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APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 1 APG 14 – Ai, que dor! 1) REVISAR A MORFOFISIOLOGIA DA UNIDADE FUNCIONAL DO RIM Os néfrons são as unidades funcionais dos rins. Cada néfron consiste em 2 partes: um corpúsculo renal, onde o plasma sanguíneo é filtrado, e um túbulo renal, pelo qual passa o líquido filtrado glomerular. Os dois componentes de um corpúsculo renal são o glomérulo e a cápsula glomerular (cápsula de Bowman) = estrutura epitelial de parede dupla que circunda os capilares glomerulares. O plasma sanguíneo é filtrado na cápsula glomerular, e então o líquido filtrado passa para o túbulo renal, que tem três partes principais: Túbulo contorcido proximal (TCP): denota a parte do túbulo ligado à cápsula glomerular e localizado no córtex renal; Alça de Henle: se estende até a medula renal, faz uma curva fechada, e então retorna ao córtex renal. Comunica os túbulos contorcidos proximais e distais; A 1ª parte da alça começa no ponto em que a túbulo contorcido proximal faz sua última curva descendente; Inicia-se no córtex renal e estende-se para baixo e para dentro da medula renal = ramo descendente da alça de Henle; Em seguida, faz uma curva fechada e retorna para o córtex renal, onde termina no túbulo contorcido distal e é conhecido como ramo ascendente da alça de Henle. Túbulo contorcido distal (TCD): indica a parte que está mais longe e localizado no córtex renal. Os túbulos contorcidos distais de vários néfrons drenam para um único ducto coletor. Os ductos coletores então se unem e convergem em várias centenas de grandes ductos papilares, que drenam para os cálices renais menores. Então, um rim tem aproximadamente 1 milhão de néfrons, mas um número muito menor de ductos coletores e ainda menor de ductos papilares. HISTOLOGIA A unidade funcional dos rins é o TÚBULO URINÍFERO, que consistem em: NÉFRON: responsável pela filtração do sangue e modificações do que vai constituir a urina (formação da urina). Cada rim possui há cerca de 600 a 800 mil néfrons. TÚBULO COLETOR: vai conectar a última porção do néfron ao ducto coletor. Cada túbulo urinífero é revestido por uma lâmina basal, a qual é envolvida pelo escasso tecido conjuntivo do interior do rim que forma o componente denominado interstício renal. CORPÚSCULO RENAL OU CORPÚSCULO DE MALPIGHI: é constituído por um tufo de capilares (glomérulo), sendo este envolvido pela cápsula de Bowman. A cápsula glomerular consiste em camadas visceral (formada por células epiteliais pavimentosas simples modificadas chamadas podócitos ) e parietal (consiste em epitélio pavimentoso simples e forma a parede externa da cápsula); Entre os dois folhetos tem-se o espaço capsular, que é onde recebe o filtrado. TÚBULO CONTORCIDO PROXIMAL: Vai sair do polo urinário, no corpúsculo renal, e é composto por um epitélio cuboide ou colunar baixo. Além disso, as células possuem um citoplasma basal acidófilo, devido as numerosas mitocôndrias = transporta íons. Essas células também têm microvilos apicais: orla em escova (aumenta a superfície para a reabsorção e secreção). São sempre circundadas por capilares sanguíneos. ALÇA DE HENLE: tem formato de “U”, que consite em um seguimento delgado interposto a dois seguimentos espessos. A parte descendente da alça de Henle e a primeira opção da parte ascendente da alça de Henle (a parte delgada ascendente) são compostas por epitélio pavimentoso simples APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 2 A parte espessa ascendente da alça de Henle é composta por epitélio colunar cúbico simples a epitélio colunar baixo. TÚBULO CONTORCIDO DISTAL: É formado por um epitélio cúbico simples, chega depois da alça espessa de Henle, quando volta a chega no córtex renal. Na última parte do TCD e continuando até os túbulos coletores há 2 tipos de diferentes de células: Células principais: têm receptores tanto para o hormônio antidiurético (HAD) quanto para a aldosterona, dois hormônios que regulam suas funções. Células intercaladas: atuam na homeostasia do pH do sangue. O TCD não tem orla em escova e tem células menos acidófilas por apresentarem menor quantidade de mitocôndrias. Nos cortes corados é possível observar uma estrutura escura denominada mácula densa (monitora a chegada ou não de sódio). TÚBULOS COLETORES E DUCTOS COLETORES: Os túbulos são compostos por um epitélio cúbico. Os ductos