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1 Victória Nágila SANGRAMENTO DA 1ª METADE DA GESTAÇÃO A hemorragia em si é uma das principais causas de morte materna. Principais causas: HAS – diretamente associada a hemorragia Hemorragia – causa de DPP Infecção puerperal Aborto Tipos de sangramento mais prevalentes na 1ª metade da gestação: Abortamento Gestação Ectópica Doença Trofoblástica Gestacional ABORTAMENTO É quando a gestação é interrompida antes que o produto concepcional (feto) alcance a viabilidade. Este período se dá até a 20ª (+ usada) ou 22ª semana de gravidez, dependendo da referência (FEBRASGO). Quando não é possível estipular a idade gestacional, utiliza-se o peso fetal como referência. Logo, peso fetal < 500g = abortamento, a partir disso é um feto morto. Ou ainda quando o comprimento craniocaudal mede 16,5 – 22cm. Classificação: Cronologia: o Precoce: até a 12ª semana (80% dos abortamentos) o Tardio: 13ª – 20ª semana Intenção: o Induzido (provocado) o Espontâneo Periodicidade: o Habitual – quando + de 3 abortamentos consecutivos. Necessita de investigação. o Esporádico Incidência: 31% das gestações (conhecidas ou não) terminam em abortamento espontâneo. 80% ocorrem no 1º trimestre. Após a 12ª semana, o risco de abortamento reduz para 1%. Etiologias: Alterações cromossômicas 50 – 60% Trissomias: 13, 16, 18, 21, 22 Monossomias (crom, X) Triploidia Tetraploidia (raras) Alterações Endócrinas: Defeitos na fase lútea – deficiência na produção de progesterona. Atrapalha o processo de implantação do embrião no endométrio DM I mal controlada (abortamentos e malformações) Hipotireoidismos e anticorpos antitireoidianos SOP: Hiperinsulinemia, elevação de LH e androginismo Alterações Anatômicas Incompetência Istmo Cervical: é quando o colo uterino não consegue segurar a gestação. Geralmente resultam em aborto no 2º trimestre ou trabalho de parto prematuro. Miomas, principalmente submucosos e intramurais. Dependendo do tamanho e da localização, competem com a implantação do embrião. Alterações anatômicas do útero – Maior incidência no bicorno que no didelfo e septado. 2 Victória Nágila Alterações Imunológicas: Síndrome do Anticorpo Antifosfolipidico (SAAF) – mais relacionada a abortamento habitual o Trombofilia Tromboses podem levar a abortamento (recorrente), gestação de alto risco (pré-eclâmpsia e morte fetal precoce). o PCTs com abortamentos recorrentes a partir de 20 semanas com PA alta grave, necessita ser investigada a presença da trombofilia. o Diagnóstico: 1 critério clínico + 1 critério laboratorial o Tratamento: Sem evento trombótico: AAS + Heparina de baixo peso profilático. Com evento: AAS + heparina de baixo peso terapêutica durante toda a gestação. Outras causas: Trombofilias hereditárias: deficiência de antitrombina, proteína C e S Tabagismo Álcool Cafeína (> 500mg/dia) Traumas Fatores de Risco Idade materna avançada (>38anos) Tabaco (+10/dia), álcool, café em excesso, drogas Sobrepeso Uso de gases inalatórios e anestésicos Formas Clínicas e Condutas Ameaça de Aborto Apresentação clínica: PCT que chega com história de sangramento discreto em borra de café (podendo também ser em vermelho vivo). Podendo ou não apresentar dor em baixo ventre (dor leve). Colo fechado ao exame obstétrico. Altura de fundo compatível com idade gestacional. B-HCG (+). 