualmente para criar um déficit de 500 a 1.000 kcal deve ser parte integrante de programas de perda de peso objetivando uma diminuição de 0,5 a 1 kg por semana, com metas realistas. Dietas com baixas calorias, com 1.000 a 1.200 kcal por dia, reduzem em média Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância 8% do peso corporal, em trêsa seis meses, com diminuição de gordura abdominal, com perda média de 4% em três a cinco anos. Por outro lado, dietas de muito baixas calorias (very-low calorie diets, VLCD), com 400 a 800 kcal por dia, produzem perda de peso maior em curto prazo, em comparação às dietas de baixas calorias, mas em longo prazo, no período de um ano, a perda de peso é similar. Estas, devem ser feitas apenas em ambiente médico adequado e sob rígida supervisão. Reduzir a quantidade de gordura da dieta, em uma dieta hipocalórica, é uma maneira prática de diminuir a ingestão calórica e induzir a perda de peso. Ressalta-se que dietas que contenham 1.200 a 1.500 kcal/dia para mulheres e 1.500 a 1.800 kcal/dia para homens, independentemente da composição de macronutrientes, frequentemente induzem à perda de peso. Ainda, existe o tratamento cirúrgico da obesidade. Indivíduos com IMC igual ou superior a 45 kg/m² apresentam uma diminuição da expectativa de vida e um aumento da mortalidade por causa cardiovascular, que pode chegar a 190%. Nesse contexto, a cirurgia bariátrica é um recurso consistente nos casos de obesidade grave com falha documentada de tratamento clínico, proporcionando aos pacientes uma redução nos índices de mortalidade e melhora de comorbidades clínicas. No período pré-operatório, é fundamental que o paciente seja orientado sobre o programa a que ele será submetido. Durante o preparo, quando será assistido por equipe multiprofissional, devem ser avaliados aspectos clínicos, psicológicos e nutricionais relacionados à condição de obesidade e que atendem aos critérios da cirurgia já mencionados. Nesta fase, é comum a oferta de plano de restrição calórica moderada visando ao emagrecimento, cuja adesão pode ser apoiada pelo uso de terapia medicamentosa. É importante que o candidato à cirurgia demonstre interesse pela sua alimentação, aprimorando suas atitudes em relação à disciplina alimentar e à seleção de alimentos, práticas que precisam ser mantidas após a cirurgia. Assim, representam os objetivos deste período: • Orientar o candidato à cirurgia. • Reduzir o risco cirúrgico induzindo a perda ponderal. • Estimular uma atitude adequada do obeso com a sua alimentação. Já no período pós-operatório, os pacientes devem ser regularmente seguidos por meio de consultas ambulatoriais, orientações nutricionais e exames laboratoriais para detectar Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância precocemente alterações metabólicas e nutricionais. A frequência do acompanhamento deve ser individualizada e baseada no tipo de cirurgia e nas comorbidades apresentadas, se for o caso. Especificamente quanto à alimentação, a evolução dietética irá variar conforme o tipo de intervenção cirúrgica realizada. As modificações com relação à consistência dos alimentos englobam não apenas a apresentação da dieta (alimentos ou preparações líquidos, pastosos e sólidos), como também fatores nutricionais que interferem no trabalho digestivo associado ao tipo de dieta, como teor de fibra, resíduos, gordura e tempo de cocção. A evolução dietética do obeso no período pós-cirurgia, fase a fase, relaciona-se à sua evolução para adaptação das anastomoses. Além disso, precisa ser individualizada segundo procedimentos do próprio serviço de Saúde. Normalmente, inicia-se a dieta oral líquida 24 horas após o procedimento cirúrgico, mas pode ser necessária a introdução de nutrição parenteral em pacientes de alto risco. O protocolo de progressão da dieta alimentar depende do tipo de cirurgia realizada, mas, como regra geral, o