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EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 1 Tutorial 8 – mod X – Dor súbita Nefrolitíase + alopurinol Nefrolitíase - Apresentam prevalência em torno de 3% da população. - Dados epidemiológicos afirmam que cerca de 12% das pessoas irão desenvolver cálculos urinários em algum período da vida. - Uma parcela em torno de 20-30% irá necessitar de algum tipo de terapia intervencionista. - Nos países em desenvolvimento, a nefrolitíase é mais comum em crianças e se apresenta na forma de cálculos vesicais compostos de ácido úrico. - Nos países desenvolvidos, a maior prevalência ocorre em adultos, e sua localização predomina no trato urinário superior, sendo a composição cálcica a mais comum. - A taxa de recorrência é de 10% no primeiro ano, 35% nos 5 anos subsequentes e 50-60% em 10 anos. - A doença litiásica é duas a três vezes mais comum em homens e tem seu pico de incidência entre 20-40 anos, manifestando-se como cólica nefrética. - Os principais fatores de risco são a história familiar positiva e desidratação, atividade física, ocupação, fatores dietéticos e genéticos. COMPOSIÇÃO DOS CÁLCULOS - Cálculos compostos por sais de cálcio representam 70- 80% dos casos. - Maioria de oxalato de cálcio (40-70% de todos os cálculos renais). - Em metade dos casos, o cálculo é puro, quando não, está em sua maioria misturado com fosfato de cálcio. - Existem dois tipos de cristais de oxalato de cálcio: o monohidratado (wewelita) e o diidratado (weddelita). - Outro sal importante é o fosfato de cálcio – apatita – encontrado com mais frequência misturado ao oxalato de cálcio. - O cálculo puro é incomum, sendo responsável por apenas 6% dos cálculos renais. - O tipo mais comum de fosfato de cálcio encontrado nos cálculos renais é a hidroxiapatita e o menos comum é a brushita. - O segundo tipo mais frequente de cálculo renal é o de estruvita, ou fosfato de amônio magnesiano correspondendo a 10-20% do total. - Chamado de cálculo infeccioso, pois só se desenvolve na presença de bactérias produtoras de uréase na urina. - Em terceiro lugar, está o cálculo de ácido úrico, representando 5-10% dos casos. - Em quarto, o cálculo de cistina, representando 2-3% dos casos. - Cada tipo possui características próprias de forma, cor e consistência, porém muitas vezes apenas um estudo de composição química poderá revelar a sua natureza. - A sedimentoscopia pode mostrar os microlitos que apresentam importantes diferenças morfológicas na microscopia óptica e na microscopia de luz polarizada. - Tipos muito raros de cálculos são os de xantina, os de diidroxiadenina e os de indinavir e os de sulfa. PATOGÊNESE - Na urina existem vários elementos químicos que podem produzir sais insolúveis, levando à formação de cristais. - Cálculos renais são formados pelo crescimento e agregação desses cristais. - Condições que favorecem a supersaturação da urina – hiperexcreção de solutos, volume urinário reduzido, alterações do pH e deficiência dos inibidores de cristalização. - Alterações anatômicas que predispõe cálculos – duplicidade pielocalical, rim esponjoso medular, rim em ferradura, ureterocele. - O primeiro pré-requisito para formação de cristais urinários é a supersaturação – quando o produto de concentração de algum componente está acima de determinado valor (produto de solubilidade). - Este produto sofre influência do pH urinário. - Urina com pH>7 favorece supersaturação de fosfato de cálcio e fosfato de amônio magnesiano. - Urina com pH <5 reduz solubilidade do ácido úrico e da cistina. - A maioria das pessoas possui urina supersaturada mas apenas pequena parte desenvolve cálculos e isso se deve aos pequenos complexos insolúveis de oxalato de cálcio que são desfeitos logo após serem formados – força de ligação insuficiente. Uma urina levemente supersaturada só consegue formar cristais em cima de cristais pré-formados. - O processo de formação dos cristais se chama nucleação – o produto da concentração dos elementos químicos precisa ser bem maior do que o produto de solubilidade, de modo a garantir o surgimento de complexos com mais de 100 moléculas. - O cristal se torna estável e não será mais facilmente desfeito. - Para ocorrer a primeira nucleação, o produto das concentrações iônicas tem que estar acima de outro valor – produto de formação de cristais. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 2 - Nucleação homogênea: quando o cristal é puro formado apenas pela ligação dos íons que o compõem – exige concentrações acima do produto de formação de cristais. - Nucleação heterogênea: quando o cristal é formado sobre a superfície de um cristal de composição diferente. Este último serve como nicho para a aposição dos novos complexos. Pode ocorrer em concentrações levemente acima do produto de solubilidade. - Depois que os cristais são formados, eles podem ou não se transformar em cálculos renais. - Dois processos são necessários: o crescimento dos cristais e a agregação. - Alguns cristais se formam aderidos à superfície do epitélio urinário, geralmente nas papilas renais. - Uma matriz proteica contida nos cálculos pode servir como âncora para a fixação de cristais a essas estruturas urinárias. - Este processo de adesão garante tempo suficiente para o crescimento e agregação. - A fixação do cristal à superfície epitelial também é muito importante, pelo menos na formação de alguns tipos de cálculos. - Essa ligação dos cristais depende da estrutura físico- química da superfície das células uroteliais, além de existirem receptores específicos de cristais de oxalato de cálcio no epitélio dos túbulos renais. Inibidores Fisiológicos - O principal inibidor fisiológico da formação de cálculos urinários é a água. - Uma urina mais diluída reduz a concentração de todos os seus elementos químicos, diminuindo a chance de nucleação. - A concentração iônica se torna inferior ao produto de formação de cristais e, às vezes, ao produto de solubilidade. - A diluição urinária aumenta também o fluxo de urina, facilitando a eliminação dos cristais recém-formados. - O aumento da ingestão de líquidos pode inibir todas as fases de formação de cálculo renal. - O citrato e o magnésio são importantes inibidores da nucleação do oxalato de cálcio, pois o magnésio se liga ao oxalato e o citrato ao cálcio. - O pirofosfato é um inibidor fisiológico do crescimento e formação dos cristais. - A proteína de Tamm-Horsfall também é inibidora. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Cálculos assintomáticos podem ser revelados em radiografia simples de abdome, ultrassonografia ou em tomografia computadorizada, solicitadas por outros motivos que não a litíase. - A dor típica dos cálculos urinários é decorrente de sua mobilização ou da obstrução à passagem da urina. - Algumas pessoas podem eliminar pequenas concentrações arenosas com quase nenhuma dor, enquanto outras podem apresentar sintomas graves de obstrução ureteral, determinando quadro clínico de cólica nefrética. - Os cálculos renais podem obstruir o sistema coletor em 3 pontos principais – pontos de constrição fisiológica: 1. Junção uretero-pélvica (JUP – mais comum) 2. Terço médio do ureter – cruzamento com vasos ilíacos internos 3. Junção vesicoureteral (JUV) 1 – Cólica Nefrética - A obstrução aguda da JUP manifesta-se com dor em flanco e abdominal de forte intensidade, contínua, acompanhada de náuseas, vômitos, sudorese, taquicardia e hipertensão arterial. - As concentrações localizadas na porção média ou distal do ureter dão origem à dor que se irradia para o ligamento inguinal, testículo ou grandes lábios e uretra. - Eventualmente, um cálculo localizado na porção vesicoureteral pode causar sintomas de disúria e polaciúria, frequentemente confundidos com cistite bacteriana. - Manobra de Giordano geralmentenegativa ou levemente positiva e sem sinais de irritação peritoneal. 