50% das pacientes em ameaça de aborto evoluem para abortamento espontâneo. USG: saco gestacional regular (irregular – mau prognóstico), embrião com atividade, pode haver hematoma subcoriônico, BCF + (< 110bpm – mau prognóstico). o Área de descolamento < 40% do diâmetro do saco gestacional – bom prognóstico. Geralmente não evolui p/ aborto. Conduta expectante: Repouso relativo, abstinência sexual, antiespasmótico (Buscopan composto, Atroveran), apoio psicológico, progesterona (uso controverso) Dá-se seguimento à gestação, a depender do quadro clínico. Abortamento Inevitável Sangramento mais intenso, vermelho vivo. Dor intensa em baixo ventre – presença de contrações. Colo aberto ao exame obstétrico. Altura de fundo uterino não compatível com a idade gestacional – devido mudanças estruturais no útero. BHCG + (mais baixo do que deveria). USG: Área de descolamento ovular > 40%, com localização do saco gestacional na região do istmo ou colo/vagina. Saco gestacional 3 Victória Nágila 70% cursa com resolução espontânea. Conduta: Internamento (a depender do quadro clínico), hidratação Esvaziamento (caso não ocorra resolução espontânea) Isoimunização Rh (se a mãe for Rh - e o pai Rh + ). Aborto Completo *eliminação total do concepto* Sangramento discreto. Sem queixa de dor em baixo ventre. Colo uterino fechado. AFU incompatível (<) com a IG. BHCG decrescente ou ( - ). Demora de 15 a 20 dias diminuindo. USG: Embrião ausente, cavidade uterina homogênea, hematométrio discreto, espessamento endometrial até 15mm. o Necessário esperar 24-48h para realizar USG, pois podem haver coágulos que dificultam na avaliação. Conduta: Acompanhamento ambulatorial – endométrio de até 15mm (maior que isso, precisa de intervenção para esvaziamento uterino). Sintomáticos Isoimunização Rh Abortamento Incompleto Sangramento variável. Dor intensa/moderada. Colo uterino aberto ou fechado – depende da quantidade de conteúdo dentro do útero. AFU < IG. BHCG decrescente ou negativo (se mais de 20 dias). O que diferencia o abortamento completo do incompleto é o espessamento endometrial. USG: Embrião ausente, material ecogênico na cavidade uterina, hematométrio, endométrio irregular e espessado (> 15mm). o Presença de sangue, de material amorfo e heterogêneo. Conduta: Esvaziamento – evitar abortamento infectado. Isoimunização Rh Aborto Infectado Quando, depois do aborto, ainda fica material na cavidade uterina, que o corpo não conseguiu expulsar. É uma complicação do aborto incompleto (bem recorrente em abortos feitos em clínicas clandestinas) – 3 a 4 semanas após o aborto, sem acompanhamento adequado. O quadro clínico depende da extensão da infecção: Limitado à cavidade uterina: Sangramento variável Dor discreta Febre baixa BEG Acometimento de miométrio, paramétrio, anexos e peritônio pélvico: Sangramento com odor Dor moderada – intensa Febre alta Útero amolecido Queda do estado geral Pode levar a sepse e morte materna Mais comum em abortos clandestinos. 4 Victória Nágila USG variável, podendo apresentar: Restos fetais/placentários Coleções purulentas Endométrio espessado Quadro oriundo de infecção polimicrobiana: Cocos anaeróbios (peptococcos e peptoestreptococcos) Gram (-) (E. coli) Clostridium perfingrens Bacterioides CONDUTA: Internamento, monitoirazação, exames. ATB – amplo espectro: o Clindamicina 600mg EV 6/6h + Gentamicina 1,5mg/kg EV 24/24h ou 8/8h (NÃO ULTRAPASSAR 240mg) o Se não houver resposta em 24 – 48h, associa a Ampicilina 2g EV 6/6h: Ampicilina 2g EV 6/6h + Gentamicina 1,5mg/kg EV 24/24h ou 8/8h (NÃO ULTRAPASSAR 240mg) + Metronidazol 500mg EV 8/8h o Normalmente faz 24h de ATB para poder fazer o esvaziamento uterino. Depois avalia a necessidade de continuar com ATB. Esvaziamento uterino Aborto Retido Geralmente assintomático. Sangramento discreto Colo fechado Redução dos sintomas da gestação Pode evoluir para aborto infectado, se não diagnosticado/tratado. Critérios da USG: Comprimento Cabeça-Nádega (CCN) ≥ 7 mm, sem BCF. o Espera 10 - 15 dias e repete a USG para confirmar o diagnóstico.o Pode ser um feto que está demorando para se desenvolver. Diâmetro médio do saco gestacional ≥ 25 mm sem embrião. o Espera 10 - 15 dias e repete a USG para confirmar o diagnóstico. o Em casos de diâmetro alto (4,5cm pra cima) sem embrião, ou a partir da 7ª semana, já fecha o diagnóstico. Conduta: Conservadora – o próprio organismo pode eliminar o embrião