paciente deve realizar pequenas refeições balanceadas, diversas vezes ao dia, sem a ingestão simultânea de líquidos. A presença de fibras é obrigatória e o consumo de proteínas, em torno de 60 a 120 g por dia. A perda ponderal estabiliza-se em média 18 meses após a cirurgia, época em que geralmente ocorre perda máxima do peso (podendo chegar a mais de 80% do excesso deste). Considera-se o tratamento cirúrgico da obesidade bem sucedido se houver perda de, no mínimo, 50% do excesso de peso e o paciente deixar de ser obeso mórbido, sendo necessária a manutenção dessas condições pelo período de cinco anos. Só se pode efetuar avaliação de sucesso, no mínimo, após 24 meses do pós-operatório, pois pode haver reganho ponderal entre dois e cinco anos após a cirurgia. Comumente, o seguinte padrão dietético no pós-operatório tem sido adotado por diversos serviços de saúde e/ou profissionais. Tabela 2 - Evolução dietética no pós-operatório da cirurgia bariátrica Tipo de dieta Duração Quantidade Características Dieta líquida restrita ou 1 dia (em geral, oferecidas nas De 20 ml a 50 ml por refeição Alimentos líquidos à temperatura ambiente. Refrescos e chás Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância líquida clara primeiras 24hs de pós- operatório, ou até o 3º dia de pós-operatório) (o equivalente a um copinho de café), oferecidos em intervalos de 1/1hora. (sem açúcar) e caldos de vegetais. Excluídos leites e derivados e sucos de fruta espessos. Servida em pequenas quantidades e em intervalos frequentes para suprir a necessidade hídrica. Dieta líquida completa Cerca de 1 mês Cerca de 100 ml a 200 ml por refeição (3 colheres de sopa) Alimentos líquidos à temperatura ambiente, incluindo mingaus, vitaminas, iogurtes e preparações mais elaboradas como sopas liquidificadas. Dieta semilíquida ou líquida pastosa Variável. Dieta de transição. Cerca de 100 ml a 200 ml por refeição (3 colheres de sopa) Inclui todos os alimentos da líquida completa, além de sopas não liquidificadas e preparações mais consistentes (purês, arroz papa e carnes moídas ou desfiadas e liquidificadas). Dieta pastosa Cerca de 1 mês De 150 g a 200 g por refeição (4 colheres de sopa) Purês, papas ou cremes (suflês, arroz papa, feijão liquidificado, macarrão, carne moída, almôndega, frango desfiado, atum ralado, fígado moído, ovo cozido, frutas cozidas, amassadas ou raspadas, biscoitos amolecidos). Dieta branda Indeterminada, depende do nível de tolerância do paciente. Cerca de 200 g por refeição (4 a 5 colheres de sopa) Alimentos de consistência normal, mas há restrição de fibras (com exclusão dos vegetais crus) e aumenta-se o tempo de cozimento. Sem frituras. Dieta normal De 200 g a 250 g por refeição (5 a 6 colheres de sopa) Dieta completa, sem restrições. Para pacientes que não dependem de modificações dietéticas, mantendo apenas o controle do volume e a adequação dos nutrientes. Fonte: Adaptado de Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: obesidade / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 212 p. : il. – (Cadernos de Atenção Básica, n. 38). Pág 158- 159. Síndrome Metabólica O tratamento da síndrome metabólica é dividido em medicamentoso e não medicamentoso. O uso de medicamentos é específico para tratar as comorbidades que podem estar envolvidas na SM, tais como: hipertensão arterial, diabetes e as dislipidemias. O tratamento não medicamento, por sua vez, é fundamentado em modificações no estilo de vida, onde os pilares fundamentais são: alimentação adequada, atividade física em caráter regular, abandono ao tabagismo e ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas, além de controle de situações estressantes. Estas mudanças, quando incorporadas ao dia a dia, possibilitam: Redução expressiva da circunferência abdominal e da gordura visceral; - Melhora significativa da sensibilidade à insulina;- Diminuição da glicose sérica (prevenção/retardo do DM); - Redução dos níveis pressóricos e de Triglicerídeos; - Aumento do HCL-c. Cuidados nutricionais na Síndrome Metabólica A realização de um plano alimentar para a redução de peso, associado a exercício físico são considerados terapias de primeira escolha para o tratamento de pacientes com síndrome metabólica. A adoção de um plano alimentar saudável é fundamental no tratamento da síndrome metabólica. - Necessidades de energia: O primeiro passo é estabelecer as necessidades do indivíduo a partir da avaliação nutricional, incluindo a determinação do IMC, circunferência abdominal e, quando possível, a composição corporal. O plano alimentar deve fornecer um valor energético (VET) compatível com a obtenção e/ou manutenção de peso corporal desejável. Ele deve ser individualizado e prever uma redução de peso sustentável de 5% a 10% de peso corporal inicial. Para obesos, a dieta deve ser hipocalórica, com uma redução de 500 kcal a 1000 kcal do gasto energético total (GET) diário previsto ou da anamnese alimentar, com o objetivo de promover perdas ponderais de 0,5kg a 1,0kg/semana. Um método prático para o cálculo do GET é utilizar 20kcal a 25kcal/kg peso atual/dia, sendo que planos alimentares com VET inferior a 800 kcal não são recomendados, pois não são efetivos para a redução ponderal. Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância - Carboidratos: Para os carboidratos, é recomendado o uso de hortaliças, leguminosas, grãos integrais e frutas. O açúcar de mesa ou produtos contendo açúcar (fonte de frutose) podem eventualmente ser ingeridos no contexto de um plano alimentar saudável. Não há evidências suficientes para recomendar o uso de alimentos de baixo índice glicêmico como estratégia primária no plano alimentar. - Fibras: Recomenda-se o consumo de 20g a 30g/dia sob a forma de verduras, legumes, leguminosas, grãos integrais e frutas, pois fornecem minerais, vitaminas e outros nutrientes essenciais para uma dieta saudável. Embora altas quantidades de fibras (50 g/ dia) mostrem efeitos benéficos sobre o controle glicêmico e lipídico, não é conhecido se a palatabilidade e os efeitos gastrintestinais colaterais dessa quantidade de fibras seriam aceitáveis pela população. - Gorduras: A ingestão de gordura é inversamente associada à sensibilidade insulínica não somente pela relação positiva com o peso corporal, mas também pela qualidade da oferta de ácidos graxos. Em algumas situações, como na hipertrigliceridemia ou quando o HDL-colesterol for inferior ao desejável, pode ser aconselhável aumentar a quantidade de gordura monoinsaturada, reduzindo neste caso a oferta de carboidratos. Esta substituição deve acontecer, pois o aumento dos ácidos graxos monoinsaturados de forma aditiva ao plano alimentar pode promover o aumento de peso. Os ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 podem ser benéficos na síndrome metabólica, especialmente na ocorrência de hipertrigliceridemia grave em pessoas com diabetes tipo 2. Duas ou três porções de peixe/semana devem ser recomendadas para estimular a oferta deste componente alimentar. Os ácidos graxos trans aumentam o LDL- colesterol e triglicerídeos e reduzem a fração do HDL-colesterol e, portanto, o seu consumo deve ser reduzido. A maior contribuição desses ácidos graxos na dieta origina-se do consumo de óleos e gorduras hidrogenadas, margarinas duras e shortenings (gorduras industriais presentes em sorvetes, chocolates, produtos de padaria, salgadinhos tipo chips, molhos para saladas, maionese, cremes para sobremesas e óleos para fritura industrial). As gorduras totais devem representar de 25 a 35% do VET, sendo que os ácidos graxos saturados devem perfazer valores <10% do VET (até 7% se LDL > 100mg/dL); os ácidos graxos poli-insaturados 10% do VET e os ácidos graxos monoinsaturados até 20% do VET e o colesterol deve ser < 300mg/dia (até 200mg/dia