2 – Hematúria - Depois da infecção urinária, nefrolitíase é a segunda causa de hematúria. - Detectada em 90% dos pacientes que apresentam cálculo renal. 3 – Infecção - A pielonefrite é a complicação mais temível da litíase com cálculo impactado no ureter. - Estes pacientes evoluem com febre alta, calafrios e sinal de Giordano positivo. - Por ser uma pielonefrite complicada, a sepse poderá sobrevir e até levar o paciente a óbito. - Se o rim infectado não for logo desobstruído, o paciente evoluirá rapidamente com a perda funcional irreversível deste rim. 4 – Obstrução - Quando o cálculo impacta no ureter, geralmente leva a uma obstrução apenas parcial. - Eventualmente, a obstrução pode ser total, acarretando hidronefrose e perda progressiva do parênquima renal, caso não seja desfeita. 5 – Nefrocalcinose - Forma de apresentação da litíase por fosfato de cálcio – calcificação do parênquima renal – cristais se depositam difusamente sobre as papilas renais. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 3 - Pode ser assintomática, se exteriorizando como múltiplas calcificações encontradas no RX simples ou então determinar cólica pelo desprendimento para a pelve renal. 6 – Cálculos Coraliformes - São cálculos que crescem a ponto de ocupar quase toda a pelve e cálices renais. - Eles são mais comumente formados pela estruvita, porém podem ser de cistina ou mesmo de ácido úrico. - Estão associados a um mau prognóstico do rim acometido (degeneração parenquimatosa). DIAGNÓSTICO - Existem três objetivos básicos na avaliação diagnóstica da nefrolitíase • Confirmação da nefrolitíase • Composição do cálculo • Fator predisponente para formação do cálculo CONFIRMAÇÃO DA NEFROLITÍASE - Confirmada com três apresentações clínicas típicas: dor lombar (cólica nefrética), hidronefrose a esclarecer e hematúria. - Os diagnósticos diferenciais que se confundem com cólica nefrética são aneurisma de aorta abdominal, apendicite aguda, pielonefrite, cistite bacteriana e oclusão aguda de artéria renal. - A urinocultura e a dosagem de LDH podem ajudar na diferenciação com ITU e oclusão da artéria renal. - Um adequado exame abdominal, acrescido dos métodos de imagem, poderá descartar o aneurisma, a apendicite e outras causas de peritonite localizada. - A presença de cristais urinários não dá o diagnóstico de litíase, uma vez que pode ocorrer em pessoas normais, não formadoras de cálculo. Métodos de Imagem TC helicoidal não contrastada - Considerada melhor exame para diagnóstico de nefrolitíase em pacientes com cólica nefrética. - Estudos recentes demonstraram sensibilidade (98%) e especificidade (100%). - Exame tem vantagem de ser realizado sem contraste iodado e de forma mais rápida que a urografia excretora. - Pode diagnosticar outras causas de dor em flanco – torção de ovário, cisto, etc. - A única desvantagem é incapacidade de medir função renal. Radiografia Simples de abdome - Deve ser sempre solicitada – capaz de diagnosticar e dizer a posição anatômica dos cálculos radiopacos. - Sensibilidade de 62% e especificidade de 67%. Ultrassonografia renal - Utilizada na avaliação inicial. - Pode ter acurácia semelhante à da urografia excretora, identificando o cálculo renal em 64% dos casos e hidronefrose em mais 21% (sensibilidade total de 85%). - A facilidade é maior para cálculos da pelve ou cálices renais. - Método mais útil para excluir possibilidade de hidronefrose ou hidroureter significativos, porém pode não detectar alguns cálculos. - Não delineia o local da obstrução – desvantagem. Urografia Excretora - Também chamada de pielografia intravenosa – era considerada exame padrão ouro. - Continua sendo um excelente exame para diagnóstico de litíase – sensibilidade de 90%. - A principal vantagem sobre sobre a US é a capacidade que o exame tem