o Deve ter o seguimento ambulatorial dessa paciente, podendo aguardar até 4 semanas antes de fazer o esvaziamento. Esvaziamento uterino. OBS.: Gestação Anembrionada Diâmetro médio do saco gestacional ≥ 25 mm, sem embrião. Desenvolveu saco gestacional e vesícula vitelínica sem embrião. I.I. ESVAZIAMENTO UTERINO Tratamento medicamentoso: Cytotec (Misoprostol) 200mcg: uso hospitalar restrito → Dose depende da IG 1º trimestre, aborto espontâneo, dor leve e sem sinais de infecção. Preparo do colo para esvaziamento (em casos de gestação mais avançada onde seja necessária intervenção cirúrgica). Repetir USG com 24-48 horas apara avaliar endométrio, se o material foi eliminado ou não e se vai precisar do tratamento cirúrgico Tratamento cirúrgico: Esvaziamento uterino é obrigatório em gestações mais avançadas Curetagem uterina: o IG > 12 semanas; o Se feto: usar o misoprostol primeiro para que o feto seja eliminado, depois realiza a curetagem dos restos da placenta. AMIU (aspiração manual intraútero): o IG < 12 semanas; o Menor risco de perfuração e de sinequias. 5 Victória Nágila GESTAÇÃO ECTÓPICA Gestação cuja implantação e desenvolvimento do ovo ocorrem fora da cavidade endometrial. O local mais comum é na tuba uterina (95%), na região ampular (70%). Principais causas: Lesão tubária Alteração do transporte ovular Fatores de risco: DIP (Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae – 2 a 7,5x), DIU (1 em cada 30 – em caso de falha do método), Cirurgia tubaria previa, Gestação ectópica prévia, Reprodução assistida, Anticoncepção de emergência, Início precoce da atividade sexual/múltiplos parceiros Tabagismo Gestações Normais: USG Transvaginal: saco gestacional intraútero é visualizado na 4ª – 5ª semana. BHCG: 1500-2000 (no mínimo, duplica a cada 48h). Essa produção estabiliza na 10ª semana. Diagnóstico: Tríade: I. Dor abdominal (90%) II. Sangramento III. Atraso ou irregularidade menstrual A tríade completa acontece em menos de 50% dos casos. Como diagnosticar Suspeita clínica + BHCG (+) : Saco Gestacional com embrião com BCF 6 Victória Nágila USG Transvaginal (TVG): o Imagem sugestiva de GE (sem saco gestacional, sem embrião): Solicita BHCG seriado → Se <2000 repete o BHCG e USG TVG em 48h → Se não duplica ou sem saco gestacional ou >2000 é gestação ectópica o Saco gestacional ectópico/embrião com BCF. Tratamento: Cirúrgico X Clínico A escolha do tratamento depende de: Integridade da trompa (se está rota ou não) Desejo de gravidez futura Características do saco gestacional (se já tem ou não BCF – preditor de bom/mau prognóstico) Acesso a diferentes terapias Boa compreensão do paciente Cirúrgico: Salpingectomia: retira a trompa. Depende da idade da mãe, do desejo de engravidar... Salpingostomia: retira apenas o material e mantem a trompa integra. Pode acontecer recidiva de gravidez ectópica. Clínico: Expectante Metotrexato (MTX): Quimioterápico – desacelera a multiplicação celular Dose única de 50mg/m² Dia 1: dosagem de BHCG sérico + MTX Dia 4: dosagem de BHCG sérico Dia 7: dosagem de BHCG sérico, hemograma, enzimas hepáticas e creatinina 4º ao 7º dia: redução de 15% de BHCG sérico Contraindicações: recidiva de ectópica, alergia, amamentação, imunodeficiência, ulcera péptica ativa, doença pulmonar, impossibilidade de acompanhar a paciente Estabilidade hemodinâmica: Paciente instável: Tratamento cirúrgico o Paciente chocada, com P.A. baixa, com dor... o Provável que tenha trompa rota, aderência... alta probabilidade de perder a trompa toda. Paciente estável: a. GE integra – maior diâmetro < 3,5 cm i. Sem rotura de trompa, sem sinais de choque. b. BHCG < 5000 c. Embrião sem atividade cardíaca o Se não apresenta essa tríade cirúrgico o Se apresenta (com desejo de reprodução e autorização da paciente): Expectante: BHCG em queda (24 – 48h), com níveis iniciais de 1000 – 1500 expectante, com