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Beatriz Cunta – Turma 2024 @biaemedicina EPIDEMIOLOGIA Quarta neoplasia mais frequente em mulheres, excluindo o câncer de pele não melanoma. Fatores de risco: Principal FR é a infecção pelo HPV. Outros envolvem: multiparidade, tabagismo, imunossupressão, início precoce da vida sexual, múltiplos parceiros sexuais, história de IST. PREVENÇÃO Primária: A vacina quadrivalente (Gardasil®) previne contra infecção pelos HPVs 6, 11, 16 e 18 (os dois últimos responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer de colo). Recomenda-se uso de duas doses para meninos e meninas entre 9 e 15 anos, e três doses para homens e mulheres acima de 15 anos. Secundária: Rastreamento por colpocitologia, com objetivo de identificar lesões de alto grau (mais frequentes em mulheres de 35-40 anos). É recomendada a repetição sequencial do exame a cada três anos (não tem sensibilidade tão boa, apesar de alta especificidade). DIAGNÓSTICO O diagnóstico do CC é realizado pela história e exame físico (com toque vaginal para avaliar o volume do colo, fundos de saco e paredes vaginais). Sinais e sintomas: Sangramento vaginal anormal, sinusorragia, corrimento vaginal, dor pélvica, dispareunia e, quando há invasão de paramétrio com compressão de ureteres, insuficiência renal pós-renal. Exames complementares: Exame especular com colposcopia para visualização da lesão e biópsia. OBS: quando o carcinoma só é identificado microscopicamente, o diagnóstico só pode confirmado na peça de excisão da zona de transformação ou conização. TIPOS HISTOLÓGICOS A maioria envolve os carcinomas epidermoides relacionados à infecção pelo HIV. Basaloides: Raros, agressivos, ilhas de células imaturas com núcleos hipercromáticos e frequentes figuras de mitose. Verrucosos: Comum na região vulvar. Bem diferenciada, arquitetura pilífera e ceratinização abundante. Crescimento expansivo, com células de citoplasma eosinofílico e atipias nucleares discretas. Papilífero: Mais comum em mulheres no final da fase reprodutiva ou pós-menopausa. Massas exofíticas com saliências papilíferas. Papilas revestidas por epitélio escamoso displásico e mitoticamente ativo, com componente invasivo na base da papila. Linfoepitelioma-símile: Variante rara. Células escamosas pouco diferenciadas, em ninho, de permeio a Beatriz Cunta – Turma 2024 @biaemedicina exuberante infiltrado inflamatório linfocitário. Núcleos vesiculosos, com limites intercelulares imprecisos (aspecto sincicial). Adenocarcinomas: O adenocarcinoma endocervical usual é o mais comum. Células moderadamente diferenciadas com glândulas de tamanho médio, revestidas de epitélio colunar, com citoplasma eosinofílico, com atipias nucleares, figuras de mitose e corpos apoptóticos. Comumente associado com adenocarcinoma in situ. Outras variantes: viloglandular, mucinosos, serosos, endometrioide. Carcinoma adenoescamoso: Neoplasia em que se reconhecem distintamente os padrões escamoso e glandular. Os tipos histológicos glandulares são o usual e mucinoso. O componente escamoso pode apresentar atipias nucleares moderadas a exuberantes. Estudos apontam que apresentam pior prognóstico quando comparados aos adenocarcinomas endocervicais puros. EPIDEMIOLOGIA Estágio Descrição I Carcinoma confinado ao colo do útero (a extensão para o corpo uterino não é considerada). IA O câncer invasor só pode ser identificado microscopicamente (todo tumor macroscópico, mesmo com invasão superficial deve ser classificado como IB). * IA1 Invasão do estroma < 3,0 mm de profundidade. IA2 Invasão do estroma ≥ 3,0 mm e < 5,0 mm profundidade. IB Invasão medida ≥ 5 mm (maior que o estádio IA) com lesão limitada ao colo do útero. IB1 Lesão clínica < 2cm no seu maior diâmetro. IB2 Lesão clínica ≥2 e < 4 cm no seu maior diâmetro. IB3 Lesão clínica ≥ 4 cm no seu maior diâmetro. II O carcinoma se estende fora do colo uterino, mas não até a parede pélvica ou terço inferior de vagina. IIA Envolvimento até 2/3 superior de vagina. IIA1 Lesão clínica visível ≤ 4,0 cm na maior dimensão. IIA2 Lesão clínica visível > 4,0 cm na maior dimensão. IIB Envolvimento parametrial que não atinge a parede óssea. III Extensão até a parede pélvica e/ou envolvimento do terço inferior da vagina, e/ou causa hidronefrose ou rim não funcional, e/ou envolve linfonodos pélvicos e/ou para- aórticos. IIIA Envolvimento da parede inferior da vagina, sem extensão até parede óssea. IIIB Envolvimento até parede óssea, hidronefrose ou rim não funcionante. IIIC Envolve os linfonodos pélvicos e/ou para-aórticos, independentemente do tamanho e extensão do tumor (com as notações r e p). † IIIC1 Apenas metástases nos linfonodos pélvicos. IIIC2 Metástases nos linfonodos para- aórticos. IV O carcinoma se estende além da pelve verdadeira ou envolve a mucosa da bexiga ou do reto. IVA Envolve órgãos adjacentes. IVB Metástases à distância. *Se o estádio não está