de fornecer também dados funcionais sobre os rins (atraso de enchimento, ausência de enchimento). - Pode ainda detectar cálculos que não foram visualizados pelo ultrassom. - A desvantagem é o uso de contraste iodado. Pielografia retrógrada - Permite visualização do trato urinário sem que seja necessário infundir contraste IV. - Exige cistoscopia para sua realização, podendo ser realizada quando a urografia excretora está contraindicada. COMPOSIÇÃO DO CÁLCULO - A melhor forma para descobrir a composição é através de análise. - O paciente com nefrolitíase confirmada deve ser orientado para a melhor forma de coletar o cálculo. - Técnicas de análise colorimétrica, cistralografia óptica e difração por RX. - A inspeção e palpação do cálculo podem ajudar, mas não são capazes de confirmar diagnóstico do tipo de cálculo. - A análise da sedimentoscopia urinária pode detectar cristalúria. - Muitas vezes os cristais que aparecem na urina não são os mesmos que compõem o cálculo. - A urina colhida deve ser também avaliada do ponto de vista microbiológico e ter seu pH anotado. FATOR PREDISPONENTE À FORMAÇÃO DO CÁLCULO - Para formação de um cálculo, o primeiro passo necessário é a nucleação e depois esses cristais precisam sofrer crescimento e agregação. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 4 - A nucleação só ocorrerá quando as concentrações dos íons componentes do cristal excedam um determinado limite na urina. - Para formação de cristais de oxalato de cálcio – hipercalciúria ou hiperoxalúria. - Hipocitratúria aumenta cálcio disponível para formar complexos com o oxalato. - Hiperuricosúria pode também predispor à formação de cristais de oxalato de cálcio por nucleação heterogênea epitaxial. - Para formar cristais de ácido úrico, deve haver hiperuricosúria e pH urinário ácido. - Os cristais de cistina exigem cistinúria (doença genética rara). - Cristais de estruvita só se formam por ação das bactérias produtoras de uréase – pH alcalino. - O cálculo de fosfato de cálcio e a nefrocalcinose também exigem pH urinário alcalino. - Necessário obter amostras repetidas de urina de 24h de pacientes com dieta normal. - Calcular a supersaturação relativa de oxalato de cálcio, apatita, bruxita, urato e estruvita. - Triagem para cistina deve ser realizada em todos os pacientes. TRATAMENTO AGUDO CÓLICA NEFRÉTICA - A consequência imediata é a contração da musculatura lisa da pelve e do próprio ureter, na tentativa de expulsar o cálculo. - A pressão intrapélvica pode chegar à 50mmHg (normal = 6,5mmHg). Analgesia - Os AINES devem ser prescritos como primeira opção. - Casos de dor severa, vômitos – via parenteral. - Os opiáceos são utilizados somente em pacientes que não respondem aos AINES. - Quando se prescreve buscopan composto ou baralgin, o responsável pelo efeito analgésico é a dipirona. Hidratação - Pacientes com evento agudo de nefrolitíase devem receber hidratação venosa generosa. - Necessário apenas a correção de uma possível desidratação, e não exagerar na dose pois pode provocar aumento na cólica devido aumento do volume urinário. Seguimento - A imensa maioria dos pacientes com crise de cólica nefrética irá obter melhora espontânea, pois o cálculo é pequeno o suficiente para ser expelido. - Deve-se observar o paciente e manipulá-lo clinicamente por 48h, liberando-o assim que houver estabilização do quadro. - Se as evidências da observação do caso indicarem que o cálculo não será eliminado em 2 a 3 dias e houver obstrução, deve-se proceder para intervenção urológica. INTERVENÇÃO UROLÓGICA - A maior parte dos cálculos ureterais menores do que 5mm em seu maior diâmetro passa espontaneamente, não existindo indicação para intervenção por parte do urologista. - As concreções maiores do que 7mm têm uma chance remota de serem eliminadas. - O único cálculo capaz de se dissolvercom terapia clínica é o de ácido úrico. - Existem 4 