se LDL > 100mg/dL). - Proteína: É recomendada uma ingestão diária de proteínas de 0,8g a 1g/kg de peso atual ou 15% do VET. Embora dietas hiperproteicas e baixa em carboidratos possam promover a redução Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância de peso e melhorar a glicemia em curto prazo, não está bem estabelecida a sua efetividade em longo prazo. - Vitaminas e minerais O plano alimentar deve prover a recomendação para o consumo diário de duas a quatro porções de frutas, sendo pelo menos uma rica em vitamina C (frutas cítricas) e de três a cinco porções de hortaliças cruas e cozidas. Recomenda-se, sempre que possível, dar preferência aos alimentos integrais. - Sal de cozinha: Deve ser limitado a 5 ou 6g/dia. Devem ser evitados os alimentos processados como embutidos, conservas, enlatados, defumados e salgados de pacotes tipo snacks. Ao contrário, temperos naturais como salsa, cebolinha e ervas aromáticas são recomendados em vez de condimentos industrializados. - Recomendações alimentares complementares: A adoção do modelo dietético DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension) e da Dieta Mediterrânea, que preconizam o uso de hortaliças, leguminosas, grãos integrais e frutas, laticínios com baixo teor de gordura total, gordura saturada e trans e colesterol, alta quantidade de gordura monoinsaturada (azeite de oliva) e ácidos graxos ômega-3 e fornece altas quantidades de potássio, magnésio e cálcio, pode ser uma opção terapêutica na síndrome metabólica quando associada a uma intervenção no estilo de vida. Ainda, a adoção do modelo dietético DASH e da Dieta Mediterrânea podem aumentar a sensibilidade à insulina e reduzir os níveis pressóricos. Ressalta-se que o plano alimentar deve ser fracionado em cinco refeições, sendo três principais e dois lanches. Quanto à forma de preparo dos alimentos, preferir os grelhados, assados, cozidos no vapor ou até mesmo crus. Os alimentos diet e light podem ser indicados no contexto do plano alimentar e não utilizados de forma exclusiva. Igualmente, devem ser respeitadas as preferências individuais e o poder aquisitivo do paciente e da família. EXEMPLOS: Para conseguir controlar o consumo de gorduras, deve-se limitar o consumo de carnes gordas, embutidos, laticínios integrais, frituras, gordura de coco, molhos, cremes e doces ricos em gordura e alimentos refogados e temperados com excesso de óleo ou gordura. Peixes da costa brasileira, como por exemplo, a Sardinha, a Pescada, a Truta e o Cherne apresentam boas quantidades de gorduras insaturadas e são ótimas opções de consumo. Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância Os nutracêuticos como adjuvantes na prevenção e controle da obesidade e da síndrome metabólica Os nutracêuticos são alimentos ou partes deles que proporcionam bem-estar e qualidade de vida. Tais alimentos podem abranger nutrientes isolados, suplementos dietéticos em cápsulas e dietas até produtos beneficamente projetados, herbais e alimentos processados, tais como cereais, sopas e bebidas. Vários nutracêuticos podem ser produzidos com o uso de microrganismos chamados GRAS (Generally Recognized as Safe) e classificados genericamente como fibras dietéticas, ácidos graxos poliinsaturados, proteínas, peptídios, aminoácidos (ou cetoácidos), minerais, vitaminas antioxidantes e outros antioxidantes (glutationa, selênio). Nutracêutico significa a junção das palavras nutrient (nutriente) e pharmaceutics, ou seja, a forma de apresentação similar aos medicamentos, como cápsulas, cápsulas gelatinosas ou até mesmo soluções prontas para o consumo. Eles incorporam frequentemente extratos produzidos a partir de alimentos, de substâncias sintetizadas ou de vegetais, como a cafeína extraída do guaraná, por exemplo. Já os alimentos funcionais são idênticos aos convencionais consumidos na alimentação normal, e além de satisfazerem as funçõesnutritivas básicas, procuram prevenir, compensar e corrigir problemas de saúde crônicos, tais como: a hipertensão arterial sistêmica (HAS), as dislipidemias, o diabetes, alguns tipos de câncer, a obesidade e a síndrome metabólica. O termo “alimentos funcionais” surgiu no Japão em meados dos anos 80 e se refere aos alimentos processados com ingredientes que auxiliam funções específicas do corpo, sendo definidos como “Alimentos para uso específico de saúde” (Foods for Specified Health Use – FOSHU) em 1991. No Brasil, a indústria deve seguir a legislação do Ministério da Saúde. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária estabelece normas e procedimentos para registro de alimentos e/ou ingredientes funcionais. Para se obter o registro de um alimento com alegação de propriedades funcionais e/ou de saúde, deve ser formulado um relatório técnico científico bastante detalhado, comprovando os benefícios e a segurança de uso do alimento. Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância Desta forma, sob o ponto de vista legal, constata-se que os alimentos funcionais e nutracêuticos possuem conceituações semelhantes em muitas partes do mundo, entendendo-se que persiste a dificuldade de regulamentação dos termos, pois deve ser mantida a diferença fundamental, que faz com que os alimentos funcionais se relacionem à venda e consumo dos mesmos como alimentos in natura e fazendo parte da alimentação habitual do indivíduo, ao passo que os nutracêuticos são ingredientes funcionais isolados, sendo consumidos sob diferentes formas farmacêuticas. Uso de nutracêuticos na obesidade Diversas pesquisas têm procurado apresentar soluções promissoras para auxiliar no controle da obesidade, sendo que uma das alternativas eficazes seria a suplementação com princípios ativos, com efeito de antiobesidade originado dos metabólitos secundários das plantas medicinais, também conhecido como nutracêuticos, podendo gerar impactos bem mais eficazes. Os compostos bioativos por si só atuam como forte coadjuvante para o tratamento da obesidade, devido aos valiosos agentes hipolipemiantes e hipocolesterolêmicos. Neste sentido, existem evidências de que muitos produtos naturais podem auxiliar no tratamento da obesidade, atuando em cinco diferentes mecanismos diferentes, como substâncias que: (1) diminuem a absorção de lipídios, (2) reduzem a absorção de carboidratos, (3) aumentam o gasto energético, (4) diminuem a diferenciação e proliferação de pré adipócitos, (5) reduzem a lipogênese e aumentam a lipólise. Dentre os produtos utilizados estão inúmeras plantas medicinais, fitoterápicos e/ou nutracêuticos, utilizados como coadjuvantes no tratamento da obesidade por possuírem componentes químicos como flavonoides, alcaloides, terpenoides, dentre outros que favorecem o emagrecimento. A seguir, os principais nutracêuticos/compostos bioativos que auxiliam no controle da obesidade: - Ômega-3: Trata-se de um ácido graxo poli-insaturado, encontrado especialmente em peixes de águas frias, animais marinhos, linhaça, nozes. Sua ação no controle e redução do peso corporal ainda é controversa, mas estudo sugerem que seu efeito na diminuição da gordura corporal estaria relacionado à apoptose dos adipócitos e supressão do apetite, seguidos pelo aumento na atividade da leptina. Também existem evidências de que o mecanismo de ação está relacionado com alterações na expressão genética do metabolismo lipídico, gerando redução da massa Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância corpórea e da gordura total. Estudos sugerem a ingestão de 3g/dia para auxiliar no controle e tratamento da obesidade. -Catequinas (ou catecinas): Tipo de flavonoide, presente sobremaneira no chá verde. A epigalocatequina galato (EGCG), forma mais abundante de catequina encontrada no chá verde, promove redução da gordura corporal pelo fato de inibir a adipogênese, promover