sofrem uma transição primeiro epitélio cubico e depois cilíndrico. Possui um citoplasma mais claro. Diâmetro progressivamente maior até chegar nas papilas renais. Possui uma função importante na retenção de água na medula renal. FISIOLOGIA Para produzir urina, os néfrons e os ductos coletores realizam três processos básicos: FILTRAÇÃO GLOMERULAR: Na primeira etapa da produção de urina, a água e a maior parte dos solutos do plasma sanguíneo atravessam a parede dos capilares glomerulares, onde são filtrados e passam para o interior da cápsula glomerular e, em seguida, para o túbulo renal. REABSORÇÃO TUBULAR: Conforme o líquido filtrado flui pelos túbulos renais e ductos coletores, as células tubulares reabsorvem aproximadamente 99% da água filtrada e muitos solutos úteis. A água e os solutos retornam ao sangue que flui pelos capilares peritubulares e arteríolas retas. O termo reabsorção se refere ao retorno de substâncias para a corrente sanguínea. O termo absorção indica a entrada de novas substâncias no corpo, como ocorre no sistema digestório. SECREÇÃO TUBULAR: Conforme o líquido filtrado flui pelos túbulos renais e ductos coletores, as células dos túbulos renais e dos ductos secretam outros materiais, como escórias metabólicas, fármacos e excesso de íons, para o líquido. Os solutos e o líquido que fluem para os cálices renais menores e maiores e para a pelve renal formam a urina e são excretados. A taxa de excreção urinária de qualquer soluto é igual à taxa de filtração glomerular, mais a sua taxa de secreção, menos a sua taxa de reabsorção. Os néfrons (por meio de filtração, reabsorção e secreção) ajudam a manter a homeostasia do volume e da composição do sangue. 2) ENTENDER A ETIOLOGIA, FATORES DE RISCO, EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA NEFROLITÍASE A litíase ou calculose urinária é conceituada como a existência de um ou mais cálculos no interior do aparelho urinário, sendo a causa mais comum de obstrução das vias urinárias superiores. Os cálculos correspondem a estruturas cristalinas que alcançaram tamanho suficiente para causar sintomas ou serem percebidos por técnicas de imagens radiológicas. A maioria dos cálculos possam forma-se em qualquer parte do sistema urinária, mas a maioria desenvolve-se nos rins. O desenvolvimento da nefrolitíase (cálculos renais) representa uma condição de alta prevalência e recorrência, associada a APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 3 crises álgicas intensas e de grande custo para o sistema de saúde. Apesar de a urina ser frequentemente supersaturada com sais de cálcio e oxalato, na maioria das pessoas não se formam cálculos. Fatores genéticos, dietéticos, socioeconômicos e constitucionais são considerados importantes para a formação de cálculos urinários. A nefrolitíase representa uma das afecções mais comuns do trato urinário, cuja incidência, inclusive, tem aumentado nos últimos anos, em ambos os sexos e em todas as etnias. Atinge 10 a 15% da população, com frequência maior em homens. A maior incidência se dá entrea 3ª e 5ª década, com taxas de recorrência, sem tratamento, em 50% em 10 anos. No Brasil, as informações epidemiológicas são escassas e não há estudos populacionais precisos. Pelos dados do Sistema Único de Saúde (DATASUS) obtidos em 2010, estima-se que a urolitíase foi responsável por aproximadamente 0,61% das internações em hospitais públicos, com custo médio de 240,23 dólares por admissão. FISIOPATOLOGIA A nefrolitíase é um distúrbio sistêmico, sendo que várias condições predispõem à formação de cálculos, incluindo absorção gastrointestinal (doença de Crohn, cirurgia de by- pass gástrico), hiperparatireoidismo primário, obesidade, diabetes melito tipo II e acidose tubular renal distal. Pode-se admitir que a formação de cálculos se dê pelo desequilíbrio entre a solubilidade e a precipitação de sais na urina. Os rins têm como função conservar água e excretar elementos de baixa solubilidade, principalmente sais de cálcio, durante varáveis de clima, dieta e atividade física. Quando a excreção de sais ou a conservação de água aumenta, cristais se formam, que, podem então crescer e se agregar para formar um cálculo = são agregados policristalinos formados por materiais que os rins excretam normalmente na urina. A formação dos cálculos dos cálculos renais depende da SUPERSATURAÇÃO (o ponto a partir do qual a concentração do produto