modalidades de intervenção urológica: 1. Litotripsia com ondas de choque extracorpórea (LOCE) 2. Cistoureteroscopia 3. Nefrolitotomia percutânea 4. Nefrolitotomia aberta. Litotripsia com Ondas de Choque Extracorpórea (LOCE) - Considerado tratamento de escolha na maioria dos cálculos renais. - Cerca de 75-85% dos cálculos renais com mais de 5mm são abordados de forma eficaz com a LOCE. - No caso de cálculo alojado na JUP – cistoscopia com introdução de cateter até o ureter, deslocando cálculo para pelve renal. - Pode ainda utilizar basket para retirar o cálculo. - Na impossibilidade de se empurrar o cálculo, este deve ser transposto por um stent para que não seja realizada drenagem. - Se não houver sucesso, se parte para nefrolitotomia percutânea. - Indicações: cálculos renais e ureterais proximais com tamanho inferior a 2cm. - Sucesso terapêutico de 90-100% dos casos. - Utilizado como método alternativo em cálculos em ureter médio ou distal, com sucessos em torno de 90% e 85%, respectivamente. - Complicações: hematoma perinéfrico (0,66% dos casos). Pacientes em uso de AAS devem ter a droga suspensa por duas semanas antes do procedimento. Cistoureteroscopia - O advento da ureterorrenoscopia tem alterado dramaticamente o manuseio intervencionista dos cálculos renais. - O ureteroscópio rígido tem sido utilizado em conjunto com métodos de litotripsia intracorpórea para fragmentar e retirar cálculos no ureter médio e distal. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 5 - Avanços da tecnologia de fibra óptica e métodos de irrigação endoscópica permitiram uso de ureteroscópios semi-rígidos e menos calibrosos, assim como ureterorrenoscópios flexíveis e com deflexão controlável – atingem ureter proximal, pelve e cálices renais. - Na ureterorrenoscopia, os tipos de litotripsia in situ mais utilizados são: 1. Litotripsia eletroidráulica 2. Litotripsia ultrassônica 3. Litotripsia a laser - Durante a ureterorrenoscopia, os cálculos pequenos podem ser diretamente removidos por basket removedor, mas os maiores deevem ser fragmentados com litotripsia in situ. - A ureteroscopia rígida é o método de primeira escolha para a retirada de cálculos no ureter distal, com uma taxa de sucesso se aproximando a 99%. - A ureteroscopia semi-rígida é preferida para cálculos no ureter médio, com sucesso de 80-95%. - A ureteroscopia flexível é considerada uma terapia alternativa para cálculos no ureter proximal, na pelve e nos cálices renais. Nefrolitotomia Percutânea - Veio para substituir a cirurgia aberta na nefrolitíase. - Guiado pela radioscopia ou ultrassonografia, o cirurgião faz uma punção percutânea da pelve renal, introduzindo um guia e, em seguida, diversos dilatadores, de modo a formar um pertuito de acesso aos cálculos intrarrenais. - O próximo passo é introduzir nefroscópio, munido de fórceps removedor e com instrumentação para litotripsia intracorpórea. - Cálculos menores que 1cm podem ser removidos diretamente pelo fórceps, através do canal de nefrostomia. - Aqueles maiores que 2cm devem primeiro ser fragmentados pela litotripsia in situ. Indicações: 1. Tamanho >2cm 2. Cálculos coraliformes 3. Localizados no polo renal inferior 4. Refratários à LOCE. - Cálculos coraliformes devem ser submetidos à terapia inicial por nefrolitotomia percutânea. - Cálculos residuais devem ser abordados pela LOCEm seguida eventualmente por uma nova nefrolitotomia percutânea. - Terapia sanduíche – nefrolitotomia percutânea – LOCE – nefrolitotomia percutânea. Nefrolitotomia Aberta - Foi o primeiro procedimento cirúrgico utilizado para a retirada de cálculos, porém hoje está se tornando quase uma cirurgia obsoleta. - Cerca de 1-5% de todos os pacientes que apresentam nefrolitíase com indicação de intervenção necessitam da cirurgia aberta. - Indicações: 1. Refratariedade aos métodos não invasivos (LOCE) ou minimamente invasivos. 