a apoptose em adipócitos maduros e, talvez, por inibir a diferenciação de pré adipócitos. Estudos também mostram a propriedade de promover maior sinergia na termogênese do tecido adiposo marrom, com aumento da taxa metabólica basal. Quanto à posologia, o extrato padronizado (EGCG), na dose de 460 mg/dia, é capaz de gerar redução ponderal em indivíduos obesos. A ingestão entre 300 e 700mg/dia parece favorecer o controle da obesidade. - Fibras alimentares: Exercem efeito sobre a saciedade e a ingestão de alimentos, pois o seu consumo requer maior mastigação e isso aumenta os estímulos salivares e a liberação de ácidos estomacais, além de retardar o esvaziamento gástrico fazendo com que aumente a sensação de saciedade. As fibras solúveis (por exemplo: goma guar e pectina), parecem apresentar melhor efeito sobre a sensação de fome e a redução ponderal quando comparadas às fibras insolúveis, justamente pela sua alta capacidade de absorver água/líquidos. Entretanto, os mecanismos de ação das fibras na homeostase energética ainda não estão totalmente esclarecidos. Estudos sugerem a ingestão 700 a 1.200mg/dia, antes das principais refeições (almoço e jantar). - Cafeína: Considerada como um potente composto termogênico, pois estimula a oxidação de gorduras. Os extratos de chá verde contendo cafeína e catequinas representam os mais comentados na redução do peso corporal e sua posterior regulação. Alguns estudos mostram que estes extratos, quando incorporados em dietas hiperproteicas, potencializam o seu efeito termogênico. A dose segura preconizada é de 100 a 200 mg/dia, ao passo que 400 mg/dia já poderia provocar ansiedade e palpitação. Estudos sugerem a dose de 200 a 400mg/dia. -Capsaicina: Composto bioativo presente nas pimentas vermelhas, também classificado como um potente termogênico e saciador. O mecanismo de ação ocorre pela secreção de catecolaminas ativadas pelo sistema nervoso central (SNC), através de estimulação adrenérgica. Dose recomendada pelos fabricantes: 6mg/dia de capsaicina. Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância Nesta mesma linha terapêutica, mais recentemente surgiram os nutricosméticos, representados por suplementos que em sua formulação incluem elementos (ingredientes nutracêuticos) para o bom funcionamento celular, porém, com função cosmética. Tais produtos apresentam como estratégia de marketing o slogan de que “nutrem de dentro para fora”. Entretanto, não há o registro destes produtos no Brasil (segundo a Anvisa), sendo que os mesmos possuem registros incorporados como alimento funcional ou suplemento alimentar, pois são de uso por via oral. Dentre muitos destes produtos, aqueles que são usados para a redução de peso ficam entre os suplementos à base de cafeína e outros compostos que estimulam o metabolismo lipídico, o aumento do gasto energético por termogênese, a termogênese e redução da ansiedade com diminuição da ingestão calórica. Neste sentido, há um produto lançado no mercado, composto por uma emulsão lipídica vegetal fracionada com água (água, óleo de palma, revestidos com galactopeptídeos de óleo de aveia), aromas de baunilha com caramelo e de creme, adicionado dos edulcorantes artificiais acessulfame K e sucralose, que tem por finalidade atuar na saciedade e auxiliar na redução e manutenção de peso, gordura corporal e circunferência da cintura após o uso de alimentação hipocalórica. Conforme informações do fabricante, tais partículas revestidas conseguem atingir de maneira intacta o íleo, agindo no controle do apetite e gerando sensação de saciedade. Conforme informações no rótulo do produto, a posologia indicada é de 7,5mL 4 horas antes das principais refeições (almoço e janta). Quanto aos fitoterápicos, estes são os mais utilizados como adjuvantes no tratamento da obesidade: - Cassia angustifólia Vahl (Fabaceae). Conhecida como Sene. Os componentes da planta,utilizados