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O infarto agudo do miocárdio (IAM) é uma das afecções coronarianas mais comuns, e reflete a morte dos cardiomiócitos causada por um desequilíbrio entre a oferta e demanda de nutrientes ao tecido, consequente à obstrução do fluxo coronariano, podendo ser transitório ou permanente. Portanto, pode ser definido como necrose miocárdica em uma condição clínica consistente com isquemia miocárdica. As artérias coronárias tem origem nos seios da aorta. A artéria coronária direita emerge do lado direito da aorta e passa, também, pelo lado direito da artéria tronco pulmonar. Ela se direciona para trás do sulco interventricular até a parte posterior do coração e descende na face diafragmática, dando origem à artéria descendente posterior. Além disso, irriga toda a parede livre do ventrículo direito, 1/3 posterior do septo interventricular, parede inferior do ventrículo esquerdo e todo o átrio direito. A artéria coronária esquerda tem um tronco curto que, rapidamente, se bifurca. Um dos amos descende na parte anterior, a artéria descendente anterior. O outro ramo, direcionado para a parte posterior, é a artéria circunflexa, a qual pode chegar a se unir com a artéria descendente posterior na face diafragmática. Além disso, irriga todo o átrio esquerdo, 2/3 anteriores do septo interventricular, margem esquerda da parede livre do ventrículo direito e a parede anterior e lateral do ventrículo esquerdo. Tipo 1: IAM espontâneo causado por isquemia devido a um evento coronário primário (p. ex., ruptura, erosão ou fissuras na placa; dissecção coronária). SUPRIMENTO VASCULAR DO MIOCÁRDIO CLASSIFICAÇÃO ETIOLÓGICA DO IAM Tipo 2: isquemia devido a aumento da demanda de oxigênio (p. ex., hipertensão), ou diminuição do fornecimento (p. ex., espasmo ou embolia arterial coronariana, arritmia, hipotensão). Tipo 3: relacionado com a morte cardíaca inesperada e súbita. Tipo 4a: associado com intervenção coronariana percutânea (sinais e sintomas de infarto do miocárdio com valores cTn > 5 × 99º percentil do LSR). Tipo 4b: associado com trombose do stent documentada. Tipo 5: associado com revascularização do miocárdio (sinais e sintomas de infarto do miocárdio com valores cTn > 10 × 99º percentil do LSR). Nos infartos transmurais a necrose isquêmica envolve toda ou quase toda a espessura da parede ventricular irrigada por uma única artéria coronária. No infarto subendocárdico, a área de necrose isquêmica é limitada ao terço interno ou, no máximo, à metade da parede ventricular. Como a zona subendocárdica é, normalmente, a região do miocárdio com menor irrigação, ela é muito mais vulnerável a qualquer redução do fluxo coronariano, embora as áreas de infarto nessa região tendam a ser menores. Em 90% dos casos o infarto ocorre na presença de doença aterosclerótica. Ocorre a seguinte sequência de eventos: . alteração súbita da morfologia de uma placa aterosclerótica; . formação de microtrombos em virtude da exposição ao colágeno e conteúdo necrótico da placa pelas plaquetas; . vasoespasmo estimulado por mediadores liberados pelas plaquetas; . aumento do trombo pela ativação da cascata de coagulação pelo fator tecidual; . evolução do trombo em minutos com oclusão do lúmen do vaso. A consequência bioquímica imediata da isquemia do miocárdio é a interrupção do metabolismo aeróbico em segundos, levando à produção inadequada de fosfatos de alta energia e acúmulo de produtos de degradação nocivos, como o ácido lático. Após a interrupção do fluxo sanguíneo, os níveis de O2 caem e o miocárdio começa a realizar metabolismo anaeróbico com liberação de lactato e redução do pH. Como esse metabolismo não é suficiente para as demandas do miocárdio, a bomba Na+-K+ para de funcionar levando ao acúmulo de Na+ intracelular que causa edema celular e o acúmulo extracelular de K+ que altera o potencial elétrico transmembrana podendo levar a alterações do ritmo cardíaco. FISIOPATOLOGIA DO IAM ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS DO IAM Ocorre também alteração do metabolismo do cálcio intracelular, seu acúmulo no citoplasma do cardiomiócito ativa lipases e proteases promovendo destruição celular. A liberação dessas enzimas determina propagação do dano tecidual e atingem a circulação podendo ser detectadas no sangue periférico, servindo como marcador de morte celular e infarto do miocárdio. O ECG não só é importante para o diagnóstico, como também é fundamental para a classificação do infarto do miocárdio. Classicamente existem três fases depois da oclusão de uma artéria coronária: Isquemia: redução de aporte de oxigênio ao miocárdio menor de 20 minutos. O dano é reversível. No eletrocardiograma se observa principalmente como alterações da onda T. Lesão: persistência no tempo do déficit de oxigênio (superior a 20 minutos). O dano é ainda reversível em grande parte. A principal alteração no eletrocardiograma são as variações do segmento ST. Necrose: persistência durante mais de 2 horas do défice de oxigênio. É irreversível. Se caracteriza no ECG pelas ondas Q patológicas. Atualmente consideram-se dois tipos de infarto agudo baseados no ECG: . infarto com supradesnível do segmento ST (IAMCST); . infarto sem supradesnível de ST (IAMSST); Assim, as principais alterações do ECG encontradas no IAM são: . alterações da onda T; . desnível do segmento ST; . aparecimento de ondas Q anormais. A onda T representa a porção final da repolarização ventricular. Quando ocorre isquemia de uma artéria coronária, a primeira alteração é o surgimento de uma onda T apiculada e simétrica