2. Cálculos de muito difícil anatomia; - A perda da função do rim acometido, associada a cálculo renal impactado ou coraliforme, indica a nefrectomia. Tratamento Litíase Complicada - Cálculo renal está relacionado à infecção renal (pielonefrite) não drenada ou quando causa obstrução ureteral total em rim único, com insuficiência renal. - Primeira preocupação – desobstrução das vias urinárias do paciente (nefrostomia percutânea, stent ureteral (cateter de duplo J)). TRATAMENTO CRÔNICO - Uma vez tratado o cálculo que já se formou agora se torna importante a terapia preventiva contra a formação de novos cálculos. - Esta deve ser feita baseada no tipo químico do cálculo e no distúrbio metabólico predisponente. - Por volta de ¾ de todos os cálculos renais são compostos de oxalato de cálcio, dos quais 35% são puros, 40% por oxalato de cálcio com hidroxiapatita ou apatita de carbonato e 1% em associação com ácido úrico. - A determinação da composição dos cálculos requer microscopia com luz polarizada, difração de raios x ou espectrometria infravermelha. MEDIDAS GERAIS - Paciente deve beber 2-3 litros de água por dia, visando: 1. Diluir íons urinários envolvidos na formação de cristais; 2. Eliminar pela urina os cristais pré-formados CÁLCULOS DE CÁLCIO Hipercalciúria Idiopática - Excreção urinária de cálcio maior que 300mg/dia em homens, maior do que 250mg/dia em mulheres ou maior do que 4mg/kg/dia em ambos os sexos. - A composição de sódio da dieta influencia já que a reabsorção de cálcio acompanha a do sódio no néfron proximal. - Vários mecanismos podem contribuir para o aumento da excreção urinária de cálcio – aumento da absorção intestinal de cálcio, redução da reabsorção tubular renal de cálcio, aumento da reabsorção óssea, aumento primário da síntese da vitamina D, perda renal primária de fosfato. - Em pacientes que apresentam cálculos de oxalato de cálcio/apatita, cerca de 50-55% enquadram-se na EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 6 hipercalciúria idiopática – aumento da excreção urinária de cálcio não associada com hipercalcemia, desordem óssea manifesta, acidose tubular renal distal ou qualquer outra doença. - Hipercalciúria idiopática é uma condição herdada, autossômica dominante. - Descartar doenças que cursam com hipercalciúria – hipertireoidismo, síndrome de Cushing, sarcoidose, tumores malignos, imobilidade, intoxicação pela vitamina D, doença óssea rapidamente progressiva, doença de Paget, síndrome do leite alcalino. - Cálculos de cálcio ocorrem mais em homens e se iniciam geralmente em torno dos 30 anos – maioria forma cálculo único e posteriormente acaba formando outro (intervalo de 2-3 anos). - Pode resultar de: aumento na absorção de cálcio na dieta, defeitos primários no transporte renal, reabsorção excessiva de cálcio de seus depósitos ósseos ou combinação de fatores. - Hipercalciúria de jejum pode ser devido a metabolismo ósseo hiperfuncional – aumento da remodelagem óssea não permanece durante toda a evolução na nefrolitíase. - Uma parte dos pacientes apresenta como distúrbio primário uma hiperabsorção intestinal de cálcio, aumentando a calcemia pós-prandial. Resposta ao calcitriol exageradamente aumentada. - Em outros, o problema começa nos túbulos renais – reabsorção de cálcio estimulada pelo PTH está reduzida, elevando calciúria. - Terapia baseada na dieta com restrição de sal e proteínas, mas não restrição de cálcio. - Diuréticos tiazídicos podem ser usados, pois estimulam reabsorção de cálcio no túbulo proximal. - Terapia adjuvante é a administração de refeições de quelantes de cálcio – fosfato inorgânico, fosfato de celulose e citrato de potássio. Hiperoxalúria Adquirida - Excreção normal de oxalato varia de 16 a 40mg/dia – oxalato urinário >50mg/24h - A hiperoxalúriaadquirida pode ocorrer raramente em indivíduos que fazem uso de forma exagerada de espinafre, amêndoas, chocolate, beterraba, amendoim, cereja, pimentão, chá