acompanhamento laboratorial (dependendo do caso, interna) e por imagem. Metotrexato: BHCG não tão baixo, em torno de 4000. Administra a dose da medicação e faz seguimento clínico e laboratorial, com dosagens de BHCG (48h) Se com o tratamento clínico não resolve, faz abordagem cirúrgica. DOENÇA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL (DTG) Conhecida, também, como MOLA. Anomalia proliferativa das células que compõem o tecido trofoblastico (origem placentária). Sinciciotrofoblasto: produzem BHCG, é um marcador tumoral biológico e especifico da DTG Produção exagerada de BHCG. Fatores de Risco: Idade maternal avançada (> 35 anos)** História previa de DTG** Inseminação artificial SOP Abortamentos Tabagismo Radiação Intervalo curto entre as gestações 7 Victória Nágila Manifestações Clínicas: Sangramento vaginal intermitente Útero aumentado em relação a IG (útero em sanfona produz material e elimina no sangramento, voltando a produzir e esvaziar) Pressão ou dor pélvica Cistos tecaluteínicos (ovarianos): hiperestimulação ovariana por BHCG Anemia – sangramento intermitente Hiperêmese gravídica: exacerbação das náuseas – BHCG Hipertireoidismo – BHCG Pré eclampsia precoce (< 20s) Passagem vaginal de vesicular hidrópicas: é patognomônico! → Vesículas em cacho de uva eliminados. DTG Benigna MOLA Idantiforme Completa 75% Cariótipo diplóide: 46XX (90%) ou 46XY Um óvulo vazio fertilizado por 1 ou 2 espermatozoides. Eliminação de vesículas (cachos de uva) Ausência de feto Frequente complicações, hipertireoidismo, cistos tecaluterínicos, BHCG muito elevado, USG com ecos amorfos intrauterinos 10 a 30% progressão para neoplasia trofoblástica gestacional Apresente mais complicações USG: massa central heterógena com espaços anecóicos (edemasdas vilosidades coriônicas), cachos de uva. MOLA Idantiforme Incompleta 25% Cariótipo triplóide: 69 XXX ou 69 XXY (mais comum) Triploide Um óvulo com gameta sendo fertilizado por 2 espermatozoides Clínica de abortamento Não elimina vesícula Tecido fetal presente (triploidia/inviável) Raras complicações BHCG normal 5% progressão para neoplasia trofoblástica gestacional USG: percebe-se a presença embrionária de algo hidrópico diante de área placentária repleta de material amorfo, presença de embrião mal formado e placenta não tem características normais 8 Victória Nágila Diagnóstico: Clínica + Laboratorial + USG OBS.: BHCG muito alto, cerca de 200.000 Na completa pode chegar a 400.000 e na parcial a 100.000. Confirmação: estudo anatomopatológico. Conduta: Avaliar complicações (anemia, hipertireoidismo, pré- eclâmpsia, insuficiência respiratória) Esvaziamento uterino AMIU Aspiração a vácuo - principal escolha Curetagem - evitado Histerectomia: se paciente com prole completa, >40 anos, hemorragias, risco de tumor de sitio placentário Seguimento: BHCG semanal, até 3x negativos (<5) mensal até 12 meses USG com Doppler RX de tórax – risco de metástase pulmonar Função hepática TSH e T4 livre Profilaxiade isoimunização Rh Evitar gestação em 12 meses DTG Maligna 2,5 a 7/100000 gestações Mola invasora Cariocarcinoma Tumor trofoblástico do sítio placentário (raro) Tumor trofoblástico epitelioide Neoplasia Trofoblástica Gestacional 20% desenvolverão sequela maligna 15% invasão local 5% metástase de pulmões, vagina, pelve, fígado e cérebro Pensar em malignização se: Elevação (>10%) dos níveis de BHCG por duas semanas (avaliado em 3 intervalos separados) Diagnostico histológico de cariocarcinoma, mola invasora, tumor trofoblástico do sitio placentário Níveis elevados de bHCG (>20000) após 4 semanas do esvaziamento Evidencia de metástases a distancia Elevação do nível de bHCG após um valor normal Sangramento pós-esvaziamento, irregular Referências: Larissa Menezes Zugaib Rotinas em Obstetrícia – Freitas Protocolos Febrasgo 2018
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