ultrapassa sua solubilidade) da urina e de CONDIÇÕES que favoreçam o crescimento do cálculo. O risco de formá-los aumenta quando a urina está SUPERSATURADA com componentes formadores de cálculos (sais de cálcio, ácido úrico, fosfato de amônio e magnésio,cistina). A supersaturação depende do pH urinários, da temperatura, da concentração do soluto, da força iônica e da formação dos complexos (complexação); Quanto maiores as concentrações de 2 íons, maiores as chances de precipitação. Além da urina supersaturada, a formação do cálculo urinário requer um nicho ou núcleo que facilite a agregação dos cristais. (CONDIÇÕES): Na urina supersaturada, a formação do cálculo começa com diminutos grumos de cristais (oxalato de cálcio), sendo que a maioria desses grumos tende a dispersar porque as forças internas que os reúnem são muito fracas para ultrapassar a tendência aleatória de dispersão dos íons. Os grumos iônicos maiores formam núcleos e são estáveis porque as forças de atração equiparam-se às perdas de superfície. Dessa forma, os núcleos podem crescer com níveis de saturação menores que os necessários para sua formação. Há a hipótese de que o fosfato de cálcio, presente no interstício renal, se deposita no ramo delgado da alça de Henle e, então, estende-se até a papila e provoca erosão do epitélio papilar, onde fornece um local de deposição de cristais de oxalato de cálcio e de fosfato de cálcio. A maioria dos cálculos de oxalato de cálcio cresce sobre o fosfato de cálcio na extremidade da papila renal (placa de Randall). Por conseguinte, o processo de formação de cálculos pode começar vários anos antes da identificação de um cálculo clinicamente detectável. Após a supersaturação da urina, ocorre a nucleação, ou seja, a agregação de cristais, que culminam no crescimento do cálculo. Existe o fato de muitas pessoas terem supersaturação urinária, mas não desenvolverem cálculos renais, isso porque parece ter existência de inibidores naturais da formação de cálculos, inclusive magnésio e citrato (acredita-se que ele diminui a cristalização do cálcio e é o de maior relevância clínica) que impedem a formação contínua de cálculos na maior parte da população. A formação de cálculos no trato urinário exige que estejam presentes 1 ou + fatores de risco determinados. Sendo que essas condições causam aumento da saturação urinária em relação a determinado sal ou promovem diminuição da APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 4 atividade inibidora da urina. Podem ser classificados como dietéticos, não dietéticos ou urinários: DIETÉTICOS: Os fatores dietéticos que estão associados a um risco aumentado de nefrolitíase incluem proteína animal, oxalato, sódio, sacarose e frutose. Os fatores dietéticos associados à redução do risco incluem cálcio, potássio e fitato. CÁLCIO: no cálcio dietético, estudos demonstraram que um maior aporte nutricional de cálcio está relacionado com um menor risco de formação de cálculos. Isso porque pode ser devido a uma diminuição da absorção intestinal de oxalato da dieta, resultando em nível urinário mais baixo de oxalato. O cálcio suplementar pode aumentar o risco de formação de cálculos. OXALATO (produto final do metabolismo de aminoácidos e ácido ascórbico): O oxalato urinário origina-se da produção endógena e da absorção do oxalato dietético. Em razão de sua biodisponibilidade baixa e muitas vezes variável, grande parte do oxalato nos alimentos pode não ser prontamente absorvida, sendo excretado pela urina, porém, a absorção pode ser maior em indivíduos formadores de cálculos. O oxalato urinário representa um forte fator de risco para a formação de cálculos de oxalato de cálcio. OUTROS NUTRIENTES: uma ingesta mais elevada de proteína animal pode levar à excreção aumentada de cálcio e ácido úrico, bem como a uma diminuição na excreção urinária de citrato, aumentando o risco de formação de cálculos. Uma ingesta maior de sódio e de sacarose aumenta a excreção de cálcio, independentemente de seu aporte. Os suplementos de vitamina C estão associados a um risco aumentado de formação de cálculos de oxalato de cálcio em homens, possivelmente devido aos níveis elevados de oxalato na urina. LÍQUIDOS E BEBIDAS: O risco de formação de cálculos aumenta à medida que o volume de urina diminui. Débito urinário inferior a 1L/dia = risco de formação de cálculos aumenta em 2x. O café, o chá, a cerveja, o vinho e o suco