forte. - Vitamina C utilizada em doses superiores a 500mg/dia aumenta também a excreção urinária de oxalato, uma vez que o ácido ascórbico é metabolizado a oxalato. - A forma mais comum é a hiperoxalúria entérica – decorrente de síndromes disabsortivas intestinais associadas à doença intestinal inflamatória, supercrescimento bacteriano, ressecções ou derivações intestinais. - O cálcio alimentar se liga ao oxalato dentro da luz intestinal, formando um composto insolúvel – oxalato de cálcio – sendo eliminado nas fezes. - Quando existe esteatorreia, os ácidos graxos que não são absorvidos se ligam ao cálcio do lúmen intestinal, deixando o oxalato da dieta livre para ser absorvido. - Mecanismo pelo qual a restrição de cálcio na dieta pode aumentara absorção de oxalato. - A exposição da mucosa intestinal a detergentes (sais biliares) aumenta a permeabilidade ao oxalato. - Na hiperoxalúria primária o aumento da síntese de oxalato ocorre por distúrbios enzimáticos ou deficiência de piridoxina (vitamina B6) - Tratamento da hiperoxalúria entérica – colestiramina (8-16mg/dia) e suplemento de cálcio. Hiperuricosúria - Cerca de 20% dos pacientes com cálculo de oxalato de cálcio tem a hiperuricosúria como único distúrbio metabólico. - Formação desses cristais pode servir de nicho para a nucleação do oxalato de cálcio. Hipocitratúria - A excreção urinária de citrato gira em torno de 320- 1300mg/dia. - As mulheres normalmente excretam mais citrato na urina do que os homens. - Pode ser classificada em primária e secundária (síndrome de má absorção intestinal, hipocalemia ou ATR tipo I). - Formalmente definida como excreção urinária <300mg/dia em mulheres e <250mg/dia em homens. - Na hipocitratúria por má absorção intestinal, o mecanismo é a perda de bicarbonato nas fezes, o que gera acidose metabólica, esta reduz a excreção urinária de citrato. - Pode ser agravada por diuréticos tiazídicos e consumo excessivo de proteínas com enxofre e fósforo. - Tratamento – álcali: reposição de citrato de potássio. Acidose Tubular Distal (Tipo I) - Pode ser tanto uma desordem hereditária quanto adquirida. - Distúrbio na secreção de H+ no túbulo coletor, o que resulta em incapacidade de acidificar a urina. - Resultado é uma acidose metabólica hiperclorêmica, acompanhada de hipocitratúria e supersaturação de fosfato de cálcio na urina. - Em crianças, o distúrbio cursa com nefrolitíase recorrente, déficit de crescimento e raquitismo. - Em adultos, além de nefrolitíase podemos ter a formação de cristais de cálcio no interstício renal – nefrocalcinose. - Tratamento é reposição oral de álcali (citrato de potássio). EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 7 Hiperparatireoidismo Primário - Pequena porcentagem de pacientes que formam cálculos possui hipercalcemia. - O hiperparatireoidismo é a desordem mais comum – litíase de repetição, úlcera péptica e distúrbios ósseos. - O PTH promove um aumento na reabsorção de cálcio pelo túbulo distal. - A TFG do cálcio é tão grande que o balanço final resulta em mais cálcio eliminado do que reabsorvido. - Tratamento deve ser a paratireoidectomia subtotal. CÁLCULOS DE ESTRUVITA - Correspondem a 10-20% de todos os cálculos. - Bactérias produtoras de urease – Proteus, Pseudomonas, Enterococcus, Klebsiella, Serratia, Providencia e Enterobacter. - A urease dessas bactérias degrada a ureia presenta na urina, formando amônia e gás carbônico. - A amônia é uma base, logo, alcaliniza a urina. - Ao se ligar ao hidrogênio da urina forma amônio, este se liga com fosfato e magnésio para formar cristais de estruvita. - O gás carbônico pode se combinar com o cálcio intracelular, que se incorpora nos cristais de estruvita. - Cálculos mistos são mais comuns em homens com hipercalciúria idiopática. - Forma de tampa de caixão na microscopia. - Fatores de risco para litíase por estruvita incluem