como matéria prima, são as folhas secas e as vagens. O uso popular dessa espécie é atribuída como diurética, nas afecções hepáticas e como laxante, por isso pode ser relacionada como a planta mais utilizada para controle da obesidade. O perfil químico do Sene caracteriza-se pela presença das seguintes substâncias: crisofanol, aloe-emodina, antranol, reina antrona-8 Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância glicosideo, mucilagens, resinas, flavonoides, gliosideosnaftalênicos, pinitol e açucares redutores. É contra indicado o uso durante a gravidez, aleitamento materno, enterite, apendicite, cistite, obstrução intestinal e dores abdominais inespecíficas, sendo seu uso não recomendado por crianças. O uso dessa espécie como coadjuvante do emagrecimento pode estar relacionada com seu mecanismo de ação em dois fatores: (a) Efeito na motilidade do intestino grosso pelo estímulo das contrações peristálticas; (b) inibição de contrações locais, resultando em um trânsito acelerado do cólon, e assim, reduzindo a absorção de fluidos; Influência na secreção de fluidos e eletrólitos pelo cólon. Devido ao trânsito acelerado e ao curto tempo de contato do fitoterápico no cólon, há uma redução na absorção de líquidos e eletrólitos através do intestino grosso, com aumento do volume e da pressão do conteúdo intestinal. Isso irá estimular a motilidade do cólon, resultando em contrações propulsivas. Além disso, existe um estímulo da secreção de cloreto ativo, o que aumenta o conteúdo de água e eletrólitos no intestino, podendo reduzir a absorção de carboidratos. - Quassia amara L. (Simaroubaceae). Conhecido como pau-de-tenente. Ensaios farmacológicos mostraram que extrato metanólico de Quassia amara, pode ser potencialmente valioso no tratamento de Diabetes mellitos e dislipidemia associada e sua atividade emagrecedora pode estar relacionada ao diminuir a absorção de lipídios. - Camellia sinensis(L.) Kuntze (Theaceae). O Chá verde é a fonte de diferentes tipos de chá, uma das bebidas mais consumidas no mundo. Os chás de Camellia sinensis recebem diferentes nomes populares, como chá-verde, chá-preto, chá-branco, chá-vermelho. Dos quatro tipos de chás, o chá verde é o mais rico em compostos com atividades termogênicas e lipolíticas. Apresenta várias atividades biológicas, incluindo a antioxidação e a antiobesidade devido seu efeito termogênico. São os polifenois os principais compostos com atividade termogênica, assim como a presença de catequinas e cafeína. Estudos apontam que a ação antiobesidade do fitoterápico, principalmente através da promoção oxidação das gorduras e a termogênese, podendo contribuir positivamente no tratamento da obesidade. Relativo à dose, alguns estudos apontam que o consumo de 3 a 5 gramas de folhas/dia teriam efeito benéfico sobre o gasto energético. Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância - Cordiaecalyculata VELL (Boraginaceae). Conhecida como Pholia-magra. É popularmente conhecida pelos nomes de chá-de-bugre, porangaba, cafezinho, café-do-mato, chá-defrade, louro-salgueiro e louro-mole. Seu principal uso se deve a redução do excesso de gorduras localizadas, retenção de líquidos, forte ação diurética e energizante. Entre os principais constituintes químicos presentes na Cordiaecalyculata, destacam-se alcalóides como a cafeína, a alantoína e ácido alantóico; glicosídeos como a consolidina; taninos e pigmentos, além de compostos inorgânicos como o potássio, responsáveis pela compensação da perda de minerais relacionada com a ação diurética. Estudos sugerem que as altas concentrações de cafeína natural podem ser responsáveis por estimular o sistema nervoso central, e pela atividade diurética, auxiliando assim na eliminação do excesso de líquido, e na redução da concentração de gorduras. - Garcinia cambogia, fructus: Reduz a expressão de resistência à leptina e regula positivamente a