de laranja estão associados a um risco reduzido de formação de cálculos. O consumo de refrigerantes açucarados pode aumentar o risco. NÃO DIETÉTICOS: a idade, a raça, o tamanho corporal e o ambiente constituem fatores de risco importantes para a nefrolitíase. A incidência é maior em homens brancos de meia- idade, mas pode ocorrer formação dos cálculos tanto em lactentes quantos nos idosos; O ganho de peso aumenta o risco de formação dos cálculos; As influências ambientais e ocupacionais que podem levar a uma redução do volume de urina, como trabalhar em ambiente quente ou não ter um fácil acesso à água ou a um banheiro, constituem considerações importantes. URINÁRIOS: VOLUME DE URINA: já discutido = menor volume urinário = maiores concentrações de fatores litogênicos e representa um fator de risco comum; CÁLCIO URINÁRIO: Uma excreção maior de cálcio urinário aumenta a probabilidade de formação de cálculos de oxalato de cálcio e de fosfato de cálcio Uma absorção gastrintestinal maior de cálcio constitui um fator contribuinte importante, e outro possível fator pode ser um maior turnover ósseo (com consequente redução na densidade mineral óssea). OXALATO URINÁRIO: A excreção urinária mais elevada de oxalato aumenta a probabilidade de formação de cálculos de oxalato de cálcio. De modo notável, uma ingesta maior de cálcio dietético diminui a absorção gastrintestinal de oxalato e, portanto, reduz o oxalato urinário. CITRATO URINÁRIO: o citrato é um inibidor natural dos cálculos que contém cálcio, dessa forma, uma menor excreção de citrato urinário aumenta o risco de formação de cálculos. ÁCIDO ÚRICO URINÁRIO: são encontrados níveis urinários mais elevados de ácido úrico em indivíduos com consumo excessivo de purinas (origem animal) e condições genéticas raras que levam à superprodução de ácido úrico = formação de cálculos de ácido úrico. pH URINÁRIO: influencia a solubilidade de alguns tiposde cristais. Os cálculos de ácido úrico só se formam quando o pH da urina é consistentemente ≤ 5,5, enquanto os cálculos de fosfato de cálcio tendem mais a se formar quando o pH da urina é ≥ 6,5. Os APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 5 cálculos de oxalato de cálcio não são influenciados pelo pH urinário. E a cistina é mais solúvel em pH urinário mais elevado. FATORES GENÉTICOS: o risco de nefrolitíase é mais de duas vezes maior em indivíduos com história familiar de doença calculosa, provavelmente por conta da combinação de predisposição genética e exposições ambientais semelhantes. Embora vários dos distúrbios monogênicos raros (hiperoxalúria primária e a cistinúria) causem nefrolitíase, os fatores genéticos contribuintes para formas comuns de doença calculosa ainda não foram determinados. RESUMINDO OS FATORES DE RISCO: homens, idade (20 a 40 anos), alterações anatômicas do trato urinário (duplicidade pielocalicial, rins policísticos, rim em ferradura, rim espongiomedular), fatores ambientais (clima quente, exposição ao calor ou ar condicionado no trabalho, dieta com maior consumo de proteína animal e sal, sedentarismo); RESUMINDO OS FATORES GENÉTICOS: distúrbios metabólicos (Hipercalciúria idiopática, Hiperexcreção de Ácido Úrico, Hiperoxalúria, Cistinúria, Hipocitratúria, Hipomagnesiúria), Doenças Endócrinas que interferem sobre o metabolismo de cálcio (mais comumente Hiperparatireoidismo primário), alterações do pH urinário, redução do volume urinário, imobilização prolongada, uso de drogas litogênicas (por indução de alterações metabólicas ou precipitação da própria droga ou de seu metabólito). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Embora o trajeto ureteral de um cálculo seja um evento dramático, a formação e o crescimento de cálculos caracterizam-se por serem clinicamente silenciosos. Assim, um cálculo pode permanecer assintomático no rim durante anos ou até mesmo décadas antes do aparecimento de sinais (hematúria) ou sintomas (dor). A dor é uma das principais manifestações clínicas dos cálculos renais. Existem 2 tipos de dor associados: CÓLICA RENAL: é o termo usado para descrever a dor espasmódica que acompanha o estiramento do sistema coletor ou do ureter. A dor não desaparece por completo, apenas muda a intensidade. Os sinais e sintomas são causados por cálculos com diâmetros entre 1 e 5mm, que podem entrar no ureter e obstruir o fluxo da urina; A cólica ureteral clássica evidencia-se por dores