condições relacionadas a ITU. - O exame de urina pode revelar proteinúria (usualmente menor que 1g/dia) que representa pielonefrite ou inflamação crônica. pH urinário é alcalino, variando de 7,5 a 8,0. - Usualmente, o sedimento apresenta piúria e numerosos bacilos. Tratamento - Intervenção para retirada dos cálculos coraliformes ou obstrutivos – LOCE ou nefrolitotomia percutânea. - Antibioticoterapia para a bactéria em questão – tratamento prolongado. - Ácido acetoidroxâmico: inibidor da enzima urease – usado em casos refratários. CÁLCULOS DE ÁCIDO ÚRICO - São incomuns e radiotransparentes, respondendo por 5-10% de todos os cálculos renais. - Idade de apresentação varia com a desordem subjacente – homens de meia idade são os mais acometidos. - Excreção urinária tem que passar de 800mg/dia em homens e 750mg/dia em mulheres. - Fatores predisponentes são a superprodução de ácido úrico e consequente excreção aumentada, urina persistentemente ácida e baixos volumes urinários com urina concentrada. - Pacientes com desordens mieloproliferativas, gota e indivíduos com câncer mal preparados para terapia citotóxica encontram-se em risco. - Estados diarreicos crônicos podem facilitar a litíase por ácido úrico, na medida que favorecem a redução do volume urinário e pH urinário. - Ingestão aumentada de purinas e proteínas favorece formação de cálculos de ácido úrico. - Alcalinização da urina para um pH acima de 6,5 aumenta solubilidade do ácido úrico – citrato de potássio. Tratamento - Álcali – citrato de potássio ou bicarbonato de sódio - Alopurinol – indicado apenas se a terapia com álcali tiver sido insuficiente ou naqueles que apresentam uricosúria >1000mg/dia. Dose de 100mg/dia. CÁLCULOS DE CISTINA - Doença genética autossômica recessiva – perda de aminoácidos básicos na urina. - Cálculos são radiopacos e o diagnóstico deve ser confirmado por: 1. Análise direta do cálculo 2. Presença no parcial de urina de cristais hexagonais típicos 3. Dosagem de cistina na urina. - Indivíduos normais excretam <18mg/dia de creatinina, portadores de cistinúria ultrapassa o valor de 250mg/dia. - Pacientes tendem a formar cálculos de repetição que ocupam pelve renal, obstruem trato urinário e levam à falência renal progressiva. Tratamento - A solubilidade de cistina aumenta em pH alcalino – citrato de potássio em associação com acetazolamida conseguem impedir recidivas em indivíduos que seguem as recomendações de ingesta hídrica. - Restrição de metionina. - Penicilamina forma composto solúvel com a cisteína, impedindo formação do aminoácido cistina, sendo empregada na dose de 250mg a 500mg 4x ao dia. - Não é isenta de efeitos colaterais – febre, rash, leucopenia, trombocitopenia, hepatotoxicidade e síndrome nefrótica – usada apenas em casos de falência das medidas mais conservadoras. Alopurinol - Inibidor seletivo das etapas terminais da biossíntese de ácido úrico. É eficaz no tratamento da hiperuricemia EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 8 primária da gota e secundária aos distúrbios hematológicos ou terapia antineoplásica. - O alopurinol e seu metabólito principal, a aloxantina (oxipurinol), são inibidores da xantina oxidase. A inibição dessa enzima é responsável pelos principais efeitos farmacológicos do alopurinol. - Indicado na redução da formação de urato e ácido úrico, nas principais manifestações de depósito de urato/ácido úrico, como artrite gotosa, tofos cutâneos e nefrolitíase, ou quando existe um risco clínico potencial (por exemplo, no tratamento de tumores que possam desencadear nefropatia aguda por ácido úrico). - 100 a 200 mg diários em condições discretas. - 300 a 600 mg diários em condições moderadamente graves.- 700 a 900 mg diários em condições graves. - Crianças menores de 15 anos: 10 a 20 mg/kg de peso corporal/dia até um máximo de 400 mg diariamente.
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