claro, deve-se atribuir o estádio mais baixo. Pode-se realizar testes de imagem e patologia, se disponíveis, para suplementar os achados clínicos ao determinar o tamanho e a extensão em todos os estágios. Deve-se medir a profundidade da invasão a partir da base do epitélio (superfície ou glandular) de onde se origina. O envolvimento do espaço vascular (venoso ou linfático) não deve alterar o estadiamento. A extensão lateral da lesão não é mais considerada. †Deve-se acrescentar a notação r (exames de imagem) e/ou p (patologia) para indicar os métodos usados para atribuir o estádio IIIC (p. ex., estádio IIICp). Deve-se sempre documentar o tipo de técnica de imagem ou patologia usada. Beatriz Cunta – Turma 2024 @biaemedicina Classificação da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetícia, 2018. O estadiamento laparoscópico, com biópsias linfonodais, é mais acurado que o estadiamento clínico. Contudo, o estadiamento cirúrgico não é prático ou factível na maioria das vezes. Estadiamento por imagem: USG, TC, RNM (melhor resolução e altíssimo valor preditivo negativo) e PET associada à TC apresentam desempenho superior ao exame físico. A RNM é fundamental em mulheres com exame clínico sugestivo de doença estágio ≤ IB1 que desejam preservar fertilidade. As dimensões dos linfonodos é o principal critério considerado pela TC e pela RM no diagnóstico de metástases linfonodais. Contudo, são frequentes em linfonodos com dimensões normais. Assim, a PET-TC tem maior sensibilidade no estadiamento linfonodal do CC. PROGNÓSTICO Depende principalmente do estágio do câncer. Quanto mais invasivo, ou apresentando mais metástases, pior o prognóstico. Os carcinomas escamosos e os adenocarcinomas parecem ter disseminação diferente. Os primeiros têm a linfática mais frequente, enquanto os últimos parecem ter a hematológica mais frequente. Outros fatores prognósticos: volume tumoral e invasão linfonodal (também mais significativos nos adenocarcinomas quando comparados aos carcinomas escamosos), tratamento adequado e sem atraso, infecção pelo HIV, hiperexpressão C-myc, etc. TRATAMENTO IA1 e IA2: Diagnóstico somente por conização (manter fertilidade) ou histerectomia. As margens do cone devem estar livres de neoplasia, e caso haja doença nas margens, deve-se optar por novo cone ou traquelectomia. A presença de invasão carcinomatosa linfovascular deve ser relatada, e essas mulheres têm risco aumentado de envolvimento linfonodal. Por isso deve ser considerada apesquisa de linfonodo sentinela ou ressecção linfonodal pélvica completa. As cirurgias preservadoras de fertilidade não devem ser recomendadas em pacientes com adenocarcinoma mucinoso do tipo gástrico, carcinomas indiferenciados ou carcinoma de pequenas células. Caso haja envolvimento linfonodal, deve-se prosseguir com histerectomia radical. IB1 a IIA2: Histerectomia radical com linfadenectomia pélvica bilateral é o tratamento preferencial quando não deseja-se preservar fertilidade. Sugere-se ooforectomia em mulheres com adenocarcinoma. A necessidade de tratamento adjuvante após a cirurgia depende do resultado das peças cirúrgicas. Devem-se considerar o volume tumoral, a invasão estromal e linfovascular, margens vaginais e parametriais, e invasão linfonodal. As mulheres que desejam preservar a fertilidade podem submeter-se à traquelectomia radical com linfadenectomia pélvica. Mulheres com carcinoma de pequenas células não são candidatas (pior prognóstico). No intraoperatório devem-se avaliar linfonodos sentinelas e, se invadidos, deve-se prosseguir para cirurgia radical, e margens cirúrgicas devem estar livres de Beatriz Cunta – Turma 2024 @biaemedicina neoplasia. Margens positivas indicam necessidade de histerectomia radical. QT e RT exclusivas são uma alternativa para pacientes com contraindicação cirúrgica. Inclui RT pélvica externa concomitante à QT, seguida de braquiterapia. IB2 a IIIB: Apresentam pior prognóstico que tumores de menor tamanho. Podem ser operados com sucesso, mas a QT posterior cumula morbidade. Assim, recomenda-se a terapia neoadjuvante. Tratamento-padrão para carcinoma escamoso ou adenocarcinoma de colo: QT com cisplatina e RT concomitante. A cirurgia pode ser conservadora da fertilidade ou não. Carcinomas recorrentes ou IVB: Inclui radioterapia paliativa na doença central ou metástases, ou QT paliativa com derivados da platina (carboplatina ou cisplatina) associada ou não com paclitaxel, ifosfamida, gencitabina, topotecana e irinotecano. Metástases linfonodais extrapélvicas mais frequentes: para-aórticas, supraclaviculares e mediastinais. Podem estar presentes no diagnóstico inicial ou aparecer na recidiva. Metástases hematogênicas (menos frequentes): pulmões, ossos, fígado e cérebro. O tratamento com quimiorradiação apresenta resultados melhores que a QT isolada. A sobrevida em seis meses é de cerca de 50%.
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