excruciantes agudas e intermitentes no flanco e no quadrante superior externo do abdome do lado afetado quando um cálculo se desloca pelo ureter. A dor pode ainda irradiar para o quadrante inferior (região da bexiga, o períneo ou o escroto); A pele pode estar fria e úmida e náuseas e vômitos são comuns. DOR RENAL NÃO ESPASMÓDICA: é causada por cálculos que provocam distensão dos cálices ou da pelve renal. Em geral, é uma dor difusa, profunda, localizada no flanco ou no dorso, com uma intensidade que pode ser branda a grave. Costuma ser agravada pela ingestão de grandes volumes de líquido. O quadro clínico é bastante sugestivo, porém deve-se fazer o diagnóstico diferencial com patologias gastrintestinais (apendicite aguda, diverticulite, colecistite), ginecológicas (cisto ovariano, anexite, gravidez ectópica), urológicas (orquite, epididimite, prostatite), afecções vasculares (infarto intestinal, aneurisma de aorta abdominal) e algumas causas médicas (cetoacidose diabética, infarto agudo do miocárdio). DIAGNÓSTICO O diagnóstico se baseia no quadro clínico e nos exames complementares, que incluem exame simples de urina (EAS), radiografias simples, TC helicoidal sem contraste (altamente sensível e específico = padrão ouro) , urografia excretora ou pielografia intravenosa (PIV) e ultrassonografia abdominal. A TC helicoidal detecta cálculos pequenos (radiopacos ou não), de apenas 1 mm, que podem passar despercebidos por outras modalidades de imagem. A TC costuma revelar a presença de cálculo ureteral ou evidência de passagem recente, enquanto uma radiografia simples de abdome pode não detectar a presença de cálculo no ureter ou no rim, mesmo se for radiopaco, e não fornece informações sobre uma possível obstrução. Precisa apresentar ao menos 2mm em seu maior diâmetro para ser visualizado. Os achados da bioquímica do soro costumam ser normais, porém a contagem de leucócitos pode estar elevada. O exame do sedimento urinário, em geral, revela a presença de hemácias e leucócitos e, em certas ocasiões, cristais. APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 6 O EAS revela indícios de hematúria, infecção, cristais formadores de cálculos e pH urinário. Atualmente, a urografia excretora é pouco empregada na avaliação da calculose renal. Útil na avaliação anatômica dos rins e na detecção de hidronefrose, apresenta pouco valor na cólica renal aguda e é contraindicada em casos de alergia a contraste iodado e insuficiência renal. = consiste em injetar um contraste intravenoso, que é filtrado nos glomérulos e mostra o sistema coletor dos rins e os ureteres. A ultrassonografia abdominal é altamente sensível à hidronefrose, que pode ser uma complicação da obstrução ureteral e é possível detectar todos os tipos de cálculo, independentemente da radiopacidade. TRATAMENTO O tratamento da fase aguda inclui a analgesia na cólica renal, hidratação e as intervenções cirúrgicas ou não cirúrgicas para eliminação dos cálculos. Pode ser necessário aliviar a dor durante as fases agudas da obstrução e antibióticos podem ser usados para erradicar a infecção urinária. Na cólica renal pode-se fazer analgesia, administrar anti- inflamatórios não esteroidais, bloqueadores alfa-l- adrenérgicos para relaxar a musculatura lisa ureteral. O tratamento deve ser iniciado com um AINE: Diclofenaco de sódio*, Indometacina, Ibuprofeno. O diclofenaco de sódio é recomendado para aliviar a dor que se segue a um episódio de cólica ureteral. Esse medicamento não é indicado para pacientes com redução da função renal. A maioria dos cálculos <5 mm é eliminada espontaneamente. A urina do paciente deve ser filtrada durante a crise na tentativa de recuperar o cálculo para análise química e determinação do seu tipo. Um dos objetivos principais do tratamento dos pacientes que eliminaram cálculos renais ou dos quais foram removidos cálculos é evitar sua recidiva. Dessa forma, a profilaxia depende da investigação da causa que levou à formação do cálculo por meio de exames de urina, bioquímica sanguínea e análise da sua composição. As doenças de base devem ser tratadas, como hiperparatireoidismo. A ingestão adequada de líquidos diminui a concentração dos cristais formadores de cálculo na urina e também deve ser recomendada. Dependendo do tipo de cálculo formado, podem ser usadas alterações dietéticas, fármacos ou ambos para alterar as concentrações urinárias dos elementos formadores