nas derivações correspondentes à parede acometida. A isquemia faz com que a região acometida demore ainda mais para se repolarizar, gerando um vetor de maior intensidade. Isso se reflete no ECG através de uma onda T de maior amplitude (hiperaguda). A presença de onda T invertida é um dos marcadores eletrocardiográficos do IAMSST. A inversão da onda T, muitas vezes considerada alteração sugestiva de isquemia, não é específica CONSIDERAÇÕES ELETROCARDIOGRÁFICAS https://pt.my-ekg.com/infarto-ecg/localizacao-arteria-infarto.html https://pt.my-ekg.com/como-ler-ecg/alteracoes-ondas-intervalos.html https://pt.my-ekg.com/como-ler-ecg/segmento-st.html https://pt.my-ekg.com/como-ler-ecg/segmento-st.html https://pt.my-ekg.com/como-ler-ecg/alteracoes-ondas-intervalos.html de processo isquêmico porque ocorre também em diversas outras condições. Na parede ventricular com infarto, havendo a ausência de despolarização e de repolarização, as ondas T são negativas porque nas derivações correspondentes são registradas as imagens em espelho da repolarização normal da parede oposta. O segmento ST representa a fase de plateau do potencial de ação transmembrana da célula contrátil, localizado nos ventrículos. Nessa etapa, a entrada de íons Na+ na célula se iguala à saída de íons K+. Assim, não há diferença de potencial ao longo da fase de plateau e o potencial de membrana fica estável. Dessa forma, quando há variação do potencial transmembrana, há o surgimento de ondas positivas ou negativas no ECGG. Já quando o potencial não se modifica, o ECG mostra a presença de uma linha isoelétrica. Habitualmente todas as células cardíacas sadias deveriam ter o mesmo potencial elétrico na fase precoce da repolarização ventricular (plateau). Ou seja, o segmento ST é geralmente isoelétrico, nivelado com a linha de base do ECG. Isso muda em caso de isquemia e de lesão. Reduzindo o potencial de repouso das células lesadas ela cria um gradiente elétrico entre o miocárdio normal e o miocárdico isquêmico, que gera uma corrente de lesão que se direciona para a área isquêmica e se manifesta no ECG como um desnivelamento do segmento ST, nas derivações quecorrespondem à região comprometida. O comprometimento da região com lesão mais grave consta em diminuição da contratilidade e eventual distúrbio de condução. A polarização normal durante a diástole não pode ser mantida pelas células lesadas. Em consequência, o potencial de repouso normal diminui, a velocidade de despolarização é mais lenta, a amplitude menor e a repolarização termina mais rápido. A região subepicárdica, por estar sendo mal perfundida durante a isquemia, fica menos negativa ao final da despolarização ventricular. Assim, o vetor aponta em sua direção, gerando o supra de ST no traçado da derivação justaposta à área acometida. A região subendocárdica, por estar sendo mal perfundida durante a isquemia, fica menos negativa ao final da despolarização ventricular. Assim, o vetor aponta em sua direção, gerando o infra de ST no traçado da derivação justaposta à área acometida. A região transmural, que, por estar sendo mal perfundida durante a isquemia, fica menos negativa ao final da despolarização ventricular. Isso faz com que outras regiões do ventrículo esquerdo fiquem mais negativas que a área isquêmica. Formam-se então vários vetores direcionados das regiões saudáveis do VE (polo negativo) para a região acometida pelo infarto (polo positivo). O vetor resultante da soma de todos esses vetores menores aponta de dentro para fora do VE, em direção à região infartada. Isso gera o supra de ST na derivação adjacente a esta região. As ondas Q de necrose, na maioria das vezes, representam a morte do tecido isquêmico que se torna inexcitável e não mais contribuem para o processo de ativação. Na parede ventricular com necrose, por estar eletricamente inativa, as ondas Q são positivas porque nas derivações correspondentes são registradas as imagens em espelho da parede oposta. Quando ocorre injúria nos cardiomiócitos, irá acontecer a liberação de marcadores de necrose miocárdica na circulação. No IAMCSSST não serão necessários para diagnóstico, mas são importantes para avaliação de prognóstico. Os marcadores são fundamentais no diagnóstico do IAMSSST que difere da angina instável principalmente se a isquemia é suficientemente grave para causar dano miocárdico e liberar quantidades detectáveis do marcador. CONSIDERAÇÕES LABORATORIAIS ANDERSON, Jeffrey L.; MORROW, David A. Acute myocardial infarction. New England Journal of Medicine, v. 376, n. 21, p. 2053-2064, 2017. Cardiopatia isquêmica - Antônio C. C. Carvalho, José Marconi A. Sousa - Rev Bras Hipertens 8: 297-305, 2001. ELETROCARDIOGRAMA EM 7 AULAS: Antonio Americo Friedmann, Editura Manole, Barueri, SP, 2011. FERREIRA, ARPA; SILVA, Manuel Vaz da; MACIEL, Julia. Eletrocardiograma no infarto agudo do miocárdio: O que esperar. International Journal of Cardiovascular Sciences, v. 3, n. 29, p. 198-209, 2016. GOLDMAN - AUSIELLO: CECIL MEDICINA, vol I, 23-a edição, Ed. Saunders - Elsevier 2009. MIRANDA, Marciano Robson; LIMA, Luciana Moreira. Marcadores bioquímicos do infarto agudo do miocárdio. Rev Med Minas Gerais, v. 24, n. 1, p. 98-105, 2014. NICOLAU, José Carlos et al. Diretriz de interpretação de eletrocardiograma de repouso. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 80, p. 1-18, 2003. REEDER, Guy S.; KENNEDY, Harold L. Diagnosis of an acute myocardial infarction. UpToDate. com, 2021. USP - CLINICA MEDICA - Volume 2 - Editora Manole 2009. ABORDAGEM AO IAM
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