expressão de gens relacionados aos receptores de serotonina. - Crocus sativus, stygma: Supressor da fome: exerce um efeito sobre a saciedade diminuindo a compulsividade por refeições desnecessárias. - Undaria pinnatifida, algae: Atua diretamente nos adipócitos, induzindo a lipólise através da oxidação preferencial de ácidos graxos como fonte de energia para o organismo. Com isso o tecido adiposo reduz sua capacidade de estocar gorduras. Ainda quanto ao uso de nutracêuticos e alimentos funcionais como auxiliares no tratamento da obesidade, destaca-se que os reais efeitos sobre a modulação da composição corporal e o controle de apetite ainda não estão elucidados. Desta forma, as alegações de funcionalidades aprovadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) devem ser acompanhadas da informação de que o consumo de tais produtos deve estar associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis. Uso de nutracêuticos na síndrome metabólica A síndrome metabólica (SM) constitui uma série de fatores de risco de gênese metabólica, que proporcionam o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e de diabetes melito tipo 2 (DM2). Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância Independentemente do grupo ou entidade que define a SM, os fatores de risco, ou seja, os componentes adotados para sua definição são praticamente os mesmos e incluem: obesidade (especialmente a do tipo abdominal), elevação dos níveis pressóricos, distúrbios no metabolismo da glicose e hipertrigliceridemia e/ou baixos níveis de HDL colesterol, fazendo com a prevenção e o tratamento dessa enfermidade seja amplo e possa atingir todos aqueles fatores que estejam presentes na definição do seu diagnóstico. Neste sentido, mudanças no estilo de vida, que passam fundamentalmente pela adoção de hábitos alimentares saudáveis, representam a base das medidas preventivas e de tratamento da SM. A restrição calórica, que possa promover a redução ponderal moderada e sustentada tem efeitos benéficos no perfil lipídico, nos níveis pressóricos e na glicemia, representando uma importante recomendação na abordagem nutricional de indivíduos com SM. Associado a tal recomendação, muito se tem investigado quanto ao efeito da inclusão de alimentos funcionais e/ou nutracêuticos como adjuvantes no tratamento dietoterápico desta síndrome. A seguir, serão apresentadas as propriedades funcionais de compostos comumente indicados e utilizados na prevenção e tratamento da SM: - Ácido graxo Ômega-3: Favorece a manutenção e/ou aumento das concentrações de HDL-c, representando importante papel nas dislipidemias. Além disso, estimula a oxidação lipídica, diminui as concentrações de triacilglicerois e LDL-c. Também possui ação benéfica no controle da hipertensão arterial, uma vez que diminui as concentrações de insulina e leptina, o que reduz a atividade do sistema nervoso simpático, além de favorecer os níveis pressóricos pela redução do volume plasmático. Igualmente, o Ômega-3 colabora no controle do peso corporal e na obesidade, pois modula enzimas lipogênicas e aumenta a oxidação lipídica, diminuindo o acúmulo de gordura nos compartimentos corpóreos. Ainda, o Ômega-3 aumenta a sensibilidade à insulina e favorece o controle/reestabelecimento da glicemia em níveis adequados. Estudos sugerem a ingestão de 4 a 8g/dia. - Ácido graxo Ômega-6: Ação positiva na hipercolesterolemia, por estimular a oxidação lipídica, diminuir as concentrações de triacilglicerois e de LDL-c circulantes, além de favorecer a manutenção e/ou o aumento das concentrações de HDL-c. Apostila do Curso Nutracêuticos em endocrinologia Ensino a Distância -Ácido graxo Ômega-9: Outro componente bioativo que oportuniza a manutenção e/ou aumento das concentrações de HDL-c, colaborando no tratamento das dislipidemias. Também contribui para diminuir
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