de cálculo. A suplementação de sais de cálcio, inclusive carbonato e fosfato de cálcio, também pode ser usada para quelação do oxalato no intestino e redução de sua absorção. Os diuréticos tiazídicos reduzem o cálcio urinário aumentando a reabsorção tubular (ou seja usa em casos de hipercalciúria), de modo que quantidades menores permaneçam na urina. Os fármacos que se ligam ao cálcio no intestino (fosfato de celulose) podem ser usados para inibir a absorção de cálcio e sua excreção urinária. Citrato: estudos demonstraram que ele diminui a recorrência de cálculos de cálcio. É indicado nos casos de hipocitratúria, primária ou secundária, o citrato também diminui a saturação urinária em casos de hipercalciúria,ligando-se ao cálcio e formando complexos solúveis. Alopurinol: tem eficácia comprovada na nefrolitíase por oxalato de cálcio associada à hiperuricosúria (> 800 mg/dia), bem como em pacientes com hiperuricosúria associada a cálculos puros de ácido úrico. Em alguns casos, pode ser necessário remover cálculos. Existem várias técnicas disponíveis para isso: remoção ureteroscópica ou percutânea e litotripsia extracorpórea. Todos esses procedimentos evitam a realização de uma cirurgia aberta, que também é uma abordagem terapêutica disponível. Sedimento urinário de um paciente com cálculos de oxalato de cálcio (esquerda = formato bipiramidal) e um paciente com cálculos de cistina (direita = formato hexagonal). APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 7 Ela pode ser necessária para retirar cálculos grandes ou resistentes às outras técnicas de remoção. 3) CONHECER OS TIPOS DE CÁLCULO RENAL Foram identificados 4 tipos básicos de cálculo renal: CÁLCULOS DE CÁLCIO (OXALATO OU FOSFATO DE CÁLCIO): corresponde à maioria (75-80%). Em geral, os cálculos de cálcio estão associados às concentrações altas desse elemento no sangue e na urina e urina alcalina. A reabsorção óssea excessiva causada por imobilidade, doença óssea, hiperparatireoidismo e acidose tubular renal (ATR) são condições que contribuem para sua formação. Concentrações altas de oxalato no sangue e na urina predispõem à formação dos cálculos de oxalato de cálcio = mais comum. E, eventualmente, em menos de 5% dos casos, podem ser de fosfato de cálcio (apatita ou brushita). Em geral, os cálculos de cálcio são arredondados, radiodensos e não costumam apresentar aspecto coraliforme. FOSFATO DE AMÔNIO E MAGNÉSIO: também conhecidos como cálculos de estruvita e representam aproximadamente 5-10% dos cálculos. Formam-se apenas na urina alcalina (pH > 7,0) e na presença de bactérias portadoras da enzima urease, que decompõe a ureia da urina em amônia e dióxido de carbono. A amônia produzida liga-se a um íon de hidrogênio e vira amônio, aumentando o pH da urina. Como os níveis de fosfato são altos na urina alcalina e como o magnésio sempre é encontrado nela, o resultado é a formação dos cálculos de estruvita. Pouco radiodensos, são grandes e caracteristicamente coraliformes. ÁCIDO ÚRICO: constituem aproximadamente 10-15% dos casos. Estão associados a um IMC aumentado e a um pH urinário baixo (ácido). Formam-se nos pacientes com gota e concentrações altas deste composto na urina. Caracteristicamente, são radiotransparentes, não visíveis, portanto, à radiografia simples de rins, ureter e bexiga (RUB), e aparecem na urografia excretora como falhas de enchimento. CISTINA: representam menos de 1-3% de todos, mas são responsáveis por uma porcentagem significativa dos cálculos diagnosticados na infância. Ocorrem nos pacientes com cistinúria, que resulta de uma anomalia genética autossômica recessiva do transporte renal de cistina, de modo que a absorção tubular desse aminoácido diminui. São semelhantes aos de estruvita, porém não provocam infecção. Pouco radiopacos e com aspecto de vidro moído. REFERÊNCIAS TORTORA. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (14ª edição). Grupo GEN, 2016. JUNQUEIRA, LC, CARNEIRO, J. Histologia Básica. 13ªed. Editora Guanabara Koogan, 2018. NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021. RIELLA, Miguel C. Princípios de Nefrologia e Distúrbios Hidroeletrolíticos, 6ª edição. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2018. JAMESON, J L.; FAUCI, Antônio S.; KASPER, Dennis L.; e outros Medicina interna de Harrison - 2 volumes (20ª ed). Porto Alegre: Grupo A, 2019.
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